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CENTRO UNIVERSITÁRIO CENTRAL PAULISTA – UNICEP CURSO DE DIREITO ANGELA CRISTINA VERGILIO PICA COMPLIANCE E O DIREITO: PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS SÃO CARLOS 2020 ANGELA CRISTINA VERGILIO PICA COMPLIANCE E O DIREITO: PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS Monografia apresentada ao Curso de Direito do Centro Universitário Central Paulista - UNICEP, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Econômico Orientadora: Profa. Ma. Karina Granado SÃO CARLOS – SP 2020 TERMO DE APROVAÇÃO ANGELA CRISTINA VERGILIO PICA COMPLIANCE E O DIREITO: PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS Monografia apresentada ao Curso de Direito do Centro Universitário Central Paulista - UNICEP, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Econômico Orientadora: Profa. Ma. Karina Granado Data de aprovação: ___ / ___ / ______. Banca Examinadora: Prof.: ____________________________ Instituição: ___________________ Julgamento: _______________________ Assinatura: ___________________ Prof.: ____________________________ Instituição: ___________________ Julgamento: _______________________ Assinatura: ___________________ Prof.: ____________________________ Instituição: ___________________ Julgamento: _______________________ Assinatura: ___________________ AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por todas as coisas positivas que aconteceram, inclusive por ter chegado até o final da graduação de Direito e por ter concluído o trabalho de conclusão de curso. Agradeço a minha orientadora Profa. Ma. Karina Granado, pela competência em suas orientações acerca da realização da pesquisa, inclusive a dedicação mesmo com o seu tempo escasso. Quero agradecer a todos os meus professores da UNICEP, pela qualidade de ensino e dedicação. Aos meus pais, por toda dedicação e paciência, que sempre estiveram ao meu lado contribuindo para que eu pudesse ter um final prazeroso de toda essa etapa do curso que me permitiram que concluísse o ciclo de cinco anos de faculdade de maneira satisfatória, diante dos inúmeros obstáculos que enfrentei. Aquele que segue a justiça e a bondade achará a vida, a justiça e a honra. Provérbios 21:21 RESUMO O presente trabalho está vinculado às pesquisas acerca das mudanças atuais das profissões no âmbito jurídico. O tema abordado é compliance e direito. O compliance atualmente, temas relacionados à ética e à moral ganharam grande relevância nos últimos anos, devido aos casos de corrupção internacional e nacional que vieram a público. O compliance surge nesse contexto, tendo como papel principal mitigar riscos empresariais, assim como garantir condutas de conformidade de acordo com as normas jurídicas, regulamentos internos e externos, visando o comportamento ético. O compliance no ordenamento jurídico está atrelado em estar em conformidade com a legislação e regulamento interno e externo, seu objetivo é agir de acordo com uma conduta ética e moral, estar e ser compliance é estar de acordo com a Lei e demonstrar uma conduta ética frente a legislação vigente. Sendo assim, o objetivo principal da pesquisa é analisar e demonstrar a importância do compliance na atuação preventiva do advogado, que tem um papel importante para a realização dos mecanismos do programa de compliance. Cumpre demostrar que um profissional capacitado da área jurídica precisa também de vários conhecimentos de em outras áreas. O compliance abrange várias áreas jurídicas que tem por objetivo a busca da ética e de procedimentos adequados de acordo com a legislação, para que evitem demandas judicias pertinentes e para que seja um caminho a percorrer livre de problemas judiciais, gerando assim segurança jurídica da empresa e para o seu desenvolvimento. A metodologia utilizada para a abordagem do tema foi pesquisa bibliográfica para poder chegar ao objetivo principal do trabalho. Como resultado, pode-se concluir que o direito e o compliance em suas perspectivas profissionais do advogado atuando preventivamente é capaz de evitar problemas judiciais, danos irreversíveis e evitar que sejam descumpridas as leis e normas jurídicas, buscando assim, uma boa imagem e reputação frente ao mercado, alinhando-se com um programa de integridade eficiente e integro. Palavras-chaves: compliance; governança corporativa; corrupção; controles Internos; gestão de risco. ABSTRACT The present work is linked to research about the current changes in the professions in the legal field. The topic addressed is compliance and law. Compliance today, issues related to ethics and morals have gained great loss in recent years, due to the cases of international and national corruption that it compared to a public. Increasing compliance in this context, with the main role of mitigating business risks, as well as ensuring compliance conducts in accordance with legal, internal and external standards, is classic ethical behavior. Compliance in the legal system is linked to being in compliance with internal and external laws and regulations, its objective is to act in accordance with ethical and moral conduct, to be and be compliance is to be in accordance with the Law and demonstrate ethical conduct in front of current legislation. Therefore, the main objective of the research is to analyze and demonstrate the importance of compliance in the preventive performance of the lawyer, who has an important role in the implementation of compliance mechanisms. It must be demonstrated that a trained professional in the legal area also needs various knowledge from other areas. Compliance encompasses several legal areas that aim to seek ethics and appropriate procedures in accordance with the law, to avoid relevant legal demands and to be a way to go free from legal problems, thus generating legal security for the company and for your development. The methodology used to approach the topic for bibliographic research in order to arrive at the main objective of the work. As a result, it can be observed that the law and compliance in their professional perspectives of the lawyer acting preventively is able to avoid legal problems, irreversible damages and prevent them from being breached as laws and legal norms, thus seeking a good image and professionalization in the face of to the market, in line with an integrity and integrity program. Keywords: compliance; corporate governance; corruption; Internal Controls; Risk Management. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGAS . ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BIS - Bank of International Settlements CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica CEO - Chief Executive Officer CGU - Controladoria Geral da União COAF - Conselho de Controle de Atividades Financeiras CVM - Comissão de Valores Mobiliários DOJ - United States Department of Justice ECA - Economic Crime Agency EUA - Estados Unidos da América EUA - Estados Unidos da América FCPA - Foreign Corrupt Practices Act FGV - Fundação Getúlio Vargas FMI - Fundo Monetário Internacional IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa IGC - Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada ISO - International Organization for Standardization LAC - Lei AnticorrupçãoLEC - Legal Ethics Compliance OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OEA - Organização dos Estados Americanos OEA - Organização dos Estados Americanos OICV (IOSCO) - Organização Internacional das Comissões de Valores ISE - Índice de Sustentabilidade Empresarial OMC - Organização Mundial do Comércio ONU - Organização das Nações Unidas RU - Reino Unido SEC - Securities Exchange Comission SFO - Serius Fraud Office SOX - Lei Sarbanes-Oxley UKBA - United Kingdom Bribery Act SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 11 2 COMPLIANCE: HISTÓRIA, CONCEITOS E LEGISLAÇÃO .............................. 13 2.1 BREVE HISTÓRICO QUANTO À ORIGEM DO COMPLIANCE................... 15 2.2 PRINCIPAIS FONTES DE REGULAMENTAÇÃO – ACORDOS INTERNACIONAIS ............................................................................................. 19 2.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ANTICORRUPÇÃO: LEI 12.846/2013 ............ 23 2.4 LEGISLAÇÃO AMERICANA FCPA FOREIGN CORRUPT PRACTICES ACT………….. .................................................................................................... 29 2.5 LEGISLAÇÃ BRITÂNICA UNITED KINGDOM BRIBERY ACT .................... 31 3 COMPLIANCE E O DIREITO: CAMPO PROFISSIONAL .................................. 37 3.1 O PROFISSIONAL DO COMPLIANCE ........................................................ 40 3.2 A PERSPECTIVA DO COMPLIANCE NO DIREITO .................................... 42 3.3 A ATUAÇÃO DO COMPLIANCE NO JURÍDICO .......................................... 44 3.4 UM MERCADO PARA ADVOGADOS .......................................................... 47 3.5 O ADVOGADO COMO COMPLIANCE OFFICER ........................................ 49 4 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 53 5 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 56 11 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho visa apresentar o instituto do compliance, que atualmente é uma nova área no campo do Direito que ganhou grande relevância em empresas multinacionais e nacionais. Será abordado a origem histórica com base nas doutrinas, legislações nacionais e internacionais provenientes do instituto do compliance. Seu marco histórico se deu em países estrangeiros. Nos Estados Unidos da América o compliance vem cumprindo um papel muito importante na história da legislação de combate à corrupção, tendo desencadeado a lei Foreign Corrupt Practices Acts, conhecida mundialmente como FCPA, responsável pela criminalização das práticas de corrupção e subornos de jurisdição estrangeira. Mais tarde, o Reino Unido promulgou a United Kingdon Bribery Act, moderna legislação anticorrupção que propôs punições mais severas que a FCPA americana. (PUNDER, 2019, n.p) No Brasil, o compliance se materializa pela Lei Anticorrupção 12.846/2013 (BRASIL, 2013), reforçando a legislação brasileira contra a corrupção que surgiu em decorrência de diversos escândalos, em especial a “Operação Lava Jato”, que envolveu a petrolífera brasileira PETROBRAS, a Odebrecht, os carteis de lavagem de dinheiro e além das empresas que tiveram seu nome na maior operação de corrupção do Brasil. Atualmente é discutido e cobrado um cumprimento mais rígido da legislação anticorrupção, para que sejam criminalizadas as condutas ilícitas e impostas sanções de natureza civil e administrativa, trazendo para a legislação o compliance. Diversas empresas públicas e privadas, após a legislação anticorrupção, tiveram a necessidade de desenvolver uma política de compliance, para que pudesse evitar casos de violação da Lei e pudesse ter uma boa reputação frente ao mercado, o compliance envolve diversas áreas no âmbito jurídico e com isso aumenta as oportunidades de atuação para o profissional da advocacia. A abordagem inicial dessa pesquisa demonstrou os diferentes marcos históricos das políticas de compliance no mundo e aquelas desenvolvidas no Brasil, para chegar ao objetivo principal que é demonstrar o fenômeno do compliance articulado à atuação jurídica do advogado como ferramenta eficaz do Direito na 12 minimização e mitigação de riscos, nas quais as leis que contribuíram para a criminalização das condutas ilícitas no âmbito nacional e internacional estão demonstrando a relevância do compliance no campo do Direito, como ferramenta eficaz na prevenção de possíveis fraudes, práticas corruptoras e atos ilícitos. Desta forma, a atuação jurídica com os princípios do compliance pretende mostra-se fundamental para identificar práticas ilícitas dentro de empresas e, assim, evitar ou diminuir os seus riscos. Para melhor compreensão do compliance e seu paralelismo com a atuação jurídica na advocacia, ao longo do trabalho vamos analisar a competência e a importância entre o compliance e o profissional do direito, como um novo mercado de atuação que está crescendo no Brasil. Assim, o compliance jurídico pretende garantir que a leis efetivamente sejam cumpridas, assegurar as práticas do dia a dia dentro de uma empresa de acordo com os seus estatutos internos e com a legislação vigente que rege as atividades. Portanto, o compliance objetiva garantir a obediência às leis e às regras internas e externas por parte da empresa e de seus colaboradores. O compliance jurídico, busca garantir de forma ética o cumprimento claro e objetivo das leis, evitando problemas judiciais. Por isso, a atuação do advogado no compliance é de extrema valia, pois cabe a ele fazer a análise dos direitos e deveres presente em uma empresa de acordo com a legislação vigente e as políticas internas, onde o procedimento a ser utilizado por ele precisa ser especializado, para casos de otimizar processos já existentes e futuros e garantir o cumprimento efetivo deles. Portanto, buscaremos trazer para o trabalho a importância do compliance na atuação especializado do Direito e mostrar que essa área nos dias de hoje é uma das carreiras mais promissoras, tanto que vem ganhando grande relevância no mercado atual, evidenciando a construção de uma nova ética para uma nova realidade. 13 2 COMPLIANCE: HISTÓRIA, CONCEITOS E LEGISLAÇÃO O termo compliance vem da origem da palavra inglesa comply, que significa “agir de acordo com a lei, instrução interna e externa, um comando ou uma conduta ética, ou seja, estar em compliance é estar em conformidade com as regras internas da empresa, de acordo com procedimentos éticos e as normas jurídicas vigentes”. (BERTOCELLI, 2020, n.p). Como se vê, o compliance está além de uma simples regra formal, está ligado a uma ferramenta que vai mitigar riscos, preservar valores éticos de condutas e procedimentos. A definição trazida pelo conselho administrativo de Defesa Econômica, o CADE, é: Compliance é um conjunto de medidas internas que permite prevenir ou minimizar os riscos de violação às leis decorrentes de atividade praticada por um agente econômico e de qualquer um de seus sócios ou colaboradores. Por meio dos programas de compliance, os agentes reforçam seu compromisso com os valores e objetivos ali explicitados, primordialmente com o cumprimento da legislação. Esse objetivo é bastante ambicioso e por isso mesmo ele requer não apenas a elaboração de uma série de procedimentos, mas também (e principalmente) uma mudança na cultura corporativa. O programa de compliance terá resultados positivos quando conseguir incutir nos colaboradores a importância em fazer a coisa certa. (CADE, 2016, p.09). Os mecanismos de ações do compliance devem ser trabalhados em conjunto, envolvendo todos os colaboradores de uma empresa, de modo que atinja executivos e demais funcionários da empresa. O objetivoé prevenir, detectar e punir, para que se possa minimizar possíveis riscos e danos, criando, assim, uma cultura corporativa (CADE, 2016, p.9) Os autores da recente obra compliance 360º, definem o termo compliance como: Um conjunto de regras, padrões, procedimentos éticos e legais que, uma vez definido e implantado, será a linha mestra que orientará o comportamento da instituição no mercado em que atua, bem como as atitudes de seus funcionários; um instrumento capaz de controlar o risco de imagem e o risco legal, os chamados ‘riscos de compliance’, a que se sujeitam as instituições no curso de suas atividades. (CARDELORO, et al, 2012. p. 30.) O compliance vai estar atrelado ao cumprimento do ordenamento jurídico, políticas internas de determinada instituição pública ou privada, determinada regra ou um conjunto de regras, que objetivam o cumprimento de determinado padrão de conduta, ou seja, vai identificar se há alguma irregularidade para que possa 14 posteriormente sanar. Busca também construir uma imagem positiva da empresa, preservando-a de possíveis casos de corrupções, fraudes e descumprimento da legislação. No viés jurídico, vai estar atrelado a uma concepção mais ampla de observância ao cumprimento normativo interno e externo. No entendimento da ABBI e FEBRABAN o programa de compliance vai consistir em: Assegurar, em conjunto com as demais áreas, a adequação, fortalecimento e o funcionamento do Sistema de Controles Internos da Instituição, procurando mitigar os Riscos de acordo com a complexidade de seus negócios, bem como disseminar a cultura de controles para assegurar o cumprimento de leis e regulamentos existentes. Além de atuar na orientação e conscientização à prevenção de atividades e condutas que possam ocasionar riscos à imagem da instituição. (ABBI; FEBRABAN, 2009, n.p) O compliance vai estar atrelado a mitigar riscos contra possíveis atos ilícitos. É um sistema complexo de procedimentos que sempre vai buscar preservar os valores intangíveis de uma corporação, vai criar um ambiente juridicamente mais seguro, ético e transparente quando necessitar tomar decisões mais precisas. Para Manzi (2008, p.15), o compliance é o “[...] ato de cumprir, de estar em conformidade e executar regulamentos internos e externos, impostos às atividades da instituição, buscando mitigar o risco atrelado à reputação e ao regulatório/legal. ” O compliance deve então observar princípios éticos e morais contra atos de corrupção. Obedecer a tais regulamentos é o que se chama “ser compliance” ou “estar em compliance”: “Ser compliance” é conhecer as normas da organização, seguir os procedimentos recomendados, agir em conformidade e sentir quanto são fundamentais a ética e a idoneidade em todas as nossas atitudes. “Estar em compliance” é estar em conformidade com leis e regulamentos internos e externos. “Ser e estar compliance” é, acima de tudo, uma obrigação individual de cada colaborador dentro da instituição. (FEBRABAM, ABBI, 2009, p.8) Espera-se que as organizações públicas e privadas com efetivo programa de compliance consigam minimizar práticas corruptoras e atos ilícitos, contribuindo para evitar ocorrência de possíveis sanções que podem acarretar perdas financeiras significantes que muitas vezes acabam por ser irreversíveis para a continuidade dos negócios, o que pode provocar altas multas e problemas na Justiça, e, por consequência, até mesmo levar empresas à falência. 15 A Controladoria Geral da União (2015), destaca que o “programa de integridade é um programa de compliance específico para a prevenção, detecção e remediação dos atos lesivos previstos na Lei 12.846/2013, que tem como foco, além da ocorrência de suborno, também fraudes nos processos de licitação e execução de contratos do setor público. ” Cabe mencionar que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou a ISO 19600 – International Organization for Standardization (2016), essa norma busca “fornecer orientações para o estabelecimento, desenvolvimento, implementação, avaliação, manutenção e melhoria do sistema de gestão de compliance de forma efetiva e ágil em uma organização”. O programa de compliance vai além das leis, pois deve guiar suas ações por princípios e valores da companhia, sobretudo pela ética. Portanto, cada organização terá um programa único, que buscará um viés preventivo, e cada programa deverá ser construído levando em consideração a realidade da empresa e deverá refletir a cultura daquela organização. E esses procedimentos devem refletir o dia a dia das áreas e moldar processos de forma prática. (FRANCO, 2020, n.p). 2.1 BREVE HISTÓRICO QUANTO À ORIGEM DO COMPLIANCE Os primeiros indícios do surgimento do programa de compliance originaram-se das práticas de corrupção. Entre o século XIX e o século XX, em razão da emergência de vários escândalos de corrupção nos Estados Unidos, as agências reguladoras e os bancos começaram a adotar mecanismos de programa de integridade que deveriam ser aplicadas com mais efetividade. Foi então criado um sistema legislativo robusto o suficiente para detectar eventuais violações às leis e impor penalidades aos transgressores. (PUNDER, 2019, p.221) Houve a necessidade de criar regulamentações e padrões efetivos de integridade. A partir do acordo de Bretton Woods1 em 1940, surgiu o primeiro sistema 1 O acordo de Bretton Woods foi um acordo assinado por 45 nações aliadas, em 1944, na cidade de Harmonia nos Estados Unidos, esse acordo estabeleceu o funcionamento das políticas monetárias e econômicas dos países no pós-guerra, definindo a forma que o capitalismo tomaria durando as próximas décadas, seu objetivo era promover a cooperação econômica, facilitar o comércio internacional, padronizar as políticas cambiais e construir um sistema financeiro multilateral entre os países, esse sistema acabou saindo favorável para os interesses americanos, o acordo posteriormente chamado Sistema Bretton Woods, acertou medidas que norteariam o funcionamento do sistema financeiro e econômico mundial.(BRAGATO, 2017, p.75) 16 de regulamentação e controle da economia internacional. Além disso, o referido acordo deu origem ao Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (IBRD) e, depois, ao Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 1970, precisaram criar mecanismos de controle e orientações de transparência na economia. (COLARES, 2014, p.60) O acordo de Bretton Woods tinha como objetivo manter a moeda dentro da taxa de câmbio estabelecida e que os países se submetesse a adesão as regras das relações comerciais e financeiras entre os países industrializados do mundo. Mas, devido às incertezas que aconteciam nos EUA naquele momento, o acordo foi suspenso por Richard Nixon em 1971. Consequentemente, surgiu o comitê de Basiléia, com o intuito de proteger o sistema financeiro, estabelecer segurança econômica e buscar transparências na execução de procedimentos relacionado com a economia. (COLARES, 2014, p.61) Em 1950 criou-se a Prudential Securities, que teve como objetivo a contratação de advogados para fazer o acompanhamento da legislação e o monitoramento das atividades com valores mobiliários, nesta época já existiam registros de ações de compliance. (BRAGATO, 2017, p.75) Um dos primeiros programas de integridade foi a Security And Enchange Commision (SEC), comissão de valores mobiliários estabelecida em 1934 com o objetivo de restaurar a confiança dos investidores no mercado de capitais, e passou a insistir em contratações de oficiais de conformidade, na criação de controles internos e implementação de operações com o objetivo de auxiliar nas áreas dos negócios. Logo depois o mercado financeiro passou a ser o primeiro setor a exigir regulamentações das empresas para obtenção de credibilidadedos investidores e dar segurança às ações das empresas. (PUNDER, 2019, n.p) A era do compliance iniciou em 1960, a Security And Enchange Commision (SEC), passou a contratar compliance officers para criar procedimentos internos de controles, treinamento de pessoal e monitoramento, com o único objetivo de auxiliar na área dos negócios para a ocorrência de efetiva supervisão. (BRAGATO, 2017, p.75) Entre o começo dos anos 70 e final da Guerra Fria, os escândalos do Waltergate, ligados à administração do presidente dos Estados Unidos da América, Richard M. Dixon, acabou mudando totalmente a política americana. Muitas pessoas acabaram a refletir mais sobre presidência do país, pois o episódio passou a ser visto 17 como um ato criminoso contra o país e contra a sociedade americana, e não poderia passar despercebido e impune. (PUNDER, 2019, n.p) Em decorrência das investigações de Waltergate foi descoberto que algumas empresas haviam realizado contribuições políticas ilegais e que livros e registros contábeis não estavam sendo reportados para o SEC. Várias companhias americanas haviam realizado pagamentos de corrupção no exterior de milhões de dólares, o que foi descoberto por meio das investigações da SEC. Diante desse cenário, houve a grande necessidade de criar uma legislação anticorrupção nos Estados Unidos. Com isso, foi promulgado a lei de práticas de corrupção, a Foreign Corrupt Pratices Acts (FCPA), obrigando as empresas a manter livros e registros que mostravam precisamente as suas transações e também estabelecerem sistemas adequados de controles internos. Além disso, tinha como objetivo evitar subornos de autoridades estrangeiras e restaurar a confiança dos americanos no sistema de negócios. Essa lei tem sido aplicada a todas as pessoas e empresas do Estados Unidos e por determinadas emissoras estrangeiras de valores imobiliários (PUNDER, 2019, n.p) Em meados de 1990, as organizações públicas e privadas adotaram programas de conformidade que deu início às regras essenciais para as atividades corporativas. Mais tarde houve mudanças dessas regras. O marco histórico foi a falência do banco Borings devido à fragilidade do sistema de controles internos. Daí em diante, o comitê de Basileia passou a orientar aos bancos centrais sobre garantir o sistema financeiro com maior rigidez e traçar objetivos e responsabilidades, foi então que o comitê criou princípios de supervisão bancárias eficazes com o objetivo de supervisionar e certificar que os bancos tivessem controles internos adequados para o seu negócio. (ASSIS, 2018, n.p) Em 1998 começou a era dos controles internos. O Comitê de Basiléia publicou treze princípios sobre a supervisão de administradores de cultura/avaliação de controles internos. No Brasil, com a publicação do Congresso Nacional da Lei n° 9.613/98, dispondo sobre o crime de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, o Sistema Financeiro Nacional criou o Conselho de Controle de Atividade Financeiras (COAF). Essa unidade de inteligência financeira brasileira, integrante do Ministério da Fazenda, foi criada com o objetivo de combater a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo. O Conselho Monetário Nacional adotou no Brasil os treze princípios do 18 Comitê da Basiléia, publicado na resolução n° 2.554/98, que dispõe sobre a implementação do sistema de controles internos. (ASSIS, 2018, n.p) Na década de 1990 no Brasil, em razão da abertura do mercado e intensificação do comércio do país com o mercado estrangeiro, o país necessitou de enquadramento de padrões na realização de atividades políticas e econômicas de integridade e transparência no cenário da concorrência, inclusive a necessidade de se adequar aos órgãos reguladores internacionais como a BIS (Bank For International Settlements) e SEC (Securities and Exchange Comission). (COLARES, 2014, p.61) Entretanto, as fraudes corporativas não pararam, os escândalos serviram como base para a criação de mecanismos de conformidade, fiscalização de mercado e implementação de condutas éticas. Esses mecanismos foram influenciados pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA, que afetaram tanto a política quanto a economia. Em 2002, o mercado financeiro causou grande impacto na economia. Na empresa Eron foi descoberto um dos maiores casos de fraude contábil na história. Os escândalos obrigaram uma nova reflexão sobre o sistema de controles, e como resultado foi promulgada a Lei Sabanes-Oxley, conhecida como SABOX ou SOX, trazendo mudanças nos mecanismos de controles internos de auditoria e segurança e criando um comitê para supervisionar operações para buscar a redução de riscos nos negócios e prevenir a realização de práticas irregulares e fraudes. (COLARES, 2014, p.60) A lei Sabanes-Oxley, criada por dois senadores do Estados Unidos, foi pensada para regular aspectos de boas práticas de governança corporativa, introduzindo princípios como a conformidade legal (compliance), a prestação de contas efetiva, a transparência, a equidade e a paridade de justiça nas relações. Importante salientar, que essa lei acabou tornando executivos e diretores financeiros responsáveis por constituir, avaliar e monitorar os controles internos sobre os relatórios financeiros e divulgações realizadas, pois em decorrência dos escândalos, acabou por exigir dos diretores financeiros e dos executivos uma postura ética adequada, evitando que viessem se envolver em escândalos. (ASSIS, 2018, n.p) As aplicações da legislação norte americana do FCPA pelo departamento Of Justice (DOJ) e pelo SEC impulsionaram a criação de convenções internacionais de combate à corrupção. Em 2010 foi criada a Uk Bribery ACT no Reino Unido, com o propósito de combater os crimes de corrupção passiva e ativa de agentes públicos e privados, corrupção de agentes públicos no estrangeiro e a falha das empresas na 19 prevenção da corrupção. A Uk Bribery ACT passou a ser considerada a organização mais rigorosa do mundo no que diz respeito ao combate da corrupção das empresas, pois ela exigia um controle interno mais detalhado por meio de um sistema empresarial e atividade profissional mais abrangente. (ASSIS, 2018, n.p) No Brasil, a Lei Anticorrupção ou Lei da Empresa Limpa 12.846/2013, muito se assemelha à lei Britânica. A adoção do compliance no sistema brasileiro foi introduzido pelas normas penais que criminalizou a lavagem de dinheiro de 2013, a Lei n. 12.846 instituiu “a responsabilização objetiva administrativa e civil das pessoas jurídicas pela pratica de atos lesivos que sejam cometidos em seu interesse ou benefício, contra a administração pública nacional ou estrangeira” (ASSIS, 2018, n.p). No Brasil, as regras adotadas são similares àquelas criadas nos Estados Unidos da América. Foram implementadas pelo Conselho Monetário Nacional como, por exemplo, a Resolução n. 2.554 de 1998 que foi alterada pela resolução 3.056/02 dispondo acerca de atividades de auditoria referente aos controles internos. As empresas brasileiras que possuíam ações no mercado financeiro internacional passaram a estar sujeitas à legislação americana Sabanes-Oxley (SOX). (COLARES,2014, p.62) É a partir da legislação anticorrupção que a cultura do compliance no Brasil foi se fortificando. Ainda que o compliance não seja obrigatório no contexto jurídico brasileiro, a interpretação é que ela seja incentivada, principalmente pelas organizações, para que a cultura do mercado seja transparente, limpo e ético. (GIN, 2018, p.28) 2.2 PRINCIPAIS FONTES DE REGULAMENTAÇÃO – ACORDOS INTERNACIONAIS Para combater os casos de fraudes, subornos e corrupções que atravessava as fronteiras de todos os países, a organizações internacionais precisaram criar mecanismos e regulamentações internacionais. Para isso, foram organizadas diversas convenções de âmbito regional e global:Em âmbito regional, v.g. Convenção Interamericana Contra a Corrupção, adotada em 1996 pela organização dos Estados Americanos (OEA), Convenção do Conselho da Europa, consolidada em 1997 pelo conselho 20 Europeu e Convenção da União Africana assinada em 2003. Outros acordos internacionais receberam patamar global, v.g. Convenção Sobre Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transação Comerciais Internacionais, adotada em 1997 no âmbito da organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2003. (CUNHA,2019, n.p) A Convenção Interamericana contra a Corrupção (OEA) é uma organização internacional fundada em 30 de abril de 1948, que atualmente é composta por 35 nações. De acordo com a carta da OEA firmada em 1948 em Bogotá- Colômbia, seu objetivo é alcançar uma “ordem de paz e de justiça, para promover sua solidariedade, intensificar sua colaboração e defender a soberania, sua integridade territorial e sua independência. ” (CUNHA,2019, n.p) A Convenção Interamericana vai tratar de mecanismos que objetivam a prevenção contra atos de corrupção, subornos transnacionais e o enriquecimento ilícito, buscando promover a erradicação da corrupção no âmbito mundial para que os países do mundo começassem a agir no mercado de forma mais justa e ética. (CUNHA,2019, n.p). A Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais (OCDE), composta atualmente por 34 países, visa o combate da corrupção de funcionários públicos internacionais ou pessoas jurídicas e físicas que pratiquem atos de corrupção na condução e na realização de negócios internacionais. A OCDE também criminaliza as condutas de oferecimento ou promessa de pagamento a qualquer tipo de vantagem que seja manifestamente indevida para funcionários públicos estrangeiros que estejam no desempenhando funções públicas ou fora dela. O objetivo é dificultar a realização de transações internacionais ou a condução dos negócios internacionais. Em seu artigo 2°, a carta da OCDE dispõe que “[...] cada parte deverá tomar todas as medidas necessárias ao estabelecimento das reponsabilidades de pessoas jurídicas pela corrupção de funcionários públicos estrangeiro, de acordo com os seus princípios”. Esse dispositivo deixa claro que os estados-parte da convenção devem adotar medidas para que haja punição dessas pessoas jurídicas que pagam subornos a agentes públicos de acordo com a FCPA, lei anticorrupção americana. (CUNHA,2019, n.p) A convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (ONU), formada por países que tem o objetivo de manter a paz e o desenvolvimento mundial, atualmente composta por 193 países, promulgada em 2003, tem como enfoque a prevenção e 21 combate da corrupção, e trouxe junto com a convenção medidas para evitar atos de corrupção nos setores privados. Para isso, estabeleceu um comitê ad hoc aberto a todos os estados, com objetivo de elaborar um documento que ficou conhecido como Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção (Convenção de Mérida). Esse documento estabeleceu diversas formas de prevenir e combater a corrupção. Nesse sentido, foi importante “a criação pela convenção de normas e procedimentos que favoreceram a disseminação do compliance às empresas, criando instrumentos como códigos de condutas, políticas de boas práticas na interação com o Estado e registro contábeis reais e eficientes. ” (CUNHA, 2019, n.p) Com as convenções internacionais, o Brasil assumiu o compromisso de punir de forma efetiva os atos de corrupção, os subornos transnacionais, a corrupção ativa de funcionários públicos estrangeiros e das organizações internacionais. A Lei n°10.467 de 2002 alterou o Código Penal, e o crime de corrupção ativa de transações internacionais, olvidando de incluir as pessoas jurídicas. (LEAL, 2016, p.21) A OCDE avalia todos aqueles países que são signatários da Convenção. O Brasil passou por duas avaliações que resultaram no aumento da pressão para a adoção de leis que fossem rígidas para punir empresas que cometessem atos de corrupção. A Lei Anticorrupção, no entanto, vem tratando de normas mundiais que tratam do tema de forma específica. Colares (2014, p.79) elenca os seguintes dispositivos: • Convenção de Combate à Corrupção; • OCDE Convenção de Combate à Corrupção de Funcionários; • Públicos Estrangeiros / Grupo de Trabalho Anticorrupção; • OEA – Convenção Interamericana de Combate à Corrupção; • UK Bribery Act; • Grupo de Países Europeus contra a Corrupção (“GRECO”); • Bancos de Multilaterais de Desenvolvimento (BID, Banco Mundial); • Lei de Improbidade n. 8.429/1992; • Lei de Concorrência Desleal n. 9.279/1996; • Lei de Lavagem de Dinheiro n. 9.613/1998; • Lei de Defesa da Concorrência n. 12.529/2011; • Alteração da lei de Lavagem de Dinheiro n. 12.683/2012; • The Canadian Corruption of Foreign Public Officials Act (S.C.1998, C. 34); • Lei Chilena - Ley de Responsabilidad Penal Corporativa - nº 20392; • Novas Leis Anticorrupção na Rússia (nº 237), Indonésia (30/2002), China (Anti Unfair Competition Law of the People's Republic of China e Criminal Law of the PRC), Colômbia (Lei 1474/2011); • Lei Brasileira Anticorrupção n. 12.846/2013; • Pacote Anticrime Lei n° 13.964/19. 22 Além das convenções internacionais para o combate da corrupção, outras medidas também são relevantes, como o Código de Boas Práticas de Transparência em Políticas Monetárias, aprovada em 1999 pelo Banco Mundial, o Acordo Plurilateral sobre Contratação Pública, formada em 1996 pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Declaração de Arush sobre Cooperação e Integridade Aduaneira aprovado pela Organização Mundial de Adunas, no ano de 1993. (CUNHA, 2019, n.p) A celebração de acordos internacionais e normas de combate da corrupção e subornos, não é suficiente para acabar com o vasto contexto histórico de corrupção dos países, é necessário criar padrões de conformidade, condutas éticas perante a sociedade. Os acordos internacionais motivaram diversos países a regulamentar por meio de legislações o combate da corrupção e subornos, e até mesmo a regulamentação das políticas de compliance. Atualmente, com a disseminação do programa de compliance, acabaram por surgir projetos de lei que regulamentam a sua aplicação. A Projeto de Lei 4481/2020 da Câmera dos Deputados, que vem alterar os artigos 1° e 25 e acrescentar o artigo 2-A a Lei n° 12.846/2013, para assim, dispor sobre a exigência de programa de integridade para fins de contratação com a administração pública em obras de grande vulto, esse projeto vem incentivar a contratação de particulares que tenha o programa de integridade e compliance. (BRASIL, 2020). O Projeto de Lei 418/2020, proposta pela Câmera dos Deputados também, vem a exige programa de compliance às pessoas jurídicas que venham a contratar com o poder público. (BRASIL, 2020). Esses projetos de lei são mais atuais, existem, entretanto, alguns projetos um pouco mais antigos que regulam a obrigatoriedade dos mecanismos de compliance, como a PLS 435/2016 do Senado Federal, em que o compliance vem como uma obrigatoriedade das empresas a aderirem o programa, especialmente para as empresas que foram condenadas por corrupção, podendo obter redução das penas se houver mecanismos de compliance implementados. (BRASIL, 2016) O projeto de Lei 429/2017 do Senado Federal que altera a lei dos partidos políticos (Lei 9.096/95), submetendo os representantes dos partidos políticos ao programa de compliance. O objetivo desse projeto de lei é evitar fraudes, atos ilícitos, violação e desvio de verbas. A falta de um programa de compliance que fosse efetivo acarretaria a suspensão de recebimento do fundo partidário. (BRASIL, 2017) 23 Diantedisso, a necessidade de regulamentar o compliance é de extrema importância, por isso que hoje existem diversas convenções internacionais votadas para a promoção de uma ética universal. 2.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ANTICORRUPÇÃO: LEI 12.846/2013 A Lei Anticorrupção n. 12.846/2013 (LAC), orginalmente nasceu de um projeto enviado pelo Executivo Federal para atender os compromissos internacionais que o Brasil havia assumido como signatário da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em que o Brasil se comprometeu a criar uma legislação de combate ao suborno. A Lei Anticorrupção (LAC) institui no Brasil a responsabilidade objetiva, administrativa e civil das pessoas jurídicas pelos atos lesivos cometidos em seu benefício ou em interesse de outro, contra a administração pública nacional ou estrangeira, essa responsabilização objetiva de atos praticados com intuito de lesionar aqueles que são envolvidos ou que foram beneficiários serão investigados, processados e punidos nas esferas civil e administrativa. (ASSIS, 2018, n.p) Antes da promulgação da Lei 12.846/2013, a legislação brasileira já disciplinava os atos de corrupção praticados pela pessoa física articular ou agentes públicos. Nesse momento não existia a legislação voltada para os crimes de corrupção das pessoas jurídicas, pois era voltado ao estado corruptor. Portando, ouve a necessidade de uma legislação voltada para as pessoas jurídicas, por isso foi aprovada a Lei da Empresa Limpa, inserindo ao ordenamento jurídico o programa de compliance Anticorrupção. (COSTA, 2017, p. 29) O Código Penal vem a tipificar alguns dispositivos de grande importância para o combate da corrupção e atos ilícitos Crimes contra a administração pública, temos o artigo 312, que trata do peculato; o artigo 316 menciona a concussão; o artigo 317, a corrupção passiva; e, por fim, o artigo 319 que descreve a prevaricação. Já nos crimes praticados por particular contra a administração pública em geral, temos o artigo 333, que fala de corrupção; e nos crimes contra a administração pública estrangeira, o Código Penal possui o artigo 337-B, que prevê a corrupção em transação comercial internacional; o artigo 337- C, que dispõe sobre o tráfico de influência em transação comercial internacional; e o artigo 337-D, dispositivo a respeito do funcionário público estrangeiro. O nosso ordenamento pátrio possui ainda algumas leis extravagantes que merecem destaque, como a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, conhecida como Lei 24 de Improbidade Administrativa; a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, legislação sobre Licitações; a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que é a Lei de Tutela à Proteção do Meio Ambiente; a Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012, popularmente citada como a Lei de Lavagem de Dinheiro; e, por fim, a Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, que define Organização Criminosa. (COELHO, JUNIOR, p.8) A respeito da Lei 12.846/2013, a autora Marcella Block (2014, p.19) menciona o seguinte: A novidade trazida por esse ordenamento é, de fato, a mudança de perspectiva dada pelo legislador no combate aos crimes contra a Administração Pública, substituindo o direito penal e a persecução da agente pessoa física, pelo direito administrativo sancionador, que visa punir a pessoa jurídica, ainda que continue a se valer de conceitos e instrumentos oriundos do direito criminal. Sendo signatário da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais (OCDE), o Estado brasileiro introduziu em seu Código Penal disposições sobre a corrupção ativa em transação comercial internacional. Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação comercial internacional: (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço), se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) (BRASIL, 2002) A responsabilidade civil e administrativa da pessoa jurídica pela prática de atos contra a administração pública nacional ou estrangeira está regulamentada pela Lei 12.848/2013: Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a responsabilização objetiva administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira. Parágrafo único. Aplica-se o disposto nesta Lei às sociedades empresárias e às sociedades simples, personificadas ou não, independentemente da forma de organização ou modelo societário adotado, bem como a quaisquer fundações, associações de entidades ou pessoas, ou sociedades estrangeiras, que tenham sede, filial ou representação no território brasileiro, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente. (BRASIL, 2013) Esse artigo mostra-se que a pessoa jurídica deve ser responsável por todos os seus atos, e as sanções administrativas e civis que são aplicadas por atos lesivos http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10467.htm#art337b http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10467.htm#art337b http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10467.htm#art337b http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10467.htm#art337b http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10467.htm#art337b 25 praticados são capazes de inibir as condutas ou até mesmo reprimir que ocorra novamente por outras ações que infringiram as leis ou que lesionou indivíduos e outras empresas. O artigo 3° da Lei Anticorrupção (LAC) pensou também na possibilidade de imputar a responsabilidade dos dirigentes e administradores, porém essa responsabilidade pelos atos ilícitos abrange apenas na medida de sua culpabilidade. E logo no caput do artigo 5° da referida LAC dispõe de ilícitos que atentam contra a administração pública nacional ou estrangeira, uma vez que vai contra os princípios da administração pública e contra o compromisso assumida pelo Brasil nas convenções internacionais contra o combate da corrupção. E no mesmo rol deste artigo vai estar inserido atos que atenta contra a probidade das licitações públicas, investigações e fiscalizações de órgãos com essa competência e a atuação de agências reguladoras. Art. 5º Constituem atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira, para os fins desta Lei, todos aqueles praticados pelas pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo único do art. 1º, que atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração pública ou contra os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos: I - Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada; II - Comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo subvencionar a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei; III - comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados; IV - No tocante a licitações e contratos: a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público; b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório público; c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo;d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente; e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação pública ou celebrar contrato administrativo; f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações ou prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos instrumentos contratuais; ou g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebrados com a administração pública; V - Dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional. § 1º Considera-se administração pública estrangeira os órgãos e entidades estatais ou representações diplomáticas de país estrangeiro, de qualquer 26 nível ou esfera de governo, bem como as pessoas jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público de país estrangeiro. § 2º Para os efeitos desta Lei, equiparam-se à administração pública estrangeira as organizações públicas internacionais. § 3º Considera-se agente público estrangeiro, para os fins desta Lei, quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, exerça cargo, emprego ou função pública em órgãos, entidades estatais ou em representações diplomáticas de país estrangeiro, assim como em pessoas jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público de país estrangeiro ou em organizações públicas internacionais. (BRASIL, 2013) As sanções, por sua vez, podem ser administrativas ou judiciais, e estão previstas no artigo 6° da LAC. A multa varia de 0,1% a 20% do faturamento bruto da empresa, mas considerando o último exercício anterior ao da instauração do inquérito. Não havendo a possibilidade de efetuar o cálculo, a multa poderá variar entre o mínimo de 6 milhões e o máximo de 60 milhões. E no âmbito judicial poderá acarretar a penalização de perda de bens, valores e direitos, e poderá haver interdição ou suspensão das atividades da empresa, e também dissolução compulsória e proibição de contrair empréstimos, receber subsídios, incentivos, subvenções e doações. (COLARES, 2014, p.85) Uma inovação importante trazida pela LAC foi a introdução do acordo de Leniência, contemplando a possibilidade de a pessoa jurídica celebrar um acordo com a Controladoria Geral da União (CGU), desde que devidamente tenha colaboração dos envolvidos na infração, além de entregar documentos necessários que comprove a ilicitude praticada. Na Lei de Defesa de Concorrência, o acordo de Leniência será possível desde que a empresa se manifeste para que encerre completamente seu envolvimento nos atos ilícitos que foram praticados e que admita toda sua participação e colabore nas investigações. Ao contrário da legislação Americana FCPA, que pode eliminar completamente as multas aplicáveis, a LAC somente permite a redução do valor da multa em dois terços. Em seu artigo 17, a Lei Anticorrupção da possibilidade da administração pública celebrar acordo de Leniência com a pessoa jurídica responsável pela prática de ilícitos previsto na Lei n° 8666/93. (COLARES, 2014, p. 86) Foi estabelecido também, acerca de critério para aquelas empresas que possuíssem programa de integridade para que pudessem ser concedidas a redução dos valores das multas e sanções, desde que fossem comprovados a efetividade do compliance e se era aplicado de maneira correta. 27 A LAC, no seu no artigo 22, criou também o Cadastro Nacional das Empresas Punidas (CNEP). O objetivo do CNEP é reunir e dar publicidade às sanções aplicadas pelo poder público às pessoas jurídicas. (BLOCK, 2014, p.7) A Legislação Anticorrupção Brasileira, é evidentemente um instituto voltado para o combate da corrupção praticada pelas pessoas jurídicas de direito público e privado, assim como demais instituto trazido pelo presente trabalho. O artigo 7°, parágrafo único, da Lei 12.846/13, estabeleceu os mecanismos de procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidade, e também o programa de compliance, mediante aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, que serão estabelecidos em regulamento pelo Poder Executivo. Art. 7º Serão levados em consideração na aplicação das sanções: I - A gravidade da infração; II - A vantagem auferida ou pretendida pelo infrator; III - A consumação ou não da infração; IV - O grau de lesão ou perigo de lesão; V - O efeito negativo produzido pela infração; VI - A situação econômica do infrator; VII - A cooperação da pessoa jurídica para a apuração das infrações; VIII - A existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica; IX - O valor dos contratos mantidos pela pessoa jurídica com o órgão ou entidade pública lesados; e X - (VETADO). Parágrafo único. Os parâmetros de avaliação de mecanismos e procedimentos previstos no inciso VIII do caput serão estabelecidos em regulamento do Poder Executivo federal. (BRASIL, 2013) A lei estabelece que as empresas possuam um programa de compliance podem ter uma gradação da sanção aplicada, em uma redução de 2/3 da multa. De acordo com o artigo 7° da Lei n° 12.846/13 será levado em consideração na aplicação da sanção se a empresa tem o programa de compliance efetivo além de outras considerações. O programa de compliance são concebidos como um estímulo para as empresas e não uma obrigatoriedade de implementar o programa, o objetivo da LAC é estimular as empresas no sentido de implementar o compliance voluntariamente. Atualmente não existe uma obrigatoriedade de implementação do programa de compliance, e as empresas precisam desenvolver o programa de integridade de forma autônoma. 28 O compliance se apresenta como um mecanismo que objetiva mudar a história das pessoas físicas e jurídicas, trazendo um novo pensamento, no qual a prevenção e honestidade valem mais a pena do que a esperteza e a desonestidade. (COELHO, JUNIOR, p.8) O mecanismo da Lei Anticorrupção aponta para a prioridade no interesse de prevenir, investigar e descobrir eventuais desvios de condutas e violações da legislação. O principal objetivo do programa de compliance é o planejamento das atividades e das políticas internas, código de ética e conduta e gestão de risco. A Lei Anticorrupção pretende então consolidar a cultura de compliance no país, dando incentivo para que as empresas brasileiras invistam nas políticas do compliance de controles internos e cumprimento da legislação a fim de evitar possíveis riscos e evitar condutas ilícitas para que haja o fortalecimento da imagem da empresa perante a sociedade em geral. (BLOK, 2014, p.24) A LAC servirá como incentivo para implementação do programa de compliance nas empresas, certamente será com base nela que o programa de compliance vai se desenvolver, consolidando a cultura do compliance no pais, pois antes o pais dependia das leis estrangeiras para tratar desse mecanismo de programa de integridade, em que países que já possuíam legislações situavam-se como forte nos programa de compliance. O compliance tem grande impacto para a prevenção de atos ilícitos, no ano de 2019 surgiu novos mecanismos que fortaleceram a legislação Penal, Processual Penal e as Leis Especiais, fortificando a tendência do compliance e fazendo com que o país promovesse um endurecimento do sistema criminal. Diversas legislações sofreram modificação acerca do Pacote Anticrime, assim como a Lei de Improbidade Administrativa (lei n° 8.429/92), a Lei de Lavagem de Dinheiro (lei n° 9.613/98) e a Lei das Organizações Criminosas (lei n°12.850/19). (O IMPACTO, 2020) A entrada em vigor do Pacote Anticrime teve impacto no cenário corporativo, principalmente nos aspectos relacionados ao compliance. O objetivo dessa mudança legislativa é o forte combate da corrupção contra crimes de lavagem de dinheiro, fazendo com que o compliance acabasse assumindo um papel relevante. A grande mudança trouxe a figura do Whistleblower, é uma figura de Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, é um denunciante do ato ilícito. O Pacote Anticrime também trouxe o acordo de Não-Persecução Criminal, em que os crimes de Corrupção e de Lavagem de Dinheiro são resolvidos mediante 29 acordo, pelo mecanismo da colaboração premiada, e pelo acordo de leniência. Esses instrumentos propiciaram um grande crescimento de informações obtidas por procedimentos negociais, provocando grandes investigações internas em corporações. Além disso, trouxe a possibilidade da Ação Controlada e da infiltração de agentes para combater tais crimes, que tem como objetivo ampliar uma política preventiva da lavagem de dinheiro. (O IMPACTO, 2020) Grandes mudanças por parte do Pacote Anticrime do juiz Sérgio Moro mostrou uma modificação das medidas do compliance. Essa mudança busca introduzir no sistema brasileiro uma amplitude para que as leis sejam bem executadas, tanto na esfera pública como privada, sendo que na esfera privada acaba sendo mais urgente. Portando, o pacote anticrime vem no mercado para pressionar as empresas a se adequarem às políticas novas de conformidade. 2.4 LEGISLAÇÃO AMERICANA FCPA FOREIGN CORRUPT PRACTICES ACT Os Estados Unidos, maior economia mundial, precisou de uma legislação que garantisse o funcionamento dos mercados de modo seguro, em seu território e no âmbito internacional, precisou fazer uma estrutura de regras que fosse capaz de punir aqueles infratores que cometiam atos ilegais. Portanto, os EUA figuraram como a primeira nação do mundo a estabeleceu uma legislação rigorosa capaz de punir as práticas de corrupção e subornos. Com isso, outras nações do mundo precisaram regulamentar a sua própria legislação para tratar o tema. (CUNHA, 2019, n.p) A Lei Foreign Corrupt Practies Act (FCPA) surgiu justamente aonde diversas empresas americanas utilizavam-se de práticas de suborno para fechar negócios com empresas estrangeiras. Com isso, trouxe uma norma proibindo as práticas de subornos contra agentes públicos, com o intuito de que os americanos fossem punidos ao realizar pagamentos a funcionários estrangeiros com propósito de obter vantagens em seus negócios. (CUNHA, 2019, n.p) A FCPA é uma lei dos EUA com aplicação extraterritorial, que visa prevenir e punir a utilização de suborno no exterior por empresas. A legislação não se aplica apenas a empresas norte-americanas, mas também às suas subsidiárias que operam no exterior, joint ventures e até mesmo empresas 30 estrangeiras com operações ou um mero registro nos EUA, bem como as empresas que fazem negócios na bolsa de valores. (2012, apud GIN,2016 p.9) Em 1977 foi aprovada nos EUA uma lei federal chamada Foreign Corrupt Practices Act, conhecida mundialmente como FCPA, com o objetivo de evitar casos de subornos transnacional de agentes públicos (CUNHA, 2019, n.p). O objetivo da aprovação da Lei era justamente dar uma resposta à sociedade americana, que esteva descontente com os casos de corrupção, estabelecendo a confiança dentro e fora do país, para assim favorecer as relações comerciais. Cunha (2018, n.p.) observa que a FCPA “tornou ilegal a oferta ou a consumação de pagamentos em dinheiro ou de qualquer vantagem indevida, a funcionários de governo, partidos políticos ou candidatos a cargos políticos estrangeiros em troca de vantagens, não só comerciais, como econômicas. ” No entanto, a Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) passou a ser aplicável a qualquer pessoa jurídica com sede no território dos Estados Unidos, em que emitiam valores mobiliários registrados na Securities and Exchange Comission e aquelas que tinha obrigação de arquivamentos periódicos de relatórios da Securities Exchange Act de 1934. Também aplicável às pessoas físicas, cidadão ou que trabalha no território americano, a todas pessoas jurídicas norte americanas, a qualquer tipo de empresa, as associações, as organizações ou sociedade organizada de acordo com a legislação dos Estados Unidos. (COLARES, 2014, p.83) A FCPA trouxe disposições que criminalizam o combate aos subornos: Oferecer, pagar, prometer pagar, ou autorizar o pagamento corrupto ou de outro item de valor; de maneira indireta e diretamente; A funcionário público estrangeiro, candidato a cargo político estrangeiro, funcionário de empresa pública multinacional ou partido político estrangeiro; para influenciar ao ou decisão oficial, inclusive ato ou omissão que viole dever oficial ou legal ou que assegure alguma vantagem indevida; Auxiliar na obtenção, retenção ou direcionamento de negócios para qualquer pessoa. (PUNDER, 2019, n.p) A legislação FCPA aborda também problemas da corrupção internacional: Primeiramente, explicita diversas disposições anticorrupção, as quais proíbe indivíduos e empresas de subornar funcionários de governos estrangeiros para obter ou reter negócios; em uma segunda linha, apresenta regras e determinações sobre provisões contábeis, impondo exigências de manutenção de registros e de controles internos adequados, reais e condizentes com as operações executadas por companhias que transaciona, 31 valores mobiliários que, de alguma forma especifica na lei, perpassem pelos Estados Unidos. Violação da FCPA podem levar penalidades civis, criminais e sanções, tais como multas, dever de ressarcimento e até prisão. (CUNHA, 2019, n.p.). Mais de 100 empresas foram processadas pela DOJ e SEC nos anos de 2008 e 2005, em ações de execução pelo descumprimento da FCPA. As multas ultrapassaram US$ 5,2 bilhões. As empresas brasileiras estão no rol de investigações e processos, apenas em 2016 a Embraer firmou um acordo (Deferred Prosecution Agreement) com valor de US$ 206 milhões. Nesse mesmo ano, a operação da Lava Jato, envolvendo a Odebrecht e a Braskem, realizou um acordo de US$ 419,8 milhões. No ano de 2017, quando o faturamento da Odebrecht caiu, o valor da sua multa acabou por ser reduzido de US$ 260 milhões para US$ 93 milhões. Além disso teve a Petrobras, que realizou um acordo da multa em um valor mais alto para US$1,78 bilhões. (CUNHA, 2019, n.p). Como se vê, aquelas empresas brasileiras que possuem negócios, subsidiárias ou listada na bolsa de valores norte-americana vai estar sujeita a legislação FCPA americana, ademais, empresas que prestam serviços para uma empresa americana, pode ser como representante ou como agente, passa estar indiretamente sujeita a FCPA, e tanto empresas como indivíduos brasileiros vai estar sujeita a FCPA se efetuarem de modo direito ou por intermediários, um pagamento indevido situado no território americano ou que apenas transite por lá. Todavia, as Holdings americanas, vai ser responsável por atos de subsidiarias brasileiras, que autorizam, ou que estejam controlando suas atividades ou até mesmo dirigido aquela empresa, assim como domestic concerns, aqueles empregados ou que estão agindo a proveito destas subsidiarias. (CUNHA, 2019, n.p.) 2.5 LEGISLAÇÃ BRITÂNICA UNITED KINGDOM BRIBERY ACT Em 2000 legislação americana sofreu alterações pela Anti-terrorism Crime Andy Security, mas ainda não atendeu as exigências impostas pela Convenção de Combate à Corrupção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na qual o pais é signatário e precisou de uma nova legislação britânica para atender a convenção e se inserir ao contexto mundial de combate da corrupção. (LEAL, 2016, p.24) 32 A legislação Britânica, paraatender as convenções internacionais da OCDE, precisou fortalecer o seu ordenamento jurídico com uma nova legislação de combate à corrupção e para se inserir no contexto mundial. Portanto, editaram a Uk Bribery Act, conhecida como UKBA. Aprovada no Reino Unido em abril de 2010, é uma Lei que teve apoio e participação do parlamento, e melhorou a legislação anticorrupção do país, colocando punições mais sevaras na sua lei, com punições de âmbito mundial, atendendo o que a convenção internacional propunha. (LEAL, 2016, p. 24) No entanto, o surgimento da Bribery Act vai ter um grande impacto e influência no contexto histórico de combate à corrupção, e vai introduzir no seu ordenamento jurídico a criminalização tanto da pessoa jurídica como da corrupção privada. No que menciona Colares (2014, p.82), com a entrada em vigor da UKBA o país elevou o nível de intolerância de práticas de corrupção a outro patamar, e poderá trazer vantagens e contribuições para o mercado global, podendo, assim, estabelecer padrões éticos rígidos. A estrutura da legislação Bribery Act é dividida em vinte seções que definem as condutas, aplicação da sua norma, os sujeitos, a jurisdição de alcance da legislação e a extensão. Em face disso, a UKBA vai ter alcance jurisdicional maior que a FCPA e vai trazer na seção 12 a jurisdição de sua aplicação. Toda vez que uma corporação praticar umas das omissões prescritas, caberá a aplicação da Lei Britânica independentemente da localidade do delito: A seção 12 da referida normal legal, que se aplica às seções: (i) corrupção ativa de outras pessoas; (ii) corrupção passiva de outras pessoas; e (iii) suborno de funcionários públicos estrangeiros, trata dos que estão dentro do escopo jurisdicional britânico, sendo todos os cidadãos e organizações comerciais do Reino Unido, independentemente de onde os atos ilícitos ocorreram. Em termos de “suborno de funcionários públicos estrangeiros”, há jurisdição britânica sempre que o agente ativo do suborno tenha, comprovadamente, estreita ligação com o Reino Unido. (LEAL, 2016, p.31) No que diz respeito ao programa de compliance, a UK Bribery Act possui seis princípios que a doutrina mostra como referencial para o programa de compliance: (i) Proporcionalidade dos procedimentos de acordo com os riscos, as circunstâncias e a complexidade dos negócios, devendo os mesmos serem claros e acessíveis a todos os colaboradores e fornecedores da empresa; (ii) Comprometimento concreto da alta administração da empresa; 33 (iii) Avaliação de riscos (risk assement) de forma periódica e documentada; (iv) Procedimentos constantes de due diligence com finalidade de mitigar riscos relacionados a corrupção; (v) Comunicação interna e externa, incluindo treinamentos, a fim de orientar os colaboradores e fornecedores sobre os riscos e compliance; e (vi) Monitoramento e revisão periódica do programa de compliance. (BERTOCELLI, 2020, p.1484) A legislação do Reúno Unido aplica-se às empresas do Reúno Unido, aquelas que fazem negócios no exterior, empresas estrangeiras operando no pais, funcionários públicos e estrangeiros, ao setor público e privado, e compete a SFO Serius Fraud Office ou a Economic Crime Agency ECA, apurar as infrações de violação que diz respeito à corrupção estrangeira “da mesma forma que na lei americana, são passíveis de investigação e punição empresas com ligação com o Reino Unido, não importando onde o crime tenha ocorrido. O foco também são atos de corrupção. ” (COLARES, 2014, p. 82) O destaque principal trazido pela Legislação Uk Bribery Act foi a importância conferida ao programa de compliance, segundo Carvalho (2015 apud LEAL, 2016 p.32): A legislação britânica é, mais uma vez, a que mais se destaca na importância conferida aos programas de “compliance”. Ao erigir à categoria de ilícito penal autônomo a mera conduta de falhar na prevenção da corrupção, o UKBA transfere ao particular todo ônus de prevenir a prática de atos de corrupção em qualquer elo da cadeia de negócios da empresa, tornando-a responsável por desenhar, implementar, aplicar e avaliar sua própria regulamentação. No que menciona Leal (2016, p. 32) o Relatório Anticorrupção da União Europeia de 2014 destaca a legislação britânica, em relação às demais, como uma forma eficaz de prevenção à corrupção: Um quadro jurídico sólido para combater a corrupção nacional e transnacional – Reino Unido A lei da corrupção de 2010, que entrou em vigor a 1 de julho de 2011, coloca o Reino Unido entre os países com as normas anticorrupção mais severas do mundo. Não só criminaliza o pagamento e o recebimento de subornos e o suborno de funcionários estrangeiros, como estende a responsabilidade criminal a organizações comerciais que não conseguem prevenir atos de corrupção cometidos em seu nome. […]. As organizações comerciais estão isentas de responsabilidade criminal se dispuserem de procedimentos adequados para prevenir a corrupção. (Leal, 2016, p. 32) 34 As organizações comerciais que apresentarem provas de que haja procedimentos que evitem as condutas corruptas acabam sendo isentas da responsabilidade criminal. O ministério da justiça britânico produziu um guia sobre o programa de compliance para orientar as empresas acerca do tema, tendo como objetivo a prevenção, compromisso de alto escalão, Due Diligence, avaliação de risco, treinamento, comunicação, além do monitoramento do programa e revisão. (LEAL, 2016, p. 32) A Justiça Britânica buscou trazer diretrizes acerca de manter uma cultura de anticorrupção, de acordo com Leal (2016, p. 33), essas diretrizes tem o objetivo em relação a legislação sobre o que poderiam ser “procedimento adequados”. 1. O Programa deve ser adaptado para refletir as circunstâncias e a cultura de uma empresa em particular, levando em consideração fatores de risco potenciais como tamanho, setor de negócios, natureza do negócio e locais de operação. 2. A empresa deve assegurar que seja informada de todas as questões internas e externas relevantes para o desenvolvimento e implementação eficazes do Programa e, em particular, as melhores práticas emergentes, incluindo o envolvimento com as partes interessadas relevantes. 3. A empresa deve analisar quais áreas específicas representam os maiores riscos de suborno e design e implementar o seu Programa em conformidade. 4. A empresa deve estar aberta a receber comunicações das partes interessadas relevantes com relação ao Programa. (LEAL, 2016, p. 33) Diante de várias legislações anticorrupção criadas pelo mundo, com destaque para a UKBA e a FCPA, o Brasil passou a ser subordinado a mais de uma legislação, além daquela criada em seu solo, a LAC, Lei Anticorrupção Brasileira de 2013. Diante disso, mostraremos um comparativo entre as três principais leis estudadas pelo trabalho. USA FCPA UKBA LAC BR Corrupção de funcionários públicos estrangeiros Sim Sim Sim Corrupção de funcionários públicos nacionais Não Sim Sim 35 Alcance extraterritorial Sim Sim Sim Dispositivos contábeis e de controles internos Sim Não Não, mas a existência de controles internos e auditoria poderá ser motivo para diminuição das sanções, de acordo com o art. 7º, VII, da lei. Outros atos lesivos Não Não Sim, inclui outros atos contra a administração pública (e.g., fraude em licitações, frustrar competitividade em licitação) Exceção para pagamentos de facilitação Sim Não Não Responsabilidade penal da pessoa jurídica Sim Sim Não Responsabilidade objetiva Não Sim, por "failure to prevent bribery" Sim Multas Violação anticorrupção: Multa de até US$ 2 milhões por violação. Violações contábeis: multa de até US$ 25 milhões por violação. Duas vezes o benefíciopretendido ou pretendido Ilimitada Multa de até 20% do faturamento bruto da empresa ou até 60 milhões (se não for possível utilizar o critério de faturamento bruto) Outras sanções Declaração de idoneidade, monitoramento etc. Declaração de idoneidade. Publicação da decisão condenatória, suspensão ou interdição das atividades etc. Crédito pela existência de programas de Compliance Sim (U.S. Sentencing Guidelines) Sim, (pode ser absoluta para o crime de “Failure to Prevent Bribery” Sim, (montante do crédito ainda não determinado. Depende de regulamentação) Crédito por reporte voluntario e cooperação Sim Sim, mas limitado Sim (redução de até 2/3 do valor da multa e exclusão das demais sanções – depende de regulamentação) QUADRO 1: Comparativo FCPA, UKBA e a Lei Brasileira de Anticorrupção (COLARES, 2014, p. 88) Feita a análise da previsão das sanções para atos praticados por funcionários públicos nacionais, alcance extraterritorial, dispositivos contábeis e de controles internos, atos lesivos, pagamentos de facilitação, responsabilidade penal da pessoa jurídica e multas, a Lei brasileira inclui outros tipos de atos lesivos, como por exemplo as fraudes em licitações e a frustação à competitividade. Percebe-se no quadro comparativo, que as multas brasileiras por atos de corrupção acabam não 36 chegando ao caráter ilimitado da UKBA e acaba sendo mais agressiva que a FCPA. A LAC demonstra ser um instrumento importantíssimo ao combate da corrupção e a implementação do programa de compliance. (COLARES, 2014, p. 88) A legislação brasileira anticorrupção apresenta como instrumento importante para combater a corrupção do país e, vai servir como papel importante para a implementação do programa de compliance, em que seu objetivo é a busca de um mundo ético longe de atos corruptores. 37 3 COMPLIANCE E O DIREITO: CAMPO PROFISSIONAL A implementação de um programa de compliance efetivo visa a mitigação de riscos perante os clientes e terceiros, reduz as perdas financeiras e mantêm a reputação perante o mercado, reduz a chamada “Turn Over” (porcentual anual de contratação e desligamento de funcionários) e facilita também acesso a créditos. Por isso, o compliance tem que ser visto como um programa de extrema importância para o desenvolvimento de uma empresa. (DAMACENO, 2020) Por ser um instituto que visa inibir práticas corruptoras, o compliance vai demandar vários procedimentos. De acordo com um estudo realizado pela Lec Community, as ferramentas principais para a implementação de uma cultura de compliance é: a análise de risco (Risk Assement), comprometimento e suporte de alta administração (Tone From the Top), código de ética e de conduta, controles internos de auditoria, comunicação e treinamento e canais de denúncia. (OS 10 PILARES, 2017) Um programa de compliance eficiente está na sua alta administração. Segundo o guia de programa de compliance para empresas privadas, da Controladoria Geral da União, o comprometimento da alta administração é: O comprometimento da alta direção da empresa com a integridade nas relações público-privadas e, consequentemente, com o Programa de Integridade é a base para a criação de uma cultura organizacional em que funcionários e terceiros efetivamente prezem por uma conduta ética. Possui pouco ou nenhum valor prático um Programa que não seja respaldado pela alta direção. A falta de compromisso da alta direção resulta no descompromisso dos demais funcionários, fazendo o Programa de Integridade existir apenas “no papel”. (COTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, 2015) Portanto, é um pilar fundamental o comprometimento e o apoio da alta administração para a efetividade do programa de compliance, uma vez que representa a possibilidade de poder de avaliação de comportamentos, dados, registros, formados a partir de tomada de decisões pautados na ética e na integridade. Entretanto, não faria sentido um estabelecimento estruturar uma política de compliance com normas, regulamentos internos se o desejo de as cumprir não está no topo da administração. (GAZONI, 2019, p.91) Outro aspecto importante do compliance é a análise de risco (Risk Assessment), de acordo com o guia de programa de integridade para as empresas 38 privadas da Controladoria Geral da União (2015), a estruturação do programa depende de uma avaliação de risco, levando em conta as características do mercado onde a empresa atua, como por exemplo, a cultura local, nível de regulação estatal, histórico de corrupção, etc. A avaliação é de extrema importância para detectar as possíveis ocorrências de fraudes e corrupção, inclusive casos ligados a fraude de licitação e contratos e o impacto que pode gerar para a empresa, com isso, os riscos identificados obtidos por essas informações devem ser mapeados, para que se possa desenvolver as políticas, regras e procedimentos para evitar as ocorrências, prevenindo e detectando atos que estão em desacordo. Assim, o mapeamento de risco é de extrema importância e deve ser realizado com frequência, a fim de identificar a possibilidade de ocorrência de novos riscos, que podem ser decorrentes de alteração da legislação ou da edição de novos regulamentos internos ou externos. (CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, 2015) O Código de ética e de conduta estabelecido no programa de compliance é a base fundamental para a divulgação dos princípios e valores corporativos, estabelecendo assim diretrizes e parâmetros relacionados ao padrão de conduta a ser seguido pelos seus administradores, funcionários e de todos os públicos relacionados com a empresa, assim como os clientes, servidores públicos, fornecedores, agentes intermediários, entre outros. (LOOSLI; IKO, 2019, p.165) O programa de integridade, de acordo com o artigo 41 do Decreto n° 8.420/2015, dispõe acerca de programa de integridade, busca abordar, no âmbito da pessoa jurídica, um conjunto de mecanismos e procedimentos do programa de compliance. Art. 41. O programa de integridade consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira. Parágrafo Único. O programa de integridade deve ser estruturado, aplicado e atualizado de acordo com as características e riscos atuais das atividades de cada pessoa jurídica, a qual por sua vez deve garantir o constante aprimoramento e adaptação do referido programa, visando garantir sua efetividade. (BRASIL, 2013) A política de integridade consiste em desenvolve padrões éticos e morais para a pessoa jurídica com o intuito de garantir que as leis e as normas internas sejam 39 efetivamente cumpridas, sendo assim um diferencial para a empresa competir no mercado. Por sua vez, os controles internos têm a finalidade de realização de objetivos específicos de uma empresa por meio de um conjunto de políticas adotadas pela administração da empresa. O objetivo é assegurar o cumprimento da legislação interna e externa, a utilização de maneira eficiente e eficaz de recursos, redução de incerteza e a minimização de riscos financeiros, operacionais, regulatórios, de imagem ou legais. (LEME, 2019, p. 212) A comunicação e o treinamento no programa de compliance é uma ferramenta essencial, diretrizes trazidas pelo guia do programa de integridade para as empresas privadas da Controladoria Geral da União (2015) destacam o seguinte: Considerando que, em razão da natureza do trabalho, parte dos funcionários pode não ter