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MILENA ZUBER FARAH GLOMERULOPATIAS – patologias que acometem os glomérulos As quatro estruturas principais dos glomérulos são: mesângio endotélio capilar podócitos membrana basal glomerular Imunocomplexos (IC) podem se depositar em quaisquer porções glomerulares – a depender da localização e da intensidade da resposta inflamatória, teremos um tipo de doença glomerular • 2 tipos de apresentação das doenças glomerulares: Síndrome Nefrótica e Síndrome Nefrítica. QUANDO SUSPEITAR DE DOENÇA GLOMERULAR? Proteinúria – marcador das glomerulopatias, sendo a albumina o principal componente Hematúria – caracteristicamente presente em doenças ditas “proliferativas”, isto é, com intensa atividade inflamatória, classicamente encontrada nas patologias que compõem o grupo da síndrome nefrítica Urina espumosa – indicativo de proteinúria Urina escurecida – indicativo de hematúria IMPORTANTE QUAL A DIFERENÇA DA SINDROME NEFRÍTICA E NEFRÓTICA? APRESENTAÇÃO CLÍNICA CONCEITO A síndrome nefrítica clássica é definida por achados clínicos e laboratoriais comuns a algumas patologias, que podem ter mecanismos fisiopatológico distintos, porém levam a desestruturação de quaisquer das estruturas glomerulares: capilares glomerulares, membrana basal, podócitos e mesângio. Os achados que definem essa síndrome são: ➢ Início agudo ou subagudo dos sinais e/ou sintomas; ➢ Hematúria de origem glomerular (dismorfismo eritrocitário e/ou presença de cilindros hemáticos); - SEMPRE PRESENTE A hematúria, sempre presente, é de origem glomerular, identificada com a presença de dismorfismo eritrocitário (principalmente na forma de acantócitos) e cilindros hemáticos. A hematúria pode ser micro ou macroscópica, podendo chamar a atenção por causar urina escura (cor de café ou similar) - um detalhe interessante que ajuda a diferenciar hematúria glomerular de causas não glomerulares é que na síndrome nefrítica não ocorre a formação de coágulos, diferente das causas urológicas (litíase, lesão ureteral, tumores de bexiga) que podem cursar com coágulos no sistema urinário. ➢ Proteinúria não nefrótica (menos de 3,5 g/24 horas); ➢ Edema e desenvolvimento de hipertensão arterial (em geral, dependente de retenção hidrossalina) – reduz o espaço de filtração; ➢ Oligúria (baixa liberação de urina) – preenchimento do glomérulo por células inflamatórias; ➢ Perda aguda de função renal, em graus variáveis – infiltrado inflamatório glomerular intenso (formas proliferativas). CAUSAS Esses sinais e sintomas são decorrentes do processo inflamatório agudo glomerular, que pode ser de origem idiopática (primária) ou secundária, por exemplo, a doenças sistêmicas, MILENA ZUBER FARAH como o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), outras doenças reumatológicas ou infecciosas (o exemplo mais clássico é a glomerulonefrite pós estreptocócica). DICA: Pós-estreptocócica – CRIANÇA Lúpica – MULHERES JOVENS GN membranoproliferativa – HEPATITE C CLÍNICA A apresentação clínica pode variar desde casos mais leves e oligossintomáticos até evoluções mais graves, com perda aguda e severa de função renal, requerendo tratamento imunossupressor agressivo; nessas situações dizemos que o processo fisiopatológico é muito proliferativo, isto é, cursa com atração intensa de células inflamatórias para o glomérulo, desestruturando o capilar glomerular, membrana basal, podócitos ou mesângio. GLOMERULONEFRITE PÓS-ESTREPTOCÓCICA – GNPE / GLOMERULONEFRITE DIFUSA AGUDA - GNDA É causada por cepas nefritogênicas do estreptococo beta-hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes). - OCORRE UMA REAÇÃO IMUNOLÓGICA CRUZADA APÓS UMA INFECÇÃO PELO STREPTOCOCCUS PYOGENES (PELE OU OROFARINGE). - O ORGANISMO PRODUZ ANTICORPOS CONTRA PROTEÍNAS (PORÇÕES) CONTRA ANTÍGENOS ESTREPTOCÓCICOS NEFRITOGÊNICO (SPBE) – E REALIZA UMA REAÇÃO INFLAMATÓRIA INTENSA Mais comum em crianças em idade escolar e pré- escolar, com pico entre os 7 e 10 anos de idade, do sexo masculino – GERALMENTE EVOLUÇÃO FAVORÁVEL. Em adultos – associação com imunossupressão, etilismo, outros agentes infecciosos – prognóstico pior. O sítio primário da infecção pelo estreptococo pode ser a orofaringe ou a pele (impetigo estreptocócico). A fisiopatologia se relaciona a deposição de imunocomplexos circulante nos glomérulos; esse IC é composto por antígenos estreptocócicos e anticorpos produzidos contra esse antígeno, que se depositam em mesângio e região subendotelial glomerular, provocando sua lesão estrutural e atração de células inflamatórias (componente proliferativo). IMPORTANTE: O intervalo entre a infecção estreptocócica e o desenvolvimento do quadro glomerular é variado, sendo em geral uma a duas semanas após infecção em orofaringe e duas a três semanas após infecção cutânea. • faringite – 7 a 10 dias • impetigo – a partir de 10 a 14 dias • outras infecções – variável As principais características da GNDA são: ➢ Hematúria de origem glomerular (MACROCÓPICA SEMPRE / MICROSCÓPICA 30-50%) ➢ Proteinúria baixa, subnefrótica; ➢ Edema, hipertensão, hipervolemia; ➢ Perda aguda de função renal, devido ao intenso infiltrado inflamatório glomerular, com evolução em geral benigna e autolimitada; ➢ Antiestreptolisina O (ASLO) em geral é positivo quando o foco infeccioso estreptocócico é de orofaringe; MILENA ZUBER FARAH ➢ Anti-DNAse-beta em geral é positiva quando o foco infeccioso estreptocócico é cutâneo; ➢ ASLO e anti-DNAse-beta são evidências sorológicas da presença prévia do estreptococo; ➢ Complemento sérico consumido, às custas de sua fração C3 (90% dos casos). ➢ Os achados de biópsia renal, quando indicada, evidenciam as seguintes alterações: glomérulos aumentados e repletos de células inflamatórias (hipercelularidade), evidenciando uma GN proliferativa difusa à Microscopia Óptica (MO). ➢ À imunofluorescência (IF) ocorrem depósitos granulares de C3, IgG e IgM em alças capilares e mesângio. ➢ Com relação à Microscopia Eletrônica (ME), encontramos depósitos subepiteliais ao longo da membrana basal, com o padrão de corcovas de camelo (humps). DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito com a evidência clínica e laboratorial de síndrome nefrítica aguda, infecção cutânea ou de orofaringe prévia (que pode ser pesquisada pelo exame de ASLO ou anti-DNAse- beta) e faixa etária compatível. ACHADOS: Urina 1: hematúria dismórfica + cilindros hemáticos, leucocitúria (estéril), proteinúria variável. Redução de taxa de filtração glomerular (TFG) em geral autolimitada Distúrbios eletrolíticos relacionados a redução da TFG – hipercalemia, acidose metabólica etc IMPORTANTE: Evidência sorológica de estreptococcia: ASLO (>70% em casos de faringites) aDNAse B (>70% em casos de impetigo) Complemento total C3 (90% casos) Biópsia renal (critérios de mau prognóstico) são: Oligúria ou manutenção em diálise por mais de uma semana; Idade menor que 2 anos ou maior que 12 anos; Hipertensão persistindo por mais de três semanas; Hipocomplementenemia por mais de oito semanas; Hematúria microscópica por mais de dois anos; Proteinúria subnefrótica por mais de seis meses; Evidências sorológicas de doenças sistêmicas TRATAMENTO – MANEJO CLÍNICO DOENÇA AUTOLIMITADA – se resolve espontaneamente!! • Medidas dietéticas: restrição de sal e líquidos • Antibioticoterapia com penicilina – não trata a GNDA, mas evita que a criança seja uma portadora assintomática da bactéria • Diuréticos de alça – furosemida (EV) – pode prescrever com mais certeza do que na síndrome nefrótica • Hipotensores e vasodilatadores endovenosos – nitroprussiato, hidralazina • Insuficiência renal grave/congestão refratária ao tratamento clínico – diálise (<5% dos casos)Como as principais complicações são relacionadas a hipervolemia e retenção hidrossalina, devemos restringir o consumo de sódio (dieta hipossódica), introduzir anti- hipertensivos para os hipertensos, inclusive com necessidade de vasodilatadores endovenosos para casos selecionados e utilizar diuréticos (em geral, diuréticos de alça como a furosemida). A prescrição de antibioticoterapia não trata a GNDA, mas tem como objetivo erradicar o estreptococo, para que a criança não se torne uma portadora assintomática, interrompendo sua transmissão; nesses casos, o tratamento pode ser feito com penicilina benzatina ou eritromicina para os alérgicos. Vale lembrar que corticoterapia não está indicada na GNDA. PEGADINHA – EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO OBS: Hematúria microscópica pode persistir por mais de um ano; proteinúria subnefrótica e em valores decrescentes pode persistir por até seis meses. A normalização do complemento (C3) ocorre, via de regra, em até oito semanas. • Geralmente remissão clínica em 2 a 4 semanas • Recuperação espontânea da natriurese em cerca de 48 a 72 horas (aumento da diurese) MILENA ZUBER FARAH • Normalização do complemento (C3) em cerca de 8 semanas • Hematúria microscópica e proteinúria discreta podem persistir por vários meses • Cura: 90 a 95% das crianças e 60-70% dos adultos • Evolução não favorável – indicação de biópsia renal. CONCEITO A síndrome nefrótica é definida por achados clínicos e laboratoriais a saber: ➢ Proteinúria maior que 3,5 g/24 horas no adulto e maior que 40 a 50 mg/kg/24 horas na criança; ➢ Edema (anasarca); ➢ Hipoalbuminemia (albumina sérica menor que 3,5 g/dL); ➢ Hiperlipidemia e lipidúria (achados não obrigatórios); ➢ Início geralmente subagudo / crônico - com os sintomas surgindo em semanas; ➢ Tendência a hipercoagulabilidade, com aumento do risco tromboembólico. ➢ Aumento do risco de infecções ➢ Não há também perda de função renal de caráter rapidamente progressivo, apesar de um pequeno número de casos poder evoluir dessa forma. A síndrome nefrótica pode ser de causa primária ou secundária a doenças sistêmicas ou outros fatores desencadeantes, como exposição a alguns fármacos; nos casos primários existem mecanismos imunológicos envolvidos, com depósito ou formação in situ de imunocomplexos, levando a uma desestruturação glomerular (capilar glomerular, membrana basal, podócitos ou em mesângio), aumentando assim a permeabilidade a proteínas, cursando em geral com proteinúria elevada. As patologias que cursam com apresentação nefrótica são chamadas de “não proliferativas”, isto é, ocorre aumento da permeabilidade capilar glomerular, porém sem atração de grande quantidade de células inflamatórias; essa fisiopatologia faz com que, diferente da síndrome nefrítica, em geral, NÃO OCORRE HEMATÚRIA. Vale lembrar que o quadro clínico e laboratorial da síndrome nefrótica é comum a todas as patologias que cursam com essa síndrome, porém cada doença apresenta suas particularidades. CLÍNICA ➢ As principais queixas clínicas dos pacientes com síndrome nefrótica estão relacionadas a retenção hídrica, com edema de face, periorbitário, de membros inferiores, testicular e abdominal. COMPLICAÇÕES Devido ao aumento da permeabilidade glomerular e proteinúria em geral intensa (maior que 3,5 g/24 horas), ocorrem algumas alterações clínicas e laboratoriais clássicas na síndrome nefrótica; a associação de proteinúria e hipoalbuminemia severas leva às principais complicações, a saber: ➢ Risco aumentado de infecções, por perda de proteínas (imunoglobulinas inclusive), reduzindo a imunidade humoral – principal complicação - PERITONINE POR STREPTOCOCO!!!! – diferente do causador de GNPE ➢ Perda de hormônios, minerais e vitaminas; ➢ Edema, anasarca; devido a hipoalbuminemia há redução da pressão oncótica intravascular com perda de líquido para o extravascular; além disso, há ativação do Sistema Renina- Angiotensina-Aldosterona (SRAA) e aumento MILENA ZUBER FARAH da vasopressina, com retenção hidrossalina, piorando o edema. ➢ Desnutrição proteica – perdendo proteína pela urina – aumento do catabolismo proteico para reposição. ➢ Hiperlipidemia: hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia e lipidúria, por aumento da síntese de proteínas hepáticas em resposta a hipoalbuminemia e por diminuição do catabolismo das lipoproteínas - Essas alterações sanguíneas levam ao aparecimento de lipidúria, não sendo este último achado obrigatório; ➢ Aumento do risco para eventos tromboembólicos: (perdem fatores de coagulação) - a ocorrência de Tromboembolismo Venoso em pacientes com síndrome nefrótica é maior que 30%; situação de hiperlipidemia, associado à volume intravascular depletado, imobilidade do paciente anasarcado e perdas renais de anticoagulantes endógenos aumentam o risco de trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar e trombose de veia renal (este último caracterizado por dor no flanco, hematúria e queda da taxa de filtração glomerular). TRATAMENTO – - O TRATAMENTO DEPENDE MUITO DA DOENÇA QUE ESTÁ CAUSANDO A SÍNDROME – POR EXEMPLO: NA DLM EU ENTRO COM CORTICÓIDE SEMPRE (CRIANÇAS – COMO PROVA TERAPÊUTICA, SE NÃO FUNCIONAR, FAZ BIÓPSIA), NO CASO DE ADULTOS EU FAÇO BIÓPSIA (PRESTAR MUITA ATENÇÃO NO ADULTO!! – só não realizar na nefropatia diabética – pois é uma doença comum, pode fazer, porém não compensa) PARA DESCOBRIR A CAUSA E FAÇO O MANEJO DO EDEMA, PROTEINÚRIA E ETC. MANEJO DO EDEMA NEFRÓTICO • Restrição de sódio na dieta < 2,4 g/24 horas • Suspensão de medicações que possam contribuir com edema – anlodipina, betabloqueadores etc • Diuréticos de alça – furosemida VO/EV – AVALIAR – POIS PACIENTE TENDE A ESTAR COM HIPOVOLEMIA/NORMOVOLEMIA – SE PACIENTE HIPOVOLEMICO E PRESCEVER HIPOVOLEMIA – PODE LEVAR O PACIENTE A ÓBITO! • Diuréticos tiazídicos – HCTz, clortalidona - Se tendência de hipocalemia, associar diuréticos poupadores de potássio – amilorida espironolactona • Diálise com ultrafiltração (em casos de refratariedade dos diuréticos). MANEJO DA PROTEINÚRIA – principal foco! Geralmente doenças do espectro da síndrome nefrótica cursam com proteinúrias muito elevadas! • IECA/BRA (antiproteinúricos) – manter a maior dose tolerada – nefroprotetores • Alvo de proteinúria < 0,5 a 1,0 g/24 horas • Controle pressórico rigoroso – PA < 130x80 mmHg • Controle de ingesta proteica e de sódio – 0,6 a 0,8 g/Kg/dia de ingesta proteica • Tratamento da doença de base – imunossupressão em casos selecionados CAUSAS: Doença de lesão mínima (DLM) • Idiopática – fisiopatologia: fusão podocitária – os podócitos se fundem e perdem a membrana de filtração – PROTEINÚRIA INTENSA! • Associação com anti-inflamatórios não hormonais, interferon, lítio, doença de Hodgkin, outras neoplasias hematológicas (LLC); Características gerais: • principal causa de síndrome nefrótica em crianças menores de 10 anos (90%) • causa menos frequente de síndrome nefrótica em adultos (10 a 15%) • proteinúria maciça • ausência de hematúria • SEM consumo de complemento • em geral, hipertensão ausente e função renal preservada • RESPOSTA EXCELENTE A CORTICOIDES, especialmente em criança! MILENA ZUBER FARAH Glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF): • Idiopática; fatores genéticos (GESF familiar); • Associação com vírus do HIV, drogas (heroína), obesidade, baixo peso ao nascer, agenesia renal unilateral. Glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP): • Idiopática; • Associação com vírus da hepatite C (presença de crioglobulinas circulantes). Nefropatia diabética: • presença de diabetes mellitus, tipo 1 ou tipo 2, com ao menos mais de cinco a dez anos de doença descontrolada, em geraljá associado a achado de retinopatia diabética. ETC. • OBS SOBRE CORTICOIDE; - A retirada do corticoide deve ser realizada aos poucos (quando esse uso passa de 15 dias) – desmame – Por que?? Pois quando você retira de uma vez pode induzir a um quadro de insuficiência adrenal (pois pela lógica essa adrenal não está trabalhando, quando retira de uma vez ela entra em insuficiência).
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