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FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC ANATOMIA RENAL Os rins se localizam no espaço retroperitoneal. Na parte côncava de cada rim localiza-se o hilo renal, onde se encontram a artéria e a veia renal, vasos linfáticos, plexos nervosos e ureter. A fáscia de Gerota envolve a gordura perirrenal que contorna o rim e a glândula adrenal, constituindo o espaço perirrenal. O parênquima renal é constituído pelo córtex e medula; Uma pirâmide + o córtex adjacente forma o lobo renal. A Medula é dividida em medula interna e externa e no ápice da pirâmide encontra-se a papila renal. Em continuidade estão os cálices menores, que se juntam para formar os cálices maiores e posteriormente a pelve e o ureter. O rim de um indivíduo adulto mede: • Comprimento: 10 a 13 cm • Largura: 5 a 7,5 cm • Espessura: 2,5 a 3cm VASCULATURA RENAL • Artéria renal • Artéria segmentar • Artéria interlobares • Artérias arqueadas • Artérias interlobulares • Arteríola aferente • Arteríola eferente • Vasos retos NÉFRONS Os néfrons são as unidades funcionais do rim, havendo cerca de 1 milhão de néfrons em cada rim. São eles responsáveis pela filtração glomerular, sendo composto pelo glomérulo e túbulos renais. O débito cardíaco é cerca de 5 litros, ou seja, a cada minuto 5 litros de sangue é bombeado para o corpo. Cerca de 25% (1,25L) desse plasma sanguíneo passam pelos rins a cada minuto. Esse sangue que atinge o rim passa inicialmente pelos glomérulos, onde cerca de 10 a 20% desse plasma é filtrado, o que totaliza 180 litros de plasma filtrados diariamente. Apenas 1,2% desse volume é eliminado por meio da urina e o restante é reabsorvido da luz tubular para o espaço peritubular. Obs: Os glomérulos justamedulares possuem maior diâmetro em relação aos glomérulos superficiais. Os glomérulos estão em maior quantidade no córtex enquanto os túbulos na medula. Obs: O túbulo distal e o ducto coletor são responsáveis por fazer o AJUSTE FINO, ou seja, reabsorvem parte do sódio. GLOMÉRULO A arteríola aferente é a arteríola de entrada da cápsula de Bowman do glomérulo, já a arteríola eferente é a arteríola de saída. O glomérulo é dividido no polo vascular (mais próximo das artérias aferente e eferente) e polo urinário, mais distal. No interior do glomérulo está o tufo glomerular (formado pelos capilares glomerulares) e, na superfície do tufo glomerular, o epitélio visceral (podócitos), que caracteriza a camada mais externa da FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC barreira de filtração glomerular (BFG). Entre a parede dos capilares glomerulares (endotélio) e os podócitos está a membrana basal, que também faz parte da BFG. Assim, a barreira de filtração glomerular é formada pelo endotélio, membrana basal e epitélio visceral (podócitos). Para que o glomérulo mantenha a sua forma existe uma substância amorfa entre os capilares que dá sustentação, chamada de mesângio. No túbulo distal estão localizadas células que mudam a sua conformação e formam a mácula densa, que faz parte do aparelho justaglomerular e faz o ajuste de sódio no organismo. Na parede do endotélio são encontradas as fenestras do endotélio. Em condição normal, as hemácias que passam nos capilares não conseguem passar pelas fenestras para o espaço urinário devido ao seu tamanho, sendo essa passagem possível apenas em alguma condição patológica. Quando ocorre de as hemácias passarem através dessas fenestras, elas mudam a sua conformação, causando o dismorfismo eritrocitário, condição PATOGNOMÔNICIA DE ALTERAÇÃO GLOMERULAR. Assim como as hemácias, as proteínas não conseguem atravessar as fenestras do endotélio em condições habituais. A albumina, proteína de peso intermediário e de carga negativa, também não ultrapassa essas fenestras devido à carga negativa dos proteoglicanos presente na membrana basal, que a repele. Assim, nas glomerulonefrites, a perda das cargas negativas da membrana glomerular aumenta a filtração de proteínas. APARELHO JUSTAGLOMERULAR O aparelho justaglomerular é a estrutura mais importante do sistema renina-angiotensina, pois atua negativamente na regulação da excreção de sódio pelo organismo. Ele é formado pelos seguintes elementos: • Porção terminal da arteríola aferente – células justaglomerulares, que produzem renina; • Mácula densa (túbulo distal); • Região mesangial extraglomerular; • Arteríola eferente. Obs: As células da mácula densa do túbulo contorcido distal são sensíveis à presença do sódio. Assim, quando sensibilizada, envia informação para a arteríola eferente para aumentar ou diminuir a absorção de sódio de acordo com a necessidade. FISIOLOGIA RENAL A função primordial do rim é manter o meio interno estável, através da retenção ou eliminação seletiva de água, eletrólitos e outros solutos. Para isso, os rins possuem a função de: • Regular as concentrações plasmáticas de Na+, K+, H+, Ca++, Mg++, HCO3-, Cl- e PO4-; • Regular o volume e osmolaridade do fluido extracelular; • Regular o equilíbrio ácido-básico; • Excreção de certos produtos do metabolismo endógeno e substâncias exógenas; • Produção de hormônios: eritropoetina, renina, angiotensina ll, prostaglandinas e vitamina D. Obs: Devido à função de produção de eritropoetina, hormônio responsável por produzir as células vermelhas, pacientes renais crônicos, muitas vezes, cursam com anemia. Além disso, pacientes pediátricos com doenças renais geralmente possuem alteração de estatura e formação esquelética, devido à falta de vitamina D. A formação da urina resulta de 3 processos: 1. Filtração glomerular; 2. Reabsorção tubular: reabsorve quase todo o conteúdo filtrado e apenas cerca de 1,2% são eliminados na urina. 3. Secreção tubular: permite a secreção (diretamente nos túbulos) de substâncias que não passaram pela barreira dos capilares glomerulares, como macromoléculas ou partículas ligadas a proteínas. a. Uma pequena quantidade de proteínas pode ser encontrada na urina, proveniente da secreção tubular. FATORES ANATOMOFUNCIONAIS DA FILTRAÇÃO A permeabilidade do capilar glomerular é 10 a 100 vezes maior do que a de qualquer outro capilar do organismo, conferindo a capacidade de filtração. Alguns fatores que influem na atividade da barreira de filtração são o tamanho das partículas, a forma e a carga (os podócitos epiteliais são recobertos por glicoproteínas, glicosaminoglicanos e proteoglicanos). O líquido filtrado tem composição iônica e de substâncias cristalóides (glicose, aminoácidos, etc) idêntica à do plasma, porém sem a presença de elementos figurados (hemácias, leucócitos, plaquetas) e com quantidades mínimas de proteínas e macromoléculas. FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC FATORES HEMODINÂMICOS (FORÇAS DE STARLING) A passagem de água e moléculas através do capilar glomerular é governada por forças opostas: PRESSÃO HIDRÓSTÁTICA X PRESSÃO ONCÓTICA A pressão hidrostática é a pressão exercida pelo sangue na parede do vaso, aumentando ou diminuindo o seu fluxo; assim, quanto menor o calibre do vaso, maior a pressão e, consequentemente, a saída de sangue do vaso para o meio extravascular. Já a pressão oncótica é a pressão exercida pelas proteínas presentes no plasma, principalmente a albumina, que tenta manter o plasma no meio intravascular. A resultante entre as forças que favorecem e desfavorecem a filtração é definida como pressão de ultrafiltração (PUF) e a filtração glomerular por néfron depende diretamente do fluxo plasmático glomerular. Assim, para a filtração ocorrer, a pressão hidrostática deve ser maior que a pressão oncótica. Obs: Pressões que atuam na filtração glomerular• A pressão capilar glomerular é uma força que favorece a filtração glomerular; • A pressão intratubular e a pressão oncótica do capilar glomerular são forças que se opõem à filtração; • A filtração glomerular depende da permeabilidade do capilar glomerular REGULAÇÃO HORMONAL DA FILTRAÇÃO GLOMERULAR A regulação da filtração glomerular também pode ocorrer por meio de alguns hormônios. A angiotensina ll e o ADH podem provocar contração das células mesangiais e reduzir a filtração. O paratormônio pode aumentar a produção local de angiotensina ll e também reduzir a filtração. Já os glicocorticóides e o óxido nítrico favorecem a filtração glomerular, bem como o fator atrial natriurético, que provoca vasodilatação renal e, consequentemente, aumento da filtração. HIPERFILTRAÇÃO GLOMERULAR A redução da massa renal, cirúrgica ou por lesão do parênquima, bem como o diabetes melito, induz o aumento da filtração glomerular dos néfrons remanescentes, principalmente pelo aumento do fluxo plasmático glomerular e do gradiente de pressão hidrostática. O aumento da filtração glomerular por néfron é tanto maior quanto mais elevada a perda da massa renal. Outro fator que pode levar ao aumento da filtração é a ingestão proteica - sugere-se que isso ocorra devido à vasodilatação induzida pelas proteínas ou aminoácidos. Além disso, o aumento dessas proteínas no mesângio estimula proliferação de células mesangiais, causando esclerose glomerular; essa esclerose reduz ainda mais o número de néfrons e a massa renal, progredindo para uma insuficiência renal crônica terminal. AUTORREGULAÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO RENAL Existem mecanismos compensatórios que tornam o ritmo de filtração glomerular estável, apesar de eventos externos. • Reflexo miogênico (arteríola aferente): constrição automática da parede do músculo liso da arteríola aferente quando a pressão de perfusão renal aumenta. • Retroalimentação tubuloglomerular (arteríola eferente): O aumento da oferta de NaCl e, consequentemente, mais sangue à região da mácula densa (túbulo distal) resulta de aumento da pressão de perfusão renal e causa vasodilatação da arteríola eferente. Resumindo: ↑ sangue: aferente contrai e eferente dilata ↓ sangue: aferente dilata e eferente contrai TÚBULOS RENAIS Os túbulos renais são as estruturas no néfron responsáveis pela reabsorção e secreção de substâncias. Aproximadamente 99% do que foi filtrado é reabsorvido ao longo do néfron e a composição desse fluido é semelhante à do plasma, com exceção das macromoléculas, pois elas não passam pelo glomérulo. Os túbulos renais são formados por uma parede de epitélio simples e possui uma membrana apical/luminal e uma membrana basolateral. • Membrana apical: canais iônicos, carregadores, trocadores (direção oposta), cotransportadores (mesma direção), bombas de transporte ativo, como H+-ATPase. • Membrana basolateral: além de canais e outros tipos de transportes facilitados, apresenta uma densidade variável de bombas (Na+-K+-ATPases), que utilizam a energia liberada pela hidrólise do ATP para transportar ativamente o Na+ para fora e o K+ para o interior da célula – maior quantidade de transportadores ativos. Obs: O túbulo proximal e a porção ascendente espessa da alça de henle são os segmentos que apresentam maior quantidade de Na+- K+-ATPase. A maior parte do transporte de solutos e de água é realizada pela via transcelular¸ mas também pode ocorrer pela via paracelular, através dos complexos juncionais. FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC O túbulo renal recebe as substâncias através da membrana apical e faz a reabsorção através da membrana basolateral, que está em contato com o espaço peritubular e o capilar peritubular. TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA EPITELIAL DO TÚBULO RENAL A passagem de substâncias do túbulo renal para o capilar peritubular pode ocorrer tanto por transporte ativo como por transporte passivo. Transporte passivo • Difusão simples: migração transmembrana de uma substância apenas sob ação do gradiente químico, elétrico ou pH, do meio mais concentrado para o meio menos concentrado; o Em relação ao PH, formas não ionizadas possuem maior facilidade de penetração em virtude da natureza hidrofóbica da membrana celular. Se o fluido tubular estiver mais ácido, ocorrerá reabsorção de ácidos fracos para o espaço peritubular e dissociação de bases fracas (que permanecem no lúmen tubular). • Osmose: transporte de água; • Difusão facilitada: através de poros, carregadores ou canais existentes na membrana. Transporte ativo • Bombas: utilizam diretamente a energia liberada pela hidrólise do ATP; • Endocitose: fagocitose (sólidos) e pinocitose (fluidos); Obs: O gradiente eletroquímico gerado pelas ATPases pode permitir o transporte secundário de outros íons. TÚBULO PROXIMAL A maior parte da reabsorção do filtrado glomerular (60-70%) é feita no túbulo proximal. Ele é responsável pela maior parte da reabsorção de Na+, K+, Cl-, HCO3- e por quase toda a reabsorção de glicose e aminoácidos, além de reabsorver cerca de 65% da água filtrada. Por isso, detém a maior quantidade dos canais de troca. A reabsorção de Na+ nessa região do néfron é acompanhada pela mesma proporção de água, portanto, uma reabsorção isotônica. Além disso, o trocador de Na+/H+ é a principal via de entrada de Na+ nas células do túbulo proximal, que ocorre de forma passiva ou secundariamente ativa (pois usa energia liberada pela quebra do ATP). Devido a essa necessidade de entrada de H+ na luz tubular para a reabsorção do Na+, a urina fica com composição ácida. Obs: É no túbulo proximal que ocorre grande acidificação da urina devido à grande reabsorção de HCO3-. Quando o Na+ é reabsorvido e o H+ excretado, o H+ se combina com o HCO3- para formar CO2, o qual entra na célula. Ao se combinar com a H2O, forma HCO3- (que é reabsorvido) e H+ que volta para o lúmen tubular, acidificando a urina. Caso não houvesse esse mecanismo e o HCO3- fosse diretamente excretado pela urina sem neutralizar o H+, o excesso de H+ iria provocar reabsorção desse íon e, consequentemente, acidose sanguínea. FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC ALÇA DE HENLE É a parte do néfron responsável pela capacidade do rim de produzir urina concentrada ou diluída. E, diferente do que ocorre no túbulo proximal, a reabsorção não é isotônica. • Reabsorve 40% do Na+ filtrado; • Reabsorve 25% da água filtrada; • Ramo descendente: muito permeável à água e pouco a solutos; • Ramo ascendente: impermeável à água; • Co-transportador Na/K/2Cl (sítio de ação diurético da furosemida) o Para ser reabsorvido o Na+ e o K+, 2Cl- são carregados juntos para equilibrar a carga. o A furosemida bloqueia esse transportador, tendo ação diurética. Por excretar K+, é muito utilizado em pacientes com hipercalemia. TÚBULO DISTAL Este segmento é impermeável à água e realiza a reabsorção de Na+ através do co-transportador Na/Cl (sítio de ação dos diuréticos tiazídicos, como a hidroclorotiazida). Obs: Os diuréticos tiazídicos têm mais ação anti-hipertensiva do que diurético propriamente dito, pois atua em uma região onde há pouca permeabilidade de água e maior de soluto. Feedback tubuloglomerular: relaciona a quantidade de Na+ que chega aos segmentos distais do néfron e a regulação da filtração glomerular. A quantidade de Na+ ao atingir o início do túbulo distal sensibiliza a mácula densa, que manda informação para a arteríola eferente para contrair ou dilatar. DUCTO COLETOR O ducto coletor apresenta 2 tipos de células: principais e intercaladas. Células principais: • Principal local de secreção de K+ e reabsorção de Na+ (canais Enac – sensíveisao diurético amiloride e espironolactona, que bloqueia a reabsorção de Na+); • Respondem à aldosterona (reabsorção de Na+ e secreção de K+); o É importante ter cuidado com o uso de diuréticos poupadores de K+, pois podem provocar hipercalemia e levar o paciente a uma urgência dialítica. • O transporte de água varia com a concentração plasmática do hormônio antidiurético (ADH), o qual também pode aumentar a permeabilidade à ureia. o A ureia é reabsorvida do ducto coletor para o interstício. Parte é retirada pelos capilares para ser novamente filtrada e parte passa diretamente para a alça de henle. Obs: O ADH é um hormônio produzido pelo hipotálamo e liberado pela neurohipófise. Ele está relacionado também com o diabetes insipidus, que pode ser central (quando há um problema na hipófise que impede a liberação do ADH) ou nefrogênico (quando o problema está a nível renal e o ADH produzido não consegue agir no receptor). Em ambos os casos o paciente tem poliúria. Células intercaladas: • Participam do balanço ácido-básico; • Secretam H+ e reabsorvem HCO3-; INVESTIGAÇÃO DE DOENÇAS RENAIS CASO CLÍNICO Homem, 45 anos, refere que procurou pronto-atendimento com queixa de edema em MMll e espuma na urina e foi orientado a procurar um nefrologista. Paciente é diabético há 15 anos. Nega HAS e patologias renais na família. EF: NDN. / AR: MV+ em AHT, sem RA / ACV: RCR 2T, BNF sem sopros. PA 110x70 mmHg. FC: 72 bpm. / Abd flácido, indolor à palpação. RHA+ / Edema de MMll 2+/4. Cacifo +. AVALIAÇÃO DE PROTEINÚRIA Para a avaliação de proteinúria podem ser utilizadas 3 abordagens diferentes: • Tira reagente de albumina (EAS): não possui uma sensibilidade tão boa e só detecta valores acima de 0,25 a 0,3 g/L. o +: 0,5g a 1g FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC o ++: 1g a 2g o +++: > 3g – proteinúria nefrótica • Excreção proteica em 24h: PADRÃO-OURO. • Relação proteína-Creatinina em amostra de urina isolada (avaliação por meio do EAS). Não pode dosar proteína em uma amostra isolada e multiplicar proporcionalmente ao longo do dia porque a excreção de proteína é variável ao longo do dia. No caso clínico, o paciente apresentou, em urina de 24h, uma dosagem de 4,1g, sendo assim caracterizada como uma proteinúria nefrótica. Porém, mesmo com taxas de proteínas tão altas, o paciente pode apresentar a taxa de filtração glomerular normal. MEDIDA DA TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR A quantidade de plasma filtrado por minuto não pode ser medida diretamente; assim, é medida indiretamente como a depuração (clearance) urinária de um marcador ideal de filtração, o qual não deve estar ligado a proteína plasmática, nem ser reabsorvido, secretado ou metabolizado pelos túbulos renais. A inulina (polímero da frutose) seria o marcador ideal (PADRÃO-OURO) de filtração; porém, na prática a creatinina é o marcador de filtração renal endógeno utilizado com mais frequência, apesar de existir uma pequena secreção tubular dessa substância. O clearance é caracterizado como o volume de plasma “clareado” de um marcador pela excreção. VR: 100 a 120 ml/min. Fatores que influenciam a TFG: • Idade (o aumento da idade causa a diminuição da quantidade de néfrons e, consequentemente, redução da TFG, sem necessariamente caracterizar uma doença). • Gênero (a creatinina é derivada das proteínas, e como as mulheres possuem menos músculos que os homens, possuem a TFG menor); • Tamanho corporal (quanto mais massa muscular, maior a TFG); • Atividade física; • Dieta (quanto maior a ingesta de proteínas, maior a TFG); • Terapia farmacológica (algumas drogas promovem o aumento da secreção de creatinina na urina); • Gravidez (aumenta cerca de 50% no primeiro trimestre). Obs: Em relação às suplementações à base de proteínas não há contraindicações em pessoas hígidas, apesar de aumentar a TFG. Porém, em pacientes com patologias renais não é indicado devido à sobrecarga. A TFG também varia ao longo do dia, tendo uma redução de 10% à noite. Além disso, varia de acordo com alterações fisiológicas e hemodinâmicas, por exemplo: o aumento da circulação aumenta a TFG. No caso clínico, o paciente apresentou clearence de creatinina de 66,14 ml/min, ou seja, uma redução da TFG. O paciente retornou após 2 meses, em uso de medicação anti- proteinúrica e diurético com reversão do edema, sem queixas. Foi feita solicitações de novos exames, incluindo medida da proteinúria de 24h e TFG. O paciente queixa-se de dificuldade de coleta do exame e refere início recente de incontinência urinária. Quando não é possível coletar a urina de 24h para avaliar proteinúria e TFG, faz-se necessário utilizar outras alternativas: • Avaliação de proteinúria: Relação proteína-creatinina em amostra isolada de urina. • TFG: equações estimativas a partir da creatinina sérica. MEDIDA DA TFG ESTIMADA • Cockcroft-Gault (mais fácil de ser utilizada) • MDRD – Modification of Diet in Renal Disease • CKD-EPI – Colaboração Chronic Kidney Disease Epidemiology CREATININA O valor isolado da creatinina não é acurado para estimar a função renal, pois parte da creatinina encontrada na urina não é filtrada no glomérulo, mas sim excretada diretamente nos túbulos renais, podendo ser superestimada. Além disso, outros fatores podem promover o aumento da creatinina na urina: • Consumo de carne; • Massa muscular; • Uso de medicações: cimetidina, trimetropina, probenecida. VR: até 1,5 mg/dL FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC UREIA Assim como a creatinina, a ureia também é derivada do metabolismo proteico. Algumas situações podem causar a elevação da ureia independentemente da função renal: • Aporte elevado de proteínas; • Sangramento intestinal (provoca maior absorção de componentes sanguíneos com alto teor de proteínas, promovendo o aumento da ureia); • Corticoesteróides; • Tetraciclina; • Estado catabólico elevado; VR: até 40 mg/dL EXAME DE URINA É o exame fundamental para avaliar doenças do rim e trato urinário e deve ser sempre realizado na primeira avaliação por um nefrologista. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS a) Cor Cor normal: amarelo-claro, amarelo-escura e âmbar; Condições patológicas que mais causam mudanças na coloração da urina: • Hematúria macroscópica; • Hemoglobinúria; • Mioglobinúria; Nessas condições a urina pode se apresentar rosa, vermelha, marrom ou preta. No caso da mioglobinúria, a urina geralmente se apresenta preta, com cor de coca-cola; esse quadro é visto na rabdomiólise. • Bilirrubinúria: urina amarelo-escura a marrom (colúria) – pacientes com colestase; • Cristalúria maciça por ácido úrico: urina rosa; • Infecções urinárias, principalmente por Klebsiella: urina roxa (Síndrome da urina roxa na bolsa coletora) • Quilúria: urina branco-leitoso b) Turvação A urina normal é transparente. Porém, a urina pode ficar turva devido à alta concentração de qualquer partícula urinária: células, cristais e bactérias. Causas mais frequentes de turvação da urina: • Infecção urinária; • Hematúria maciça; • Contaminação da urina por secreções genitais. c) Densidade relativa Mede o número de solutos por unidade de volume. • Normal: 1015-1025 • 1.000 – 1.003: acentuada diluição urinária (ex: diabetes insipidus) • 1.010: isostenúria. Observada em condições nas quais a concentração urinária está prejudicada, como Necrose Tubular Aguda (NTA) e Doença Renal Crônica. • > 1.040: geralmente há a presença de um agente osmótico extrínseco, como contraste. d) PH Varia entre 5,5 e 9,0, ou seja, pode ser ácido ou básico, apesar de na maioria das vezes ser ácido. CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS a) Proteínas específicas • Microalbuminúria – presençade albumina na urina, porém em um valor baixo. • Proteínas tubulares; • Proteinúria de Bence Jones: indica a presença de cadeias leves de imunoglobulinas na urina. Presente no mieloma múltiplo; • Esterase leucocitária: avalia a presença de leucócitos • Nitrito: Detecta bactérias que reduzem nitrato a nitrito pela atividade da enzima nitrato redutase; • Pigmentos de bile: colúria; • Cetonas: acidose diabética, jejum prolongado, vômitos, exercícios extenuantes. b) Microscopia urinária: células • Eritrócitos o Isomórficos¹ o Dismórficos² 1 2 • Leucócitos o Infecções do trato urinário alto ou baixo o Nefrite intersticial FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC o Glomerulonefrites proliferativas • Células epiteliais o Podem estar presentes sem ter significado clínico. c) Lípideos São encontrados na urina como gotículas de diferentes tamanhos, isoladas ou agrupadas. Podem se apresentar como: • Corpos gordurosos ovais; • Macrófagos ingurgitados com gotículas de gordura; • Cilindros gordurosos; • Cristais de colesterol. São típicos de doenças glomerulares associados a proteinúria intensa. d) Cilindros Nos túbulos renais distais e nos ductos coletores podem se desprender uma glicoproteína de Tamm-Horsfall, que cai na urina e forma um cilindro hialino, que nem sempre significa alteração. Quando algum outro componente passa pelos túbulos e se liga a essa glicoproteína forma um cilindro específico de acordo com o componente que se ligou. Se uma hemácia se ligar a essa glicoproteína, por exemplo, é formado um cilindro hemático; esse cilindro é PATOGNOMÔNICO DE GLOMERULOPATIA, pois a hemácia que formou o cilindro foi proveniente do glomérulo. e) Cristais Os cristais mais comuns de serem encontrados são os cristais de oxalato de cálcio, mas também podem ser encontrados cristais de ácido úrico, cristais de Bruchita (fosfato de cálcio) e cristal de estruvita (fosfato triplo). Obs: Nem toda urina com cristais significa que o paciente tem litíase. Pode ser resultado de desidratação. Cristais patológicos Cristais decorrentes do uso de drogas Muitas drogas causam cristalúria, principalmente em um contexto de overdose, desidratação ou hipoalbuminemia. f) Organismos Alguns organismos também podem ser encontrados na urina, como ovos de Schistosoma. A esquistossomose urinária pode provocar hematúria microscópica com episódios recorrentes de hematúria macroscópica e uropatia obstrutiva. IMAGEM ULTRASSONOGRAFIA • Avaliação do tamanho do rim • Padrão ecográfico renal: FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC o O córtex normal é hipoecogênico; o Em adultos, o aumento da ecogenicidade cortical é um marcador sensível de doença parenquimatosa renal; o Contorno renal: avaliar irregularidade • Cistos renais: o Simples: formados por epitélio com conteúdo líquido hipoecogênico em seu interior. Não precisa de investigação adicional, pois é benigno. o Complexos: presença de septações, calcificações etc. Necessita de avaliação na TC para avaliar necessidade de remoção. • Bexiga • USG com doppler: vasculatura renal o Importante avaliar quando os tamanhos dos rins não estiverem iguais, podendo sugerir estenose renal no lado do rim que está menor. RADIOGRAFIA SIMPLES DE ABDOME Podem ser vistas a silhueta renal e cálculos de oxalato de cálcio; TC E RM TC é PADRÃO-OURO para litíase. Também são utilizadas para avaliar tumores e cistos. Ressonância magnética: UROGRAFIA EXCRETORA Sucessivas imagens pós-contraste; ANGIOGRAFIA Avalia os vasos, bem como presença de estenose. CISTOGRAFIA Avalia a bexiga por meio da uretra. CINTILOGRAFIA Avalia a viabilidade do parênquima renal com uso de Tecnécio. Quando o rim é viável a imagem fica preta. Infarto renal FISIOLOGIA RENAL E PROPEDÊUTICA EM NEFROLOGIA (ATS ll - Nefrologia – 1ª AF) THALLYS NOVAIS – MEDICINA CESMAC BIÓPSIA RENAL • Taxa de complicação: 0,1% • Adequação da biópsia: amostra aceitável – 10 a 15 glomérulos; • Devem ser colhidos 3 fragmentos: o Microscopia óptica o Imunofluorescência o Microscopia eletrônica
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