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APG – SOI V Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/5º Período 1 @emilly.lorenaa APG 7 – Mancha na cabeça 1) REVER A MORFOFISIOLOGIA DAS PRINCIPAIS ESTRUTURAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL TELENCÉFALO O telencéfalo compreende os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, e uma pequena linha mediana situada na porção anterior do IIIº ventrículo. São separados parcialmente pela fissura longitudinal do cérebro. No telencéfalo encontramos circunvoluções denominadas de giros, sendo que esses giros do telencéfalo são separados por sulcos. O telencéfalo é dividido em partes denominadas lobos = são cinco lobos anatômicos do telencéfalo e um lobo considerado funcional. Os lobos anatômicos do telencéfalo são: frontal, parietal, temporal, occipital e insular. O lobo funcional do telencéfalo é o lobo límbico, que abrange parte dos lobos frontal, parietal e temporal. O estudo do telencéfalo pode ser realizado de forma didática levando em consideração as suas três faces: Súpero-lateral, inferior e medial. A existência dos sulcos permite considerável aumento do volume cerebral e sabe-se que cerca de dois terços da área ocupada pelo córtex cerebral estão “escondidos” nos sulcos. Em qualquer hemisfério, os dois sulcos mais importantes são: SULCO LATERAL: é o sulco que separa o lobo frontal do lobo temporal. Ele é subdividido em ascendente, anterior e posterior. SULCO CENTRAL: separa o lobo parietal do frontal. O sulco central é ladeado por dois giros paralelos, um anterior, giro pré-central, e outro posterior, giro pós-central. As áreas situadas adiante do sulco central relacionam-se com a MOTRICIDADE, enquanto as situadas atrás deste sulco relacionam-se com a SENSIBILIDADE. Outro sulco importante situado no telencéfalo, na face medial, é o SULCO PARIETO-OCCIPITAL, que separa o lobo parietal do occipital. LOBO FRONTAL No lobo frontal, existem 3 sulcos principais: pré central, frontal superior e o frontal inferior. Entre o sulco central e sulco pré central, está o giro pré central, onde se localiza a principal área motora do cérebro. Além desse importante giro, o lobo frontal possui os giros frontal superior, frontal médio e frontal inferior. O giro frontal inferior do hemisfério cerebral esquerdo é denominado giro de Broca, e aí se localiza, na maior parte das pessoas, uma das áreas de linguagem do cérebro. Além disso, o giro frontal inferior pode ser dividido em três partes: orbital, triangular e opercular. LOBO TEMPORAL No lobo temporal, existem dois sulcos principais: temporal superior e temporal inferior. Os giros existentes no lobo temporal são giro temporal superior, giro temporal médio, giro temporal inferior e giros temporais transversos. Neste lobo, evidencia-se a área da audição localizada no giro temporal transverso anterior, que é a porção posterior do giro temporal superior, visível afastando-se os lábios do sulco lateral. LOBO PARIETAL O lobo parietal possui 2 sulcos principais: pós central e intraparietal. Além disso, possui 3 giros: pós-central, supramarginal e angular. O giro pós central fica entre os sulcos central e pós-central, onde se localiza uma das mais importantes áreas sensitivas do córtex, a área somestésica. APG – SOI V Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/5º Período 2 @emilly.lorenaa LOBO OCCIPITAL O lobo occipital se localiza na face dorsolateral do cérebro, ocupando uma área pequena. Apresenta giros e sulcos irregulares nessa face. Este lobo cerebral é o de menor crescimento durante o desenvolvimento, por isso fica recoberto pelos lobos vizinhos (frontal, temporal e parietal). Apresenta dois sulcos importantes na face medial do cérebro SULCO CALCARINO: se inicia abaixo do esplênio do corpo caloso e tem um trajeto arqueado em direção ao polo occipital. Nos lábios do sulco calcarino localiza-se a área visual, também chamada área estriada porque o córtex apresenta uma estria branca visível a olho nu; SULCO PARIETOCCIPITAL: é muito profundo, separa o lobo occipital do parietal e encontra, em ângulo agudo, o sulco calcarino. Entre o sulco parietoccipital e o sulco calcarino situa-se o cuneus, giro complexo, de forma triangular. Abaixo do sulco calcarino situa-se o giro occípito-temporal medial, que continua anteriormente com o giro para- hipocampal, já no lobo temporal. LOBO INSULAR O lobo da ínsula é visualizado afastando- se os lábios do sulco lateral. A ínsula tem forma cônica e seu ápice, voltado para baixo e para frente, é denominado de límen da ínsula. VASCULARIZAÇÃO DO ENCÉFALO A vascularização arterial encefálica provém das artérias carótida interna e vertebral, cujos ramos terminais estão situados no espaço subaracnóideo. A drenagem venosa encefálica ocorre pelas veias cerebrais e cerebelares que drenam para os seios venosos durais adjacentes. As artérias carótidas internas originam-se no pescoço, a partir das artérias carótidas comuns = circulação anterior do encéfalo! A parte cervical de cada artéria ascende verticalmente através do pescoço, sem ramificações, até a base do crânio. Cada artéria carótida interna entra na cavidade do crânio através do canal carótico na parte petrosa do temporal. As artérias carótidas internas seguem através dos seios cavernosos e caminha próximo aos NC VI e muito próxima aos NC III, NC IV e ramo oftálmico do NC V, passando no sulco carótico na lateral do corpo do esfenoide Os ramos terminais das artérias carótidas internas são as ARTÉRIAS CEREBRAIS ANTERIOR E MÉDIA. Tais artérias se subdividem em ramos menores superficiais e profundos, rumo as estruturas internas. As artérias vertebrais direita e esquerda destacam-se das artérias subclávias correspondentes. Elas sobem no pescoço dentro dos forames transversos das vértebras cervicais e perfuram a membrana atlanto-occipital, a dura-máter e a aracnoide, penetrando no crânio pelo forame magno = circulação posterior do encéfalo! Elas percorrem, a seguir, a face ventral do bulbo e, aproximadamente no nível do sulco bulbo-pontino, fundem-se para constituir um tronco único, a artéria basilar. As artérias vertebrais dão origem às duas artérias espinhais posteriores e à artéria espinhal anterior que vascularizam a medula. Originam ainda as artérias cerebelares inferiores posteriores, que irrigam a porção inferior posterior do cerebelo. A artéria basilar percorre geralmente o sulco basilar da ponte e termina bifurcando-se para formar AS ARTÉRIAS CEREBRAIS POSTERIORES DIREITA E ESQUERDA. POLÍGONO DE WILLIS: As artérias cerebrais anteriores são unidas pela artéria comunicante anterior. Perto de seu término, as artérias carótidas internas são unidas às artérias cerebrais posteriores pelas artérias comunicantes posteriores, completando o círculo arterial do cérebro. APG – SOI V Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/5º Período 3 @emilly.lorenaa O círculo arterial do cérebro, ou polígono de Willis, é uma anastomose arterial de forma poligonal e está situado na base do cérebro, onde circunda o quiasma óptico, relacionando-se ainda com a fossa interpeduncular. É formado pelas porções proximais das artérias cerebrais anterior, média e posterior, pela artéria comunicante anterior e pelas artérias comunicantes posteriores, direita e esquerda ARTÉRIA CEREBRAL ANTERIOR: dirige-se para diante e para cima, curva-se em torno do joelho do corpo caloso e ramifica- se na face medial de cada hemisfério, desde o lobo frontal até o sulco parietoccipital. Distribui-se também à parte mais alta da face dorsolateral de cadahemisfério, onde se limita com o território da artéria cerebral média. A obstrução de uma das artérias cerebrais anteriores causa, entre outros sintomas, paralisia e diminuição da sensibilidade no membro inferior do lado oposto, decorrente da lesão de partes das áreas corticais motora e sensitiva, que correspondem ao membro inferior e se localizam na porção alta dos giros pré e pós-central (lóbulo paracentral). ARTÉRIA CEREBRAL MÉDIA: percorre o sulco lateral em toda a sua extensão, distribuindo ramos que vascularizam a maior parte da face dorsolateral de cada hemisfério. Este território compreende áreas corticais importantes, como a área motora, a área somestésica, o centro da palavra falada e outras. Quando não fatal, a obstrução, determina uma sintomatologia a muito rica, com paralisia e diminuição da sensibilidade do lado oposto do corpo (exceto no membro inferior), podendo haver ainda graves distúrbios da linguagem. ARTÉRIA CEREBRAL POSTERIOR: dirigem-se para trás, contornam o pedúnculo cerebral e, percorrendo a face inferior do lobo temporal, ganham o lobo occipital. A artéria cerebral posterior irriga, pois, a área visual situada nos lábios do sulco calcarino e sua obstrução causa cegueira em uma parte do campo visual. 2) DEFINIR A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO AVE ISQUÊMICO E HEMORRÁGICO O acidente vascular encefálico (AVE) é a síndrome do déficit neurológico focal agudo causada por um distúrbio vascular que danifica o tecido encefálico. É um importante problema de saúde público mundial, ocupando posição de destaque como a 2ª causa de morte e a principal causa de incapacidade do adulto no mundo. No Brasil, apresenta importância ainda maior, correspondendo atualmente à principal causa de morte e incapacidade. O termo AVE descreve duas condições com fisiopatologias distintas: AVE ISQUÊMICO (AVEI): ocorre uma diminuição do suprimento sanguíneo (interrupção do fluxo sanguíneo = trombose, embolia ou hipoperfusão) e, consequentemente, do aporte de oxigênio e nutrientes para uma determinada parte do encéfalo; Constitui o tipo mais comum, representando 87% de todos os casos de AVE. AVE HEMORRÁGICO (AVEH): caracteriza pelo extravasamento de sangue (hipertensão, aneurisma ou malformação arteriovenosa) para o interior da cavidade craniana fechada. É responsável por 13% dos casos de acidente vascular encefálico, 10% das hemorragias intracerebrais e 3% das hemorragias subaracnoides. Tem uma taxa de mortalidade muito mais alta do que o AVEI. Tanto o AVEI quanto o AVEH podem ser classificados em subtipos que possuem causas, apresentações clínicas, desfechos e tratamentos distintos. Os fatores de risco para AVE são idade avançada, sexo, raça negra e alguns hispânicos/latino americanos, AVE prévio, HF, HAS, tabagismo, DM, doença cardíaca (fibrilação atrial e outras condições que predispõem à formação de coagulo na parede do coração ou das válvulas). Outros fatores de risco comportamentais possíveis de serem modificados incluem obesidade, sedentarismo, uso abusivo de álcool e de drogas ilícitas, transtornos de hipercoagulabilidade, terapia de reposição hormonal e uso de contraceptivos orais. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÊMICO FISIOPATOLOGIA A lesão cerebral isquêmica ocorre por uma cascata de eventos que se inicia com a falta de suprimento sanguíneo para o tecido cerebral, levando a um déficit de glicose e oxigenação (hipóxia), que culmina da disfunção e subsequente morte celular. A região central do infarto, com mais baixa perfusão, é a que primeiramente sofre necrose tecidual, e ao seu redor encontra-se a chamada zona de penumbra isquêmica, que APG – SOI V Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/5º Período 4 @emilly.lorenaa contém tecido cerebral pouco funcionante, mas potencialmente recuperável, a depender do fluxo sanguíneo residual, duração da isquemia e ocorrência da reperfusão tecidual. Ou seja, durante a evolução de um AVE, geralmente existe um núcleo central de células mortas ou para morrer, cercado por uma banda isquêmica ou área de perfusão mínima das células, que é a zona de fronteira = penumbra. As células do encéfalo na área de penumbra recebem fluxo sanguíneo marginal, suas atividades metabólicas são comprometidas, mas é mantida a integridade estrutural das células encefálicas. Se a liberação de produtos tóxicos resultar na morte de células adicionais na área de penumbra, a zona de fronteira de tecidos mortos ou moribundos se ampliará e aumentará o volume de tecido isquêmico circundante. O ataque isquêmico transitório (AIT) corresponde à ocorrência de sinais ou sintomas neurológicos focais transitórios, sem lesão tecidual detectável nos exames de imagem, independentemente do tempo de duração do evento = levar em consideração a ocorrência de lesão tecidual, e não o tempo de duração dos sintomas! O AIT é um episódio de disfunção neurológica causada por isquemia localizada encefálica, medular ou retinal, sem infarto agudo. O AIT reflete uma perturbação temporária do fluxo sanguíneo cerebral focal, que é revertida antes de ocorrer o infarto. As causas são as mesmas do AVEI. Os AIT são importantes porque podem ser um aviso da iminência de um AVE. O AVEI é uma doença bastante heterogênea, podendo ser classificada etiologicamente em 5 subtipos: DOENÇA ATEROSCLERÓTICA DE GRANDES VASOS: leva à trombose local ou à tromboembolia, sendo uma das principais causas de AVEI. A doença aterosclerótica de grandes vasos pode acometer as artérias extracranianas (carótidas internas e vertebrais), assim como as intracranianas (polígono de Willis); O processo que leva à ateromatose nas artérias intracranianas e cervicais é idêntico ao que acontece na aorta e nas artérias coronárias. São fatores de risco: HAS, dislipidemia, DM e tabagismo; As placas ateromatosas, geralmente, formam-se em bifurcações arteriais, sendo os locais mais comuns a artéria carótida interna na sua emergência, as artérias vertebrais nas suas porções cervicais e junção, para formarem a artéria basilar e a bifurcação da artéria cerebral média. As lesões ateroscleróticas se desenvolvem de forma lenta e, normalmente, tornam-se sintomáticas na presença de um processo trombótico associado, que leva à oclusão arterial completa. Tanto a ruptura local da placa aterosclerótica quanto a embolização distal são mecanismos importantes de oclusão arterial nos casos de AVCI aterotrombótico. Um trombo, diferente de um êmbolo, não oclui completamente uma artéria quando se forma. Isso explica o perfil temporal da apresentação clínica do AVCI aterotrombótico, muitas vezes cursando com flutuações do quadro clínico até que o déficit máximo seja atingido. CARDIOEMBOLIA: é também uma das principais causas de AVEI. O AVEI por embolia cardioaórtica ocorre por causa da migração de um trombo de origem cardíaca ou de aorta ascendente (principalmente placas de ateroma de aorta >4mm) para a circulação cerebral, levando a uma oclusão arterial, levando a uma oclusão arterial que cursa com sintomatologia variável, a depender da área acometida. Esse tipo de isquemia apresenta maior propensão à ocorrência de transformação hemorrágica. Geralmente, afeta vasos cerebrais proximais maiores, muitas vezes alojados em bifurcações. O local mais frequente para um AVE embólico é a artéria cerebral média, refletindo o grande território desse vaso e sua posição como terminal da artéria carótida (trombo formado nessa região). APG – SOI V Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/5º Período 5 @emilly.lorenaa INFARTO DE PEQUENOS VASOS (AVE LACUNAR): o infartolacunar corresponde a lesões com diâmetro entre 3-15 mm, decorrente da oclusão de pequenas artérias e arteríolas perfurantes, originárias das artérias cerebrais médias, vertebrais, basilares ou demais vasos do polígono de Willis. É causado pela lipo-hialinolise desses vasos (parte das paredes dos vasos se deteriora e é substituída por uma mistura de gordura e tecidos conjuntivos) ou por ateromatose na origem destes, sendo a HAS e o DM seus principais fatores de risco. OUTRAS CAUSAS: Esta categoria engloba diversas condições que não podem ser incluídas em um grupo homogêneo de doenças. Entre as principais causas, podem-se relatar: dissecção arterial, doenças infecciosas ou inflamatórias de vasos intracranianos ou extracranianos, displasia fibromuscular, síndrome de Sneddon, infarto relacionado a enxaqueca ou drogas, entre outras.1 ETIOLOGIA INDETERMINADA: pode-se considerar quando foi realizada investigação etiológica completa e não foi evidenciada nenhuma causa para o AVE, ou quando se encontram 2 prováveis causas, não sendo possível afirmar qual dessas causou o evento vascular. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A apresentação clínica do AVC caracteriza-se pelo início súbito de um déficit neurológico focal. Entretanto, alguns pacientes apresentam progressão gradual dos sintomas ou evolução em “degraus”. O quadro neurológico pode ser composto por sintomas como: afasia (perturbação da fala), cefaleia, hemiparesia, disartria, alterações sensitivas, ataxia, hemianopsia e negligência, dependendo do território encefálico acometido. O rebaixamento do nível de consciência costuma estar presente em lesões supratentoriais extensas e também quando há acometimento do tronco encefálico. DIAGNÓSTICO O AVEI é uma emergência médica com curta janela terapêutica, sendo fundamental a obtenção rápida e objetiva da história clínica, realizando-se simultaneamente o diagnóstico diferencial com enfermidades que podem mimetizar essa situação. Na anamnese, o paciente ou seu acompanhante devem ser questionados sobre: O tempo de início dos sintomas (considera-se tempo inicial a última vez que o paciente foi visto acordado ou sem déficits); Doenças associadas; Ocorrência de crises epilépticas; Após crises epilépticas, pode ocorrer o fenômeno da paralisia de Todd, ou paresia pós-ictal, que apresenta reversão espontânea em até 48 horas.1 Trauma; Gravidez; Sinais infecciosos; Uso de drogas e medicações em uso. O exame físico geral, por vezes, negligenciado nessa emergência neurológica, é fundamental, sendo necessário buscar arritmias na ausculta cardíaca, sinais de trauma craniano ou cervical, mordedura de língua, que é comum em crises convulsivas, ausculta de sopro carotídeo, lesões de pele que possam sugerir moléstias infecciosas, como meningite, além de aferição dos sinais vitais. O exame neurológico deve ser breve, em virtude da estreita janela terapêutica, mas detalhado o suficiente para um bom diagnóstico diferencial, localização topográfica do agravo e quantificação do déficit por meio da aplicação da aplicação da escala National Institutes of Health (NIH). EXAMES COMPLEMENTARES: A avaliação complementar na fase aguda deve incluir hemograma, glicemia, provas de atividade inflamatória, função renal, eletrólitos, coagulograma, enzimas cardíacas, eletrocardiograma e radiografia de tórax. Não deve esperar esses exames para que seja administrada a terapia trombolítica EV, exceto em caso de dúvida diagnóstica ou ao tratar-se de paciente em uso de anticoagulante, quando o coagulograma definirá se existe contraindicação para sua realização. O ECG e as enzimas cardíacas podem demonstrar a ocorrência concomitante de IAM, como também a presença de arritmias. Os distúrbios glicêmicos podem mimetizar um AVCI, sendo ponto fundamental a avaliação da glicemia capilar já na admissão. EXAMES DE IMAGEM: A avaliação por imagem é imprescindível para diferenciar entre lesões isquêmicas ou hemorrágicas, podendo-se utilizar a TC sem contraste ou a RM de crânio. A TC de crânio é o método mais amplamente utilizado, por sua maior disponibilidade, menor custo e maior rapidez para realização. APG – SOI V Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/5º Período 6 @emilly.lorenaa É utilizado como método inicial para guiar a terapêutica; No paciente com AVEI pode manter-se inalterada por um período de 24 horas do inicio dos sintomas; Dessa forma, é importante buscar alguns sinais precoces como: apagamento dos sulcos corticais, perda da diferenciação, corticossubcortical, perda da diferenciação nos núcleos da base ou hiperdensidade da artéria cerebral média. A RM é um exame de maior custo e menor disponibilidade, entretanto, possui como grande vantagem sua maior sensibilidade para detectar quadros hiperagudos corticais ou subcorticais, como também para visualizar lesões no tronco encefálico. Possui maior sensibilidade para as alterações isquêmicas precoces. Além disso, pode ser avaliado o mismatch radiológico, ao observar-se a discrepância entre o volume de tecido cerebral com hipoperfusão e o volume de tecido com alteração na difusão, estimando a penumbra isquêmica. O estudo da vasculatura cervical e cerebral é importante no esclarecimento etiológico, como também no planejamento da terapia endovascular. O método tido como padrão-ouro é a angiografia digital, porém, atualmente usa-se mais amplamente os métodos não invasivos como a angiotomografia ou angiorressonância. O ultrassom Doppler de carótidas e vertebrais e o ultrassom Doppler transcraniano são métodos não invasivos que também permitem a visualização da circulação cervical e cerebral. A decisão sobre quais destes métodos utilizar depende da disponibilidade dos aparelhos e das possíveis contraindicações do paciente. TRATAMENTO Objetiva preservar a vida, limitar o dano cerebral, diminuir as incapacidades e evitar repetição do AVE. No AVEI, irá desobstruir as artérias e permitir maior afluxo sanguíneo para o cérebro. MEDIDAS DE SUPORTE (cuidados gerais): a abordagem inicial deve incluir avaliação e manejo das funções vitais primordiais (ABC – airway, breathing, circulation = vias respiratórias, respiração, circulação). Uma adequada oxigenação cerebral é fundamental para a vitalidade da região de penumbra isquêmica, o alvo principal da terapia aguda. Suporte respiratório: não necessitam de suplementação de oxigênio, exceto em casos em que a oximetria de pulso indicar uma saturação <92%. Glicemia: a hiperglicemia ocorre em mais da metade dos pacientes na fase inicial da isquemia, estando relacionado à maior mortalidade, sendo recomendado corrigir com insulinoterapia quando níveis glicêmicos >180mg/dL. A hipoglicemia deve ser corrigida imediatamente com administração de glicose EV. Temperatura: a temperatura corporal deve ser monitorada e mantida dentro da faixa normal, próxima aos 36,5 °C, isso leva a uma redução na morbimortalidade dos pacientes com AVEI. Já a hipertermia aumenta a liberação de radicais livres no tecido isquêmico, eleva a atividade metabólica neuronal, além de alterar a atividade de alguns neurotransmissores. Pressão arterial: Se HAS: não baixar no primeiro dia. Exceto quando PA > 220 x 120 mmHg, nessas situações, recomenda-se utilizar medicações endovenosas, objetivando uma redução de 15 a 25% do nível pressórico inicial nas primeiras 24 horas; Monitorização cardíaca: é obrigatória nas primeiras 24 horas, pois as arritmias cardíacas geralmente estão presentes no período pós-AVCEI, e algumas delas são causadoras de eventos isquêmicos. MEDIDAS ESPECÍFICAS: Antiagregante plaquetário: o ácido acetilsalicílico (AAS) é a droga de escolha no AVE, podendo ser usado em pacientes sem indicação de rtPA ecomo forma de prevenção de recidiva = inibe a formação do trombo, sem interferir de forma significativa nos demais segmentos da coagulação. Deve ser iniciada nas primerias 48 horas do evento isquêmico. APG – SOI V Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/5º Período 7 @emilly.lorenaa A sua utilização implica um menor risco de recorrência de eventos vasculares e melhor prognóstico. Heparina: Deve ser usada na dose profilática para tromboembolismo venoso, e não a heparinização plena. O anticoagulante oral de escolha é a warfarina sódica = age como anticoagulante ao inibir a antitromboplastina, através da antitrombina e atua indiretamente sobre vários fatores ativados da coagulação, como a trombina (fator IIa). Trombolítico: Devemos considerar a possibilidade de terapia trombolítica endovenosa (TEV) com ativador de plasminogênio tecidual recombinante (rtPA) se os pacientes preencherem os critérios de inclusão e não tiverem contra-indicações absolutas. O mais utilizado é o Alteplase = atua na dissolução de um trombo ou coágulo sanguíneo. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL HEMORRÁGICO FISIOPATOLOGIA A hemorragia intracraniana geralmente acontece por ruptura de arteríolas = ruptura espontânea de um vaso sanguíneo cerebral. O acúmulo de sangue no interior do crânio acontece em minutos ou horas, o hematoma expande gradualmente, havendo acúmulo de sangue na sua periferia, continuando a expandir-se até que a pressão do tecido ao redor impeça a sua progressão ou que haja descompressão espontânea do hematoma para dentro do sistema ventricular. A hemorragia intracerebral resultante pode causar um hematoma focal, edema, compressão do conteúdo do encéfalo ou espasmos dos vasos sanguíneos adjacentes. O AVEH é uma emergência neurológica, pois a ruptura de um vaso intracraniano pode levar a lesão mecânica direta do parênquima encefálico pela expansão do hematoma, aumento da pressão intracraniana ou herniação encefálica. A taxa de mortalidade dessa doença pode chegar a 52% em 30 dias. Os fatores predisponentes mais comuns são idade avançada e hipertensão! Os HEMATOMAS INTRAPARENQUIMATOSOS podem ter diferentes causas, dentre as mais comuns são o hematoma de causa: Hipertensiva – 60-70% dos casos; Secundários à angiopatia amiloide – 15% dos casos; Os hematomas intracranianos secundários a coagulopatias também constituem uma parcela importante dos AVEH, com previsão de aumento em sua incidência conforme aumenta o uso de anticoagulantes pela população. A HAS pode levar à ruptura da parede de vasos já enfraquecidos, já que as artérias penetrantes em pacientes com hipertensão desenvolvem hiperplasia intimal com hialinose da parede arterial, o que predispõe à necrose, ocasionando descontinuidade da parede do vaso. Esses pseudoaneurismas (Charcot-Bouchard) podem se associar a micro hemorragias por extravasamento de sangue através de falhas da parede arterial ou a hemorragias maciças, quando o sistema de coagulação não consegue compensar a ruptura da parede arterial, acontecendo principalmente nos pequenos ramos das artérias lenticuloestriadas dos núcleos da base. Os hematomas intracranianos primários de etiologia hipertensiva costumam ocorrer em territórios profundos cerebrais (núcleos da base, tálamo) ou infratentoriais (ponte, cerebelo), podendo também acometer as regiões lobares. Já a hemorragia por angiopatia amiloide é mais comum em pacientes idosos que apresentam depósito de proteína amiloide nos vasos intracranianos, o que os torna suscetíveis a ruptura. Esses pacientes apresentam alta incidência de micro hemorragias prévias, geralmente assintomáticas e detectadas apenas por RM, distribuídas difusamente e envolvendo o córtex e também regiões profundas e que constituem marcadores de risco para sangramento por angiopatia amiloide. Os hematomas por angiopatia amiloide acometem mais frequentemente as regiões lobares e corticais HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA ANEURISMÁTICA: geralmente ocorre através da ruptura traumática de um vaso local (HSA traumática) ou após a ruptura de um aneurisma intracraniano (HSA aneurismática). O sangramento resultante no espaço subaracnoide pode se estender bem além do local de origem, inundando a cisterna basal, ventrículos e espalho subaracnoide espinal. APG – SOI V Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/5º Período 8 @emilly.lorenaa Um aneurisma é uma protuberância na área de uma fraqueza localizada na parede muscular de um vaso arterial, sendo que a maioria dos aneurismas cerebrais é constituída por pequenos aneurismas saculares. Geralmente ocorrem na circulação anterior e são encontrados em bifurcações e outros cruzamentos vasculares, como os do polígono de Willis. Acredita-se que se originem de um defeito congênito na túnica média dos vasos envolvidos. Sua incidência é maior em indivíduos portadores de determinadas doenças, como doença policística renal, displasia fibromuscular, coartação da aorta e malformações arteriovenosas cerebrais. Sendo aterosclerose, HAS e infecção bacteriana outras causas. Atinge, em geral, indivíduos entre 40 e 60 anos de idade, com leve predominância do sexo feminino. A ruptura de um aneurisma cerebral resulta em hemorragia subaracnóidea e a probabilidade de ruptura aumenta com o tamanho do aneurisma (3 ou 5 mm). RESUMINDO: AVEH ocorre pela ruptura de estruturas vasculares cerebrais, fazendo compressão das estruturas encefálicas e causando isquemia secundária e edema. Pode ser devido a uma hemorragia intraparenquimatosa, quando o sangramento acontece dentro do parênquima cerebral, principalmente devido à fragilidade da parede vascular e rompimento dos aneurismas de Charcot-Bourchard (causados pela adaptação do vaso à HAS), ou devido a uma hemorragia subaracnóidea, quando o sangramento ocorre entre as meninges aracnóide e pia-máter = espaço subaracnóideo, principalmente pelo rompimento de aneurismas saculares. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A avaliação clínica não é capaz de distinguir entre a injúria isquêmica e a hemorrágica, fazendo-se necessário o uso de exames de imagem, como a tomografia computadorizada (TC) ou a imagem por ressonância magnética (RM) do crânio. Entretanto, a presença de cefaleia importante, náuseas/vômitos ou rebaixamento do nível de consciência torna mais provável. o diagnóstico de AVEH = sinais de hipertensão intracraniana. No AVE hemorrágico, os sintomas aparecerão de acordo com o local em que a hemorragia esteja concentrada. A cefaleia súbita, ou seja, aquela que atinge seu pico máximo de intensidade em cerca de 1 minuto a partir de seu início, é um sintoma característico da hemorragia subaracnóidea, embora esteja presente também em várias outras enfermidades. É caracterizado por uma súbita cefaleia holocraniana de forte intensidade (a “pior da vida”), do tipo “tunderclap” ou em “trovoadas”, podendo evoluir com síncope, vômitos, rigidez de nuca e sinais de meningismo e associada ou não a déficit neurológico focal Os locais mais acometidos na hemorragia intraparenquimatosa são: Putâmen: cursa com quadro súbito de hemiplegia fasciobraquiocrural contralateral. Desvio do olhar conjugado contrário à hemiplegia também pode ocorrer. Tálamo: gera os mesmos sintomas da hemorragia do putâmen, associada a hemianestesia para todas as sensibilidades. Cerebelo: gera quadro idêntico ao AVE isquêmico cerebelar (náuseas, vertigem central, vômitos e ataxia cerebelar aguda). A complicação mais temível é a herniação através do forame magno e consequente compressão de estruturas como amígdalas cerebelares e bulbo, levando à apneia súbita e morte. Ponte: Tem um quadro muito característico: quadriplegia súbita, coma epupilas mióticas e fototorregentes, além de perda dos reflexos oculocefálicos. Decerebração, hiperpneia e hiperidrose são achados comuns, e a letalidade é alta: quase 90% dos casos. DIAGNÓSTICO O exame universal para confirmação diagnóstica de AVEH é a TC de crânio sem contraste. A tomografia é uma ferramenta de triagem necessária nos quadros agudos porque possibilita a rápida identificação de hemorragia. APG – SOI V Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/5º Período 9 @emilly.lorenaa É o método mais rápido e prático de diagnóstico de HSA pois, apresenta alta sensibilidade nos primeiros 5 dias da doença, período em que o sangue ainda não foi degradado. Nos casos em que a TC de crânio não revelar a presença de sangue, deve-se proceder à punção lombar com coleta de líquor para pesquisa de hemácias no ou de xantocromia (mudança de coloração do líquor causada pelos produtos de degradação da hemoglobina). TRATAMENTO Até que o diagnóstico de AVEH seja feito, não é conhecido o nível pressórico adequado para o paciente e, portanto, não se deve iniciar tratamento para redução da pressão arterial, exceto em casos claros de emergência hipertensiva (IAM, dissecção de aorta ou edema agudo de pulmão concomitantes). Uma vez realizado o diagnóstico de AVCH e tendo em mente que a principal causa é a hipertensiva, inicia-se o tratamento direcionado, fundamentalmente, ao controle pressórico e ao manejo das complicações imediatas e tardias. TRATAMENTO CLÍNICO: dessa forma, sendo a etiologia hipertensiva a mais comum, é natural que a maioria dos esforços seja concentrada no controle pressórico após o AVEH. Além do controle pressórico, os controles da temperatura (evitando-se febre) e da glicemia são de importância essencial. Valores elevados de glicemia (> 180 mg/dL) são considerados ruins e devem ser evitados. Os hematomas que acontecem em vigência de coagulopatia (por uso de anticoagulantes) devem ser tratados com absoluta emergência. O objetivo deve ser a reversão mais rápida possível do RNI para valores normais, o que pode ser atingido com o uso de: vitamina K: 10 mg, EV; plasma fresco congelado (PFC): 10 a 15 mL/kg; considerar uso de concentrado de complexo protrombínico em alternativa ao PFC, pela ação mais rápida e efetiva. TRATAMENTO CIRÚRGICO: é recomendado essencialmente em três situações: pacientes com hematomas cerebelares e sinais de deterioração neurológica; pacientes com hidrocefalia aguda secundária à presença de sangue intraventricular; pacientes com hematomas maiores que 30 mL e com deterioração neurológica, especialmente em casos de hematomas muito superficiais (a menos de 1 cm da superfície da calota craniana). REFERÊNCIAS TORTORA, G. J; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia humana. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. MOORE, KL. Anatomia orientada para a clínica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. RODRIGUES, Marcelo M.; BERTOLUCCI, Paulo Henrique F. Neurologia para o Clínico-Geral. 1ª ed. Barueri, SP: Editora Manole, 2014.
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