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Teologia Medieval - O Islamismo

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Teologia Medieval: 
o Islamismo
Altair Ferraz Neto
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou 
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo 
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de 
informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Imagens
Adaptadas de Shutterstock.
Todos os esforços foram empregados para localizar os detentores dos direitos autorais das 
imagens reproduzidas neste livro; qualquer eventual omissão será corrigida em futuras edições. 
Conteúdo em websites
Os endereços de websites listados neste livro podem ser alterados ou desativados a qualquer momento 
pelos seus mantenedores. Sendo assim, a Editora não se responsabiliza pelo conteúdo de terceiros.
Presidência 
Rodrigo Galindo
Vice-Presidência de Produto, Gestão 
e Expansão
Julia Gonçalves
Vice-Presidência Acadêmica
Marcos Lemos
Diretoria de Produção e 
Responsabilidade Social
Camilla Veiga
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Gerência Editorial
Fernanda Migliorança
Editoração Gráfica e Eletrônica
Renata Galdino
Luana Mercurio
Supervisão da Disciplina
Ana Paula Moraes da Silva 
Maccafani
Revisão Técnica
Maria Julia Souza Chinalia
Ricardo Ferreira Nunes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Ferraz Neto, Altair 
F381t Teologia medieval: o islamismo / Altair Ferraz Neto, José Tadeu 
 de Almeida, Patrícia Graziela Gonçalves. – Londrina: Editora e 
 Distribuidora Educacional S.A., 2020.
 184 p.
 
 ISBN 978-65-86461-51-0
 
 1. Islã. 2. O profeta Muhammad. 3. O Alcorão. I. Almeida, José 
 Tadeu de. II. Gonçalves, Patrícia Graziela. III. Título. 
CDD 297
Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753
Sumário
Unidade 1
A Península Arábica antes do profeta Muhammad .................................. 7
Seção 1
As origens do Islã ................................................................................ 9
Seção 2
Escravismo e crença .........................................................................23
Seção 3
A importância da Península Arábica .............................................36
Unidade 2
Muhammad: a vida e a revelação ..............................................................51
Seção 1
O profeta e as origens islâmicas ......................................................52
Seção 2
O Islamismo para além da Península Arábica ..............................66
Seção 3
Expansão islâmica e a importância do Islã ....................................78
Unidade 3
Hijrah (Hégira) e a tomada de Makka Al-Mukarrama (Meca) .............93
Seção 1
A religião islâmica ............................................................................95
Seção 2
O Livro Sagrado do Islamismo ....................................................107
Seção 3
O Islamismo e suas influências ....................................................121
Unidade 4
Os cinco pilares do Islão, a Sunnah, os Hadiths e a Shariah ...............135
Seção 1
Os cinco pilares básicos ................................................................136
Seção 2
Sunnah e o seu papel na Lei Islâmica ..........................................150
Seção 3
A mesquita e a cultura muçulmana ............................................162
Palavras do autor
Bem-vindo! É um enorme prazer dividir com você o conteúdo da disci-plina de Teologia Medieval: o Islamismo. Na construção deste livro você será nosso convidado para conhecer algumas perspectivas gerais 
e históricas da formação do Império Árabe-Islâmico, como ponto de partida 
na abordagem do Islamismo e também terá informações sobre a religião 
islâmica. 
É claro que a pretensão didática de um trabalho dessa natureza requer 
um apelo histórico cuidadoso e ao mesmo tempo subjetivo. Por esse motivo, 
colocamos um caminho como propósito deste livro, que é: entender, em 
termos gerais, as particularidades históricas da Península Arábica antes do 
aparecimento do Islamismo, a vida do profeta Muhammad e, posterior-
mente, o desenvolvimento histórico em seus aspectos religiosos do Islã. 
A partida do livro foca uma narrativa que inicia com o século VI d.C. 
e aqui na nomenclatura você vai notar a utilização do nosso calendário, o 
cristão, para efeitos puramente didáticos, uma vez que escrevemos no Brasil 
e o calendário islâmico apresenta uma cronologia diferente, conforme você 
terá a oportunidade de conhecer no decorrer das unidades.
Esperamos suscitar uma reflexão sobre os aspectos políticos, religiosos, 
sociais, econômicos e o fundo puramente histórico, para situá-lo no universo 
interessante que abrange a expansão islâmica do Império Árabe-Islâmico, 
como sugerem alguns autores, e das grandes conquistas e episódios que 
envolvem todo processo de expansão islâmica.
Por isso, é com um grande prazer que dividimos algumas informações e 
interpretações sobre o islamismo, sem pretensão alguma de esgotar o arcabouço 
religioso dessa que é uma das maiores religiões que já conhecemos. No momento 
em que escrevemos, mais de 1 bilhão de pessoas seguem sobre os preceitos do 
Alcorão e os fundamentos da vida do profeta Muhammad, em uma síntese histó-
rica que unificou socialmente os anseios e as crenças politeístas do passado em 
populações e civilizações importantes na história da humanidade.
Assim esperamos, nesse percurso, contar com a sua interpretação e leitura 
para conhecer, explorar e dialogar sobre o Islamismo, sempre na perspectiva 
distanciada do etnocentrismo, despossuída de juízo de valor e na intenção 
pura de conhecer essa importante religião, que se tornou um império entre 
os impérios na história até os dias em que escrevemos. Aproveite, aprofunde 
seus conhecimentos. O seu autoestudo é o que fará a diferença. Desejamos a 
você ótimos estudos!
Unidade 1
Altair Ferraz Neto
A Península Arábica antes do profeta Muhammad
Convite ao estudo
Se hoje você pode contar com a dignidade humana garantida por lei como 
própria de um mundo baseado em Direitos Humanos, além de respeito às 
diferenças em uma realidade plural e heterogênea, é necessário lembrar que 
nem sempre a história nos reservou essa particularidade. É claro que muito 
ainda tem que ser feito e construído e, para escrever essas linhas, não esque-
cemos que a própria dignidade humana foi construída sobre uma história de 
lutas e guerras. A história dos povos árabes serve muito ao nosso propósito. 
A formação do Império Árabe-Islâmico, a partir do século VI, é desafia-
dora. Para nossa unidade, o ponto de partida é uma sociedade de povos 
nômades e com múltiplas crenças e deuses, situada geograficamente em uma 
península que servia estrategicamente como passagem mercantil, ainda que 
transpassada pelo deserto e aridez próprias daquela região. Lembre-se que 
estamos ainda incipientes nesse período da história da forma Estado, como 
a conhecemos hoje.
É necessária uma observação inicial e conhecer a Península Arábica, 
sobretudo em sua formação social, antes de mergulharmos no islamismo, e é 
isso que faremos a seguir. Como as fontes e os estudos da maioria bibliográ-
fica sobre o Islã começam por desenvolver a pesquisa a partir do nascimento 
de Muhammad, nosso primeiro capítulo tem um desafio ainda maior. 
Você conhecerá as características gerais do período que os muçulmanos 
chamam de Jahiliyyah, ou a “era da ignorância”, para a sociedade árabe. Ao 
contrário do que a expressão pode sugerir, a era da ignorância tem uma 
importância fundamental na história do Islã, e por esse dado deve ser 
desenvolvida em linhas gerais com as perspectivas ideológicas na PenínsulaArábica a partir do século VI. 
O contexto de formação islâmico a partir das características da penín-
sula, da sociedade e dos povos nômades da Arábia deve ser melhor tratado 
nessa abertura da Unidade 1 do nosso livro. Isso se dará pelo aspecto histó-
rico de importante consolidação comercial de Meca e de algumas regiões 
da península após o ano 500 do calendário cristão, como síntese dos valores 
comerciais e trocas simbólicas entre o semitismo e o sincretismo religioso 
presente nas diferentes tribos árabes daquele período.
Em resumo, o convite que fazemos a você nesta unidade segue na busca 
pela importância e influência da chamada “era da ignorância” no processo de 
formação do Islamismo. Quais as origens dessa importante matriz religiosa 
que é hoje o Islamismo? Qual a influência da Jahiliyyah na construção do Islã? 
Como uma sociedade do século VI, escravista clássica, construiu os preceitos 
de uma das maiores religiões que já conhecemos? Essas questões estarão 
presentes nessa unidade e esperamos o seu aproveitamento como material 
de fontes históricas e até sociológicas para a compreensão do processo de 
formação do Islamismo como religião. 
9
Seção 1
As origens do Islã
Diálogo aberto
Seja bem-vindo ao nosso encontro com a história e formação do 
Islamismo. Mais do que um convite, você será levado a conhecer sobre a 
história dos povos árabes em consonância com a história do próprio Islã. É 
necessário encarar esse desafio de mente aberta e para longe das concepções 
que trazemos, uma vez que a compreensão de fenômenos sociais como o 
escravismo, presente naquela sociedade, deve ser encarado como produto 
histórico daquele período, e a história das religiões também entende esse 
grande valor que a humanidade criou e cria para subsistir nesse mundo. 
Portanto, o desafio já está colocado no seu contexto de aprendizagem.
Nosso cenário será revelado pela busca de compreender uma sociedade 
heterogênea e muito peculiar dos povos do deserto, politeísta, criadora das 
próprias leis em constructo com a realidade nômade e comercial do século 
VI, especificamente pela posição estratégica da Península Arábica, a partir 
do ano 500 d.C. 
Um conhecimento histórico conduzirá ao entendimento econômico de 
tribos nômades e dos centros comerciais importantes da península, assim 
como também conduz à compreensão das relações sociais e políticas que se 
estabeleceram naquele período. É claro que a religião islâmica nasce com 
um propósito, sem o qual não poderíamos compreender, mais adiante, todo 
processo de expansão do Islamismo que se origina como forma de agir 
diretamente ligada ao desenvolvimento dos povos árabes. 
Por isso, esse estudo e resgate da história dos povos árabes e do desenvolvi-
mento da Península Arábica no século VI, torna-se muito atual. Imaginemos 
um contexto de problematização em nossos dias. Um contexto em que você 
é professor e trabalha em uma universidade que desenvolve pesquisas na 
área teológica. Durante um dia de trabalho, recebeu o convite para ministrar 
uma palestra aberta, que envolveria um público de duas mil pessoas. O tema 
apontado para sua palestra foi a igualdade religiosa na Península Arábica 
do século VI. A sua palestra será transmitida por um canal de televisão e as 
pessoas envolvidas aguardam com muito interesse a sua exposição. Durante a 
construção e o tempo de estudos para sua apresentação, surge uma pergunta: 
como abordar e tratar de igualdade religiosa no século VI, se estamos falando 
de uma sociedade politeísta marcada por imensas desigualdades e injustiças 
sociais? Não esqueça que, para resolver essa questão, você deve refletir sobre 
10
aspectos econômicos, políticos e sociais da Península Arábica do século VI 
que, didaticamente, são os conteúdos trabalhados nesta seção do livro. 
Esperamos que possa aproveitar essa viagem histórica como agente 
protagonista. Protagonista sim, com iniciativa e ponto de partida na igual-
dade religiosa, conhecedor da história e na busca pelo reconhecimento do 
Islamismo como uma imensa religião que cumpriu inúmeros papéis histó-
ricos importantes, e com a sua leitura e estudos fazer dessa pesquisa um 
ponto de apoio nessa busca.
Não pode faltar
Breve história dos povos árabes
Entender a história da civilização árabe é um desafio importante a seguir. 
Sobretudo porque 
[…] do mesmo modo que não se julga o indivíduo pela ideia 
que de si mesmo faz, tampouco se pode julgar uma tal 
época de transformações pela consciência que ela tem de 
si mesma. (MARX, 2008, p. 48)
 É preciso entender que toda civilização se locomove pelo caminho das 
relações sociais, na medida em que o homem, enquanto gênero humano, é 
um ser social, portanto, estabelece e exerce a sua natureza coletiva. 
Com os povos nômades da Península Arábica não foi diferente. 
Estamos falando do século VI da era cristã (utilizando o calendário 
cristão pela localidade em que escrevemos e entendendo que a comunidade 
islâmica também compreende outra cronologia ligada à história do profeta 
Muhammad), quando tribos de beduínos nômades ocupavam a imensa 
península sobrevivendo, estabelecendo trocas e comércio, relacionando-se 
no que ficou conhecido como “vendetas” e, sobretudo, em conflitos que 
estariam diretamente ligados à própria história do Islamismo. 
A Península Arábica, antes do aparecimento de Muhammad (impor-
tante lembrar que não há, segundo os islâmicos, uma tradução literal para o 
nome do profeta, que conhecemos mais comumente aqui como Maomé), já 
apresentava sua própria dinâmica de relações sociais, econômicas e políticas, 
importantes para entendermos a formação do Islamismo.
Conhecida pela sua imensa extensão territorial e por ser uma região desér-
tica, a Península Arábica hoje tem sua ligação com a exploração petrolífera 
11
e grandes riquezas que contrastam com a desigualdade da atual sociedade. 
Como a maior península do mundo, com 3.237.500 km², está posicionada 
ligando o continente asiático e africano, e é cercada na costa oeste pelo Mar 
Vermelho, a leste pelos Golfos Pérsico e de Omã e ao Sul da península pelo 
Mar Arábico. Interessante percepção é a de que todo esse território é ocupado 
em sua maior parte por desertos e regiões em que a chuva é suficiente para 
permitir o crescimento de uma vegetação, em um clima quente e seco, entre 
a formação de espaços onde a água verte do subsolo em meio ao deserto, 
formando o que conhecemos como oásis.
Em uma região tão agressiva como habitat, o convívio com a natureza é 
sempre desafiador, o que torna a história dos povos árabes rica em experiên-
cias e fenômenos sociais importantes para explicar sobretudo a relação das 
diferentes tribos que ali viviam no século VI.
Figura 1.1 | Mapa da Península Arábica
Fonte: Wikimedia commons. 
A península guarda uma rica história. Socialmente, a partir do século VI 
(ano 500 da era cristã), era possível perceber a presença e particularidade das 
tribos que ficaram conhecidas como beduínas e sua importância na transpo-
sição e adaptação às condições de uma península em que quase a sua totali-
dade territorial era composta de regiões desérticas. Nenhuma tribo era igual 
à outra. Alguns estudos catalogam mais de 300 tribos nômades e também 
aquelas que se situavam nas localidades comerciais mais conhecidas, como 
Meca. Relata Albert Hourani em seu livro Uma história dos povos árabes:
12
A maior parte da península Arábica era estepe ou deserto, 
com oásis isolados contendo água suficiente para cultivo 
regular. Os habitantes falavam vários dialetos do árabe e 
seguiam diferentes estilos de vida. Alguns eram nômades 
criadores de camelos, carneiros ou cabras, dependendo 
dos escassos recursos de água do deserto; eram tradicional-
mente conhecidos como “beduínos”. Outros eram agricul-
tores estabelecidos, cuidando de suas safras ou palmeiras 
nos oásis, ou então comerciantes e artesãos em pequenos 
vilarejos que sediavam feiras. Outros ainda combinavam 
mais de um meio de vida. O equilíbrio entre povos nômadese sedentários era precário. (HOURANI, 2006, p. 21)
É importante perceber que as diferenças cercavam todos os povos do 
deserto em que a prática escravista era comum. Em tribos com diferentes 
ethos, a luta pela sobrevivência sempre se colocava na escassez do ambiente, 
em diferentes tribos, diferentes crenças, diferentes deuses…
A península estava colocada entre o que outrora fora a civilização bizan-
tina e a civilização persa. Esse contexto fortalece ainda o argumento de disse-
minação do cristianismo e do próprio judaísmo, para citar as religiões de 
matriz abraâmica, e coloca a Península Arábica no interior de uma análise 
muito complexa de relações.
No plano social, era uma civilização que não podemos resumir em povos 
“nômades”; escravista e que vivia do deserto, em sua maioria. Um produto 
histórico do seu tempo e com influências de grandes religiões, como citamos, 
e que lutava pela sobrevivência em meio a essa própria condição. 
Mercadores, artesãos e tribos comerciantes que se estabeleciam não só no 
deserto, mas nos centros comerciais principais do século VI, como Meca e 
Medina. Era comum o domínio dos povos sedentários, lavradores dos oásis e 
que também viviam nas regiões onde a chuva era esparsa, pelos mercadores 
e nômades da península.
Embora fossem uma minoria da população, eram os 
nômades dos camelos, móveis e armados que, juntamente 
com os mercadores das aldeias, dominavam os lavradores 
e os artesãos. O ethos característico deles — coragem, 
hospitalidade, lealdade à família e orgulho dos ances-
trais — também predominava. Não eram controlados por 
um poder de coerção estável, mas liderados por chefes 
13
que pertenciam a famílias em torno das quais se reuniam 
grupos de seguidores mais ou menos constantes, manifes-
tando sua coesão e lealdade no idioma da ancestralidade 
comum: tais grupos são em geral chamados de tribos. 
(HOURANI, 2006, p. 21)
Assimile
Na história dos povos árabes um ponto importante está relacionado 
ao desenvolvimento de cidades como Meca e Medina. A cidade de 
Medina, local de migração do profeta Muhammad quando sai de Meca 
já no século VII, no episódio que ficou conhecido como Hégira, não 
tinha ainda esse nome e era conhecida como Iatreb. Sobre o paradigma 
religioso, essa cidade foi fundamental como ponto de partida na conso-
lidação do Islamismo.
Jahiliyyah: a “era da ignorância” para os islâmicos
O período que desenvolvemos anteriormente é também conhecido como 
a era da ignorância pelos islâmicos. Pode-se atribuir a esse fato às diferentes 
crenças e deuses, como também a própria condição de vida e conflito pela 
heterogênea sociedade árabe no século VI, anteriormente ao aparecimento 
do profeta Muhammad na história. 
Como a Península Arábica tem proporções continentais, é possível que 
as diferentes crenças e tribos não apresentem as mesmas características, 
mas o dado marcante nesse constructo de relações é que se ligavam de 
alguma maneira, ora comercial, ora religiosa, ora pelo conflito. Até mesmo 
o nomadismo, como característica, ligava mercadores e caravanas para uma 
finalidade comercial, baseada no entorno dos oásis e na ligação com centros 
comerciais como Meca.
O poder dos chefes tribais era exercido a partir dos oásis, 
onde mantinham estreitas ligações com os mercadores 
que organizavam o comércio através do território contro-
lado pela tribo. Nos oásis, porém, outras famílias podiam 
estabelecer um tipo diferente de poder, pela força da 
religião A religião dos pastores e dos agricultores parece 
não ter tido uma forma clara. Julgava-se que deuses locais, 
identificados com objetos no céu, se incorporavam em 
pedras, árvores e outras coisas naturais; acreditava-se 
14
que bons e maus espíritos corriam o mundo em forma 
de animais; adivinhos afirmavam falar com a língua de 
um saber sobrenatural. Sugeriu-se, com base em práticas 
modernas no sul da Arábia, que eles achavam que os 
deuses habitavam um santuário, um haram, um lugar ou 
aldeia separados do conflito tribal, que funcionava como 
centro de peregrinação, sacrifício, encontro e arbitragem, 
e era supervisionado por uma família sob a proteção de 
uma tribo vizinha. Essa família podia obter poder ou influ-
ência fazendo hábil uso do prestígio religioso, de seu papel 
de árbitro em disputas tribais e de suas oportunidades de 
comércio. (HOURANI, 2006, p. 22)
Na troca mercantil entre povos e tribos em uma sociedade escravista em 
condições tão adversas, o conflito era algo comum. As rotas comerciais no 
século VI eram importantes pontos de conquista pelos nômades da penín-
sula principalmente no centro e ao norte, pelo domínio beduíno.
É comum encontrarmos análises que dividem a Península Arábica entre 
as tribos nômades que dominavam a região central e norte do território árabe 
e os povos do sul da Península, mais estabelecidos nos regimes de agricultura, 
mas com grandes avanços na construção de diques e produção de especiarias 
que ficaram muito conhecidas na história. “Além de cereais, os árabes do sul 
produziam mirra, incenso e outras especiarias e essências, que constituíam a 
sua principal fonte de exportação” (LEWIS, 1990, p. 31).
Segundo alguns autores, é possível interpretar as tribos que viviam no 
sul da península, com características monárquicas de base familiar, onde o 
regime parece assentar na sucessão. Os reis não possuíam, como nas socie-
dades orientais, o caráter, sobretudo, divino. Como no plano político, não 
existia Estado do tipo centralizador nos moldes modernos; é possível que o 
desenvolvimento das sociedades do sul da península, estejam conectados à 
história dos beduínos nômades de maneira geral.
 O politeísmo era presente nessa sociedade de maneira interessante. 
Como as diferentes crenças e deuses se colocavam pela heterogênea carac-
terística das diferentes tribos e regiões, esse politeísmo muitas vezes confli-
tuoso deveria ser respeitado no interior dos limites da cidade de Meca, 
importante centro comercial do século VI. Em Meca estava localizado o que 
hoje os muçulmanos chamam de Caaba, um templo sagrado e que anterior-
mente ao surgimento do Islã era o centro de adoração de uma multiplicidade 
de deuses das mais diferentes tribos. Essa questão é central para entender 
15
porque os muçulmanos chamam esse período de a era da ignorância. Sobre a 
Caaba, trataremos posteriormente.
A religião da Arábia do Sul era politeísta e apresenta analo-
gias, mais de ordem geral do que de pormenor, com as 
de outros antigos povos semitas. Os templos constituíam 
centros importantes da vida pública e possuíam grandes 
riquezas, administradas pelo chefe dos sacerdotes. O 
produto das colheitas de especiarias era considerado 
sagrado e uma terça parte reservada aos deuses, isto é, aos 
sacerdotes. (LEWIS, 1990, p. 32)
 Se nos voltarmos para compreender as relações e a história dos povos 
e tribos nômades que se estabeleceram ao norte da península, certamente 
encontraremos ligação com o domínio de rotas comerciais importantes e que 
de certa forma foram fundamentais na consolidação econômica de cidades 
como Medina e Meca.
Assimile
A tribo dos coraixitas liga-se diretamente à história de Muhammad. 
Sua família pertencia à tribo dos coraixitas, embora não à parte mais 
poderosa. Os membros dessa tribo eram mercadores que mantinham 
acordos com tribos pastoris em torno de Meca, e também relações com 
a Síria e o sudoeste da península. Era a tribo predominante na cidade 
importante de Meca no século VI.
“O traço dominante da população do Centro e do Norte da Arábia neste 
período crucial que precedeu imediatamente a ascensão do Islão é o do triba-
lismo beduíno” (LEWIS, 1990, p.28). A subsistência dessas tribos dependia 
diretamente dos rebanhos, das manadas e dos saques às caravanas que se 
aventuravam no deserto intencionando atravessar a Arábia. É por meio dessa 
prática que os produtos e mercadorias provenientes de diferentes regiões 
chegavam às tribos no interior da península.
Na sociedade beduína a unidade social é constituídapelo 
grupo e não pelo indivíduo. Este só tem direitos e obriga-
ções enquanto membro do respectivo grupo. O grupo 
mantém-se unido exteriormente pela necessidade de 
autodefesa contra as dificuldades e perigos da vida no 
deserto, e internamente pelos laços de sangue de descen-
16
dência por linha masculina, que constitui o vínculo social 
básico. (LEWIS, 1990, p. 35)
Aqui, parece ser possível uma avaliação político-econômico-social, com 
a Jahiliyyah, a era da ignorância, como colocada pelos muçulmanos, pelas 
complexas relações que se estabeleceram na Península Arábica antes da 
vinda do profeta Muhammad. Essas relações envolvem, no plano econômico, 
uma diversificada rede de comércio transarábico, pelas rotas comerciais e o 
próprio desenvolvimento comercial de cidades importantes. O papel tribal 
no plano das relações políticas, ideológicas e religiosas do período pode ser 
verificado pela crença baseada em vários deuses e matrizes ideológicas muito 
pertinentes ao desenvolvimento político das tribos que mais conquistavam. 
O nomadismo foi fundamental e definitivo para construir a história 
árabe. “Foram os elementos fixos e, particularmente, os que viviam e traba-
lhavam nas rotas comerciais transarábicas, quem efetivamente moldaram a 
história árabe” (LEWIS, 1990, p. 40). 
Esse estilo de vida que se desenvolveu por meio do que descrevemos nas 
diferentes regiões da Península Arábica do século VI está associado à era 
da ignorância, que seria, na visão islâmica, um período da história em que 
os árabes não conheciam a os princípios e a “vontade de Deus”, de um só 
Deus: eram politeístas e resolviam suas contendas com “vendetas”, e foi isso 
que inspirou e impulsionou o período que mais à frente trataremos, o da 
expansão islâmica, após o surgimento e as revelações do profeta Muhammad.
Reflita
A característica do politeísmo nesse período da história representou 
um importante papel na formação do Império islâmico mais à frente. 
As particularidades são os traços fundamentais desse politeísmo e do 
nomadismo na formação da identidade dos povos árabes.
A religião dos nómadas era uma forma de polidemo-
nismo próxima do paganismo dos antigos semitas. 
As entidades por eles adoradas eram, na origem, os 
habitantes e seres tutelares de lugares específicos, 
que viviam nas árvores, nas fontes e especialmente 
nas pedras sagradas. Havia alguns deuses no sentido 
real, que transcendiam na sua autoridade as fronteiras 
dos cultos puramente tribais. (LEWIS, 1990, p. 36)
17
Podemos refletir: de que maneira o politeísmo é tratado em sociedades 
complexas como a nossa?
O contexto de formação islâmica
Desenvolver uma narrativa que abrace a compreensão de uma das 
maiores religiões do mundo não constitui tarefa simples. Temos de compre-
ender a formação social do período e como viviam. E não só isso: nosso olhar 
não deve voltar para o senso comum uma medida de juízo de valor sobre o 
que os povos lá atrás convergiam. Você pôde estudar a complexidade social 
de diferentes tribos que se locomoviam pelo território da Península Arábica 
por volta do ano 500 d.C., assim como a diversidade estabelecida entre os 
povos e tribos nas regiões mais ao sul do território.
O que com isso afirmamos é que a análise da sociedade árabe que definirá 
o seu percurso e as condições de vida desses povos sem dúvida formatará e 
colocará uma característica fundamental na expansão do islamismo a partir 
do século VII e a maneira como pensavam, sua ideologia e sua religião. 
Esse ponto é a compreensão do que os islâmicos entendem e denominam 
como era da ignorância. Esse período foi fundamental na construção de uma 
identidade do povo árabe e o que marca transformações externas e internas, 
comerciais, religiosas e políticas até o advento do Islamismo.
Portanto, as origens do Islã devem compreender que a fé tribal é resul-
tante, mas também promotora, dessa identidade dos povos árabes, assim 
como as sociedades dos oásis, formando essa identidade em uma estrutura 
rudimentar de crenças e hábitos políticos em uma espécie de diferença entre 
a população nômade e sedentária. 
A fé tribal concentrava-se à volta do deus da tribo, geral-
mente simbolizado por urna pedra e, às vezes, por qualquer 
outro objeto. Ficava sob a custódia da casa do Sheikh, que 
desse modo conquistou um certo prestigio religioso. Deus 
e culto constituíam a divisa da identidade tribal e a única 
expressão ideológica do sentido de unidade e de coesão da 
tribo. A submissão ao culto tribal era expressiva de lealdade 
política. A apostasia era equivalente a traição. (LEWIS, 
1990, p. 37)
Somam-se a isso as rotas comerciais e a consolidação de centros impor-
tantes ligados ao comércio, como a cidade de Meca e Medina, possibilitando 
18
o encontro e a canalização das diferentes formas de agir, trocar e se relacionar 
na aspereza da península. A troca mercantil e relações que buscavam a 
manutenção da vida de modo direto conduziram ao choque ideológico entre 
os diferentes povos que já sofriam influência de grandes impérios.
Exemplificando
Um exemplo da importância das transformações ocorridas no século VI 
para a formação do Islamismo pode ser encontrado no modo de vida 
de uma parte importante da população da península naquele período.
O oásis era a única exceção a este modo de vida 
nómada. Aqui, pequenas comunidades sedentárias 
formavam uma organização política rudimentar, e 
a família mais importante do oásis estabelecia, em 
regra, uma espécie de regime de pequena realeza 
sobre os seus habitantes. Por vezes, o soberano do 
oásis reivindicava uma vaga suserania sobre as tribos 
vizinhas. Algumas vezes também, um dos oásis conse-
guia obter o controlo de um oásis vizinho, dando assim 
origem a um efêmero império no deserto. (LEWIS, 
1990, p. 37)
Sua forma de agir, política e religiosamente, também tem aportes 
materiais e comerciais com o processo que sempre estava encerrado 
no ambiente inóspito do deserto, e isso de certa forma identificou e 
marcou a construção de um dos maiores impérios que já conhecemos.
Em resumo, é necessário concluir que a Arábia do período que antecede o 
aparecimento do Islamismo, não está isolada na sua totalidade dos impérios 
existentes até então, bizantino e persa. “Tanto a cultura persa como a cultura 
bizantina, nos seus aspectos material e moral, penetraram através de diferentes 
canais, muitos deles ligados às rotas comerciais transarábicas” (LEWIS, 1990, 
p. 38). Assim, as trocas comerciais e culturais transformaram o caráter das 
relações entre os povos nômades e sedentários. O semitismo pagão teve sua 
representação na consolidação de centros comerciais e religiosos, como na 
cidade de Meca do século VI, e o período da ignorância, segundo a narrativa 
islâmica, deve ser analisado por uma ótica que avalie a construção de uma 
civilização complexa, como a que vivia na Península Arábica do século VI.
19
Sem medo de errar
Após uma viagem no tempo para compreender as origens históricas do 
Islamismo, retornamos ao nosso contexto de aprendizagem contemporâneo. 
Imagine que você é professor e trabalha em uma universidade que desen-
volve pesquisas na área teológica. No seu cotidiano de trabalho recebeu 
um convite para ministrar uma palestra aberta, que envolveria um público 
grande e transmissão por um canal de televisão 
O tema apontado para sua palestra foi a igualdade religiosa, e você deve 
fazer essa análise de acordo com as origens do Islamismo, lembrando as 
características politeístas na Península Arábica do século VI. As pessoas 
envolvidas aguardam com muito interesse a sua exposição. Durante a 
construção e o tempo de estudos para sua apresentação, surge uma pergunta: 
como abordar e tratar de igualdade religiosa no século VI, se estamos falando 
de uma sociedade politeísta marcada por imensas desigualdades e injus-
tiças sociais? Não esqueça que para resolver essa questão, você deve refletir 
sobre aspectos econômicos, políticos e sociais da Península Arábica daquele 
período, conformevocê conheceu até aqui.
Na sua palestra, os argumentos devem focar a igualdade religiosa, 
lembrando que um dos aspectos da formação do Islamismo foi a forma 
complexa com que as diversas tribos se relacionavam na península. Uma 
resposta interessante seria a compreensão de que nos centros comerciais que 
se desenvolveram no período, tinha que existir um consenso mínimo quanto 
à liberdade de crença, e isso existiu nos territórios de Meca, por exemplo.
Uma outra linha de argumentação plausível pode ser adotada como 
resposta a essa pergunta. As diferentes tribos, em diversificadas formas de 
vida, nômades ou sedentárias, tinham suas crenças em deuses diversos pela 
sua condição de vida na península, que estava atrelada à aspereza do deserto 
e que levou à sobrevivência em um contexto de lutas com outras tribos.
Mas temos ainda uma outra linha de pensamento e argumentação de 
resposta para entender a importância da igualdade religiosa, sobretudo na 
sociedade árabe do século VI. Sua diversificada trama social em meio à 
grande extensão da península ligava religião e comércio nas rotas comer-
ciais de passagem pelo território. Influências externas penetravam na cultura 
árabe, permitindo uma ligação de diferentes crenças na criação de uma 
identidade árabe. Esse fato mais tarde será sintetizada pela religião islâmica, 
o se verifica, na compreensão muçulmana, por esse período ser conhecido 
como a era da ignorância.
20
Os caminhos são variados na compreensão da formação do islamismo, 
mas todos eles devem passar pela compreensão do que foi a construção da 
sociedade árabe antes da vinda do profeta Muhammad, construção essa que 
deve abranger aspectos históricos, econômicos, políticos e religiosos como 
ponto de partida.
Faça valer a pena
1. Entre os grandes impérios do norte e os reinos do mar Vermelho, ficavam 
terras de uma espécie diferente. A maior parte da península arábica era estepe 
ou deserto, com oásis isolados contendo água suficiente para cultivo regular. 
Os habitantes falavam vários dialetos do árabe e seguiam diferentes estilos de 
vida (HOURANI, 2006.).
A passagem denota características importantes e o espaço geográfico da 
Península Arábica no século VI. Agora analise as afirmações a seguir sobre 
algumas características sociais das tribos e povos que habitavam a península.
a. Eram em sua maioria povos nômades e com características capita-
listas industriais.
b. Eram povos divididos em tribos nômades e sedentárias com caracte-
rísticas politeístas.
c. Eram povos sedentários das montanhas que não realizavam comércio 
e agricultura.
d. Eram povos sociais desprovidos de consciência para viver no deserto, 
por isso desenvolveram agricultura.
e. Eram civilizados nos centros urbanos e monoteístas no interior de 
Meca e Medina.
2. É possível, em linhas gerais, analisar a população e os traços sociais mais 
relevantes dos povos que habitavam o norte e as regiões centrais da Península 
Arábica no século VI. Sobre esses traços, analise as afirmativas:
I. O traço dominante da população do centro e do norte da Arábia 
nesse período crucial que precedeu imediatamente a ascensão do Islã 
é o do tribalismo beduíno.
II. Na sociedade beduína a unidade social é constituída pelo grupo 
e não pelo indivíduo. Este só tem direitos e obrigações enquanto 
membro do respectivo grupo.
21
III. Os povos pertencentes ao norte e às regiões desérticas da península 
desenvolviam agricultura no período das chuvas e se relacionavam 
com diversos deuses.
Assinale a alternativa correta da questão:
a. I e II, apenas.
b. II e III, apenas.
c. I e III, apenas.
d. III, apenas.
e. I, II e III.
3. 
A religião da Arábia do Sul era politeísta e apresenta analo-
gias, mais de ordem geral do que de pormenor, com as 
de outros antigos povos semitas. Os templos constituíam 
centros importantes da vida pública e possuíam grandes 
riquezas, administradas pelo chefe dos sacerdotes. O 
produto das colheitas de especiarias era considerado 
sagrado e uma terça parte reservada aos deuses, isto é, aos 
sacerdotes. (LEWIS, 1990, p. 25)
A passagem apresentada marca importantes características dos povos árabes 
e do que os islâmicos denominam como a era da ignorância na Península 
Arábica do século VI d.C. Sobre a Jahiliyyah ou era da ignorância, atribua V 
para as afirmativas que são verdadeiras e F para as de conteúdo falso:
( ) Várias tribos, diferentes crenças e deuses, como também a própria 
condição de vida e conflito pela heterogênea sociedade árabe no século VI, 
anteriormente ao aparecimento na história do profeta Muhammad.
( ) Várias crenças mas em um só Deus. A Jahiliyyah ou era da ignorância 
foi o mais importante rito do Islamismo e até hoje é celebrada pela tribo dos 
coraixitas, pertencentes à cidade de Meca na Península Arábica.
( ) A era da ignorância foi o período em que o profeta Muhammad sai da 
cidade de Meca e se estabelece em Medina, antiga Iatreb, para construir as 
bases do Islã, e que até hoje é celebrada pelos muçulmanos no calendário 
cristão.
22
Assinale a alternativa com a sequência CORRETA:
a. V – V – V.
b. V – V – F.
c. V – F – F.
d. F – F – V.
e. F – F – F.
23
Seção 2
Escravismo e crença
Diálogo aberto
Caro aluno, a história dos povos árabes tem muito a nos acrescentar em 
questões sociais importantes da vida cotidiana. Se somos produtos histó-
ricos, temos muito para aprender com as sociedades escravistas do século VI, 
em que é possível entender que diferentes crenças e deuses sempre estiveram 
presentes mesmo em condições nas quais o essencial “humano” era conside-
rado, em si, uma ferramenta. 
Portanto, falar de uma sociedade como os povos que habitavam a 
Península Arábica é, também, compreender que a religião e a crença foram 
imensos valores que a humanidade criou para poder subsistir nesse mundo. 
Fazendo uma leitura social, é possível compreender que os povos da Arábia, 
em 500 d. C., possuíam uma multiplicidade de valores já analisados, como 
as características dos beduínos nômades ao norte da península e dos povos 
agrícolas do sul.
Não podemos esquecer de que estamos analisando uma sociedade que 
considerava o escravismo. Nesse sentido, a maneira de produzir a vida 
passava essencialmente por esse tipo de relação e, portanto, é necessário 
compreender como essas relações influenciaram de maneira geral o desen-
volvimento dos povos da península em sua relação com o processo de 
formação do Islamismo. 
Aqui você está convidado a passar por temas como a relação entre escra-
vismo e crença na sociedade árabe do século VI. Também as múltiplas 
crenças e deuses que encerram na Caaba a sua importância, assim como a 
importância comercial e religiosa de Meca no mesmo período. As cidades e 
o comércio no século VI devem ser pensados nesse caminho de considerar a 
política, a religião, o comércio e as relações entre os povos árabes.
Para essa finalidade, teremos que exercitar uma questão atual. Imagine 
que você faz parte de uma comunidade e é membro da associação de bairro 
em uma cidade brasileira. Essa comunidade é muito heterogênea e, no aspecto 
religioso, apresenta quase todas as religiões. No lugar onde mora, a comuni-
dade islâmica é muito engajada na solução dos problemas comunitários e 
você, como estudioso de Teologia, observou determinados preconceitos com 
a crença muçulmana, traduzindo isso na afirmação que escutou em uma das 
reuniões da associação de bairro: “esses árabes são todos malucos!”. Você ficou 
espantado com a afirmação e resolveu ajudar a esclarecer sobre a formação 
24
islâmica, combinando uma reunião e um diálogo com todos os moradores do 
bairro em um encontro aberto, com a ajuda da própria comunidade islâmica 
local. Sua conversa deve ter de responder duas perguntas iniciais na direção 
de romper com esse preconceito: todos os árabes são islâmicos? De onde vem 
o Islamismo?
É um desafio e tanto, não é mesmo? Trilharemos, aqui, com o seu 
empenho e, mais do que isso, com a sua interpretação a respeito da complexarede de relações que se estabeleceu na Península Arábica a partir do século 
VI. Ótimos estudos! 
Não pode faltar
Escravismo e crença na sociedade árabe do século VI
Para delimitar e entender as relações que envolviam os povos na Península 
Arábica no século VI, é necessário abarcar as diferentes esferas da vida social. 
Isso porque, nas análises comprometidas com os aspectos da vida religiosa, 
temos que levar em conta que a produção material e econômica, na maneira 
como vivem os indivíduos daquela sociedade, tem direto impacto e formam 
o tecido de relações que conceberá aquela sociedade. 
Dito de outra forma, a consolidação e a construção de cidades como 
Meca e Medina no século VI resultam de influência direta do comércio que 
se estabeleceu na Península Arábica, e que, por sua vez, também é processo 
resultante de influências externas de grandes impérios na península, como o 
bizantino e o persa. Nos estudos sobre as religiões, essa propensão tem um 
caráter central, como: “Deve-se levar em conta na análise do mundo bíblico 
que sua literatura foi construída a partir de relações de ordem social, econô-
mica, política e cultural” (ROSSI, 2005, p. 27).
Mas não é só isso. Não podemos definir que o comércio foi o centro dos 
fatores de construção do Islamismo e nem é desejável essa interpretação aqui. 
O uso recorrente e histórico dos elementos para comprovação do argumento 
é o de que, na interação social e econômica dos povos árabes do período em 
que descrevemos, na manutenção e produção da própria vida, os indivíduos 
estabeleciam também relações determinadas e próprias do seu tempo, e claro 
que, com isso, a sua cultura, política e religião. Alguns clássicos métodos 
sugerem essa interpretação que descrevemos: 
[…] na produção social da própria existência, os homens 
entram em relações determinadas, necessárias, indepen-
dentes de sua vontade; essas relações de produção corres-
25
pondem a um grau determinado de desenvolvimento de 
suas forças produtivas materiais. (MARX, 2008, p. 46)
Esses aspectos estão diretamente ligados ao modo como as pessoas produ-
ziam e se relacionavam, e não podemos deixar de citar alguns elementos. 
Em que sociedade se estabeleceram os preceitos do Islã? Que modo de 
produção podemos citar para falar do período de formação do Islamismo, 
antes mesmo do aparecimento do profeta Muhammad? Essas questões nos 
conduzem a entender uma outra relação: como a religião coaduna e convive 
com os aspectos elementares de uma sociedade escravista? Podemos afirmar 
que a Península Arábica a partir do ano 500 d.C. era uma sociedade total-
mente escravista?
Nos primeiros seis séculos da era cristã, não podemos esquecer do advento 
do Cristianismo e a própria história do Judaísmo nesse cenário, além de sua 
importância também para a formação do Islã. A Península Arábica passara, 
de maneira socialmente heterogênea, por diferentes fases de construção de 
uma identidade árabe, muito ligadas às influências bizantinas e persas. O 
Império Bizantino exerceu grande influência, sobretudo nas rotas comerciais 
que cortavam o território árabe, e com isso também coloca relações impor-
tantes em outras partes da vida social na península de maneira interessante: 
Todas essas mudanças produziram efeito considerável na 
península arábica. Após esses fatos, grande número de 
estrangeiros chegou à Arábia: colonos, refugiados e outros 
grupos de alienígenas se estabeleceram na península, 
trazendo consigo novos costumes, artefatos e idéias. Como 
resultado do persistente conflito pérsio-bizantino, rotas de 
comércio surgiram na Arábia, bem como um movimento 
importante de mercadores e mercadorias. Mesmo no 
norte, os Estados fronteiriços reapareceram, ligados a seus 
patrocinadores imperiais, mas continuando como partes da 
família árabe. (LEWIS, 2012, p. 52)
Com todas as influências externas na península, com os conflitos que 
existiram entre grandes impérios e o estabelecimento de rotas comerciais 
perpassando o território, as diferentes tribos árabes foram formadas. Na 
ausência de um Estado do tipo centralizado, o poder político era pendular às 
influências externas e comerciais dos impérios, porém, não sem passar por 
características importantes do nomadismo das tribos árabes adaptadas ao 
clima e ao ambiente, assim como as tribos sedentárias e os povos dos oásis, 
26
característica central da variada cultura das tribos que há tempos habitavam a 
península e que são importantes elementos para entendermos todo processo 
histórico-social de formação do Islamismo.
Figura 1.2 | Península Arábica
Fonte: wikimedia commons. 
Na ausência de um Estado central, a consolidação de centros comerciais 
era plausível em um modo de produção que unira o sistema de tribos em 
aspectos escravistas. O modelo escravista de tipo puro e clássico não pode 
ser aplicado aos povos naturais da Península Arábica do século VI, assim 
como seus aspectos culturais tribais, suas crenças e seus costumes, que foram 
construídos também pela influência dos impérios e das guerras entre bizan-
tinos e persas.
Se levarmos em conta que um modo de produção escravista tem como 
principal característica uma economia baseada no escravo, não podemos 
afirmar que a Arábia do século VI era em sua totalidade escravista. O que é 
comum encontrar nas leituras do período são sociedades que possibilitavam 
o domínio sobre escravos. Seja por conquista ou subjugação, na tradição e 
luta entre tribos da península e pelas influências externas, existiam escravos. 
Nesse ponto, cabe sempre uma questão relevante: como é possível a existência 
27
de um modo que permita a escravização e, ao mesmo tempo, religiões e a 
crença em deuses que justifiquem esse modelo? Como religião e escravismo 
convivem na história?
A simples existência de escravos numa sociedade ainda 
não significa que possamos falar de um Modo de Produção 
Escravista. Também as sociedades tribais e tributárias 
conheceram a escravatura. Porém com um diferencial: a 
prática da escravidão nessas sociedades não alterava a sua 
estrutura econômica. O modo de organizar a sua produção 
da vida material não dependia da existência de escravos. O 
modo de produção dominante na Grécia clássica, que regia 
a complexa articulação de cada economia local e dava o seu 
cunho a toda a civilização da cidade-estado, era o escra-
vista. O conjunto do mundo antigo nunca foi marcado pelo 
predomínio de trabalho escravo. (ROSSI, 2005, p. 30)
Portanto, nas sociedades árabes do século VI e na sua heterogênea formação 
social, o escravismo estava adaptado a condições de domínio e não hegemo-
nicamente como modo de produção, sobretudo, pela característica essencial 
dos povos nômades que viviam na península. Isso porque, pelo território e 
geografia marcando a vida das tribos no deserto, era mais difícil, com as carac-
terísticas do nomadismo, transportar e manter escravos. Por isso:
Pode-se dizer que somente no período da sedentarização 
que a escravidão assumiu proporções relevantes. As 
tribos nômades não podiam evidentemente levar consigo 
uma quantidade expressiva de escravos. Era muito mais 
fácil eliminá-los. Nos tempos antigos o crescimento do 
fenômeno da escravatura andava paralelo ao progresso 
dos países. Com o advento do comércio, com a criação de 
cidades, a construção de palácios, a abertura de estradas e 
a fabricação de navios, os escravos aumentam aos milhares 
e vêem sua sorte comprometida pelo progresso inexorável 
da flecha do tempo. (ROSSI, 2005, p. 32)
As múltiplas crenças e deuses: a Caaba e sua importância
 Nesse ponto do nosso estudo, é importante entender de que sociedade e 
modo de produção estamos falando, assim como de que maneira esse modo 
de produção se constrói como um produto histórico de relações determinadas 
28
pela forma como os indivíduos se relacionam, trocam e produzem a vida 
objetiva e subjetivamente, e convivem socialmente. Também como os indiví-
duos criam suas próprias representações, dialogam e dominam o ambiente e 
também osseus semelhantes. 
Essa pluralidade convergia para o estabelecimento de rotas comerciais, 
cidades e pontos importantes que foram sendo construídos ao longo dessa 
era. Meca foi um dos principais pontos de comércio e também das religiões 
da península. No século VI, antes do aparecimento do Islamismo e do nasci-
mento do profeta Muhammad, essa cidade ao mesmo tempo em que se 
consolidava como centro de comércio, reservava um espaço que até hoje é 
conhecido como Caaba – ou ka’ba, em árabe. 
A Caaba representava o centro das diversas religiões em grande parte do 
século VI. Nela estavam guardadas representações dos deuses de cada tribo 
da Península Árabe e que, reunia na cidade de Meca, inúmeras crenças.
Centro do politeísmo árabe, por sua importância simbólica, após a 
formação do Islamismo, e como parte dela, a Caaba representaria, no século 
seguinte – após o surgimento de Muhammad –, o centro da crença islâmica, 
modificando assim o seu caráter de centro politeísta, já que o Islamismo é 
uma das três grandes religiões monoteístas nascidas no Oriente Médio.
De 500 a 600 d.C. esse templo e santuário reuniu as imagens das mais 
de trezentas tribos árabes. Sua importância é fundamental para compre-
endermos o próprio processo de formação e concentração das relações de 
poder em Meca, a cidade em que ficava esse santuário e que representava 
uma espécie de ponto neutro para todas as religiões árabes e o seu comércio.
Figura 1.3 | Caaba
Fonte: wikimedia commons. 
29
“Caravanas de toda a Arábia costumavam peregrinar até Meca com o objetivo 
de adorar os diversos deuses e essas peregrinações estimulavam o comércio 
da cidade” (VICENTINO, 2016, p. 195). Por essa percepção, rotas comerciais 
importantes passavam por cidades como Meca e Medina, assim como as influên-
cias externas dos Impérios Bizantino e Sassanida (Persa) adentraram a Península 
Arábica pelas principais rotas comerciais no território árabe.
Por volta do século VI, mais de trezentas tribos de origem 
semita habitavam a região, incluindo as tribos urbanas que 
ocupavam a faixa costeira do mar Vermelho e do sul da 
península – área que tinha melhores condições climáticas 
e maior fertilidade do solo. Essas tribos concentravam-se 
principalmente em Meca, sua principal cidade, e em Iatreb, 
mais tarde chamada de Medina. (VICENTINO, 2016, p. 195)
Assimile
Você sabia que em uma das faces do templo da Caaba está a chamada 
Pedra Negra? A Pedra Negra é reverenciada pela crença muçulmana 
como um recado enviado por Deus (Alá) e que teria sido oferecida por 
Alá a Ismael, filho de Abraão, considerado aquele que deu origem ao 
povo árabe. Alguns pesquisadores acreditam que a Pedra Negra é um 
meteorito que havia caído na região e que fora colocado na Caaba como 
forma de representação de Alá. Hoje, a Pedra Negra está encravada em 
um dos cantos da Caaba, bem ao centro da grande Mesquita de Meca, 
território da Arábia Saudita. No entorno desse santuário há uma área 
circular onde os muçulmanos se concentram quando fazem a peregri-
nação a Meca para dar sete voltas em direção ao sol.
A importância da Caaba está na sua representação e junção das várias 
crenças e deuses. Quando analisamos o processo de formação do Islamismo, 
encontramos um significado da Caaba antes da vinda do profeta e outro 
depois das revelações expressas no Alcorão. É preciso entender que o signi-
ficado simbólico da Caaba é também material e está diretamente ligado às 
relações comerciais localizadas em Meca como centro comercial e religioso 
no século VI, o que torna fundamental a análise do conteúdo histórico da 
cidade de Meca.
30
As cidades e o comércio no século VI: a importância comercial e 
religiosa de Meca no século VI
É preciso chamar atenção para duas principais interpretações sobre as fontes 
de riqueza da população árabe. No século VI, a importância social e econômica 
de algumas localidades do território da Península Arábica, como algumas rotas 
de comércio e a própria cidade de Meca, orientam as relações e o intercâmbio das 
tribos. Dentro dessa afirmação é possível, segundo alguns estudos, perceber na 
literatura duas importantes linhas de pensamento sobre a formação de centros 
comerciais e religiosos como Medina (antiga Iatreb) e Meca.
Esse retrato de Meca como um pólo comercial relevante, de 
onde chegavam as grandes rotas comerciais internacionais e 
de onde partiam caravanas importantes para a Síria, o Iêmen 
e a Etiópia, foi alvo de uma série de controvérsias sobre a 
história do surgimento do Islã. (LANNES, 2013, p. 47)
A primeira interpretação liga o desenvolvimento dos povos árabes e 
das cidades como Meca ao comércio de longa distância e às caravanas. A 
segunda, passa pela localização da cidade de Meca como estratégica. Ambas 
as determinações são passíveis de debate.
Para nós, é importante o resgate histórico de elementos que nos forneçam 
compreensão da sociedade árabe a partir do século VI e no processo de 
formação do Islã. Portanto, é importante a compreensão de que:
Meca detinha uma importante localização geográfica e que 
as grandes rotas comerciais passavam por ela. Além disso, 
sua importância residia no fato de ser um crucial ponto de 
apoio logístico para as caravanas que compunham essas 
rotas comerciais, além de ter um santuário, a Caaba, no 
qual os viajantes poderiam fazer as suas orações. (LANNES, 
2013, p. 54)
Reflita
Já imaginou a importância da religião e da crença nas diferentes socie-
dades humanas? Em todos os períodos da história das sociedades, a 
religião foi um imenso valor criado socialmente, e como tal é possível 
que aspectos econômicos, políticos e ideológicos tenham implica-
ções na formação também do Islamismo. Mesmo em uma sociedade 
31
heterogênea como a dos povos que habitavam a Península Arábica, 
em aspectos politeístas, a religião cumpriu um grande papel. Com isso, 
o que o Islamismo e a formação do Islã representaram para os povos 
árabes naquele período?
Compreender as relações que envolviam a formação do islamismo é 
entender em que contexto foi possível uma sociedade tão heterogênea quanto 
a árabe passar de diferentes crenças e deuses para o monoteísmo. Isso só foi 
possível com a fundação do Islã. E a formação de uma das maiores religiões 
do mundo também vê na vida do profeta Muhammad sua interpretação. 
Muhammad cresceu na península na tribo dos coraixitas. Essa tribo 
dominava o comércio e as relações políticas na cidade de Meca, que se forta-
lecia como centro político, religioso e comercial.
“No seio de uma família da tribo coraixita nasceu, em 570, aquele que 
seria considerado por muitos o grande condutor do povo árabe: Maomé. Aos 
40 anos de idade, Maomé passou a difundir uma nova fé” (VICENTINO, 
2016, p. 197). E antes mesmo de estabelecer as bases da fé Islâmica, o próprio 
profeta também foi produto do seu tempo.
Exemplificando
Podemos recorrer a exemplos importantes na história de fatores sociais 
diversos que expliquem o crescimento das cidades e das religiões. 
Ainda no período que analisamos podemos citar Constantinopla, que 
deslocou o eixo da centralidade capital do Império Romano. 
Ao longo da história, a capital do Império Bizantino 
recebeu vários nomes: Bizâncio, Constantinopla e 
Istambul.
Istambul é hoje a maior cidade da Turquia e preserva 
impressionante memória arquitetônica, com museus, 
mesquitas, palácios e igrejas. Essas construções 
atraem muitos turistas e estudiosos de diversas 
partes do mundo. (COTRIM, 2016, p. 137)
Em resumo, é necessária uma conclusão em acordo com o processo histó-
rico que desembocou na formação do Islamismo. Os aspectos sociais, econô-
micos e religiosos das diferentes tribos da Península Arábica, conduziram 
a formação de uma religião ao redor do profeta Muhammad que rompe 
com o politeísmo dos povos árabes, e esse rompimento aparece na história 
como a formação de uma identidade árabe que mais à frente conduzirá todo 
32
conteúdo de expansão do Império Árabe-Islâmico. Isso não seria possível 
sem a compreensãodos pontos de formação econômica da Península Arábica 
no século VI e da consolidação de Meca como principal centro religioso e 
comercial da história árabe.
Sem medo de errar
Você descobriu que a formação dos povos árabes tem influência direta no 
contexto de construção do Islamismo. Esse contexto é complexo e tem que 
levar em conta a maneira como as diferentes tribos e sociedades árabes produ-
ziam e reproduziam sua vida em meio às condições do deserto, dos povos dos 
oásis, nômades e sedentários na península de dimensões continentais.
A história nos forneceu elementos para entender que grandes impérios 
transitavam e tinham interesses comerciais sobre a Península Arábica. De 
um lado o conhecido Império Bizantino e, de outro, os Sassânidas ou Persas 
estabeleciam conflitos e reações pelas rotas no interior da península, tanto 
quanto o século VI foi marcado pelo Cristianismo.
É um complexo contexto para entendermos a formação do Islã. Centros 
comerciais, como a cidade de Meca, fornecem importantes conselhos quando 
analisamos as relações na antiga Arábia e, com isso, o estabelecimento do 
comércio e as crenças ao redor da Caaba; hoje o templo consagrado pela 
religião islâmica, foi antigamente um importante aglutinador das diferenças 
religiosas e das crenças de uma sociedade com valores tribais e escravistas.
Não podemos afirmar que os povos árabes no século VI se estruturavam 
em um modelo escravista clássico, apesar das características escravistas 
encontradas em várias formações sociais do período. A relação tribal e escra-
vista foi um importante elo entre as rotas comerciais na península e o que 
consolidou centros importantes como a cidade de Meca. 
A religião, as diferentes crenças e deuses, pautaram as relações heterogê-
neas de uma complexa realidade na Península Arábica a partir do ano 500 
da era cristã. Ainda hoje vivemos em uma sociedade plural, heterogênea e 
com diferentes formas de pensar e se relacionar, incluindo as religiões em 
diferentes matrizes.
Por esse motivo você foi convidado a imaginar que faz parte de uma 
comunidade e é membro da associação de bairro em uma cidade brasileira. 
A nossa situação-problema é atual e entende que essa comunidade é muito 
heterogênea e no aspecto religioso, com pessoas que professam quase todas 
as religiões. No lugar onde mora, a comunidade islâmica é muito engajada 
na solução dos problemas comunitários e você, como estudioso de Teologia, 
33
observou determinados preconceitos com a crença muçulmana, traduzidos 
na afirmação que escutou em uma das reuniões da associação de bairro: 
“esses árabes são todos malucos! ”. Você ficou espantado com a afirmação 
e resolveu ajudar esclarecer sobre a formação islâmica, combinando uma 
reunião e um diálogo com todos os moradores do bairro em um encontro 
aberto, com a ajuda da própria comunidade islâmica local. Sua conversa 
deve ter de responder duas perguntas iniciais na direção de romper com esse 
preconceito: todos os árabes são islâmicos? De onde vem o Islamismo?
Compreendemos que nem todos os árabes são islâmicos, assim como 
hoje, nem todos os muçulmanos são árabes. Essa religião conquistou a sua 
história e é hoje uma das maiores do planeta. O respeito às diferenças deve 
ser buscado em todas as frentes pelo estudioso de Teologia, e isso fica claro 
quando analisamos o processo de formação do Islã.
Diferentes crenças e deuses são encerrados na Caaba, em um templo e 
canal de relações na Península Arábica do século VI, e suas relações comer-
ciais, em centros que se consolidam como importantes referenciais do sincre-
tismo religioso e contradições fundamentais.
Faça valer a pena
1. 
A simples existência de escravos numa sociedade ainda 
não significa que possamos falar de um Modo de Produção 
Escravista. Também as sociedades tribais e tributárias 
conheceram a escravatura. Porém com um diferencial: a 
prática da escravidão nessas sociedades não alterava a sua 
estrutura econômica. (ROSSI, 2005, p. 27-36.)
A passagem apresentada demarca teoricamente a leitura sobre o escravismo. 
Sobre esse conceito, assinale a alternativa que aponta para a principal carac-
terística do modo de produção escravista:
a. Uma economia baseada no escravo.
b. Uma economia baseada na crença.
c. Uma economia baseada em relações de troca.
d. Uma economia com base na política.
e. Uma economia baseada no modo de vida tribal.
34
2. Sobre a cidade de Meca no século VI da era cristã, julgue as afirmativas a 
seguir em V (verdadeiras) ou F (falsas). 
( ) Meca detinha uma importante localização geográfica e as grandes rotas 
comerciais passavam por ela. 
( ) A importância de Meca residia no fato de ser um crucial ponto de apoio 
logístico para as caravanas que compunham essas rotas comerciais, além de 
ter um santuário.
( ) Meca e Medina dividiam espaço como centro religioso, porque a Caaba, 
templo no qual os viajantes poderiam fazer as suas orações, ficava em Medina.
Assinale a alternativa com a sequência correta.
a. V – V – V.
b. V – V – F.
c. V – F – F.
d. F – F – V.
e. F – F – F.
3. 
Por volta do século VI, mais de trezentas tribos de origem 
semita habitavam a região, incluindo as tribos urbanas que 
ocupavam a faixa costeira do mar Vermelho e do sul da 
península – área que tinha melhores condições climáticas 
e maior fertilidade do solo. Essas tribos concentravam-se 
principalmente em Meca, sua principal cidade, e em Iatreb, 
mais tarde chamada de Medina. (VICENTINO, 2016, p. 195.)
Com a referência da passagem apresentada, podemos lembrar da impor-
tância da Caaba como centro religioso e que exerceu uma influência signifi-
cativa na formação das cidades como Meca e Medina. Dentro desse assunto e 
sobre a Caaba especificamente, analise as afirmativas a seguir:
I. Caravanas de toda a Arábia costumavam peregrinar até Meca com o 
objetivo de adorar os diversos deuses na Caaba, e essas peregrinações 
estimulavam o comércio da cidade.
II. Todas as rotas comerciais assavam pela Caaba na Península Árabe. 
Foi essa a verdadeira motivação do profeta Muhammad sair de Meca 
para Medina, porque o templo estava bem ao centro da mesquita em 
Iatreb.
35
III. A Caaba representava o centro das diversas religiões em grande parte 
do século VI. Nela estavam guardadas representações dos deuses 
de cada tribo da Península Árabe e que reunia, na cidade de Meca, 
inúmeras crenças.
Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:
a. I e II, apenas.
b. I e III, apenas.
c. II e III, apenas.
d. III, apenas.
e. I, II e III.
36
Seção 3
A importância da Península Arábica
Diálogo aberto
Caro estudante, chegamos ao final de uma etapa de construção dos antece-
dentes históricos do Islamismo. Como é próprio de todo estudo introdutório, 
você será convidado, nesta parte, a refletir sobre a sociedade árabe do século 
VI d.C., com um olhar nas relações sociais que estabeleceram as bases para 
a construção de uma das grandes religiões e um gigantesco império que se 
estabeleceu a partir do século VII da era cristã. 
Como podemos entender a origem do Islã? Podemos refletir sobre os 
elementos que formaram uma grande matriz religiosa entre os séculos VI e 
VII? Quais os principais pontos de compreensão da origem do Islamismo? 
Todas essas questões têm necessariamente que passar pela compreensão 
social. Seja da ação dos indivíduos à compreensão de que a história material 
é um ponto de partida, as origens do Islamismo também estão ligadas ao 
próprio desenvolvimento social dos povos que habitavam a Península Arábica.
A Península Arábica guarda uma rica história. E para conhecê-la faremos 
um exercício de reflexão, imaginando que você é professor de uma faculdade 
que tem como tarefa desenvolver um diálogo sobre a formação das diferentes 
religiões e principalmente conduzir seus alunos para um entendimento 
sócio-histórico de influência dos impérios na formação dos povos árabes 
dessa península.
Neste exercício você, como professor, escolhe dividir a turma em grupos 
deestudo que apresentarão, como avaliação, seminários, e cada seminário 
tratará sobre uma matriz religiosa. Na equipe responsável por desenvolver as 
origens do Islamismo surge uma questão interessante: o que, de fato, o surgi-
mento do Islamismo representou para os povos árabes dos séculos VI e VII? 
Podemos lembrar que os fatores históricos devem vir acompanhados 
pela compreensão econômica, social e política dos povos árabes, e com isso 
orientar os seus alunos para refletirem a sociedade na Península Arábica 
do século VI, sua formação, relações e desenvolvimento em meio ao dois 
grandes impérios dos quais conhecemos na história: o Império Bizantino e 
o Persa.
Aqui você verá alguns elementos que delimitaram a construção e início 
do Islamismo. Também conhecerá o que influenciou de maneira direta a 
37
formação das sociedades árabes, principalmente a partir do ano 500 d.C., e 
que será determinante no caminho de expansão do Islã.
Não pode faltar
A importância estratégica da Península na história das civilizações
Qualquer história contada sobre o Islamismo deve passar pela compre-
ensão das relações sociais que formaram as sociedades árabes. Para esse 
fim, é necessário que compreendamos, juntos, a história e a importância da 
Península Arábica no século VI d.C., antecedente à narrativa histórica do 
profeta Muhammad.
Território, sociedade e história podem guiar nosso argumento aqui. É 
possível que você tenha encontrado observações sobre a história dos povos 
árabes como as que elencamos, porém, é também necessário compreender 
que a Península Arábica e seu território, no período de nosso estudo, estava 
posicionada no meio de dois grandes impérios conhecidos na história: o 
Império Bizantino e o Império Persa. Mas o que esses dois grandes impérios 
têm de relevante para a formação dos povos da península em 500 d. C.?
A palavra “bizantino” vem de Bizâncio, uma antiga cidade da Grécia 
que, mais tarde, ficou conhecida como Constantinopla, a capital do Império 
Romano em sua porção Oriental. Constantinopla foi a capital do Império 
Romano no ano de 330 d.C. e teve sua história contada até o ano de 1453 d.C., 
quando foi conquistada pelos turcos, que alteraram seu nome para Istambul. 
O Império Bizantino e sua capital Constantinopla ligavam a Europa com a 
Ásia e, geograficamente, sua capital exerceu uma influência importante no 
comércio e cultura entre as sociedades de dois continentes, e principalmente 
na Península Arábica.
Devida à grandiosidade do Império Romano e a proporção de um dos 
impérios mais expansionistas que já conhecemos, não é possível deixar de 
notar e entender a influência que suas relações exerceram nas sociedades de 
então, sobretudo nos povos árabes.
Reflita
Você sabia que as relações sociais dos povos árabes, principalmente as 
tribos nômades da Arábia, também influenciaram de maneira significa-
tiva a trajetória do Império Bizantino no século VI? 
Os árabes eram mais um empecilho ao comércio do 
que uma preocupação militar, mas suas depredações 
38
eram cada vez mais ousadas. Ataques de beduínos 
à Síria tinham começado sob o governo de seu tio, 
e esperava-se de Justino que desse continuidade à 
política de pagar a quantia de extorsão para mantê-los 
afastados das rotas comerciais e das comunidades de 
fronteira do império (LEWIS, 2010, p. 16)
Lembramos que a expansão árabe-islâmica se consolida no século 
VII, com a construção do Islã e a história do profeta Muhammad. O 
comércio e o domínio de rotas comerciais importantes são centrais 
para compreendermos como os povos da península exerciam influência 
no território, e podem nos contar sobre e ajudar na compreensão da 
formação do Islamismo.
É possível que você já saiba a narrativa da história sobre a conquista do 
território bizantino pelo Império Árabe-Islâmico no século VII, mas é um 
ponto que ainda será desenvolvido. O importante é perceber como grandes 
impérios, de certa maneira, influenciaram a própria formação dos povos 
árabes. Constantinopla estava posicionada ligando o Oriente ao Ocidente 
e ligava comercial e religiosamente esses dois lados, expandindo também a 
influência cristã para a Península Arábica.
Essa cidade conciliou muito bem a representação entre o comércio e 
a religião. Sua moeda era aceita em vários lugares e o cristianismo exercia 
influência para além do Império Romano. É comum encontrarmos análises 
que dizem da importância estratégica dessa cidade, e isso denota uma carac-
terística importante a ser por nós aceita: a de que o comércio e a religião 
foram pontos basilares na formação dos impérios, e isso como traço também 
de construção do Império Árabe-Islâmico no século VII. 
A perseguição aos cristãos foi anulada pelo famoso “Édito 
de Milão”, promulgado por seu sucessor Constantino, que 
reunificou o Império, mas manteve a divisão administrativa 
entre Império ocidental e oriental. Seu reinado foi um marco 
em vários sentidos. Fundou uma nova capital, Constanti-
nopla, no estreito do Bósforo, que seria a Nova Roma do 
Oriente. Com relação aos cristãos, não apenas autorizou o 
culto, mas também o apoiou fortemente, doando terras e 
riquezas e retirando, dos templos não cristãos, quase toda 
subvenção estatal. (GUARINELLO, 2013, p. 165)
39
Quando passamos para uma análise da civilização persa, no século 
VI d.C., temos que lembrar da sua importância expansionista e histórica. 
É importante ressaltar que quando falamos de grandes impérios estamos 
também marcando uma característica histórica: o expansionismo. A luta 
entre os impérios Sassânida e Bizantino movimentou e marcou diretamente 
os povos árabes, sobretudo porque no centro dessa luta entre os impérios 
estava a Península Arábica.
O Império Sassânida é o último do período pré-islâmico. Como Império 
Persa, podemos encontrar na história um conflito direto, principalmente no 
século VI d.C., pelo comércio e importância estratégica de alguns pontos no 
continente, e cabe lembrar das rotas comerciais na Península Arábica. Isso 
é tão importante ao ponto de selar e obrigar um certo entendimento dentro 
de uma relativa paz entre os impérios em algumas regiões para permitir o 
comércio. As “tribos semitas permaneceram, em sua maior parte, fora do 
radar geopolítico das duas superpotências que dominavam o Crescente 
Fértil” (GUARINELLO, 2013, p. 2), e esse fator permitiu com que produtos e 
mercadorias circulassem e que o comércio fosse intensificado, alicerçando o 
crescimento de cidades como Meca.
Assimile
O “crescente fértil”, é a região conhecida como “berço da civilização”. 
Leva esse nome porque na história das sociedades humanas foi a região 
responsável pelo processo de sedentarização dos povos e sociedades 
que desenvolveram agricultura ao redor de rios importantes, como o 
rio Nilo e Eufrates.
Hoje o crescente fértil está localizado na região da atual Palestina, 
Jordânia, Israel, Líbano, Kuwait e Chipre, além de algumas partes do 
Egito, da Síria, do Irã e da Turquia. E uma curiosidade sobre a região é o 
seu “formato de lua”, que circunda a Península Arábica, ligando o Mar 
Vermelho, o Mediterrâneo e o Golfo Pérsico.
40
Figura 1.4 | Crescente Fértil
Fonte: Wikipédia.
A ideologia islâmica e a síntese dos valores tribais: o contexto político-
-social da Península Arábica
No decorrer do século VI do calendário cristão, o conflito entre os dois 
grandes impérios dominantes no Oriente Médio leva essas “superpotências” 
(GUARINELLO, 2013) ao desgaste de maneira rápida, e com isso aparecem 
relações comerciais e ideológicas muito particulares ao universo árabe. Uma 
espécie de identidade árabe surge muito alicerçada pela influência que os 
Impérios Sassânida e Bizantino, Romano e Persa exercem na península. E, 
mais do que isso, essa identidade dos povos nômades da Península Arábica 
se constrói na retração desses impérios, ao mesmo tempo que os árabes 
dominam o comércio e se posicionam à margem das guerras desses impérios.
A maioria das tribos do interior da península Arábica, cujas 
caravanasque saíam de cidadezinhas de oásis chegavam 
até a Jordânia ao norte e até o Iêmen ao sul, conseguiu 
escapar de ser sugada pelos imensos furacões imperiais 
da região até o final do século VI. Seus membros eram 
41
espectadores remotos que desempenhavam, na melhor 
das hipóteses, papel marginal no Crescente Fértil. (GUARI-
NELLO, 2013, p. 2)
O contexto político-social da Península Arábica será determinado pelo 
esgotamento das duas potências imperiais dominantes no Oriente Médio, e 
a ideologia dos povos árabes está imediatamente ligada aos elementos que 
condicionarão esse esgotamento, como a crise do Império Romano e o modo 
de vida das tribos.
O importante é notar como os aspectos militares são desenhados no 
interior das tribos árabes, muito delineados pela influência entre os impérios 
e que formata valores essenciais nas relações entre as tribos da Arábia. 
Prepara, de uma certa maneira, a interpretação e o protagonismo que as 
tribos desempenharão nas conquistas islâmicas no século que estaria por vir.
Com o tempo, essas guerras estafantes possibilitariam 
a ascendência militar improvável dos seminômades de 
um canto da Arábia. Esse povo ocupou com velocidade 
incrível um dos lugares de maior destaque da história — 
mas só depois de as duas superpotências da Ásia Menor se 
exaurirem em destruição prolongada e mútua. No papel de 
espectadoras fascinadas do que foi, de fato, a maior rivali-
dade destrutiva da história, as tribos do coração da Arábia 
se viram de posse de um dos bilhetes premiados da história 
e se tornaram protagonistas, quase automaticamente, de 
uma nova rivalidade. (GUARINELLO, 2013, p. 2)
Política e ideologicamente, os povos que viviam na Península Arábica 
na primeira metade do século VI d.C. serão importantes protagonistas 
no processo de formação do Islamismo. Isso porque as relações de poder 
presentes na heterogênea sociedade dos povos que habitavam a Península 
Arábica aparecem pela síntese dos valores tribais, conquistados antes mesmo 
do aparecimento do profeta Muhammad.
Isso explica as variadas crenças e deuses. O politeísmo árabe no século VI 
só será modificado com a projeção e o surgimento do Islã, cuja base sinte-
tiza pela luta os valores que hoje sustentam uma das maiores religiões que 
conhecemos. 
42
A ideologia do Islã será construída por alguns elementos importantes: 
• A síntese dos valores, modo de vida e crença da heterogênea socie-
dade árabe discriminada entre os povos dos oásis, os nômades e 
sedentários. 
• A existência do conflito e a influência dos grandes impérios que se 
situavam no “gargalo” da Península Arábica. 
• A posição estratégica da Península Arábica frente aos Grandes 
Impérios, na consolidação de rotas de comércio e o trânsito de 
mercadorias. 
• Uma sociedade tribal e escravista, que dominava como ninguém a 
vida no deserto em suas diferentes regiões.
As caravanas de Meca, carregadas de tâmaras, especiarias, 
perfumes e escravos saíam do deserto, para o norte e para 
o oeste, até a Palestina judaico-cristã e a Síria cristã, ou 
para o sul, até o Iêmen, e para o oeste, atravessando o mar 
vermelho até a Etiópia cristã. Uma dessas fileiras de camelos 
que passou pela cidade de Bostra (Busra), na fronteira da 
Síria, por volta de 582, carregava Muhammad ibn ‘Abd 
Allah (Maomé), com 11 ou 12 anos, para fora da Arábia pela 
primeira vez, junto ao tio que era seu guardião, Abu Talib. 
Bostra era uma cidade grande e agitada, localizada na inter-
seção de cinco rotas comerciais. Sua sé episcopal tinha sido 
autorizada pela imperatriz Teodora, simpatizante do monofi-
sismo e a imponente capital de Bostra atestava a devoção 
próspera da comunidade. (GUARINELLO, 2013, p. 30)
Preâmbulo do Islamismo: diferentes clãs e tribos
No livro Os Árabes na História, Bernard Lewis expõe que um traço 
marcante e que prevalece na população árabe no século VI antes do apare-
cimento do Islã é o do tribalismo nômade. Isso marca principalmente as 
sociedades que viviam na porção central e Norte da península e tem uma 
importância fundamental em todo processo de construção do Islamismo. “A 
principal restrição social à anarquia dominante consistia na vingança pelo 
sangue” (LEWIS, 1990, p. 36).
43
Exemplificando
Para explicar o que significa a “vingança pelo sangue”, podemos dizer 
que consistia na prática que obrigava e impunha à família, clã ou tribo 
exigir pela força a vingança de um homem assassinado. Esse funcio-
namento social estava muito baseado em uma normativa própria das 
tribos e a sua religião traduzia esse caráter:
A vida da tribo era regulada pelo direito consuetu-
dinário, a Sunna, ou prática dos antepassados, cuja 
autoridade advinha da veneração pelo passado, e 
encontrava a sua única sanção na opinião pública. O 
Majlis tribal era o seu símbolo formal e único instru-
mento. (LEWIS, 1990, p. 36)
A exigência em casos de assassinato estava na mesma moeda: exigia-se 
a morte de um dos membros da tribo em que se cometeu o fato. É bom 
lembrar que a religião de cada povo estava diretamente ligada a essa 
prática, assim como à prática do escravismo.
O modo tribal e escravista das sociedades árabes era diversificado. 
Porém, algo mantinha a unidade das diferentes tribos e clãs, seu funciona-
mento e suas relações. Podemos dizer que a religião, ao mesmo tempo em 
que traduzia e sintetizava os valores da tribo, ditava o compasso das relações 
e das leis daquela sociedade. “A religião dos nómadas era uma forma de 
polidemonismo próxima do paganismo dos antigos semitas” (LEWIS, 1990, 
p. 36), o que nos coloca diante de um importante elemento em todo processo 
de formação do Islã.
Como o politeísmo das tribos árabes estava ligado aos deuses das mais 
variadas formas, ligados ao aspecto regional e local de cada tribo, divindades 
das árvores, pedras sagradas, fontes etc., havia uma ligação forte com os laços 
familiares. Esse elemento foi o que impulsionou a formação do Islamismo, 
sobretudo pela síntese de o Islã fundamentar a crença em um Deus único. 
As entidades por eles adoradas eram, na origem, os 
habitantes e seres tutelares de lugares específicos, que 
viviam nas árvores, nas fontes e especialmente nas 
pedras sagradas. Havia alguns deuses no sentido real, que 
transcendiam na sua autoridade as fronteiras dos cultos 
puramente tribais. (LEWIS, 1990, p. 36)
44
Como o comércio entre as rotas que cruzavam a Península Arábica 
traziam relações externas e internas, a crença dos mais variados deuses das 
tribos nômades e sedentárias da Arábia estava encerrada na Caaba, que ficava 
em Meca. Esse dado revela a condição de importância dessa cidade no século 
VI e consolida rotas de importante ligação entre os povos árabes.
Na origem das sociedades árabes, o comércio e a religião formaram 
valores que identificariam as relações sociais em uma espécie de identi-
dade árabe. Como a Península Arábica estava colocada em uma gigantesca 
rota de ligação entre os continentes, o fator inicial foi a expansão comercial 
atrelada ao modo de vida das sociedades que ali viviam, suas crenças, hábitos 
e relações. 
A fé tribal concentrava-se à volta do deus da tribo, geral-
mente simbolizado por urna pedra e, às vezes, por qualquer 
outro objeto. Ficava sob a custódia da casa do Sheikh, que 
desse modo conquistou um certo prestígio religioso. Deus 
e culto constituíam a divisa da identidade tribal e a única 
expressão ideológica do sentido de unidade e de coesão da 
tribo. A submissão ao culto tribal era expressiva de lealdade 
política. A apostasia era equivalente a traição. (LEWIS, 
1990, p. 37)
Os diferentes clãs e tribos da península sintetizaram os valores próprios 
de uma identidade árabe que marcara já no final do século VI d.C. os 
elementos para uma “revolução” monoteísta. Essa reunião de elementos 
conduz, mediante as influências também advindas do Cristianismo e do 
Judaísmo, uma espécie de pensamento próprio, principalmente das tribos 
que dominavam o comércio nos centros como Meca e Medina no século VI: 
os coraixitas.

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