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Módulo I Introdução ao Projeto de Reatores Químicos Disciplina: Cinética Química e Reatores Homogêneos Professor: Pedro Leite de Santana Período: 2021-1 1. Engenharia das Reações Químicas Cinética Química (CIÊNCIA – Entendimento TEÓRICO da fenomenologia das reações químicas) X Engenharia das Reações Químicas (TECNOLOGIA – Uso PRÁTICO dos princípios da Cinética Química para a transformação de materiais e síntese de produtos) Octave Levenspiel (01/01/1926-05/03/2017): Pai da Engenharia das Reações Químicas. Publicação do livro-texto clássico: “Engenharia das Reações Químicas” (1962). De acordo com Levenspiel: “A engenharia das reações químicas é aquela atividade de engenharia ligada à exploração de reações químicas em escala comercial. Seu objetivo é projetar e operar com sucesso reatores químicos e, provavelmente mais do que outra atividade, ela coloca a engenharia química como um ramo distinto da profissão de engenharia”. (Do prefácio à 3ª edição, 1999) 2. O Reator como coração da indústria (Levenspiel) Diagrama de fluxo genérico de um processo químico: De acordo com Schmidt (“The Engineering of Chemical Reactions”, 1998): “Em processos químicos típicos os custos de capital e operação do reator podem ser de apenas 10 a 25% do total, com as unidades de separação dominando o tamanho e o custo do processo”. “Contudo, o desempenho do reator químico controla totalmente os custos e modos de operação destas unidades de separação caras, e, portanto, o reator químico controla largamente a economia global de muitos processos. Melhoramentos no reator comumente têm enorme impacto sobre os processos de separação a montante e a jusante”. O projeto de reatores químicos se insere na fronteira de novas tecnologias químicas. Os maiores desafios presentes na Engenharia das Reações Químicas: 1. Busca de processos alternativos para substituir outros antigos. 2. Descoberta de caminhos para fazer um produto a partir de matérias-primas diferentes. 3. Redução ou eliminação de subprodutos problemáticos. Regra Heurística: “O custo de separação ou purificação depende diretamente da razão entre as concentrações final e inicial das substâncias separadas. Se esta razão for alta, então, o custo será alto”. Ilustração – Processo Reação-Separação Reação: A + B → C Objetivo: Obter uma mistura final com 90% (fração molar) de C. O problema de PROJETO, de acordo com Levenspiel: “No projeto de reatores, queremos saber que tamanho, tipo de reator e que método de operação são os mais indicados para um dado objetivo. Essa pergunta somente pode ser respondida por uma integral da equação de velocidade [taxa cinética de reação] adequada às condições de operação. Esse processo apresenta dificuldades, pois a temperatura e a composição da mistura reagente variam de ponto para ponto, dependendo das características endotérmicas ou exotérmicas da reação, e dependendo, também, das trocas de calor ocorridas entre o sistema e o ambiente. A geometria do reator determina o percurso do fluido e as características do sistema misturador para uma distribuição adequada da alimentação, material e calor. Assim, vemos que inúmeros fatores devem ser considerados na previsão do comportamento de um reator” 2. Classificação dos Reatores 2.1. De acordo com o método de operação: - Reator descontínuo (ou batelada) Os reagentes são carregados, levados à temperatura de reação e processados por um tempo pré-determinado. Após isso, os produtos são removidos. Há variação na extensão da reação e características da mistura reacional com o tempo. - Reator de fluxo contínuo Há um fluxo contínuo e estacionário de reagentes entrando e de produtos saindo. A extensão da reação e características tais como temperatura e composição podem variar com a posição no reator mas não com o tempo. - Reator Semibatelada Um reagente é carregado totalmente no início e outro é adicionado paulatinamente ao longo do tempo. Ao final, os produtos são descarregados. 2.2. De acordo com a forma: - Reator do tipo tanque (vaso); - Reator tubular. 2.3. De acordo com o regime térmico Os reatores podem operar em três regimes térmicos: - Isotermicamente; - Adiabaticamente; - Perfil de temperatura programado. A troca de calor pode ocorrer: - Dentro do reator; - Através das paredes do reator; - Fora do reator. 2.4. De acordo com o número de fases envolvidas - Reatores homogêneos; - Reatores heterogêneos. Esta classificação refere-se ao número de fases no sistema de reação. Ela é de grande significância porque define o número e a importância dos passos de transferência de massa e calor que precisam ser levados em conta na modelagem do sistema, visando ao projeto e análise de desempenho. Exemplos típicos: Reator tubular (homogêneo): Craqueamento térmico Reator de leito fixo (heterogêneo): Síntese de amônia 3. Etapas no projeto de um reator químico i. Obtenção de dados de laboratório para o sistema reacional de interesse (Dados cinéticos e propriedades físicas e termodinâmicas). ii. Cálculos técnicos (Estabelecimento da viabilidade do projeto. Aspectos a considerar nesta etapa: Técnico- científicos, econômicos, ambientais, segurança). iii. Projeto/construção/operação do reator em escala piloto. iv. Projeto/construção/operação do reator em escala industrial. Comentários: - A passagem da escala piloto à industrial introduz o “problema de ampliação” ou “scale-up”. - A ampliação deve seguir os princípios de similaridade: i) geométrica, ii) mecânica, iii) térmica e iv) química. - Mesmo seguindo-se os princípios de similaridade, há sempre a necessidade de ajuste no processo em escala industrial em relação ao de escala piloto, em decorrência da ampliação. Em física, essa ideia de diferença de comportamento no sistema ampliado foi expressa por Galileu Galilei, em seus estudos sobre resistência dos materiais, como um Paradoxo da Fragilidade dos Gigantes (Obra clássica: “Duas Novas Ciências”, 1638). 4. Variáveis de Processo O projeto de um reator químico deve levar em conta os seguintes aspectos básicos: i. Concentrações das substâncias interagentes; ii. Procedimento e grau de agitação das substâncias interagentes; iii. Emprego de catalisador e sua atividade; iv. Temperatura; v. Pressão. Comentários i) Quanto à mistura do sistema reacional, têm-se dois paradigmas básicos: - Mistura perfeita (Reatores do tipo tanque agitado) - Deslocamento perfeito (Reatores tubulares) Nos reatores do tipo tanque agitado a mistura é conseguida com o uso de agitadores mecânicos. Nos reatores tubulares a mistura está relacionada ao regime fluidodinâmico do escoamento. Comentários (Continuação) ii) Quanto ao uso de catalisadores, conforme já destacado, tem-se a distinção básica entre: - Reatores homogêneos, e, - Reatores heterogêneos Nos reatores heterogêneos ocorrem simultaneamente os fenômenos de difusão e reação. Como a reação ocorre nos poros das partículas catalíticas, se estabelecem gradientes mássicos e térmicos que introduzem uma complexidade fenomenológica distintiva entre reatores homogêneos e heterogêneos. 5. Cinética Química e o projeto de reatores O conhecimento das expressões para as taxas das reações que ocorrem no sistema reacional é imprescindível ao projeto do reator. Quanto mais preciso for esse conhecimento, maior a possibilidade de obter um modelo matemático representativo do sistema reacional. Aplicações do modelo matemático: - Projeto; - Análise de desempenho; - Controle (Ex.: Controle preditivo, baseado em modelo); - Otimização. O modelo matemático de um reator químico engloba: Equações de Conservação - Massa; - Energia, e, - Quantidade de movimento. + Equações cinéticas Somam-se ao modelo matemático relações que expressam leis físico- químicas e equações constitutivas do sistema. As equações cinéticas devem ser estabelecidas experimentalmente,tendo em vista que as teorias cinéticas atualmente disponíveis se mostram insuficientes para proporcionar predições representativas dos dados experimentais sobre taxas de reação. O comportamento cinético da reação é definidor da concepção de projeto. A velocidade em que uma dada reação ocorre determina como evoluem os perfis de concentração e temperatura (variáveis estas que são as de maior relevância na análise de reatores, e determinadas pelos balanços de massa e energia). Reações muito lentas versus reações muito rápidas demandam estratégias operacionais diferentes. No primeiro caso, o caminho é o emprego de catalisadores, enquanto que no segundo se impõe a necessidade de um robusto sistema de controle. Reações fortemente exotérmicas trazem grandes dificuldades em termos da operacionalização da troca térmica. ILUSTRAÇÃO Sistema: Reator Batelada, operação isotérmica Reação em Série: A (k1)→ B (k2) → C (Reações elementares) Modelo matemático: - Balanços materiais + - Equações de taxas de reação Variáveis: t, V, NA, NB e NC Parâmetro operacional relevante: Tempo ótimo de reação, correspondente à máxima concentração da espécie B intermediária. 6. Relevância da Temperatura A temperatura no sistema reacional é determinada pelo balanço de energia (efeitos térmicos das reações que ocorrem + troca de calor com as vizinhanças). Do ponto de vista da Termodinâmica: Reações Exotérmicas versus Reações Endotérmicas. Do ponto de vista da Cinética Química: Forte efeito da temperatura na velocidade das reações químicas (uma constatação empírica). Resultados básicos da Cinética Química referentes ao efeito da temperatura sobre a velocidade de uma reação: i) Regra de van´t Hoff: “A velocidade de uma reação duplica para um aumento de 10oC na temperatura do sistema”. ii) Lei de Arrhenius (1889): k = A e-E/RT Efeito exponencial na taxa específica de reação (k) (A lei Arrhenius foi estabelecida independentemente por van´t Hoff em 1887). Por conta dos fatos termodinâmicos e cinéticos, surge uma preocupação básica no projeto de reatores químicos, associada à remoção/adição de calor do/para o sistema reacional. O projeto térmico do reator se reveste de importância primordial frente às necessidades de controle da temperatura e integração energética do processo, o que se traduz na diversidade de configurações encontradas na indústria para os sistemas de reação. Dispositivos para a troca térmica: Reatores do tipo tanque agitado – camisas, serpentinas, canaletas. Reatores tubulares – configurações típicas de trocadores de calor (tubos concêntricos e sistemas multitubulares). Problemas práticos decorrentes de deficiência no sistema de controle da temperatura em reatores químicos: - Desativação/decomposição de materiais; - Perda da atividade de catalisadores; - Reações secundárias. A figura no próximo “slide” representa uma ilustração de uma malha por realimentação (feedback) para o controle da temperatura em um reator tanque agitado. Esquema representativo de uma malha de controle da temperatura de um reator tanque agitado. 7. Teorias cinéticas Uma teoria de Cinética Química busca proporcionar um quadro explicativo da fenomenologia da reação química. Há duas teorias básicas em Cinética Química: i) Teoria das colisões moleculares, e, ii) Teoria do estado de transição (ou teoria do complexo ativado). Entendimento da Teoria das Colisões De acordo com Hill (1977), todas as teorias de reação são teorias de colisão. Entretanto aplica-se o termo “teoria das colisões”, em sentido restrito, à teoria que relaciona a cinética química à teoria cinética dos gases. Natureza da teoria: Atomística (Teoria atômico-molecular da matéria → Teoria cinético-molecular → Teoria cinética dos gases). Bases explicativas: - Choques entre moléculas (relações para a frequência de choques a partir da Termodinâmica Estatística). Efetividade de choques: Configurações estereométricas (orientação espacial) e energética. - Velocidade proporcional ao número de choques. - Número de choques proporcional às concentrações e à temperatura. O “Número de choques” constitui uma variável da Termodinâmica Estatística; enquanto que “Concentração” e “Temperatura” são variáveis definidas e empregadas pela Termodinâmica Clássica. No raciocínio desenvolvido pela Teoria das Colisões, a velocidade de uma reação química pode ser relacionada às concentrações dos reagentes e à temperatura (variáveis macroscópicas e operacionais), constituindo-se, assim, uma estrutura explicativa consistente e representativa das observações empíricas, e capacidade preditiva do fenômeno. Entendimento da Teoria do Estado de Transição Natureza da teoria: Energetista. Bases explicativas: As bases explicativas desta teoria se encontram na Termodinâmica Clássica. Explicam-se as reações químicas a partir de relações de energia entre estados do sistema reacional. Reação: A + B → C A + B ↔ AB* ↔ C Estados de energia E1 E2 E3 De acordo com Hill (1977): “Na teoria do estado de transição assume-se que as moléculas reagentes precisam colidir e ter uma energia suficiente para atingir o topo de sua barreira de energia potencial. O estado no topo da barreira de energia é um estado de transição. Este estado de transição pode ser rompido, resultando em estados mais estáveis, que podem ser: a reversão aos reagentes, ou a conversão aos produtos”. Cabe ressaltar que esta teoria, em sua versão original, não fazia nenhuma consideração mecanicista sobre as interações/choques das moléculas do sistema reacional, reduzindo-se toda a explicação às relações de energia envolvidas na transformação de reagentes em produtos. Nota de História da Ciência No final do século XIX, existia na comunidade científica uma intensa controvérsia acerca da existência de átomos e moléculas. Duas grandes correntes: Atomismo versus Energetismo Defensor do Atomismo: Ludwig Boltzmann (1844-1906) Defensor do Energetismo: Ernst Mach (1838-1916) Realização da Conferência de Luebeck, em 1895, para discussão acerca das visões conflitantes da estrutura do mundo. Ver: “Nota Histórica sobre Boltzmann” (NOTAS DE AULA). 8. Experimentos Cinéticos As teorias cinéticas são ainda insuficientes para a predição de expressões quantitativas para as taxas de reação, devendo-se proceder a experimentos cinéticos. A partir dos dados experimentais, busca-se ajustar um modelo cinético representativo (empregando-se técnicas de regressão de dados. Método dos mínimos quadrados). Exemplo Reação: a A + b B → c C Experimento: Reator batelada (obtenção de dados integrais). Dados experimentais T1, T2, T3, … Modelo possível (tipo lei de potência): ( - rA) = k CA αCB βCC γ k = A e- E/RT t CA CB CC t0 CA0 CB0 CC0 t1 CA1 CB1 CC1 t2 CA2 CB2 CC2 ⁞ ⁞ ⁞ ⁞ tN CAN CBN CCN
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