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Patologia da morte celular VetBia Bogliolo, patologia. Geraldo Brasileiro Filho. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Agentes lesivos > causam lesões reversíveis ou morte celular sobre as células. Lesões reversíveis ou irreversíveis Depende da natureza do agressor, da intensidade e da duração da agressão e da capacidade do organismo de reagir. A morte celular é um processo e, como tal, uma sucessão de eventos, sendo às vezes muito difícil estabelecer qual é o fator que determina a irreversibilidade da lesão (ponto de não retorno). ! nem sempre a morte celular é precedida por lesões degenerativas, pois o agente agressor pode causar morte rapidamente, não havendo lesões degenerativas que a precedam. Categorias da morte celular Morte celular programada Morte celular fisiológica que ocorre como forma de manter a homeostase (ativação de linfócitos) ou para favorecer a diferenciação (embriogênese). Apoptose é a forma mais conhecida de morte celular programada (apoptose de linfócitos T após sua ativação, eliminação da célula após cumprir seu papel fisiológico). Morte celular regulada Causada pela ativação de vias que podem ser reguladas por fármacos ou por manipulação genética, sem fazer parte de um contexto fisiológico. Morte celular acidental Agressões que induzem necrose ou apoptose. ! morte celular não pode ser usada sempre como sinônimo de necrose, já que esta é a morte celular seguida de autólise. Também não se pode utilizar o termo necrose para indicar a morte celular que acompanha a morte do indivíduo (morte somática). Necrose Morte celular ocorrida em organismo vivo e seguida de autólise. Quando a agressão é suficiente para interromper as funções vitais (cessam a produção de energia e as sínteses celulares), os lisossomos perdem a capacidade de conter as hidrolases no seu interior e estas saem para o citosol, são ativadas pela alta concentração de Ca no citoplasma e iniciam a autólise. Os lisossomos contêm hidrolases (proteases, lipases, glicosidases, ribonucleases e desoxirribonucleases) capazes de digerir todos os substratos celulares. É a partir da ação dessas enzimas que dependem as alterações morfológicas observadas após a morte celular. Aspectos macroscópicos da necrose Conforme sua natureza A região de necrose isquêmica em órgãos com circulação terminal adquire coloração esbranquiçada e torna-se tumefeita, fazendo saliência na superfície do órgão ou na superfície de corte; Na necrose anóxica de órgãos com circulação dupla, há extravasamento de sangue a partir do vaso não obstruído, adquirindo a área comprometida aspecto hemorrágico (vermelho-escuro ou vermelho vinho); Na necrose que ocorre na tuberculose, a região necrosada assume aspecto de massa de queijo, esbranquiçada e quebradiça (necrose caseosa); Na sífilis, as lesões necróticas tomam o aspecto semelhante a goma (necrose gomosa); Há um tipo de necrose em que o tecido é digerido até a liquefação, ficando muito mole, com aspecto semi fluido; é a necrose por liquefação ou coliquativa, comum no encéfalo. Patologia da morte celular VetBia Achados microscópicos (1) alterações nucleares caracterizadas por intensa contração e condensação da cromatina, tornando o núcleo intensamente basófilo, de aspecto homogêneo e bem menor do que o normal: é a picnose nuclear; Outra alteração é a digestão da cromatina, que faz desaparecer a afinidade tintorial dos núcleos, não mais se podendo distingui-los nas colorações de rotina: é a cariólise, facilmente identificada pela ausência de núcleos nas células; Às vezes, o núcleo se fragmenta e se dispersa no citoplasma, fenômeno denominado cariorrexe. Picnose, cariólise e cariorrexe resultam do abaixamento excessivo do pH na célula morta (que condensa a cromatina) e da ação de desoxirribonucleases e de outras proteases ácidas que digerem a cromatina e fragmentam a membrana nuclear. (2) alterações citoplasmáticas são menos típicas. Geralmente, há aumento da acidofilia, não só pelo desacoplamento de ribossomos e desintegração de polissomos como também por proteólise parcial que expõe grande número de radicais acídicos em moléculas citoplasmáticas. Com a evolução da necrose, o citoplasma toma aspecto granuloso e tende a formar massas amorfas de limites imprecisos, pois, nessa fase, as membranas se rompem, e o material citoplasmático autolisado se mistura, formando uma massa homogênea. Causas e tipos O aspecto da lesão varia de acordo com a causa, embora necroses produzidas por diferentes agentes possam apresentar aspecto semelhante. Os agentes agressores produzem necrose por: (1) redução de energia, por obstrução vascular (isquemia, anóxia) ou por inibição dos processos respiratórios da célula; (2) geração de radicais livres; (3) ação direta sobre enzimas, inibindo processos vitais da célula (p. ex., agentes químicos e toxinas); (4) agressão direta à membrana citoplasmática, criando canais hidrofílicos pelos quais a célula perde eletrólitos e morre (como ocorre na ativação do complemento). Necrose por coagulação Tem por causa mais frequente a isquemia, denominada também como necrose isquêmica. Macroscopicamente Área esbranquiçada e salienta-se na superfície do órgão; quase sempre, a região necrótica é circundada por um halo avermelhado (hiperemia que tenta compensar a isquemia ocorrida). Microscopicamente Além das alterações nucleares, especialmente cariólise, as células necrosadas apresentam citoplasma com aspecto de substância coagulada (o citoplasma torna-se acidofílico e granuloso, gelificado). No início, os contornos celulares são nítidos, sendo possível identificar a arquitetura do tecido necrosado; mais tarde, toda a arquitetura tecidual fica perdida. A. Hepatócitos íntegros, para comparação, os quais têm núcleos com cromatina frouxa e citoplasma discretamente Patologia da morte celular VetBia basofílico. B. Área de necrose, na qual os hepatócitos apresentam citoplasma acidófilo e homogêneo, sem núcleos (cariólise). As setas amarelas mostram núcleos picnóticos. As setas azuis indicam hepatócitos contraídos e intensamente acidófilos, com núcleo picnótico (hepatócitos em apoptose, também denominados corpos hialinos, semelhantes aos corpúsculos de Councilman Rocha Lima). Necrose isquêmica do miocárdio. A. Cariólise de miocélulas, que mostram citoplasma homogêneo e muito acidófilo (necrose por coagulação). As setas indicam núcleos picnóticos. B. Infiltração de células fagocitárias e de linfócitos, iniciando a remoção de cardiomiócitos mortos e a reparação (cicatrização). As setas mostram restos de cardiomiócitos mortos entre os fagócitos. Necrose por liquefação É aquela em que a região necrosada adquire consistência mole, semifluida ou liquefeita. Comum após anóxia no sistema nervoso, na suprarrenal ou na mucosa gástrica. É causada pela liberação de grande quantidade de enzimas lisossômicas. Em inflamações purulentas, também há necrose por liquefação do tecido inflamado, produzida pela ação de enzimas lisossômicas liberadas por leucócitos exsudados. Necrose lítica Necrose de hepatócitos em hepatites virais, os quais sofrem lise ou esfacelo. Necrose caseosa Macroscopicamente a área necrosada adquire aspecto de massa de queijo. Microscopicamente Transformação das células necróticas em uma massa homogênea, acidofílica, contendo alguns núcleos picnóticos e, principalmente na periferia, núcleos fragmentados (cariorrexe); as células perdem totalmente os seus contornos e os detalhes estruturais. É comum na tuberculose. Necrose caseosa em granuloma da tuberculose. A área de necrose, com aspecto acidófilo e homogêneo,apresenta núcleos picnóticos na periferia. Em granulomas da tuberculose, ocorre, também, apoptose maciça de células inflamatórias. Antes do surgimento de necrose, ocorre aumento da síntese de proteínas pró- apoptóticas e redução de proteínas antiapoptóticas, da parte central para a periferia dos granulomas. Na periferia da região de necrose caseosa, há cariorrexe evidente, achado muito frequente na apoptose. Na parte central da lesão, encontra-se cariólise extensa. Admite-se que, na tuberculose, muitas células iniciam a apoptose e a concluem, enquanto outras iniciam o processo de apoptose, mas evoluem para necrose, evidenciada, especialmente, por cariólise. Necrose gomosa Variedade de necrose por coagulação na qual o tecido necrosado assume aspecto compacto e elástico como borracha (goma), ou fluido e viscoso como a goma-arábica; é encontrada na sífilis tardia (goma sifilítica). Patologia da morte celular VetBia Evolução As células mortas e autolisadas comportam-se como um corpo estranho e desencadeiam respostas do organismo, para promover sua reabsorção e permitir reparo posterior. Regeneração Quando o tecido que sofreu necrose tem capacidade regenerativa, os restos celulares são reabsorvidos por meio da resposta inflamatória que se instala. Fatores de crescimento liberados por células vizinhas e por leucócitos exsudados induzem multiplicação das células parenquimatosas. Se o estroma é pouco alterado, há regeneração completa. *É o que ocorre no fígado, por exemplo, se as áreas de necrose são pequenas, conservando a malha de fibras reticulares. Se a necrose é extensa, a trama reticular sofre colapso, e, embora regenerados, os hepatócitos não conseguem organizar-se no lóbulo hepático e tendem a formar nódulos que distorcem a arquitetura do órgão. Necrose seguida de regeneração. A. A região de necrose (n), mais acidófila e já infiltrada por células fagocitárias, apresenta picnose e cariólise de hepatócitos. VC = veia centrolobular; EP = espaço portal. B. Detalhe de A, mostrando hepatócitos em mitose (setas brancas), outros com cariomegalia, devido a poliploidia (setas amarelas), e outro binucleado (seta vermelha), indicando fenômenos de regeneração. Cicatrização Tecido necrosado é substituído por tecido conjuntivo cicatricial. A cicatrização ocorre tipicamente quando a lesão é extensa e, sobretudo, se as células afetadas não têm capacidade regenerativa. Aspectos de reparação em caso de necrose isquêmica do miocárdio. A. Área de neoformação de tecido conjuntivo cicatricial. Notar a grande celularidade na região, em que células inflamatórias misturam-se a fibroblastos e células endoteliais. No canto superior esquerdo, existem cardiomiócitos mortos, mas ainda não fagocitados. B. Cicatriz completa, recente, substituindo área de necrose isquêmica. Eliminação Se a zona de necrose atinge a parede de uma estrutura canalicular que se comunica com o meio externo, o material necrosado é lançado nessa estrutura e daí eliminado, originando uma cavidade. Esse fenômeno é comum na tuberculose pulmonar, em que o material caseoso é eliminado pelos brônquios, o que forma as chamadas cavernas tuberculosas. Calcificação Certos tipos de necrose tendem frequentemente à calcificação, como a necrose caseosa. Embora os níveis de Ca ++ se elevem muito em tecidos mortos, os mecanismos que regulam a calcificação nesses locais não são ainda totalmente conhecidos. Gangrena É uma forma de evolução de necrose que resulta da ação de agentes externos sobre o tecido necrosado. A desidratação da região Patologia da morte celular VetBia atingida, especialmente quando em contato com o ar, origina a gangrena seca, tomando a área lesada aspecto de pergaminho, semelhante ao observado em tecidos de múmias (o processo é também conhecido pelo nome de mumificação). A gangrena seca ocorre, preferencialmente, nas extremidades de dedos, de artelhos e da ponta do nariz, na maioria das vezes em consequência de lesões vasculares como as que ocorrem no diabetes melito. A zona de gangrena seca tem cor escura, azulada ou negra, devido à impregnação por pigmentos derivados da hemoglobina, sendo comum a existência de uma linha nítida (reação inflamatória) no limite entre o tecido morto e o não lesado; Gangrena úmida ou pútrida resulta de invasão da área necrosada por microrganismos anaeróbios produtores de enzimas que tendem a liquefazer os tecidos mortos e a produzir gases de odor fétido que se acumulam em bolhas juntamente com o material liquefeito. Esse tipo de gangrena é comum em necroses do tubo digestivo, dos pulmões e da pele, nos quais as condições de umidade favorecem. A absorção de produtos tóxicos da gangrena pode provocar reações sistêmicas fatais, induzindo choque do tipo séptico; A gangrena gasosa é secundária à contaminação do tecido necrosado com microrganismos do gênero Clostridium que produzem enzimas proteolíticas e lipolíticas e grande quantidade de gás, formando bolhas gasosas. Apoptose Inicialmente conhecida como morte celular programada, é a lesão em que a célula é estimulada a acionar mecanismos que culminam com a sua morte. Diferentemente da necrose, a célula em apoptose não sofre autólise nem ruptura da membrana citoplasmática; ao contrário, a célula morta é fragmentada, e os seus fragmentos ficam envolvidos pela membrana citoplasmática e são endocitados por células vizinhas, sem desencadear quimiotaxia nem ativação de células fagocitárias (a apoptose não induz inflamação). Em condições normais, é um mecanismo importante na remodelação de órgãos durante a embriogênese e na vida pós-natal. Além disso, participa no controle da proliferação e diferenciação celulares, fazendo com que uma célula estimulada a se diferenciar possa ser eliminada após ter cumprido sua função, sem causar distúrbio para as demais células do tecido ou órgão. Um bom exemplo é o das glândulas mamárias: terminada a fase de lactação, as células dos ácinos que proliferaram e secretaram leite entram em apoptose, restando apenas as células dos ductos mamários. ! a manutenção do número de células em um tecido ou órgão é feita pelo controle dos mecanismos de proliferação (mitose) e de apoptose. Quando ocorre distúrbio da proliferação celular, como no câncer, pode haver não só proliferação descontrolada como também redução na capacidade das células proliferadas de sofrer apoptose. A apoptose afeta células individualmente A célula encolhe-se e o citoplasma fica mais denso; há redução do volume celular, por eliminação de eletrólitos e água através de canais específicos, incluindo aquaporinas; a cromatina torna-se condensada e disposta em grumos junto à membrana nuclear, criando imagens descritas ao ML como núcleos em meia-lua, em pata de cavalo, em lança e em naveta. Em seguida, o núcleo se fragmenta (cariorrexe), ao mesmo tempo em que a membrana citoplasmática emite projeções e forma brotamentos que contêm fragmentos do núcleo. O brotamento termina com a fragmentação da célula em múltiplos brotos, que passam a constituir os corpos apoptóticos, os quais são endocitados por células vizinhas ou permanecem livres no interstício (o que é muito pouco frequente). Muitas vezes, a célula apoptótica sofre apenas encolhimento e Patologia da morte celular VetBia condensação do citoplasma e do núcleo, sem fragmentar-se, como acontece em queratinócitos em casos de queimadura solar. Necrose e apoptose em carcinoma hepatocelular. Observa-se área de necrose por anóxia (por causa da vascularização inadequada do tumor) à direita na figura. As células tumorais apresentam cariólise e citoplasma acidófilo; algumas têm núcleos picnóticos (setaspretas). As setas amarelas indicam células tumorais em apoptose, formando corpos apoptóticos com fragmentos de núcleos e citoplasma acidófilo (a área ampliada mostra em detalhes a morfologia dos corpos apoptóticos). Na coloração por hematoxilina e eosina, os corpos apoptóticos aparecem como pequenos corpúsculos intensamente basófilos, quando contêm grande fragmento nuclear, ou fortemente acidófilos, quando formados apenas por fragmento de citoplasma condensado. Patogênese A apoptose resulta sempre da ativação sequencial de proteases (sobretudo, caspases), que são responsáveis pelas alterações morfológicas características da lesão. A ativação de caspases, que é o evento-chave no processo, pode ocorrer por: (a) mecanismos extrínsecos, dependentes de estímulos externos que são reconhecidos e propagados por receptores da membrana citoplasmática que possuem domínios de morte (apoptose extrínseca); (b) mecanismos intrínsecos, que aumentam a permeabilidade mitocondrial, com liberação no citosol de moléculas que induzem o processo (apoptose intrínseca); (c) agentes que atuam diretamente na membrana citoplasmática, mas sem o envolvimento de receptores com domínio de morte. ! Caspases: enzimas que possuem cisteína no sítio ativo e que clivam proteínas em sítios com resíduos de ácido aspártico. Caspases são produzidas como pró-caspases e ativadas pelo desligamento de uma molécula inibidora ou por clivagem proteolítica em sítios com ácido aspártico. As caspases envolvidas na apoptose podem ser ativadoras (caspases 8, 9 e 10) ou efetoras (caspases 3, 6 e 7). As caspases ativadoras fazem proteólise das caspases 3, 6 e 7, que, por sua vez, ativam outras proteases que degradam diferentes substratos da célula, como DNA, laminas nucleares, PARP (poly [ADP- ribose] polymerase) e proteínas do citoesqueleto, do que resultam as modificações morfológicas da apoptose. ! Mitocôndrias: Quando agredidas por inúmeros agentes (lesões no DNA, radicais livres, estresse no RE), sofrem aumento da permeabilidade da membrana mitocondrial externa e liberam no citosol moléculas pró- apoptóticas. 1 citocromo c, que se associa no citosol à APAF 1, formando o complexo denominado apoptossomo (este ativa a caspase 9, iniciando a apoptose); 2 proteína SMAC. No citoplasma, existem inibidores naturais da apoptose da família IAP. No citosol, a SMAC inibe a IAP, permitindo a ativação de caspases; 3 AIF, que ativa a caspase 9 e algumas endonucleases; Patologia da morte celular VetBia Permeabilidade mitocondrial e apoptose. A. A permeabilidade da membrana mitocondrial é regulada por várias moléculas, entre elas a BCL-2 e a BCL-XL. Em condições normais, os poros de permeabilidade não permitem a saída de várias moléculas contidas na matriz mitocondrial. B. Várias agressões estimulam proteínas BAX, que interagem com as moléculas BCL-2 e BCL-XL, promovendo abertura dos poros de permeabilidade mitocondrial. Com isso, ocorre a saída de citocromo c, SMAC, AIF, OMI e endonuclease G, que induzem a apoptose. Papel de mitocôndrias na apoptose. Diversas agressões aumentam a permeabilidade mitocondrial, o que permite a saída para o citosol de moléculas pró-apoptóticas (citocromo c, SMAC, OMI, endonuclease G e AIF). Junto com APAF-1 e ATP, o citocromo c forma o apoptossomo, capaz de ativar caspases. A SMAC inibe a IAP, também permitindo a ativação de caspases. A AIF ativa caspases e endonucleases. A OMI e a endonuclease G ativam endonucleases, induzindo apoptose diretamente, sem ativar caspases. Muitas proteínas citosólicas atuam estimulando ou inibindo a apoptose: *A família BCL, inibidoras (antiapoptóticas) ou ativadoras (pró apoptóticas) da apoptose. As proteínas anti apoptóticas, como BCL-2 e BCL-XL, localizam-se especialmente na membrana mitocondrial externa, onde fazem parte dos poros de permeabilidade transicional; normalmente, tais poros são impermeáveis. Representação esquemática da formação do poro de permeabilidade transitória da mitocôndria. Os principais controladores da permeabilidade mitocondrial são os canais voltagem dependentes (VDAC) na membrana mitocondrial externa (MME). As proteínas BCL-2, BCL-XL estão associadas aos canais e mantêm a sua integridade. Proteínas pró-apoptóticas como BID ou outras do grupo BAX, inativam BCL-2 e induzem aumento da permeabilidade da MME, favorecendo a liberação de fatores pró-apoptóticos contidos na câmara mitocondrial externa. *As proteínas pró-apoptóticas, conhecidas em conjunto como proteínas BAX (BIM, BAD, BID, NOXA, entre outras), têm um domínio de dimerização BH3 que as liga a proteínas antiapoptóticas (BCL-2 e BCL-XL). Quando ocorre tal ligação, os poros da membrana mitocondrial externa se abrem, permitindo a saída de citocromo c, SMAC e AIF, que ativam caspases no citosol; *As proteínas IAP inibem as caspases 3, 7 e 9. A caspase 9 fica normalmente inibida pela IAP; sem esta, ela se torna ativa e desencadeia os passos seguintes do processo. Algumas IAP são expressas em grande quantidade em células Patologia da morte celular VetBia cancerosas, sendo esse um dos motivos que facilitam a sobrevivência dessas células; *As proteínas BAD, BIM, BID, Puma e Noxa atuam como sensores de agressão celular; quando estimuladas, regulam a ação das proteínas pró e antiapoptóticas; *A proteína p53 atua na manutenção da integridade do genoma e na sobrevivência das células, esta mediante ação pró-apoptótica. Quando o genoma é agredido por agentes diversos, a célula aumenta a síntese de p53, a qual induz a parada do ciclo celular. Atuação da p53 na manutenção da integridade do genoma. Durante esse tempo, entram em ação genes de reparo do DNA; se o reparo é eficaz, a célula prossegue em sua atividade normal. Caso o defeito não seja corrigido, são ativados genes pró- apoptóticos (p. ex., BAX), e a célula é estimulada a entrar em apoptose. A p53, portanto, cumpre papel essencial na manutenção da integridade celular, mediante indução de mecanismos de reparo ou, quando necessário, de morte celular. Principais tipos e causas de apoptose Apoptose extrínseca por estímulos em receptores que têm domínios de morte Os receptores com domínio de morte pertencem à família do receptor do TNF (TNFR). Os mais conhecidos são o TNFR1 e a proteína Fas. Quando ativados pelos agonistas (o do Fas é o FasL = ligante do Fas), tais receptores sofrem dimerização ou trimerização e alterações conformacionais nos domínios intracitoplasmáticos, o que expõe domínios de morte que recrutam proteínas para formar uma plataforma molecular que ativa a caspase 8 ou 10 (FasL existe em linfócitos T que reconhecem autoantígenos e em linfócitos T citotóxicos que matam células tumorais ou infectadas por vírus). A caspase 8 ativa induz apoptose por duas vias: (1) ativa diretamente as caspases efetoras 3, 6 e 7, responsáveis pelo aumento da atividade das proteases que completam o processo, independentemente da participação de mitocôndrias (isso ocorre frequentemente em linfócitos); (2) cliva a BID, originando um fragmento que se liga às proteínas BCL-2 e BCL-XL, resultando em aumento da permeabilidade mitocondrial que favorece a saída de citocromo c, AIF, SMAC, EndoG e OMI. O citocromo c associa-se ao APAF-1, na presença de ATP, e forma o apoptossomo, ativador da caspase 9, que ativa as caspases efetoras 3, 6 e 7. Portanto, a ativação da caspase 8 aciona, também, o mecanismo mitocondrial de indução de apoptose, o que ocorre com frequência em células epiteliais. A apoptose por esse mecanismo está envolvida na eliminação de linfócitos que reconhecem autoantígenos, podendo estar deficiente em doenças autoimunes. Apoptosepor ativação de receptores com domínio de morte. Quando a molécula FasL liga-se ao seu Patologia da morte celular VetBia receptor (Fas, este dimeriza-se e sofre alteração conformacional que expõe o domínio de morte (DD). O DD ligase a uma proteína efetuadora (DED), que se liga por meio de domínios CARD a caspases, ativando-as. Caspases ativadas induzem apoptose diretamente, além de ativarem a molécula BID, originando um fragmento que se liga às proteínas BCL-2 e BCL-XL, aumentando a permeabilidade mitocondrial que permite a saída de moléculas pró-apoptóticas. Apoptose intrínseca por agressão à membrana mitocondrial Em inúmeras situações, a membrana mitocondrial pode tornar-se permeável a moléculas existentes no espaço intermembranoso. Tal situação ocorre por: (1) ação de substâncias que interferem na integridade da camada lipídica (p. ex., hipóxia, radicais livres, aumento de Ca ++, ácidos biliares apolares, ésteres de etanol com ácidos graxos e alguns medicamentos quimioterápicos); (2) agressão ao DNA (p. ex., radiações ionizantes, luz ultravioleta, radicais livres, agentes genotóxicos etc.); (3) estresse do retículo endoplasmático. Nessas situações, sensores especiais captam os sinais de perigo e ativam BAX, criando poros na membrana mitocondrial que permitem a saída de moléculas ativadoras de caspases (citocromo c, SMAC e AIF). Apoptose intrínseca independente de caspase Alteração na permeabilidade da membrana mitocondrial externa libera OMI, Endo G e AIF. Endo G e AIF são translocados para o núcleo, onde induzem condensação da cromatina (AIF) e fragmentação do DNA (Endo G), mas sem fragmentação do núcleo. A célula morre, com volume reduzido, núcleo condensado e cromatina agrupada na membrana nuclear, mas sem cariorrexe; trata- se de morte celular em parte semelhante morfologicamente a apoptose, mas feita sem ativação de caspases. Apoptose por outros estímulos na membrana citoplasmática Radicais livres e radiações podem provocar apoptose quando atuam na membrana citoplasmática e ativam a esfingomielinase, que libera ceramida. Esta induz apoptose por: (a) inativação de inibidores das caspases 8 e 9, ativando-as; (b) ativação de p38 e JNK, que ativam fatores de transcrição de genes BCL pró-apoptóticos. Mecanismos das alterações morfológicas Na apoptose ocorrem alterações em membranas, no citoplasma e no núcleo. Por ativação de fosfolipases e esfingomielinase, a membrana citoplasmática sofre mudanças na sua fluidez, por modificações na síntese e na degradação de lipídeos. Se uma agressão leva à desorganização dos pontos de adesão, esse pode ser o estímulo para se iniciar a apoptose. A retração do citoplasma, que se torna mais denso, deve-se à eliminação de água e à reorganização do citoesqueleto. As alterações nucleares, incluindo picnose e cariorrexe, dependem das caspases 3 e 7, que ativam proteases que degradam proteínas nucleares. Na apoptose ocorrem alterações em membranas, no citoplasma e no núcleo. Por ativação de fosfolipases e esfingomielinase, a membrana citoplasmática sofre mudanças na sua fluidez, por modificações na síntese e na degradação de lipídeos. Patologia da morte celular VetBia A apoptose tem enorme importância no estudo e no conhecimento das doenças. Além de constituir lesão frequente em muitas enfermidades, a apoptose (ou a sua falta) está na base de alguns processos patológicos. Ela tem sido considerada a lesão básica de algumas doenças neurodegenerativas, pois é responsável pela perda de células suficiente para provocar danos funcionais. Por outro lado, redução da apoptose parece fator importante na progressão de neoplasias e em algumas, como linfomas de células B.
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