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Corpo, Movimento e Psicomotricidade Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Evelyn Camponucci Cassillo Rosa Revisão Textual: Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira Fundamentos da Psicomotricidade Fundamentos da Psicomotricidade • Apresentar a história da psicomotricidade e suas bases conceituais; • Estudar como podemos utilizá-la na educação e nos campos de experiências propostos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Bases Conceituais da Psicomotricidade; • Breve Revisão da História da Psicomotricidade; • A Psicomotricidade Aplicada à Educação. UNIDADE Fundamentos da Psicomotricidade Contextualização Para nosso momento de contextualização, sugerimos que leia um pequeno artigo da revista Nova Escola intitulado: O corpo, o movimento e a aprendizagem. O artigo fala da importância do trabalho com a dança nas escolas e defende a ideia de que “quem dança tem mais facilidade para construir a imagem do pró- prio corpo, o que é fundamental para o crescimento e a maturidade do indivíduo e a formação de sua consciência social”. Leia o artigo e faça uma reflexão sobre a importância da dança no currículo escolar. Ressaltamos a importância do estudo da unidade para a sua formação pessoal e profis- sional. Acesse em: https://bit.ly/2KsYFzv 8 9 Introdução Nesta unidade, vamos conversar a respeito da Psicomotricidade e mostrar o quan- to seu papel é importante para o desenvolvimento humano nas dimensões motoras, afetivas/socias e cognitivas. Como educadores, ao planejarmos uma aula, devemos conhecer quem são os nossos educandos e as fases em que se encontram, para produzirmos atividades que tenha conexão com o documento normativo (BNCC – Base Nacional Comum Curri- cular), não fazendo uma separação entre corpo e mente, e sim pensando na criança/ adolescente como um sujeito em processo de desenvolvimento integral. Assim sendo, veremos a partir de agora a importância da Psicomotricidade e do movimento, e suas implicações no desenvolvimento humano e na aprendizagem. Bases Conceituais da Psicomotricidade Na unidade anterior, apresentamos as bases de conhecimento do ser humano. Compreendemos a necessidade de um desenvolvimento integral e reconhecemos a importância do corpo e do movimento. Esse desenvolvimento integral é um emaranhado de aspectos que envolvem a complexidade do ser humano. Esses aspectos, como apresentamos, são compostos por nossa complexidade interna e pela interação e relação com o ambiente (externo), com seus espaços, objetos e pessoas. É importante recordarmos que, quando falamos em desenvolvimento integral, estamos afirmando que o desenvolvimento nunca acontece em dimensões isoladas, mas sim como uma grande congruência entre o interno e o externo. Nesta unidade, vamos conhecer a Psicomotricidade e como essa ciência pode nos ajudar a entender o desenvolvimento em toda a sua integridade. O corpo e sua interação com o ambiente promovem a aprendizagem, o desenvol- vimento. Essa capacidade do ser humano para sentir e utilizar o corpo como uma manifestação com o mundo é o que chamamos de corporeidade. Entenda um pouco mais sobre o conceito de corporeidade e sua importância na educação, no desenvolvimento integral e nos conceitos de Psicomotricidade. Neste vídeo, o professor Walter Roberto Coelho comenta sobre o conceito de corporeidade e sua importância na edu- cação. Acesse em: https://youtu.be/SOYcovFKA2M Atualmente, qual área da ciência pode estudar essa corporeidade e toda a sua integração? Afinal, o movimento e os gestos de cada criança estão ligados à sua 9 UNIDADE Fundamentos da Psicomotricidade maturação. A corporeidade de cada indivíduo evolui de acordo com sua estrutura cognitiva, suas experiências afetivas. O desenvolvimento da corporeidade depende, assim, de todas as dimensões: o desenvolvimento das relações neuronais estabele- cidas entre as áreas sensoriais e motoras do cérebro, as emoções e relações sociais. A Psicomotricidade é uma área que promove o estudo dessas integrações. Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP), trata-se de uma ciência que tem como objeto de estudo o homem através de seu corpo em movimento, em relação ao mundo interno e externo. Contudo, não apenas de movimento é composta, mas também de intelecto e afeto (emoção), ou seja, três pilares que, basicamente, formam as capacidades humanas. Para a ABP, a Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, respeitando a individualidade em função das experiências vividas pelos sujeitos. O termo psicomotricidade pode ser entendido como a função do ser humano que sintetiza psiquismo e motricidade, com o propósito de permitir ao indivíduo adaptar- -se de forma flexível e harmoniosa ao meio que o cerca. Agora, vamos entender um pouco mais sobre o termo psiquismo? Figura 1 Fonte: Getty Images Psiquismo ou o psíquico é o nome científico que resume as noções de alma, espírito, mente, pensamento, conduta, comportamento, vida pessoal, drama pessoal humano, vida intelectual, afetiva e ativa. A consciência é um sistema que engloba um conjunto de conhecimentos que, por sua vez, é o universo simbólico que ocorre pela representação semântica da realidade. O pesquisador Lev Vygotsky chamou a essa representação de signos. É essa represen- tação que possibilita ao ser humano realizar atividades abstratas, teóricas e subjetivas. A consciência torna-se assim a expressão do psiquismo. A partir dos pensamen- tos, as pessoas criam objetivos, desejos e tudo que é pertinente à sua consciência, a 10 11 existência objetivada em uma imagem psíquica é o reflexo da realidade concreta pela ideia que a consciência constrói perante essa mesma realidade. Nesse momento, ocorre a transformação das imagens em signos e na sequência elabora-se o sistema de signos que compreendemos como linguagem (SILVA ,2016). Nesta direção, o processo de desenvolvimento do psiquismo humano ocorre por meio de elementos e de determinações presentes na cultura histórica e socialmente desenvolvida na ação do ser humano, assim, a evolução do psiquismo humano é influenciada pela cultura, isto é, pelas objetivações e apropriações realizadas pelo ser humano, em dado momento histórico (SILVA, 2016). Ainda não entendeu o que é psiquismo? No vídeo Aspectos que compõe o Desenvolvi- mento Psíquico, a Psicóloga clínica e educacional Mônica Alves apresenta informações sobre a formação do psiquismo. Acesse em: https://youtu.be/-lRNKXIcFls Agora, vamos entender mais sobre o termo motricidade? Figura 2 Fonte: Getty Images Já na motricidade estão os movimentos, com uma complexidade de ligações entre impulsos elétricos, nervos, músculos, que funcionam para permitir todas as ações automáticas e voluntárias. O papel da psicomotricidade está exatamente em entender a relação entre psiquismo e motricidade, e como ela pode afetar o desenvolvimento humano. A Psicomotricidade quer destacar a relação existente entre motricidade e psi- quismo, e, nesta relação, estamos falando da totalidade da criança, seus proces- sos mentais, a afetividade e toda as respostas da criança com o mundo externo (COLEVATI; PINHO E SORROCHE, 2009). Portanto, a psicomotricidade pode ser entendida como uma área de conheci- mento que vai ajudar você a entender as características de desenvolvimento do seu aluno, organizando atividades que possibilitem à criança conhecer de uma maneira concreta seu ser e seu ambiente. 11 UNIDADE Fundamentos da Psicomotricidade Quanta informação! Na disciplina Corpo, Movimento e Psicomotricidade, preciso conhecer tudo isso? Figura 3 Fonte: Getty Images Sim, o desenvolvimento integral da criança depende de fatores como o desen- volvimento cognitivo, afetivo e corporal/motor. Neste aspecto, a psicomotricidade integra o movimento aos fatores psíquicos e sociais do indivíduo, proporcionando uma visão que estabelece total relação com o pensamento complexo,essa aborda- gem holística amplia o olhar do profissional, contribuindo para novas descobertas nas dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento. Breve Revisão da História da Psicomotricidade Os estudos sobre a Psicomotricidade, como objeto de pesquisa, iniciaram-se na década de 60, sendo que seu auge aconteceu nos anos 70 e 80. Anteriormente, o movimento humano era estudado apenas nos aspectos físico e motor, porém, nos dias atuais, os estudos relacionados ao desenvolvimento corporal e motor passaram a enfatizar o ser humano em toda a sua integração, e assim, como já relatamos, os fatores psíquicos e sociais foram introduzidos ao estudo da motricidade (HAETINGER, 2005). Assim, os relatos mostram que os estudos da psicomotricidade ainda são recentes e, no decorrer de tão pouco tempo, já passou por olhares de diferentes perspecti- vas. Na primeira fase, a pesquisa fixou-se, sobretudo, no desenvolvimento motor da criança, e, com o avanço das pesquisas, os estudos passaram a verificar a relação entre o atraso no desenvolvimento motor e o atraso intelectual da criança, e, a partir daí, a área de conhecimento da psicomotricidade foi ampliada. Segundo Bueno (1998), as escolas europeias e americanas contribuíram de maneira efetiva para a evolução da psicomotricidade, sobressaindo-se a escola francesa, a qual influenciou no direcionamento que a área da psicomotricidade vem seguindo até hoje. 12 13 O professor Vítor da Fonseca, catedrático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, docente no Departamento de Educação Especial e Reabilitação, e mestre em Dificuldades de Aprendizagem pela Universidade de Northwestern, Psicopedagogo e psicomotricista, tem sido responsável clínico, ao lon- go de trinta anos, em vários centros de observação e reeducação psicoeducacional privados. Ele aponta os pioneiros na área, dentre eles, Fonseca (1995) cita Dupré, que, em 1909, concedeu destaque ao termo psicomotricidade após relacionar pertur- bações psicológicas a motoras. A figura de Ernest Dupré, neuropsiquiatra, em 1909, é de fundamental importân- cia para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência da debilidade motora (antecedente do sintoma psicomotor) de um possível correlato neurológico. Outro pioneiro no estudo da psicomotricidade no campo científico foi Henri Wallon, médico, psicólogo e pedagogo, que em 1925, principiou os estudos da reeducação psicomotora no desenvolvimento psicológico da criança e também introduziu o senso de identidade corporal. Wallon ocupa-se do movimento humano, dando-lhe uma cate- goria fundamental como instrumento na construção do psiquismo, permitindo assim, relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos de cada indivíduo. Assim, a teoria walloniana influenciou ao longo dos anos vários campos de atuação como a psicologia, pedagogia, psiquiatria, medicina e educação física. Ain- da de acordo com Fonseca (1995), Edouard Guilmain, neurologista, desenvolveu, em 1935, um exame psicomotor para fins de diagnóstico e indicação terapêutica. Você sabia que Wallon foi responsável pela teoria da emoção? Psicólogo da criança, ideali- zador da reforma do sistema de ensino francês, essas são algumas das maneiras comuns de identificar a obra do médico, filósofo e educador Henri Wallon (1879-1962). Todas elas estão corretas, mas também incompletas. “Na verdade, ele é tudo isso, mas é, principalmente, um psicólogo do desenvolvimento”, diz a vice coordenadora do Programa de Psicologia da Educação da PUC-SP, Laurinda Ramalho de Almeida. Acesse o link a seguir e descubra mais sobre esse grande pensador da educação: Disponível em: https://youtu.be/ZfXIkidkFQI O psiquiatra e professor Ajuriaguerra, em 1947, redefiniu o conceito de debi- lidade motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias particula- ridades. Foi ele quem delimitou os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. Piaget (1896-1980) foi um dos autores que mais estudou as interrelações entre a psicomotricidade e a percepção através de ampla experimentação. Ele descreve a importância do período sensório-motor e da motricidade principalmente antes da aquisição da linguagem, no desenvolvimento da inteligência. Para ele, o desenvol- vimento mental se constrói, paulatinamente. É uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior. A inteligência, portanto, é uma adaptação ao meio ambiente. Para que isso possa ocorrer é necessário, inicialmente, a manipulação dos objetos do meio com a modificação dos reflexos primários (OLIVEIRA, 2007, p.31). 13 UNIDADE Fundamentos da Psicomotricidade As contribuições de Ajuriaguerra, somadas às de Wallon e Piaget influenciaram o curso de pensamentos de outros autores como: R. Diatkine, J. Buges, Jolivet, S. Leboaci, permitindo-lhes redefinir os objetos da psicomotricidade, dando ênfase es- pecial à relação, às emoções e ao movimento. Essas redefinições também sofreram influência de conceitos psicanalíticos relativos ao campo de afetividade, destacando- -se psicanalistas como S. Freud, M. Klein, J. Lacan, W. Reich, P. Schilder, F. Dolto, Samí Alí, D. Winnicott, Manoni, entre outros. Segundo Fonseca (1995), em 1947-1948, Ajuriaguerra e Datkine provocaram uma mudança na história da psicomotricidade e redefiniram o conceito de debi- lidade motora considerando-a como uma síndrome de propriedades particulares. Ajuriaguerra, em seu Manual de Psiquiatria Infantil, delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. É nesta oscilação que situa os transtornos propriamente psicomotores. Na década de 70, devido à influência das pesquisas de Wallon, surgem os tra- balhos na educação psicomotora, por Le Boulch, que desde 1966, em seu livro “A Educação pelo Movimento”, tinha como objetivo inicial sensibilizar os professores do primeiro grau quanto ao problema da educação psicomotora na escola, pois era um contexto desfavorável à pedagogia da época, centrada na aquisição das “Habilidades Escolares de Base”. Somaram-se a estes os trabalhos os de L. Pick, P. Vayer, André Lapierre, Bernard Auconturier, Defontaine, J. C. Coste e outros, que percebiam nesse momento a educação psicomotora, enquanto maneira original de ajudar a criança inadaptada a desenvolver suas potencialidades e ter acesso ao mundo escolar. Agora que conhecemos um pouco sobre a história da psicomotricidade, vamos entender como essa área pode auxiliar na sua formação. Conheça um pouco mais sobre as Etapas do Esquema Corporal de Le Boulch. Disponível em: https://youtu.be/1SUr6ilFwX8 A Psicomotricidade Aplicada à Educação O conceito de psicomotricidade passou por muitas mudanças. No início, obser- vamos que o corpo era o único aspecto estudado, já atualmente, o termo psico- motricidade é visto como o relacionar-se através da ação, ou seja, o sujeito na sua integração, unindo todas as suas dimensões de desenvolvimento. Nesta direção, a área psicomotora está associada com a afetividade, a persona- lidade do indivíduo ao seu corpo, pois ele se utiliza do movimento para expressar sentimentos e pensamentos. Segundo Fonseca (2004), atualmente a psicomotricidade deve ser compreendida como uma forma de integração da criança com o meio, assim, a psicomotricidade compreende as habilidades motoras relacionadas aos fatores psicológicos e ambien- 14 15 tais. E, dessa forma, o desenvolvimento psicomotor não envolve somente as áreas motoras, mas também prioriza as habilidades e expressões corporais. Portanto, é pela representação corporal e pelo movimento que interligamos as di- mensões motora, cognitiva e afetiva/social para o desenvolvimento de um ser humano. Os avanços da psicomotricidade foram além dos aspectos motrizes. Hoje, ela pro- porciona o desenvolvimento da socialização entre os indivíduos, auxilia na aquisição de aprendizagens como leitura,escrita e pensamento lógico-matemático. Esse desenvol- vimento tem papel fundamental nos primeiros anos de vida escolar da criança, pois é nessa fase que se observam possíveis desvios das capacidades motoras, evitando então futuras dificuldades de aprendizagem. Dentre as inúmeras linhas de atuação da psicomotricidade, a área da educação deve ter um grande conhecimento desta ciência, uma vez que as crianças na Educação Infantil estão no ápice do desenvolvimento psicomotor. Nos primeiros anos de vida, as crianças exploram o mundo que as rodeiam com seus corpos, através dos movimentos. Assim, é importante compreendermos que para um desenvolvimento psicomotor adequado o movimento é muito importante. Vale lembrar que um processo de aprendizagem é um sistema complicado, no qual a criança deve ser preparada na área cognitiva e afetiva. Para que tudo isso aconteça, umas das competências está calcada no desenvolvimento e na exploração que dependem do movimento. A criança, durante o tempo que está sendo alfabetizada, por exemplo, utiliza-se de elementos psicomotores que facilitarão quando tiver que ler e escrever. Inscreva-se no canal do Youtube “Doses de Psicomotricidade”. Com bom humor e uma didática leve, você receberá conhecimentos esclarecedores sobre os temas relacionados à psicomotricidade. Disponível em: https://bit.ly/2VwE3Nc A educação infantil é um período de suma importância para o desenvolvimento integral da criança, e a psicomotricidade tem uma importante contribuição para as crianças na faixa etária de até 5 anos, que estão em uma fase em que o movimento vai além de uma forma de comunicação, pois é algo que lhes traz prazer. Além da parte motora, as atividades que envolvem o movimento podem ajudar a criança no desenvolvimento de seu raciocínio, imaginação, criatividade, afetividade e socialização. Os professores devem estar atualizados quanto às principais áreas do desenvol- vimento psicomotor na busca por recursos de auxílio na aprendizagem escolar e no desenvolvimento adequado das fases da criança. Experiências motoras são de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo, pois pelo movimento a criança explora e se relaciona com seu meio ambiente. O movimento se relaciona com o desenvolvimento cognitivo, no sentido de que a integração das sensações provenientes de movimentos resulta na percepção, e toda 15 UNIDADE Fundamentos da Psicomotricidade aprendizagem simbólica posterior depende da organização dessas percepções em forma de estruturas cognitivas. Por meio da exploração motora, a criança desen- volve consciência do mundo que a cerca e de si própria. O controle motor possibilita à criança experiências concretas, que servirão como base para a construção de noções básicas para todo o seu desenvolvimento (ROSA NETO, 1996). Infelizmente, a escola ainda despreza o corpo no desenvolvimento da criança. O retardo na evolução do desenvolvimento é causado por vários fatores, como já apresentamos anteriormente, entre eles, a falta de conhecimento da psicomotricida- de pelos pais e profissionais da educação. Quando conseguimos uma intervenção com elementos da psicomotricidade dentro de um tempo adequado no desenvolvi- mento da criança, podemos de alguma maneira ter uma melhor resposta no seu desenvolvimento integral. Quando a escola não observa a importância do desenvolvimento integral pela via psicomotora, a criança perde a oportunidade de receber uma intervenção correta para solucionar suas dificuldades, como quando hoje trabalhamos com termos como transtornos motores. Os transtornos psicomotores são distúrbios manifestados no corpo sem nenhuma relação com alterações neurológicas ou orgânicas aparentes. Nesses transtornos, os elementos da psicomotricidade podem estar comprometidos. Um esquema corporal, que é um elemento da psicomotricidade que diz respeito a reconhecer seu próprio corpo, fica comprometido, podendo impedir que a criança tenha domínio de seu próprio corpo e das suas ações. Assim, ela apresentará dificuldades em todos os elementos psicomotores. A página NeuroSaber foi idealizada pelo Dr. Clay Brites, pediatra e neuropedia- tra formado pela Santa Casa de São Paulo e por Luciana Brites, pedagoga especiali- zada em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional. Nelas, os pesquisadores compartilham informações sobre aprendiza- gem, desenvolvimento e comportamento da infância e da adolescência, tendo como base profunda fundamentação teórica, com uma linguagem simples e um grande diferencial: aplicabilidade prática. Para entender um pouco mais como os transtornos psicomotores podem influenciar no desen- volvimento e na aprendizagem da criança, assista ao vídeo “Dificuldades de Aprendizagem e Problemas Psicomotores”. Disponível em: https://youtu.be/LTmERk6r9B4 É essencial entendermos, depois de estudar o corpo e movimento, como a psico- motricidade contribui para o processo de desenvolvimento e aprendizagem. Não se concebe a criança de forma fragmentada e receptora de conteúdos. A complexidade da aquisição de conhecimentos e sua relação com o mundo são evidenciadas. A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade nos dá um conceito bastante amplo do que é Psicomotricidade, como veremos a seguir: 16 17 É a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portan- to, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individuali- dade, sua linguagem e sua socialização (SBP, s/d) . No ambiente escolar, observar toda essa integridade que se manifesta pelo corpo proporciona a formação de criança com seus potenciais, com prazer em ser e inte- ragir com o outro. Assim como todos os nossos aspectos, a dimensão motora é parte integrante do ser humano e da sua experiência humana. Portanto, mais do que um deslocamento do corpo no espaço, o movimento constitui-se como uma linguagem, e, em algumas fases de desenvolvimento, como a única forma de comunicação e interação com o ambiente. Por meio do corpo e do movimento, a criança interage e se comunica. Conhece mais sobre si, sobre o outro e o mundo que a cerca. Expressa sentimentos, emoções e pensamentos, aprimorando seus gestos e posturas corporais e, nesta direção, se desenvolve. Na educação, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), em seus campos de experiência, apresenta propostas curriculares para guiar os estímulos para o desen- volvimento da criança. A organização curricular da Educação Infantil na BNCC está estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. As propostas curriculares destacam as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus sabe- res para proporcionar um desenvolvimento integral em cada fase. O documento da BNCC e quais são os campos de experiência ideal para a Educação Infantil baseiam- -se nas DCNEI (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil). Além dos campos ideais para esse desenvolvimento integral, foram respeitadas a cultura na qual a criança está inserida e a variedade de experimentações, assim relacio- nando os conhecimentos culturais de cada criança, respeitando-se sua singularidade. Os campos de experiências em que se organiza a BNCC são: • O eu, o outro e o nós: Neste campo de experiência, a construção da identi- dade e da subjetividade da criança é um fator importante, experiências que se relacionem ao autoconhecimento, as noções de pertencimento e valorização da sua cultura. Este campo também permite à criança desenvolver o convívio com os outros, o contatocom ideias e modos de agir diferentes, os grupos sociais. Todas essas experiências permitem que a criança desenvolva a percepção de si mesma e suas relações com o meio. O foco principal pode estar na valorização da própria identidade e o respeito e aceitação das diferenças. Conhecer seu próprio corpo e respeitar outras manifestações corporais; 17 UNIDADE Fundamentos da Psicomotricidade • Corpo, gestos e movimentos: Neste campo de experiência o foco é uso do espaço com o corpo, as possibilidades de movimentos exploradas pelo corpo neste espaço. As experiências podem ser enfatizadas com diferentes linguagens artísticas e culturais. A expressão corporal da música, dança, teatro podem ser estratégias interessantes; • Traços, sons cores e formas: Neste campo de experiência são priorizadas as ma- nifestações culturais, artísticas e cientificas. Neste campo, além das linguagens visu- ais e manuais, as crianças devem ser estimuladas com as linguagens musicais e ex- periências de expressão corporal. As crianças devem ser estimuladas em produções que envolvam artes visuais, música, teatro, dança. Essas experiências contribuem para o desenvolvimento do senso crítico, da sensibilidade e da expressão pessoal; • Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações: Esse campo de experiência deve favorecer a construção das noções de espaço e de direção, pro- porcionando à criança a possibilidade de reconhecer seu esquema corporal e sua percepção espacial, que nada mais é do que a criança organizar cognitivamente as relações do seu corpo com os objetos. É neste campo que as experiências relacionadas às relações de tempo são abordadas. Aqui existe a viabilização de situações entre noções de tempo físico (dia, noite, estações, ritmos biológicos, hoje, ontem, amanhã), as ordens temporais (depois, antes, épocas), as ques- tões relacionadas às transformações de diferentes tipos de viver pelo tempo. Todos os campos de experiências são relacionados ao corpo. É por meio do corpo, do movimento, do gesto e expressão corporal que a criança experimenta, ex- plora o espaço, conhece os objetos. Com o seu desenvolvimento, o corpo apresenta uma ampliação do repertório motor e, consequentemente, os movimentos se tornam mais eficientes na busca por outras explorações e conhecimento. Nesta direção, as crianças desenvolvem a sua corporeidade. Diante da apresentação das propostas da BNCC, podemos compreender que a motricidade possui caráter pedagógico, é pelo movimento, pelo gesto que a criança manifesta suas intenções, suas emoções. O corpo e sua interação com o ambiente promovem a aprendizagem, o desenvolvimento. Essa capacidade do ser humano sentir e utilizar o corpo como uma manifestação com o mundo é o que chamamos de motricidade, que é o nosso objeto de estudos na área psicomotora. Nesta unidade conhecemos os conceitos da psicomotricidade, hoje uma ciência que permite compreender o desenvolvimento psicomotor, ou seja, o aspecto integral. Apresentaremos na próxima unidade quais são os elementos que formam as áreas de estudos da psicomotricidade. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros A Psicomotricidade na Educação Infantil O livro A Psicomotricidade na Educação Infantil, das autoras Pilar A. Sánchez, Marta R. Martinez e Iolanda V. Peñalver, é uma ferramenta útil para qualificar o cotidiano pedagógico, ajudando a dar sentido à ação infantil por meio de intervenções e estratégias para trabalhar eficientemente com a psicomotricidade. Vídeos A importância de atividades que desenvolvem a psicomotricidade A reportagem A importância de atividades que desenvolvem a psicomotricidade, no G1, mostra o movimento como algo fundamental para o desenvolvimento da criança. https://glo.bo/3apnZRq Leitura Psicomotricidade e práticas pedagógicas no contexto da Educação Infantil: uma etnografia escolar O estudo tem como objetivo analisar como ocorrem as práticas pedagógicas psicomotoras na escola de Educação Infantil e qual a importância da psicomotricidade para o desenvolvimento da criança. https://bit.ly/3awmqB4 A importância da Psicomotricidade para Educação Infantil No texto você tem informações relacionadas ao conceito e a importância de atividades psicomotoras na educação infantil. https://bit.ly/2KD4xq5 19 UNIDADE Fundamentos da Psicomotricidade Referências BRASIL. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. v.3 BUENO, J. M. Psicomotricidade: teoria e prática. São Paulo: Lovise, 1998. COLEVATI, C. A.; PINHO, E. D. SORROCHE, E. M. O corpo em movimento: uma relação entre a psicomotricidade e a aprendizagem escrita. Monografia Tra- balho de Conclusão de Curso. Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium. Lins – São Paulo, 2009. FONSECA, V. da. Psicomotricidade: uma visão pessoal. Construção Psicopeda- gógica, São Paulo-SP, 2010, vol. 18, n.17, pg. 42-52. _______. Manual de Observação Psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. _______. Psicomotricidade. 2. Ed. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1995. _______. Psicomotricidade: perspectivas multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed, 2004. HAETINGER, M. G. O universo criativo da criança na educação. 2 ed. Porto Alegre: Instituto Criar, 2005. OLIVEIRA, M. K. Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997. ROSA NETO, F. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. Site Visitado Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. <http://profissionaispsicomotricidade. blo- gspot.com.br/2007/07/segundo-sociedade-brasileira-de.html.> Acesso em: 10/4/2013. 20
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