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Cinomose Prof. Dr. Miguel Angelo da Silva Medeiros Faculdade de Veterinária – Universidade Castelo Branco Etiologia • Família: Paramyxoviridae • Gênero: Morbillivirus • Vírus RNA – 100 a 300nm. • Envelope lipídico Epidemiologia Animais susceptíveis • Canidae: cão (principal reservatório para o vírus da cinomose), raposa, lobo Mustelidade: furão, lontra, doninha, texugo Procyonidae: quati, guaxinim, urso panda • Infecção cosmopolita A cinomose canina é uma enfermidade infecto contagiosa, que afeta cães e outros carnívoros, causada por um vírus da Família Paramyxoviridae, do gênero Morbilivírus, da espécie Vírus da cinomose canina (VCC) com característica clínica aguda, subaguda e crônica. Sua ocorrência é mundial, sem sazonalidade e sem preferência por sexo ou raça, sendo a maior incidência em animais jovens, entretanto pode atingir qualquer idade. • Diversos fatores podem estar associados ao aumento da incidência da doença, tanto em cães não vacinados quanto em vacinados. Surtos em populações de cães domésticos e animais selvagens podem ser causados pela variação antigênica de cepas antigas selvagens de CDV e, consequentemente, pelo surgimento de novas cepas de campo capazes de evadir-se da resposta imunológica gerada pelas cepas antigas que são utilizadas atualmente em vacinas . As novas cepas de CDV podem, ainda, apresentar capacidade de infectar outros hospedeiros carnívoros, que passam a atuar como reservatórios e mantém a circulação do vírus entre animais suscetíveis. (GREENE; VANDEVELDE, 2012) Inativação do vírus • agente viral relativamente lábel • inativado pelo calor em 1 hora a 55 °C e em 30 minutos a 60 °C • permanecem viáveis a temperatura de 20 °C por 1 hora nos exsudatos • por várias semanas entre 0 – 4°C • estável durante meses a anos no estado congelado • inativados pelo detergente, solventes de lipídios • desinfetantes a base de amônia quaternária a 0,3 % em 10 minutos • formol a 0,5% em 4 horas • fenol a 0,75% em 10 minutos • suscetível à radiação ultravioleta e as lâmpadas germicidas Patogenia • Transmissão: aerossóis contaminados • Vias de entrada: respiratória / digestiva • Contato direto • Contato indireto: alimentos, fômites • Transplacentária e neonatal • PI – 7 a 14 dias (excreção viral ocorre sete dias pós-infecção) • Excreção viral – até 120 dias pós resolução dos sinais clínicos / todas as secreções e excreções A infecção pelo vírus consiste na excreção de gotículas por meio de aerossol e outras excreções do corpo a partir dos animais infectados, podendo liberar o vírus por vários meses, sendo assim, a disseminação ocorre onde os cães são mantidos em grupos. Infecção transplacentária • Tem sido documentada, apesar de ser uma fonte rara de cinomose em cães jovens – Sinais neurológicos (primeiras 4 a 6 semanas devida) Sobreviventes (infecção no útero) ↓ Permanente imunodeficiência (danos em órgãos linfoides) Infecções neonatais Filhotes jovens infectados antes da erupção da dentição permanente podem sofrer dano grave do esmalte, da dentina ou das raízes dos dentes. ● Hipoplasia do esmalte, com ou sem sinais neurológicos, pode ser um achado incidental no cão idoso e é relativamente patognomonico de infecção prévia com o vírus da cinomose. ● Dependendo do estágio da prenhez em que a infecção se desenvolveu, podem ocorrer abortos, nascimento de natimortos ou filhotes fracos. • Durante exposição natural, o VCC dissemina- se por aerossol e contato do epitélio do trato respiratório superior. • Após 24h da inoculação, o vírus multiplica-se nos macrófagos teciduais e dissemina-se nessas células por meio dos linfócitos locais para as tonsilas e os linfonodos brônquicos. O VCC replica-se inicialmente nos macrófagos do trato respiratório, ocasionando o primeiro pico febril de 3 a 6 dias pós infecção, dissemina- se para as tonsilas e os linfonodos bronquiais e daí uma viremia associada à célula segue-se, com disseminação a outros tecidos linforreticulares e por via hematógena, o vírus caminha para o trato gastrintestinal, respiratório, urogenital e ocasionalmente para o sistema nervoso central. Via respiratória ou oral Replicação linfonodos regionais (tonsilas, linfonodos bronquiais) Viremia (linfocitólise e leucopenia) Sistema respiratório, baço, fígado, m.o., timo, sistema gastrointestinal, urinário, pele, glândulas endócrinas e exócrinas e SNC Sintomas e invasão bacteriana secundária De uma forma sucinta, durante a primeira semana antes do aparecimento dos sintomas, a replicação do vírus ocorre inicialmente no tecido linfático, medula óssea, baço e timo, em seguida, por volta do 7º dia infecciona epitélios gastrointestinal, respiratório, urogenital, pele e SNC. A doença ocorre após a replicação do vírus nesses órgãos. Sinais clínicos • Variam de acordo: – Virulência da cepa – Condições ambientais – Idade – Status imunológico do hospedeiro (HEADLEY et al., 2012) Sinais clínicos • Iniciais: Febre, Corrimento ocular, Vômito, Diarréia, Corrimento nasal – difícil diagnóstico • Evolui: – Quadro respiratório - agravada por bactérias secundárias – Neurológico - Substância cinzenta – mioclonia e convulsão - Substância branca – incoordenação, ataxia, paresia, paralisia e tremores musculares - Rigidez cervical • Outros sinais: cegueira (neurite optica retinite); hiperqueratose de coxins plantal e nasal, hipoplasia do esmalte dentário, pústulas abdominais). A doença pode evoluir em quatro fases: A) Respiratória • tosse seca ou produtiva, pneumonia, secreção nasal (infecções secundários (Bordetella bronchiseptica)) - dificuldade respiratória, secreções oculares, febre (41°C), • inflamação da faringe, dos brônquios e aumento das tonsilas. Cão com secreção nasal mucopurulenta causada pela cinomose. B) Gastrointestinal • vômito, diarréia eventualmente sanguinolenta (freqüentemente conseqüência de infecções secundárias) • anorexia, febre, predispondo a infecções bacterianas secundárias C) Nervosa • alterações comportamentais – vocalização como se o animal estivesse sentindo dor, respostas de medo e cegueira • convulsões, contração rítmica persistente e indolor mesmo durante o sono de um ou de um grupo de músculos • paresia ou paralisia ascendente, frequentemente começando a se tornar evidente como uma ataxia nos membros pélvicos, bexiga, mandíbula e reto • Sintomas cerebelares – mioclonia • Sintomas vestibulares – nistágmo, ataxia, cabeça pêndula, – movimentos de andar em circulo e movimentos de pedalagem, – a mortalidade nesta fase varia entre 30% a 80% Quais as fases da convulsão? • Uma convulsão é constituída por 3 fases: – Fase pré-ictal – alteração de comportamento, esconde-se, fica agitado ou procura o dono, inquieto, nervoso, tremer e salivar. Duração: minutos a horas. – Fase ictal – a convulsão - Contração muscular violenta, cai, parece paralisado. Frequentemente ocorre micção, salivação e defecação. Duração: segundos a 5 minutos. status epilepticus - Após 5 minutos de convulsão, – Fase pós-ictal - pós ataque convulsivo. Após uma convulsão o animal fica desorientado, confuso, saliva, arfa e pode ficar temporariamente cego. É causa comum de convulsões em cães com menos de seis meses de idade. Diagnósticos diferencias para convulsão em filhotes • Hipoglicemia • Encefalopatia • Hidrocefalia • Toxoplasmose • Cinomose • Parasitismo • Trauma • Magnitude do envolvimento neurológico tem grande influência no prognóstico da cinomose D) Cutânea • dermatite com pústulas abdominais, • hiperqueratose nos coxins podais e focinho • infecções neonatais (hipoplasia de esmalte dentário), • conjuntivite e lesões na retina Dermatites vesicular e pustular em filhotes raramente estão associadas a doença do SNC, enquanto os cães que desenvolvem hiperqueratose nasal e digital geralmente têm complicações neurológicas. Cão com cinomose apresentando dermatopatia.Doença dos Coxins ásperos. Cão com cinomose apresentando hipoplasia de esmalte dentário. Diagnóstico • Hematologia A resposta hematológica pode variar Leucopenia X leucocitose Linfopenia Anemia normocítica e normocrômica Monocitose Trombocitopenia • Leucograma – Leucocitose por neutrofilia e desvio a esquerda • Infecção bacterina secundária do trato dogestivo e respiratório – Leucopenia (filhotes) • Depleção dos tecidos linfóides • Tromcitopenia • Linfopenia. Inclusões de Sinegaglia lentz Diagnóstico • Fundamentado nos Sinais Clínicos • Achados laboratoriais • IFD – detecção do Ag em imprints conjuntivais ou vaginais e de capa leucocitária • ELISA ou IFI – detecção de Ac no sangue ou LCR • PCR – 1 mês sem vacina • Achados post-mortem: inclusões de Sinegaglia lentz nos neurônios. Lesões discretas Inclusões de Sinegaglia lentz ↓ Fase de viremia da doença ↓ Ferramenta de diagnóstico precoce Diagnóstico diferencial • Verminose • Isosporose • parvovírus • coronavírus • parainfluenza • toxoplasmose • Prognóstico – prognóstico é reservado – taxa de mortalidade é alta • cãezinhos jovens • há sinais neurológicos juntamente com infecção secundária A eutanásia é recomendada no caso de animal com sinais neurológicos progressivos graves e incapacitantes ????? Tratamento Suporte • Não há, medicamentos antivirais de valor especifico, assim como o uso de agentes quimioterápicos, ou que sejam considerados bem-sucedidos na terapia da cinomose canina. • Antibióticos de amplo espectro estão indicados nas infecções bacterianas secundarias do trato gastrointestinal e do sistema respiratório. • Umidifacação das vias aéreas, soluções eletrolíticas, vitaminas do complexo B, antipiréticos, expectorantes, bronco dilatadores, antieméticos e complementos nutricionais estão indicados para a terapia auxiliar. • Complexo B – tônicas e regeneradoras do tecido nervoso, antialgia, mielopoiética e estimulante do • Vitamina A – proteção e regeneração de epitélios • Vit. E e C: Antioxidantes • Para o controle dos ataques convulsivos, são indicados anticonvulsivantes, como por exemplo, fenobarbital, isto quando necessário. • A mioclonia é considerada intratável e irreversível. • Administração de glicocorticóides pode ter algum valor em cães com a doença no SNC por infecção crônica pelo vírus da cinomose, sendo que sua administração em cães com infecção aguda é contra- indicada. • A administração de vacina de vírus da cinomose modificado por via endovenosa (EV) apresenta um valor terapêutico, mas não possui efeito quando os sinais clínicos neurológicos tenham iniciado. A severidade da doença pode ser reduzida se dentro de 4 dias de exposição, a vacina for utilizada no animal, no entanto, vacinas que contenham outros agentes (Leptospira ou adenovírus) não devem ser administrados pela via EV. • O soro hiperimune é utilizado para tentar aumentar a resposta imunológica do animal, mas devido seu alto custo não vem sendo empregado frequentemente na rotina clinica veterinária. • Acupuntura - recuperação do paciente com encefalite instalada e paralisia dos membros, após a regressão dos sintomas agudos. Ribavirina (30 mg /kg 24/24h, 15 dias ↓ Inibidora da replicação “in vitro” de alguns RNA e DNA-vírus ↓ “in vivo” (espectro de ação menor) ↓ No grupo dos Paramyxovirus todos os componentes são sensíveis a ribavirina Controle e Profilaxia • Isolamento dos animais doentes; • Desinfecção do ambiente; • Vacinação periódica – 60, 90, 120 e 150 dias; • Revacinação anual controvérsia. • A imunização bem sucedida dos cães filhotes com as vacinas de vírus vivos modificados (VVM) da cinomose canina depende da ausência de um anticorpo materno, já que este pode bloquear o vírus vacinal. Os filhotes podem ser vacinados com vacina viva modificada no período de 6 a 8 semanas de idade, com intervalo a cada 3 a 4 semanas até completarem 14 a 16 semanas de idade. Devendo ser reforçadas com um ano de idade, já que alguns cães tornam- se suscetível neste período.
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