Buscar

AULA 10 - A FILOSOFIA DO DIREITO NA ANTIGUIDADE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
NADER, Paulo. Filosofia do Direito. 25 ed. Rio de Janeiro: Forense LTDA, 2018. 
FILOSOFIA DO DIREITO 
A FILOSOFIA DO DIREITO NA ANTIGUIDADE 
SUMÁRIO: A história da Filosofia do Direito. Fase pré-helênica. Filosofia grega pré-
socrática. Os sofistas. O pensamento socrático. A Filosofia Jurídica de Platão. O 
pensamento aristotélico. A Escola Estoica. A Escola Epicurista. A Filosofia do 
Direito em Roma. Observações finais. 
A HISTÓRIA DA FILOSOFIA DO DIREITO 
A pesquisa histórica de nossa disciplina revela conhecimentos que serviram de base para 
desenvolvimentos ulteriores e outros que, ainda hoje, conservam atualidade plena. Haveria também 
aquele saber que não logrou nenhuma forma de projeção, configurando apenas opiniões. O presente 
estudo se limitará àqueles conhecimentos, pois as simples opiniões não devem ter acesso aos 
compêndios. Segundo Hegel, o significado de um dado histórico advém de seu liame com 
algum fato geral e tão somente por isso. Não se pode compreender, pensa o filósofo alemão, uma 
história que se limite à exposição de opiniões, pois essas podem formar unicamente “um objeto de 
inútil curiosidade”. A investigação apenas erudita possui esse sentido, porque “consiste em saber 
quantidade de coisas inúteis desprovidas de interesse intrínseco, a não ser o interesse de serem 
conhecidas”.
1
 
A investigação histórica favorece a compreensão da cultura contemporânea, pois o grande 
livro da sabedoria foi escrito ao longo dos séculos, cujas primeiras páginas antecederam ao 
pensamento helênico. A sua importância nas disciplinas filosóficas é notória, pois, como anota Del 
Vecchio, “(...) o presente, sem o passado, carece de sentido; e o passado revive no presente”.
2
 A 
sabedoria humana foi alcançada pela soma de experiências de sucessivas gerações. Foi a herança 
cultural, ou transmissão de conhecimentos entre as gerações, que permitiu a formação das ciências. 
A sedimentação do saber foi constante. Em algumas épocas o processo se fez mais veloz, por 
intermédio de notáveis sábios, enquanto em outras registrou-se lentidão, seja em decorrência da 
falta de cientistas de expressão, seja pelas condições adversas do momento histórico, que ocorrem, 
por exemplo, em períodos de guerra e quando o regime político cerceia a liberdade em suas diversas 
formas de manifestação. 
A análise histórica é rica em perspectivas e, entre outras lições, revela os fatores que 
induziram as fases de apogeu e de declínio, significando isso, para os contemporâneos da ciência, a 
oferta de dois modelos básicos: o de êxito e o de fracasso. Os ensinamentos que a história do 
pensamento consigna não se limitam, portanto, à apresentação de conhecimentos específicos, pois 
se estendem também aos fatos relevantes que margearam o saber. 
Sendo a Filosofia do Direito uma reflexão sobre um objeto flexível, uma vez que a realidade a 
que se refere modifica-se continuamente com adaptação às condições de cada povo e de cada época, 
seria útil a sua pesquisa histórica? O conjunto de informações teria algo a oferecer na atualidade? Se 
o homo juridicus adota um positivismo radical, por certo responderá negativamente. Os autores que 
seguem orientação espiritualista tendem a responder de modo afirmativo, pois o Direito, embora 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg139c5178e1
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg139c5178e2
2 
 
seja móvel, possui elementos invariáveis, comuns aos povos na diversidade do tempo e do espaço. 
É que nem tudo é convencional no Direito. Há certos princípios e normas que necessariamente 
devem ser consagrados pelo Estado, de vez que refletem a própria dignidade do ser humano. Há 
valores básicos que foram cultivados pelos cidadãos atenienses e romanos e que hoje são 
preservados tanto em nosso meio como em regiões estranhas, justamente porque se referem à parte 
estável do homem, à sua natureza. 
FASE PRÉ-HELÊNICA 
É na Grécia antiga onde vamos encontrar, propriamente, o início da Filosofia do Direito, 
malgrado as primeiras reflexões dessa natureza tenham precedido ao pensamento helênico, pois o 
Direito, de maneira empírica, envolto ainda com a Religião, Moral, Regras de Trato Social, surgira 
concomitante ao florescimento das civilizações do passado e, como se sabe, o pensamento jurídico 
exerce uma visão atrativa em relação ao filosófico. Como precioso arquivo do saber, a História da 
Filosofia do Direito deve registrar tão somente fatos significativos do pensamento, ideias pioneiras 
que levaram subsídios às ulteriores correntes jurídico-filosóficas que se formaram.
3
 
Onde o espírito religioso predominou pouco se pode cogitar a respeito de um pensamento 
jusfilosófico, pois a lei era considerada a expressão da vontade divina, e o seu acatamento, uma 
imposição de fé. Tal dogmatismo atuava como obstáculo ao pensamento filosófico, que requer 
liberdade plena, nenhum condicionamento além dos ditames da razão e da experiência. Apesar do 
sentido religioso da cultura dos egípcios, indianos, chineses, hebreus, é comum aos autores 
reportarem-se ao pensamento desses povos, vislumbrando ali meditações jusfilosóficas. 
No Egito antigo, o famoso Livro dos Mortos tanto revela o sentimento de justiça daquele povo 
quanto o domínio da Religião sobre o Direito. Perante o Tribunal de Osíris, conforme a narrativa, 
para obter a felicidade eterna o morto precisava proferir, diante da deusa Maat, vocábulo que 
significa lei, uma oração, cujo teor mostra o sentido religioso do dever de justiça, bem como a 
percepção de princípios e regras devidamente ajustados ao Direito Natural. 
Na Índia primitiva destacaram-se as doutrinas do bramanismo, budismo e jainismo. Um dos 
princípios filosóficos que se eternizaram no âmbito social, hoje desdobrado em várias diretrizes do 
pensamento, foi o da igualdade da natureza humana, proclamado por discípulos de Buda (563-484 
a.C.), ao combaterem o regime de castas. 
Conhecido no mundo ocidental por Confúcio (551-479 a.C.), Kung-fu-tsé, ou “Mestre Kung”, 
projetou o pensamento chinês no âmbito da Filosofia, escrevendo algumas obras jurídico-
filosóficas: Ta-hio, ou Grande Estudo; Chon-yung, ou Da Invariabilidade do Justo Médio; Lin-yu, 
ou Conversas Filosóficas. Para ele o valor do justo era fundamental: “Se se dispõe de homens 
justos, o governo prosperará; sem eles, o governo desaparecerá”; “pode-se obrigar ao povo a seguir 
os princípios da justiça e da razão, mas não se pode obrigar a compreendê-los” (Lin-yu, VIII, 9). 
Além de Confúcio, destacou-se o pensamento de seu discípulo Mêncio e de Lao-tsé, sendo que este, 
ao lado de Chuang-tsé, criou a chamada filosofia do taoísmo. 
Entre os hebreus, a reflexão jurídica se manifestou em livros religiosos, basicamente no 
Pentateuco, também denominado Torá ou Lei. Atribuída a Moisés, aquela obra apresenta cinco 
livros: Gêneses, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, que reúnem preceitos religiosos e 
legais, dispersos em narrativas históricas. Alguns historiadores colocam em dúvida a autoria desses 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg140c5179e1
3 
 
escritos. Para Jorge Weber eles “procedem sem dúvida do próprio Moisés”.
4
 Em frase que encerra 
sentido ambíguo, Ampère revela a sua admiração pela obra de Moisés: “Ou Moisés possuía uma 
cultura científica igual à que temos no século XIX, ou era inspirado.”
5
 Da maior significação foi o 
Decálogo de Moisés, que contém regras gerais baseadas na ordem natural das coisas, e por isso, em 
grande parte, possui atualidade. Convencido de que as leis que elaborara eram justas, Moisés 
perguntou: “E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízes tão justos como toda esta lei que 
hoje dou perante vós?” (Deuteronômio. 4, v, 8.) No livro dos Salmos, que teria sido elaborado por 
David, encontram-se também numerosas referênciasà justiça e equidade, refletida esta no critério 
de atenuação da lei por um gesto de misericórdia divina. Referida em 58 versículos dos Salmos, a 
justiça se apresentava como ordenamento divino e a sua observância propiciava a perfeição 
individual e coletiva. 
FILOSOFIA GREGA PRÉ-SOCRÁTICA 
A Filosofia grega atingiu o seu ponto mais alto com as doutrinas de Sócrates, Platão e 
Aristóteles, que ainda hoje exercem fascínio nos pensadores, tal a profundidade de suas reflexões e 
a amplitude dos temas abordados. A vocação grega para o campo das especulações manifestou-se 
mais cedo, porém, com a Escola Jônica (séc. VI a.C.), a qual, de índole materialista, pesquisou no 
âmbito terrestre o elemento que seria a origem do mundo sensível. A filosofia desenvolvida pelos 
jônios foi de natureza cosmológica, e seu ponto de contato com a nossa disciplina operou-se ao 
conceber o Direito como fenômeno natural. Anaximandro de Mileto, um de seus integrantes, 
identificou a noção de justiça com o Universo, enquanto Empédocles, que desenvolvera a teoria dos 
quatro elementos (água, ar, fogo e terra), recorria ao valor justiça para explicar o cosmo. 
Com a Escola Eleática (séc. VI a V a.C.), a filosofia grega não alterou o rumo de suas 
investigações, mantendo-se ainda no período cosmológico. Entretanto, os eleatas, com Parmênides, 
Xenofontes, Zenão de Eleia e Meliso de Samos foram mais profundos em suas reflexões, passando 
a um plano metafísico ao sustentarem que o ser verdadeiro é uno, imutável e eterno. Para os 
membros dessa Escola, o ser não pode surgir do não ser. Segundo Parmênides, o Direito seria o 
fator da imutabilidade do ser, pois tudo no universo se achava subordinado à justiça, e esta não 
permitia que algo nascesse ou fosse destruído. 
No período pré-socrático foi a doutrina da Escola Pitagórica, ou Itálica, a que desenvolveu 
noções mais atinentes à nossa disciplina. Pitágoras de Samos (582 a 500 a.C.), seu fundador, fixou-
se em Crotona, Sul da Itália, onde fundou uma academia, na qual se cultivou uma rigorosa filosofia 
moral. Por motivos de natureza política os membros da Escola foram perseguidos e expulsos de 
Crotona, ocorrendo a dissolução daquela associação de pensadores. 
Ao que tudo indica, Pitágoras não escreveu livros, mas o seu pensamento encontra-se 
registrado na obra Sobre a Natureza, de Filolau, seu mais notável seguidor. Pensavam os 
pitagóricos que a Filosofia era o meio de purificação interna, ideia essa que séculos mais tarde 
influenciou o idealismo ético de Platão. Objetivando a academia o preparo e formação de dirigentes, 
aqueles pensadores promoveram uma aproximação, em seus estudos, da Filosofia com a Política. 
A doutrina da Escola Pitagórica pode ser definida como um sistema filosófico fundado em 
números, considerados a essência de todas as coisas. Tal concepção foi aplicada aos domínios da 
Filosofia do Direito, pois definiram a justiça como igualdade entre o fato e a conduta 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg141c5180e1
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg134c5175e2
4 
 
correspondente: um crime, uma penalidade; uma tarefa, uma retribuição. Expressa na fórmula 
“aquilo que um sofre por algo”, considerada certeira por Truyol y Serra,
6
 a noção pitagórica de 
justiça como igualdade foi mais tarde desenvolvida pelo gênio Estagirita. O valor justiça foi 
simbolizado pela figura geométrica do quadrado, em razão da absoluta igualdade de seus lados, e 
pelos algarismos 4 e 9, pois resultantes da multiplicação, por si mesmos, de um número par e de um 
ímpar. Quanto ao Direito, este foi definido por Pitágoras como o igual múltiplo de si mesmo, 
concepção essa que não logrou senão vagas interpretações, entendendo Pontes de Miranda que 
aquele sábio desejou, possivelmente, “expressar o imutável que há na sucessão das formas e a 
despeito delas”. 
OS SOFISTAS 
Com o aparecimento dos sofistas houve um giro copernicano na filosofia grega, que 
abandonou as investigações cosmológicas em prol de indagações centralizadas no homem, 
iniciando-se a fase antropológica da Filosofia. O aparecimento da Sofística, no século V a.C., que 
teve em Protágoras, Górgias, Hípias, Trasímaco, os seus corifeus, não se registrou por acaso, mas 
em decorrência do fato histórico da democratização de Atenas que, à época de Péricles, renunciara 
ao regime aristocrático. 
Os sofistas eram cidadãos cultos, bons oradores, que desejavam ensinar a arte e a técnica 
política e por isso dedicavam especial atenção à Retórica, visando ao preparo de novos dirigentes. 
Outro fato que motivava os sofistas e valorizava as suas orientações era a circunstância de que, na 
Ágora, os cidadãos expunham oralmente, diante dos juízes, as suas próprias causas. Pelo fato de não 
terem deixado escritos, suas ideias são conhecidas pelas obras de seus adversários, especialmente 
pelos diálogos platônicos. 
Os sofistas não chegaram a formar uma escola, pois não adotaram uma linha única de 
pensamento, sendo-lhes comum a divergência ou contradição de ideias, embora convergissem seu 
estudo para idêntico alvo: o homem e seus problemas psicológicos, morais e sociais. Não obstante 
defendessem, algumas vezes, teses absurdas, provocando reações, não tinham o hábito de fundar 
seus argumentos em princípios religiosos, daí Hans Welzel ter realçado que o aparecimento dos 
sofistas trouxe para o espírito grego o advento da Ilustração.
8
 Entre os autores, são classificados 
como individualistas e subjetivistas, além de negadores da ciência, pois entendiam que toda pessoa 
tem o seu modo próprio de ver as coisas, fato esse que inviabilizaria qualquer ciência, pois nenhuma 
delas pode constituir-se por meras opiniões isoladas. Em decorrência dessa premissa, admitiram 
apenas o caráter relativo da justiça e do Direito, que seriam contingentes e de expressão 
convencional. Colocando em análise a indagação se a justiça se fundava na ordem natural, de um 
modo geral negaram, sob o argumento de que “se existisse um justo natural, todas as leis seriam 
iguais”.
9
 Coube a um sofista – Protágoras – a proclamação de que “o homem é a medida de todas as 
coisas”, ideia essa que fortalece a tese em torno da existência de um direito que reúne princípios 
eternos, imutáveis e universais, pois fundado no homem, em sua natureza. 
O PENSAMENTO SOCRÁTICO 
O período ático da filosofia grega iniciou-se com Sócrates (470 ou 469 a 399 a.C.) e foi 
completar-se com o pensamento de Platão e de seu discípulo Aristóteles. A exemplo dos sofistas, 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg142c5181e1
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg143c5182e2
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg143c5182e3
5 
 
seus contemporâneos, Sócrates atraía ouvintes, com eles se reunindo em praças públicas, mas 
enquanto os primeiros proferiam palestras e cobravam, ele mantinha fecundos diálogos e nada 
recebia em troca. O pensamento socrático acha-se consignado nas obras Apologia e Memoráveis, de 
Xenofontes, e nos Diálogos de Platão. Conforme a crítica de Rafael Gambra, ambos seriam 
péssimos biógrafos, “o primeiro por carência, o segundo por exagero”.
10
 
Particularmente notável foi o método empregado pelo filósofo na sua busca do saber. 
Interessado em refletir sobre determinado tema, dirigia pergunta ao seu interlocutor e, de cada 
resposta, formulava outra indagação, provocando embaraços crescentes para o interrogando. Essa 
fase do método é denominada ironia. Após seu interlocutor reconhecer o equívoco das respostas, 
Sócrates demonstrava o que era certo, ocorrendo assim a maiêutica, cujo vocábulo deriva 
de maia, parto de ideia. Mais tarde a maiêutica foi aperfeiçoada por Platão, que a transformou em 
sua dialética. 
Enquanto os sofistasse intitulavam conhecedores da verdade, Sócrates afirmava: “A única 
coisa que eu sei é precisamente que nada sei.” Por essa expressão quis apenas mostrar que o homem 
da ciência deve adotar postura de humildade diante do universo do saber. Uma das premissas de seu 
pensamento era a inscrição do oráculo de Delfos: Nosce te ipsum (conhece-te a ti mesmo). Entendia 
não ser possível ao homem conhecer a realidade objetiva desconhecendo o seu próprio ser. Pregou, 
então, a filosofia do autoconhecimento. 
O pensador, que não se interessara pela Cosmologia e nem pelas questões políticas, não 
formulou um sistema sobre o Direito, deixando considerações esparsas sobre o problema da lei e da 
justiça. Com a consciência de cumprir os seus deveres de cidadão, ao ser indagado por Hípias 
quanto à noção de justiça, respondera-lhe ser desnecessário dizer com palavra o que revelava com o 
exemplo de sua conduta. 
O grande sábio identificou a justiça com a lei: “Eu digo que o que é legal é justo;” “quem 
obedece às leis do Estado obra justamente, quem as desobedece, injustamente.” Sócrates orientava 
no sentido da plena obediência à lei, proclamando ser um ato de injustiça a sua violação, pois a 
mesma seria uma decorrência de um consentimento dos cidadãos, implicando o desrespeito em 
quebra de um pacto. Nessa ideia, Guido Fassó vislumbra uma concepção contratualista.
11
 Tal 
perspectiva de pensamento demonstra afinidade com a doutrina positivista, que somente viria surgir 
muitos séculos após. 
Na riqueza das ideias socráticas encontram-se também manifestações de natureza 
jusnaturalista, pois, no diálogo com Hípias, o sábio aborda sobre leis não escritas de caráter 
universal e que seriam de origem divina. Não apenas no pensamento do filósofo, mas também pelo 
último exemplo de vida, nota-se uma valorização dos princípios de segurança jurídica. Ao ser 
condenado injustamente a beber sicuta, sob alegação de que corrompia a juventude com alusão a 
novos deuses, Sócrates negou a sua fuga aos amigos, dizendo-lhes que “era preciso que os homens 
bons cumprissem as leis más, para que os homens maus respeitassem as leis sábias”. Com o seu 
gesto, Sócrates, no conflito entre os valores justiça e segurança, optou por este último. 
A FILOSOFIA JURÍDICA DE PLATÃO 
Assimilando de Sócrates, seu grande mestre, o método de reflexão por diálogos, o ateniense 
Platão (427-347 a.C.) produziu numerosos escritos filosóficos, notáveis pela profundidade e força 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg144c5183e1
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg144c5183e2
6 
 
lógica de suas ideias e ainda pela elegância do estilo. Esse valioso conjunto de forma e conteúdo 
levou Bernard Shaw, após a leitura dos diálogos, a rever o seu convencimento quanto ao progresso 
da cultura, pois “se a humanidade produziu há vinte e cinco séculos um tal homem, forçoso é 
confessar que a cultura não tem progredido em todos os seus aspectos”.
12
 
Descendente de família nobre, Platão recebeu educação esmerada, e aos vinte anos de idade 
passou a acompanhar as lições de Sócrates, ao lado de quem permaneceu até que a morte lhe tirasse 
o grande mestre. Mais tarde, já aos quarenta anos, após haver encetado viagens ao Egito e sul da 
Itália, por onde conviveu com os pitagóricos e com os dois Dionísio, retornou a Atenas e ali fundou 
a sua Academia, na qual se cultivavam as ciências e a Filosofia, permanecendo naquele centro de 
estudos até o fim de sua existência. 
Dos vinte e seis diálogos conhecidos, A República, que mais propriamente deveria denominar-
se “O Estado”, é a obra mais citada, pois nela se acham reunidas as ideias do filósofo nos domínios 
da Ética, Estética, Psicologia, Teologia e Metafísica. Nos diálogos, a presença de Sócrates é 
constante, a ponto de criar embaraços aos intérpretes quanto à distinção do pensamento dos dois 
filósofos. Destacam-se, ainda, com particular interesse para a nossa disciplina, os diálogos 
constantes em O Político e em As Leis. 
Enquanto no pensamento socrático a ética possui conotação utilitária, pois identificara o bem 
com o útil e agradável para o homem, em Platão aquela noção se apresenta desprovida de 
condicionamento, pois o bem teria valor em si mesmo. Muitos séculos após, Emmanuel Kant 
(1724-1804) desenvolveria igual linha de pensamento. De capital importância em seu sistema 
filosófico é a noção de ideia, a qual não se confunde com o sentido comum do vocábulo, com objeto 
do pensamento humano. É algo exterior, que existe no mundo da realidade objetiva e que se vê. A 
ideia se identifica com o universal, pois é essência depurada de individualidade. 
Marcado, na interpretação de alguns autores, pela condenação de Sócrates, Platão teria se 
preocupado em conceber o Estado perfeito, que seria governado pelos mais sábios, onde a justiça 
prevaleceria. Comparou o Estado com o homem em dimensão grande, pois seria dotado de 
organismo completo e de perfeita unidade. A análise sobre o Estado revela que a preocupação maior 
do filósofo não era com o Estado em si, pois esse é mostrado apenas como instrumento de 
realização da mais completa justiça. Este valor, portanto, é o alvo principal de todo o sistema 
imaginado. A justificativa para a existência do Estado revela que o filósofo o concebeu como 
processo de adaptação criado pelo homem para suprir as suas deficiências, pois surgiria como 
decorrência da impossibilidade de cada pessoa, diretamente, prover as suas mais variadas 
necessidades. Os laços de harmonia que devem imperar na sociedade apenas seriam possíveis em 
um Estado organizado racionalmente. Considerando que a propriedade e a família eram dois fatores 
de instabilidade social, pois provocavam divisões entre os homens e confronto do interesse geral 
com o particular, preconizou a extinção das duas instituições. Ao Estado seria confiada a tarefa de 
criar e educar os jovens, prática que induziria maior respeito entre os membros da comunidade e a 
extinção dos privilégios de parentesco. As uniões, por seu lado, não seriam livres, competindo aos 
magistrados a sua disposição. O poder do Estado seria ilimitado e, em face dele, os cidadãos não 
possuíam algum direito. Os indivíduos, em verdade, pertenciam ao Estado. 
A sociedade no Estado ideal seria formada pelos artesãos, que seriam laboriosos; 
pelos guerreiros, que seriam fortes; pelos magistrados, que seriam dotados de racionalidade. Entre 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg145c5184e1
7 
 
as classes haveria uma hierarquia, pois os artesãos e guerreiros deveriam subordinar-se aos 
magistrados, que seriam governantes e representados pelos filósofos. Cada membro da sociedade 
deveria desempenhar papel correspondente às suas aptidões. Ao nascer, Deus colocaria ouro nos 
que iriam governar; prata, na formação dos guerreiros; ferro e bronze nos agricultores e artífices. 
Admitia, porém, que um tipo de metal pudesse produzir uma geração de outro metal. A justiça 
somente seria alcançada na medida em que as pessoas desempenhassem na sociedade um papel 
compatível com as suas aptidões. Conforme destaca Felice Battaglia, não há de se inscrever o nome 
de Platão entre os precursores do comunismo, já que as suas considerações foram de ordem ética e 
política, não se estendendo ao setor econômico.
13
 
Em sua obra As Leis, produzida na velhice, Platão alterou vários princípios que adotara em A 
República. Em lugar de três classes sociais, reconheceu quatro, cujo critério de distinção se 
basearia na renda individual. Aceitou o casamento monogâmico em todas as classes e também o 
direito de propriedade sobre a terra, embora com várias restrições. Platão, que concebera o estado 
sem lei, modelo esse que confiava aos juízes a solução justa das questões, embora convencido de 
seu acerto, reconheceu que o mesmo seria inexequívelnaquela época, pois não havia magistrados 
assim habilitados em número suficiente. Ainda quanto à lei, entendera o filósofo que os textos 
deveriam ser acompanhados de exposição relativa à finalidade do ato normativo. 
O PENSAMENTO ARISTOTÉLICO 
Com Aristóteles (384-322 a.C.) encerra-se o chamado período ático da Filosofia grega, iniciado 
com Sócrates e continuado com Platão. Essa fase áurea do pensamento estendeu-se entre os séculos 
V e IV a.C. e foi considerada como idade de ouro da cultura humana. 
Nascido em Estagira, na Trácia, Aristóteles frequentou a Academia de Platão durante duas 
décadas, e com a morte de seu mestre empreendeu viagens pela Grécia, exercendo, a seguir, as 
funções de preceptor de Alexandre, filho de Felipe, rei da Macedônia. Mais tarde, retornando a 
Atenas, ali fundou uma escola de Filosofia, que recebeu o nome de Liceu. Denominou-
se peripatética a Filosofia ensinada naquela escola, isso em razão de o Estagirita adotar a prática da 
caminhada entre as alamedas cobertas (peripatoi) enquanto dissertava aos seus discípulos. Parte da 
extensa produção cultural do filósofo, que abrange tanto a Filosofia quanto as ciências, foi escrita 
naquela época, e entre as principais obras destacam-se: Organon ou Tratado de Lógica; Ética a 
Nicômaco e Política, estas duas com maior interesse para os nossos estudos. 
De todos os filósofos da Antiguidade, foi Aristóteles quem desenvolveu mais extensamente os 
temas ligados à Filosofia Jurídica. Para ele o Estado constituía a expressão mais feliz da 
comunidade humana e o seu vínculo com o homem era de natureza orgânica, pois “assim como não 
é possível conceber a mão viva separada do corpo, assim também não se pode conceber o indivíduo 
sem o Estado”.
14
 Do ponto de vista social o homem foi chamado de animal político, no sentido de 
que possuía instinto de vida gregária. Fora da sociedade, segundo o Estagirita, o homem seria um 
bruto ou um deus. Para que o homem vivesse isoladamente seria necessário, portanto, que não se 
situasse dentro dos padrões de normalidade. Séculos mais tarde, Tomás de Aquino, seu grande 
seguidor na Idade Média, enumerou três hipóteses para a vida extrassocial: mala fortuna, excellentia 
naturae e corruptio naturae. 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg146c5185e1
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg147c5186e1
8 
 
Diferentemente de seu mestre, que situava as questões filosóficas em um plano de profunda 
abstração, Aristóteles procurava ligar-se mais aos fatos empíricos, na contemplação dos fenômenos 
sociais. Apesar de desenvolver amplamente a reflexão sobre a justiça, considerou legítimo o regime 
da escravidão, pois a vida, ao mesmo tempo em que requeria a atividade intelectual da classe 
dirigente, necessitava da mão de obra dos agricultores e artífices. A escravidão, que se impunha 
como ordem natural das coisas, deveria extinguir-se quando pudesse ser substituída pela máquina. 
Del Vecchio, como tantos outros autores, procurou justificar a posição de Aristóteles, alegando que 
a sociedade daquela época adotava aquele modelo de organização, deixando entrever que o 
Estagirita fora influenciado pelos fatos de seu tempo. Tal argumento seria ponderável em função de 
um homem médio, não para um filósofo que exercita, permanentemente, a arte da superação; que é 
capaz de ver além da física; que era mestre, enfim, na ciência da abstração. 
Os filósofos que antecederam Aristóteles não chegaram a abordar o tema da justiça dentro de 
uma perspectiva jurídica, mas como valor relacionado à generalidade das relações interindividuais 
ou coletivas. Em sua Ética a Nicômaco, o Estagirita formulou a teorização da justiça e equidade, 
considerando-as sob o prisma da lei e do Direito. Tão bem elaborado o seu estudo que se pode 
afirmar, sem receio de erro, que muito pouco se acrescentou, até nossos dias, àquele pensamento 
original. 
Aprovando a assertiva de Teógnis, para quem “na justiça estão compreendidas todas as 
virtudes”, o filósofo considera justo o homem respeitador da lei e injusto o sem lei. Com esta 
passagem, não pretendeu expressar uma profissão de fé cega na lei, pois a sua atenção não se 
achava concentrada em lei de qualquer conteúdo, mas naquelas que comungam com o seu sentido 
virtual, conforme se pode concluir da seguinte passagem de sua Ética a Nicômaco: “(...) nas 
disposições que tomam sobre todos os assuntos, as leis têm em mira a vantagem comum, quer de 
todos, quer dos melhores ou daqueles que detêm o poder ou algo nesse gênero; de modo que, em 
certo sentido, chamamos justos àqueles atos que tendem a produzir e a preservar a sociedade 
política e felicidade e os elementos que a compõem.”
15
 
Ao elaborar a sua noção de justiça, Aristóteles assimilou dos pitagóricos as 
medidas igualdade e proporcionalidade, afirmando que a justiça envolvia pelo menos quatro termos: 
“(...) porquanto duas são as pessoas para quem ele é de fato justo, e duas são as coisas em que se 
manifesta – os objetos distribuídos.”
16
 A justiça não implicaria apenas igualdade, tomada esta como 
proporção aritmética, mas também proporcionalidade, que “é uma igualdade de razões”. Classificou 
a justiça em duas espécies básicas: distributiva, que denominou proporcional, e comutativa, por ele 
chamada de retificadora ou corretiva. A distributiva se configuraria com a distribuição, proporcional 
ao mérito de cada pessoa, de bens, recompensas, honras. A comutativa ocorreria nas relações de 
troca, consistindo na igualdade entre o quinhão que se dá e o que se recebe. Ela poderia 
ser voluntária, como nos contratos, e involuntária, como nos delitos. Na última hipótese caberia ao 
juiz “igualar as coisas mediante penas”, aspecto esse que levou Del Vecchio a tratá-la por justiça 
judicial. Ao rechaçar a ideia pitagórica de reciprocidade como prática justa, revela a sua oposição 
à pena de talião sem, contudo, a ela referir-se nominalmente: “Ora, reciprocidade não se enquadra 
nem na justiça distributiva, nem na corretiva, e no entanto querem que a justiça do próprio 
Radamanto signifique isso: Se um homem sofrer o que fez, a devida justiça será feita.”
17
 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg148c5187e1
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg148c5187e2
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg148c5187e3
9 
 
A noção de equidade foi exposta por Aristóteles como “uma correção da lei quando ela é 
deficiente em razão de sua universalidade”. O filósofo apresentou a equidade como critério de 
preenchimento de lacunas: “(...) quando a lei se expressa universalmente e surge um caso que não é 
abrangido pela declaração universal, é justo, uma vez que o legislador falhou e errou por excesso de 
simplicidade, corrigir a omissão...”
18
 O filósofo comparou a equidade à régua de lesbos que, por ser 
de chumbo, possuía flexibilidade suficiente para se adaptar à forma da pedra. Analogamente o juiz 
deveria proceder, adaptando a lei aos fatos concretos. A genialidade do Estagirita luziu também nos 
domínios do Direito Comparado, ao elaborar comentários sobre inúmeras constituições de sua 
época, chegando aos nossos dias, porém, apenas os referentes à Constituição Ateniense. Foi 
original, ainda, ao preconizar a célebre divisão dos três poderes do Estado, teoria essa, muitos 
séculos depois, amplamente estudada por Montesquieu. 
A ESCOLA ESTOICA 
O estoicismo é uma doutrina que teve os seus antecedentes com a Escola Cínica, sobretudo no 
pensamento de seus corifeus Antístenes (445-370 a.C.) e Diógenes (413-323 a.C.). Para eles, os 
homens deveriam limitar as suas necessidades e depender menos das coisas. Cada cidadão deveria 
agir livremente e desatar os laços que o prendiam ao Estado e se transformar em cidadãodo mundo 
(cosmopolita). A atenção dos homens deveria voltar-se para as leis da virtude e não para os 
costumes e leis impostas pelo Estado. Pregaram o retorno ao primitivo estado de natureza. Para 
Ruiz Moreno, os cínicos desenvolveram “uma espécie de anarquismo passivo”.
19
 
Fundada por Zenão de Cítio (335-263 a.C.), a Escola Estoica teve a sua doutrina sistematizada 
por Crisipo, no século III a.C., e se expandiu por toda a Grécia, indo projetar-se em Roma, onde 
obteve notáveis seguidores: Cícero, Sêneca, Marco Aurélio, Epíteto, cujo pensamento será objeto de 
apreciação à parte. Sob a influência de Heráclito, os estoicos adotaram uma filosofia panteísta, 
sustentando que o universo seria conduzido por um princípio geral, logos, a razão, estando o mundo 
da matéria impregnado de racionalidade. O homem, também sujeito àquele princípio, seria 
essencialmente racional. Nos domínios da ética, assimilaram o pensamento dos cínicos, mas de uma 
forma purificada, pois para esses o homem deveria viver de acordo com a natureza em geral, 
enquanto para os estoicos a natureza em questão seria a comum aos homens. O bem, para eles, 
estaria na resignação, e verdadeiramente sábio seria o que soubesse superar as suas paixões e se 
livrar de condicionamento exterior. O homem sábio, portanto, desfrutaria de liberdade interna. Esta, 
que somente seria alcançada com o aperfeiçoamento do espírito, nivelaria os homens, pois diante 
dela a diferença de classes não teria sentido, desaparecendo a distinção entre as pessoas livres e os 
escravos. 
Estando o universo animado pela razão, esta seria a fonte suprema a orientar os homens e suas 
leis, e sendo única não poderia ditar senão um direito e um Estado; daí Zenão de Cítio ter pregado a 
formação de um Estado universal. Pelos princípios gerais do estoicismo se depreende a existência 
de um Direito Natural, que seria aquele em total harmonia com a razão que governa o universo. 
Com a implantação do Estado único, o Direito Natural tenderia a se efetivar espontaneamente, 
prescindindo de leis, pois estas não seriam mais necessárias, conforme o pensamento do fundador 
da Escola. 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg149c5188e1
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg149c5188e2
10 
 
A ESCOLA EPICURISTA 
Criada por Epicuro de Samos (341 a 270 a.C.), a Escola Epicurista, do ponto de vista da ética, 
foi um prolongamento da Escola Cirenaica, com a virtude, todavia, de superá-la. Seu fundador teria 
produzido inúmeros tratados, que não chegaram, porém, aos dias atuais, salvo por abundantes 
fragmentos. Em Atenas, no ano 306 a.C., Epicuro fundou uma escola filosófica que levou o nome 
de “filósofos do jardim”, justamente porque os encontros se faziam em um jardim. A Escola 
Cirenaica, criada por Aristipo de Cirene, no século IV a.C., havia exposto uma doutrina ética de 
cunho utilitário, sendo por isso também chamada de Escola Hedonista, cujo vocábulo deriva do 
grego hedone, prazer. O homem deveria procurar, com as suas ações, alcançar o prazer e afastar a 
dor, com o prazer identificado restritamente com as sensações físicas. Negaram, os cirenaicos, a 
existência de um direito natural, de vez que não admitiam o justo por natureza, mas apenas como 
produto de convenções humanas. 
A ética desenvolvida pela escola de Epicuro conservou o sentido hedonista impregnado pelos 
cirenaicos, mas o prazer concebido já não seria o das sensações físicas, mas o provocado pelo 
espírito. Os epicuristas abordaram o tema de um modo mais racional e refinado do que seus 
antecessores. Eles chegaram a criar uma hierarquia entre os prazeres, tendo Epicuro situado o prazer 
da amizade em primeiro plano. Os filósofos dessa escola aconselhavam a temperança como meio de 
assegurar melhores condições para o homem desfrutar dos prazeres. 
Os epicuristas entendiam que o ser humano não era sociável por natureza, mas por 
conveniência. Quando em estado de natureza o homem vivia na dor, visto que permanecia em 
conflito com o semelhante. Para evitar a dor e favorecer a busca do prazer, os homens teriam criado 
o Estado. No momento, porém, em que este deixar de cumprir a finalidade para a qual foi gerado, o 
pacto poderá ser rompido. Ora, como o Estado se estrutura e organiza a sociedade mediante leis, 
estas teriam, consequentemente, o objetivo de facilitar o prazer e de afastar a dor. O epicurismo 
elaborou, destarte, o esboço fundamental da teoria do contrato social. A teoria do Estado, assim 
formulada, na visão de Giorgio Del Vecchio revelaria “situação de anarquia potencial”.
20
 
A FILOSOFIA DO DIREITO EM ROMA 
Ao gênio especulativo dos gregos corresponde, na Antiguidade, a vocação romana nos 
domínios da Ciência do Direito. Enquanto os primeiros foram originais na Filosofia, os segundos 
foram extraordinários na elaboração de seu Jus Positum. Roma não chegou, é certo, a desenvolver 
uma filosofia inovadora, pois seus cultores inspiraram-se em fontes gregas, contudo não seria 
correto afirmar-se que os romanos foram inapetentes nessa área do conhecimento. Com efeito, os 
romanos não disporiam de recursos intelectuais para a construção de seu sistema jurídico, apreciado 
e estudado ainda hoje em todas as partes, caso não fundassem seu pensamento em princípios 
sólidos, somente alcançáveis pela via filosófica. Das várias correntes filosóficas que lograram 
ramificações em Roma, o estoicismo foi a que obteve maior penetração, sobretudo com as obras de 
Cícero, Sêneca, Marco Aurélio e Epíteto. A influência da Escola de Zenão de Cítio é explicada, em 
parte, pelo caráter austero dos romanos, que se identificaram com a linha ética daquela filosofia e, 
ainda, pela tendência expansionista de seu povo, que encontrou apoio na teoria do Estado único. 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg150c5189e1
11 
 
Embora tenham os romanos enfrentado o tema do Direito Natural, não se dispuseram a definir 
o Direito, salvo eventualmente e, ainda assim, de maneira imprecisa. Levy-Ullmann chama a 
atenção para o fato de que os Tribonianos definiram tanto a justiça quanto a jurisprudência, mas, em 
relação ao Direito, apenas se limitaram a enumerar os praecepta juris.
21
 A definição deixada por 
Celso, amplamente conhecida, situou o Direito como ars boni et aequi, revelando que faltou ao 
autor a percepção de que Direito e Moral são autônomos, pois a noção de boni é de natureza ética. 
Em igual falha incorreu Ulpiano (170-228), autor dos famosos praecepta juris: Honeste vivere, 
alterum non laedere, suum cuique tribuere (viver honestamente, não lesar a outrem, dar a cada um o 
que é seu). Embora inegável a sabedoria dos princípios, pois expressam a ordem natural das coisas e 
por isso têm consistência granítica, certo é que o preceito viver honestamente é de natureza moral. 
Justificando os princípios, Sílvio Meira sinteticamente declarou que “o Direito deve alicerçar-se 
no justo, no honesto, a fim de evitar que o lícito seja desonesto”.
22
 
Com o jurisconsulto Paulo encontramos uma sábia distinção entre o Direito e a Moral: Non 
omne quod licet honestum est (Nem tudo que é lícito é justo). Apesar de tal percepção, os romanos 
não formularam uma teoria diferenciadora entre os dois domínios, que somente apareceu no início 
do século XVIII, com o alemão Cristiano Tomásio. Coube a Aristóteles, no curso da história, a 
elaboração da teoria da justiça, mas foi Ulpiano quem formulou a definição mais famosa do valor 
excelso do Direito: Constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuendi (D. I, 1, 10, pr.). Além 
de retratar a justiça como virtude pessoal, a definição expressa a ideia apenas estruturalmente, sem 
indicar a fórmula pela qual se deve contemplar a cada um com o seu. 
Relativamente à noção do Direito Natural, havemos de destacar as reflexões de Marco T. 
Cícero (106-43a.C.), especialmente expressas em De Republicae em De Legibus. Para ele o 
Direito Natural seria “a reta razão em concordância com a natureza” e, por esse motivo, seria 
eterno, imutável e universal. Opondo-se à ideia de que seriam justos todos os costumes e leis, 
proclamou que a noção do justo adviria igualmente da natureza e que esse valor antecedia as leis 
positivas. O sentimento de justiça seria comum a todos os homens, embora não fosse idêntico. 
Concebeu a lei não como acordo entre os homens, mas como algo derivado da natureza “lex est 
ratio summa insita innatura...” (De Legibus, I, 6). 
Marco Aurélio (121-180), imperador romano e autor de Pensamentos e de outros escritos, 
adotou a filosofia estoica e concebeu um direito natural fundado na razão e válido em todas as 
partes. Durante o seu império promulgou leis humanitárias, onde os escravos foram beneficiados, e 
impregnadas de sentido universal. Para o estoico Sêneca, autor de De Providentia e de vários 
outros escritos, a humanidade teria vivido, em seus primórdios, uma idade de ouro, caracterizada 
pela inexistência de propriedade particular, leis e governo. Em suas reflexões, de natureza ética e 
mística, abominou o Estado e suas leis, considerando-os um dos males do mundo. Epíteto (aprox. 
55-138), que fora escravo, passando depois a ensinar a sua filosofia, é um dos representantes do 
estoicismo romano. Embora não tenha deixado escritos, a reconstituição de seu pensamento foi 
elaborada por seu discípulo e historiador Flávio Arriano. Influenciado, possivelmente, por sua 
condição social anterior, pensava que a verdadeira liberdade era interna e que Deus fizera dos 
homens seres livres. A exemplo de Sócrates, orientava no sentido da obediência às leis, ainda que 
injustas, e submissão ao Estado. 
 
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg151c5190e1
https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530978327/epub/OEBPS/Text/19_chapter12.xhtml#pg151c5190e2

Continue navegando