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Sabrina Angheben │ Psiquiatria SÍNDROMES RELACIONADAS AO SONO DEFINIÇÃO - Consiste em um distúrbio do ciclo sono-vigília, que necessariamente causa prejuízo durante o período de vigília - Compreende, pelo DSM-5: - Transtornos de insônia - Trastornos de hipersonia - Narcolepsia - Parassonias - Transtornos do sono relacionados à respiração - Ex. AOS - Transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano - Transtornos do despertar do sono NREM - Transtornos do pesadelo - Transtornos do sono REM - Distúrbios dos movimentos relacionados com o sono - Síndrome das pernas inquietas - Bruxismo (considerado apenas pelo CID10) - Transtorno do sono induzido por substâncias/medicamentos FISIOLOGIA SONO-VIGÍLIA FISIOLOGIA DO SONO - De forma geral, é mantido pelo SARA e núcleos circadianos e homeostáticos do hipotálamo ● Sistema ativador reticular ascendente (SARA) - Consiste em um grupo de neurônios sensitivos localizados no tronco encefálico, compreendendo do bulbo ao mesencéfalo - Secretam - Noradrenalina - Serotonina - Acetilcolina ● Metabolismo neuronal - Durante a vigília o metabolismo neuronal causa a degradação do ATP para ADP, que se acumula durante o período - A adenosina se liga ao neurônio colinérgico pré-sináptico A1 na formação reticular pontina, impedindo a liberação de acetilcolina ● Hipotálamo - Os neurônio pré-ópticos no hipotálamo liberam GABA - Os neurônios do hipotálamo posterior liberam histamina - A orexina também é produzido pelos neurônios hipotalâmicos, possuindo ação na vigília - A luz estimula a produção de orexina/hipocretina que estimula a produção de noradrenalina e serotonina pelo SARA ● Núcleo supraquiasmático - Localizado no hipotálamo - Os NSQ recebem informações de claro-escuro pela via do trato retino-hipotalâmico e, a partir disso, são desencadeados sinais neurais e humorais para sincronizar os ciclos sono-vigília e secreção de melatonina pela pineal - Transições entre o sono e a vigília evidenciam um ritmo circadiano que consiste em uma média de 6 a 8h de sono e 16 a 18 h de vigília. Aumento do tônus GABAérgico no hipotálamo Redução da produção de histamina no hipotálamo Redução da nora e 5-HT no SARA Aumento do tônus colinérgico na formação reticular pontina ● Função da melatonina - A melatonina é secretada pela glândula pineal (involui na puberdade) no sangue e no LCR - São reconhecidos por 2 tipos de receptores que são encontrados no NSQ - MT1 - Age inibindo a adenilato-ciclase e resultando no sono. - MT2 - Estimulam a hidrólise do fosfoinositídeo e podem funcionar na sincronização do ciclo claro-escuro - A mudança diurna na secreção de melatonina pode funcionar como um sinal de sincronização para coordenar eventos com o ciclo claro-escuro no ambiente - A síntese e secreção de melatonina estão aumentadas durante o período escuro do dia e são mantidas em um nível baixo durante as horas de luz do dia - Essas alterações têm relação com a via retino talâmica e fibras simpáticas FISIOLOGIA VIGÍLIA ● Definição - Se dá pela manutenção da consciência, estado de vigília no qual o indivíduo está totalmente alerta, consciente e orientado - Possui ciclos do tipo alfa, que ocorre quando estamos em repouso e do tipo beta, que ocorre quando estamos com a atenção focada em algo - O SARA determina o estado de vigília, projetando-se para o tálamo (núcleo reticular e intralaminar) e para cerebelo e córtex parietal, frontal, temporal e occipital ● Condições de manutenção da vigília - SARA - Mantém como dominante a secreção de noradrenalina (locus ceruleus) e serotonina (núcleos da rafe) - Formação reticular pontina - Inibição de acetilcolina - Hipotálamo - Inibição da liberação do GABA e mantém liberação de histamina FASES DO SONO ● Não-REM - É o sono sem o movimento rápido dos olhos - Denominado sono de ondas lentas - Dura mais ou menos 1 hora - Consiste no sono reparador - Intensificação da atividade parassimpática - Miose - Redução da PA - Bradicardia - Redução da ventilação pulmonar - É dividido em 4 etapas - 1ª Etapa - Ocorre quando começa a adormecer - Ondas teta: baixa voltagem e frequência variável - Pode haver atividade de músculos esqueléticos, mas não dos olhos - Há a diminuição da FC, PA e temperatura corporal (pela diminuição do metabolismo cerebral) que é uma integração neurovegetativa - 2ª Etapa - Composta por fusos do sono, que são ondas sinusoidais e bifásicas - 3ª Etapa - Ritmos delta - Sono profundo e recuperação fisiológica. - 4ª Etapa - Lentidão máxima. - OBS: as etapas 3 e 4 é o momento de liberação do GH e prolactina ● Sono REM - Definido pelo movimento rápido dos olhos - Dura cerca de 5-10 minutos - É o sono que promove o descanso cerebral e tem-se a percepção de descanso real - Atividade simpática intensificada - Taquicardia - Taquipnéia - Aumento da PA - Intenso relaxamento muscular - É durante o sono REM que sonhamos - Alta estimulação do córtex de associação visual - Sem ativação do córtex visual primário - Também é durante o sono REM, ocorre a formação de memória, pois as sinapses são formadas - É um sono com características paradoxais, pois é o momento de descanso cerebral, mas nessa fase do sono o EEG apresenta-se com o mesmo ritmo de um indivíduo acordado e ativo - O sono REM e o sono NREM se alternam ao longo da noite. Os períodos REM, que ocorrem aproximadamente a cada 90 min, gradualmente se tornam mais longos até que o período final dure cerca de 50 min INSÔNIA ● Definição - Consiste em um distúrbio do sono caracterizado pela dificuldade de iniciar o sono ou despertar precoce - É definido, portanto, pela redução da quantidade e/ou qualidade do sono - Primária - Dificuldade em iniciar o sono ou manter por, pelo menos, 1 mês - Independe de outras condições médicas ou uso de substâncias - Só é considerado transtorno se - Não houver ausência de local adequado e oportunidade para dormir ● Quadro - As queixas são persistentes ao longo do tempo, mas pode haver variação na intensidade de acordo com a presença de eventos estressantes - A insônia é mais comum em mulheres, idosos e em centros urbanos e está com frequência associada a fatores psicológicos e comorbidades clínicas ● Classificação do tempo - Episódica - Dura mais de 1 mês e menos de 3 meses - Persistente - Dura mais de 3 meses - Recorrente - Dois ou mais episódios do tipo “episódica” em 1 ano ● Classificação quanto ao período do sono - Inicial - Dificuldade para iniciar o sono - Intermediária - Despertares frequentes ou prolongados durante a noite - Terminal - Despertar antes do habitual ● Semiologia - Definir se tem ou não causa esclarecida - Se tiver, tratar a causa ● Tratamento MEV - Tratar causa, caso haja - Evitar - Ingestão excessiva de café e bebidas alcoólicas - Atividades estressantes, especialmente no período noturno - Exposição excessiva à luz - Horários diferentes para despertar - Hábitos de higiene do sono - Horário definido para dormir e acordar - Evitar forçar o sono - Realizar atividades relaxantes no período noturno - Ambiente escuro, confortável e silenciosos - Realizar atividades físicas - Alimentação saudável - Terapia cognitivo-comportamental ● Farmacológico - Medicamentos - Os medicamentos não específicos causam sono como efeito colateral - Hipnóticos não benzodiazepínicos ou agonistas de GABAa - Zolpidem - Zopiclone - Antidepressivos sedativos - 1ª escolha → tricíclicos - Efeitos adversos - Constipação - Xerostomia - Ganho de peso - Mirtazapina - Efeitos adversos - Ganho de peso - Trazodona (dual) - Antipsicóticos atípicos em baixa dose - Quetiapina - Olanzapina - Risperidona - Os típicos também dão sono, porém é mais pesado nos atípicos - Haldol - Efeitos adversos - Síndrome metabólica - Anticonvulsivantes - Carbamazepina - Ácido valpróico - Lamotrigina - Fenobarbital - Todos podem ser utilizados - Antihistamínicos - Histamin- Prometazina (fenergan) - Benzodiazepínico - Ansiolítico, sedativo-hipnótico e anticonvulsivante - Clonazepam (rivotril) - Alprazolam - Diazepam - Causam quadro demencial em uso crônico FÁRMACOS ● Zolpidem e - Indutor do sono - Mecanismo de ação: - Se ligam no mesmo local que os benzodiazepínicos, diferindo quanto a estrutura química - Vantagens: - Pouco efeito de abstinência - Insônia rebote mínima - Pouca tolerância - Zaleplona: indicado para pacientes com dificuldade de iniciar o sono - Curto tempo de meia vida ● Eszopiclone (prisma) - Indutor e mantenedor do sono ● Ramelteona - Mecanismo de ação: - Agonistas seletivos de subtipos de receptores de melatonina (MT1 e MT2) - Indicação: - Dificuldade em começar a dormir - Efeitos adversos: - Tonturas - Fadiga - Sonolência - Aumento da prolactina HIPERSONIA ● Definição - Sintomas de quantidade excessiva de sono, qualidade de vigília deteriorada e inércia sono - Relação com outras patologias - Ex. depressão - Características - Sono não reparador - Comportamento automático - Dificuldade de acordar pela manhã - Pode ser primária ou secundária, devendo ser diferenciada por - Exame clínico - Neuroimagem - Polissonografia NARCOLEPSIA - Consiste em um transtorno de hipersonia pelo CID - 70% dos casos vem acompanhado de cataplexia (atonia muscular generalizada) - Acomete cerca de 0,5% da população, com padrão bimodal - Final da adolescência - Quinta década - Sintomas iniciais - Sonolência excessiva - Alucinações hipnagógicas - Sonhos vívidos - Transtorno do sono REM - Teoria fisiopatológica - Morte das células do hipotálamo que produzem a hipocretina (orexina), provavelmente de causa autoimune, provocando deficiência sérica dessa substância - Tratamento - Higiene do sono - Evitar situações de privação do sono - Não usar medicamentos ou substâncias que causem sono - Farmacológico (estimulantes) - Metilfenidato - Modafenil - Tricíclico em caso de cataplexia associada TRANSTORNOS DO RITMO CIRCADIANO - Diagnóstico pelo DSM-5 - Padrão persistente ou recorrente de interrupção do sono em razão da alteração do ciclo circadiano - Pode ser imposto pelo ambiente - A interrupção do sono causa sonolência excessiva ou insônia, ou ambas - Causa sofrimento clinicamente significativo PARASSONIAS - As parassonias são manifestações físicas e emocionais que ocorrem durante o sono e podem acometer o sistema nervoso autônomo, o locomotor e o cognitivo em combinações diferentes ● Tipos ● Sonambulismo - Episódios repetitivos com ampla variedade de comportamentos - Mais comum é o levantar-se da cama e deambular, durante o sono - Duram de 1-10 minutos sem ativação autonômica, exceto sudorese - Tratamento consiste na higiene do sono ● Terror noturno SÍNDROME DAS PERNAS INQUIETAS ● Definição - Caracterizada como sensação acompanhada de desconforto, formigamentos, sensação de peso, entre os tornozelos e joelhos, que é intensificada com o repouso e melhora com o movimento do corpo ● Critérios mínimos - Presença de necessidade compulsiva, irresistível e intensa de movimentar os membros inferiores - Os sintomas começam ou pioram no período de repouso, com o paciente deitado ou sentado. - Atividade física, exercícios e massagens levam ao alívio temporário dos sintomas - O quadro apresenta característica circadiana, ocorrendo no horário noturno, antes de dormir ● Etiologia - A teoria mais atual que tenta justificar sua etiopatogenia é a da deficiência de ferro no SNC, mais precisamente na substância negra - Assim, haveria na SPI um estado hipodopa-minérgico sináptico, pois a redução de ferro levaria a uma queda da densidade de receptores D2 no estriado ● Tratamento - Agentes dopaminérgicos - L-dopa - Agonista dopaminérgico - Tricíclico BRUXISMO - É caracterizado como um transtorno do movimento relacionado com o sono que apresenta atividade involuntária estereotipada e repetitiva da musculatura mastigatória - Faz parte da parassonia - Pode ocasionar - Cefaléias - Desgaste do esmalte dentário - O tratamento pode incluir desde o uso de próteses dentárias até a associação de antidepressivos tricíclicos ● Classificação - Primário (sem causas) - Secundário (associado a transtornos neurológicos) - Demências - Parkinson - Discinesia tardia - Distonia oromandibular - Síndrome La Tourette - Retardo mental - TDAH - Hemorragia cerebelar - Transtornos alimentares - Medicamentos - Fibromialgia e DRGE - Drogas ANOTAÇÕES ● Parassonias ● AOS ● Insônia ● Hipersonia ● Narcolepsia
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