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1 @jumorbeck Microbiota Oral O termo Microbioma foi criado por Joshua Lederberg, geneticista e Nobel da medicina em 1958, refere-se à comunidade de microrganismos que coloniza o organismo (SILVA, 2016). Os cientistas acreditam que a nossa saúde, além das condicionantes genéticas, depende dos microrganismos que vivem conosco (SILVA, 2016). ↠ A microbiota da cavidade bucal começa a ser estabelecida logo após o nascimento e sofre alterações na quantidade e diversidade de microrganismos ao longo da vida, quando se nota a influência epigenética sobre esse ambiente (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ↠ A cavidade oral é a principal porta de entrada de microrganismos no organismo humano. Estes entram pela boca através dos alimentos e do ar que ingerimos, os alimentos são mastigados e misturam-se com a saliva dirigindo-se para o trato gastrointestinal (SILVA, 2016). ↠ O número de seres procarióticos que habitam o corpo humano chega a ser quase 10 vezes maior do que o número de células do próprio indivíduo, e a boca é o segundo local de maior concentração desses organismos, ficando atrás somente do intestino (GERMANO et. al., 2018) ↠ A cavidade oral em indivíduos saudáveis tem uma microbiota bem equilibrada que consiste em mais de 700 espécies, conforme determinadopelo Human Oral Microbiome Database (HOMD, 2018). Tal confirmação de tamanha pluralidade desta microbiota foi permitida por uma análise clonal do gene RNAr 16S, quando se revelou que, além de algumas espécies de fungos e vírus, diversas bactérias, estão presentes neste microhabitat (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ↠ A cavidade oral é o local anatômico humano com maior diversidade de microrganismos, compreendendo fungos, vírus, protozoários, e principalmente bactérias, sendo o gênero Streptococcus o mais comum. Estes microrganismos vivem num ecossistema que, quando está em equilíbrio, mantém a saúde oral (SILVA, 2016). COMPOSIÇÃO DA MICROBIOMA ORAL ↠ Estudos revelam que os microrganismos mais abundantes no microbioma oral saudável pertencem aos filos Firmicutes, Proteobacteria, Fusobactérias e Actinobacteria. O gênero Streptococcus é o mais predominante, seguido por Prevotella, Veillonella, Neisseria e Haemophilus (SILVA, 2016). BACTÉRIAS ↠ A boca contém muitas superfícies e cada superfície contém uma enorme quantidade de bactérias, muitas delas agregadas num biofilme. Algumas destas bactérias são as responsáveis pelas doenças orais bacterianas mais comuns no ser humano, como a cárie e periodontite (SILVA, 2016). Para além destas doenças da boca as bactérias podem ainda ser responsáveis por doenças sistémicas como endocardite bacteriana e pneumonia (SILVA, 2016). BIOFILME ↠ Na boca, os microrganismos existem maioritariamente em biofilmes sobre as superfícies dos dentes, das gengivas, da língua e até em próteses quando estas existem (SILVA, 2016). ↠ Os biofilmes são matrizes onde os microrganismos se depositam e ficam aderidos às superfícies por meio de proteínas ou polissacáridos produzidos por eles próprios. Estas proteínas ligam-se à membrana externa das bactérias Gram negativo e ao peptidoglicano das bactérias Gram positivo (SILVA, 2016). ↠ Estes biofilmes mantêm-se sempre hidratados com cerca de 98% de água e protegem os microrganismos da desidratação (SILVA, 2016). Tanto os microrganismos patogênicos, quanto os comensais, formam biofilme complexos nas superfícies dos dentes, gengiva e língua (GERMANO et. al., 2018) A placa dentária é a mais prevalente e a mais densa dos biofilmes humanos (BROOKS, 26ª ed.). FUNGOS ↠ São capazes de colonizar vários locais anatômicos humanos como a boca. Os fungos que estão no ambiente (em partículas de poeira, por exemplo) podem penetrar na cavidade oral por inalação de partículas ou por ingestão de água ou alimentos contaminados (SILVA, 2016). ↠ Existem alguns fungos, principalmente do gênero Candida, que têm um papel importante no microbioma oral. Esta levedura pode estar presente sem causar nenhum sintoma, no entanto pode causar várias infecções agudas ou crônicas. Estes são influenciados pelo estado do sistema imunitário e por medicação (SILVA, 2016). MICROBIOTA ORAL E SALIVA 2 @jumorbeck ↠ Muitos dos fungos presentes na cavidade oral são fungos saprófitas, mas existem alguns patogénicos e oportunistas sendo responsáveis por grande parte das doenças orais (SILVA, 2016). Foi feito um estudo com o intuito de caracterizar os fungos existentes no microbioma oral de 20 indivíduos saudáveis. As amostras foram recolhidas uma hora depois de os indivíduos terem comido, bochechado e gargarejado com uma solução de lavagem, sendo esta a solução amostra. Neste estudo foram identificadas 101 espécies de fungos, sendo que 11 não foram cultiváveis e 74 foram cultiváveis. O gênero presente em 75% dos participantes foi Candida, seguido de Cladosporium em 65%. Aureobasidium foi encontrado em 50% dos indivíduos. Aspergillus em 35%, Fusarium em 30% e Cryptococcus em 20% (SILVA, 2016). PROTOZOÁRIOS ↠ Os protozoários não são comumente encontrados na microbiota oral. As espécies mais frequentes são comensais e incluem a Entamoeba gingivalis e a Trichomonas tenax (GERMANO et. al., 2018) DIFERENTES HABITATS DA BOCA ↠ A cavidade oral dos indivíduos saudáveis contém então centenas de espécies bacterianas e também algumas fúngicas. Muitos destes microrganismos podem associar- se para formar biofilmes, que são resistentes à tensão mecânica ou tratamento antibiótico. A maioria são também espécies comensais, mas podem tornar-se patogénicas em respostas às alterações do ambiente, como por exemplo a qualidade de higiene pessoal (SILVA, 2016). ↠ A nossa boca contém diferentes habitats que albergam vários microrganismos, como os dentes, a língua, as bochechas, o palato duro e mole, as amígdalas, as glândulas salivares, entre outros, estando todos estes locais em contato com a saliva e todos colonizados por bactérias. Vários estudos demostram que nos diferentes tecidos existem comunidades distintas de bactérias (SILVA, 2016). Nem todos os microrganismos que entram na boca conseguem colonizar este ambiente e se manter nele. Mesmo dentro dessa cavidade existem diferentes locais que favorecem a colonização por distintos microrganismos. Ou seja, nem todos os microrganismos ao qual esta superfície é exposta diariamente são capazes de compor a microbiota residente (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ↠ Nesta imagem estão referidos os 5 filos mais predominantes de bactérias (Actinobacteria, Bacteroidetes, Firmicutes, Fusobacteria e Proteobacteria) e alguns gêneros representantes de cada filo (SILVA, 2016). ↠A explicação para a existência de comunidades distintas nos diferentes tecidos é o fato de que cada superfície ou estrutura oferece condições diferentes aos microrganismos que têm, eles próprios, exigências diferentes para a sua multiplicação. No entanto, a cavidade oral tem várias funções que afetam a multiplicação e a atividade dos microrganismos, tal como comer, falar ou a ativação do sistema imunitário do hospedeiro através da libertação de mediadores inflamatórios (SILVA, 2016). ↠ Na boca existem dois tipos de superfícies passíveis de colonização: (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ➢ superfícies descamativas: nas superfícies descamativas como as mucosas, ocorre o processo fisiológico de descamação celular 3 @jumorbeck contínua, o que impede o acúmulo e a organização de microrganismos em biofilme. ➢ tecidos duros: isto é, os dentes e as superfícies retentivas, como próteses, aparelhos, cálculos dentários e restaurações, há o favorecimento da colonização microbiana por não ocorrer descamação. ↠ Nesse aspecto biológico vale ressaltar ainda a importância da saliva e do fluido do sulco gengival (FSG), pois ambos influenciam a colonizaçãode diferentes nichos na cavidade bucal, servindo de nutrientes endógenos para os microrganismos e modulando seu crescimento (JÚNIOR; IZABEL, 2019). FATORES QUE MODULAM A MICROBIOTA ORAL ↠ Todas as espécies presentes no microbioma oral desempenham um papel importante na manutenção do bem-estar oral, no entanto, caso as condições não sejam adequadas, estes microrganismos podem-se tornar prejudiciais e causar doença (SILVA, 2016). ↠ As condições ambientais, tais como temperatura, quantidade de oxigênio e nutrientes (endógenos e exógenos), condições de pH e o potencial redox, têm impacto sobre o ecossistema e contribuem para a composição das espécies presentes no biofilme em cada local. A dieta do indivíduo, a variabilidade do fluxo de saliva ou até mesmo a toma de antibióticos causam alterações no ecossistema (SILVA, 2016). ↠ A microbiota oral sofre influência tanto de fatores externos (tabagismo, alcoolismo, antibioticoterapia, permanência em ambientes hospitalares, estado nutricional e higiene bucal) quanto intrínsecos ao paciente, como a idade e o estado imunológico (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ↠ A quebra desta harmonia, por alguma alteração no ambiente bucal, favorece a proliferação de espécies patogênicas e, assim, o desenvolvimento de doenças, uma relação de disbiose, em que, a depender do grau de comprometimento, pode afetar outros sistemas além do sistema estomatognático (JÚNIOR; IZABEL, 2019). FATORES MODULADORES AÇÃO DURANTE A SIMBIOSE AÇÃO DURANTE A DISBIOSE TEMPERATURA Condições para crescimento e o metabolismo de espécies simbiontes. Proliferação de periodontopatógenos. FATOR PH (SALIVA) Seleção dos microrganismos Proliferação de microrganismos aptos para colonização. acidogênicos (favorece cárie dentária). Na inflamação gengival ocorre proliferação de periodontopatógenos. GRAU DE OXIDAÇÃO- REDUÇÃO Influenciam na microbiota residente pela diferença de concentração de oxigênio e ação dos radicais livres. Maior presença de anaeróbios restritor (espécies disbiontes). NUTRIENTES Podem ser endógenos (saliva e FSG) ou exógenos (dieta). Síntese de ácidos e outros subprodutos que modificam o pH local e lesam a mucosa bucal. DEFESA DO ORGANISMO Efeito bactericida e bacteriostático. Maior presença de quadro de doenças infecciosas. (JÚNIOR; IZABEL, 2019). A temperatura adequada, por volta de 35-36°C, proporciona condições para o crescimento e metabolismo de espécies que compõem a microbiota normal (JÚNIOR; IZABEL, 2019). O pH do meio propicia a seleção dos microrganismos aptos para colonizar a boca e se desenvolver. Muitas espécies requerem um pH próximo do neutro para crescerem (o pH normal da cavidade bucal em sua maioria), sendo sensíveis a meios extremamente ácidos ou alcalinos. Biofilme dental: microorganismos acidogênicos (capazes de produzir ácidos) e acidúricos, capazes de sobreviver em meio ácido. Já em sítios de inflamação gengival é favorecida a proliferação de microrganismos álcali-tolerantes, como é o caso dos periodontopatógenos (JÚNIOR; IZABEL, 2019). O crescimento microbiano depende da disponibilidade de nutrientes, os quais podem ser endógenos, presentes na saliva e no FSG, ou exógenos, provenientes da dieta do hospedeiro. Entre as fontes de nutrientes presentes na dieta, os carboidratos fermentáveis são os nutrientes exógenos que mais interferem na modulação de população da microbiota oral. As bactérias, principalmente, utilizam esses carboidratos para obtenção de energia, produzindo ácidos como produto final do metabolismo, modificando o pH local (JÚNIOR; IZABEL, 2019). Outro fator que afeta este crescimento é a diferença na concentração de oxigênio nos diferentes locais que constituem a cavidade bucal. A maioria dos microrganismos presentes são anaeróbios facultativos ou anaeróbios restritos. Dessa forma, alguns locais em que a concentração de oxigênio é reduzida, como a parte interna dos biofilmes e a região de fundo de sulco, ocorre maior presença de anaeróbios restritos. Além disso, os radicais livres formados a partir do oxigênio são extremamente deletérios aos microrganismos, em especial à célula bacteriana. Ou seja, nota-se que é o grau de oxidação-redução em um local que governa a sobrevivência e crescimento relativo desses microrganismos (JÚNIOR; IZABEL, 2019). Ainda no quesito modulação da microbiota oral, pode-se elencar os mecanismos de defesa do hospedeiro. Esta é estabelecida, além do sistema imunológico, pela barreira física das mucosas e por fatores de defesa específica e não específica. No componente de defesa do tipo não específica entra a ação de glicoproteínas (mucinas), de enzimas 4 @jumorbeck (lactoferrina e lisozima) e de peptídeos antimicrobianos presentes na saliva. Essas biomoléculas auxiliam na aglutinação de microrganismos, facilitando sua deglutição juntamente com a saliva e na degradação de componentes vitais da célula bacteriana – efeito bactericida. Os componentes de defesa específica do organismo é composta pelos linfócitos, células de Langherans e imunoglobulinas, em especial as IgG e IgA (JÚNIOR; IZABEL, 2019). PATOLOGIAS ASSOCIADAS À MICROBIOTA ORAL CÁRIE DENTÁRIA ↠ Esta é uma patologia infecciosa polimicrobiana caracterizada pela desmineralização dos tecidos dentais e disbiose da microbiota, devido a alterações em seus fatores moduladores (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ↠ As lesões de cárie estão bastante associadas com o Streptococcus mutans (GERMANO et. al., 2018) ↠ É salutar ressaltar que, por mais que a cárie tenha como etiologia a presença de alguns microrganismos, ela é uma doença multifatorial e somente a presença das diferentes espécies de microrganismos não serão capaz de desencadear o processo de desmineralização que irá culminar na cárie (GERMANO et. al., 2018) DOENÇA PERIODONTAL ↠ Um dos fatores etiológicos mais importantes da doença periodontal é a presença dos periodontopatógenos (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ↠ Em condições de saúde, o sulco gengival é colonizado principalmente por microrganismos Gram-positivos, que incluem Streptococcus spp. e espécies de Actinomyces, mas com a alteração na microbiota ocorre a colonização por bactérias Gram-negativa (JÚNIOR; IZABEL, 2019). CORRELAÇÕES COM PATOLOGIAS SISTÊMICAS ↠ Microrganismos podem adentrar na corrente sanguínea, quando a mucosa oral é danificada por traumas, ou procedimentos cirúrgicos, ou devido a doenças periodontais. (GERMANO et. al., 2018) ↠ Estudos vêm demonstrando a relação das doenças bucais e sistêmicas (cardiopatias e infecções respiratórias, principalmente), ressaltando-se que inúmeras pesquisas se desenvolveram com resultados que evidenciam cada vez mais esta possível relação (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ↠ Como as bactérias orais sempre invadem os vasos sanguíneos por meio da mucosa bucal, elas são causas potenciais de bacteremia e outras infecções sistêmicas (JÚNIOR; IZABEL, 2019). CARDIOPATIAS ↠ A teoria de que a aterosclerose passa por um processo inflamatório acentuou o interesse no papel de que alguns agentes infecciosos possam desempenhar no início ou mesmo na modelação da aterogênese. Nesta perspectiva inseriu-se na literatura a hipótese de as doenças periodontais terem um papel na formação de ateromas (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ↠ Efetivamente, vários agentes patógenos periodontais foram detectados em placas de ateroma, como é o caso da Porphyromonas gengivalis e o Actinobacillus actinomycetemcomitan (JÚNIOR; IZABEL, 2019). INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS ↠ A higiene bucal deficiente é comum em pacientes internados em UTI, o que propicia a colonização do biofilme bucal por microrganismos patogênicos, especialmente por patógenos respiratórios, alterando a microbiota oral para uma relação que penderá para a origem de doenças bucais e, provavelmente, na sequência, sistêmicas(JÚNIOR; IZABEL, 2019). ATENÇÃO: apesar de os estudos indicarem a associação entre a microbiota oral e patologias sistêmicas (principalmente as cardiopatia e infeções respiratórias), ainda não há a certeza dessa conexão (JÚNIOR; IZABEL, 2019). ATENÇÃO: Diante disso, a microbiota oral tem influência no binômio saúde-doença, especialmente sobre a saúde bucal ao atuar tanto na manutenção do equilíbrio quanto na origem de diversas doenças bucais (JÚNIOR; IZABEL, 2019). Problemas gestacionais, como partoprematuro, pré-eclâmpsia, aborto espontâneo, baixo peso neonatal e sepse neonatal são condições que também podem ser relacionadas com microrganismos orais e as toxinas produzidas por eles. Estudos mostram uma associação entre a ocorrência de complicações gestacionais e a presença de espécies específicas da microbiota oral no líquido amniótico, como Streptococcus spp. e Fusobacterium (GERMANO et. al., 2018) Saliva COMPOSIÇÃO ↠ Quimicamente, a saliva é composta por 99,5% de água e 0,5% de solutos. Entre os solutos estão íons, incluindo o sódio, o potássio, o cloreto, o bicarbonato e o fosfato. Também estão presentes alguns gases dissolvidos e substâncias orgânicas, incluindo a ureia e ácido úrico, o muco, a imunoglobulina A, a enzima bacteriolítica lisozima e a amilase salivar, uma enzima digestória que atua sobre o amido (TORTORA, 14ª ed.). 5 @jumorbeck ↠ As glândulas salivares produzem saliva, uma mistura complexa de água, íons, muco e enzimas (MARIEB, 7ª ed.). ↠ A saliva tem pH entre 6,0 e 7,0, uma faixa favorável à ação digestiva da ptialina (GUYTON, 13ª ed.). GLÂNDULAS SALIVARES ↠ Todas as glândulas salivares são glândulas tubuloalveolares compostas (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As glândulas salivares menores (intrínsecas) estão espalhadas na mucosa da língua, palato, lábios e bochechas. A saliva dessas glândulas mantém a boca úmida o tempo inteiro. Por outro lado, as glândulas salivares maiores (extrínsecas), situadas fora da boca e conectadas a ela através de seus ductos, secretam saliva apenas durante, ou antes, da refeição, tornando a boca molhada. (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As principais glândulas salivares são as glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais; além delas, há diversas minúsculas glândulas orais. A secreção diária de saliva, normalmente, é de 800 a 1.500 mililitros, com valor médio de 1.000 mililitros (GUYTON, 13ª ed.). GLÂNDULA PARÓTIDA ↠ É a maior glândula. Fiel ao seu nome (par = perto; ótida = a orelha), ela se situa anterior à orelha, entre o músculo masseter e a pele (MARIEB, 7ª ed.). ↠ Seu ducto parotídeo segue em paralelo com o arco zigomático, perfura o músculo bucinador (da bochecha) e se abre no vestíbulo da boca, lateral ao segundo molar superior (MARIEB, 7ª ed.). ↠ A secreção do ducto parotídeo é estimulada pelo nervo glossofaríngeo (nervo craniano IX). Como os ramos do nervo facial passam pela glândula parótida em seu caminho até os músculos da face, a cirurgia nessa glândula pode levar à paralisia facial (MARIEB, 7ª ed.). GLÂNDULA SUBMANDIBULAR ↠ Tem aproximadamente o tamanho de uma noz, situa- se ao longo da face medial do corpo da mandíbula, imediatamente anterior ao ângulo da mandíbula (MARIEB, 7ª ed.). ↠ Seu ducto se abre no assoalho da boca, imediatamente lateral ao frênulo da língua (MARIEB, 7ª ed.). GLÂNDULA SUBLINGUAL ↠ Situa-se no assoalho da cavidade oral, inferior à língua. Seus 10 a 12 ductos se abrem na boca, diretamente superiores à glândula (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As glândulas sublingual e submandibular são inervadas pelo nervo facial (nervo craniano VII) (MARIEB, 7ª ed.). As células secretórias das glândulas salivares são células serosas que produzem uma secreção aquosa contendo enzimas e íons de saliva e células mucosas que produzem muco (MARIEB, 7ª ed.). ↠ A saliva contém dois tipos principais de secreção de proteína: (GUYTON, 13ª ed.). ➢ a secreção serosa contendo ptialina (uma alfa- amilase), que é uma enzima para a digestão de amido; ➢ a secreção mucosa, contendo mucina, para lubrificar e proteger as superfícies. As glândulas parótidas produzem quase toda a secreção de tipo seroso, enquanto as glândulas submandibulares e sublinguais produzem secreção serosa e mucosa. As glândulas bucais só secretam muco (GUYTON, 13ª ed.). Obs.: Porém, como hoje se sabe que as células serosas nas glândulas salivares humanas também secretam uma pequena quantidade de muco, alguns cientistas se referem a essas células como células seromucosas.) (MARIEB, 7ª ed.). 6 @jumorbeck SECREÇÃO DE SALIVA ↠ A secreção de saliva é uma operação de dois estágios: o primeiro envolve os ácinos e o segundo envolve os ductos salivares (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Os ácinos produzem secreção primária contendo ptialina e/ou mucina em solução de íons em concentrações não muito diferentes das típicas dos líquidos extracelulares (GUYTON, 13ª ed.). ↠ À medida que a secreção primária flui pelos ductos, ocorrem dois importantes processos de transporte: ➢ O ativo que modificam bastante a composição iônica da saliva. Primeiro, íons sódio são reabsorvidos ativamente nos ductos salivares, e íons potássio são ativamente secretados por troca do sódio. Portanto, a concentração de íons sódio da saliva diminui, enquanto a concentração de íons potássio fica maior. Entretanto, a reabsorção de sódio excede a secreção de potássio, o que cria negatividade elétrica de cerca de -70 milivolts nos ductos salivares; por sua vez, essa negatividade faz com que íons cloreto sejam reabsorvidos passivamente. Por conseguinte, a concentração de íons cloreto no líquido salivar cai a nível muito baixo, comparado à concentração de íons sódio (GUYTON, 13ª ed.). ➢ Segundo, íons bicarbonato são secretados pelo epitélio dos ductos para o lúmen do ducto. Essa secreção é, em parte, causada pela troca de bicarbonato por íons cloreto e, em parte, resulta de processo secretório ativo (GUYTON, 13ª ed.). O resultado efetivo desses processos de transporte é que, em condições de repouso, as concentrações de íons sódio e cloreto na saliva são de apenas 15 mEq/L, cerca de um sétimo a um décimo de suas concentrações no plasma. Por outro lado, a concentração de íons potássio é aproximadamente 30 mEq/L, sete vezes maior do que a concentração no plasma; e a concentração de íons bicarbonato é de 50 a 70 mEq/L, cerca de duas a três vezes a do plasma (GUYTON, 13ª ed.). Quando a secreção salivar atinge sua intensidade máxima, as concentrações iônicas salivares se alteram consideravelmente, porque a velocidade de formação de saliva primária pelos ácinos pode aumentar em até 20 vezes. Essa secreção acinar, então, flui tão rapidamente pelos ductos que a modificação no ducto da saliva é muito reduzida (GUYTON, 13ª ed.). REGULAÇÃO NERVOSA DA SECREÇÃO SALIVAR ↠ As glândulas salivares são controladas principalmente por sinais nervosos parassimpáticos que se originam nos núcleos salivatórios superior e inferior, no tronco cerebral (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Os núcleos salivatórios estão localizados aproximadamente na junção entre o bulbo e a ponte e são excitados por estímulos gustativos e táteis, da língua e de outras áreas da boca e da faringe (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Muitos estímulos gustativos, especialmente o sabor azedo (causado por ácidos), provocam copiosa secreção de saliva — com frequência, 8 a 20 vezes a secreção basal. Além disso, estímulos táteis, como a presença de objetos de superfície lisa na boca (p. ex., um seixo), causam salivação acentuada, enquanto objetos ásperos causam menor salivação e, às vezes, até mesmo a inibem (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A salivação pode também ser estimulada, ou inibida, por sinais nervosos que chegam aos núcleos salivatórios 7 @jumorbeck provenientes dos centros superiores do sistemanervoso central. Por exemplo, quando a pessoa sente o cheiro ou come os alimentos preferidos, a salivação é maior do que quando ela come ou cheira alimento de que não gosta (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Um fator secundário que afeta a secreção salivar é o suprimento de sangue para as glândulas, porque essa secreção sempre requer nutrientes adequados do sangue. Os sinais nervosos parassimpáticos que induzem salivação abundante também dilatam moderadamente os vasos sanguíneos. Além disso, a própria salivação dilata, de modo direto, os vasos sanguíneos, proporcionando, assim, maior nutrição das glândulas salivares, necessária às células secretoras. Parte desse efeito vasodilatador adicional é causado pela calicreína, secretada pelas células salivares ativadas que, por sua vez, agem como enzima a qual cliva uma das proteínas do sangue, alfa2-globulina, para formar a bradicinina, potente vasodilatador (GUYTON, 13ª ed.). FUNÇÕES DA SALIVA ➢ Umedece a boca (MARIEB, 7ª ed.). ➢ Dissolve substâncias químicas alimentares para que possam ser degustadas (MARIEB, 7ª ed.). ➢ Molha o alimento e compacta o alimento como um bolo. Suas enzimas, a amilase e a lipase salivares, começam a digestão dos carboidratos e gorduras (MARIEB, 7ª ed.). A saliva contém um tampão de bicarbonato que neutraliza os ácidos produzidos pelas bactérias orais e que iniciam a cárie dentária. Além disso, ela contém enzimas bactericidas, substâncias antivirais, anticorpos e um composto de cianeto — todos eles são capazes de eliminar microrganismos orais nocivos. A saliva também contém proteínas que estimulam o crescimento de bactérias benéficas que superam competitivamente as bactérias nocivas na boca. (MARIEB, 7ª ed.). ↠ A saliva ajuda a evitar os processos de deterioração de diversas maneiras: (GUYTON, 13ª ed.). ➢ O fluxo de saliva ajuda a lavar a boca das bactérias patogênicas, bem como das partículas de alimentos que provêm suporte metabólico a essas bactérias. ➢ A saliva contém vários fatores que destroem as bactérias. São eles os íons tiocianato e diversas enzimas proteolíticas — a mais importante é a lisozima — que: atacam as bactérias; ajudam os íons tiocianato a entrar nas bactérias, onde se tornam bactericidas; e digerem partículas de alimentos, ajudando, assim, a remover, ainda mais o suporte metabólico das bactérias. ➢ A saliva frequentemente contém quantidades significativas de anticorpos proteicos, que podem destruir as bactérias orais, incluindo algumas das que causam cáries dentárias. Na ausência de salivação, os tecidos orais, com frequência, ficam ulcerados e até infectados, e as cáries dentárias podem ser comuns. Embriologia da Cavidade Oral ↠ Ao final da segunda semana, o endoderma da parte média do terço cefálico do disco apresenta um espessamento arredondado, denominado placa precordal, que adere firmemente ao ectoderma. Essa região de firme adesão entre ectoderma e endoderma constitui o que será a membrana bucofaríngea (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ Fusão similar ocorre na região caudal, entre as pequenas regiões arredondadas dos dois folhetos, formando a membrana cloacal. Nesse período, determinam-se as duas extremidades do tubo digestivo que irá se formar: a boca e o ânus (KATCHBURIAN, 4ª ed.). DESENVOLVIMENTO DA CAVIDADE ORAL PRIMITIVA ↠ Na extremidade cefálica, a cavidade oral primitiva, ou estomódeo, originada por uma invaginação do ectoderma, é separada do intestino anterior ou cefálico por uma fina membrana ectodérmica/endodérmica - a membrana bucofaríngea -, que se forma no 22º dia do desenvolvimento (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ Logo em seguida, no 27º dia, ocorre a perfuração da membrana, estabelecendo-se a comunicação entre a 8 @jumorbeck cavidade oral primitiva e o intestino anterior (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ARCOS, BOLSAS, SULCOS E MEMBRANAS BRANQUIAIS ↠ O aparelho branquial é composto de arcos, bolsas e sulcos branquiais. Essas estruturas contribuem para a maior parte da formação da face e do pescoço (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ Os arcos branquiais iniciam seu desenvolvimento nos primeiros dias da quarta semana de gestação, quando também ocorre a migração das células da crista neural. Os arcos são separados externamente pelos sulcos branquiais, que também são numerados em sequência craniocaudal (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ O primeiro arco branquial é subdividido em dois processos: mandibular – o maior, que formará a mandíbula –, e maxilar – que formará a maxila, o arco zigomático e a porção escamosa do osso temporal. Esses processos delimitam a cavidade oral (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ Nas etapas iniciais, cada arco contém escasso mesênquima, recoberto externamente por ectoderma e internamente por endoderma. Em seguida, o mesênquima é invadido por células provenientes da crista neural. Essas células, apesar de serem de origem ectodérmica, formam o tecido denominado ectomesênquima, responsável pelas estruturas ósseas, dentárias (com exceção do esmalte), conjuntivas e musculares da região craniofacial (KATCHBURIAN, 4ª ed.). DESENVOLVIMENTO DA LÍNGUA ↠ A língua tem origem na parede ventral da orofaringe, na região dos quatro primeiros arcos branquiais (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ Na quarta semana de gestação, duas saliências do ectomesênquima aparecem no aspecto interno do primeiro arco branquial, formando, assim, as saliências linguais. Atrás e entre essas saliências, aparece uma eminência medial, denominada tubérculo ímpar; sua margem caudal forma o forame cego (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ As saliências linguais crescem e fundem-se, cobrindo o tubérculo ímpar, de modo a formar a mucosa dos dois terços anteriores da língua, cujo epitélio é de origem ectodérmica. As porções centrais do segundo, terceiro e quarto arcos branquiais elevam-se juntamente para formar uma proeminência denominada cópula. O endoderma desses arcos branquiais e a cópula formam a superfície do terço posterior da língua (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ A combinação das diferentes origens embriológicas da língua é demonstrada pela sua complexa inervação. O primeiro arco branquial, cujo nervo é o trigêmeo, dá origem ao ramo lingual, responsável pela sensação tátil geral da língua. O segundo arco branquial, cujo nervo é o facial, pelo ramo corda do tímpano, é responsável pela sensação gustativa. Os terceiro e quarto arcos contribuem para as sensações tátil e gustativa da região da base da língua, por meio dos nervos glossofaríngeo e vago (KATCHBURIAN, 4ª ed.). SEGMENTO INTERMAXILAR ↠ Como resultado do crescimento das proeminências maxilares, as duas proeminências nasais mediais se fusionam não apenas superficialmente, mas também em nível mais profundo (LANGMAN, 13ª ed.). ↠ A estrutura formada pela fusão das duas proeminências é o segmento intermaxilar. Ela é formada por: (LANGMAN, 13ª ed.). 9 @jumorbeck ➢ um componente labial, que forma o filtro do lábio superior ➢ o componente da mandíbula superior, que carrega os quatro dentes incisivos; ➢ um componente palatal, que forma o palato primário triangular. ↠ O segmento intermaxilar da origem ao filtro do lábio superior (LANGMAN, 13ª ed.). DESENVOLVIMENTO DO PALATO ↠ No início do desenvolvimento do palato, as cavidades oral e nasal comunicam-se, e o espaço entre elas é ocupado pela língua em desenvolvimento e delimitado anteriormente pelo palato primário (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ O palato primário é derivado do segmento intermaxilar (LANGMAN, 13ª ed.). ↠ As cristas palatinas (prateleiras palatinas), a princípio, estão voltadas para baixo, a cada lado da língua. Com o contínuo crescimento, após a sétima semana, ocorre um rebaixamento aparente da língua, possibilitando que as cristas palatinas sejam elevadas, fundindo-se entre si e com o palato primário, formando opalato secundário (KATCHBURIAN, 4ª ed.). 10 @jumorbeck ↠ Somente quando o palato secundário se desenvolve é que as cavidades oral e nasal se separam. A formação do palato secundário ocorre entre a sétima e a oitava semana de gestação, decorrente de uma fusão medial das cristas palatinas, formadas a partir dos processos maxilares (KATCHBURIAN, 4ª ed.). ↠ Anteriormente, as prateleiras se fusionam com o palato primário triangular, e o forame incisivo torna-se a referência na linha média entre os palatos primário e secundário (LANGMAN, 13ª ed.). A movimentação e o fechamento das cristas palatinas envolvem uma força intrínseca, tendo talvez relação com a grande quantidade de proteoglicanos e de fibroblastos contráteis da região. Durante a fusão dos epitélios do palato secundário, ocorre adesão (KATCHBURIAN, 4ª ed.). DESENVOLVIMENTO DAS GLÂNDULAS ↠ Durante a sexta e sétima semanas, as glândulas salivares, sob a influência da via de sinalização Notch, desenvolvem-se como uma estrutura altamente ramificada pela morfogênese de ramificação a partir de brotos epiteliais maciços a partir da cavidade oral primitiva (MOORE, 10ª ed.). ↠ O tecido conjuntivo das glândulas é derivado de células da crista neural. Todo tecido do parênquima (secretor) surge pela proliferação do epitélio oral (MOORE, 10ª ed.). GLÂNDULAS PARÓTIDAS ↠ As glândulas parótidas são as primeiras a se desenvolverem e aparecem no início da sexta semana (MOORE, 10ª ed.). ↠ Elas se desenvolvem a partir de brotos que surgem do revestimento ectodérmico oral próximo aos ângulos do estomodeu (MOORE, 10ª ed.). ↠ O alongamento das mandíbulas causa estiramento do ducto da parótida, com a glândula remanescente próxima ao seu local de origem (MOORE, 10ª ed.). ↠ Posteriormente os brotos se canalizam (desenvolvem um lúmen) e se tornam ductos por volta da 10ª semana. As extremidades arredondadas dos cordões diferenciam- se em ácinos (estruturas em forma de uva). A atividade secretora começa com 18 semanas. A cápsula e o tecido conjuntivo desenvolvem-se a partir do mesênquima circundante (MOORE, 10ª ed.). GLÂNDULAS SUBMANDIBULARES ↠ As glândulas submandibulares aparecem no final da sexta semana (MOORE, 10ª ed.). ↠ Elas se desenvolvem de brotos endodérmicos no assoalho do estomodeu. Processos celulares sólidos crescem lateral e posteriormente à língua em desenvolvimento. Mais tarde, elas se ramificam e se diferenciam (MOORE, 10ª ed.). ↠ Os ácinos começam a se formar com 12 semanas e a atividade secretora inicia-se com 16 semanas. O crescimento das glândulas continua após o nascimento com a formação de ácinos mucosos. Lateralmente, à 11 @jumorbeck língua em desenvolvimento, forma-se um sulco linear que logo se fecha para formar o ducto submandibular (MOORE, 10ª ed.). GLÂNDULAS SUBLINGUAIS ↠ As glândulas sublinguais aparecem durante a oitava semana, aproximadamente 2 semanas mais tarde do que outras glândulas (MOORE, 10ª ed.). ↠ Elas se desenvolvem a partir de múltiplos brotos epiteliais endodérmicos que se ramificam e se canalizam para formar entre 10 e 12 ductos, que se abrem independentemente no assoalho da boca (MOORE, 10ª ed.). Fendas Labiopalatais ↠ A fissura labial e/ou fenda palatina são malformações congênitas faciais mais comuns, e vêm apresentando tendência de aumento no Brasil e no mundo (SHIBUKAWA, 2019). ↠ A fissura labial e/ou fenda palatina é decorrente de problemas no processo de desenvolvimento durante o período embrionário ou fetal, provocando a deficiência ou falta de fusão entre os tecidos que compõem estas estruturas (SHIBUKAWA, 2019). A etiologia da anomalia de lábio e/ou palato ainda não se encontra bem definida; porém, estudos apontam que entre 25 e 30% dos casos são resultantes de fatores hereditários e, de 70 a 80% possuem etiologia multifatorial, envolvendo entre outros aspectos, hábitos de vida maternos durante a gestação (dieta, álcool, fumo e drogas) (SHIBUKAWA, 2019). Uma fenda labial com ou sem uma fenda palatina ocorre em aproximadamente um a cada 1.000 nascimentos, mas a frequência varia amplamente entre os grupos étnicos. Entre 60% a 80% dos recém- nascidos afetados são do sexo masculino (MOORE, 10ª ed.). ↠ Estas são malformações que se inicia ainda no primeiro trimestre, mais exatamente na quarta semana de vida intrauterina devido à falta de fusão do maxilar e do nariz e sãos responsáveis por casos de morte perinatal no Brasil (SANTOS, 2016). ↠ O forame incisivo é considerado o marco divisor entre fendas anterior e posterior (LANGMAN, 13ª ed.). ↠ As deformidades anteriores ao forame incisivo incluem a fenda labial lateral, a fenda mandibular superior e a fenda entre os palatos primário e secundário (LANGMAN, 13ª ed.). ↠ Essas fendas são especialmente conspícuas, pois elas resultam em uma aparência facial anormal e fala com defeito. (MOORE, 10ª ed.). FENDAS LABIAIS ↠ As fendas labiais podem ser unilaterais ou bilaterais (MOORE, 10ª ed.). ↠ Uma fenda labial unilateral resulta de uma falha da proeminência maxilar no lado afetado de unir-se com as proeminências nasais mediais. A falha das massas mesenquimais em fundir-se e do mesênquima em proliferar e suavizar o epitélio sobrejacente resulta em um sulco labial persistente (MOORE, 10ª ed.). ↠ Uma fenda labial bilateral resulta de uma falha das massas mesenquimais de ambas proeminências maxilares em se encontrar e se fundirem com as proeminências nasais mediais (MOORE, 10ª ed.). ↠ Uma fenda labial mediana é um defeito raro que resulta de uma deficiência mesenquimal. Esse defeito causa falha parcial ou completa das proeminências nasais mediais em se fundir e formar os processos palatinos medianos. Uma Fendas labial e palatina unilateral 12 @jumorbeck fenda labial mediana é um aspecto característico da síndrome de Mohr, que é transmitida como um traço recessivo autossômico (MOORE, 10ª ed.). FENDAS PALATINAS ↠ Uma fenda palatina com ou sem fenda labial ocorre aproximadamente em 1 a cada 2.500 nascimentos, e ela é mais comum em meninas do que em meninos (MOORE, 10ª ed.). ↠ A fenda pode envolver apenas a úvula (uma úvula fendida apresenta a aparência de uma cauda de peixe; ou a fenda pode se estender através das regiões do palato mole e do duro. Em casos graves, quando associados à fenda labial, a fenda no palato estende-se através da parte alveolar da maxila e dos lábios em ambos os lados (MOORE, 10ª ed.). ↠ Uma fenda palatina completa indica o grau máximo de fenda de qualquer tipo particular. Por exemplo, uma fenda completa do palato posterior é um defeito no qual a fenda estende-se através do palato mole e anteriormente à fossa incisiva. O marco para distinguir defeitos de fenda anterior da posterior é a fossa incisiva. Fendas unilaterais e bilaterais do palato são classificadas em três grupos: (MOORE, 10ª ed.). ➢ Fendas do palato anterior (fendas anteriores à fossa incisiva) resultam da falha de massas mesenquimais dos processos palatinos laterais de se encontrarem e se fundirem com o mesênquima no palato primário ➢ Fendas do palato posterior (fendas posteriores à fossa incisiva) resultam da falha das massas mesenquimais dos processos palatinos laterais de se encontrarem e se fundirem entre si e com o septo nasal ➢ Fendas das partes secundárias do palato (fendas dos palatos anterior e posterior) resultam da falha das massas mesenquimais dos processos palatinos laterais de se encontrarem e se fundirem com o mesênquima no palato primário entre si e com o septo nasal POSSÍVEIS CAUSAS ↠ A maioria das fendas do lábio superior e do palato resulta de múltiplos fatores genéticos e não genéticos (herança multifatorial) com cada um causando um pequeno distúrbio do desenvolvimento (MOORE, 10ª ed.). ↠ Ascausas das malformações orais constituem, até hoje, um desafio para a ciência. Sua etiologia é bastante complexa e multifatorial, ou seja, pode envolver fatores tanto genéticos quanto ambientais, isolados ou em associação (SANTOS, 2016). ↠ Dentre os fatores etiológicos que parecem estar mais frequentes relacionados a essa anomalia estão: (SANTOS, 2016). ➢ Hipervitaminose A; ➢ estresse emocional; ➢ corticoides; ➢ consanguinidade; ➢ viroses; ➢ radiações ionizantes; ➢ alcoolismo; ➢ trauma mecânico; ➢ hereditariedade e idade avançada dos pais (principalmente do pai) A fenda labial unilateral esquerda e fenda palatina. B fenda labial bilateral e fenda palatina 13 @jumorbeck IMPACTOS CAUSADOS NA VIDA DO PORTADOR E DOS FAMILIARES ↠ A fissura labiopalatal é uma anomalia que causa grande impacto na vida do indivíduo portador, provocando problemas funcionais, estéticos e psíquicos (SANTOS, 2016). ↠ Diversos problemas decorrentes da presença de fissura labial e/ou fenda palatina podem acometer seu portador desde o nascimento, tais como dificuldades no aleitamento materno devido a sucção, deglutição e respiração prejudicadas, distúrbios na audição e fonação, com prejuízos na comunicação, além da baixa aceitação social. A soma desses fatores pode implicar ainda em complicadores psicológicos, afetando tanto a criança quanto sua família (SHIBUKAWA, 2019). ↠ A mesma provoca danos físicos que se refletem no sistema respiratório, auditivo, digestivo, dentição e na articulação da fala, além de um forte impacto psicológico trazido pelo preconceito. Esse quadro se agrava quando a deformidade não é tratada no primeiro ano de vida do paciente - problema que ocorre mais comumente nas camadas carentes da população (SANTOS, 2016). ↠ Estas disfunções nem sempre corrigíveis e mesmo com cirurgia corretiva, nem sempre é possível evitar sequelas anátomo-fisiológicas na face, sequelas psicossociais e/ou distúrbios na comunicação oral. Estas podem se tornar barreiras para inserção social das pessoas com fissura labiopalatal e para o desenvolvimento de suas habilidades individuais, seja na escola, no trabalho ou na comunidade (SANTOS, 2016). ↠ O portador de fissura labiopalatal depara-se com uma sociedade de fetiches, que valoriza o que é bonito e perfeito, e o julga como incapaz e inabilitado para uma aceitação social plena. O fissurado pode vir a sentir-se desajustado socialmente, já que pode ser visto como diferente, sendo passível de discriminação e estigmatização (SANTOS, 2016). ↠ Os comprometimentos psicossocias que o indivíduo com fissura pode apresentar são sentimentos como: (SANTOS, 2016). ➢ Isolamento; ➢ Retraimento; ➢ Timidez; ➢ Vergonha; ➢ Indiferença ao meio social, que favorecem o desenvolvimento de uma autoimagem negativa. ↠ Estes sentimentos podem comprometer suas relações interpessoais, bem como sua adaptação social, com implicações na formação e estruturação de sua identidade (SANTOS, 2016). Realizaram um estudo para compreender a experiência emocional e social das mães de crianças com fissura labiopalatal, a partir de uma avaliação de respostas de enfrentamento empregadas por elas, para lidar com a condição de ter um filho com fissura. O estudo contou com a participação de 14 mães, donas de casa, com filhos com fissura de 0 a 5 anos, residente em Deli e nos seus subúrbios (SANTOS, 2016). Os resultados mostram que a maioria das mães passaram por um processo de negação e tiveram uma aceitação gradual da criança fissurada, devido às tensões das alterações físicas e questões financeiras voltadas para o cuidado (SANTOS, 2016). A presença de apoio social melhorou a qualidade de vida das crianças e da mãe. As intervenções precisam ser desenvolvidas para ajudar os pais a lidarem com o impacto social da estigmatização e com as preocupações referentes ao lábio e palato (SANTOS, 2016). TRATAMENTO ↠ O tratamento consiste na realização de procedimento cirúrgico, garantindo um resulta estético funcional e a redução das sequelas que possam aparecer com o tempo (SANTOS, 2016). ↠ A época do procedimento cirúrgico realizado, técnica utilizada, gravidade da lesão, ambiente socioeconômico, sequência de tratamento, com os profissionais adequados e, ainda, fatores intrínsecos individuais e fatores sociais podem comprometer a reabilitação do fissurado (SANTOS, 2016). ↠ A atuação de uma equipe multidisciplinar, envolvendo: Medicina, Odontologia, Fonoaudiologia, Psicologia, Enfermagem, Serviço Social e Nutrição é de fundamental importância para o sucesso da reabilitação (SANTOS, 2016). 14 @jumorbeck Referências: JUNIOR, J. C. C. S.; IZABEL, T. S. S. Microbiota Oral e sua implicação no binômio saúde-doença. Revista Contexto & Saúde, v. 19, n. 36, p. 91-99, 2019. GERMANO et. al. Microrganismos habitantes da cavidade oral e sua relação com patologias orais e sistêmicas: revisão de literatura. Revista de ciências da saúde, v. 16, n. 2, p. 91-99, 2018. SILVA, A. S. M. Microbioma Oral: O seu papel na saúde e na doença. Dissertação apresentada na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2016. SHIBUKAWA et. al. Fatores associados à presença de fissura labial e/ou fenda palatina em recém nascidos brasileiros Revista Brasileira Saúde Materno Infantil, v.19, n.4, p.957-966, 2019. SANTOS, L. B. As experiências com a fissura labiopalatal e os processos de estigmatização. Dissertação de Mestrado, 2016. GUYTON & HALL. Tratado de Fisiologia Médica, 13ª ed. Editora Elsevier Ltda., 2017 MARIEB, E.; WILHELM, P.; MALLATT, J. Anatomia humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016.
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