Prévia do material em texto
Leia estes trechos iniciais da obra para responder às questões 1 a 3. O retirante explica ao leitor quem é e a que vai [...] E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). [...] Cansado da viagem o retirante pensa interrompê-la por uns instantes e procurar trabalho ali onde se encontra Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva; só morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida severina (aquela vida que é menos vivida que defendida, e é ainda mais severina para o homem que retira). MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina — e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. 1 Levando-se em conta o título da obra e a leitura desses trechos, responda: a) Qual a expectativa inicial do Severino retirante? A expectativa era melhorar sua vida. APLICANDO O CONHECIMENTO Você vai ler trechos de Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, que apresenta influência, entre ou- tras, da literatura de cordel. O poema traz a história de Severino, um retirante que sai do sertão a caminho do li- toral em busca de condições de vida dignas. Ele segue o curso do rio Capibaribe, que nasce no interior do estado de Pernambuco e desemboca no litoral do mesmo estado, depois de passar pela capital Recife. No caminho, Severino encontra morte e sofrimento: desde um defunto que foi assassinado a mando de grandes proprietários rurais até vários retirantes mortos. Ao final, a trajetória atinge o ponto de maior tensão: o retirante chega à beira do rio e faz vários questionamentos, em tom desani- mado, a um homem sobre o sentido da vida. Em meio a essa reflexão, a conversa deles é interrompida pelo nascimento do filho do personagem José, mestre carpina, e a vida finalmente aparece na trajetória do retirante. Carpina: carpinteiro. Glossário A seca do Nordeste é bastante representada na literatura brasileira, produzindo três personagens ca- racterísticos: o retirante, o cangaceiro e o beato. O retirante deixa sua terra e parte para a cidade grande em busca de melhores condições de vida. O cangaceiro escolhe viver à margem da lei. O beato busca na religiosidade a cura dos sofrimentos do povo e parte em pregação. AMPLIANDO HORIZONTES Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco. É ric o da S ilv ei ra /P re pa ra çã o D ig it al Érico da Silveira/Preparação Digital Id eá rio L ab /A rq ui vo d a ed ito ra R ED A Ç Ã O » M Ó D U LO 15 192 PH6_EF2_187a195_RED_C2_M15.indd 192 11/7/17 3:51 PM b) Até então o sentimento sobre sua concretização é otimista? Justifique sua resposta. O sentimento é pessimista, porque Severino só se depara com a morte, como fica claro nos versos “só morte tem encontrado / quem pensava encontrar vida”. 2 Considerando que o cordel é um gênero que se preo- cupa com a musicalidade e com a cultura do Nordeste, assim como a influência que essa literatura tem em Morte e vida severina, faça o que se pede. a) O eu lírico expressa identidade com seus conterrâ- neos. Que palavras evidenciam isso? O caráter de enunciação é evidenciado pelo emprego da 1a pessoa (somos, vejo). b) Quais elementos percebemos, na estrutura, que revelam a musicalidade? Justifique sua resposta. As rimas são constantes, como em “ativa / festiva”; “vida / defendida”. Além disso, os versos são ritmados. 3 Em geral, a palavra Severino(a) é empregada como nome próprio para identificar apenas um indivíduo, mas no trecho lido, assim como no título, ela é explorada de maneira mais ampla. a) Partindo da percepção que você tem do Severino retirante, passando pela associação que ele faz com seus conterrâneos (“somos Severinos”), até chegar ao uso da palavra para caracterizar um tipo de vida ou de morte, explique o sentido dessa palavra: o que seria uma pessoa ou uma coisa “severina”? Identificamos, em primeiro lugar, que o Severino que está falando tem uma vida sofrida e marcada pela morte; em segundo, que essa é uma característica das pessoas de sua região, que passam pelos mesmos problemas; finalmente, construímos o conceito de que algo “severino” é aquilo que é difícil, sofrido e típico desse grupo. Érico da Silveira/Preparação Digital b) Por ser um poema narrativo, qual sua opinião sobre o uso desse termo como um recurso criativo? Espera-se que os alunos percebam que o emprego do termo Severino como uma palavra comum (e não própria) e como um qualificador ganha expressividade porque poemas trabalham com uma linguagem criativa, diferentemente do uso cotidiano da linguagem. Leia este trecho para responder às questões 4 a 7. Dirige-se à mulher na janela que depois descobre tratar-se de quem se saberá [...] — Pois fui sempre lavrador, lavrador de terra má; não há espécie de terra que eu não possa cultivar. — Isso aqui de nada adianta, pouco existe o que lavrar; mas diga-me, retirante, o que mais fazia por lá? [...] — Deseja mesmo saber o que eu fazia por lá? comer quando havia o quê e, havendo ou não, trabalhar. — Essa vida por aqui é coisa familiar; mas diga-me, retirante, sabe benditos rezar? sabe cantar excelências, defuntos encomendar? sabe tirar ladainhas, sabe mortos enterrar? [...] — Como aqui a morte é tanta, só é possível trabalhar nessas profissões que fazem da morte ofício ou bazar. MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina — e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. Rezar benditos: fazer orações para a boa sorte de um morto. Cantar excelências: orações improvisadas em que se exaltam as qualidades de um morto. Glossário 193 R ED A Ç Ã O » M Ó D U LO 15 PH6_EF2_187a195_RED_C2_M15.indd 193 11/7/17 3:51 PM 4 Nesse outro trecho, percebemos um aspecto da litera- tura de cordel que também se apresenta em Morte e vida severina: o aspecto narrativo. Cite duas caracterís- ticas narrativas que estão presentes nesse fragmento do poema de João Cabral. O eu lírico mostra-se, na realidade, um narrador-personagem conversando com outra personagem — a mulher da janela. Nota-se também a presença de discurso direto, isto é, diálogos. 5 Com base na palavra retirante e no diálogo entre Severino e a mulher da janela, faça o que se pede: a) Essa palavra tem semelhança com qual outra do português? Qual o seu significado? Retirante assemelha-se ao verbo retirar-se; no texto, retirante significa justamente aquele que se retira de sua terra natal em busca de melhores condições, geralmente fugido da seca, da violência, da fome ou da miséria. b) No trecho, um par de palavras opostas, relacionadas a lugar, ajuda na interpretação do vocábulo retirante. Qual é esse par? Explique. A oposição entre aqui e l‡ mostra que o lugar onde a mulher morava e onde Severino e ela estavam não era o local de origem/ pertencimento deste. 6 Aplicando o estudo que você fez de Morte e vida se- verina e o conceito de retirante, interprete o que seria “um lavrador de terra má”. Ele seria o trabalhador rural que ara a terra, planta e colhe dela para sobreviver. Essa terra, porém, não é fértil, mas é agreste e concentrada nas mãos de poucos. 7 Com base na resposta à questão anterior e nos seus conhecimentos de geografia do Brasil, responda: a) Que região do Brasil Severino o retirante representa? Severino representa o Nordeste. b) Qual a crítica social que Morte e vida severina — poema narrativo com grande influência da literatura de cordel — faz sobre essa região? A crítica ao sofrimento advindo da seca e do abandono político, a fome,a miséria e a baixa expectativa de vida. 8 Leia o trecho a seguir: — Seu José, mestre carpina, que diferença faria se em vez de continuar tomasse a melhor saída: a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida? [...] — Severino, retirante, deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida; nem conheço essa resposta, se quer mesmo que lhe diga é difícil defender, só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta que vê, Severina, mas se responder não pude à pergunta que fazia, ela, a vida, a respondeu com sua presença viva. MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina Ñ e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. Érico da Silveira/Preparação Digital R ED A Ç Ã O M Ó D U LO 15 194 PH6_EF2_187a195_RED_C2_M15.indd 194 11/7/17 3:51 PM Severino não encontrou o que esperava no litoral. Po- rém, por que podemos dizer que o final da história é otimista para o retirante e todos os demais “Severinos” que ele representa? O desfecho é otimista porque, apesar de ser difícil defender com palavras e argumentos a condição de todos os “Severinos”, o nascimento de uma criança representa a oportunidade de começar de novo, provocando a expectativa de um futuro melhor para todos. »VILELA, Fernando. Lampião & Lancelote. São Paulo: Cosac Naify, 2006. Nesse livro, escrito e ilustrado pelo premiado artista plástico Fernando Vilela, você vai ler, em forma de repente, um duelo entre Lampião e o lendário cavaleiro medieval Lancelote. R e p ro d u ç ã o /E d it o ra Z a h a r R e p ro d u ç ã o a u to ri za d a p o r Jo ã o C a n d id o P o rt in a ri /I m a g e m d o a c e rv o d o P ro je to P o rt in a ri DESENVOLVENDO HABILIDADES 1 A morte ocorre após a vida, por isso a ordem dos elemen- tos no título Morte e vida severina chama a atenção. A escolha por esse título, nessa ordem, só não se deve à: a) intenção de mostrar que o pessimismo tem mais destaque na vida “severina”. b) característica criativa e poética da obra, pois valoriza o inesperado. c) apresentação de um título que resume as duas partes do enredo: primeiro a presença da morte e depois a da vida. d) necessidade de um título bem à mostra, pois assim que lemos o qualificador severina entendemos o conteúdo abordado na história. 2 Nós estudamos que o cordel é um texto popular. A única característica presente em Morte e vida severina que não justifica esse caráter popular é: a) Os erros gramaticais na construção do texto. b) A representação do dinamismo da linguagem, com uso de discurso direto. c) A temática que retrata o dia a dia de um homem comum. d) A estrutura poética com ritmo e rimas simples. 3 Com base na leitura dos fragmentos de Morte e vida severina, responda: caso um cordelista, na função de repentista, resolvesse declamar/cantar essa história, onde ele deveria parar e dizer “e quem quiser saber toda a história que compre o cordel”? a) Quando Severino se apresenta. b) Quando ele conversa com a mulher da janela sobre profissão. c) Quando ele quer achar respostas de José, mestre carpina, sobre o valor da vida. d) Quando ele vê um defunto. 4 Veja esta imagem. Os retirantes, de Candido Portinari, 1944 ( frottage de 192 cm × 181 cm). Em MASP, São Paulo, 1962. O quadro de Candido Portinari poderia ilustrar Morte e vida severina porque ambos retratam os retirantes de forma: a) fictícia e feliz. b) verdadeira e otimista. c) inventada e negativa. d) expressiva e crítica. 195 R ED A Ç Ã O » M Ó D U LO 15 PH6_EF2_187a195_RED_C2_M15.indd 195 11/7/17 3:51 PM