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Ana Elisa A. G. Problema 1 Fechamento 1 Dengue Arbovirose: vírus transmitidos por artrópodes. Vetor: Aedes aegypti (Brasil) Aedes albopictus (Ásia; no Brasil não transmite). Classificação Síndrome Febril Até 7 dias pelo Mozart; até 5 dias pelo NEJM+ 2 desses PROBLEMAS: o Petéquias o Rash o OrBital (dor) o Leucopenia o Êmese o Mialgia o Artralgia o “cefaléia” Fase Crítica Esta fase pode estar presente em alguns pacientes, podendo evoluir para as formas graves. Dengue com sinais de alarme (internar!) o Disfunção leve de órgão (TGI ou neurológica) o Dor abdominal intensa e contínua o Vômitos persistentes o Hepatomegalia > 2 cm o Letargia ou irritabiliade o Plaquetopenia (se menor que 20.000, mesmo sem sgto, internar) o Sangramento de mucosas o Aumento da permeabilidade vascular o Aumento progressivo do hematócrito o Hipotensão postural (lipotímia): PA sentado e em pé o Derrame pericárdico, pleural e peritoneal Dengue Grave Choque (3Ps): pressão, pulso e periferia o Diminuição da PA ou PA convergente (diferença entre S e D < 20 mmHg) o Pulso fino e rápido o TE capilar > 2 segundos; extremidades frias o Sangramento grave: hematêmese, melena e em SNC o Disfunção orgânica grave: encefalite, hepatite (AST e ALT > 1.000), miorcadite. Fase de Recuperação Nos pacientes que passaram pela fase crítica haverá reabsorção gradual do conteúdo extravasado com progressiva melhora clínica. Diagnóstico Até 5 dias de evolução o Procurar vírus: Isolamento viral ou Antígeno NS1 Mais de 5 dias o Procurar anticorpo: Mac - ELISA IgM o Quando solicitar: Sem epidemia vigente SEMPRE o Durante epidemias: nos pacientes B, C e D e na dúvida diagnóstica Chikungunya o Gravidade menor que a da dengue o Mais sintomas articulares Zika o Gravidade menor que a da dengue o ⇑ rash (desde o início), hiperemia conjuntival o Danos neurológicos: Guillan-Barré, microcefalia? Ana Elisa A. G. Febre Amarela Vetor da forma silvestre: haemagogus e Sabethes. Vetor da forma urbana (erradicada a forma do BR desde 1994: Aedes aegypti. Reservatórios: macacos (sagui). Quadro Clínico o 90% autolimitadas (dengue + Sinal de Faget) o 10% forma grave, de letalidade de quase 50% o Insuficiencia Hepática + Hemorragia + Insuficiencia Renal Fechamento 2 Leptospirose Principal causa de Síndrome Pulmão-Rim no Brasil. Agente: Leptospira interrogans (“mora” no rim do rato). Transmissão: contato com a urina do rato. A espiroqueta a pele com lesão de contiguidade e a mucosa Período de incubação: 1 a 30 dias, com média de 5 a 14 Formas Clínicas Anictérias (90% dos casos) / fase precoce Fase leptospirêmica/septica (até 7º dia) o Síndrome febril + mialgia importante. o Dor na panturrilha o Sufusão Conjuntival (o sinal mais característico que é decorrente da vasculite) Fase imune (após o 7º dia) o Meningite asséptica + uveíte Ictérico-hemorrágicas (10%) o Do quarto ao nono dia, piora do quadro (D Weil). Icterícia rubinica o Hemoptise o Insuf. Renal (NIA) com hipocalemia (junto à nefroesclerose hipertensiva maligna e a IRA por anfotericina e aminoglicosídeo) o Ou seja, Dça de Weil: icterícia + disfunção renal aguda + diátese hemorrágica o Principal causa de óbito: capilarite pulmonar Ana Elisa A. G. Diagnóstico Inespecífico: Plaquetopenia + aumento de CPK + IRA com hipokalemia. Específico o Fase precoce: Cultura (sangue, urina, PL): 50% positivam e PCR o Fase Tardia: ELISA IGM, Microaglutinação Cd: notifica. Casos leve ou profilaxia: Doxiciclina ou Amoxicilina (lembrar do concurso) o Casos graves: penicilina cristalina + diálise Hantavirose Período de Incubação: Em média de 2 a 3 semanas (1 a 5 semanas segundo o MS), com variação de 3 a 60 dias. Período de transmissibilidade: no homem é desconhecido. Estudos sugerem que o período de maior viremia seria alguns dias que antecedem o aparecimento dos sinais e sintomas. Transmissão: inalação aerossol contaminado com fezes saliva ou urina roedores ou contato direto Quadro Clínico Forma cardiopulmonar (grave). Insuficiência respiratória aguda Principais alterações laboratoriais Aumento do hematócrito (> 45%), trombocitopenia (< 150.000), leucocitose (> 12.000) comneutrofilia e desvio para a esquerda, linfopeniarelativa comlinfócitos atípicos, alteração do coagulograma, elevaçãodas transaminases, aumento da LDH e hipoproteinemia. Diagnóstico Sorologias por ELISA, detecção de antígenos ou PCR em casos específicos. Profilaxia Pelo controle de roedores nas redondezas das casas, coleta adequada de lixo, manutenção dos ambientes limpos. Esquistossomose Aguda Dermatite cercariana + síndrome febril eosinofílica (febre de Katayama), polimicrolinfadenopatia e hepatoesplenomegalia. Crônica Hipertensão portal com formação de granulomas pré-sinusoidal. Formas intestinal, hepática, hepatoesplênica. o Esquistossomose não é só do intestino e do fígado. É raro, mas pode ter no pulmão, na medula, órgãos genitais, pele, retina, tireoide e coração ou qualquer outro local do corpo humano. Diagnóstico Pesquisa de ovos nas fezes,após 40 dias, através dos métodos de Lutz e Kato-Katz e por biópsia na mucosa retal, esta última indolor. Tratamento Praziquantel ou oxaminiquine. Ana Elisa A. G. Problema 2 Fechamento 1 Referencias: o Guia de Vigilância em Saúde, MS, 4°edição, 2019. o Clínica Médica USP, 7° volume, 2° edição, 2016. o Dermatologia, Azzulay, 6° edição, 2013. o Dermatologia, Fitzpatrick, 7° edição, 2015. o Febre de Origem Indeterminada em Adultos, Revista Brasileira de Medicina Tropical, 2005. Leishmaniose Visceral ou Calasar Nas Américas, a protozoose é causada pela Leishmania (L.) chagasi, responsável pela LV americana ou calazar americano. o Vetor: Lutzomyia longipalpis (inseto) o Reservatórios: o cão e a raposa. o A transmissão também se dá por meio de agulhas contaminadas. L. donovani (lndia) ou L. infantum (no Mediterrâneo. Disseminação do parasito em órgãos ricos em células do sistema fagocítico mononuclear, como o figado e o baço. o Período de incubação: duração de meses (2 a 5 meses), mas existem relatos extremos, de dias até vários anos. Epidemiologia o A transmissão também se dá por meio de agulhas contaminadas. o Esse inseto contamina -se quando suga o sangue da pele dos canídeos infectados, ingerindo parasitos ali presentes. o Existem ainda formas raras de transmissão da LV, como a congênita, via transplacentária. o Migração populacional, o desmatamento, a expansão urbana desordenada e a adaptação do inseto vetor nas regiões periurbanas e urbanas. Fisiopatologia Os parasitas induzem a produção sistêmica de TNF-a (citocina que causa febre, caquexia, anorexia e pancitopenia). Em níveis moderados, TNF-a facilita a eliminação da Leishmania, mas em níveis muito elevados pode provocar expansão dos vasos sanguíneos e extravasamento de fluidos para o interstício, e até choque hipovolêmico. Por este motivo, o nível de TNF-a pode ser considerado um marcador prognóstico na leishmaniose visceral. Promastigota: vida extracelular, alongado e móvel. Pode ser encontrado no vetor transmissor (flebotomineo) e também nos meios de cultura utilizados para o diagnóstico da doença. Nos macrófagos de mamíferos, incluindo o homem, as formas amastigotas se multiplicam até destrui-los. Com a morte do macrófago, o parasito fica livre no meio extracelular, podendo ser novamente fagocitado por outros macrófagos ou ser ingerido por flebotomíneos (hospedeiro intermediário) após sugarem o sangue desses mamíferos infectados, refazendo- se o ciclo. Comprometimento do sistema fagocítico mononuclear - sua hipertrofia, hiperplasia e parasitismo,especialmente no fígado e baço. Verificam-se, além disso, alterações histopatológicas com depleção de linfócitos nas áreas T-dependentes do baço e de gânglios linfáticos. Pulmões: pneumonia intersticial e focos de fibrose septal. Rins: comprometimento glomerular discreto, com hiperplasia e hipertrofia do sistema reticuloendotelial (células mesangiais), configurando-se uma glomerulite, com depósitos de lgG, lgM, fibrinogêoio e complemento. Ana Elisa A. G. Manifestações Clínicas Febre irregular, anemia, desnutrição, estado geral comprometido, hepatoesplenomegalia e linfonodomegalias. o Leishmanioma de inoculação: no local da picada do flebótomo infectante, e caracteriza-se por lesão papulosa, nodular ou ulcerada, com numerosos parasitas. É indistinguível das lesões de inoculação da leishmaniose tegumentar; a diferenciação se faz pela confirmação de leishmânias na medula óssea, fígado, baço e sangue; o teste de Montenegro é negativo. o Leishmanoide: lesões generalizadas maculares, papulosas ou nodulares (lembra a (LCDP). Vias de cura sob tratamento específico. São lesões ricas em leishmânias. Teste de Montenegro: negativo. Distingue-se da LCDP difusa pelo fato de aparecer em doente com leishmaniose visceral prévia. o Forma assintomática: corresponde à infecção inaparente e é detectada em indivíduos sem manifestação clínica em inquéritos epidemiológicos ou em áreas de transmissão, pela positividade da intradermorreação (leishmaniose) ou pela presença de anticorpos espedficos no soro. o Forma oligossintomática: pode passar despercebida ou ser confundida com outras doenças infecciosas. Discreto comprometimento do estado geral. A suspeita clinica baseia-se na história de febre, discreta anemia, diarreia, emagrecimento e adinamia. Em geral, não se relata febre. Hepatomegalia normalmente está presente e não ultrapassa 5 cm, e a esplenomegalia é discreta e pode estar ausente. Hemograma normal ou com anemia, velocidade de hemossedimentação elevada e eletroforese de proteína normal. o Forma clássica: é a doença plenamente manifesta. Crônica. Febre: geralmente alta e diária, tipicamente apresentando dois picos diários, podendo sofrer períodos de remissão espontâneo. Pode ser acompanhada de calafrios e ser seguida de sudorese. Manifestações hemorrágicas e gastrointestinais, respectivamente epistaxes, hematêmese, gengivorragias e quadros diarreicos, anorexia, enfraquecimento e emagrecimento, sinais clínicos de desnutrição grave, como cabelos secos e quebradiços, cílios longos e pele seca. Ao mesmo tempo, surge a palidez cutânea, que vai se acentuando, o paciente nota o aumento progressivo do volume abdominal, referindo desconforto no hipocôndrio esquerdo. Ocorre aumento gradativo do tamanho do fígado e sobretudo do baço. Sinal de bandeira: cabelo com dois a três tons de cor. o Icterícia: pouco frequente (apenas nos casos graves e de evolução longa). Diagnostico o Mielograma: presença de amastigotas. o Punção esplênica: mais difícil de ser feita. o Reação de imunofluorescência indireta o Elisa o Teste rápido imunocromatográfico (IC): barato e não invasivo que requer uma gota de sangue total ou soro. o Teste de aglutinação direta (DAT): baixo custo, com sensibilidade de 91 a 100%. o Teste de aglutinação em látex: é simples, fácil de executar, barato, rápido, e pode ser usado como um teste de triagem. o PCR Tratamento o Internação: todos os pacientes com a forma grave, com alterações laboratoriais que podem ser consideradas fatores de mau prognóstico em decorrência de risco de infecção ou sangramento, como leucopenfa menor que 1.000/mL ou neutropenia grave Ana Elisa A. G. (menor que 500/mm') e plaquetopenia abaixo de 50.000/mL. o Glucantime: 20mg SB+5 (pela quantidade de sal de antimoniato/kg/dia por 20 a 40 dias (exceto em gestantes, cardiopatas, nefropatas e hepatopatas). Complícações Hemorragias e, sobretudo, as infecções bacterianas, sendo as pneumonias e as septicemias as potencialmente mais graves e podem levar ao óbito. o Apesar da depressão da imunidade celular observada, não ocorre infecção disseminada por patógenos intracelulares. Reinfecção por HIV Pode ocorrer reativação da infecção leishmaniótica ou por um a forma alternativa de infecção, decorrente da inoculação intravenosa de Leislm1a11ia spp., por meio de compartilhamento de agulhas e seringas entre viciados em drogas (transmissão inter-humana), chamado de ciclo alternativo de transmissão. A triade clássica: febre, hepatoesplenomcgalia, pancitopenia. o Astenia, emagrecimento e adenomegalias. o O acometimento do trato gastrointestinal (TGI) é frequente, podendo ocorrer diarreia, desconforto retal, disfagia, odinofagia e epigastralgia. o Lesões cutâneas variam de pápulas a úlceras, sendo únicas ou múltiplas; lesões atípicas caracterizadas por máculas ou pápulas disseminadas podem ser encontradas, mas as úlceras são mais comuns. Diagnóstico: pode ter implicações na abordagem da leishmaniose quanto à indicação terapêutica, ao monitoramento de efeitos adversos, à resposta terapêutica e à ocorrência de recidivas. Portanto, deve-se oferecer a sorologia para HIV a todos os pacientes com LT, independentemente da idade, conforme as recomendações do MS. Leishmaniose Tegumentar ou Cutânea Evolução eminentemente crônica, que atinge exclusivamente a pele (tipo "botão do oriente") e, às vezes, tan1bén1 mucosas (tipo mucocutânea). o Além de pele e mucosas, eventualmente afeta cartilagens. Úlcera de Bauru, nariz de tapir, botão do Oriente o Causa: protozoário do gênero Leishniania. o Transmição: picada de flebótomo fêmea infectado, que é o vetor da doença. L. tropica: leishmaniose cutânea, tipo botão do oriente. L. braziliensis: leishmaniose mucocutânea e cutânea. L. amazonenses: Pode ser responsável por formas cutâneas, cutâneo-mucosas ou com a forma tegumentar difusa. L. Guyanensis: quadro cutâneo com múltiplas lesões. L. launsoni L. naiffi: cutânea Epidemiologia o Acomete mais homens que mulheres e mais adultos que crianças. Estima-se a prevalência no mundo de 12 milhões de casos. o Zoonose primária de mamíferos silvestres como roedores, marsupiais, edentados e primatas. o Garimpo, expansão agrícola c0m condições ambientais favoráveis à transmissão da doença. Patogênese o As formas amastigotas ingeridas pelo flebótomo (Llltzomya) na picada nos animais infectados, depois de 4 a 7 dias, transformam- se em formas promastigotas. Ana Elisa A. G. o Após a introdução das formas amastigotas, os parasitas perdem o flagelo, transformando-se em formas aflageladas. Forma parasitária: amastigota (ovoide e sem flagelo) intracitoplasmática nos macrófagos; a maior ou menor quantidade de parasitas em determinada lesão vai depender, em última análise, do estado imunitário do hospedeiro. Na histopatologia verifica-se que as alterações na pele ou nas mucosas variam desde inflamação exsudativa aguda (conforme constatado na lesão hematogênica de 2 dias de existência) até a formação de granuloma tuberculoide completo. Pode haver infiltração linfo-histiocitária ou plasmolinfo-histiocitária. Clareiras de Montenegro, ou centros claros de Buss: são acúmulos discretos de células epitelioides (estrutura tuberculoide incipiente); pode ocorrer, ainda, necrose e vasculite necrosante. Nesse contexto, as leishmânias são encontradas, em geral, em pouca quantidade, no interior dos macrófagos. Essas estruturas dependem, sobretudo, do linfócito T especificamente sensibilizado. Quando há falência imunológica, ou seja, inexistência de linfócitos T específico-sensíveis, observa-se verdadeira histiocitomatose, isto é, proliferação difusa de macrófagos plenos de leishmânias, como na forma difusa anérgica. Após a inoculação na pele, o parasita é fagocitado pormacrófagos do hospedeiro e assume sua forma amastigota. Por se tratar de um parasita intracelular obrigatório, a imunidade celular - perfil de resposta Th1 - tem papel central no controle da infecção. Nos pacientes com resposta Th1 adequada, há produção de interferon-alfa e IL-2. O interferon-alfa é a citocina mais importante na eliminação de parasitas no interior dos fagolisossomos de macrófagos infectados. Ela induz a produção de espécies reativas de oxigênio e a transformação de células T CD4- naive em células Th1. Também faz parte deste processo a IL-12, que estimula células NK a produzirem interferon-a. O fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) produzido pelos macrófagos e células natural killers (NK), quando em níveis moderados, também propicia o controle da infecção, ampliando a ativação de macrófagos pelo interferon-a. Sua produção é estimulada pela IL-2. Manifestações Clínicas o O período de incubação varia de poucos dias a meses. o Pápula eritematosa, única ou múltipla, 1 a 4 semanas após picada do inseto. o Em áreas descobertas. o Lesão evolui. o Não há cicatrização da lesão. Morfologia da lesão: pode ser apenas a de um eritema com edema e infiltração, pápula, tubérculo, verrucosidade ou úlcera, medindo de alguns milímetros a centímetros. Começa como uma pequena pápula eritematosa, que pode surgir imediatamente após a picada do mosquito-pólvora, mas que comumente se desenvolve duas a quatro semanas mais tarde. A pápula cresce lentamente até alcançar 2 cm no decorrer de um período de várias semanas e adquire tonalidade violácea e escura. Por fim, a lesão torna-se crostosa no centro, com úlcera superficial e bordas endurecidas e elevadas = sinal do vulcão. Em alguns casos, o centro do nódulo torna-se hiperceratótico, formando um corno cutâneo. Pode haver desenvolvimento de pápulas-satélites pequenas na periferia da lesão e, em certas ocasiões, nódulos subcutâneos ao longo do trajeto dos vasos linfáticos proximais. A extensão periférica termina geralmente depois de dois meses, e o nódulo ulcerado persiste por mais três a seis meses ou por mais tempo. Em seguida, a lesão regride, deixando uma cicatriz ligeiramente deprimida. Em alguns casos, a LC permanece ativa, com esfregaços positivos durante 24 meses (LC crônica não cicatrizada). A quantidade de lesões depende das circunstâncias da exposição e do grau de infecção do mosquito-vetor. Podem resultar em múltiplas lesões, até 100 ou mais. o Úlcera: apresentação mais frequente, é circular, com bordas elevadas e infiltradas (em moldura), fundo com granulação Ana Elisa A. G. grosseira e avermelhada, recoberta por exsudato discreto, seroso ou seropurulento. Involui espontaneamente após alguns meses (6 a 15), deixando cicatriz atrófica e apergaminhada, pigmentação salpicada, muitas vezes mais intensa na periferia, com arranjo que lembra os raios da roda de uma bicicleta, denunciando o ponto de inoculação nos pacientes com doença já avançada (forma mucosa). o Lesões por disseminação hematogênica: São as leishmânides, que, normalmente, são lesões habitadas ou podem ser consequentes a antígenos ou restos da leishmânia. o Na pele: papulopustulosas (impetigoides), ulcerocrostosas (ectimatoides), papulofoliculares (liquenoides), tuberosas (micro e macrotuberosas) com arranjos circinados ou em placas de aspecto lupoide, nódulos (raramente), vegetantes (úmidas ou secas), ulceronodulares e ulcerosas. Lesões hematogênicas: mucosas da boca, nariz, laringe, faringe e, menos frequentemente, órgãos genitais e conjuntiva. Algumas vezes, surgem lesões mucosas, destrutivas ou não, meses ou anos após o início da doença, em uma fase em que já não há lesões cutâneas, em que pese o achado eventual de leishmânias na mucosa nasal sem lesão clínica. A mucosa pode estar espessada, edematosa, friável, dolorosa e com odor fétido. Cruz de Escomel: refere-se à interseção dos septos fibrosos do palato que estão poupados e as lesões mamelonadas adjacentes; com o passar do tempo ocorrem úlceras, com destruição do septo cartilaginoso e, às vezes, subsepto, provocando a queda da ponta do nariz (aspecto buldogufoi rme), ulcerovegetante (polipose, em especial nas formas nasais, com aspecto ozeniforme). Úlcera típica: indolor, com formato arredondado ou ovalado, com bordas bem delimitadas e elevadas, fundo avermelhado e granulações grosseiras. Forma mucosa: lesões destrutivas localizadas na mucosa, em geral nas vias aéreas superiores. Ana Elisa A. G. Diagnóstico o Suspeita clínico-epidemiológica associada a dados laboratoriais. o Exame parasitológico direto, através de exame do raspado da borda da lesão, ou “in- print” feito com o fragmento da biópsia; histopatologia, intradermorreação, reação de Montenegro-IRM. o Sorologia pode ser útil. o Pesquisa de parasitas de esfregaço das lesões por meio da coloração de Giemsa. o lntradermorreação de Montenegro com leitura de 48 a 72 horas, positiva com enduração maior de 5 mm. o Histopatológico com coloração de hematoxilina eosina e com anticorpos com marcação com imunoperoxidase. o Cultura cm meio de NNN. o Isolamento do parasita cm animais como lramster. o Sorologia com imunofluorescência, Elisa e aglutinação direta. o Reação em cadeia da polimerase (PCR). o Como há destruição do septo nasal, pode ter como diagnostico diferencial o uso de cocaína. Tratamento Deve-se fazer avaliação da função renal e das alterações cardíaca e hepática. Forma cutânea localizada: feito primordialmente de forma sistêmica com antimoniato de meglumina, 15mg/kg/dia. Menor tempo de tratamento e menor dose. Leishmaniaguyanensis: preferencialmente o uso de isetionato de pentamidina como medicamento de primeira escolha Forma Disseminada: antimoniato de meglumina. Forma grave: isetionato de pentamidina o Antimonial pentavalente (N·meti.lglucamina) - glucantima- na dose de 10 a 20 mg /kg/dia por 20 a 30 dias. Na prática, para adultos, usa-se 2 a 3 ampolas injetadas via intramuscular ou endovenosa lenta, diariamente. o Podem ocorrer efeitos colaterais como artralgias, mialgias, náuseas, vômitos e tosse. Deve-se fazer controle de transaminases, função renal e cardíaca antes e durante o tratamento. o Em casos resistentes, recomenda-se anfotericina B por via endovenosa, gota a gota, em 6 a 8 horas, na dose de 50 mg (iniciar com 25 mg), associada a 50 mg de hidrocortisona solúvel cm soro glicosado 5%, diariamente ou em dias alternados até atingir Ana Elisa A. G. a dose total de 1.200 a 2.000 mg. ~ cardio e nefrotóxica, e não se conhece sua segurança na gravidez e na lactação. o A anfotericina B lisossomal é indicada em casos de nefrotoxicidade na dose de 1 a 3 mg/kg de peso, diluída 50 mg/100 mL, por via endovenosa em 30 a 60 minutos, diariamente, por 2 a 4 semanas. o Outra opção é a pentamidina, apresentada em ampolas de 300 mg, adminjstrada na dose de 4 mg/kg, 3 vezes/ semana, por via intramuscular durante 5 semanas. Pode causar hipoglicemia e agravar o diabetes. o Acompanhamento de 2 a 17 meses, realizando todos os exames para analisar risco de reinfecção. Febre de Origem Indeterminada Presença de temperatura axilar maior do que 37,8ºC, em várias ocasiões, pelo tempo de 7 a 14 dias e três semanas, e que se mantém sem causa aparente após uma semana de investigação hospitalar. Tende a eliminar doenças infecciosas autolimitadas, sobretudo viroses, os pacientes com hipertermia habitual e os casos em que a propedêutica inicial identifica a causa da febre. Etiologia O uso indiscriminado de antibióticos e anti- inflamatórios, erros ou má interpretação de exames laboratoriais e deficiências no sistema de saúde. As infecções permanecem como a principal causa na maioria dos estudos, seguidas pelas doenças neoplásicas e inflamatórias. A febre factícia é rara e ocorre, mais frequentemente,em profissionais de saúde ou seus familiares do sexo feminino. A indução de febre representa manifestação de doença grave que exige tratamento psiquiátrico adequado. O paciente geralmente induz a febre por manipulação do termômetro ou auto-inoculação de material contaminado. Anamnese e Exame Físico A anamnese e o exame físico deverão ser completos e repetidos periodicamente; quaisquer alterações devem ser valorizadas. A experiência tem mostrado que, frequentemente, uma febre é obscura pelo fato de o médico não ter valorizado dados da história, do exame físico ou do exame complementar minimamente alterado. Ana Elisa A. G. o Agranulocitose por conta de imunossupressor: neutropenia gravíssima. Exame Físico No exame físico devem ser pesquisadas lesões cutâneas (exantemas, petéquias, nódulos), lesões na orofaringe, seios paranasais, dentes, visceromegalias, linfadenomegalias, massas abdominais ou pélvicas e sopros cardíacos. A curva térmica deve ser pesquisada e comparada com os padrões clássicos. O exame físico deve ser repetido diariamente até o diagnóstico ser obtido. É importante anotar o dia de início da moléstia atual e o dia no qual o paciente está sendo examinado, pois em várias moléstias os sintomas e exames complementares variam com o tempo, obtendo-se resultados diferentes conforme a evolução da doença. Não deve ser esquecido o exame de fundo de olho, boca, orofaringe, dentes e da região anal e reto. o Leucograma alterado, com aumento ou redução do número global de leucócitos; este dado é pouco específico, mas o estudo da morfologia dos mesmos pode mostrar alterações importantes, como a presença de linfócitos atípicos ou de eosinofilia. A velocidade de eritrossedimentação é outro destes exames de baixa especificidade, mas que em algumas situações pode ser muito útil, como, por exemplo, na arterite de células gigantes. A dosagem da fosfatase alcalina é muito útil na propedêutica da FOI. Sua elevação habitualmente aponta o acometimento hepático e a necessidade de investigação deste órgão. Como existem duas frações, óssea e hepática, pode ser conveniente esclarecer a qual delas deve-se a elevação em certos casos. Se a história e o exame físico não são sugestivos de nenhuma doença em particular, ou se há dificuldades para sua obtenção (pacientes com demência ou com distúrbios da fala), é lícito recorrer-se a certas rotinas de exames complementares. Fechamento 2 Referências o Guia de Vigilância em Saúde, MS, 2019. o Clínica Médica USP, 7° vol, 2° ed, 2016. o Dermatologia, Fitzpatrick, 7° edição, 2015. Hanseníase Doença crônica granulomatosa, proveniente de infecção causada pelo Mycobacterium leprae (bacilo). o É uma das mais antigas doenças que acomete o homem. Agente etiológico: álcool-ácido resistente, em forma de bastonete. O homem é a única fonte de infecção (e reservatório), embora tenham sido identificados Ana Elisa A. G. animais naturalmente infectados – o tatu, o macaco mangabei e o chimpanzé. Transmissão Trato respiratório. o Liberação de bacilos dos pacientes multibacilares. o Paucibacilares (PB) (ou seja, com poucos bacilos), indeterminados e tuberculóides: não são considerados importantes como fonte de transmissão da doença, devido à baixa carga bacilar. o Multibacilares: grupo contagiante. Período de incubação: 2 a 7 anos (mínimo 7 meses e máxima de 10 anos). Epidemiologia o Menos frequente em menores de 15 anos. o Em áreas mais endêmicas, a exposição precoce, em focos domiciliares, aumenta a incidência de casos nessa faixa etária. o Predominância do sexo masculino. o Adquirida na infância e na idade adulta jovem. o Nos africanos negros, a suscetibilidade é alta, porém, há predomínio de formas mais brandas da doença, isto é, HT versus HL. Classificação o Tuberculoide (HT): acometimento cutâneo localizado e/ ou comprometimento dos nervos periféricos; poucos microrganismos. o Lepromatosa ou Virshowiana (HL): acometimento generalizado, incluindo a pele, as mucosas das vias respiratórias superiores, o sistema reticuloendotelial, as glândulas suprarrenais e os testículos; numerosos bacilos porque nesse nível a imunidade está baixa e eles se multiplicam muito mais rápido. o Limítrofe (borderline) (ou "dimórfica") (HB): apresenta características da HT e da HL. Em geral, presença de numerosos bacilos, com lesões cutâneas variadas: máculas, placas; evolui para a HT ou regride para a HL. o Formas indeterminadas. o Formas transicionais. Fisiopatologia O bacilo infecta a pele e os nervos cutâneos (lâmina basal da célula de Schwann). Os bacilos crescem melhor nos tecidos mais frios (pele, nervos periféricos, câmara anterior do olho, vias respiratórias superiores, testículos), preservando as áreas mais quentes da pele (axilas, virilhas, couro cabeludo e linha média do dorso). o Tropismo por macrófagos e células de Schawann. O microrganismo é capaz de invadir e se multiplicar nos nervos periféricos e de infectar e sobreviver nas células endoteliais e fagocíticas de muitos órgãos. A expressão clínica da hanseníase consiste no desenvolvimento de um granuloma. Espectro granulomatoso da hanseníase • Tipo tuberculose (TT) de alta resistência. • Tuberculoide limítrofe (borderline) (TB). • Polo lepromatoso de resistência baixa ou ausente (HL). • Região dimórfica ou limítrofe (borderline) (BB). • Duas regiões intermediárias. • Lepromatosa limítrofe (borderline) (HB). Reações tipo 1 da hanseníase: Hiperestesia e dor agudas ou insidiosas ao longo do(s) nervo(s) acometido(s), associadas à perda de função. Reações tipo 2 da hanseníase: Eritema nodoso leproso (ENL). Observadas em metade dos pacientes com HL; ocorrem geralmente após o início do tratamento para a hanseníase, com frequência nos primeiros dois anos de Ana Elisa A. G. tratamento. Inflamação maciça com lesões semelhantes ao eritema nodoso. Reação de Lucio: Pacientes com HL difusa desenvolvem úlceras descamativas poligonais grandes e superficiais nas pernas. A reação parece ser uma variante do ENL ou ocorrer secundariamente à obstrução arteriolar. Manifestações Clínicas Início indioso e indolor. o Parestesias dolorosas persistentes ou recorrentes e dormência sem quaisquer sinais clínicos visíveis. o Erupções cutâneas maculosas transitórias. o Bolhas, porém, sem qualquer traumatismo reconhecido. O acometimento neural leva a fraqueza muscular, atrofia muscular, dor neurítica intensa e contraturas das mãos e dos pés. Hanseníase Indeterminada: Forma inicial, evolui espontaneamente para a cura na maioria dos casos. Apenas uma lesão, de cor mais clara que a pele normal, com distúrbio da sensibilidade. Pode estar acompanhado de alopecia e/ou anidrose Hanseníase tuberculoide {TT, TB): Algumas máculas hipopigmentadas hipestésicas bem definidas, com bordas elevadas. o Borda eritematosa ou púrpura e centro hipopigmentado. o Geralmente única ou poucas. o Lesões demarcadas e elevadas; anulares; aumentam perifericamente. o A área central torna-se atrófica ou deprimida. o Dor, fraqueza e atrofia muscular. o Lesões avançadas são anestésicas e desprovidas de apêndices cutâneos (glândulas sudoríferas, folículos pilosos). Acomete qualquer local. o Pode haver perda total da sensibilidade térmica, tátil e dolorosa, ausência de sudorese e/ou alopecia. o Pode ocorrer a forma nodular infantil, que acomete crianças de um a quatro anos, quando há um foco multibacilar no domicílio o TB: as lesões não cicatrizam espontaneamente; podem ocorrer reações tipo 1 da hanseníase. o Acometimento dos nervos: pode haver um nervo espessado na borda da lesão; aumento pronunciado de nervo periférico (nervos ulnar, auricular posterior, fibular, tibial posterior). Não há acometimento da pele. Associado a hipestesia(picada de alfinete, temperatura, vibração) e miopatia. Hanseníase limítrofe ou dimorfa (borderline) BB o Lesões pré-faveolares ou faveolares: lesões são intermediárias entre as formas tuberculoide e lepromatosa e consistem em máculas, pápulas e placas, nódulos eritêmato- acastanhados, em grande número, com tendência à simetria. o A anestesia e a diminuição da sudorese são proeminentes nas lesões. o O acometimento dos nervos é mais extenso, podendo ocorrer neurites agudas de grave prognóstico. Ana Elisa A. G. Hanseníase lepromatosa ou Virshowiana (HL, HB): o Maior gravidade, com anestesia dos pés e mãos. o Pápulas/nódulos cor da pele ou ligeiramente eritematosos acastanhados (hansenomas), podem se instalar também na mucosa oral. o Hansenomas nos pavilhões auriculares, espessamento e acentuação dos sulcos cutâneos. o Tardiamente: nódulos de distribuição simétrica, placas elevadas, infiltrado dérmico difuso que, na face, resulta em queda dos pelos (nadrarose) (parte lateral dos supercílios e cílios) ou em fácies leonina (face de leão). o Fissura, ulcera, queimaduras, sem sensibilidade. o Não segura chinelo no pé e se machuca muito rápido. o Eritema nodoso Lepromatose difusa: que ocorre no oeste do México e no Caribe, manifesta-se na forma de infiltração difusa e espessamento da derme. Acometimento simétrico bilateral dos lóbulos das orelhas, da face, dos braços e das nádegas ou, com menos frequência, do tronco e dos membros inferiores. Língua: nódulos, placas ou fissuras. Membros: neuropatia sensorial, úlceras plantares, infecção secundária; paralisias ulnar e fibular, articulações de Charcot. O carcinoma espinocelular pode se desenvolver em úlceras crônicas dos pés. Diagnóstico Diagnóstico clínico. PCR: hanseníase paucibasilar no estágio inicial e identifica M. leprae após o início do tratamento. Sorologia: Mede os anticorpos IgM contra glicolipídeo fenólico-1 (PGL-1). Dermatopatologia: A HT apresenta granulomas de células epitelioides que se formam ao redor dos nervos da derme; os BAARs são esparsos ou ausentes. A HL apresenta infiltrado celular extenso, que é separado da epiderme por uma zona estreita de colágeno normal. Os apêndices cutâneos são destruídos. Os macrófagos estão repletos de M. leprae e exibem citoplasma espumoso ou vacuolado abundante (células da hanseníase ou células de Virchow). o Caso haja comprometimento neural, sem lesão cutânea (suspeita de hanseníase neural pura): encaminhamento para neuro e realização de exames. o Paucibacilar (PB): Casos com até 5 (cinco) lesões de pele. o Multibacilar (MB): Casos com mais de 5 (cinco) lesões de pele. Exame baciloscópico (0 a 6): A baciloscopia de pele (esfregaço intradérmico) deve ser utilizada como exame complementar para a classificação dos casos em PB ou MB. o Positivo: MB independentemente do número de lesões. Ana Elisa A. G. o Negativo: não exclui o diagnóstico da hanseníase e também não classifica obrigatoriamente o doente como PB; Exame histopatológico: Indicado como apoio na elucidação diagnóstica e em pesquisas. Tratamento o Feito pelo SUS. o Poliquimioterapia (PQT): provoca a morte do bacilo e evita a evolução da doença. o A alta por cura é dada após a administração do número de doses preconizado pelo esquema terapêutico, dentro do prazo recomendado. o Em caso de dor: prednisona. Doença de Chagas Vetor: protozóario Trypanosoma cruzi (T. cruzi). o É um triatomínio que se apresenta como flagelado no sangue periférico e flúidos biológicos, e não flagelado (amastigota) nos tecidos infectados, tanto de animais como de seres humanos. Insetos hematófagos domésticos e silvestres, da subfamllia Triatominae (Hemiptera, familia Reduviidae), sendo conhecidos como "barbeiro", "chupão", "procotó" ou "bicudo". Machos e fêmeas, se adaptam em domicilio e peridomicilio (galinheiros, chiqueiros, restos de madeira, tijolos). Reservatório: animais silvestres como quatis, gambás e tatus que se aproximam do peridomicílio. Em zonas rurais (casas de pau a pique, galinheiro, chiqueiro, currais, depósitos etc). o Alguns animais podem ser infectados, mas não apresentam parasiternia suficiente para funcionarem como reservatórios, podendo os cães servir como sentinela da infecção na região. Ana Elisa A. G. Período de incubação o Vetorial: 4 a 15 dias. o Oral: 2 a 11 dias. o Sangue e homoderivados: 30 a 112 dias. Epidemiologia Além da inoculação do parasita a partir da picada dos triatomineos, verifica-se a emergência de surtos de transmissão por via oral como a principal forma de transmissão em regiões com controle de transmissão intra e peridomiciliar. É considerada uma endemia urbana, em consequência da migração de grandes contingentes populacionais da região rural para áreas urbanas. De 2000 a 2013, 1.574 casos agudos foram registrados, 90% na Região Norte, dos quais 68,7% associados à ingestão de bebidas e alimentos contaminados e 7% à transmissão vetorial. Transmissão o Vetorial: por meio das excretas dos triatomíneos. Ao picar o hospedeiro, em geral defecam após o repasto, eliminando as formas metaciclicas infectantes, que penetram pelo orifíio da picada ou por solução de continuidade deixada pelo ato de coçar. o Oral: ingestão de alimentos ou bebidas (caldo cana, açaí, bacaba, sucos) contaminados ou pela secreção de marsupiais contendo elevada concentração de parasita. Ao contato com sangue da mãe por meio de fissura mamilar. o Transfusão de sangue e hemoderivados o Vertical: mãe para o feto, principalmente no 3° mês de gestação e no parto. o Transplante de órgãos: pelo menos dois métodos de triagem de elevada sensibilidade. o Acidentes perfurocortantes: trabalho com animais infectados em laboratório, e, menos comumente, na manipulação de material contaminado de pacientes. Fisiopatologia Tripomastigotas inoculadas por escarificação ou por contaminação oral -> células do hospedeiro -> diferenciam-se em formas amastigotas intracelulares que se multiplicam ->tripomastigotas -> ruptura celular -> tripomastigotas vão para circulação sanguínea -> órgãos e tecidos o 10 dias após infecção: ativação policlonal de linfócitos T e B. Fase Aguda: IgG-2, IL-2, IF-gama e TNF alfa -> ativação de macrófagos e secreção de produtos intermediários do nitrogênio (controle da replicação do parasita). o Menor resposta linfoproliferativa e citotóxica, hipersensibilidade tardia a antígenos ubiquitários e do parita. o Pode-se encontrar infiltrado inflamatório no tecido por conta da reação de hipersensibilidade tardia por CD4. Pós fase aguda: parasitemia baixa, persistência do parasita nos tecidos, mesmo sem tratamento. Pode evoluir para crônica (cardíaca, digestiva ou ambas). Fase crônica: parasita nos tecidos cardíacos -> infiltrado inflamatório -> miocardiopatia com alteração do sistema de condução e ritmo -> fibrose e insuficiência cardíaca. Ana Elisa A. G. Manifestações Clínicas o Febre: 38 a 39°C o Cefaleia, mialgia, vômitos, artralgia, anorexia e prostração. o Chagoma de inoculação: local da picada, caracterizado por edema unilateral na pálpebra superior e inferior, não doloroso, avermelhado a rosa. o Adenomegalia regional ou generalizada, hepato e esplenomegalia, exantema cutâneo e edema não inflamatório localizado ou generalizado e não associado à insuficiência cardíaca, insuficiência renal ou hipotireoidismo. o Ocorre em 5 a 10% dos casos, principalmente em lactentes e idosos, com miocardite e meningoencefalite, e pode causar o óbito do paciente. Pode ocorrer intensa desnervação dos plexos mioentéricos. o Oral: pode haver hemorragia digestiva, sendo frequente o exantema. Pode-se assemelhar à febre tifoide ou toxoplasmose- forma tifoídica com exantema maculopapular, petequial ou mesmo eritema nodoso. o Em alguns surtos de transmissão oral, ocorre miocardite, pericardite com derrame pericárdico (hidropericárdio), seguidos de tamponamento cardíaco são importantes causas de morbidade e mortalidade e devem ser precocemente diagnosticados para evitar o óbito do paciente. Diagnóstico o Leucograma: linfocitose com linfócitos atípicos. o Microscopia direta no sangue periférico ou líquidos biológicos (padrão ouro) o Histopatologia: ninhos de amastigotas no infiltrado inflamatório agudo nos tecidos. Miocardio e encefalites as vezes mais sensíveis do que o sangue periférico. o Para a confirmação de um caso agudo por anticorpos: o PCR (não diferencia fase aguda da crônica). o IgM anti-T. cruzi: são necessárias duas coletas com intervalo de 21 dias, com demonstração de soroconvcrsão de ausência para presença de anticorpos ou aumento de mais de. o Recomenda-se realizar a pesquisa do parasita no recém-nascido nos primeiros 10 dias de vida, por métodos diretos ou indiretos. Apesar de não ser comercializada, a prova de PCR tem-se revelado mais sensível para o diagnóstico do que provas parasitológicas. o Se der negativo e ainda apresentar sintomas de doença congênita, recomenda-se repetir as provas sorológicas aos 9 meses de idade. o Em casos de alta parasitemia na mãe, decorrente da presença de doença de Chagas aguda ou coinfecção T.cruzí+HIV, recomenda- se a pesquisa do parasita até 2 meses após o nascimento (exames parasitológicos diretos, xenodiagnóstico e hemocultura) e, caso negativa, realizar as provas sorológicas após 9 meses de vida da criança. Ana Elisa A. G. o Eletrocardiograma, radio da área cardíaca, ecocardiograma: alterações de ritmo (arritmias atriais e supraventriculares ou extrassístoles ventriculares), distúrbios de condução (bloqueio atrioventricular (BAV), bloqueio de ramos direito ou da divisão anterossuperior) e outras alterações de baixa voltagem de QRS, alterações de Te aumento de intervalo PR. Tratamento Benzonidazol o Adultos: 5-10mg/kg/dia o Crianças: 5-10mg/kg/dia o Lactentes: 10mg/kg/ Nifurtimox o Adultos: 8-10mg/kg/dia o Crianças: 15mg/kg/dia Ana Elisa A. G. Problema 3 Fechamento 1 Referências o Clínica médica da USP, 7° v, 2° edição, 2016. o Guia de Vigilância em Saúde, 4° edição, MS, 2019. o A importância dos animais peçonhentos, UFRB. Animais venenosos, peçonhentos e não peçonhentos Animais peçonhentos: possuem glândulas de veneno que se comunicam com dentes, ou ferrões, ou aguilhões, por onde o veneno passa ativamente, ou seja, possuem um mecanismo qualquer que os permite injetar seu veneno no organismo de outro animal. Ex: serpentes, aranhas, escorpiões, abelhas, arraias. Animais venenosos: produzem as substâncias tóxicas (veneno), mas não possuem um aparelho inoculador (dentes, ferrões) provocando envenenamento passivo por contato (taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu). Acidentes Ofídicos São causados por animais peçonhentos. Peçonhentas tem olho em fenda, capta melhor a iluminação. Epidemiologia Os acidentes ofídicos ocorreram, na maioria, na zona rural (7 9%), em indivíduos do sexo masculino (76%). Na faixa etária de 20 a 49 anos (50%), com local de inoculação do veneno na região distal dos membros inferiores (pé, tornozelo, perna, joelho -73%) e com ligação à atividade laboral do acidentado (55%). Na América do Sul, assim como no Brasil, as serpentes do género Botlrrops são responsáveis por cerca de 90% dos envenenamentos ofídicos. No Brasil, são registradas 38122 espécies de serpentes, das quais (16%) são consideradas peçonhentas local de inoculação do veneno, o acidente elapídico apresentou particular frequência de registros na região das mãos (38%) e abaixo do joelho (51%). Os acidentes por serpentes peçonhentas foram mais frequentes nos meses de janeiro a abril (42%), com a ocorrência do botrópico prioritariamente nas regiões Norte (38%) e Sudeste (24%). Do crotálico nas regiões Sudeste (39%) e Nordeste (30%). Do elapidico nas regiões Nordeste (49%) e Sudeste (21%) e do laquético na região Norte (93%). No Brasil, a baixa utilização dos chamados equipamentos de proteção individual (EPI). Seja por falta de recursos para sua aquisição e/ou manutenção, seja pelo desconforto causado sobretudo pelo calor, contribui certamente para este agravo. Pelo fato de serem animais com alto grau de sedentarismo caracterizados por baixa demanda energética, ampla resistência ao jejum prolongado15 que pode, com frequência, se estender a vários meses Ademais, pelo menos nos gêneros Bothrops e Alcheris. uma notável camuflagem e/ou comportamento críptico podem ser verificados. Contrariamente, todas as serpentes do gênero Micnirus e Leptomicr11rus são aposemáticas (Micnims albicinctlls pode ser a única exceção), ou seja, seu corpo de cor avermelhada com anéis negros, brancos ou amarelados, ou corpo negro (cm espécies amazônicas) com anéis brancos, vermelhos ou alaranjados, "alerta" os antagonistas ou predadores contra o perigo potencial de serem envenenados. Além do comportamento fossório (viver enterrada), não dar bote e da baixa mobilidade de suas presas, o aposematismo é apontado como um importante fator, referente ao baixo Ana Elisa A. G. número de acidentes ocasionados por esses gêneros. Apenas as famílias Viperidae (jararacas, cascavéis e surucucu) e Elapidae (corais verdadeiras) congregam as espécies consideradas "peçonhentas'', sendo, portanto, as serpentes de importância clinica Botrópico Causado por serpentes dos gêneros Bothrops e Bothrocophias (jararaca, jararacuçu, urutu, cruzeira, caissaca). É o de maior importância e distribuição dentre os acidentes ofídicos no Brasil. Aparência: fosseta loreal e cauda sem nenhum diferencial morfológico em comparação aos outros representantes da familia. Apenas sobrevivem em áreas naturais relativamente preservadas (p. ex., Bothrops bilineatus, Botlirops jararaausu e B. taeniarus), em geral, acometem os que adentram as matas ou seus remanescentes (palmiteiros, castanheiros, madeireiros, extratores de látex, caçadores), ou vivem no mosaico entre a área natural e a cultura agrícola (p. ex., bananicultura e cacauicultura). Mecanismos de ação do veneno Venenos: mistura complexa de componentes altamente tóxicos. Apresentam uma série de funções adaptativas: imobilizar, paralisar, matar e liquefazer a presa". Também têm papel na dissuasão de competidores e na defesa contra predadores. Atividade proteolítica ou "inflamatória aguda local" São exemplos metaloproteinases e, com menor importância, fosfolipase A2, peptídios que agem sobre o sistema calicreína-cinina, aminas biogênicas do tipo histamina, esterases, proteases e lectinas. Há grande quantidade de isoformas dessas famílias de toxinas. Estas frações têm também atividades indiretas, induzindo ou liberando potentes autacoides, como bradicinina, prostaglandinas, lcucotricnos e prostaciclinas, que atuam de maneira complexa e inter-relacionada. Desencadeia a formação de trombos na microvasculatura, com consequente hipóxia, agravamento do edema e necrose tecidual. A atividade hemorrágica pode ampliar o quadro inflamatório, por meio da sua atividade sobre o fator de necrose tumoral (FNT) pré-formado, liberando a citocina ativa que tem potente atividade inflamatória. Atividade Coagulante O veneno botrópico possui capacidade de ativar fatores de coagulação sanguínea, ocasionando consumo de fibrinogênio e formação de fibrina intravascular, induzindo com frequência à incoagulabilidade sanguinea. Possui isolada ou simultaneamente substâncias capazes de ativar fibrinogênio, protrombinae fator X. São descritos fatores com atividadesobre a agregação e a aglutinação plaquetária, levando à trombocitopenia que pode ocorrer nas prime.iras horas do envenenamento e, eventualmente, persistir por dias. Atividade hemorrágica A hemorragia é atribuída, fundamentalmente, a componentes específicos, denominados hemorraginas, metaloproteinases que contêm zinco e são comuns na família Viperidae. As hemorraginas podem romper a integridade do endotélio vascular e têm atividade desintegrina. Degradam vários componentes da matriz extracelular, como colágeno tipo 4, fibronectina e laminina. Além disso, são potentes inibidoras da agregação plaquetária. Têm como possíveis mecanismos de ação a digestão enzimática da lâmina basal da microvasculatura e a ruptura completa das células endoteliais ou formação de gaps. As clivagens específicas, em pontos chave, desencadeariam mecanismos endógenos amplificadores e, atualmente, há evidência de ataque proteolítico à lâmina basal vascular. Ana Elisa A. G. Ocorrem três mecanismos causais para a hemorragia: 1) Ação do veneno sobre a coagulação. 2) Sobre o endotélio degradando a matriz proteica. 3) A ação desintegrina sobre plaquetas. Quadro clinico Local O sangramento no sítio de inoculação do veneno é observado com frequência, porém, sua presença nem sempre indica comprometimento sistêmico. o O edema, inicialmente circunscrito, pode estender-se a todo o membro em até 24 horas. o Linfadenomegalia regional com gânglios aumentados e dolorosos, podendo instalar-se equimose no trajeto dos vasos que drenam a região. o Após 24 horas do acidente podem surgir, no local da picada, equimose progressiva, bolhas em quantidade e proporções variáveis, com conteúdo seroso, hemorrágico, necrótico ou mesmo purulento. Sistêmico Coagulopatia de consumo, resultando em alteração dos testes de coagulação. Choque é raro mas é precoce. Está relacionada à quantidade de veneno inoculada na vítima. Complicações locais Abscesso, necrose e síndrome compartimental, estando, muitas vezes, associadas a intervenções como torniquete sucção, incisão local e uso de substâncias tópicas contaminadas. Os fenômenos flogísticos causados pelo envenenamento podem dificultar a avaliação da presença concomitante de infecção. Síndrome compartimental: complicação rara que ocorre, cm geral, nas primeiras 24 horas após a picada e requer rápida intervenção. Ocorre o aumento da pressão dentro de um compartimento fechado, por onde transcorrem músculos, Nervos e vasos, podendo comprometer a circulação sanguínea regional e resultar em anormalidades da função neuromuscular. Dor desproporcional ao edema, paresia e até paralisia dos músculos do compartimento, acentuação da dor à extensão passiva dos músculos envolvidos e hipoestesia, que pode evoluir para anestesia por comprometimento dos nervos que cursam através do compartimento, além de aumento acentuado da tensão à palpação dos envoltórios compartimentais. Exames laboratoriais Testes de coagulação 1. Tempo de coagulação (TC): é o teste mais importante, devendo ser realizado sempre que houver suspeita de acidente ofídico. O achado de TC prolongado ou incoagulável, mesmo na ausência de alterações locais evidentes ou outras manifestações sistêmicas, indica envenenamento e necessidade de administração de antiveneno. 2. Tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativado (TIPA) e tempo de trombina (TT), dosagens de fibrinogênio, produtos de degradação do fibrinogênio/fibrina (PDF) e D-dímeros: as alterações na coagulabilidade sanguínea têm valor diagnóstico, mas não devem ser utilizadas como critério de gravidade nos acidentes. 3. Hemograma: podem ser observadas anemia discreta, leucocitose com neutrofilia e trombocitopenia na fase inicial. 4. Bioqulmica: ureia, creatinina e eletrólitos encontram-se alterados nos pacientes que evoluem com comprometimento renal. Creatinoquinase (CPK), desidrogenase lática (DHL) e aspartato aminotransferase (AST) podem estar elevadas em pacientes com processo. Tratamento Especflico A administração do soro heterólogo deve ser feita o mais precocemente possível, por via intravenosa, em solução diluída em soro fisiológico ou glicosado. As doses a serem aplicadas variam de acordo com a gravidade presumida. O controle da eficácia do soro antibotrópico deve ser realizado pela determinação do TC 12 e 24 horas após o término da soroterapia. Se, decorridas as 12 horas, o TC permanecer Ana Elisa A. G. incoagulável (acima de 30 minutos) ou se após 24 horas não estiver normalizado, recomenda-se dose adicional de duas ampolas de soro antibotrópico. Geral Antibioticoterapia o Heparina e reposição de fatores de coagulação: a hepatina não neutraliza os efeitos do veneno botrópico sobre a coagulação. Portanto, não deve se r administrada com intuito de corrigir os distúrbios de coagulação decorrente do envenenamento. Da mesma forma, a reposição de fatores de coagulação (p. ex., plasma fresco) não se justifica, pois com a adição dos fatores de coagulação, que são substratos para o veneno, haverá aumento dos níveis de produtos de degradação, que também são anticoagulantes. o Debridarnento cirúrgico: a presença de veneno no conteúdo de bolhas tem sido observada, sendo recomendável a aspiração do liquido dessas coleções, em condições de quedas de antissepsia. A necrose deve ser debridada quando a área necrótica estiver delimitada. Dependendo da sua extensão, pode ser necessário enxerto de pele e, mais raramente, amputação. o Fasciotomia: a descompressão cirúrgica (fasciotomia) deve ser realizada em todas as fáscias limitantes da expansão do compartimento. Sua indicação em situações em que não haja manifestações evidentes de síndrome compartimental determina riscos decorrentes da coagulopatia, presente com frequência considerável nesses acidentes. Crotálico Ocasionado por serpentes do gênero Crotalus (cascavel). No país é representado apenas pela espécie Crotalus durissus. O gênero Crotalus - cascavel, boicininga, maracamboia, apresenta guizo do chocalho, caracteristicamente, na cauda. De modo geral, habita áreas abertas, em locais secos e quentes, sendo os campos e cerrados seu habitat típico. No domínio da Mata Atlântica nordestina, as cascavéis podem ser excepcionalmente encontradas muito próximas ao mar, como é o caso de Salvador e nas proximidades da cidade de Salvador e formações abertas (p. ex., savanas amazônicas) da região amazónica. Há apenas uma espécie no país (Crotalus durissus) com 6 subespécies com distinção problemática. Com cinco subespécies, as serpentes do gênero Crotalus distribuem-se de maneira irregular pelo país, de modo que varia a frequência com que os acidentes são registrados. A atividade miotóxica do veneno crotálico foi relata· da pela primeira vez em 1980 em pacientes com envenenamento, nos quais foram encontrados niveis séricos elevados de CPK (creatinofosfoquinase), DHL (desidrogenaselática) e aldolase. Ações do veneno O veneno crotálico é uma mistura complexa de proteínas e polipeptídios. Ação hemolítica Em decorrência da atividade miotóxica do veneno há liberação de mioglobina para a circulação e posterior excreção urinária, escurecendo a urina e resultando teste de benzidina positivo, e considerando a inexistência de sinais indiretos que acompanhem a hemólise, como icterícia e anemia nos pacientes com envenenamento crotálico, foi questionada a existência de hemólise intravascular nos acidentes humanos. Ação neurotóxica Produzida pela crotoxina, também o componente responsável pela alta toxicidade do veneno, uma neurotoxina pré-sináptica que atua nas terminações nervosas motoras, inibindo a liberação de acetilcolina pelos impulsos nervosos. Esta inibição é a principal responsável pelo bloqueio neuromuscular e, portanto, pelas paralisias motoras, inclusive respiratórias, observadasnos animais. Ana Elisa A. G. Ação miotóxica Tem sido atribuída à crotoxina e mesmo à crotamina a capacidade de produzir lesões morfológicas em pontos distantes do local de inoculação do veneno. Ação coagulante Ocasionada pela presença de componente tipo trombina A, com propriedades semelhantes às encontradas no gênero Bothrops e capacidade de prolongar o tempo de coagulação (TC) ou mesmo tornar o sangue incoagulável. Nesse processo, há consumo de fibrinogênio, que é transformado em fibrina, podendo levar à afibrinogencmia. Os distúrbios da coagulação são encontrados em aproximadamente 40% dos acidentes humanos. Quadro clínico Local As marcas das presas podem ser encontradas com edema e eritema discretos ou sem qualquer alteração local. Manobras como cortes, escarificações, sucção ou garroteamento podem provocar edema acentuado e lesões cutâneas mais graves, levando a infecções. Não há dor, ou se existe, é de baixa intensidade. Há queixa de parestesia que pode estar restrita à região da picada ou assumir um caráter regional. Sistêmicas Sintomas gerais como mal-estar, naúseas, cefaleia, prostração e sonolência podem aparecer precocemente. Vômitos, certo grau de agitação e variações da pressão arterial costumam acompanhar o estado de tensão emocional que, em geral, está presente· As manifestações clinicas decorrentes da atividade neurotóxica do veneno apresentam-se nas primeiras 6 horas, geralmente nas 3 primeiras horas após a picada. A fácie miastênica permite o diagnóstico clinico do envenenamento. Há ptose palpebral, simétrica ou não, e flacidez da musculatura da face. A tentativa de abertura da fenda palpebral exige inclinação posterior da cabeça e contração da musculatura da fronte, enrugando a testa. Tal aspecto, associado à flacidez dos músculos mímicos, o que geralmente mantém a boca entreaberta, torna a fisionomia sugestiva de individuo alcoolizado, daí o nome popular de "cara de bêbado" atribuído a esses pacientes. Há oftalmoplegia e dificuldades à acomodação, com queixas de visão turva ou de diplopia. Pode haver midríase, mesmo unilateral. Queixas menos frequentes, como dificuldade de deglutição, modificações no olfato e no paladar, podem ocorrer. As alterações descritas evidenciam o comprometimento dos I, IV e VI pares de nervos cranianos e, apesar de serem assustadoras para os pacientes, regridem totalmente 3 ou 4 dias apôs o tratamento. A mialgia, se não for queixa espontânea, aparece à compressão de massas musculares. o O escurecimento da urina pela mioglobinúria é a manifestação única mais evidente e resistência da rabdomiólise e também da gravidade do envenenamento. No início, a urina pode estar clara e assim permanecer, ou tornar-se avermelhada e progressivamente marrom com o passar do tempo, traduzindo a eliminação de quantidades variáveis de mioglobina oriunda do tecido muscular esquelético. Mesmo quando a urina é clara, se for realizado processo de concentração, a mioglobina será identificada. Tratamento Tratamento local Como não há efeito inflamatório, não há recomendações especificas para o local da picada. Recomenda-se lavar com água e sabão ou soro fisiológico, sem provocar traumatismos locais, na tentativa de extrair parte do veneno. Tratamento específico Soro anticrotálico (SAC) por via venosa, sem necessidade de diluição, em gotejamento contínuo, sob estreita vigilância da equipe médica. A dose do SAC deve atender aos critérios de classificação da gravidade Laquético Serpentes do gênero Lachesis (surucucu-pico-de- jaca, surucucu-defogo, surucutinga). No país é causado somente pela espécie Lachesis muta. Ana Elisa A. G. Podendo atingir até 4 metros de comprimento, são as maiores serpentes peçonhentas da América Latina. As últimas escamas da cauda em forma de "espinhos" (escamas eriçadas). Melhor observáveis em indivíduos adultos e de grande porte, são características. Têm hábitos predominantemente noturnos e distribuem-se em florestas tropicais primárias, sendo encontradas, no Brasil, na Floresta Amazônica e em áreas restritas da Mata Atlântica. Lacresis muta é a única espécie que ocorre no Brasil. Culturas de cacau (Meobroma cacao). É descrito para o sul do estado da Bahia. Um acidente incomum, mesmo nas florestas tropicais úmidas da região Amazónica e da Mata Atlântica, onde essa serpente é encontrada em nosso país. A Lad1esis é a serpente peçonhenta de maior com suprimento na América Latina. Mecanismos de ação do veneno O veneno laquético apresenta atividades fisiopatológicas semelhantes às do veneno botrópico, ação inflamatória aguda local, coagulante, hemorrágica e neurotóicica. Relatada, ainda, atividade cininogenase no veneno de L mula que poderia explicar, em parte, algumas alterações clínicas denominadas neurotóxicas. Também é descrita atividade tipo trombina, isolada inicialmente porque foi posteriormente sequenciada, sendo confirmada sua similaridade com a giroicina crotálica. Quadro Clínico Quadro hematológico As manifestações hemorrágicas limitam -se ao local da picada na maioria dos casos. Entretanto, sangramento no local de venopunção, equimoses, epistaxes, gengivorragia, hematúria e sangramento digestivo têm sido descritos em alguns casos. Quadro neurotóxico Instalação precoce de hipotensão arterial. Concomitantemente, descreve-se sudorese, náuseas e vómitos, cólicas abdominais, diarreia e bradicardia. A intensificação destas alterações pode levar a choque, bradicardia grave e óbito. Complicações sistêmicas São semelhantes às descritas nos acidentes botrópicos, ou seja, insuficiência renal aguda, hemorragia grave, choque e septicemia. Exames laboratoriais A presença de uma fração com atividade tipo trombina ocasiona consumo de fibrinogênio, com formação de fibrina instável e fibrinólise secundária de rápida instalação. Deste modo, indica-se a realização do tempo de coagulação (TC), teste importante tanto para auxiliar no diagnóstico, como para controle da terapêutica. O coagulograma pode evidenciar tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) alterados. Observa-se também elevação dos produtos da degradação do fibrinogênio/fibrina (PDF) e D- dímcros, com diminuição dos nlveis de alfa-2- antiplasmina. Tratamento Especifico A gravidade de um acidente laquético é avaliada segundo os sinais locais e pela intensidade das manifestações vagais (bradicardia, hipotensão arterial, diarreia). Classificado como moderado ou grave, sendo preconizada pelo Ministério da Saúde a administração de 10 a 20 ampolas de soro antilaquético ou antibotrópico-laquético por via intravenosa. Foi demonstrado experimentalmente que o soro antibotrópico não neutraliza a atividade coagulante. Geral Pacientes que apresentam alterações compatíveis com manifestações neurotóxicas devem ser tratados de acordo com a manifestação clinica apresentada; na presença de bradicardia com instabilidade hemodinâmica, está indicado sulfato de atropina. Pacientes com hipotensão e/ou choque devem ser tratados com hidratação vigorosa e, se necessário, drogas vasoativas. O tratamento para as complicações locais não difere do descrito para o acidente botrópico: necrose deve ser abordada cirurgicamente quando necessário; infecção secundária com antibioticoterapia; e síndrome compartimentai com fasciotomia. Nos pacientes que evoluem com insuficiência renal aguda, deve ser avaliada a indicação de diálise. Ana Elisa A. G. Elapídico As serpentes pertencentes à familia Elapidae, existentes nas Américas, são conhecidas popularmente no Brasil como as corais verdadeiras. São responsáveis por menos de 1 % dos acidentes causados por serpentes peçonhentas no Brasil. Mecanismos de ação Açao neurotóxica As neurotoxinas elapidicas são proteínas básicas de baixo peso molecular e apresentam rápida difusão pelos tecidos. Todosos elapídios brasileiros apresentam neurotoxinas pós-sinápticas que têm grande afinidade com os sítios receptores de acetilcolina na placa motora terminal com efeitos semelhantes aos do curare. Quadro clínico e Diagnóstico No local da picada, o paciente pode referir dor e parestesia. Edema leve pode ser observado, mas não há equimose. Em virtude da rápida absorção do veneno, mas também podem ocorrer somente horas após o acidente. A ptose palpebral, geralmente bilateral, é o primeiro sinal de neurotoxicidade associada ou não à turvação visual, que pode evoluir para diplopia. Oftalmoplegia, anisocoria, paralisia da musculatura velopalatina, da mastigação, da deglutição, sialorreia e diminuição do reflexo do vómito também podem ser observados, com frequência variável. Em raros casos, tem-se observado diminuição generalizada da força muscular, que pode progressivamente acometer a musculatura intercostal e diafragmática, com consequente comprometimento da mecânica respiratória, evoluindo para apneia. Tratamento Especifico (ver Soroterapia) O esquema de dose proposto indica a utilização de ampolas de soro antielapidico, considerando todos os acidentes deste grupo como potencialmente graves. Nos pacientes com insuficiência respiratória aguda, tem sido recomendada a utilização de anticolinesterásicos, do tipo neostigmina, na tentativa de reverter os fenômenos neuroparaliticos, na dose de O, OS mg/kg em crianças e uma ampola (O, S mg) no adulto, por via endovenosa. Esta deve ser precedida da injeção de 0,6 mg de atropina EV, para prevenir os efeitos muscarínicos da acetilcolina, principalmente a bradicardia e a hipersccreção. Em geral, a resposta é rápida, com melhora evidente do quadro em poucos minutos. Neste caso, recomenda- se dose de manutenção de O, OS a 0,1 mg/kg EV a cada 4 horas, sempre precedida da administração de atropina. Dependendo da resposta do paciente, pode haver espaçamento maior entre as doses, até que ocorra a recuperação. Nos casos de insuficiência respiratória, também deve ser instituída a ventilação mecânica. Medidas iniciais e soroterapia nos acidentes ofídicos 1. Manter o paciente em repouso. 2. Proceder à limpe-a do local picado; não está indicado o uso de substâncias tópicas. 3. Se necessário, indicar analgesia e/ou sedação, evitando-se drogas de ação depressora do SNC e ácido aceltilsalicO.ico. 4. São contraindicadas manobras mecânicas como garroteamento, sucção ou incisão da região da picada. 5. Monitorar sinais vitais e volume urinário. 6. Remover o paciente para um centro de tratamento para aplicação do anti veneno. Os anti venenos ofidicos brasileiros são apresentados na forma liquida, em ampolas com 10 mL, contendo fração Fab'2 de imunoglobulinas heterólogas, digeridas pela pepsina. Mantidos cm geladeira, de 4 a 8ºC, têm validade de 3 anos. Não devem ser congelados. Deve-se administrar o soro especifico (antibotrópico, anticrotálico, antilaquético, k,, antielapídico), pois propicia neutralização do veneno inoculado. Usa-se o antiveneno diluído de 1 :5 a 1: 1 O em soluções salina ou glicosada, infundido de 30 a 60 minutos1·1.1o.u'"1". O soro antfofídico deve ser aplicado cm dose única, por via venosa, tanto para adultos como crianças. A dose de soro a ser administrada é definida na avaliação da gravidade, na admissão no serviço de saúde. Nos raros casos em que o paciente foi classificado como leve ou moderado à adesão e evoluiu posteriormente com manifestação sistêmica definidora de quadro grave, ele deve receber dose adicional de soro, compativel com esse quadro. Acidentes aracnídicos Entre os aracnídeos, são considerados de importância médica no Brasil os escorpiões do gênero Títyus e as Ana Elisa A. G. aranhas dos gêneros Loxosceles, Pho11eutria e Latrodect11s Acidente Escorpiônico Varia de acordo com a faixa etária atingida: é maior em crianças, especialmente na faixa etária de 1 a 4 anos, na qual alcançou 1 %. Quanto à gravidade dos acidentes, a maioria é leve (86,1 %), sendo os moderados 12,2% e os graves l ,7%m. Etiologia e mecanismo de ação do veneno Os escorpiões são encontrados em todas as zonas tropicais do mundo. Têm hábitos noturnos, escondendo-se durante o dia sob pedras e troncos ou enterrando-se na areia e no solo de florestas. Em áreas urbanas, vivem próximo de habitações em que o lixo doméstico e o entulho proporcionam condições para seu desenvolvimento. Na extremidade da cauda, possuem um ferrão, por meio do qual o veneno é inoculado. O veneno escorpiônico ativa os canais de sódio, promovendo despolarização das terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo, com liberação maciça de neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos, responsáveis pelas manifestações sistêmicas observadas no envenenamento. Alterações geralmente ocorrem na região da picada. Entretanto, alguns pacientes, especialmente crianças, podem evoluir com manifestações sistêmicas decorrentes da ativação do sistema nervoso autônomo, com liberação de mediadores adrenérgicos e colinérgicos. História Clínica Imediatamente após a picada o paciente refere dor local, de intensidade variável, sensação de parestesia local. Exame Clinico Em pacientes que apresentam apenas o quadro local, além da dor relatada podem ser observados eritema e sudorese na região da picada. Naqueles que evoluem com alterações sistêmicas, pode haver palidez, sudorese, taquipneia, taquicardia, hipertensão arterial, agitação e, em casos mais graves, arritmia cardíaca, má perfusão periférica, sinais e sintomas de insuficiência cardíaca e de edema agudo de pulmão. A intensidade e a frequência dos vômitos são um sinal premonitóriosensível da gravidade do envenenamento. Exames Hemograma: leucocitose com neutrofilia. Bioquímica: hiperglicemia, hiperamilasemia, hipopotassemia; em casos graves, CK.Mb e troponina 1 podem estar aumentadas. ECG: arritmias como taquicardia ou bradicardia sinusal, extrassistoles ventriculares, alterações similares às encontradas no infarto agudo do miocárdio, bloqueio de condução atrioventricular ou intraventricular. Radiografia de tórax: aumento da área cardíaca, congestão pulmonar. Tratamento Especifico O antiveneno, administrado por via endovenosa, está indicado para pacientes com manifestações sistêmicas (casos moderados e graves). E as doses devem ser de acordo com a gravidade estimada do acidente. Geral Para os acidentes que apresentem apenas alterações locais (casos leves). Devem ser tomadas medidas sintomáticas. Nos casos cm que houver dor intensa, recomenda-se utilizar infiltrado local ou bloqueio com anestésico, do tipo lidocalna 2%, sem vasoconstritor (2 a 4 mUdose) que, em caso de recorrência da dor, pode ser repetido. Ocasionalmente, faz-se necessária a associação de analgésicos opioides (tramado, meperidina ou morfina). Nos casos em que a dor for de menor intensidade, analgésicos como dipirona ou paracetamol e compressas mornas no local são suficientes. Acidentes por aranhas Phoneuttia Os acidentes em geral ocorrem no manuseio de verduras e frutas (especialmente bananas), durante limpeza de quintais e jardins e ao calçar, atingindo com maior frequência as mãos e os pés. Ana Elisa A. G. Etiologia e mecanismo de ação do veneno É conhecida como "aranha armadeira” pois, quando ameaçada, assume poda e pode atingir até 15 cm de envergadura. Tem hábito noturno, podendo ser encontrada debaixo de troncos cados, pilhas de madeira, entulhos e em cachos de banana; também se esconde dentro de calçados. A principal fração tóxica do veneno da Plro11e11tria é a phoneutri atoxina 2 (PhTx2). Ela ativa os canais de sódio e retarda sua inativação, promovendo a despolarização de terminações nervosas sensitivas no local da inoculação do veneno e, mais raramente, do sistema nervoso autônomo, com liberação de neurotransmissores (catecolaminas e acetilcolina) relacionados ao quadro sistêmico; também há despolarização de fibras musculares esqueléticas. Quadro clinico As manifestações clínicas do foncutrismo são semelhantes às descritas para o escorpionismo; o quadro pode se apresentar apenas com alterações locais na região da picada e, mais raramente, com manifestações sistêmicas, em especial quando ocorre cm crianças. 1. História clínica: logo após a picada, há dor local, que varia de intensidade. As manifestações sistêmicas, quando ocorrem, são precoces. 2. Exame clinico: além da queixa de dor, o local atingido pela picada pode apresentar edema, eritema e sudorese. Em caso de envenenamento sistémico, são observados vômitos, palidez, sudorese, taquipneia, taquicardia, cãibras, priapismo, arritmia cardíaca, sinais e sintomas de insuficiência cardíaca e edema agudo de pulmão. Quanto à gravidade, esses acidentes são classificados como leve (apenas manifestações locais), moderado ou grave, quando si n ais e sintomas sistêmicos estão presentes. Exames complementares O diagnóstico é clinico. Em alguns casos com manifestações sistêmicas, foram descritas leucocitose com neutrofilia, hiperglicemia e acidose metabólica. Acidentes por Loxosceles Os acidentes por Loxosceles são responsáveis por aproximadamente 40% dos acidentes aranedicos no Brasil. Encontrada sob telhas, tijolos e madeiras; no interior de domicílios, fica em porões, atrás de móveis e em cantos escuros. Não é agressiva e causa acidente quando comprimida contra o corpo. Fisiopatologia O principal componente do veneno tem atividade esfingomielinase-D, que ativa o sistema complemento, as células endotelial e epitelial e as plaquetas, liberando mediadores inflamatórios responsáveis pela lesão cutânea. O veneno contém ainda enzimas hidrolíticas que degradam moléculas constituintes da membrana basal. A hemólise é decorrente da ação esfingomielinase-0 sobre metaloprotcinases endógenas que, ativadas, agem sobre proteínas da membrana de hemácias, tornando-as suscetíveis à ação do complemento. Quadro clínico O loxoscclismo pode se apresentar de duas formas: cutânea, quando evolui com lesão na região da picada, ou cutâneo, que, associada à lesão dermatológica, provoca hemólise intravascular. As manifestações cutâneas evoluem gradualmente nas primeiras 24 horas do acidente. 1. História clínica: pelo fato de a picada ser pouco dolorosa, em geral ela não é percebida ou valorizada. Muitas vezes, os acidentes ocorrem ao dormir ou ao vestir roupas, quando há a compressão do animal contra o corpo. Quando percebida, a aranha em geral é despressada e não apresentada para identificação. Os sintomas no local da picada em geral são referidos algumas horas após o acidente, em período variável de 4 a 8 horas. A região da picada evolui com dor e o paciente observa mudança de coloração da pele, que, no início, é eritematosa e, posteriormente, pode tomar-se equimótica, mesclada com áreas de palide - ("placa marmórea"). Algumas manifestações sistêmicas são relatadas já nas primeiras 24 horas do acidente: mal-estar, febre, náuseas e exantema cutâneo. Pacientes que evoluem com hemólise podem referir alteração na cor da urina (hemoglobinúria) e ictercia. 2. Exame clínico: inicialmente, no ponto de inoculação, surge uma pápula branca. Algumas horas depois, observa-se. no local da picada, lesão equimótica com áreas de palidez, dolorosa à palpação, com halo eritematoso; bolhas e/ou vesículas podem ser observadas. Algumas lesões se apresentam com mais eritema e pouca equimose. Posteriormente, a região atingida pode evoluir com necrose de extensão e profundidade variável, cuja Ana Elisa A. G. crosta se delimita por volta da 2° semana do acidente. Exantema (morbiliforme ou escarla). Exames complementares 1. Forma cutânea: leucocitose com neutrofilia e, nos casos em que a lesão for mais profunda, pode-se observar aumento sérico de enzimas musculares, como CK. 2. Forma cutâneo-hemotica: dependendo do grau de hemólise, observa-se anemia de intensidade variável; há leucocitose com neutrofilia, reticulocitose, aumento de DHL, bilirrubina total com predomínio de bilirrubina indireta e diminuição da haptoglobina livre. Alterações da função renal e dos testes de coagulação e plaquetopenia podem ocorrer, especialmen te quando houve r hemólise maciça Tratamento Tratamento especifico Na forma cutânea, o antiveneno (soro antiaracnídico ou soro antiloxoscélico) está indicado na fase inicial do envenenamento. Tratamento geral 1. Corticosteroide: prednisona 1 mglkgldia, na 1 semana do acidente (5 a 7 dias). 2. Analgésico: especialmente na 2 semana, quando o quadro álgico for mais intenso. Pode ser administrado dipirona ou paracetamol. 3. Anti-histamínico: para os casos de exantema cutâneo pruriginoso. 4. Antibiótico: apenas quando houver infecção secundária, que pode ocorrer na fase de crosta necrótica (em geral, a partir do final da 2° semana do acidente). São indicados antibióticos com espectro para microrganismos usuais da flora da pele, como cefalexina. 5. Debridamento cirúrgico: deve ser realizado quando a necrose estiver delimitada, o que costuma ocorrer a partir do final da 2° semana. Quando houver perda tecidual importante, avaliar a necessidade de enxerto ou correção de cicatrizes. 6. Diálise e concentrado de hemácias: podem ser necessários na forma hemolltica. Acidente por Latrodectus Os acidentes são raros no Brasil De 2001 a 2006, foram notificados 389 acidentes, correspondendo a 0,4% dos acidentes arancídicos. Os escassos estudos e relatos sobre latrodectismo provêm da região Nordeste. Etiologia
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