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AFP I - CARDIOPATIAS CONGÊNITAS - Pág 629 - 649 Bogliolo / 386 - 391 Robbins - São anomalias do coração ou dos grandes vasos que estão presentes ao nascimento - São responsáveis por 20-30% de todos os defeitos congênitos - A cardiopatia congênita afeta 6-8 de cada 1.000 bebês nascidos vivos, e a incidência é maior em bebês prematuros e em natimortos - Doze distúrbios são responsáveis por 85% dos casos de cardiopatia congênita (ver tabela) ● Patogenia - A cardiopatia congênita origina-se de um defeito na embriogênese entre a terceira e a oitava semana de gestação, quando ocorre o desenvolvimento das principais estruturas cardiovasculares; em quase 90% dos casos, a causa é desconhecida. - Causa ambientais: rubéola congênita, agentes teratogênicos e diabetes materno - Fatores genéticos são os mais bem caracterizados. Outros fatores: síndrome de Noonan, metilação do DNA e até estresses ambientais transitórios em momentos críticos nos primeiros estágios da gravidez ● Características clínicas Podem ser reunidas em três grupos principais com base em suas consequências hemodinâmicas e clínicas: - (1) malformações que causam shunt da esquerda para a direita; - (2) malformações que causam shunt da direita para a esquerda (cardiopatias congênitas cianóticas); - (3) malformações que causam obstrução. Shunt: é uma comunicação anormal entre câmaras ou vasos sanguíneos. - shunt da direita para a esquerda: causa cianose porque a circulação pulmonar sofre um desvio, e sangue pouco oxigenado entra na circulação sistêmica. - shunt da esquerda para a direita: aumentam o fluxo sanguíneo pulmonar e não estão associados (pelo menos no início) à cianose. Expõem a circulação pulmonar, de baixa pressão e baixa resistência, a pressões e volumes elevados; essas condições levam a mudanças adaptativas que aumentam a resistência vascular pulmonar para proteger o leito pulmonar, o que causa hipertrofia do ventrículo direito e, por fim, insuficiência. Com o tempo, a resistência pulmonar aumentada também pode provocar a inversão do shunt (da direita para a esquerda) e, consequentemente, cianose de início tardio. OBS.1: a malformação que se caracteriza pela obstrução completa é denominada atresia. OBS.2: Em alguns distúrbios (p. ex., na tetralogia de Fallot), uma obstrução (estenose pulmonar) pode estar associada a um shunt (da direita para a esquerda, através de um Defeito do Septo Ventricular). Redução da massa muscular do coração: hipoplasia quando ocorre antes do nascimento e atrofia quando se desenvolve após o nascimento. → Shunts da Esquerda para a Direita - tipo mais comum de malformação cardíaca congênita - compreendem os defeitos do septo atrial (DSAs), os defeitos do septo ventricular (DSVs) e o ducto arterial patente (DAP) - .Os DSAs normalmente aumentam apenas o volume do ventrículo direito e o volume do fluxo de saída pulmonar - Os DSVs e os DAPs aumentam o fluxo sanguíneo e a pressão pulmonar. - Um shunt de longa duração da esquerda para a direita com sobrecarga de volume e pressão com o tempo provoca hipertensão pulmonar e elevação das pressões do lado direito do coração, que chegam a exceder as pressões do lado esquerdo; nesse momento, ocorre a inversão do fluxo sanguíneo, que é acompanhada de um shunt da direita para a esquerda e do surgimento de cianose → Essa inversão do fluxo com passagem de sangue não oxigenado para a circulação sistêmica é denominada síndrome de Eisenmenger (embasa a intervenção cirúrgica (ou mesmo não cirúrgica) precoce). OBS.: Quando o paciente desenvolve hipertensão pulmonar significativa, os defeitos estruturais da cardiopatia congênita são considerados irreversíveis. → Defeitos do Septo Atrial e Forame Oval Patente - Forame oval patente: cerca de 20% apresentam forame oval patente; embora o septo tenha o tamanho adequado para cobrir o forame, os septos não fundidos podem potencialmente permitir um fluxo sanguíneo transitório da direita para a esquerda. - Ao contrário do forame oval patente, o DSA é uma abertura anormal fixa no septo atrial que permite a passagem livre de sangue entre as câmaras atriais. A maioria dos DSAs (90%) corresponde a defeitos do tipo ostium secundum, nos quais o crescimento do septo secundum é insuficiente para ocluir o ostium secundum. - Morfologia: - DSAs do tipo ostium secundum (90% dos casos de DSA), causam dilatação do átrio e ventrículo direitos, hipertrofia do ventrículo direito e dilatação da artéria pulmonar — alterações que refletem os efeitos da sobrecarga crônica de volume. - DSAs do tipo ostium primum (responsáveis por 5% dos DSAs), parte inferior r do septo atrial e podem estar associados a anomalias nas valvas atrioventriculares esquerda (mitral) e direita (tricúspide). - DSAs do tipo sinus venosus (responsáveis pelos 5% restantes dos DSAs) estão localizados no alto do septo atrial e, com frequência, estão associados à drenagem anômala das veias pulmonares no átrio direito ou na veia cava superior. - Características clínicas: - A maioria dos DSAs permanece assintomática até a idade adulta. - Em geral, esses defeitos são bem tolerados, sobretudo se tiverem menos de 1 cm de diâmetro; mesmo as lesões maiores geralmente não produzem sintomas durante a infância. - O fechamento cirúrgico ou intravascular dos DSAs é realizado para reverter as alterações hemodinâmicas e impedir o desenvolvimento de insuficiência cardíaca, embolia paradoxal e doença vascular pulmonar irreversível. A mortalidade é baixa, e a sobrevida pós-operatória é comparável à da população normal. → Defeitos do Septo Ventricular - constituem a anomalia cardíaca congênita mais comum ao nascimento, contudo, a maioria se fecha espontaneamente durante a infância, de modo que a incidência total nos adultos é menor que a incidência dos DSAs - . A região basal (membranosa) é a última parte do septo a se desenvolver, e 90% dos DSVs estão localizados nesse local. - Apenas 20-30% dos DSVs ocorrem isoladamente; a maioria está associada a outras malformações cardíacas. - Morfologia: - O tamanho e a localização dos DSVs variam - Nos defeitos associados a um shunt significativo da esquerda para a direita, o ventrículo direito está hipertrofiado e muitas vezes dilatado. - O diâmetro da artéria pulmonar está aumentado por causa do volume maior ejetado pelo ventrículo direito - Alterações vasculares típicas da hipertensão pulmonar - Características clínicas: - Os DSVs pequenos podem ser assintomáticos, e cerca de metade dos defeitos localizados na porção muscular do septo fecha-se de modo espontâneo no primeiro ano de vida ou durante a infância. - Os defeitos grandes provocam shunt da esquerda para a direita crônica grave, com frequência complicado por hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca congestiva. - A correção cirúrgica precoce está indicada para os pacientes com essas lesões. → Ducto Arterial Patente - O ducto arterial origina-se da artéria pulmonar esquerda e une-se à aorta em posição imediatamente distal à origem da artéria subclávia esquerda. - Nos bebês a termo saudáveis, o ducto estreita-se logo após o nascimento e torna-se funcionalmente fechado depois de 1-2 dias. A obliteração completa ocorre nos primeiros meses de vida, restando apenas um cordão de tecido fibroso conhecido como ligamento arterial (ligamentum arteriosum). - .Os DAPs são responsáveis por cerca de 7% das lesões cardíacas congênitas, e a grande maioria desses defeitos (90%) tem ocorrência isolada. - Características clínicas: - Os DAPs correspondem a shunts da esquerda para a direita, de alta pressão, que produzem sopros ásperos - Os defeitos maiores com o tempo podem levar à síndrome de Eisenmenger, com cianose e insuficiência cardíaca congestiva. - O shunt de alta pressão também predispõe os pacientes afetados à endocardite infecciosa. - A preservação da patência do ducto (pela administração de prostaglandina E) pode salvar vidas quando o DAP é o único meio para manter o fluxo sanguíneo pulmonar ou sistêmico (p. ex., nos bebês com atresia da valva da aorta ou da valva do troncopulmonar). → Shunts da Direita para a Esquerda - Duas das condições mais importantes associadas à cardiopatia congênita cianótica são a tetralogia de Fallot e a transposição dos grandes vasos. - As consequências clínicas da cianose sistêmica grave são o baqueteamento da ponta dos dedos das mãos e dos pés (osteoartropatia hipertrófica), a policitemia e a embolia paradoxal. → Tetralogia de Fallot - É a causa mais comum de cardiopatia congênita cianótica e é responsável por cerca de 5% de todas as malformações cardíacas congênitas - .As quatro características cardinais são: (1) DSV (geralmente é grande e está próximo da porção membranosa do septo interventricular); (2) obstrução da via de saída do ventrículo direito (estenose subpulmonar); (3) cavalgamento do DSV pela aorta (a valva da aorta está logo acima do DSV, aorta sobreposta, e é a principal saída do fluxo sanguíneo proveniente dos dois ventrículos); (4) hipertrofia do ventrículo direito (que pode exceder a espessura do ventrículo esquerdo) - Características clínicas: - Consequências hemodinâmicas: shunt da direita para a esquerda, diminuição do fluxo sanguíneo pulmonar e aumento dos volumes aórticos. - A gravidade clínica depende em grande parte do grau da obstrução do fluxo de saída pulmonar. Em geral, graus maiores de estenose pulmonar causam cianose precoce. - Os pacientes desenvolvem as sequelas típicas da cardiopatia cianótica, entre elas a policitemia (por causa da hipóxia), acompanhada de hiperviscosidade, e a osteoartropatia hipertrófica; o shunt da direita para a esquerda também aumenta o risco de endocardite infecciosa e de embolia sistêmica. - A correção cirúrgica completa é possível na tetralogia de Fallot clássica, mas é mais complicada nos casos em que há atresia pulmonar. → Transposição das Grandes Artérias - é a comunicação anormal (discordante) dos ventrículos com suas vias de saída vasculares. - O defeito embriológico consiste na formação anormal dos septos troncal e aortopulmonar, de modo que a aorta se origina do ventrículo direito e a artéria pulmonar deriva do ventrículo esquerdo - O resultado funcional é a separação das circulações sistêmica e pulmonar, uma condição incompatível com a vida pós-natal, a menos que haja um shunt, como um DSV, que permita a mistura adequada do sangue e o envio de sangue oxigenado para a aorta. De fato, os DSVs ocorrem em um terço dos casos e correspondem a shunts estáveis. - O ventrículo direito exibe hipertrofia acentuada, já que essa câmara atua como ventrículo sistêmico; o ventrículo esquerdo é atrófico, uma vez que bombeia apenas para a circulação pulmonar, de baixa resistência. - Características clínicas - A principal manifestação é a cianose, e o prognóstico depende da magnitude do shunt, do grau de hipóxia tecidual e da capacidade do ventrículo direito de manter as pressões sistêmicas. - Sem cirurgia (mesmo com shunt estável), a maioria dos pacientes com transposição das grandes artérias não corrigida morre nos primeiros meses de vida. Com cirurgia e correção adequada esses pacientes sobrevivem com frequência até a vida adulta. → Lesões Obstrutivas - A obstrução congênita do fluxo sanguíneo pode ocorrer ao nível das valvas cardíacas ou mais distalmente dentro de um grande vaso. - A obstrução também pode ocorrer próximo de uma valva, como a estenose subpulmonar da tetralogia de Fallot. - Exemplos comuns de obstrução congênita incluem a estenose da valva do tronco pulmonar, a estenose ou atresia da valva da aorta e a coarctação da aorta. → Coarctação da Aorta - A coarctação (estreitamento, constrição) da aorta é uma forma comum de cardiopatia congênita obstrutiva - duas vezes mais comum entre os indivíduos do sexo masculino, porém as mulheres com síndrome de Turner apresentam com frequência coarctação - Há duas formas clássicas: 1. Uma forma “infantil” que se caracteriza por hipoplasia do arco da aorta próximo a um DAP 2. Uma forma “adulta” que consiste em uma pequena prega da aorta que se assemelha a uma crista em posição adjacente ao ligamento arterial. - Pode ocorrer como defeito solitário, mas, em mais da metade dos casos, a anomalia é acompanhada de valva da aorta bicúspide. Pode haver também estenose da valva da aorta, DSA, DSV ou regurgitação mitral. - Morfologia: 1. Forma infantil - É caracterizada pelo estreitamento de toda a circunferência de um segmento da aorta situado entre a artéria subclávia esquerda e o ducto arterial; - O ducto normalmente está patente e é a principal fonte do sangue (não oxigenado) que segue para a aorta distal. - O tronco pulmonar está dilatado para acomodar o fluxo sanguíneo aumentado; - Como o lado direito do coração agora irriga o corpo em posição distal ao segmento estreitado, o ventrículo direito geralmente está hipertrofiado. 2. Forma adulta - É mais comum, a aorta está muito estreitada por uma crista de tecido localizada ao lado do ligamento arterial não patente - Proximal à coarctação, o arco da aorta e seus ramos vasculares estão dilatados e o ventrículo esquerdo está hipertrofiado. - Características clínicas - As manifestações clínicas dependem quase inteiramente da gravidade do estreitamento e da patência do ducto arterial. 1. A coarctação pré-ductal com DAP se manifesta cedo na vida, e os casos clássicos exibem cianose na metade inferior do corpo; sem intervenção, a maioria dos bebês afetados não sobrevive ao período neonatal. 2. A coarctação pós-ductal sem DAP é assintomática, e pode permanecer oculta até a vida adulta. Classicamente, há hipertensão nas extremidades superiores, e os membros inferiores exibem pulso fraco e hipotensão relativa, associada a sintomas de claudicação e hipotermia. Com frequência, surge “ao redor” da coarctação uma circulação colateral exuberante formada pelas artérias torácica interna (artéria mamária interna) e intercostais, que estão muito aumentadas; a expansão do fluxo através desses vasos pode causar a erosão das costelas, um sinal visível nas radiografias. - Na maioria dos casos, as coarctações importantes estão associadas a sopros sistólicos e, às vezes, a frêmitos palpáveis. - A dilatação por balão ou a ressecção cirúrgica com anastomose terminoterminal (ou a substituição do segmento aórtico afetado por enxerto protético) produzem excelentes resultados.
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