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@danielleferreira._ Avaliação da função renal Introdução Indicações para avaliação da função renal ● pacientes com polidipsia e/ou poliúria ● pacientes cardiopatas, especialmente os mais idosos ● pacientes com alteração nos níveis de uréia e creatinina ● pacientes com alterações neurológicas Serão abordados: ● testes que avaliam a filtração glomerular ● testes que avaliam a função/integridade tubular ● outras análises de importância clínica Avaliação da filtração glomerular Taxa de filtração glomerular (TFG) Quadro vermelho: em um paciente que esteja, por exemplo, com hiperhidratação, há um aumento da volemia, o que faz com que a pressão hidrostática aumente e, consequentemente, a taxa de filtração também é aumentada. Quadro amarelo: por exemplo, em um paciente desidratado, há menor chegada de sangue no glomérulo, o que diminui a pressão hidrostática e, consequentemente, a taxa de filtração também é reduzida. Clinicamente, podemos visualizar isso por um menor volume urinário (urina mais concentrada). É importante conhecer a capacidade de filtração glomerular de cada animal. Para isso, é essencial ter ciência dos fatores que influenciam a filtração glomerular para não confundir com estados patológicos. Métodos laboratoriais para avaliação da filtração glomerular: ● Diretos: são mais precisos, porém muitas vezes são inviáveis (devido ao custo e dificuldade) ● Indiretos: maior praticidade e amplamente inseridos na rotina clínica Avaliação direta da filtração glomerular São métodos que visam estimar a taxa de filtração glomerular (ml/kg/min). Para mensuração da TFG, utilizam-se substâncias específicas, como o iohexol, a creatinina e a insulina. Utiliza-se como referência uma substância que, uma vez na circulação sistêmica, será eliminada apenas pela filtração glomerular. A depuração de uma substância é definida como o volume de plasma que é liberado desta substância (depurado), por unidade de tempo. Iohexol: amostras são coletadas 2, 3 e 4 horas após a administração da substância. Encaminhar para laboratório para análise. Creatinina exógena: requer 8 horas de hospitalização. Requer coleta de sangue nos tempos 0, 5, 10, 60, 120, 240, 360 e 480 minutos. A estimativa é feita por uma fórmula com os dados acima. Creatinina endógena: requer coleta de urina de 24 horas e dosagem de creatinina sérica e urinária. A estimativa é feita por uma fórmula com os dados acima. Avaliação indireta da filtração glomerular Os mais utilizados são a dosagem de creatinina e ureia e, há alguns anos, surgiu um novo biomarcador que está sendo muito utilizado, o SDMA (dimetilarginina simétrica). Importante: nunca fazer a interpretação isolada do resultado obtido (é necessário correlação com a clínica e com outros exames laboratoriais ou não). Ureia e creatinina séricas: ● são tradicionalmente mais utilizadas, pois são de fácil dosagem e são exames baratos ● teoricamente, o aumento sérico está relacionado à redução da taxa de filtração glomerular (TFG) ● problemas: sofrem influência de fatores extra-renais (a ureia mais que a creatinina) e são marcadores tardios (a lesão já está extensa quando os valores desses marcadores estão alterados) ● o ideal é dosar em jejum e com o animal hidratado. Avaliações seriadas trazem mais informações clínicas ● produção e metabolismo: ○ a ureia é sintetizada no fígado a partir da amônia, que é gerada através do catabolismo de proteínas ○ a creatinina é formada pelo metabolismo não enzimático da creatina e da fosfocreatina muscular A creatinina é um marcador tardio. O aumento na concentração sérica só é identificado quando existe grande redução da TFG. Situações clínicas comuns: 1. A creatinina dentro dos valores de referência significa que a função renal (filtração) está ótima? Não necessariamente, pois é um marcador tardio. 2. A creatinina acima dos valores de referência significa que a filtração glomerular está reduzida? Sim, mas a TFG pode estar reduzida por diversos motivos (desidratação, por exemplo). 3. A creatinina acima dos valores de referência significa que o animal possui doença renal? Não. Azotemia: é o aumento nas concentrações de ureia e creatinina no sangue (e outros compostos nitrogenados). A interpretação requer conhecimento da produção e eliminação das substâncias. A azotemia pode ser pré-renal, renal e pós-renal. Valores de referência: ● cão: ureia (7-32 mg/dL) / creatinina (0,5-1,5 mg/dL) ● gato: (18-41 mg/dL) / creatinina (0,5-2,0 mg/dL) A urinálise pode ajudar a classificar a azotemia através da avaliação da densidade urinária. Na azotemia pré-renal, por exemplo, a densidade urinária está elevada. Na azotemia renal, a densidade urinária pode estar de normal para reduzida, dependendo da injúria. Além disso, as informações clínicas também são importantes para a classificação da azotemia. SDMA (Dimetilarginina simétrica): ● é uma substância de produção constante no organismo - é proveniente da degradação de proteínas intracelulares - metilação intranuclear da arginina ● é eliminada principalmente por excreção renal, então é um bom marcador da TFG ● sofre pouco impacto de fatores extra-renais (idade, sexo, massa musuclar, peso corporal ou dieta) ● não sofre influência da massa muscular, de modo que é um melhor indicador que a creatinina em animais com perda de peso muscular ● sofre aumento precoce na doença renal crônica (40% de redução da TFG) - é mais precoce que a creatinina Em pequenos animais, a SDMA tem sido utilizada como marcador precoce da doença renal crônica. Biomarcadores urinários de lesão tubular Existem diferentes substâncias que podem ser dosadas no sangue ou na urina, que auxiliam na identificação de lesões tubulares, com o objetivo de dar um diagnóstico precoce da lesão tubular. Enzimas ou substâncias na urina com característica de biomarcador podem ter diferentes origens: ● a substância é filtrada mas deixa de ser reabsorvida em túbulos lesionados ● a substância pode ser continuamente nos túbulos e na necrose celular ela é abundantemente liberada ● a substância pode ter ação fisiológica na reabsorção tubular de diferentes elementos e, havendo comprometimento tubular renal, a reabsorção desta substância deixa de ocorrer Para serem boas candidatas a avaliar a lesão tubular aguda, devem ser liberadas diante da lesão do epitélio tubular (biomarcadores de lesão), ou ter sua produção reduzida em caso de comprometimento funcional (biomarcadores de função). Algumas dessas enzimas são sintetizadas pelas células epiteliais tubulares renais e, no caso de necrose tubular aguda, há liberação ou aumento na urina (enzimúria). ● Gama glutamiltransferase urinária (GGT urinária) ● N-acetil-B-d-glucosaminidase (NAG urinária) ● Lipocalina associada à gelatinase de neutrófilos (NGAL) ● Molécula de lesão renal-1 (KIM - 1) A validação destes testes ainda é necessária para uso na rotina. As análises seriadas são mais vantajosas que as análises pontuais. Exemplos de testes para a avaliação da lesão tubular Exemplo prático: Mostra que a terapia prevista anteriormente (de 48h) não é a adequada, sendo necessário um tempo maior de tratamento para proteger o rim dessas lesões. Quantificação da proteinúria Tem a função de avaliar o grau de perda de proteína na urina. É indicado em pacientes com proteinúria persistente e para avaliar doenças glomerulares (glomerulonefrites, amiloidose glomerular). Dois métodos principais: ● mensuração da proteína na urina de 24 horas ● relação proteína urinária:creatinina urinária Relação proteína urinária:creatinina urinária ● elimina a necessidade de coletar a urina por 24 horas ● pode haver interferência na presença de piúria ou hematúria (encontramos maior quantidade de proteína na urina) ● é necessário avaliar o sedimento urinário Fração de excreção de eletrólitos Os rins são responsáveis pela excreção de eletrólitos. A taxa de filtração é dependente de diversos fatores, incluindo: ● concentração dietética ● função renal ● influência sobre os rins ● fluxo do ultrafiltrado A análise podeser feita utilizando amostras de urinas pontuais ou de 24 horas. É utilizada a creatinina nessa fórmula pois sabe-se que a creatinina é relativamente constante e tem sua eliminação exclusivamente por filtração glomerular. O ideal é que o sangue e a urina sejam coletados no mesmo momento, que seja a primeira urina da manhã e que o paciente esteja em jejum alimentar. A mais utilizada na rotina clínica é a fração de excreção de sódio, que é útil na diferenciação de azotemia renal da pré-renal: ● pré-renal: < 1% ● renal: > 1% Urocultura Urocultura é a realização de uma cultura bacteriana da urina. É o método ideal para a identificação de patógenos na urina. É o teste indicado na avaliação das infecções urinárias, sendo importante destacar que a presença de bactérias na urina não é sinônimo de infecção urinária. É necessário que haja também sinais de infecção urinária para fechar o diagnóstico e tratar com uso de antibióticos (importante realizar antibiograma para utilizar o antibiótico correto), sendo também importante analisar outros achados laboratoriais. Preferencialmente, a urocultura deve ser realizada com a urina coletada por cistocentese. Considerações finais É essencial o conhecimento de cada um dos testes e as limitações deles para a avaliação do sistema urinário. Também é necessário considerar fatores extra-renais que podem influenciar no teste realizado. Para uma correta avaliação, é importante interpretar as informações juntas.
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