Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Assistência ao parto Lavínia Vasconcellos Patrus Pena 2021 2021 Fenômenos clínicos e mecânicos que resultam na expulsão do feto pelo canal de parto: contração uterina, dilatação cervical e apagamento cervical Fatores maternos e fetais que deflagram o trabalho de parto · Algumas mulheres podem entrar em trabalho de parto antes da maturidade fetal · Útero quase sem atividade durante toda a gravidez por causa dos grandes níveis de progesterona -> o que é esperado no trabalho de parto = queda importante dos níveis de progesterona · Liberação do hormônio liberador de corticotrofina (placenta e feto) -> liberação de prostaglandinas e cortisol no ambiente intrauterino -> quebra de fibras de colágenos e aumento dos receptores uterinos de ocitocina (também pela quantidade aumentada de estriol) · Útero com + receptores e com menos colágeno -> capacidade maior de contração · + prostaglandina = + receptor de ocitocina · Sinais fetais: pulmonares e renais -> feto liberando cortisol pela adrenal e liberação de surfactante dentro do útero · Cortisol, surfactante, hormônio corticotrófico e estriol = a favor do trabalho de parto · Beta endorfinas (opioides endógenos) -> mulher com diminuição de percepção da dor física e córtex cerebral menos ativado -> paciente precisa se sentir segura e tranquila no ambiente de trabalho de parto Trabalho de parto -> contrações uterinas dolorosas e rítmicas -> condicionam a dilatação do colo Contração uterina Tônus basal uterino: 10 mmHg (acima dessa intensidade: percebidas pela palpação) Contração uterina: 40/50 mmHg -> leva a sensação de dor Início da fase ativa: 3 contrações de 40 mmHg a cada 10 minutos -> 120 unidades de Montevidéu (40mmHg x 3 tempo) Até 30 semanas: atividade uterina muito pequena Contrações de Braxton-Hicks (após 30 semanas): contrações de baixa frequência, assíncronas, parcialmente propagadas -> contrações de treinamento · Aumento da frequência e intensidade das contrações que assumem um padrão, um ritmo até o trabalho de parto Fase inicial: alcançando o ritmo e o tônus -> modificação lenta do colo -> fase latente do trabalho de parto Fase ativa do trabalho de parto: 3 contrações de 40 mmHg -> 4/5 em 10 minutos no período expulsivo -> +5 contrações, se considera taquissistolia (contração uterina: corta o fluxo para o feto -> muita contração pode causar um estresse fetal) Útero continua contraindo para diminuir de tamanho após o parto Tríplice gradiente descendente: · Contrações + intensas e com maior duração nas partes + altas do útero, propagando-se para as porções inferiores com intensidade decrescente · Colo se dilata pelo encurtamento das fibras uterinas causadas pelas contrações das partes superiores · + tônus da contração = esforço expulsivo materno · Pode passar até 100 mmHg · Contrações encurtam o corpo uterino e empurram o feto em direção à pelve · Contrações dos ligamentos redondos (sincrônicas com as do útero) tracionam o fundo uterino para frente: facilita a progressão do feto para a pelve e retifica o útero em relação à pelve Amadurecimento cervical Modificação na estrutura do colo Precede o início das contrações uterinas em várias semanas Início da gravidez: colo longo, + firme e fechado = barreira de isolamento entre ambiente interno e externo para evitar risco de infecções Diminuição da [] de colágeno, aumento da [] de ácido hialurônico e aumento do influxo de água -> próximo ao parto: amolecido, distensível, permitindo a passagem do feto Dilatação cervical: · Dilatação muito precoce do colo aumenta o risco de infecção · Tração das fibras longitudinais do copo uterino que se encurtam durante as contrações · Tensão exercida pela bolsa de água e apresentação fetal · Colo apagado de 90%: não possui resistência -> distância do orifício interno para o externo é muito curta Apagamento (aproximação dos orifícios interno e externo) e dilatação = fenômenos distintos · Primípara: ordem sucessiva = apagamento -> dilatação · Multípara: ocorrem simultaneamente -> colo se apaga em sincronismo com a dilatação Diagnóstico de Trabalho de Parto Em geral, diagnóstico de trabalho de parto: contrações 2 /10’/ ≥ 25”, associado a pelo menos 2 dos seguintes sinais: dilatação cervical ≥ 4 cm, apagamento 50%, rotura prematura de membranas · Reavaliação da paciente em 1/2 horas Avaliar idade gestacional, estática fetal, condições maternas, condições fetais Objetivos da assistência obstétrica: · Integridade do binômio mãe-feto · Redução da morbimortalidade · Recém nascido “bom”: APGAR 5’ ≥ 7, pH sangue de cordão arterial > 7,2, ausência de tocotraumatismo · Parturiente: ausência alteração anatômica ou funcional após o parto, ausência de comprometimento psicológico, percepção de controle no processo de parturição e experiência positiva do nascimento Evolução das contrações uterinas -> esquema didático para avaliação clínica Dilatação 2-3 cm 4-6 cm 7-9 cm 10 cm Frequência 2/10 min 3/10 min 4/10 min 4/10 min Duração 25-30s 30-40s 40-50s 60s Fases ou períodos do trabalho de parto Fase latente: fenômenos preparatórios para o parto · Amadurecimento cervical · Contrações de baixa frequência e intensidade · Contrações uterinas dolorosas variáveis · Ritmo dilatação < 0,6 – 1,0 cm/ hora -> progressão lenta da dilatação até 5 cm · Descida mínima ou ausente · Alterações variáveis na cérvice · Métodos principalmente não farmacológicos para alívio da dor -> analgésicos comuns não aliviam a dor e calor local, massagem, pressão, acupuntura ajudam · Dor depende da percepção da paciente 1º período: fase ativa/ dilatação 2º período: Expulsão 3º período: Dequitação 4º Período: Puerpério imediato Pontos chave da curva de Friedman (de aspecto sigmoide) · Limite inferior da velocidade de dilatação (nulíparas: 1,0 cm/h; multíparas: 1,5 cm/ h) · Período expulsivo +/- 30 minutos · Velocidade de dilatação isoladamente: inespecífica para identificar pacientes risco obstétrico/ neonatal 1º período Início contrações eficientes e dilatação 5-6 cm Término dilatação 10 cm Duração: 10h nas multíparas e 12h nas nulíparas Normas para condução do período de dilatação (pacientes de risco habitual): · Alimentação: hidratação, dieta líquida ou branda -> desnecessário ficar em jejum · Posição da parturiente: verticalização e deambulação, pois tendem a ajudar o bebê a descer por causa da gravidade -> paciente deve ficar na posição + confortável para ela e o médico deve estimular a verticalização · Ambiente: não deve ser o bloco cirúrgico -> paciente deve ter espaço, ambiente confortável e possibilidade de mecanismos de analgesia que não são necessariamente farmacológicos, PPP (quarto em que a paciente passa a fase de dilatação, o parto e o momento de pós-parto imediato) Monitorização fetal · Trabalho de parto: estado estresse e hipoxemia · Feto hígido -> capaz de compensar a situação de hipóxia causada pela contração uterina que comprime os vasos sanguíneos e interrompe o fluxo de sangue da placenta para o feto · Monitorização -> interpreta a resposta fetal aos estímulos · Ausculta intermitente (método + utilizado) · Presença de desacelerações, bradicardia · Intervalo: fase ativa -> a cada 15 ou 30 minutos · Duração: por no mínimo 1 minuto, durante a contração uterina até 30s após o término · Pontos de Ausculta Fetal: o + fácil é no dorso do feto · Melhor local para colocar a mão e perceber a contração uterina: no fundo do útero · Normal 110-160 bpm, taquicardia > 160 bpm, bradicardia < 110 bpm Cardiotocografia intra parto: traçado contínuo da FC fetal ao longo do tempo · Registro simultâneo de: contrações uterinas, batimentos cardíacos fetais e movimentação fetal · Alterações na FC fetal durante o trabalho de parto · Ritmo · Aceleração ou desaceleração da FCF · Variabilidade dos batimentos por minuto: reflete integração entre SNS e SNP e reproduz o estado de oxigenação fetal · Não recomendada de rotina para monitorização fetal intraparto de mulheres hígidas em TP espontâneo · Aumento da incidência de cesariana e de partos instrumentalizados · Redução da convulsãoneonatal 1:1.000 · Sem evidência na redução da mortalidade perinatal · Indicações para CTG intraparto · BCF <110 ou >160bpm · Presença de desacelerações intraparto (DIP) · Desacelerações precoces (DIP1): relacionadas à compressão do polo cefálico, mas não relacionadas à hipóxia · Na maioria das pacientes, feto mantém a frequência cardíaca normal · Desaceleração tardia (DIP2): se inicia na contração, mas ela se mantém após a contração -> normalmente relacionada com hipóxia fetal · Desaceleração variável (DIP3): normalmente não relacionada com contração, mas sim com compressão do cordão · Detecção de qualquer fator de risco intraparto Maternos Cesariana previa PE Gravidez prolongada Rotura membranas > 12 horas Indução do parto Diabetes Hemorragia anteparto Fetais Prematuridade Oligohidramnio Doppler alterado Gestação múltipla Mecônio Uso de ocitocina Analgesia Acompanhamento clínico -> Partograma: trabalho de parto Vs tempo: serve como orientação, não dita a conduta · Tempo (parâmetro fundamental), dilatação, descida e contratilidade · Em uma paciente na fase ativa de trabalho de parto, a evolução da dilatação deve ficar acima da linha de alerta Diagnóstico de distócias · 1º período do TP (fase de dilatação): fase ativa prolongada, parada secundária de dilatação, parto precipitado (taquitócito) · 2º período do TP (período expulsivo): período pélvico prolongado e parada secundária da descida (bebê não progride na pelve) Correção da atividade contrátil · Mudança na posição materna: verticalização · Amniotomia · Redução do TP em 60 a 120 minutos · Associação com DIPs variáveis · Momento adequado para realização · Contraindicações: feto flutuante (risco de prolapso de cordão) · Ocitocina · Intensifica contração · Meia vida de 5 minutos · Pode associar com taquissistolia · Manejo ativo do TP não deve ser indicado de rotina Alívio da dor · Técnicas não farmacológicas: técnicas de respiração, música, massagem, banho, Mindfulness, yoga, tens (aparelho que gera micro estímulos elétricos) · Analgesia epidural · Aumento da taxa cesariana · Ausência de evidência no aumento do tempo de TP e necessidade de uso de ocitocina · Vias nervosas da dor no parto e as anestesias de condução Assistência ao 2º Período Aumento da intensidade contrações e nas queixas maternas -> compressão assoalho pélvico Início final da dilatação Término expulsão completa do feto Duração: 40-90’ nas primíparas e 20-60’ multíparas · Via de parto em nulíparas de acordo com a duração do 2º período do TP Posição: escolha materna · Litotomia dorsal · Possui algumas desvantagens: compressão da veia cava -> hipotensão materna -> baixa oxigenação uterina -> redução da contração uterina -> hipóxia fetal · Indicada em partos complicados, especialmente os operatórios · Vertical: leva a contrações menos dolorosas, de maior intensidade, + eficientes e rítmicas · Acelera 2º período · Aumenta lacerações e perda sanguínea · “Gaskin” ou posição inglesa: facilita a rotação espontânea em OS · Importante na distócia de ombro · Benefícios gravitacionais · Posição de cócoras: retifica o eixo longitudinal do canal parto · Aumenta 30% no plano de saída da pelve · Desconfortável para mulheres ocidentais · Paciente precisa estar ou ser preparada · Posição semi-sentada: preferível à tradicional litotomia, por menor compressão cava · Posição francesa de Sims: evita a síndrome da hipotensão supina · Benefício para mulheres com cardiopatias/ ICC · Posição ideal = confortável para a paciente e que permita manobras obstétricas Manobra de Kristeller não + indicada: manobra externa, que empurra o fundo do útero para baixo, de forma mecânica · Pouca ou nenhuma diminuição na duração do 2º período · Sem efeito na redução de cesariana ou parto operatório · Não deve ser indicada para facilitar a expulsão fetal ou abreviar o período expulsivo · Relato de morbidade materna severa não foi encontrado Episiotomia não usada de forma rotineira ou liberal para todas as mulheres · Lesão perineal de 3º e 4º graus: que alcançam o esfíncter anal e a mucosa retal 1º mucosa e pele vaginais 2º sem lesão do esfíncter 3º lesão de esfíncter anal 4º alcança mucosa do reto · Primípara: maioria dos partos tem uma laceração de pelo menos 1º grau · Lesão + agressiva que a laceração do trabalho de parto -> episiotomia é uma laceração de 2º grau · Ausência de benefício comprovado na diminuição da morbidade materno/ fetal · Para a realização de episiotomia: feto no plano +2 De Lee e anestesia locorregional · Corte: médio-lateral direito Proteção perineal pela Manobra de Ritgen (segurar com a mão o períneo): benefícios não comprovados na prevenção de lacerações perineais de 3º ou 4º graus Massagem perineal (indicada durante o pré-natal e no 2º período), compressa aquecida: sem benefício cientificamente comprovado Assistência ao 2º período: · Encaminhar para sala de parto, se a paciente não estiver · Posição do parto deve ser escolhida pela mãe, ela não é obrigada a ficar em posição de litotomia · Posição de litotomia gera maior compressão da veia cava · Verticalização da paciente leva a contrações menos dolorosas, de maior intensidade, mas eficientes e rítmicas · Incentivar esforços expulsivos: evacuar no trabalho de parto não aumenta a chance de infecções · Evitar manobra de Kristeller · Proteção perineal: Manobra de Ritgen e massagem perineal · Desprendimento do polo cefálico · Delivramento dos ombros: primeiro desprender o ombro anterior e depois o ombro posterior · Clampagem do cordão umbilical depois de 1-3 minutos: diminuir o risco de anemia fetal, mas por outro lado, se cortar muito previamente, reduz o risco de icterícia 3º período: Dequitação e Secundamento Bebês que nascem saudáveis podem ser colocados imediatamente no colo da mãe Início após expulsão fetal Término saída completa da placenta (secundamento) Duração: 5’-30’ -> depois disso: risco aumentado de hemorragia pós-parto: útero só consegue contrair de fato depois da saída da placenta Deslocamento: retração uterina e contrações persistentes Descida pela força gravitacional e auxiliada pela contração e prensa abdominal Expulsão Manobra de Jacob-Dublin: de manejo para saída da placenta Mecanismo de Baudelocque-Schultze (face fetal da placenta aparece 1º) Mecanismo de Baudelocque-Duncan (face materna da placenta aparece 1º) · Revisão das faces materna e fetal da placenta: conferir se não tem nenhuma má formação e se não ficou nenhum pedaço de placenta dentro do útero Revisão do canal de parto · Sutura das lacerações: revisão do colo e canal vaginal · Avaliar presença de hematomas: toque vaginal, revisão direta vagina, explorar Profilaxia de hemorragia puerperal em todos os partos -> uterotônicos: Ocitocina, Erfometrina, Misoprostol Clampeamento oportuno do cordão: 1 a 3 minutos e tração controlada do cordão umbilical Manobra de Brant Andrews 4º período: Período de Greenberg, puerpério imediato, período acessório, hora de ouro Início imediato após dequitação Término após 1 hora Grande risco de hemorragia -> manter assistência ativa e vigilância Miotamponamento: tamponamento feito pela contração da musculatura -> globo de segurança -> vasos sanguíneos são intermeados pelas fibras musculares e, quando elas contraem, elas apertam os vasos sanguíneos · Ligaduras vivas de Pinard · Trombotamponamento · Trombos no interior dos vasos · Coágulos na cavidade uterina · Inatividade uterina: contração/ relaxamento uterinos -> intercalados para evitar hemorragia · Tetania uterina: contrações uterinas fixas e manutenção da hemostasia Involução uterina normal no pós parto: o tônus pode ir reduzindo também -> espaço anatômico menor para hemorragias e precisa de menos força para manter os vasos sanguíneos colabados · No 2º dia pós-parto: útero está abaixo da cicatriz umbilical · Após 10-14 dias: útero ainda está na borda da sínfise púbica -> involução fica + lenta Massagem uterina sustentada: sem evidência na profilaxia da HPP -> para estimular a contração uterinaAvaliação do tônus uterino periódico: recomendada Uso rotineiro de ATB profilático: não recomendado Observação rotineira da paciente por 24 horas após o parto: por causa de infecções pós parto, hemorragia (distinguir o sangramento pós-parto fisiológico do patológico), sinais de hipovolemia · Avaliação do sangramento vaginal e da contração uterina + palpação do fundo uterino + temperatura axilar + frequência cardíaca + pulso 3 lAVÍNIA VASCONCELLOS PATRUS pena
Compartilhar