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Teoria Crítica (Teorias da Comunicação)

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Teoria Crítica
Julia Alló
Universidade Autónoma de Lisboa
Teorias da Comunicação
Professora Doutora Isabel Silva
03 de Junho de 2021
A filosofia, desde a antiguidade, sempre teve um capítulo de crítica. Todo filósofo se
dedica, de alguma maneira, a criticar a própria filosofia, ou a própria realidade na qual ele
vive. E, evidentemente, isso vai se tornando cada vez mais intenso, quanto mais as condições
históricas vão se tornando ofensivas.
Herbert Marcuse pertence a um grupo, que, a partir dos anos 20, exerceu com grande
intensidade essa crítica, fazendo disso, quase que o único tema da filosofia. Não é à toa,
portanto, que sua teoria se chama Teoria Crítica. Ou seja, uma teoria que tenta estudar aquilo
que há de negativo no ser humano. Mostrando, então, que a humanidade é constituída de
contradições. Não há nada mais proveitoso e útil do que a ciência, mas as armas, as guerras, a
morte, a destruição, também provém da ciência. Logo, tudo é ambíguo; tudo é contraditório.
E, portanto, tudo tem que ser criticado. A teoria crítica é uma proposta de oposição direta à
teoria da tradição racionalista.
A razão fornece apenas a ideia da unidade sistemática, os elementos formais de uma
sólida conexão conceptual. Todo objectivo a que se refiram os homens como um
discernimento da razão é, no sentido rigoroso do esclarecimento, desvario, mentira,
“racionalização”, mesmo que os filósofos dediquem seus melhores esforços para evitar essa
consequência e desviar a atenção para o sentimento filantrópico. (Dialética do
Esclarecimento, 1944)
E, na sociedade, as pessoas também vivem essa contradição. O surgimento do
nazismo, que afetou de perto o crescimento da Escola de Frankfurt, tem uma origem. A
Teoria Crítica iria perguntar se foi um acidente histórico ou se é uma coisa ocasional; ou algo
que está, permanentemente, no ser humano com uma disposição, um potencial que, em
determinadas ocasiões, vem à tona, o que significa que pode se repetir.
Nesse cenário, o grupo de intelectuais teve que fugir da Alemanha, visto que a maioria
era judeu. Foram para a França e depois para os Estados Unidos. Na época, para quem
provinha do nazismo, os Estados Unidos eram a salvação. No entanto, Marcuse pôde
observar, com muita acuidade, que a sociedade americana também é muito contraditória. Ou
seja, a felicidade material, a prosperidade, a democracia, tudo isso envolve, também, algumas
contradições e aquilo que o indivíduo precisa reprimir para poder viver de acordo com essas
regras.
Logo, Marcuse passou a estudar, também, a sociedade americana e pôde ver, por trás
daquela aparência de liberdade, cidadania, que são características do sistema, a parte
repressiva, a parte negativa do sistema. Para isso, ele usou tanto a filosofia quanto a
psicanálise. E chegou à conclusão de que mesmo em sociedades estáveis, como é, por
exemplo, a americana, existe repressão, contradição e uma irrealização do indivíduo.
Dessa forma, os cientistas da Escola de Frankfurt foram pensadores muito radicais,
porém, Marcuse foi mais além. Não se limitou a criticar somente a negatividade aparente e
visível, ele passou a criticar aquela introjeção da repressão que, muitas vezes, em uma
democracia, é preciso, para que o indivíduo e a sociedade vivam segundo regras, que eles
aceitam, mas não deixam de ser fatores que tolhem a subjetividade e a felicidade dos
indivíduos.
O filósofo nos passou a informação de que, após os anos 20, novas tecnologias de
comunicação surgem, justamente, para fazer frente ao desafio de mediar os novos estágios de
relações sociais e de cooperação produtiva. As pessoas passam a dispor de mais
conhecimento sobre o mundo, veiculados na forma de informações pela atividade jornalística.
No entanto, o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação, ao invés de promover
a reflexão emancipatória do indivíduo, acabou por promover a padronização de consciências.
Dessa forma, a população se viu passiva em meio às novas tecnologias, incapazes,
portanto, de confrontar os novos valores da vida moderna.
A década de 2000, mais precisamente, é marcada pelo processo de midiatização que
ocorre até os dias de hoje. É um conceito novo na Língua Portuguesa e está relacionado a
colocar tudo nas mídias; desde acontecimentos grandes até curiosidades não curiosas; desde
acontecimentos verdadeiros até Fake News – outro termo recente da Língua Portuguesa. Com
essa midiatização, informações de todos os tipos são “jogadas” na mídia o tempo todo,
livremente, o que impede a filtração das mesmas, como antigamente.
Hoje temos muitos dados e informações no mundo, porém, eles, por si só, são apenas
mais dados. Jogados na mídia, são apenas informações, relatos, quase um desabafo em redes
sociais. Essa indignação seletiva, isto é, essa exposição de informações, só pode ser quebrada
com um papel de cidadão, o qual avalia esses dados como “ser” e “estar” no mundo, fazendo,
assim, conteúdos de consciência. Dessa forma, o homem torna-se culto.
Ser culto não está no sentido comum da palavra, que é se destacar daquilo que é
popular; ter idiomas, poesias e trechos clássicos em mente – isso qualquer boa memória é
capaz de fazer. Ser culto não está na norma culta escrita ou falada – língua é diferente de
inteligência. Ser culto é ter consciência crítica, ou seja, acabar com essa indignação seletiva –
ou farisaica. Não é estereotipar e jogar dados em textos que causam indignação momentânea
que cessa junto à trama. Cultura é relacionar o passado com o que está acontecendo agora; é
um processo ativo que exige esforço para impedir a “carnavalização” na comunicação.
Essa carnavalização ocorre quando um sujeito se coloca no lugar de outro, um lugar
que ele não estaria – assumindo esse lugar que não é dele. Quando essa alteridade chega ao
fim, todos voltam para seus lugares de origem, voltando para sua própria realidade.
Assim como o carnaval: os quatro dias são passados com fantasias, vivendo uma
realidade diferente da habitual e quando acaba tudo volta ao normal.
Essa inversão paródica que acontece no carnaval também ocorre na comunicação
contemporânea, e está relacionada à incultura, que é o fato de jogar um ser mítico, em um
lugar mítico em um tempo que não existe. Ligando apenas para suas próprias vontades e
desejos, e quando realizam, sentem-se satisfeitos e saciados. Uma relação de “eu e eu
mesmo” que difere da cultura, baseada em uma relação de “eu e outro”.
A cultura exige um esforço que a incultura não possui. Exige complexidade para gerar
conteúdos de consciência. Um exemplo disso é a arte. Baseada em princípios de conexão e
juntura, a arte possui discursos que conscientizam, pois mostram que o outro também existe.
Não obstante, além da importância do outro, existe a importância de si mesmo: o essencial.
Ou seja, sempre ser quem realmente é, ter percepção de si mesmo.
Nesse cenário, língua, cultura e comunicação se relacionam nas entrelinhas de
sociedades especulares e espetaculares. A língua é um código que vale para que todos os
indivíduos se comuniquem. A comunicação em si possui duas vertentes: a de tornar comum e
a de deixar agir o comum, o que difere o homem culto do inculto. Aquele que possui
embasamentos críticos torna-se culto. Olhando, além do outro, para si próprio.
Referências
Horkheimer M e Adorno T. (1944). Dialética do esclarecimento. p.40.

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