Prévia do material em texto
SISTEMA ENDÓCRINO HIPÓFISE A hipófise é composta por dois componentes morfológica e funcionalmente distintos: o lobo anterior (adeno-hipófise) e o lóbulo posterior (neuro-hipófise). A adeno-hipófise constitui 80% da glândula. A produção da maioria dos hormônios hipofisários é controlada predominantemente pela liberação de fatores estimulantes a partir do hipotálamo, os quais são carreados para a adeno-hipófise por um sistema vascular portal. A prolactina é a maior exceção; seu controle hipotalâmico primário é inibitório, através da ação da dopamina. Existem 5 tipos de células na adeno-hipofise: Somatotróficas: produtoras do hormônio do crescimento; Lactotróficas: produtoras de prolactina; Corticotróficas: produzem o adrenocorticotrópico (ACTH), a pró-opiomelanocortina (POMC), o hormônio estimulador de malanócitos (MSH), as endorfinas e lipotropina; Tireotróficas: produzem TSH; Gonadotróficas: produzem FSH e LH. A neuro-hipófise consiste em células gliais modificadas (pituicitos) e processos axonais que se estendem desde o hipotálamo, passando pela haste hipofisária, até o lóbulo posterior. Os dois hormônios secretados (ocitocina e ADH) são sintetizados no hipotálamo e armazenados dentro dos terminais axônicos encontrados na neuro-hipófise. Em resposta a um estímulo apropriado, os hormônios pré- formados são liberados diretamente na circulação sistêmica através dos canais venosos da hipófise. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA DOENÇA HIPOFISÁROA Hiperpituitarismo: surge do excesso de secreção dos hormônios tróficos. As causas incluem adenoma, hiperplasia e carcinomas da adeno-hipófise, secreção se hormônios pelos tumores não hipofisários e certos distúrbios hipotalâmicos. Hipopituitarismo: surge da deficiência dos hormônios tróficos. Isso pode ser causado por processos destrutivos, inclusive lesão isquêmica, cirurgia ou radiação, reações inflamatórias e adenomas hipofisários não funcionais. Efeitos de massa locais: entre as primeiras mudanças referíveis aos efeitos de massa estão as anormalidades radiográficas da sela túrcica. Por causa da grande proximidade dos nervos ópticos e do quiasma da sela, as lesões hipofisárias expansivas geralmente comprimem as fibras cruzadas no quiasma óptico. ADENOMAS HIPOFISÁRIOS E HIPERPITUITARISMO A causa mais comum de hiperpituitarismo é um adenoma que surge no lobo anterior. Os adenomas hipofisários são classificados de acordo com o hormônio produzido pelas células neoplásicas. Os adenomas podem ser funcionais ou não funcionais, sendo que os funcionais se associam com o excesso de hormônios e suas manifestações clínicas, e os não funcionais, não. Os adenomas geralmente são encontrados em adultos, com pico de incidência entre 35 e 60 anos de idade. O adenoma hipofisário típico é uma lesão mole, bem circunscrita, que pode estar confinada à sela túrcica. Lesões maiores tipicamente se estendem superiormente através do diafragma da sela na região supraselar, onde frequentemente comprimem o quiasma óptico e as estruturas adjacentes. Ao se expandirem, os adenomas podem erodir a sela túrcica e os processos clinoides anteriores. Em ate 30% dos casos, ocorrem adenomas invasivos. Histologicamente, os adenomas típicos são compostos de células poligonais relativamente uniformes, arranjadas em lâminas ou cordões. O tecido conjuntivo de suporte é esparso, responsável pela consistência gelatinosa e mole de muitas dessas lesões. SISTEMA ENDÓCRINO Os sinais e sintomas incluem anormalidades endócrinas e efeitos de massa. PROLACTINOMAS São o tipo mais frequente de adenoma hipofisário hiperfuncional. Essas lesões variam desde pequenos microadenomas até grandes tumores expansíveis associados a efeitos de massa substanciais. Microscopicamente, a grande maioria é composta por células francamente acidófilas ou comófobas. Têm propensão a sofrer calcificação distrófica, variando desde corpos psamonas isolados até calcificações extensivas. Os níveis séricos aumentados de prolactina causam amenorreia, galactorreia, perda da libido e infertilidade. O diagnóstico é feito mais prontamente na mulher do que no homem, especialmente entre 20 e 40 anos de idade, sendo quem em homens e mulheres mais velhas, as manifestações hormonais podem ser sutis, permitindo que os tumores alcancem tamanho considerável antes de serem clinicamente detectados. A hiperprolactinemia patológica pode surgir por hiperplasia lactotrófica, assim como quando há interferência com a inibição normal da secreção de prolactina pela dopamina. Isso pode ocorrer como uma consequência de danos à haste da hipófise (trauma) ou drogas que bloqueiam os receptores de dopamina nas células lactotróficas. Qualquer massa no compartimento suprasselar pode perturbar a influência inibitória normal do hipotálamo na secreção de prolactina, resultando em hiperprolactinemia. Então, uma elevação leve na prolactina sérica em uma pessoa com adenoma hipofisário não indica necessariamente um tumor secretor de prolactina. Os prolactinomas são tratados por cirurgia ou com bromocriptina, um antagonista do receptor de dopamina que faz com que as lesões diminuam de tamanho. ADENOMAS DE CÉLULAS SECRETORAS DE HC (SOMATOTRÓFICAS) Histologicamente, os adenomas que contêm células HC puras são classificados em dois subtipos: densamente granulado e esparsamente granulado. Níveis persistentemente elevados de HC estimulam a secreção hepática do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1 ou somatomedina C), o que causa muitas manifestações clínicas. Se o adenoma somatotrófico aparece em crianças antes das epífises fecharem, os níveis elevados de HC (e IGF-1) causam gigantismo. Se os níveis aumentados estiverem presentes após o fechamento das epífises, os pacientes desenvolvem acromegalia. Nesse caso, o crescimento é mais visível na pele e nos tecidos moles; a densidade óssea pode estar aumentada (hiperostose) tanto na coluna quanto no quadril. O aumento do maxilar resulta em projeção (prognatismo), com alargamento da face inferior. O excesso de HC se correlaciona com outros distúrbios, incluindo disfunção gonadal, diabetes melito, fraqueza muscular generalizada, hipertensão, artrite, insuficiência cardíaca congestiva e risco aumentado de cânceres gastrointestinais. A falha em suprimir a produção de HC em resposta a uma carga oral de glicose é um dos testes mais sensíveis para acromegalia. O tratamento pode ser cirúrgico ou medicamentoso. O último inclui os análogos da somatostatina (tem efeito inibitório da secreção hipofisária do HC) ou o uso de antagonistas do receptor de HC, o que evita que o hormônio se ligue aos órgãos-alvo. ADENOMAS DE CÉLULAS SECRETORAS DE ACTH (CORTICOTRÓFICAS) A produção excessiva de ACTH leva à hipersecreção suprarrenal de cortisol e ao desenvolvimento de hipercortilismo (síndrome de Cushing). HIPOPITUITARISMO Pode resultar de doenças do hipotálamo ou da hipófise. A hipofunção da adeno-hipófise ocorre quando aproximadamente 75% do parênquima são perdidos ou ausentes. Isso pode ser congênito ou resultar de uma variedade de anormalidades adquiridas que são intrínsecas à hipófise. • Tumores e outras lesões de massa: qualquer lesão de massa na sela pode causar dano por exercer pressão nas células hipofisárias adjacentes; • Lesões cerebrais traumáticas e hemorragia subaracnóidea; • Cirurgia ou radiação hipofisária; • Apoplexia hipofisária: é uma hemorragia súbita na hipófise, ocorrendo frequentemente no adenoma hipofisário; é uma emergência; • Necrose isquêmica da hipófise e síndrome de Sheehan: é a forma mais comum de necrose isquêmica clinicamente significativa; durante a gestação, a adeno-hipófise aumenta de tamanho e SISTEMA ENDÓCRINO não é acompanhada de aumento no suprimentode sangue do sistema venoso de baixa pressão; • Cisto na fenda de Rathke; • Síndrome da sela vazia: qualquer condição que destrua parte ou toda a hipófise pode resultar em sela vazia; se refere à presença de uma sela túrcica vazia e dilatada; os pacientes afetados são mulheres obesas com múltiplas gravidezes; • Lesões hipotalâmicas; • Distúrbios inflamatórios e infecções como as sarcoidoses ou a meningite tuberculosa. SÍNDROMES DA NEURO-HIPÓFISE Diabetes insípido: causada pela deficiência de ADH, uma condição caracterizada pela micção excessiva decorrente da incapacidade do rim de reabsorver água apropriadamente da urina. Síndrome da secreção inapropriada de ADH: o excesso de ADH causa reabsorção de quantidades excessivas de água livre, resultando em hiponatreimia, edema cerebral e disfunção neurológica resultante. TIREOIDE ANATOMIA E HISTOLOGIA Os hormônios tireoidianos T3 e T4 se relacionam com componentes da homeostase corporal (função cerebral, cardiovascular, intestinal, metabolismo celular, produção de calor etc.). A glândula se situa no meio caminho entre o ápice da cartilagem tireoide e a fúrcula esternal, apresentando uma relação anatômica posterior importante com a traqueia, que é praticamente “abraçada” pela glândula. Por trás da traqueia correm os nervos laríngeos recorrente e encontra- se o esôfago. É formada por dois lobos em forma de pera (piriformes), ligados por um istmo. Pode haver assimetria entre os lobos, geralmente o direito sendo um pouco maior que o esquerdo. O peso da glândula varia entre 10 e 20g. Isso é importante, pois muitos preferem descrever aumentos da glândula em forma de peso (ex.: glândula aumentada, com aproximadamente 60g). A porção posterior dos lobos piriformes contém as pequenas glândulas paratireoides (duas de cada lado), produtoras do PTH. A tireoide tem um suprimento sanguíneo rico, proveniente da artéria tireóidea superior (ramo da carótida externa) e da artéria tireóidea inferior (ramo do tronco tireocervical da artéria subclávia). A drenagem venosa se faz pelas veias tireóideas superior, lateral e inferior, conduzindo sangue para as veias jugulares internas ou troncos braquiocefálicos. Histologicamente, a glândula é formada por uma infinidade de folículos esféricos, formado por um epitélio de células cuboides especializadas em produzir os hormônios tireoidianos (células foliculares tireóideas). No interior de cada folículo fica o coloide. Os folículos estão embebidos em estroma glandular, que contém a microvasculatura e as células intersticiais, entre elas as células parafoliculares (células medulares C), secretoras de calcitonina, que, tal como o PTH, está envolvida com o metabolismo do cálcio e do fosforo. FISIOLOGIA As células que compõem os folículos tireoidianos são especializadas em sintetizar, armazenar e secretar os hormônios tireoidianos. Estes últimos são derivados do aminoácido tirosina e contêm entre 60 e 65% de iodo em sua composição. Para entender a fisiologia da tireoide, é preciso compreender o ciclo do iodo e do eixo hipotálamo-hipófise- tireoide, no qual participam o TRH (hormônio liberador de tireotrofina) e TSH (tireotrofina). 1. Produção dos hormônios tireoidianos SISTEMA ENDÓCRINO As células do epitélio folicular possuem dois polos e, portanto, duas membranas: a membrana apical (voltada para o coloide) e a membrana basal (voltada para o interstício e capilares). As reações bioquímicas de síntese hormonal ocorrem em torno da membrana apical, onde se encontra a enzima determinante de todo esse processo, a peroxidase tireóidea (TPO). Existem 2 hormônios tireoidianos: o T4 e o T3. Eles são formados pela iodação de resíduos de tirosina de uma glicoproteína chamada tireoglobulina. Esta macromolécula é sintetizada na própria célula tireoide, sendo em seguida secretada e armazenada no lúmen folicular (coloide). O iodo, sob a forma do íon iodeto, é captado pela célula tireoide através do carregador Na/I da membrana basal. Esse transporte ativo é capaz de garantir uma concentração de iodeto livre 30-40 vezes maior que a do plasma. A peroxidase tireóidea atua catalisando três reações: a. Oxidação do iodo: combinando o iodeto com o peroxido de oxigênio; b. Iodação dos resíduos de tirosina da tireoglobulina, formando as iodotirosinas: MIT (monoiodotirosina) e DIT (diiodotirosina); c. Acoplamento das iodotirosinas, formando os hormônios tireoidianos T3 (MIT+ DIT) e T4 (DIT + DIT). Os hormônios tireoidianos são armazenados na tireoglobulina iodada, que se acumula no lúmen dos folículos (coloide). Esses hormônios são liberados através da proteólise da tireoglobulina. Pequenas porções de coloide são, a cada momento, engolfadas pela membrana apical da célula (pinocitose), formando vesículas que logo se fundem com lisossomas (ricos em proteases ácidas). No interior dos lisossomas, a tireoglobulina é hidrolisada, liberando MIT, DIT, T3 e T4. Nesse momento, T3 e T4 são liberados para a corrente sanguínea, passando pela membrana basal através de um carreador hormonal específico. Enquanto isso, o MIT e o DIT liberados no citoplasma sofrem ação de uma enzima desiodase tipo 1, devolvendo o iodeto para a célula (para conservar o iodo). A tireoide libera e produz muito mais T4 do que T3. No entanto, o T3 é o maior responsável pela atividade fisiológica nos tecidos periféricos. O T4 penetra nas células dos órgãos- alvo e logo é convertido em T3 por intermédio da desiodase tipo 1 (maioria dos tecidos) ou tipo 2 (cérebro, hipófise, tecido adiposo marrom). O T4 pode ser considerado um pró- hormônio e o T3 o hormônio ativo. Como o iodo é fundamental para a produção de hormônios tireoidianos, o corpo possui mecanismos para poupar iodo: a reabsorção tubular renal de iodo, a reciclagem intratireóidea e extratireóidea do iodo e a captação tireóidea e organificação. A organificação depende de uma proteína chamada pendrina, presente na membrana apical. Essa proteína forma poros de passagem do iodo para o interior coloide. A síndrome de Pendred é uma doença genética em que há deficiência de pendrina, cursando com hipotireoidismo primário por deficiência parcial de organificação na tireoide e surdez neurossensorial. 2. Regulação da fisiologia tireoidiana (eixo hipotálamo-hipofisário) A produção de hormônios tireoidianos é regulada pelo eixo hipotála-hipófise-tireoide. Os neurônios hipotalâmicos sintetizam e liberam o TRH (hormônio liberador de tireotrofina). Essa substância é liberada na circulação porta hipofisária, que irriga as células da adeno-hipófise, entre elas os tireotrofos (células que produzem e secretam TSH). Ao se ligar em seu receptor na membrana do tireotrofo, o TRH estimula a liberação e síntese do TSH, por um mecanismo proteína G/fosfolipaseC/fosfatidilinositol-dependente. O TSH é uma glicoproteína composta por duas subunidades: alfa e beta. A subunidade alfa é comum aos outros hormônios glicoproteicos (LH, FSH e hCG), enquanto a beta é responsável pelo efeito hormonal específico. O TSH é liberado na circulação sistêmica de forma pulsátil (a cada 2 horas), respeitando o ciclo circadiano com níveis séricos máximos no início da madrugada (entre 0h e 4h). o gerador de pulso é o próprio hipotálamo (é liberado pelos neurônios hipotalâmicos). O TSH se liga a seu receptor de membrana na célula folicular, estimulando o sistema proteína/adenilciclase/AMPc. Os principais efeitos do TSH na célula folicular são: Efeito trófico: promove a hipertrofia das células foliculares, que se tornam mais cilíndricas e volumosas, bem como um aumento na vascularização da glândula; Estímulo à síntese de hormônio tireoidiano: aumenta a produção da enzima peroxidase (TPO), bem como da tireoglobulina e o carreador Na/I; Estímulo à liberação de hormôniotireoidiano: aumenta a reabsorção do coloide contendo a tireoglobulina iodada, bem como a atividade lisossômica, e consequentemente maior será a taxa de hormônio liberado e secretado. Como funciona o eixo hipotálamo-hipófise-tireoide? SISTEMA ENDÓCRINO Funciona baseado numa alça de retroalimentação negativa. A glândula tireoide secreta T3 e T4. O T4 penetra nos neurônios hipotalâmicos e nos tireotrofos, convertendo-se em T3, por ação da desiodase tipo 2. O T3 tem a capacidade de inibir a liberação hipotalâmica de TRH e a secreção hipofisária de TSH. Com isso, os hormônios tireoidianos regulam a própria produção: se esta diminui, a produção aumentada de TSH e TRH estimula a secreção de T3 e T4; se a produção aumenta, a liberação reduzida de TRH e TSH diminui a secreção de T3 e T4. A compreensão desse eixo ajuda a avaliar o significado da dosagem hormonal no diagnóstico de doenças tireoidianas. Assim, os distúrbios são classificados em primários (de origem na própria glândula), secundários (de origem hipofisária) ou terciários (de origem hipotalâmica). A dosagem de TSH diferencia com precisão o distúrbio primário do secundário/terciário. Nos distúrbios primários, o TSH sempre varia de forma inversa aos níveis plasmáticos de hormônios tireoidianos, devido ao feedback negativo. 3. Ciclo do iodo e autorregulação tireoidiana O iodeto é captado pela célula folicular através do carreador Na/I presente na membrana basal. Em seguida, esse iodeto, por ação da TPO, é oxidado e incorporado aos resíduos de tirosina da tireoglobulina (organificação), sob forma de MIT, DIT, T3 ou T4. A tireoide é o maior reservatório de iodo no organismo. Boa parte do iodo incorporado à tireoglobulina retorna ao citoplasma após desiodação do MIT e DIT (reciclagem). Um segundo reservatório é representado pelos hormônios circulantes. Por fim, a eliminação do iodo é feita principalmente pela urina e em menor escala pelas fezes. A tireoide mantém relativamente constante a sua produção hormonal, apesar da variação do consumo de iodo na dieta. O mecanismo dessa autorregulação é explicado pelo efeito do iodo sobre seu próprio metabolismo na célula folicular. Em estado de depleção de iodo, sua captação pelo Na/I é estimulada, bem como a síntese preferencial de T3 em relação ao T4. Em estados de excesso de iodo, a sua organificação é inibida, um fenômeno chamado de efeito Wolff-Chaikoff. Em indivíduos normais, há um mecanismo fisiológico de escape a este efeito, evitando que a ingestão excessiva de iodo provoque hipotireoidismo. 4. Transporte e metabolismo de hormônios tireoidianos 4.1. Transporte de hormônios tireoidianos Depois de liberados, T3 e T4 são carreados por proteínas plasmáticas, distribuídos da seguinte forma: 70% ligados à TBG (globulina ligadora de tiroxina), 10% ligados à TBPA (pré- albumina ligadora de tiroxina) e 15% à albumina. Apesar dos níveis de T4 total serem bem maiores do que os de T3 total, o T3 livre tem concentração mais próxima à do T4 livre, e é a fração livre que tem importância fisiológica. Nos distúrbios, são os níveis da fração livre que se alteram, influindo diretamente sobre a fração ligada e, portanto, sobre a concentração plasmática total. Quase todo o hormônio plasmático está ligado a estas proteínas. Por exemplo, níveis elevados de TBG aumentam a concentração plasmática das formas ligadas e reduzem inicialmente a concentração das formas livres. Porém, o eixo hipotálamo- hipófise-tireoide se encarrega de manter a concentração das formas livres no valor normal, após o equilíbrio. O resultado, portanto, será um pronunciado aumento do T4 total e T3 total, sem alterar o T4 livre e o T3 livre. Por outro lado, níveis reduzidos de TBG têm o efeito inverso (levam à redução do T4 total e T3 total, sem alterar a concentração de hormônios livres). 4.2. Metabolismo dos hormônios tireoidianos A tireoide produz 20 vezes mais T4 do que T3. Mas, os tecidos periféricos, especialmente fígado e rim, convertem T4 em T3, por ação da enzima desiodase tipo 1. A maior parte do T3 circulante vem da conversão periférica de T4 pela desiodase. A inibição dessa enzima, como ocorre no hipotireoidismo, em qualquer doença grave ou pelo uso de algumas drogas causa uma queda imediata nos níveis plasmáticos de T3 livre. No hipertireoidismo, esta enzima é estimulada, explicando os altos níveis de T3. O T3 é o principal responsável pelo efeito fisiológico dos hormônios tireoidianos, por ter uma potência de ação superior à do T4. SISTEMA ENDÓCRINO A desiodase tipo 2 é encontrada no SNC, na hipófise e no tecido adiposo marrom, sendo responsável pela conversão da T4 e T3. No hipotireoidismo, a desiodase tipo 1 é inibida, e no hipertireoidismo é ativada. A desiodase tipo 2 é estimulada no hipotireoidismo e inibida no hipertireoidismo, em uma tentativa de manter os níveis intracelulares de T3 especialmente no SNC. A desiodase tipo 3 é a enzima desativadora de T3. Está presente em grande quantidade na placenta, protegendo o feto contra os hormônios tireoidianos da mãe. Hemangiomas gigantes se associam a uma grande quantidade dessa enzima. 5. Mecanismos de ação dos hormônios Tanto T3 quanto T4 penetram no citoplasma das células- alvo. Acredita-se que T4 seja apenas um pró-hormônio, sendo então convertido em T3. O T3 penetra o núcleo da célula, onde encontra seu receptor específico TR e se liga a ele. O complexo T3-TR se liga a uma porção do DNA nuclear, nomeada elemento de resposta ao hormônio tireoidiano, promovendo um aumento ou diminuição da atividade da RNA polimerase sobre um ou mais genes responsivos. A interferência sobre a transcrição acaba por regular a síntese de algumas proteínas que, em última análise, serão as responsáveis pelo efeito hormonal na célula. 5.1. Desenvolvimento fetal A partir da 11ª semana de gestação, o sistema hipotálamo- hipófise-tireoide do feto começa a funcionar. Estes são fundamentais para o crescimento, desenvolvimento cerebral e maturação óssea. O hipotireoidismo fetal leva à síndrome do cretinismo (retardo mental e nanismo). 5.2. Metabolismo O hormônio tireoidiano aumenta o consumo de oxigênio e a produção de calor em todos os tecidos menos o cérebro, o baço e os testículos. Esse efeito se deve ao acúmulo de Na- K-ATPase da membrana plasmática. 5.3. Sistema cardiovascular O hormônio tireoidiano aumenta a transcrição da cadeia pesada de miosina tipo alfa, melhorando a contratilidade miocárdica, além de contribuir para a transcrição da Ca- ATPase, enzima responsável pelo relaxamento miocárdico diastólico ativo. Talvez o efeito cardiovascular mais importante seja o aumento dos receptores beta- adrenérgicos. 5.4. Outros efeitos Os hormônios tireoidianos contribuem para a função cerebral, incluindo a rapidez de raciocínio e a capacidade de concentração. Mantêm a atividade neuromuscular, estimulando os reflexos tendinosos e a capacidade de contração muscular. Mantêm normais os estímulos hipóxico e hipercápnico no centro respiratório bulbar. No TGI estimula a motilidade da musculatura lisa. Por aumentarem a reabsorção óssea, o catabolismo proteico, a glicogenólise, a lipólise e a gliconeogênese, os hormônios tireoidianos são considerados catabólicos. Estimulam a degradação do colesterol por aumentarem os receptores de LDL nos hepatócitos. HIPERTIREOIDISMO E DOENÇA DE GRAVES O termo hipertireoidismo primário é usado quando a fonte do problema está na glândula tireoide e não na hipófise ou hipotálamo. Tireotoxicose é qualquer estado clínico resultante do excesso de hormônios da tireoide nos tecidos. Embora na maior parte das vezes seja causada pela hiperfunção tireoidiana, existem síndromes associadas à função normal ou diminuída da glândula. Hipertireoidismo é definido como hiperfunção datireoide, ou seja, um aumento na produção e na liberação de hormônios tireoidianos. Leva à tireotoxicose. A doença de Graves é a principal causa de hipertireoidismo e trata-se de uma desordem imunológica que tem como característica um estímulo, por meio de anticorpos antirreceptor de TSH, à glândula da tireoide. DOENÇA DE GRAVES É uma desordem autoimune, de etiologia desconhecida, que apresenta como características uma síntese e secreção excessivas de hormônios da tireoide e achados clínicos muito típicos, que consistem em bócio difuso, oftalmopatia, dermopatia (mixedema pré-tibial) e acropatia. É mais comum em mulheres e o pico de incidência situa-se entre 20 e 50 anos, sendo a causa mais comum de hipertireoidismo espontâneo em pacientes abaixo dos 40 anos. PATOGÊNESE Nos pacientes com doença de Graves, os linfócitos B sintetizam anticorpos contra receptores de TSH localizados na superfície da membrana da célula folicular. Estes SISTEMA ENDÓCRINO anticorpos são capazes de produzir um aumento no volume e na função da glândula. Essa imunoglobulina é chamada de imunoglobulina estimuladora da tireoide ou anticorpo antireceptor de TSH estimulante (TRABb). O receptor de TSH é uma proteína G da membrana plasmática, ativando a adenilato ciclase para a produção de AMP cíclico como segundo mensageiro. No caso de anticorpos estimuladores, eles se ligam ao receptor e desempenham o papel do TSH, como hipertrofia glandular, aumento da vascularização da glândula e aumento da produção e secreção de hormônios. As imunoglobulinas que reconhecem os receptores de TSH não necessariamente levam à hiperfunção da glândula. Alguns desses anticorpos provocam apenas aumento (bócio), sem hiperfunção, e outros levam a uma atrofia do tecido tireoidiano. Na oftalmopatia, as células musculares lisas e, principalmente, os fibroblastos, exibem com certa frequência em sua superfície de membrana antígenos algumas vezes muito semelhantes aos receptores de TSH. Isso produz uma reação cruzada desses anticorpos, determinando um “ataque” autoimune no tecido reto- ocular e periocular, com liberação de citocinas pró- inflamatórias e fibrosantes. Além disso, existem outros anticorpos relacionados com a doença. O anticorpo anti-TPO está presenta em 80% dos casos. É uma espécie de um marcador universal da doença tireoidiana autoimune. A doença autoimune de tireoide pode alternar fases de hipotireoidismo com fases de hipertireoidismo, dependendo de qual tipo de anticorpo está sendo predominantemente produzido, bloqueador ou estimulador. Há aumento da incidência dessa desordem em indivíduos submetidos a uma dieta rica em iodo e uma predisposição do aparecimento desse distúrbio na gravidez, quando a tolerância imunológica é baixa. Há associação entre a doença de Graves e outras desordens autoimunes endócrinas, como diabetes melito tipo 1 e a doença de Addison, e não endócrinas, como a miastenia gravis, hepatite crônica ativa, anemia perniciosa, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico e vitiligo. PATOLOGIA A glândula encontra-se simetricamente aumentada, devido à hipertrofia e hiperplasia das células foliculares. À macroscopia, a glândula se apresenta macia e lisa, com a cápsula intacta e com o peso aumentado. Do ponto de vista histológico, existe uma superpopulação de células foliculares, que fazem protrusão em forma de papila para o lúmen do folículo. Ocorre aumento significativo de tecido linfoide no estroma interfolicular, com algumas áreas apresentando agregados de linfócitos B autorreativos. Nos pacientes com oftalmopatia, os tecidos da órbita encontram-se edemaciados devido à presença de mucopolissacarídeos hidrofílicos e encontra-se fibrose e infiltração linfocitária. A musculatura extraocular também apresenta edema, infiltração com células redondas, deposição de mucopolissacarídeo e fibrose. A tireotoxicose grave pode levar a alterações degenerativas na fibra muscular esquelética, hipertrofia cardíaca, necrose hepática focal com infiltração de linfócitos, diminuição da densidade mineral óssea e queda de cabelos. A principal e mais característica manifestação dermatológica é o mixedema pré-tibial, que apresenta deposição de mucopolissacarídeos e infiltração linfocitária em suas lesões. Fatores de risco: • Suscetibilidade genética; • Infecção; • Estresse; • Gênero: é mais comum em mulheres; • Gravidez; SISTEMA ENDÓCRINO • Iodo e medicamentos: o iodo pode lesar as células tireoidianas que liberam antígenos, servindo de estímulo para a formação de anticorpos; • Radiação. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS TIREOTOXICOSE As manifestações decorrem da estimulação do metabolismo dos tecidos pelo excesso de hormônios tireoidianos. O paciente (geralmente uma mulher jovem ou de meia idade) relata uma história, geralmente de longa data, de insônia, cansaço extremo, agitação psicomotora, incapacidade de concentração, nervosismo, dificuldade em controlar emoções, agressividade com membros da família ou colegas de profissão, sudorese excessiva, intolerância ao calor, hiperdefecação e amenorreia ou oligomenorreia. No exame físico percebe-se a pele quente e úmida, as extremidades superiores apresentam tremor fino e sustentado, os cabelos caem com facilidade. Os achados oftalmológicos como retração palpebral, olhar fixo e brilhante e o piscar frequente representam exacerbação simpática. As manifestações cardiovasculares incluem hipertensão sistólica, pressão de pulso alargada (PA divergente) e taquicardia sinusal. Essa PA divergente é explicada pelo aumento dos receptores beta-adrenérgicos: no coração eles determinam efeito cronotrópico e inotrópico positivo (aumentando a PA sistólica) e na periferia, a ação predominante nos receptores beta-2, que fazem vasodilatação, determinando uma redução da resistência vascular periférica (diminuindo PA diastólica). À ausculta, encontra-se uma bulha B1 hiperfonética, um sopro sistólico inocente e eventualmente uma terceira bulha fisiológica. A fibrilação atrial pode aparecer em qualquer momento, levando em alguns casos a uma descompensação aguda da função miocárdica. Alguns pacientes evoluem para cardiomiopatia dilatada. DOENÇA DE GRAVES Presença de bócio difuso e simétrico à palpação. Em alguns pacientes observa-se sopro e frêmito sobre a glândula, ocorrendo devido a um aumento da vascularização local. É um achado característico da doença. Até que se prove o contrário, qualquer paciente com bócio difuso e hipertireoidismo tem doença de Graves. A oftalmopatia pode ser dividida em dois tipos: o primeiro tipo afeta principalmente mulheres jovens, causando graus variados de proptose simétrica, com limitação mínima da motilidade ocular ou sem limitação. O segundo tipo causa uma miopatia restritiva, com diplopia e proptose assimétrica, afeta mais mulheres que homens. Quanto aos achados laboratoriais, ocorre leucopenia, hipercalciúria e hipercalcemia e hiperbilirrubinemia (casos graves), além do aumento das transaminases, FA e GGT, demonstrando comprometimento hepático. HIPOTIREOIDISMO E BÓCIO ATÓXICO O hipotireoidismo é uma síndrome clínica causada por síntese/secreção insuficiente ou ação inadequada dos hormônios da tireoide nos tecidos, resultando em lentificação generalizada do metabolismo. Em suas formas mais graves ocorre deposição de mucopolissacarídeos na derme, gerando edema sem cacifo, conhecido como mixedema. O hipotireoidismo central reúne as formas secundárias e terciárias do local de falência. Os principais fatores de risco são: idade acima de 65 anos, sexo feminino, puerpério, história familiar, irradiação previa de cabeça e pescoço, doenças autoimunes, síndrome de Down e Turner... ETIOLOGIA A tireoide de Hashimoto é a causa mais comum de hipotireoidismo emáreas com suficiência de sódio. Trata-se de uma doença autoimune assintomática nos primeiros meses ou anos, mas que lentamente destrói o parênquima glandular. Clinicamente, no momento do diagnóstico, o paciente pode estar eutiroidiano, apresentar hipotireoidismo ou tireotoxicose (quando ocorre liberação de hormônio pré-formado antes da destruição da glândula, sem que haja estímulo funcional sobre ela). Laboratorialmente, identifica-se o autoanticorpo anti-TPO, além do aumento de TSH. Depois de Hashimoto, em áreas com suficiência de iodo, a etiologia mais frequente em adultos passa a ser a iatrogênica. A maioria dos doentes submetidos à tireoidectomia necessitará de reposição de levotiroxina para o resto da vida. Em áreas com baixo aporte de iodo na dieta a causa mais comum se torna a nutricional. SISTEMA ENDÓCRINO Em crianças, a etiologia depende da faixa etária. Em neonatos sobressaem as diversas formas de hipotireoidismo congênito. O hipotireoidismo central tem como causas mais prevalentes em adultos os tumores hipofisários. A necrose hipofisária pode surgir no contexto de hemorragias pós- parto graves (síndrome de Sheehan). Em crianças, a causa mais comum é o craniofaringioma, um tipo especial de tumor hipofisário cujo grande marco radiológico é a presença de calcificações heterogêneas na sela turca. SINAIS E SINTOMAS Para deduzir as manifestações clínicas, deve-se ter em mente que duas manifestações básicas ocorrem na ausência de hormônio tireoidiano: lentificação generalizada dos processos metabólicos e acúmulo de glicosaminoglicanos no interstício de órgãos e tecidos. Cansaço, fraqueza, pele seca, intolerância ao frio, edema facial, de mãos e de pés, alopecia difusa, madarose lateral, hipertensão arterial, bradicardia, retardo na recuperação do reflexo Aquileu, dispneia, rouquidão, depressão, amnesia, ganho de peso. TIREOIDITES O mecanismo patogênico das tireoidites pode ser infeccioso, autoimune ou outros (trauma, radiação, drogas). As tireoidites promovem lesão inflamatória do parênquima tireoidiano, de forma que o conteúdo coloide dos folículos é extravasado, liberando tireoglobulina, T3 e T4 para a circulação. Por essa razão, a fase inicial costuma cursar com tireotoxicose manifesta ou subclínica. Após as primeiras semanas, o hormônio previamente estocado já foi liberado, enquanto a lesão das células foliculares reduz a síntese de hormônios tireoidianos. Nesse momento, instala-se o hipotireoidismo, na maioria das vezes subclínico. No caso das tireoidites subagudas essa fase é autolimitada, pois o tecido se regenera mais tarde. Na tireoidite crônica autoimune (Hashimoto), essa fase progride insidiosamente para hipotireoidismo clinicamente manifesto. Os níveis séricos de tireoglobulina estão caracteristicamente elevados em todos os casos de tireoidite. TIREIOIDITE DE HASHIMOTO É a causa mais comum de hipotireoidismo permanente em regiões sem deficiência de iodo. É uma doença caracteristicamente de mulheres mais velhas. São sinônimos: tireoidite crônica e tireoidite linfocítica crônica. ETIOPATOGENIA A etiologia é desconhecida. O resultado final é uma reação imunológica voltada contra uma série de antígenos tireoidianos, utilizando tanto a via celular (linfócitos TCF8) quanto a via humoral (autoanticorpos). QUADRO CLÍNICO A fase inicial cursa com elevação transitória dos hormônios tireoidianos, eventualmente levando à tireotoxicose. A maioria dos pacientes se apresenta assintomática no início da doença. A segunda fase da doença é o hipotireoidismo subclínico, caracterizado pela elevação do TSH com T4 ainda dentro da normalidade. A evolução para a terceira fase da doença é o hipotireoidismo clinicamente manifesto. Pode ocorrer encefalopatia de Hashimoto, na qual as manifestações encontradas incluem sinais semelhantes a um AVC, convulsões, psicose, aumento de proteínas no liquor e alterações no eletroencefalograma. Em 75% dos casos o bócio surge decorrente do efeito trófico do TSH no tecido folicular remanescente. DIAGNÓSTICO Histologicamente, há substituição do tecido folicular normal por um infiltrado linfocítico, inclusive com a formação de centros germinativos linfoides. As células de Askanazy, consideradas patognomônicas da doença, representam estágio avançado de lesão nas células foliculares. TIREIODITE SUBAGUDA LINFOCÍTICA Caracteriza-se pela instalação de uma tireoidite indolor, manifestando-se apenas com um período transitório de tireotoxicose, seguido de hipotireoidismo autolimitado. Pode ser considerada uma variante mais branda da tireoidite crônica autoimune, sendo que 50% dos casos tendem a evoluir para a tireoidite de Hashimoto. ETIOPATOGENIA É uma condição autolimitada. Anticorpos anti-TPO e antitireoglobulina estão positivos em 50% dos casos. SISTEMA ENDÓCRINO O histopatológico mostra um infiltrado linfocítico difuso, sem associação com lesões degenerativas e fibróticas importantes. QUADRO CLÍNICO Mais comumente, se apresenta como um quadro de tireotoxicose clinicamente manifesta. O caráter autolimitado inicial é o que caracteriza a doença. A tireoide permanece com tamanho normal ou levemente aumentada. Os níveis séricos de tireoglobulina estão caracteristicamente elevados. TIREOIDITE GRANULOMATOSA É caracterizada por um quadro álgico na região cervical anterior, associada ou não à tireotoxicose transitória. É uma doença reativa pós-viral, sendo que a infecção viral desencadeia uma reação imunológica a antígenos tireoidianos que possuem reação cruzada com os antígenos virais. A reação inflamatória resultante é do tipo granulomatosa, rica em macrófagos ativados, células gigantes de Langerhans e linfócitos CD4 em seu entorno. Cerca de 1-3 semanas após um quadro gripal, ocorre dor na região cervical anterior, garganta ou ouvidos e pode ser muito intensa. A glândula encontra-se levemente aumentada em seus dois lobos e muito dolorosa. São comuns o mal-estar, a mialgia e a febre baixa. BÓCIO DIFUSO E MULTINODULAR O aumento da tireoide é a manifestação mais comum de doença tireoidiana. Reflete a síntese prejudicada de hormônio, a qual é mais frequentemente causada por deficiência alimentar de iodo. O dano da síntese de hormônio leva ao aumento compensatório no nível sérico de TSH, o qual, por sua vez, causa hipertrofia e hiperplasia das células foliculares tireoidianas. O aumento compensatório da massa funcional da glândula é capaz de superar a deficiência hormonal na maioria dos indivíduos. BÓCIO DIFUSO NÃO TÓXICO Causa alargamento da glândula inteira sem a produção de nodularidade. O bócio endêmico ocorre nas regiões onde há deficiência de iodo. A falta de iodo leva à síntese diminuída de hormônio tireoidiano e a um aumento compensatório no TSH, levando à hipertrofia e hiperplasia das células foliculares. BÓCIO MULTINODULAR Com o tempo, episódios recorrentes de hiperplasia e involução se associam para produzir um aumento mais irregular da tireoide, o bócio multinodular. As características clínicas se associam com os efeitos de massa da glândula aumentada. NEOPLASIAS DA TIREOIDE ETIOLOGIA A transformação neoplásica do epitélio tireoidiano ocorre em células que sofreram alterações genéticas cumulativas, tanto em proto-oncogenes quanto em genes supressores tumorais. Independente dos fatores de risco, certas características clínicas aumentam a probabilidade pré-teste de um nódulo tireoidiano ser maligno: crescimento rápido, fixação aos tecidos adjacentes, surgimento de rouquidão e/ou adenomegalia ipsilateral. ADENOMAS São tipicamente massas solitárias, discretas e derivadas do epitélio folicular, e por isso são conhecidos como adenomas foliculares. É uma lesão solitária, esférica e encapsulada que é bem demarcadado parênquima tireoidiano circundante. O marco de todos os adenomas (incluindo o adenoma da célula de Hürthle) é a presença de uma cápsula bem formada, intacta, circundando o tumor. Clinicamente, podem se apresentar como massas indolores unilaterais. CARCINOMAS BEM DIFERENCIADOS SISTEMA ENDÓCRINO Representam o tipo mais comum de câncer de tireoide, sendo mais frequente no sexo feminino. O termo “bem diferenciado” quer dizer que sua citoarquitetura é parecida com a do tecido normal. CARCINOMA PAPILÍFERO É o tumor maligno mais comum da tireoide, especialmente em crianças. As principais características citológicas são: núcleos aumentados, que podem ter aspecto fissurado lembrando um grão de café; cromatina hipodensa, semelhante a vidro fosco; corpúsculos de inclusão intranucleares; corpos de psamoma, que são grupamentos de células calcificadas. Na biópsia, o tecido neoplásico comumente se organiza em papilas. Geralmente não é encapsulado, apresenta crescimento lento e na maioria dos casos invade linfonodos regionais. A frequência do envolvimento nodal tende a ser maior em crianças. Metástases à distância ocorrem somente em 2 a 10% dos casos, sendo o pulmão o órgão mais afetado, seguido pelo osso e SNC. As metástases pulmonares podem aparecer como um infiltrado nodular bilateral difuso, assintomático, que pode perdurar por anos. A apresentação varia na dependência do estágio tumoral. Geralmente o indivíduo se encontra eutireoidiano, com uma massa de crescimento lento, não dolorosa. Em casos avançados, aparecem sintomas compressivos locais como disfagia e rouquidão. O manejo de tumores bem diferenciados é fundamentalmente cirúrgico. O estadiamento está completo somente após o ato cirúrgico. CARCINOMA FOLICULAR Se dissemina preferencialmente pela via hematogênica, enviando metástases ósseas, pulmonares e hepáticas de maneira precoce. Pode ser classificado em dois subtipos: minimamente invasivo (invasão microscópica da cápsula) e altamente invasivo ou angioinvasivo (atravessa a cápsula e penetra nos vasos sanguíneos). CARCINOMA DE CÉLULAS DE HÜRTHLE As células de Hürthle são derivadas do epitélio folicular e têm como característica seu grande tamanho e citoplasma eosinofílico e granular. Esse carcinoma é considerado uma variedade menos diferenciada e mais agressiva do carcinoma de células foliculares, que afeta a população mais idosa. Envia metástases com frequência para linfonodos regionais. CARCINOMAS POUCO DIFERENCIADOS CARCINOMA MEDULAR (CMT) Representa de 5 a 10% dos tumores malignos da tireoide, tendo origem a partir de células parafoliculares ou células C, produtoras de calcitonina, um hormônio envolvido no metabolismo do cálcio. SISTEMA ENDÓCRINO As células do CMT possuem atividade biossintética exagerada, podendo produzir serotonina, prostaglandinas e corticotrofinas (ACTH). Os níveis de calcitonina servem como triagem pré-operatória e para avaliar recidiva no pós- operatório. Os pacientes com CMT esporádico podem apresentar uma massa palpável. A doença localmente avançada pode levar à rouquidão, disfagia e sinais de comprometimento respiratório. A diarreia se encontra presente em cerca de 30% dos casos, sendo ocasionada por uma maior secreção jejunal de água e eletrólitos induzida pela calcitonina. Ocorre invasão local, linfática e hematogênica, esta última em fases tardias, com pulmão, fígado e ossos comprometidos. CARCINOMA INDIFERENCIADO OU ANAPLÁSICO É o tumor de maior agressividade. É uma doença extremamente invasiva, acometendo em poucos meses toda a tireoide e estruturas vizinhas, sendo quase sempre fatal. O crescimento tumoral é extremamente rápido, com invasão de linfonodos e estruturas contíguas. A disseminação ocorre por via linfática e hematogênica, acometendo linfonodos cervicais, cérebro, pulmões e ossos. Do ponto de vista histológico, o tumor exibe uma grande variedade de células, podendo ser dividido em subtipos de acordo com a população de células predominantes: pequenas células, grandes células e escamosas. Geralmente se apresente em mulheres idosas. Há história de nódulo tireoidiano presente por algum período, que aumenta de volume e/ou torna-se doloroso. À palpação, o tumor se encontra aderido a estruturas vizinhas e pode estar ulcerado. Áreas amolecidas representando necrose podem ser palpadas no meio da massa tumoral e simulam abscessos. ADRENAL As glândulas suprarrenais são órgãos endócrinos pareados que consistem em um córtex e uma medula, o que as difere no seu desenvolvimento, estrutura e função. Abaixo da cápsula da suprarrenal está a camada estreita da zona glomerulosa. O córtex da suprarrenal sintetiza três diferentes tipos de esteroides: 1. Glicocorticoides, que são sintetizados primariamente na zona fasciculada; 2. Mineralocorticoides (aldosterona), na zona glomerulosa; 3. Esteroides sexuais, na zona reticular. A medular sintetiza e secreta catecolamina, principalmente epinefrina. HIPERFUNCIONAMENTO ADRENOCORTICAL SÍNDROME DE CUSHING Este distúrbio é causado por qualquer condição que produza níveis elevados de glicocorticoides. Os adenomas hipofisários secretores de ACTH são responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de hipercortisolismo endógeno. As glândulas adrenais em indivíduos com a síndrome são caracterizadas por graus variáveis de hiperplasia cortical nodular, causada pelos níveis elevados de ACTH. No caso de síndrome de Cushing independente de ACTH, a condição bioquímica necessária para a ocorrência do quadro é a presença de níveis séricos elevados de cortisol e baixos níveis de ACTH. Os estágios iniciais do distúrbio podem se apresentar com hipertensão e ganho de peso. Com o tempo, o padrão característico de deposição de tecido adiposo se torna aparente na forma de obesidade do tronco, rosto arredondado e acúmulo de gordura na parte posterior do pescoço e nas costas. Há acometimento das miofibrilas de contração rápida, resultando em massa muscular diminuída SISTEMA ENDÓCRINO e fraqueza dos membros proximais. Ocorre hiperglicemia, glicosúria e diabetes secundário. A pele é fina, frágil e facilmente machucada devido aos efeitos do catabolismo que causam perda de colágeno e reabsorção óssea. Na síndrome de Cushing hipofisária (mais comum), os níveis de ACTH estão elevados e não podem ser suprimidos por dexametasona. A secreção ectópica de ACTH resulta em um nível elevado de ACTH, mas sua secreção é completamente insensível às baixas ou altas doses de dexametasona. Quando a síndrome é causada por um tumor suprarrenal, o nível de ACTH é muito baixo devido à inibição retroativa de hipófise. SÍNDROMES ADRENOGENITAIS O córtex adrenal secreta dois componentes que podem ser convertidos para testosterona em diversos tecidos. Diferentemente dos andrógenos gonadais, o ACTH regula a formação do androgênio suprarrenal; logo, a secreção excessiva pode ocorrer tanto como uma síndrome “pura” quanto como um componente da doença de Cushing. As causas suprarrenais do excesso de androgênio incluem as neoplasias adrenocorticais e um grupo de distúrbios designados como hiperplasia suprarrenal congênita (HAC). É mais provável que as neoplasias adrenocorticais associadas à virilização sejam carcinomas adrenais secretores de androgênios do que adenomas. A HAC representa um grupo de erros metabólicos autossômicos recessivos e herdados, caracterizados por uma deficiência ou total ausência de uma enzima particular envolvida na biossíntese de esteroides corticais, particularmente o cortisol. A esteroidogênese é, então, canalizada para outras vias, levando à produção aumentada de androgênios, que são responsáveis pela virilização. A síndrome da perda de sais resulta de uma incapacidade de converterprogesterona em deoxicorticosterona por causa da ausência total da hidroxilase. Logo, não há nenhuma síntese de mineralocorticoides e, concomitantemente, há um bloqueio na conversão da hidroxiprogesterona em deoxicortisol, resultando na deficiência da síntese de cortisol. Esse padrão geralmente surge após o nascimento, porque no útero os eletrólitos e os fluidos podem ser mantidos pelos rins maternos. Há perda de sais, hiponatremia e hipercalemia, a qual induz acidose, hipotensão, colapso cardiovascular e possível morte. O bloqueio concomitante na síntese de cortisol e a produção em excesso dos androgênios, no entanto, levam à virilização. INSUFICIÊNCIA ADRENOCORTICAL Pode ser causada tanto por doença primária da suprarrenal quanto pela estimulação diminuída das suprarrenais decorrentes da deficiência de ACHT. INSUFICIÊNCIA ADRENOCORTICAL AGUDA PRIMÁRIA Ocorre em uma variedade de condições clínicas: • Como uma crise em indivíduos com insuficiência adrenocortical crônica precipitada por qualquer forma de estresse que requeira um aumento imediato na produtividade de esteroides das glândulas incapazes de responder; • Em pacientes mantidos com corticoesteroides exógenos, nos quais o uso de esteroides por recolhimento de modo rápido ou a falha em aumentar as doses de esteroides em resposta a um estresse agudo pode precipitar uma crise da suprarrenal, como resultado da incapacidade das glândulas atróficas de produzir hormônios glicocorticoides; • Como resultado de hemorragia adrenal maciça, o que danifica o córtex das suprarrenais suficientemente para causar insuficiência adrenocortical aguda. INSUFICIÊNCIA ADRENOCORTICAL CRÔNICA PRIMÁRIA/DOENÇA DE ADDISON É um distúrbio incomum que resulta da destruição progressiva do córtex da suprarrenal. Em geral, as manifestações clínicas só aparecem depois de 90% do córtex estar comprometido. Mais de 90% de todos os casos são atribuíveis a um dos quatro distúrbios: adrenalite autoimune, tuberculose, Aids e cânceres metastáticos.