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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Considerações Anatômicas ................................... 6 3. Considerações patológicas ..................................12 4. E a prática? .................................................................23 Referências bibliográficas: ........................................25 3IMAGEM DO CRÂNIO 1. INTRODUÇÃO A neurorradiologia é a área responsá- vel pela investigação e pela interven- ção por imagem do encéfalo e medu- la espinhal. O conteúdo do crânio e estudado por meio de tomografia computadori- zada (TC), ressonância magnética (RM), angiografia e imagens nucle- ares. Desses, a TC e a RM são os principais métodos de avaliação atualmente. A radiografia, que já teve mais importância no passado devido à ausência de outros recursos, possui hoje um papel mais limitado: lesões penetrantes, lesões destrutivas, oste- opatia metabólica, anomalias congê- nitas e avaliação pós-operatória. Os exames mais úteis na neurorra- diologia atualmente são a TC, RM e angiografia. A angiografia é usada em cenário agudo, baseando-se na combinação adequada de TC ou RM. Além deste, os maiores concorrentes como exame de escolha são a RM e a TC. Uma RM padrão na emergência geralmente vai incluir as sequências T1, T2 e FLAIR. Já uma TC irá contar com cortes axiais em janelas ósseas e cerebrais, podendo ainda ser admi- nistrado o contraste intravenoso. Como regra geral, utiliza-se TC para doenças neurológicas agudas, e a RM para doenças subagudas ou crô- nicas. Se o quadro teve início há me- nos de 48h, convém iniciar com uma TC. Acima disso, já se pode pensar em pedir uma RM. Se a TC ou RM ini- cial apontar lesão vascular primária – como malformação arteriovenosa (MAV) ou aneurisma – prosseguimos para uma angiografia com cateteris- mo, angiorresonância ou angiotomo- grafia. Destas, a angioRM é melhor para documentar MAV, e a angioTC, para aneurismas. A angiografia, por sua vez, fica reservada para casos em que há necessidade de intervenção invasiva com fins terapêuticos. Se há um tumor nos exames de ima- gem iniciais, administra-se contraste para sua melhor avaliação. Se há sinais de evento isquêmico ge- rando infarto, convém realizar USG com doppler de artéria carótida, an- tioTC ou angioRM. Por fim, não use contraste iodado intravenosos numa TC em cenário agudo, a não ser que haja suspeita forte de abcesso ou tu- mor – ou se fizer parte do protocolo para triagem de AVC. Habitualmente, o exame de TC é rea- lizado como estudo inicial em suspei- ta de anomalias intracranianas. É re- alizado primeiramente sem contraste e, depois, com contraste intravenoso para mostrar estruturas ou anomalias vasculares, hematomas extra-axiais, ou para realçar lesões. Ainda é reali- zado TC de face e dos seios em casos de trauma ou infecção, respectiva- mente, pois pode oferecer informa- ções que apenas a radiografia não fornece. 4IMAGEM DO CRÂNIO A RM de crânio constitui um dos maiores avanços tecnológicos na neuroimagem, e é usada em suspeita de anomalias intracranianas como tu- mores e esclerose múltipla, exibindo mais detalhes nos planos axial, co- ronal e sagital do que a tomografia. É realizada nas sequências T1, T2, STIR e FLAIR. A angiografia cerebral é usada para avaliação de estruturas vasculares, como doença obstrutiva ateroscleró- tica, aneurismas e malformações ar- teriovenosas. Sua técnica pode com- plementar os estudos de TC e RM em alguns casos. A angiografia por RM é realizada isoladamente e com uso de contraste intravenoso para avalia- ção de artérias carótidas, vertebrais e cerebrais. Também é usada em TC e RM para melhor avaliar tumores – au- xiliando na sua remoção e na identifi- cação de seus vasos. As imagens nucleares por muito tem- po foram o único procedimento não- -invasivo, antes do surgimento da TC e RM. São quatro tipos de estudos nucleares realizados: cintolografia convencional, perfusão cerebral, cis- ternografia e PET. A cintilografia perdeu muito do seu espaço após o advento da RM. Era co- mumente utilizada para investigação adicional em casos de TC negativas ou equívocas. A perfusão cerebral por TC por emissão de fóton único (SPE- TC) ainda é usada e candidatos a en- darterectomias carotídeas ou oclusão de aneurisma vascular intracraniano. Neste estudo, uma injeção de radioi- sótopos no vaso suspeito fornece da- dos sobre a perfusão cortical ipsilate- ral. Já a cisternografia é utilizada para identificar locais de extravazamento de líquido cerebroespinhal, avaliação da viabilidade de shunts e no diag- nóstico de hidrocefalia com pressão normal. Estudos de PET, por sua vez, avaliam a perfusão e metabolismo encefálicos, sendo usada para dife- renciar necrose por radiação de tumor residual, localização de focos de con- vulsão para planejamento cirúrgico e diagnóstico da doença de Alzheimer. Por fim, imagens com radionuclídeos são usadas para obter confirmação de morte cerebral. A ausência de flu- xo arterial e de acúmulo de sangue no sistema venoso são compatíveis com morte encefálica. 5IMAGEM DO CRÂNIO NEURORRADIOLOGIA: INTRODUÇÃO T1, T2, STIR, FLAIR Neurorradiologia Principais exames RM TC Janela óssea Janela de tecidos moles Radiologia nuclear Angiografia RM TC Mais usados <48h de evolução >48h de evolução TC RM 6IMAGEM DO CRÂNIO 2. CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS Nos exames de imagem do crânio, em especial a radiografia e a tomografia, é interessante termos conhecimento sobre sua anatomia e um método pró- prio de esquematização da avaliação. Para a radiografia, sugerimos a seguin- te ordem: abóboda óssea, sela túrcica, ossos faciais, forames basais e tecidos moles. Suas incidências mais rotineiras são posteroanterior (PA), anteroposte- rior (AP), AP semiaxial e da base. Cada uma das incidências objeti- va focar em uma região do crânio. A incidência em PA destaca os ossos frontais, seios frontal e etmoide, cavi- dade nasal, rebordos orbitais superio- res e mandíbula. A incidência lateral demonstra os ossos frontal, parietal, temporal e occiptal, região mastoide, sela túrcica, assoalho das órbitas e aspectos laterais dos ossos da face. A incidência semiaxial ilustra o osso oc- cipital, côndilos mandibulares, articu- lações temporomandibulares, regiões mastóide e da orelha média, forame magno e arcos zigomáticos. A inci- dência da base demonstra forames basais principais e arcos zigomáticos. Figura 1. Radiografia PA do crânio. Fx: Foice do Cérebro; Fs: seio frontal; Ia: canal auditivo externo; Ss: seio esfenoidal; Ms: seio maxilar. Fonte: Radio- logia Clínica Básica – 2ª ed. 7IMAGEM DO CRÂNIO Figura 2. Incidência em perfil. Setas preenchidas: sutura coronal; flechas: sulcos vasculares me- níngeos médios; seta vazada: sutura occipital; M: células areadas da mastóide; St: sela túrcica. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. Figura 3. Incidência Semiaxial modificada. Fx: foice do cérebro; setas vazadas: sutura occiptal; Ia: canal auditivo interno; Pr: ápice do osso petroso; M: células areadas do mastoide; Fm: forame magno. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. Figura 4. Incidência de base. M: células areadas da mastoi- de; Mn: mandíbula; Ms: seio maxilar; Ss: seio esfenoidal; Fm: forame magno e Tm: articulação temporomandibular. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. 8IMAGEM DO CRÂNIO A avaliação por RM ou TC gera ima- gens transversais semelhantes. Para ajudar a diferenciar, temos que a RM diferencia com nitidez as substâncias branca e cinzenta, sendo inclusive mais fácil identificar na RM os nú- cleos da base. A RM fornece um de- talhamento muito maior de partes moles em relação à TC. Compare as imagens abaixo. Figura 5. Imagens sem alterações a nível próximo da base do crânio. Imagem A: Tomografia; Imagem B: Res- sonância Magnética. Observe o maior detalhamento da RM, onde é possíveis identificar nervos e músculos. Cb: cerebelo; 4: quarto ventrículo;P: ponte; T: lobo temporal; S: sela túrcica; I: infundíbulo da hipófise; ICA: artérias carótidas internas; O: nervo óptico; M: músculos oculares. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. Figura 6. Anatomia normal. Corte a nível do mesencéfalo. A: estudo de TC; B: estudo de RM. Observe as seguintes estruturas: CN: núcleo caudado; L: ventrículo lateral; F: fórnix; Th: tálamo; 3: terceiro ventrículo; LN: núcleo lentiforme. Observe o maior detalhamento e a melhor diferenciação entre as substâncias cinza e branca na imagem da RM. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. 9IMAGEM DO CRÂNIO A TC pode ser realizada em duas principais janelas: a janela óssea e a janela de partes moles. A janela ós- sea permite melhor caracterização dos ossos cranianos. Para avaliação de anormalidades intracranianas, no entanto, a janela de partes moles per- mite que o parênquima cerebral seja melhor visualizado. Em relação à RM, na sequência T1, conteúdo líquido aparece em hipossi- nal. Já em T2, conteúdo líquido apare- ce em hipersinal. Alguns princípios devem ser obser- vados para reduzir a chance de erro na análise da imagem do crânio: Linha média: a linha média do cérebro deve estar centra- lizada, e ambos os hemiférios devem ser iguais. Qualquer desvio da linha média é con- siderado como presença de lesão expansiva. Não existem patologias que “puxem” a linha média em direção a si próprias (como poderiamos comparar com a atelectasia pulmonar), ou seja, desvios de linha média apontam para lesões expansi- vas provenientes do ponto de desvio. Caso o septo interven- tricular e o terceiro ventrículo estejam na linha média, não Figura 7. Anatomia normal do cérebro. A: tomografia; B: RM. Corte ligeiramente alto. S: septo interventricular; CN: núcleo caudado, CP: plexo coroide. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. 1 10IMAGEM DO CRÂNIO se verifica presença de her- niação subfalcina ou hérnia de cíngulo. Simetria do cérebro: não existe um critério ou parâ- metro para definir que os he- misférios cerebrais são simé- tricos. Habitualmente, essa capacidade advém da experi- ência com análise de exames de imagem. No geral, os sul- cos cerebrais de um hemis- fério devem ter o mesmo ta- manho dos sulcos cerebrais no hemifério contralateral. A fissura inter-hemisférica an- terior deve ser visualizada. A perda desses sulcos pode ser resultado de compressã por massa, opacificação do líqui- do cefalorraquidiano (LCR) por hemorragia, meningite, e até mesmo disseminação tumo- ral para o LCR. Em pacientes de idade mais avançada, certa atrofia é normal e permite a vi- sualização do LCR periferica- mente. Deslocamento medial significativo dos sulcos tende a representar compressão re- sultante de coleção líquida ex- tracerebral. É importante, no entanto, atentar-se para o fato de que a coleção líquida pode acometer os dois hemisférios, causando dificuldade no com- parativo entre eles. Cisternas da base do crânio: sinais mais sutis de massa in- tracraniana incluem distorção nos espaços do LCR na fossa posterior e na base do cérebro – que são as cisternas colicular e suprasselar. Qualquer assime- tria na cisterna colicular deve ser cuidadosamente investigada, pois anormalidades nessa estru- tura podem traduzir uma rotação do tronco por herniação, apaga- mento da cisterna por massa cerebelar ou truncal, ou opacifi- cação na cisterna pr hemorragia. Anomalias na cisterna supras- selar podem ser causadas por herniação uncal. Massa central pode ser resultado de tumor selar ou suprasselar. Já sua opacificação pode decorrer de hemorragia ou meningite. Ventrículos: a última estrutura que avaliamos é o sistema ven- tricular. A sugestão é que seja iniciada a avaliação pelo quarto ventrículo na fossa posterior – por ser o de visualização mais difícil na TC. Assimetria ou des- vio nessa estrutura pode ser o único sinal de massa intracra- niana. No entanto, é importan- te ter em mente que, devido à sua conformação, pode haver discreta assimetria entre essas duas estruturas – e isso pode se acentuar a depender da po- sição do paciente. 2 3 4 11IMAGEM DO CRÂNIO Depois disso, deve-se verificar as di- mensões totais do sistema ventricu- lar. Alargamento dos ventrículos late- rais e do terceiro ventrículo, associado a cefaleia ou sinais de massa intracra- niana, pode sugerir hidrocefalia. No entanto, deve-se fazer o diferen- cial entre hidrocefalia e atrofia nos ca- sos de alargamento ventricular. Nes- ses casos, convém observar o grau de discrepância entre o alargamento dos sulcos e dos ventrículos. CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS: FLUXOGRAMAS DE AVALIAÇÃO Considerações anatômicas Radiografia TC e RM Abóboda óssea Linha média Sela Túrcica Simetria do cérebro Ossos faciais Cisternas Forames Basais Ventrículo Tecidos moles Parênquima 12IMAGEM DO CRÂNIO 3. CONSIDERAÇÕES PATOLÓGICAS As alterações radiológicas mais co- mumente observadas na radiologia são compostas por: • Trauma • Neoplasias • Doenças Vasculares • Esclerose Múltipla • Infecções/Tumores • Atrofia cerebral e hidrocefalia Trauma O trauma é uma das poucas ocasi- ões em que a radiografia de crânio pode ter boa indicação. No entan- to, deve-se ter em mente que, após um trauma, a presença de sinais ou sintomas de anomalia neurológica, como perda de consciência e acha- dos neurológicos anormais duran- te o exame, indicam a realização de uma TC de crânio. O tratamento de uma fratura craniana, via de regra, irá se basear no tratamento da ano- malia neurológica resultante, sendo a presença de fratura per se pouco sig- nificativa no tratamento. Pode haver casos de fratura sem achados neuro- lógicos, assim como pode haver lesão cefálica sem fratura óssea resultando em lesão neurológica. Por isso, deve- mos concentrar mais esforços numa possível lesão neurológica. No entanto, existem algumas exce- ções. Não à toa utilizamos a expres- são “via de regra. São elas: fratura com depressão craniana e fratura associa- da a penetração de projétil de arma de fogo (PAF). Porém, nestes dois ca- sos,frequentemente haverá anomalia neurológica associada – indicando a TC antes da terapia corretiva. E quais são os sinais de lesão cere- bral? Os mais clássicos são edema ou hemorragia cerebral. Na TC, o edema cerebral é manifestado como uma área de baixa densidade. Já a hemorragia aguda é caracterizada por uma área de alta densidade na tomografia. Em relação à RM, o edema cerebral se manifesta como áreas de baixa densidade de sinal nas imagens em T1, e de aumento da intensidade do sinal nas imagens em T2 e em STIR. Com relação ao trauma, existem três tipos de sangramento craniano pós- -traumático: hemorragia intracere- bral, hematomas subdurais e hema- tomas peridurais. A hemorragia intracerebral se apre- senta na TC como áreas de hiper- densidade no estágio agudo. As he- morragias subdurais se associam a sangramento que se exterioriza no ventrículo. Na RM, o sinal de hemorragia depen- derá da idade, podendo variar de baixa até alta densidade. Nos hematomas epidurais, o sangramento resulta de 13IMAGEM DO CRÂNIO fraturas que envolvem uma das ar- térias meníngeas. Na imagem, eles possuem conformação lentiforme. Os hematomas subdurais resultam de lesão nas veias meníngeas. Sua conformação se assemelha à de uma lua na imagem, acomondando-se ao contorno do cérebro e sendo chama- da de conformação “crescente”. Figura 8. Hemorragia Intracraniana. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. Figura 9. Hemorragia epidural demonstrada pelo asterisco. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. 14IMAGEM DO CRÂNIO Figura 10. Hematoma Subdural. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. Figura 11. Hematoma subdural. À esquer- da, RM de hematoma subdural em T1. 15IMAGEM DO CRÂNIO Figura 12. Fonte do exame de imagem: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. Lua Subdural No trauma facial, uma anormalidade frequentemente associada é o trauma de vértebra cervical. Um golpe diretono crânio ou face podem causar es- tresse nas vértebras cervicais, geran- do fratura ou ruptura de ligamento. Neoplasias Com o advento da TC e da RM, o diag- nóstico de neoplasia cerebral – primá- ria ou metastática – foi facilitado. Os tumores intracranianos podem ser axiais – localizados na substância ce- rebral propriamente dita; extra-axiais – localizados fora da substância cere- bral, como nas meninges (meningio- ma) – ou, raramente, ósseos. Seus achados incluem delimitação na massa tumoral na TC ou RM e ede- ma em graus variados. Na RM, a presença de edema se ma- nifesta como um sinal de baixa den- sidade em T1, e como sinal de alta densidade em T2. A própria massa ou o edema podem causas compressão de estruturas encefálicas, causando deslocamen- to dos ventrículos e compressão de tecidos cerebrais normais adjacen- tes. Numerosas massas na imagem sugerem doença metastática, sendo edema em torno desses tumores um sinal que contribui para a suspeita de doença metastática. Algumas alterações vasculares ge- radas por tumores incluem: deslo- camento de vasos e presença de neovascularização. Além disso, de- vido à neovascularização, a lesão pode ter realce nas imagens de RM ou TC após injeção de contraste. 16IMAGEM DO CRÂNIO Figura 13. Tomografia eviden- ciando implante neoplásico cerebral (metástase) de carcinoma colorretal. Há uma lesão hiperden- sa no lobo occipital esquerdo, com centro necrótico e com edema circundante. Fonte: https://radiopaedia.org/ cases/cerebral-metastasis-colo- rectal- carcinoma?lang=us Figura 14. Meningioma Frontal. RM com ponderação em T1. Fonte: Radiologia Clínica Básica. 17IMAGEM DO CRÂNIO Doenças Vasculares Anomalias vasculares são achados comuns na cabeça e pescoço. As principais anomalias incluem: 1. Oclusão embólica ou aterosclerótica; 2. Hemorragia intracerebral; 3. Malformações arteriovenosas (MAV); 4. Aneurismas; 5. Hemorragias extracerebrais. Todas essas condições são facilmente identificadas por uma TC ou RM. Ain- da, o exame de carótidas com ultras- sonografia (USG) com doppler identi- fica alterações no pescoço, e podem auxiliar na avaliação de pacientes com suspeita de eventos cerebrais is- quêmicos. Caso o estudo dê alterado, recomenda-se realizar a arteriografia – especialmente naqueles pacientes candidatos a angioplastia de carótida. Já falamos um pouco neste Super Material sobre hemorragias intracra- nianas. Uma coisa importante de ser lembrada é que o sangue aparece com hiperdensidade na TC e com hi- persinal (branco) na RM em T1. Por outro lado, na RM realizada em T2, o sangue aparece em hipossinal (es- curo). Portanto, ao estudar eventos vasculares nessas técnicas, convém lembrar desses aspectos no momen- to da identificação da hemorragia na imagem. A angiografia, por sua vez, é um es- tudo invasivo – é bem parecido com o cateterismo na cardiologia! Com ele, podemos ter uma visão melhor elaborada das artérias cerebrais, tor- nando possível identificar oclusões e aneurismas – estes constituem uma causa significante de hemorragia su- baracnoide. Veja nas imagens abaixo. 18IMAGEM DO CRÂNIO Na hemorragia subaracnoide (HSA), vemos sangue nas fissuras e nos ventrículos cerebrais. Lembre-se que se trata de um extravasamento de sangue para o espaço abaixo da aracnoide e acima da pia-máter, en- tão iremos encontrar sangue nessas regiões diante do exame de imagem de um paciente com HSA. Esclerose Múltipla De longe, a ressonância magnéti- ca constitui o melhor método para diagnóstico e avaliação do paciente com suspeita de esclerose múltipla (EM). A esclerose múltipla é uma doença autoimune, de etiologia desconhe- cida, na qual o sistema imunológico destrói a substância mielina do sis- tema nervoso central. Está no grupo das doenças desmielinizantes e se caracteriza como a principal patologia deste grupo. Nesse método, encontraremos ní- tidas placas que se formam no Figura 15. Hemorragia subaracnoide. Observe a hiper densidade que recobre as cisternas basais, correspondente ao sangue extravasado. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. 19IMAGEM DO CRÂNIO interior da substância branca. Veja imagens abaixo. Ainda, pode haver os denominados “dedos de Dawson”: placas hiperden- sas periventriculares. Essas placas se desenvolvem ao longo das veias periventriculares, e são atribuídas à infla- mação perivenular causada pela doença. Além do diagnóstico e avaliação, a RM também constitui o principal exame de imagem para o acompanhamento de pacientes sendo tratados para EM. Figura 16. Imagem de RM em T2/FLAIR. Observe as hiper densidades ao longo do corpo caloso, evidenciando os “dedos de Dawson”. Fonte: https://radiopaedia.org/cases/multiple-sclerosis-8?lang=us Figura 17. Imagens em T2. Observe as placas ventriculares de sinal intenso, sugestivas de esclerose múltipla. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. 20IMAGEM DO CRÂNIO Abcessos Cerebrais Abcessos cerebrais frequentemente se apresentam em forma de massa, e praticamente todos os pacientes tem um foco infeccioso em outra parte do corpo. No estudo de TC e de RM, o abcesso cerebral se caracteriza por uma massa, habitualmente com re- alce periférico – que representa sua cápsula. Diferentes infecções por diferentes patógenos podem ainda apresentar características que falem a favor de- las. A encefalite pelo vírus da herpes simples afeta os lobos frontais infe- riores e os lobos temporais, havendo aumento da intensidade do sinal em T nos giros atingidos. A toxoplasmo- se, por sua vez, é a infecção oportu- nista mais comum em pacientes com HIV. A lesão típica da toxoplasmose é uma ou mais massas no parênquima cerebral com intenso realce. Atrofia Cerebral e Hidrocefalia A atrofia cerebral tem causas varia- das, como infarto cerebral, traumatis- mo prévio e envelhecimento. Na TC e na RM, seus aspectos típicos incluem aprofundamento dos sulcos e a di- latação dos ventrículos. Certo nível de atrofia é normal no processo fisio- lógico do envelhecimento, no entanto, pacientes com doença de Alzheimer também exibem essas alterações na imagem. Nesse caso, estudos com PET são úteis na confirmação diagnóstica. A hidrocefalia, por sua vez, é causa- da por uma dilatação excessiva do sistema ventricular. Há compressão consequente de outras estruturas, prejudicando seu funcionamento adequado. Na hidrocefalia, preconi- za-se um diagnóstico precoce e o es- tabelecimento rápido de shunting. A hidrocefalia pode ter causa congê- nita ou adquirida. A hidrocefalia con- gênita comumente está presente em síndromes que causam anomalias ce- rebrais – a exemplo da malformação de Arnold-Chiari do romboencéfalo e espinha bífida. A ultrassonografia obstétrica é capaz de identificar es- sas alterações no pré-natal. Nas imagens de tomografia e de res- sonância, a hidrocefalia se caracteriza por dilatação ventricular acentuada. 21IMAGEM DO CRÂNIO Figura 18. Imagem em T1. Observe a atrofia cerebral evidenciada pela largura dos sulcos. Fonte: https://radiopaedia.org/cases/ alzheimer-disease-1?lang=us Figura 19. Imagem em T1 evidenciando hi- drocefalia intensa. Fonte: Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. 22IMAGEM DO CRÂNIO MAPA MENTAL: PATOLOGIAS ASPECTOS PATOLÓGICOS Trauma Neoplasias Doenças Vasculares Esclerose Múltipla Abcesso Atrofia e hidrocefalia Edema Hemorragia Axiais Extra-axiais Massa Edema Neovascularização Placas hiperdensas na substância branca Dedos de Dawson Obstrução Hemorragia Malformação Aneurisma USG doppler Massa Realce Periférico Aprofundamento dos sulcos Dilatação ventricular Angiografia 23IMAGEM DO CRÂNIO 4. E A PRÁTICA? Você chegou até aqui neste Super Material, e continua confuso e in- seguro sobre qual exame pedir nas principais ocasiões. Vamos te ajudar nisso agora para fechar o assunto com mais firmeza! • Pacientes com traumatismo agu- do: a preferência é dada ao exame de TC sem contraste. A principal anormalidade a serdetectada é a hemorragia, fique de olho nela! • Acidente Vascular Cerebral (AVC): chegou um paciente para você com clínica de AVC? O exame inicial é TC sem contraste. Lembre que frequentemente o AVC is- quêmico só irá dar alterações al- gumas horas depois, enquanto a hemorragia do AVC hemorrágico pode ser detectada com bastante sensibilidade nas primeiras horas. Então, a finalidade principal da TC sem contraste aqui é excluir AVC hemorrágico, pois as condutas di- ferem muito entre os dois! • Avaliação pré-trombolítica: com- plicações hemorrágicas do AVC e da trombólise são mais frequen- tes quando há sinais precoces de grandes infartos na TC inicial – ou na RM inicial. Grandes infartos são indicados pela perda de distin- ção entre a substância branca e a substância cinzenta, baixa atenu- ação dos sulcos da base e perda da definição na ínsula. Esses sinais contraindica a trombólise. • Infecção e câncer: sempre que houver suspeita de uma dessas condições, deve-se preferir a RM com contraste. A RM é capaz de demonstrar alterações meníngeas melhor que qualquer outra moda- lidade, além de evidenciar tumores ou metástases. • Cefaleia: uma das principais quei- xas na emergência. Você vai se deparar com um paciente com ce- faleia. Cefaleia intensa e de início rápido indica AVC hemorrágico, hidrocefalia aguda ou crescimento de massa intracraniana. A cefaleia crônica é mais habitualmente ava- liada pela ressonância magnética. Se a cefaleia não vier acompanha- da de sintomas neurológicos loca- lizados, a RM sem contraste costu- ma bastar. Se essas queixas estão presentes, indica-se uma RM com contraste de gadolíneo. Se cefa- leia crônica é a única queixa e não há sinais de alarme, muitas vezes sequer é necessário pedir exames complementares – na medida em que enxqueca ou cefaleia tensio- nal pode ter diagnóstico clínico. • Coma: deve-se fazer um exame de imagem para detectar hemor- ragia intracraniana ou outro tipo de lesão, sendo a TC sem contraste o método utilizado inicialmente. 24IMAGEM DO CRÂNIO • Demência: geralmente o pacien- te com demência crônica é indi- cado para RM sem contraste. Não só auxilia na exclusão de algumas causas, como é capaz de avaliar a atrofia cerebral – que é um dado importante para o diagnóstico de doença de Alzheimer. • Encefalopatia pós-traumática: uma RM pode auxiliar na identifi- cação de atrofia progressiva e de depósitos de hemossiderina – que é sugestivo de lesão axonal difusa – bem como lesões hemorrágicas na RM ponderada em T2. MAPA MENTAL: EXAMES INICIAIS TC sem contrasteTraumatismo agudo Tomografia sem contrasteAcidente Vascular Cerebral (AVC) TC ou RMAvaliação pré-trombolítica RM com contrasteInfecção ou câncer TC sem contrasteCefaleia TC sem contrasteComa RM sem contrasteDemência RM sem contrasteEncefalopatia pós-traumática 25IMAGEM DO CRÂNIO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DAFFNER, Richard H. Radiologia Clínica Básica – 2ª ed. BRANT, William E; HELMS, Clyde A. Fundamentos de Radiologia – 4ª ed. Suzanne Palmer et al. Subcallosal Striations: Early Findings of Multiple Sclerosis on Sagital, Thin-Section, Fast FLAIR MR Images. 26IMAGEM DO CRÂNIO
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