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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR GUARULHOS – SP SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 2 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ................................................... 4 3 A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ...................................................................... 10 3.1 Objetivos e as competências da educação física escolar ................................... 13 3.2 A importância da Educação Física Escolar ......................................................... 16 3.3 A educação física no contexto escolar ................................................................ 22 3.4 O conteúdo da educação física escolar .............................................................. 26 3.5 Educação física escolar: o que ensinar hoje em dia? ......................................... 29 4 PLANEJAMENTO DE CURTO PRAZO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR .... 34 4.1 O planejamento de curto prazo ........................................................................... 34 4.2 Planos de aulas .................................................................................................. 35 4.3 Unidades didáticas .............................................................................................. 36 4.4 Plano de aula ...................................................................................................... 37 5 VANTAGENS E BENEFÍCIOS DE UMA BOA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA .................................................................................................................... 42 5.1 Educação Física Escolar – Expectativas e Importância ...................................... 43 5.2 Promovendo Saúde Através da Educação Física ............................................... 44 5.3 A Importância da Educação Física na Socialização ........................................... 44 6 INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA .................................................................. 46 6.1 Educação inclusiva ............................................................................................. 46 6.2 Objetivos da Educação Inclusiva ........................................................................ 48 6.3 Educação Física Inclusiva ................................................................................... 51 6.4 Educação Física: Adaptada ou Inclusiva ............................................................ 54 6.5 Melhores Atividades Físicas Para Inclusão ......................................................... 55 6.6 As Dificuldades da Educação Física Adaptada ................................................... 55 6.6.1 Modalidades Esportivas Adaptadas ao Deficiente Físico ............................... 57 6.7 O Papel do Educador Físico ............................................................................... 59 6.8 Como Planejar Uma Aula Adaptada ................................................................... 61 7 DESVALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ................................. 64 8 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 68 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Segundo o estudo de Arantes (2008), o Brasil foi descoberto por Portugal em 1500, e a primeira modalidade de educação que existiu no Brasil foi a jesuíta, a qual não previa nada relacionado à Educação Física, exceto por atividades físicas desenvolvidas em horas livres como forma de recreação, tais quais: o arco e flecha e a peteca. “O arco e flecha, natação, luta, caça, pesca, montaria, canoagem e corridas faziam parte do seu dia a dia. Tudo leva a crer que a primeira prática esportiva introduzida no Brasil foi o remo (1566) ” (OLIVEIRA, 2004, p. 23). Conclui-se que, neste período colonial, as únicas atividades desenvolvidas que faziam menção à Educação Física eram de cunho recreativos ou como forma de sobrevivência natural do homem. Fonte de: www.travinha.com.br Em 1824, com a Constituição do Império, é possível verificar alguns avanços na área da educação, porém pouco relacionado com a prática da Educação Física como disciplina e pouco preocupada com a formação de seus docentes. Ainda segundo relatos de Arantes (2008), em 1841, a Educação Física Escolar começa a ser praticada com exercícios voltados para o âmbito militar, com o nome de Gymnastica e ministrada por “professores” com patente militar. Dez anos depois, em 1851, são consideradas obrigatórias as práticas das atividades de Gymnastica nas primeiras escolas primárias do Rio de Janeiro. O Capitão Ataliba Fernandes, mestre de Gymnastica foi um dos principais idealizadores sobre a inclusão e o desenvolvimento da Gymnastica nas escolas da época. Sobre a Metodologia desta nova disciplina: a Gymnastica é possível afirmar 5 de que a ideia era construir um equipamento multifuncional, uma espécie de estação, na qual poderiam ser desenvolvidos diferentes exercícios simultaneamente por vários indivíduos No que tange ao "método" e ao conteúdo de ensino a discussão se desenrola de forma diversa. O proponente informa que o ensino da ginástica se daria através de exercícios de corpo livre e de exercícios dependentes do aparelho e acessórios. Em ambos, seriam aplicáveis exercícios de flexibilidade, equilíbrios, lutas, forças, saltos e, ainda, exercícios, de natação, de volteios e militares. Para tanto, precisaria de um aparelho específico, um pórtico, no qual se poderia adaptar barras fixa, argolas, trapézio, escada de cordas, paus e cabos volantes, barras paralelas, escadas de madeiras, graduador de saltos, além de pesos, cordas, cabos tamboretes e um último acessório que não foi possível identificar. O Cap. Ataliba se oferecia para confeccionar e restaurar aparelhos existentes em alguns colégios particulares (PAIVA, 2001, p. 122). Esta metodologia não foi aceita pelos diretores da época por acreditarem que os espaços físicos não suportariam um aparelho tão grande. A época então é marcada pela divergência entre ideias mais agressivas e preconceituosas do Capitão Ataliba e a proposta de mudanças sobre o ensino da disciplina, proposta pelos diretores. Talvez a ideia mais relevante do capitão Ataliba tenha sido sobre a formação docente, ao afirmar que seja qual foi o método para incluir a disciplina dentro do ambiente escolar, a mesma não pode ser ministrada por qualquer pessoa, sendo de fundamental importância a colocação de um profissional habilitado para tal prática. “Apesar dos esforços para a implantação da Educação Física nas escolas, o período imperial não proporcionou estímulos pedagógicos significativospara o exercício físico” (OLIVEIRA, 2004, p. 24). Este período foi importante para a Educação Física Escolar Brasileira, pois foi o passo inicial para o pensamento da Educação Física como algo importante a ser inserido no cotidiano humano. Capitão Ataliba possui o seu papel fundamental neste contexto, por ser um dos precursores deste processo, mesmo que suas ideias fossem, talvez, militares ou preconceituosas demais, foram essenciais para que algum pensamento fosse desenvolvido a esse respeito. Rui Barbosa é considerado um dos principais pensadores e contribuinte para a Educação brasileira e foi um dos pioneiros ao pensar na Educação Física como algo essencial à criança e ao seu corpo. “Embora não julgasse merecer um lugar de destaque no setor educacional, a intelectualidade brasileira já demonstrava preocupação com a Educação Física. A 6 maior dessas manifestações aconteceu por intermédio de Rui Barbosa” (OLIVEIRA, 2004, p. 25). A introdução da educação física foi apresentada como uma inovação relevante. A satisfação da vida física era a primeira necessidade da infância, justificando, assim, a importância fundamental da ginástica num plano de estudos que postulava a inseparabilidade do espírito e do corpo (SOUZA, 2000, p. 16). Souza (2000) embasa seu estudo em Rui Barbosa, o paladino da Educação, e disserta sobre a função da Educação Física ao ser introduzida nos programas de educação de diferentes países. De acordo com Rui, a educação física havia sido introduzida nos programas de ensino de vários países tendo em vista sua função moralizadora, higiênica e patriótica. O substitutivo destaca as finalidades morais e sociais da ginástica: agente de prevenção dos hábitos perigosos da infância, meio de constituição de corpos saudáveis, fortes e vigorosos, instrumento contra a degeneração da raça, ação disciplinar moralizadora dos hábitos e costumes responsável pelo cultivo dos valores cívicos e patrióticos imprescindíveis à defesa da pátria (SOUZA, 2000, p. 16). Para Oliveira (2004) as recomendações de Rui Barbosa para as aulas de Educação Física pareciam fantasiosas demais para época, uma verdadeira utopia, pois os professores da disciplina usavam trajes sociais e ministravam suas aulas dentro das salas de aulas. Ideias condizentes com o perfil de Rui Barbosa, por ser um visionário para época. Tais ideias eram difíceis de ser entendidas e faziam menções quanto à obrigatoriedade da disciplina de Educação Física no Jardim de Infância e escolas primárias e secundárias em horários de aulas regulares com, no mínimo, 30 minutos de duração e com frequência de quatro dias semanais e ministradas por professores com reconhecimento europeu e reconhecidos dentro da instituição como os demais docentes, embasadas na distinção de gêneros, sendo a calistenia ofertada para as meninas e a ginástica sueca para os meninos. Rui Barbosa também defendia a ideia de que as escolas possuíssem uma espécie de central de emergência a fim de capacitar professores regulares para o ensino da ginástica. 7 Fonte de: www.caetanistas78.blogspot.com Rui Barbosa foi sim um personagem fundamental para a evolução nos processos educacionais no Brasil e, por consequência, é um dos protagonistas na história da Educação Física Escolar no país. Suas ideias, apesar de revolucionárias para a época, representaram a base do pensamento para a atual forma de educação. A transição de século representou a transição do pensamento também, pois primeiramente, acreditava-se em uma Educação Física com propósitos limitados e a partir dessa mudança, foi possível verificar uma preocupação maior com o desenvolvimento da disciplina. Após a Abolição e a Proclamação da República, as expectativas da vida na sociedade brasileira estavam alteradas: a afluência de jovens aos grandes centros, a iminência de sedentarização provocada pela revolução nos meios de transporte e a influência da imigração fomentada após a Abolição precipitaram impulsos decisivos em relação a uma preocupação mais sistemática com a Educação Física (OLIVEIRA, 2004, p. 25) Os esportes começaram a chegar com intensidade no país e a serem praticados pela população nacional. Em 1921, a ginástica alemã foi abolida e foi adotado, então, o “Regulamento de Instrução Física Militar”, o qual fazia referência a ginástica natural francesa e foi considerado o manual a ser seguido por todos. O novo método foi trazido por militares franceses é estendido à área escola. Foi difundido e começaram a ser criados os primeiros centros de Educação Física do país, com o intuito de formar professores, sendo permitida, em um primeiro momento, apenas militares e, posteriormente, a matrícula de civis. 8 No final dos anos trinta, surge a Escola Nacional de Educação Física e Desportos, integrada à Universidade do Brasil (atual UFRJ). Entre os diversos cursos de formação de professores que surgiram nessa época foi, inegavelmente, o mais importante (OLIVEIRA, 2004, p. 26). O método francês manteve-se incontestável até a década de 50, quando pensadores vindos de fora do país começaram um movimento de reflexão para a Educação Física brasileira. Somente em 1961 foi criada a primeira Lei de Diretrizes Básicas (LDB), a qual divida o sistema educacional em primário ginásio, colegial e ensino técnico. Referente à Educação Física primária, a nova lei tratava a recreação como objetivo primordial para obtenção de melhorias no corpo e desenvolvimento global dos alunos. A Educação Física para a juventude ensinava a ginástica formativa e fundamentos dos jogos coletivos. Após dez anos da publicação da primeira LDB, foi criada a segunda LDB, a qual separava o sistema de outra forma, isto é, em graus, sendo o primeiro grau composto por oito séries, antigo primário e ginásio, cumprindo um núcleo comum e uma parte diversificada. A Educação Física, juntamente com Educação Artística e Inglês, passou a ser considerada atividade e não disciplina, com possibilidade de reprova do aluno apenas por faltas excessivas. O programa para Educação Física foi composto por atividades que pretendiam promover um desenvolvimento harmonioso do corpo e do espírito. Segundo Arantes (2008), foi apenas doze anos depois que foram oferecidos aos profissionais de Educação Física, os subsídios necessários para a criação da Proposta Curricular de Educação Física para a pré-escola, com conteúdo condizente com as faixas etárias e fundamentais para o desenvolvimento motor das crianças. Este processo de intensa discussão acerca dos conteúdos escolares terminou em 1992 com a publicação do modelo final das Propostas Curriculares para o 1º e 2º. Graus para todas as Disciplinas e Atividades coordenadas pela CENP. Quanto ao Curso de Habilitação Específica para o Magistério HEM (antigo Curso Normal), além das disciplinas já implementadas, haviam as denominadas Instrumentais; as de Metodologias das diferentes Disciplinas ou Atividades a serem ensinadas aos alunos da escolarização até 4ª. série do 1º. Grau. As aulas de Metodologia da Educação Física estavam previstas no documento demonstrando que seu conteúdo merecia ser estudado (ARANTES, 2008, p. 1). O currículo vigente até hoje é baseado na terceira LDB e encontra-se completo, desde o Ensino Infantil até o Ensino Superior, devendo suprir as necessidades dos 9 alunos, independentemente da sua faixa etária ou das condições em que se encontram, promovendo o desenvolvimento global dos mesmos. É componente curricular da educação básica e deve estar integrado na proposta pedagógica da escola. Fonte de: www.praticasdesucessoemeducacaofisica.blogspot.com A realidade é que a Educação Física evoluiu muito durante todos estes anos e conseguiu conquistar o seu espaço dentro da escola e perante à sociedade, cabendo aos profissionais da área, um desenvolvimento maior ainda a fim de obter oavanço da disciplina. Antigamente, as ideias começaram a ser formuladas com conceitos fracos, devido à falta de recursos que os profissionais possuíam e ao próprio contexto histórico ao qual estavam inseridos, porém hoje em dia tudo pode ser diferente, o mundo evoluiu e as informações estão disponíveis a todos para serem utilizadas da melhor maneira possível, necessitando apenas um pouco de esforço e boa vontade. Hoje, possuímos muitas linhas ou abordagens filosóficas; cinesiológica, motricidade humana, cultura corporal do movimento, aptidão física, tradicional, desenvolvimentista, sócio construtivista, sócio interacionista e a ligada ao meio ambiente. Demos um passo gigantesco se comparamos ao Capitão Ataliba e aos idos do século XIX (ARANTES, 2008, p. 1). É notório o avanço da disciplina e o respeito adquirido dentro das instituições de ensino, a Educação Física é tratada como uma disciplina com autonomia, semelhante as demais, de fundamental importância para o desenvolvimento do aluno, no que diz respeito ao aspecto físico, social e cognitivo. 10 3 A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A escola contemporânea tem suas origens no modelo de educação europeu. De acordo com Áries (1978), a escola, na Idade Média (século XII), era reservada a um pequeno número de clérigos e misturava alunos de diferentes idades, que compartilhavam um espírito de liberdade de costumes. A partir do século XV, essas comunidades democráticas passaram a acolher populações cada vez maiores e passaram a ser submetidas a hierarquias autoritárias e regras rígidas de disciplina, elementos que marcam a passagem da escola medieval para o colégio moderno. A escola foi se tornando um meio de adestrar as crianças, além de isolá-las cada vez mais do mundo dos adultos, em um período de formação moral e intelectual. Ela passou a adquirir um valor intrínseco, tornando-se condição imprescindível para a boa educação e ganhando um papel na educação da infância e da juventude em geral, tornando-se uma instituição essencial da sociedade europeia (ÁRIES, 1978). Essa instituição, “elegida” pelas sociedades europeias em meados do século XV como espaço responsável pela educação das crianças, tem ocupado, ao longo dos anos, distintos papéis, que vêm se transformando desde seu surgimento, em virtude das transformações apresentadas pela sociedade como um todo (ANTUNES, 2018). Fonte de: blogeducacaofisica.com.br Os primórdios da educação física escolar são associados pelo Coletivo de Autores (2009) às práticas corporais realizadas nas escolas europeias no final do século XVIII, que surgiam das necessidades concretas dessas sociedades. Vale 11 lembrar que, nesse momento histórico, no contexto do continente europeu, formavam- se os estados nacionais e a burguesia, como classe social decorrente da Revolução Industrial. Assim, os primórdios da educação física na escola foram marcados por ideias nacionalistas, de fortalecimento e defesa dos estados nacionais, e higienistas, visando à disciplina, à limpeza e à organização social e, por meio disso, à saúde dos indivíduos e comunidades. A produção de corpos fortes e saudáveis era condição fundamental para a defesa da pátria, o desenvolvimento do trabalho nas fábricas e o estabelecimento do sistema econômico capitalista que se desenvolvia. Nesse período, pensadores como Guths Muths, Basedow, Rousseau e Pestalozzi defendiam a inclusão de exercícios físicos nos currículos escolares. Esse movimento se deu especialmente a partir do desenvolvimento de métodos ginásticos, como a ginástica alemã ou sueca. Esses autores tiveram o mérito de aliar ao desenvolvimento da ginástica ou educação física na escola a garantia de um espaço de respeito e consideração da área perante os demais componentes curriculares. Dessa maneira, a educação física ministrada na escola começou a ser vista como importante instrumento de aprimoramento físico dos indivíduos, que, "fortalecidos" pelo exercício físico, que em si gera saúde, estariam mais aptos para contribuir com a grandeza da indústria nascente, dos exércitos, assim como com a prosperidade da pátria (COLETIVO DE AUTORES, 2009, p. 35). Nesse momento histórico (sécs. XVIII e XIX), desenvolveu-se também o Iluminismo, e a ciência passou a ganhar espaço nas sociedades europeias, até então dominadas pelo pensamento religioso. Diversos conhecimentos foram sendo disseminados na área das ciências biológicas, como a teoria da evolução de Darwin, que demonstrava a existência dos germes, entre outras questões que, para a época, foram revolucionárias. Assim, a educação física passou a ser valorizada como meio para o desenvolvimento da saúde física e como ferramenta para o desenvolvimento moral. No Brasil, no final do século XIX, a inserção de práticas que envolvessem esforço físico no ensino das classes dominantes recebeu forte resistência, uma vez que o trabalho corporal era associado aos escravos negros. Assim, ainda que houvesse apoio do governo imperial e de parte da elite intelectual, havia forte resistência da aristocracia brasileira. Foi a Reforma Couto Ferraz, em 1851, que tornou obrigatória a educação física nas escolas do município da Corte, conforme apontam Simões et al. (2010). 12 Nesse período, a educação física, além de ter uma perspectiva higienista, de manutenção da saúde e de corpos fortes, sofria também influência do pensamento eugenista, de “pureza da raça branca”, orientado especialmente para a esterilização de deficientes, a realização de exames pré-nupciais e a proibição de casamentos consanguíneos e da “mistura” entre brancos e negros (BRASIL, 1997). Em geral, os professores que desenvolviam as aulas de ginástica nas escolas eram militares, que traziam para o contexto escolar a disciplina e o respeito à hierarquia contidos nessa instituição. Apenas em 1939 foi criada a primeira escola civil de formação de professores de educação física (COLETIVO DE AUTORES, 2009). Simões et al. (2010) apontam que o período do Estado Novo foi o auge da militarização na escola. Após a Segunda Guerra Mundial, novos sentidos começaram a ser atribuídos à educação física escolar. Com a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 20 de dezembro de 1961, a educação física passou a ser disciplina obrigatória nos ensinos primário e médio (BRASIL, 1997). O Coletivo de Autores (2009) aponta que, nesse período, passou a ganhar força a esportivização na escola brasileira, perspectiva que ganhou ênfase no Brasil durante o Regime Militar. O esporte determina dessa forma, o conteúdo de ensino da Educação Física, estabelecendo também novas relações entre professor e aluno, que passam da relação professor-instrutor e aluno-recruta para a de professor-treinador e aluno-atleta. Não há diferença entre o professor e o treinador, pois os professores são contratados pelo seu desempenho na atividade desportiva (COLETIVO DE AUTORES, 2009, p. 37). Nesse contexto histórico, as olimpíadas ganharam destaque e influenciaram a cultura e a política, em um cenário de disputa entre os países envolvidos na Guerra Fria, em especial, Estados Unidos e União Soviética. Além disso, o Brasil foi campeão da Copa do Mundo em 1958, 1962 e 1970, elemento usado como propaganda política e incentivo ao esporte. Nesse período, o esporte foi aproximado ao nacionalismo, e a atividade física passou a ser vista como meio para aprimorar a técnica e desenvolver a força física, cívica, psíquica e social dos alunos. Essa concepção vinha atrelada à ideologia do governo militar, de nacionalismo, integração e segurança nacional. Na década de 1980, esses pressupostos passaram a ser contestados, gerando uma crise de identidade na educação física escolar. Inicialmente, ganhou força a perspectiva que ligava a educação física ao desenvolvimento psicomotor dos 13 educandos, o que levou a uma maiorênfase ao ensino das práticas corporais na pré- escola e da primeira à quarta série (BRASIL, 1997). Nesse período histórico, houve também a criação dos primeiros cursos de pós-graduação e a ampliação das publicações na área. As relações entre a educação física e a sociedade passaram a ganhar maior visibilidade, em especial orientadas pelas perspectivas críticas da educação, tendo como um dos principais expoentes a publicação do Coletivo de Autores, em 1992, intitulada Metodologia do Ensino da Educação Física. Ocorreu então uma mudança de enfoque, tanto no que dizia respeito à natureza da área quanto no que se referia aos seus objetivos, conteúdo e pressupostos pedagógicos de ensino e aprendizagem. No primeiro aspecto, se ampliou a visão de uma área biológica, reavaliaram-se e enfatizaram-se as dimensões psicológicas, sociais, cognitivas e afetivas, concebendo o aluno como ser humano integral. No segundo, se abarcaram objetivos educacionais mais amplos (não apenas voltados para a formação de um físico que pudesse sustentar a atividade intelectual), conteúdos diversificados (não só exercícios e esportes) e pressupostos pedagógicos mais humanos (e não apenas adestramento) (BRASIL,1997, documento on-line). No momento atual, há uma pluralidade de linhas que integram a educação física escolar, oriundas desses movimentos históricos apresentados. A principal concepção que prevalece da educação física é concebê-la a partir do prisma da cultura corporal do movimento humano, ou seja, compreender que as práticas corporais são fenômenos culturais, criados historicamente pela humanidade, com diferentes sentidos e significados. “Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar” (BRASIL, 1997, documento on-line). 3.1 Objetivos e as competências da educação física escolar Inicialmente (sécs. XVIII e XIV), a ginástica foi adotada para incentivar os trabalhadores das fábricas a manterem seus corpos saudáveis, com base em uma perspectiva higienista e com um forte caráter militar, uma vez que muitos dos instrutores eram formados em academias do exército. Durante o governo militar, o esporte passou a ganhar espaço em relação à ginástica, mas ainda com uma perspectiva nacionalista de desenvolvimento físico e moral. Na década de 1980, 14 novos horizontes se abriram, ganhando espaço as perspectivas do desenvolvimento motor e das críticas à sociedade capitalista e à prática da educação física como mero treinamento. Quando a educação física passou a ser concebida como campo da cultura corporal do movimento humano, novos objetivos passaram a ser concebidos, como o foco de seu ensino na escola. Esses elementos estão compilados nos documentos que orientam a educação escolar brasileira, como nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) e, mais recentemente, na BNCC (BRASIL, 2017). Há três esferas fundamentais no que diz respeito ao desenvolvimento de aprendizagens e competências, que são as dimensões procedimental, conceitual e atitudinal. A dimensão procedimental diz respeito a saber fazer, o que envolve a tomada de decisões e a habilidade de executar determinado gesto ou participar de um jogo ou esporte, por exemplo. A esfera conceitual se refere a conhecer conceitos, significados, símbolos, processos históricos — enfim, refere-se aos aprendizados intelectuais que giram em torno de determinado conteúdo. E, por fim, a dimensão atitudinal diz respeito a ações, valores e normas ligadas às relações humanas. Esses três elementos são sintetizados na educação física escolar em competências que os alunos devem desenvolver, que estão descritas a seguir. Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais. Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas. Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes. 15 Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam. Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer e ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde. Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. Essas competências estão alinhadas com a ideia de desenvolvimento pleno dos indivíduos, presente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e na Constituição Federal (BRASIL, 1988; 1996). Com isso, as práticas corporais são associadas a uma ampla gama de elementos, que visam ao desenvolvimento de aspectos afetivos, sociais, psicológicos, culturais e biológicos dos educandos, para o pleno exercício da vida, da cidadania e do trabalho. A Educação Física tem como objetivo também aguçar nos estudantes a vontade de se envolverem em exercícios corporais e atividades, construindo convivências harmoniosas com outros cidadãos, sendo capazes de reconhecer e respeitar as características físicas e desempenho de si próprio e de outros indivíduos, não segregando e nem depreciando outras pessoas por qualidades e peculiaridades como aspectos físicos, sexuais e ou sociais. De acordo com a Lei 9.394/96, parágrafo 3º, a educação física escolar está integrada à proposta pedagógica, sendo componente curricular obrigatório da educação básica. 16 3.2 A importância da Educação Física Escolar A Educação Física está se tornando algo indispensável na vida das pessoas, por diferentes aspectos, fato este que contribui para o avanço e a maior importância dada à disciplina dentro do ambiente escolar. São inúmeros os fatores já comprovados de benefício proporcionado pela Educação Física e, por isso mesmo, fica difícil colocá- los em uma escala de importância, mas serão elencados aqui algumas vertentes imprescindíveis quando tratamos do assunto e relacioná-los com os ambientes escolares. Fonte: https://www.estudokids.com.br Promoção de saúde, desenvolvimento de capacidades físicas, motoras, afetivas e cognitivas e inserção social são os aspectos que buscaram descrever a proporção da importância da Educação Física Escolar. Talvez o ponto fundamental quando tratamos sobre a Educação Física esteja voltado para a área da saúde, pois a disciplina ajuda tanto na prevenção de muitos casos, quanto no combate de outros vários diagnósticos. Haja vista a frequência com que as pessoas buscam médicos especialistas e recebem como forma de medicação apenas a instrução para criar o hábito de realizar atividades físicas. “A prática de atividade física pode prevenir o surgimento precoce, atuarno tratamento de diversas doenças metabólicas e interferir positivamente na capacidade funcional de adultos e idosos” (COELHO; BURINI, 2009, p. 945). 17 Partindo do princípio de que é durante a infância que o indivíduo começa a criar hábitos para o resto da vida e sabendo de que, muitas das doenças presentes, seriam inexistentes ou de menor poder de impacto caso o estilo de vida da pessoa tivesse sido melhor no começo da vida, é possível afirmar que a Educação Física deve ocupar um papel relevante durante esta fase do indivíduo. Faixa etária esta que está inserida no período escolar, ou seja, a Educação Física Escolar é de extrema importância para o indivíduo. O objetivo principal da prescrição de atividade física na criança e no adolescente é criar o hábito e o interesse pela atividade física, e não treinar visando desempenho. Dessa forma, deve-se priorizar a inclusão da atividade física no cotidiano e valorizar a educação física escolar que estimule a prática de atividade física para toda a vida, de forma agradável e prazerosa, integrando as crianças e não discriminando os menos aptos (LAZOLLI et al, 1998, p. 108). É importante salientar que a Educação Física escolar deve possuir o fator da inclusão como uma de suas vertentes primordiais, pois o objetivo inicial é criar uma rotina de exercícios, isto é, fazer com que a criança comece a gostar de praticar atividades físicas, portanto qualquer fator de exclusão tornará esse objetivo cada vez mais inalcançável. Nesse contexto, as atividades devem visar a participação de todos e o desenvolvimento do maior número de capacidades possíveis: físicas, motoras ou sociais. Esportes competitivos, brincadeiras de exclusão de participantes ou atividades que privilegiem apenas os melhores devem ser utilizados com cautela ou, muitas das vezes, deixadas de lado, para que todos sintam o bem-estar em participar das aulas. Fonte de: www.blogeducacaofisica.com.br 18 O modelo de vida mudou drasticamente, se comparado com o modelo vigente há algumas décadas atrás. A tecnologia avança a passos largos, a cada minuto que se passa, atraindo cada vez mais jovens. Os parques ou espaços destinados a diversão das crianças encontram-se em péssimo estado de conservação ou sendo substituídos por empreendimentos imobiliários. Está cada vez mais complicado as famílias destinarem um tempo próprio para estarem juntos, brincarem com seus filhos, darem a atenção necessária (LAZOLLI et al, 1998). Pode-se concluir que, diante de tantas dificuldades, muitas das vezes, o único ambiente que o indivíduo possui para desenvolver atividades físicas seja o ambiente escolar, durante as aulas de Educação Física. Compete, portanto, ao profissional de Educação Física Escolar a tarefa de desenvolver neste indivíduo o gosto pela prática de atividades físicas. A sociedade impõe um modelo de beleza conforme os conceitos e pensamentos da época em que estão inseridas, ou seja, para cada período histórico encontramos um padrão de beleza diferente a ser buscado pelos indivíduos. Esse padrão de beleza desenvolve nas pessoas um desejo incessante de buscar alcançá- lo, mesmo que isso, muitas vezes, não represente um corpo saudável. Historicamente, as culturas tendem a estigmatizar traços ou comportamentos que sejam considerados negativos ou desviantes. Sob esta perspectiva, a percepção do tamanho corporal vem sendo associada a fortes valores culturais. Os corpos grandes e arredondados em dados períodos foram considerados sinais de opulência e poder, tendo, assim, uma valorização positiva, em contraste com a desvalorização e cobrança que marcaram as últimas décadas, tendentes a valorizar corpos esbeltos e esguios (ALMEIDA et al, 2005, p. 28). Nos tempos atuais, podemos afirmar que o padrão de beleza vigente é aquele corpo esbelto, musculoso, forte, visto em todos os meios de comunicação, através de garotos e garotas propaganda, geralmente seminus. A busca por este chamado corpo perfeito leva as pessoas diretamente na direção da prática de atividades físicas, ou seja, para ser possível alcançar o padrão de beleza vigente, o indivíduo deve manter uma rotina de exercícios frequente. Transportando o assunto para o ambiente escolar, é possível constatar que esta realidade acerca do padrão de beleza é existente também entre crianças e jovens, pois os mesmos possuem, cada vez, acesso aos meios tecnológicos. 19 Portanto, muitos alunos buscam a prática de atividades físicas com o objetivo de buscar atingir o padrão de beleza da sociedade em que ele está inserido. O único cuidado que deve existir, e para que esta busca incessante pelo corpo perfeito não se torna algo maléfico à saúde da criança, ou seja, a rotina de exercícios deve ser prescrita com cuidado para que não ocorra nem a falta e nem o excesso de exigência ao corpo ainda em desenvolvimento. Mais uma exigência feita ao profissional da Educação Física Escolar, o qual deve atentar-se para desenvolver atividades físicas compatíveis com a faixa etária e ainda aconselhar, aos seus alunos, a importância de um corpo saudável, nem com déficit e nem com excesso de peso. A Educação Física Escolar, nesse contexto, tem o papel de auxiliar em doenças muito presentes na sociedade atual, tais quais: obesidade, sedentarismo, anorexia e bulimia. “A representação feminina na mídia é a referência de beleza e atitude não só de adultos, mas também de crianças, que mais tarde repetirão o que viram e acharam agradável” (VIANNA, 2005, p. 9). Fonte de: www.estudokids.com.br Na maioria das vezes, a mídia apresenta-se como uma ferramenta que possui o único objetivo de atender ao interesse de alguns e não da sociedade como um todo. O fato de mulheres mesmo com peso adequado para a estatura desejarem pesos ainda menores é preocupante. Certamente essa distorção da imagem corporal encontra raízes nos meios de comunicação de massa que privilegiam modelos de beleza que possuem pesos para a estatura próximos ou mesmo semelhantes a portadores de distúrbios alimentares como anorexia nervosa e bulimia. Esses modelos de beleza divulgados pela mídia 20 exercem efeitos sobre o comportamento e o estabelecimento de hábitos alimentares entre adolescentes do sexo feminino (KAKESHITA; ALMEIDA, 2006, p. 503). Outro fator essencial para afirmar a Educação Física Escolar como uma disciplina essencial na vida dos estudantes é o desenvolvimento do corpo como um todo, isto é, o desenvolvimento das muitas capacidades possíveis do corpo humano. Durante a vida toda, exige-se do nosso corpo, o uso de inúmeras valências constantemente, pois o simples ato de permanecer parado, andar, pular um obstáculo, desviar de algo ou qualquer outra circunstância parecida já está diretamente relacionado com as capacidades do corpo humano. Estas capacidades são denominadas físicas e motoras. Dentre as capacidades, pode-se destacar a força, velocidade, resistência, flexibilidade e o equilíbrio como as principais por serem consideradas essenciais para o desenvolvimento do indivíduo. Todo o movimento humano exige o uso de diferentes capacidades. Estas capacidades possuem um caráter hereditário, ou seja, são transmitidas de pais para filhos, porém possuem o caráter treinável, isto é, um indivíduo é capaz de melhorar uma capacidade caso desenvolva atividades para isto, no caso as atividades físicas possuem este papel. A Educação Física Escolar é responsável por desenvolver estas atividades com o objetivo de melhorar as capacidades físicas e motoras dos estudantes, possibilitando aos mesmos, uma maior facilidade no desenvolvimento das tarefas ao longo de suas vidas. Nos dias atuais é possível verificar a dificuldade no processo de socialização das pessoas, pois alguns aspectos o dificultam, dentre eles, a criação de grupos mais fechados de amizades, o uso abusivo de novas tecnologias, opouco tempo que as pessoas possuem para atividades físicas em grupos ou como forma de lazer e recreação. O fato é que está cada vez mais difícil os indivíduos conseguirem interagir de maneira pessoal, física, presente. Para Vianna (2005) as aulas de Educação Física podem e devem suprir está carência, pois se trata de uma disciplina sem exigências estruturais como as demais, ou seja, não é necessário que cada aluno permaneça atrás de sua carteira, sentado, distante um do outro. Esta disciplina possui o poder de interação entre os alunos, os quais estarão distantes dos paradigmas educacionais. O profissional responsável pela Educação Física Escolar deve ser capaz de desenvolver atividades possíveis de 21 todos, independentemente se possui alunos brancos, negros, gordos, magros, deficientes, altos, baixos, fator que torna a disciplina, talvez, como sendo a mais heterogenia dentro do ambiente escolar. A busca nas aulas é pessoal, isto é, cada aluno irá se desenvolver de uma maneira, encarar a atividade de uma forma, encontrar uma resposta diferente para solucionar o problema proposto, aprendendo a trabalhar a sua individualidade e o seu coletivismo simultaneamente. Com conteúdo diversificado, possíveis para todos, fatalmente o interesse pela prática de atividades físicas será desenvolvido nas crianças, a qual não precisarão se preocupar no que são melhores que os demais. O uso de temas transversais é de fundamental importância nas aulas de Educação Física Escolar, pois pode-se trabalhar a obesidade, o bulling, a violência na sua forma prática, no decorrer das atividades, sem ofender ou magoar ninguém. Fonte de: www.estudokids.com.br Aulas que beneficiam a prevenção e a cura de doenças desenvolvem capacidades físicas, motoras, cognitivas e afetivas dos indivíduos, promovem bem- estar, sensação de igualdade, inserção social caracterizam evidente a afirmação do quanto é importante a Educação Física dentro do ambiente escolar (KAKESHITA; ALMEIDA, 2006). Porém, cabe ressaltar, que a Educação Física só será realmente valorizada caso o trabalho do profissional que está desempenhando-a seja satisfatório. Professores que apenas jogam uma bola para os meninos e uma corda para as meninas não reconhecem a importância da disciplina na vida de cada criança e, por consequência, desvalorizam a Educação Física perante as demais disciplinas. 22 3.3 A educação física no contexto escolar A educação física é um componente curricular e, como tal, busca articular os seus objetos de conhecimento para a formação de um ideal de sujeito e sociedade. A sua prática, por parte dos estudantes, não deve estar relacionada somente aos aspectos técnicos, mas sim às aprendizagens que visam ao desenvolvimento humano e à sua efetiva participação social. Nesse sentido, sustentar que a educação física deve estar relacionada apenas aos esportes ou aos exercícios de condicionamento físico é uma visão minimalista dessa área do conhecimento, reduzindo o seu potencial para a modificação social (BRASIL, 2017; COLETIVO DE AUTORES, 1992). Mas, afinal, se a aprendizagem dos esportes e a busca pelo condicionamento físico não são os únicos objetivos da educação física escolar, qual seriam os pressupostos e a importância de uma educação física dita escolar? Antes de afirmar a importância desse componente curricular, é relevante destacar que, como proposta pedagógica, a educação física vem se reformulando, em particular a partir da década de 1980, quando debates acerca de qual seria o propósito desse componente na escola começaram a surgir. Ao traçar um panorama do que pode ser uma educação que busca a transformação social, é inviável deixar de destacar a importância de a educação física, um componente curricular obrigatório, se articular aos pressupostos conscientizadores e emancipatórios (FREIRE, 1983). É possível pensar que, ao longo do tempo, esse componente curricular esteve relacionado aos interesses econômicos de determinada elite brasileira, com destaque para a institucionalização da educação física, sob o nome de ginástica, introduzida ainda no século XIX, com seus princípios eugenistas e higienistas, marcada pela busca de corpos fortes o suficiente para o enfrentamento das grandes Guerras (CASTELLANI FILHO, 1999; COLETIVO DE AUTORES, 1992). Contudo, passado o período de combates internacionais, junto à ascensão do liberalismo democrático, sob o escolanovismo, a educação física desvencilhou- -se, até certo ponto, de sua abordagem estritamente voltada aos pressupostos anatomofisiológicos. É importante destacar que essas modificações nas abordagens não ocorrem de forma escalonada, mas sim se sobrepunham umas às outras, como ainda ocorre na educação física atual. 23 A partir dos anos 1960, com o golpe militar, que resultou em um longo período ditatorial, a educação física brasileira foi novamente modificada. Esse período é marcado também pela disputa simbólica de poder entre a então União da República Socialista Soviética (URSS) e os Estados Unidos da América (EUA). Um dos elementos escolhidos para demonstrar poderio, tanto pela URSS como pelos Estados Unidos (e diversos outros países), era a obtenção de premiações esportivas por suas seleções nacionais. A busca pelo nacionalismo e pela demonstração de poder influenciou não só as instituições esportivas brasileiras, mas também as escolares, de tal modo que se passou a investir fortemente na presença e na aprendizagem do esporte na escola. Corroborando com isso, Darido (2003, p. 26) explica que os governos militares: […] passam a investir pesado no esporte na tentativa de fazer da Educação Física um sustentáculo ideológico, na medida em que ela participaria na promoção do país através do êxito em competições de alto nível. Foi neste período que a ideia central girava em torno do Brasil-Potência, no qual era fundamental eliminar as críticas internas e deixar transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento (DARIDO, p. 26). É nesse contexto que o esporte na escola passou a ser um conteúdo hegemônico e de forte presença nos dias atuais. À época, o processo de ensino- - aprendizagem girava em torno da perfeição técnica e tática desportiva, com o objetivo da formação de futuros atletas. O desempenho era avaliado com base nas habilidades motoras, mensuradas pelos princípios da biomecânica, uma ciência emergente no período. Aos estudantes, cabia enquadrar-se como sujeito fisicamente potencial ao alto rendimento ou como sujeito excluído, que não conseguiria chegar ao alto nível. Em relação ao professor, este também teve o acúmulo de medalhas e troféus em campeonatos com suas equipes escolares como um parâmetro para a sua qualidade em termos de docência. Bracht (2010, p. 100–101) acrescenta que o fenômeno da esportivização: […] dominou também a formação [de] professores, na medida em que se estabeleceu no imaginário social a vinculação entre Educação Física e esporte, tornando-os quase sinônimos, pois o papel da Educação Física na escola era ensinar os esportes, ou seja, a “cultura da educação física” passou a ser em larga medida a “cultura esportiva”. A década de 1980 marcou o fim da ditadura militar e a abertura política brasileira, permitindo uma série de debates de como vinha se desenvolvendo a 24 sociedade. Nessa tangente, é possível identificar uma virada progressista na educação física, partindo-se de um conjunto de debates que resultaram no que ficou conhecido como movimento renovador da educação física (CAPARROZ, 1997). Em 1983, João Paulo Medina foi um dos pioneiros em alavancar as discussões acerca do que vinha sendo a educação física — amparada no esporte e no paradigma da aptidão física. Em sua obra A educação física cuida do corpo… e “mente”, Medida denuncia o dualismo corpo versus mente que se expressava nessa área do conhecimento,instigando que a “Educação Física precisa entrar em crise urgentemente. Precisa questionar criticamente seus valores. Precisa ser capaz de justificar-se a si mesma. Precisa procurar sua identidade [...]” (MEDINA, 1983, p. 35). Portanto, é viável pensar que o início da década de 1980 foi um período de crise e busca pela própria identidade da educação física escolar brasileira. Na mesma direção da denúncia do dualismo corpo versus mente que se instaurara, Santin (1994) criticava que essa forma de conceber a educação física reduzia suas possibilidades de abordagens, limitando-se ao viés biologista, voltado principalmente para a busca da aptidão física. O Quadro 1, a seguir, apresenta as concepções pedagógicos da educação física. Outra abordagem que exerce influência na educação física escolar são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1998), elaborados por Marcelo Jabu e Caio Costa, que introduziram ao contexto de desenvolvimento dos objetos de conhecimento a busca pela cidadania, articulando-se à Constituição Federal (1988) e aos temas transversais, em voga no final do século. Para Soares (1987, p. 80), nos PCNs, “[...] a incorporação aleatória de alguns termos serviu apenas para diluir, na aparência, a opção por uma única abordagem teórica, aliás absolutamente explícita quando se abordam concepções de ensino, conteúdos e na sua relevância social [...]”. Já Darido (2003) aponta essa abordagem como um importante marco, já que traz consigo elementos que não faziam parte do campo de discussões em outras abordagens, como o conceito de formação cidadã e os temas transversais, como orientação sexual, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural e trabalho e consumo. Embora estas não sejam as únicas concepções possíveis ou que se expressam na atualidade, elas exercem grande influência na educação física atual, expressa na Base Nacional Curricular Comum (BNCC; BRASIL, 2017). 25 É possível pensar a abordagem crítico-superadora e a abordagem crítico- - emancipatória como a busca pelo desenvolvimento da consciência crítica, analisando a sociedade e os processos excludentes que a compõem. Tais abordagens buscam não somente focar nos conhecimentos que são relativos ao corpo humano, mas também propor uma forma de transformação social. Com isso, o papel do professor 26 também se vê modificado, visto que ele passa a ser considerado um mediador e problematizador para que os estudantes consigam se desenvolver integralmente e para que a apropriação do conteúdo se torne efetiva. Portanto, compreende-se que a busca do ensino dos gestos técnicos ou de formas de condicionamento físico passaram a ser conteúdos da educação física, mas sua abordagem não deve estar restrita a somente isso. É necessário que esse componente curricular esteja comprometido com objetivos maiores, articulando-se ao projeto de educação. Nesse sentido, a BNCC (BRASIL, 2017, p. 213), principal documento que normatiza os conteúdos a serem desenvolvidos na educação básica, elabora que: Nas aulas, as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível assegurar aos alunos a (re)construção de um conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de forma confiante e autoral na sociedade. Certamente, as concepções pedagógicas ou ideais que orientam determinado componente curricular, por si só, não são suficientes para que a educação física se desenvolva seguindo os pressupostos que a sustentam. Assim, faz- -se necessário que os professores estejam articulados com o que a educação física propõe, de modo a construir a confiança para a atuação subjetiva e a transformação social, seguindo os pressupostos democráticos e republicanos que regem a educação brasileira. 3.4 O conteúdo da educação física escolar Quando vistas pelo prisma da cultura corporal do movimento humano, percebe- -se a importância de diversas práticas corporais serem trabalhadas na escola. Essas práticas incluem elementos criados historicamente pela humanidade em diversas partes do mundo e que são acessíveis a nós, hoje, pelo processo de globalização e disseminação do conhecimento, que teve início com as migrações e hoje é promovido pelas redes de comunicação global, em especial, a internet. “Há três elementos fundamentais comuns às práticas corporais: movimento corporal como elemento essencial; organização interna (de maior ou menor grau), pautada por uma lógica 27 específica; e produto cultural vinculado com o lazer/entretenimento e/ou o cuidado com o corpo e a saúde” (BRASIL, 2017, documento on-line). É importante ressaltar que essas práticas “[…] são aquelas realizadas fora das obrigações laborais, domésticas, higiênicas e religiosas, nas quais os sujeitos se envolvem em função de propósitos específicos” (BRASIL, 2017, documento on-line). Com um intuito didático e de facilitar a organização do currículo da educação física ao longo dos diversos anos da educação básica, essas práticas foram compiladas em seis grupos, ou unidades temáticas. São elas: brincadeiras e jogos, esportes, ginásticas, danças, lutas e práticas corporais de aventura. Vejamos a seguir um pouco mais sobre cada uma delas, a partir de uma síntese com base na BNCC (BRASIL, 2017). As brincadeiras e jogos são práticas que acompanham a humanidade desde seus primórdios. Elas são caracterizadas por não terem regras rígidas, podendo ter as combinações alteradas pelos indivíduos que as praticam. Ainda assim, encontram- se afinidades entre jogos praticados em diferentes lugares do mundo. Há uma série de brincadeiras que podem ser realizadas nas aulas de educação física. O pega-pega, por exemplo, pode ter inúmeras variações, como: pega-pega estrela, em que quem for pego deve ficar paralisado de pernas e braços abertos até que um colega passe por baixo de suas pernas para ser salvo; ou corrente, em que cada um dos integrantes que for pego deve dar a mão para o pegador, formando uma corrente. As brincadeiras podem ser utilizadas também como atividades introdutórias ao ensino de outros conteúdos. Por exemplo, antes de abordar o handebol, pode-se brincar de queimada, atividade que exige precisão no lançamento da bola com a mão. Ou, ainda, pode-se brincar de pega-bandeira, jogo no qual a quadra é dividida em dois, cada lado como território de um time, que deve adentrar no território adversário, pegar um objeto (bandeira) e retornar até o seu campo sem ser pego; é ótimo para trabalhar de forma introdutória aos esportes coletivos o posicionamento e as funções de ataque e defesa. Jogos de oposição podem introduzir a prática das lutas, e brincadeiras cantadas ou que envolvem ritmo podem ser utilizadas para introduzir a dança. Já os esportes são práticas formais, com regras definidas e regidas por regulamentos. Usualmente, organizam-se em associações, federações ou confederações. Caracterizam-se pela oposição entre dois oponentes ou grupos 28 adversários. Podem ser divididos em diferentes modalidades, de acordo com suas características. Marca: compara resultados de tempo ou distância (p. ex.: atletismo e levantamento de peso). Precisão: busca acertar um alvo específico (p. ex.: golfe e tiro com arco). Técnico-combinatório: analisa a qualidade do movimento (p. ex.: ginástica artística e nado sincronizado). Rede/quadra dividida ou parede de rebote (p. ex.: voleibol e pelota basca). Campo e taco: rebater a bola lançada pelo adversário (p. ex.: beisebol e críquete). Invasão ou territorial: analisa a capacidade de uma equipe introduzir oulevar uma bola (ou outro objeto) a uma meta ou setor da quadra/campo defendida pelos adversários, como o gol, a cesta ou o touchdown (p. ex.: basquetebol e rúgbi). Combate (p. ex.: judô e esgrima). Se fizermos uma comparação entre os esportes e os jogos digitais, atividades às quais a atual geração de crianças em geral tem grande exposição, veremos que esses últimos são projetados para que o jogador sempre vença — mesmo que perca o jogo, sempre há a oportunidade de retornar e tentar novamente. Já nos esportes e atividades competitivas, assim como na vida, cada tentativa é única — pode-se jogar outra vez, mas nunca o mesmo jogo. Com isso, quando bem trabalhados, têm grande potencial educativo, para auxiliar as crianças a lidarem com a incerteza e a frustração, além de também desenvolverem o trabalho em equipe, o respeito às regras e o cuidado entre os colegas. É fundamental criar um ambiente que incentive o aluno a tomar cuidado com os colegas e não os machucar, e no qual ser ético e seguir as regras do jogo, independentemente da atuação do árbitro (professor), é mais importante do que vencer (ANTUNES, 2018). Isso gera uma postura educativa atitudinal fundamental às aulas de educação física. As ginásticas, por possuírem diferentes características, também são subdivididas em três grupos. A ginástica geral inclui atividades acrobáticas e expressivas, no solo ou em aparelhos. As ginásticas de condicionamento são voltadas para a melhora das valências físicas (força, resistência e flexibilidade). E as ginásticas 29 de conscientização corporal são realizadas por meio de movimentos lentos e suaves, em geral integrados à respiração, com o intuito de ampliar a consciência corporal, a fluidez e a vitalidade. A dança inclui movimentos rítmicos acompanhados de música. Também possui múltiplas manifestações, como dança de salão, balé, danças de roda, street, dança do ventre etc. Já as lutas incluem disputas corporais por meio de diferentes técnicas de combate e, em algumas delas, a execução de sequências combinadas de movimentos. As artes marciais orientais incluem também um conjunto de condutas éticas, que atribuem a essas práticas um caráter de desenvolvimento humano. Essas práticas são ótimas oportunidades para que os alunos aprendam a lidar com sua agressividade, expressando-a em um espaço seguro, sem machucar os colegas ou a si mesmos. Segundo Antunes (2018) basta que o ambiente criado seja de colaboração e respeito e que as regras das atividades e das aulas estejam explícitas de forma clara; uma delas é não lutar fora do espaço delimitado nas aulas. Para finalizar, as práticas de aventura exploram a proeza, a incerteza e os riscos controlados na relação entre os sujeitos praticantes e o ambiente. Elas incluem práticas realizadas na natureza, como mountain bike e tirolesa, ou na cidade, como skate e parkour. Ao organizar o planejamento dessas atividades no desenvolvimento de suas aulas, o professor de educação física deve levar em conta também a orientação da BNCC quanto a quais atividades realizar em cada ano do ensino fundamental. 3.5 Educação física escolar: o que ensinar hoje em dia? Por si, a criança aprende ao movimentar-se: tudo começa ao observar o ambiente que a cerca, as pessoas que se relacionam com ela desde pequena, os objetos lúdicos que lhe são entregues ou são recolhidos por ela ao longo do caminho de modo intencional. Nessa fase da vida, absolutamente tudo se torna matéria a ser explorada e a curiosidade ganha forma com o ingresso no espaço escolar. Já no início da escolarização, a criança conhece a figura do professor, o qual, em tese, irá ensiná- la todos os dias a desbravar conteúdos e diferentes locais que serão palco de saudosas lembranças quando ela crescer (salas de aula, corredores, parquinhos, pátio, biblioteca, etc.). Na escola, a criança aprende brincando dentro e fora da sala 30 de aula. É nesse ambiente pedagógico que ela terá contato com a educação física, desfrutando da oportunidade de experienciar práticas corporais planejadas e adequadas à sua faixa etária com vistas a potencializar as habilidades motoras e cognitivas, além de formar valores e atitudes intrínsecos à vida em sociedade durante esse processo de ensino-aprendizagem. É interessante observarmos que, atualmente, todo e qualquer conteúdo da educação física escolar está engendrado na cultura e por meio dela manifesta- -se, concretizando-se em práticas corporais (DARIDO, 2012). Tal percepção comprova-se no reconhecimento da cultura corporal de movimento, a qual se ramifica em práticas corporais: jogos, brincadeiras, danças, lutas, esportes, ginásticas e práticas corporais de aventura (DARIDO, 2012). Outro aspecto a ser levado em consideração diz respeito aos distintos ciclos de escolarização, pois eles não somente delimitam qual é o tipo de conteúdo a ser ensinado como também quais são as habilidades motoras a serem enfatizadas. Conforme já estudamos, a educação física é um componente obrigatório da educação básica e, portanto, possui espaço próprio no quadro das disciplinas do currículo (BRASIL, 1996; CAMPANELLI, 2019). Nesse horizonte formativo, a educação física está presente desde a educação infantil, passando pelos anos iniciais e finais do ensino fundamental, até atingir o ensino médio. Também é notável a sua importância no contexto da educação de jovens e adultos (EJA) (CAMPANELLI, 2019). Segundo a BNCC (BRASIL, 2017), a educação física está inserida no mesmo grupo das disciplinas de Língua Portuguesa, Artes e Língua Inglesa: a denominada área de Linguagens. Em termos práticos, esse entendimento implica que a educação física escolar seja pensada enquanto componente curricular obrigatório da educação básica que estuda determinada cultura, a qual será tematizada nas aulas dessa disciplina por meio de práticas corporais (BRASIL, 2017). Diante do exposto, um aspecto que ganha relevância é a continuidade do trabalho docente de uma seriação a outra. Cabe considerarmos a bagagem teórico-prática que os alunos trazem consigo e podem ser agregados aos conteúdos curriculares obrigatórios, constituindo uma estratégia de ensino a ser adotada no contexto escolar. Outro ponto que precisa ser sublinhado é que a BNCC traz o mínimo de conteúdos que precisam ser abordados em sala de aula, fato que não deve limitar a capacidade de o professor reinventar as suas aulas, adaptá-las e criar novos conteúdos, de modo a oferecer ao seu público- 31 alvo não somente o mínimo exigido, mas sim uma formação sólida e de qualidade que realmente faça sentido frente à realidade da turma. No Quadro 1, a seguir, você pode conferir as unidades temáticas e os conteúdos que são objetos de estudo nas aulas de educação física durante os ciclos da educação básica na atualidade, conforme define a BNCC (BRASIL, 2017). De maneira geral, todos os conteúdos acima mencionados devem ser abordados nas aulas de educação física ao longo da educação básica. Entretanto, por vezes, certos conteúdos devem receber maior ênfase do que outros. Ciente disso, observe na Figura 1 a distribuição dos conteúdos programáticos a serem abordados nas aulas de educação física durante os anos iniciais e finais do ensino fundamental. 32 Outro aspecto importante a ser destacado é que as práticas corporais engendradas na cultura, as quais correspondem aos conteúdos curriculares da educação física escolar, podem ser trabalhadas em sala de aula sob as dimensões conceitual, procedimental ou atitudinal (DARIDO, 2012). No entanto, como isso se daria na prática? Não é de hoje que o objetivo das aulas de educação física não é mais memorizar e executar alguma técnica, mas sim superar a meratransmissão de conteúdos ao propiciar ao aluno um saber crítico e significativo sobre o objeto de conhecimento. O objetivo passa a ser a construção de conceitoscom base em aspectos históricos, dados estatísticos, localização dos fatos, entre outras informações consideradas relevantes. Essa dimensão conceitual do conteúdo não engessa o debate, pois incentiva os alunos a reunirem-se em círculos de conversa, trabalhos em grupo e até mesmo exposições com os conceitos aprendidos, refletindo 33 sobre como os conteúdos estudados afetam as suas vidas em termos práticos do dia a dia (DARIDO, 2012). Somadas à dimensão conceitual, ainda há outras duas dimensões dos conteúdos que o docente pode abordar nas suas aulas: a procedimental e a atitudinal (DARIDO, 2012). O que poderia ser trabalhado no âmbito dessas duas dimensões sobre as práticas corporais? É nesse ponto da discussão teórico-metodológica que a educação física escolar é entendido por muitos como “saber fazer” até hoje. Longe de ser apenas a prática pela prática do gesto motor, ou da aula prática, o “saber fazer” está atrelado a, justamente, colocar em prática os conceitos aprendidos sobre dado conteúdo da maneira mais adequada. Assim sendo, na dimensão conceitual o aluno entende que o mundo futebolístico afeta a sua rotina, pois está presente na mídia, na moda, nos mais diversos produtos consumidos e até mesmo no linguajar das pessoas. Já na dimensão procedimental, mais do que saber executar fundamentos, regras, técnicas ou sistemas táticos, ele é convidado a trabalhar em grupo com os seus colegas e a adaptar as regras do futebol à realidade escolar. Se não é possível executar o futebol espetáculo na escola, que tal praticar o futebol de seis “quadrados”, o misto, o de casal ou outra modalidade? Por fim, temos a dimensão atitudinal e, mais uma vez, a aula de educação física destaca-se ao incentivar e consolidar atitudes positivas por parte dos alunos. Os comportamentos estimulados pelo professor devem fundamentar-se em valores positivos para a formação do caráter dos estudantes e na moral íntegra que defende a veracidade dos fatos, estando acima dos condicionais da sociedade moderna sobre a relativização da verdade. A dimensão atitudinal viabiliza que o docente observe o comportamento espontâneo dos seus alunos no que concerne ao respeito ao próximo, às regras do jogo, à ajuda ao próximo para lidar com as suas dificuldades, à aceitação de perspectivas ou ideias diferentes para que todos ponderem sobre os prós e as contras da situação em conjunto e cheguem a uma decisão democrática, etc. junto e cheguem a uma decisão democrática, etc. Desse modo, podemos afirmar que os conteúdos a serem ministrados nas aulas de educação física escolar atualmente possuem um eixo estruturador comum: a cultura corporal de movimento (DARIDO, 2012). Por um lado, a obrigatoriedade das normativas vigentes definem o conjunto de unidadestemáticas a serem trabalhadas; por outro lado, a diversidade de conteúdos e ambientes formativos (escolas) abrem brecha para a realidade em que a 34 teoria não possui aplicabilidade direta com a prática em contexto escolar. Nesse contexto, cabe a você, futuro(a) docente, mediar o processo de ensino- - aprendizagem por meio de práticas corporais que de fato façam sentido aos educandos e acarretem vivências sobre valores e atitudes direcionados à sua formação enquanto cidadãos. 4 PLANEJAMENTO DE CURTO PRAZO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A educação física escolar consiste na proposição da construção e disseminação de conhecimentos que somente são acessíveis por meio do movimento. Os saberes historicamente construídos e culturalmente modificados que dizem respeito à cultura corporal de movimento devem ser trazidos à tona durante o aprendizado dos sujeitos que se encontram em fase escolar. Por isso, torna-se de fundamental importância que o professor consiga identificar e selecionar quais conteúdos deverão ser tematizados em cada fase de ensino, devendo, para isso, sistematizar tais conhecimentos. 4.1 O planejamento de curto prazo Ainda que a educação física escolar seja considerada por muitos como um momento de mera prática de esportes e de lazer dentro da escolarização, sabemos que ela não se restringe somente a isso. Ela trata de um componente curricular capaz de proporcionar aos estudantes o acesso ao conhecimento socialmente construído e culturalmente modifi cado ao longo da história, possibilitando que novos conhecimentos também se produzam. Nesse contexto, deve-se dar sentido às aulas e proporcionar o avanço dos estudantes em suas habilidades e nas competências que são previstas em cada nível de ensino. Assim, é fundamental que o professor de educação física consiga traçar caminhos para a aprendizagem, estabelecer metas de apropriação de conteúdos e selecionar as melhores atividades e tecnologias que possam fazer com que seus alunos efetivamente tenham acesso à cultura corporal de movimento (LIBÂNEO, 2001). Dentro do universo educacional, vários são os documentos que buscam orientar os professores quanto aos objetivos que devem buscar em seus componentes 35 curriculares (PILETTI, 2008). Em geral, tais documentos são largamente debatidos e abordam conteúdos, habilidades e competências que devem ser atingidas em um amplo espaço de tempo, ao final de um ano de escolarização, de um ciclo escolar ou de um nível de ensino. Esses documentos, embora se constituam como direcionadores da ação educativa, não são capazes de estabelecer o que cada professor deverá trabalhar em cada uma de suas aulas, devendo esse docente eleger e desenvolver as melhores estratégias de ensino. O planejamento em um largo espaço de tempo é fundamental para orientar o professor quanto às habilidades e competências que devem ser desenvolvidas em seus alunos. No entanto, o planejamento em curto prazo também se torna de fundamental importância, já que é por meio dele que o professor, ao identificar as aprendizagens já consolidadas por seus alunos, consegue estabelecer metas, organizando e reorganizando atividades e estratégias para que outros objetivos sejam alcançados. No contexto escolar, o planejamento em curto prazo envolve uma aula ou uma sequência de aulas que deverão ser previamente estabelecidas para que o professor proponha certa ordem ao processo de ensino. Dessa forma, identificam-se quais aprendizagens os estudantes deverão construir e em quanto tempo tal ação deverá se desenvolver, estabelecendo-se também meios de avaliar constantemente se as decisões de ensino estão proporcionando a aprendizagem esperada nos estudantes. No processo de ensino-aprendizagem-avaliação, dois documentos são fundamentais: os planos de aulas e as unidades didáticas. 4.2 Planos de aulas Os planos de aulas são a menor organização curricular que um professor elabora para facilitar a aprendizagem dos estudantes. Trata-se de um documento, como o próprio nome sugere, elaborado antes mesmo da aula, em que o professor delimita o que deve ensinar, como deverá ensinar, para quem tal ensino se propõe, quais objetivos deve atingir e quanto tempo demandará para que a aprendizagem se efetive. Também trata da avaliação de cada uma das aulas, pela qual o professor identifica se os objetivos propostos, as atividades sugeridas e os meios que escolheu para desenvolvê-las foram eficazes (VASCONCELLOS, 1995). 36 Um plano de aula de educação física escolar abrange os objetivos que serão alcançados em apenas uma aula desse componente, o que geralmente corresponde a um período de 30 a 60 minutos, dependendo da organização curricular de cada instituição. Embora tais objetivos sejam específicos a um curto espaço de tempo, eles devem estar em consonância com os objetivos mais amplos do componente curricular. Por exemplo, supondo que um dos objetivos que devem ser alcançados ao final do ano letivo seja “[...] identificar diferentes jogos e brincadeiras da cultura na qual a instituição de ensino está inserida” o plano de aula poderáse referir à vivência de apenas um desses jogos, estabelecendo um avanço processual na busca do objetivo maior. 4.3 Unidades didáticas As unidades didáticas consistem em um planejamento que envolve uma ou mais aulas, que é necessário para a busca dos objetivos mais amplos. Seu desenvolvimento sugere uma sequência de aulas que tematizem um mesmo conteúdo, geralmente trazendo um mesmo objetivo. Utilizando o exemplo anterior, para alcançar o objetivo de “[...] identificar diferentes jogos e brincadeiras da cultura na qual a instituição de ensino está inserida”, o professor pode estabelecer uma série de aulas — ou apenas uma — para que ele seja alcançado, dependendo da quantidade de tempo necessária para que os estudantes consigam conhecer o conteúdo, explorá-lo e assimilá-lo. Os desenvolvimentos tanto do plano de aula quanto das unidades temáticas devem estar em consonância com os objetivos educacionais previstos para cada etapa ou nível de escolarização. Não há como estabelecer quantos planos ou unidades deverão ser desenvolvidos em cada turma, já que, embora um mesmo conteúdo seja abordado, os sujeitos que aprendem são diferentes, demandando mais ou menos tempo para assimilar certo conhecimento. Tais documentos são muito importantes, já que são capazes de colocar ordem e estabelecer metas e critérios de avaliação para o processo de ensino-aprendizagem-avaliação (PILETTI, 2008). O contrário disso, ou seja, a não elaboração de unidades didáticas ou de planos de aula, resulta em aulas improvisadas pelo professor, que, muitas vezes, resultam em atividades que não condizem com os objetivos educacionais ou que não 37 estabelecem uma sequência de consolidação de aprendizagens, tornando o processo confuso e ineficaz. Ainda, a elaboração de unidades e planos com pouco compromisso pode resultar em atividades mal definidas, que não se encaixam ao tempo disponível do professor, tornando a aula desorganizada e pouco efetiva em seus propósitos. De acordo com Piletti (2008) para elaborar as unidades temáticas e, consequentemente, os planos de aula, o professor deve elencar alguns elementos que se fazem necessários para prever as suas ações, os quais você conhecerá no tópico a seguir. 4.4 Plano de aula Até aqui, você viu que o planejamento de curto prazo é de extrema importância para o desenvolvimento de uma aula que faça sentido e esteja de acordo com os objetivos maiores da educação. Neste tópico, você conhecerá alguns dos elementos que devem compor um plano de aula e, por sua vez, as unidades temáticas. É importante destacar que não há apenas um modelo de elaboração dos planos de aula. No entanto, quanto mais completo ele for, quanto mais o professor conseguir planejar e antever como se desenvolverá suas aulas, maior facilidade encontrará em executá- las. Assim, a seguir, serão destacados os elementos principais, sem os quais não é possível planejar uma aula de educação física. Dados de identificação O primeiro item a ser expresso em um plano de aula são os dados de identifi - cação relacionados à proposta da aula. Embora seja bastante simples, nele se encontram informações que auxiliam o professor a pensar a sua aula. Nesse elemento, consta a instituição de ensino para a qual o plano foi pensado, o ano escolar em que os alunos se encontram, a quantidade de alunos previstos para a aula e o tempo que o professor terá para desenvolver o seu objetivo. Os dados de identifi cação, que geralmente se encontram no cabeçalho do plano de aula, referem-se à resposta para o questionamento: “para quem eu vou desenvolver minha aula?”. 38 Objetivos O objetivo (ou objetivos) é o principal elemento que um professor deve abordar ao desenvolver a sua aula. A partir dos dados previamente coletados acerca dos seus alunos e das vivências deles quanto à cultura corporal de movimento, o professor pode elencar objetivos que estejam de acordo com a parcela de estudantes com quem vai trabalhar. Os objetivos elencados pelo professor devem ser claros e estar de acordo com o que os planos de ensino e os documentos curriculares propõem sobre o ensino dos estudantes. Devem, portanto, partir de frases simples, que se iniciam com o verbo no infinitivo, como “conhecer os principais esportes de rede divisória da atualidade”. Esses objetivos escolhidos devem ser apresentados aos estudantes no início da aula, facilitando a compreensão destes sobre quais aprendizagens devem construir em determinado momento. Um equívoco bastante comum na elaboração de planos de aula é a formulação de frases que contenham mais de um objetivo ou a formulação de diversos objetivos em um mesmo plano, tornando a aula pouco precisa quanto ao que se propõe. Outro destaque diz respeito à utilização dos verbos, que devem ser expressos no infinitivo e expressar ações que permitam ao professor identificar se aquilo que foi proposto realmente foi alcançado pelos seus alunos. Os objetivos dizem respeito ao seguinte questionamento que o professor deve fazer: “[...] quais habilidades e/ou competências meus alunos devem apresentar ao final da minha aula?”. Eles devem estar relacionados às dimensões conceitual (saber), procedimental (saber fazer) e atitudinal (saber ser) (DARIDO et. al, 2001). Conteúdo O conteúdo diz respeito ao tema que será desenvolvido em aula, isto é, ao conhecimento propriamente dito que será abordado. No âmbito da educação física escolar, os conteúdos se referem às subcategorias dos esportes, da ginástica, dos jogos e brincadeiras, das lutas, das práticas corporais de aventura e das danças. De acordo com a BNCC (BRASIL, 2017), tais conteúdos avançam conforme se amplia o conhecimento. Isto é, nos anos referentes ao ensino fundamental, 39 primeiramente, tais conteúdos devem se referir às peculiaridades da comunidade na qual a instituição de ensino está inserida. Conforme avançam no ensino fundamental, os alunos devem assimilar conhecimentos acerca da cultura corporal de movimento da região na qual a instituição está inserida, do Brasil e de outras culturas que compõem a sociedade, aumentando o grau de compreensão que devem possuir. Esse elemento se refere, portanto, à resposta ao questionamento: “o que devo ensinar aos meus alunos?” Decisões metodológicas As decisões metodológicas se referem ao processo que será desenvolvido junto aos alunos, de maneira concreta, para que possam atingir os objetivos. Nesse elemento, encaixam-se as atividades que serão propostas, o tempo que será demandado em cada uma delas e os recursos tecnológicos que serão necessários. As atividades propostas devem seguir uma sequência lógica de desenvolvimento, sugerindo aos alunos que a aula possui um início, um meio e um final. As aulas de educação física, assim como as aulas de outros componentes curriculares, devem partir das vivências sociais concretas dos alunos, ampliando a sua compreensão acerca da cultura corporal de movimento. Assim, as primeiras atividades de um plano de aula ou de uma unidade didática devem ser preferencialmente aquelas que o estudante já conhece ou compreende a lógica, despertando o interesse para a ampliação do conhecimento (PILETTI, 2008). Em aulas que se desenvolvem de maneira teórica, é importante que o professor inicie com os saberes que os alunos já trazem consigo. Para isso, pode-se estabelecer rodas de conversa ou mapas conceituais sobre determinado conteúdo que se deve desenvolver. Em aulas práticas, além disso, também se fazem necessários alongamentos e atividades de aquecimento (que podem ocorrer de forma lúdica), no intuito de preparar o corpo para atividades que porventura possam ser mais vigorosas e estimular os estudantes às práticas corporais de forma saudável (GALATTI; PAES E DARIDO, 2010). O tempo para cada atividade deve ser considerado e estar vinculado ao tempo total da aula.
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