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Instituto Superior Ciências de Saúde Curso de Licenciatura em Enfermagem Cadeira de Dermatologia Infecções Virais da Pele Discentes: Ancha Ali Maliha Domingos Castigo Júnior Júlia Estevão Ndilessa Libânia Caixote Lurdes Maluana Docente: Maria Albertina, M.D. Maputo, Agosto de 2021. Índice Introdução .............................................................................................................................. 3 Objectivos .............................................................................................................................. 4 1. Generalidades das Infecções Virais da Pele ................................................................... 5 2. Herpesvírus..................................................................................................................... 6 2.1. Herpes Simples ....................................................................................................... 6 2.2. Vírus da Varicla-Zóster (VZV ou HHV-3) ........................................................... 10 2.2.1. Varicela ............................................................................................................. 10 2.2.2. Herpes Zóster .................................................................................................... 13 3. Poxvírus ........................................................................................................................ 15 3.1. Vacina ................................................................................................................... 15 3.2. Nódulos dos Mungidores ...................................................................................... 16 3.3. Ectima Contagioso ................................................................................................ 17 3.4. Molusco Contagioso ............................................................................................. 19 4. Papovavírus .................................................................................................................. 21 4.1. Verrugas ................................................................................................................ 22 5. Acrodermatite Papular Infantil ..................................................................................... 29 6. Eritema Infeccioso........................................................................................................ 31 Conclusão ............................................................................................................................ 34 Referências Bibliográficas ................................................................................................... 35 Introdução Como é sabido, a pele humana é susceptível a invasão de vários agentes com potencial patogénico que suscitam quadros infecciosos com um espectro de manifestações cutâneas diversificado, sendo que, parte significativa dessas manifestações é associada a agentes virais. Assim, convencionou-se designar de forma genérica todos os processos infecciosos da pele de causa viral como sendo dermatoses virais, ou viroses dermatológicas, ou ainda dermatoviroses, que podem limitar-se apenas a determinadas áreas circunscritas da superfície da pele ou assumir um carácter sistémico de gravidade relativamente variável. Neste trabalho, buscar-se-á fazer uma abordagem holística e sistemática das infecções virais da pele. Assim, dado ao grande número de viroses cutâneas conhecidas, o trabalho aborda em torno das infecções virais limitadas em áreas circunscritas da superfície tegumentar causadas por Herpesvírus, Poxvírus, Papovavírus e Enterovírus. Inclui-se também na abordagem do trabalho a Acrodermatite Papular Infantil e o Eritema infeccioso. O objectivo do trabalho consiste em dar a conhecer as principais doenças dermatológicas causadas por infecções virais, aclarando aspectos relacionados com a sua definição, epidemiologia, etiologia, patogenia, manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento, evolução e prognóstico. A materialização do conteúdo deste trabalho é o resultado duma vasta e exaustiva consulta bibliográfica de fontes fidedignas. Objectivos Os objectivos do trabalho foram definidos em geral e específicos. Objectivo Geral Conhecer de forma holística as infecções virais da pele. Objectivos específicos Definir o conceito de infecções virais da pele. Identificar os principais grupos de agentes etiológicos das infecções virais da pele. Descrever o quadro clínico-epidemiológico de cada uma das infecções virais. Propor o regime terapêutico adequado a cada uma das infecções virais da pele descritas. 1. Generalidades das Infecções Virais da Pele As infecções virais da pele, também conhecidas como viroses cutâneas, viroses dermatológicas, dermatoses virais ou dermatoviroses, são todas aquelas manifestações que se desenvolvem na pele a partir de uma infecção viral local ou sistêmica. Em termos de constituição, os vírus têm somente um único ácido nucléico, RNA ou DNA, sendo estes últimos os principais agentes etiológicos de viroses de maior interesse dermatológico. A partícula infectante, o Virião, é constituída pelo ácido nucléico envolto em uma cápsula proteica, dominada Capsídio, que, por sua vez, é constituída por subunidades chamadas Capsômeros. O conjunto de ácido nucléico e 1 capsídio tem o nome de Nucleocapsídio que, dependendo do vírus, pode ser ou não envolvido por um envelope lipoprotéico. O seu tamanho varia entre 10 e 300 nm. No que se refere a patogenia dos vírus, estes agem de maneira directa, alterando o metabolismo das células parasitadas; estas, para se tornarem infectadas, necessitam apresentar em sua superfície, receptores específicos para determinados vírus. As infecções virais podem ser de três tipos: infecção citolítica, infecção permanente e infecção integrada. No tipo citolítico, o vírus penetra na célula, replica-se e provoca a morte celular precoce, por vários mecanismos, com liberação do vírus no fluido extracelular, como acontece na Herpes. Na infecção permanente, o vírus quase não altera o metabolismo e a multiplicação da célula, sendo eliminado por meio de brotamento de superfície da própria célula, e assim penetra em outra célula, tal como ocorre na Verruga. Na infecção integrada, o vírus, ou parte dele, se integra ao DNA celular, mudando as características da célula infectada ou mesmo induzindo a transformação neoplásica, como na infecção pelo Vírus Epstein-Barr. As infecções virais podem ocorrer de duas formas distintas, a citar: podem ser exclusivas da pele ou podem ocorrer como manifestações cutâneas de infecção sistémica. A seguir será feita a descrição minuciosa das principais dermatoviroses. 2. Herpesvírus São vírus com um duplo filamento de DNA linear em seu núcleo, um capsídeo icosaédrico de 100-200 nm de diâmetro, 162 capsómeros e um envelope com espículas glicoprotéicas na superfície. A patogênese das infecções por herpes-vírus segue a sequência de infecção primária, latência e reactivação. Os membros deste grupo com capacidade de infectar o homem são o vírus herpes simples tipos 1 e 2 (HSV-1, HSV-2), vírus da varicela-zóster (VZV), vírus Epstein- Barr (EBV), citomegalovírus (CMV), herpes-vírus humano tipo 6 (HHV-6), herpes-vírus humano tipo 7 (HHV-7) e herpes-vírus humano tipo 8 (HHV-8). Neste trabalho, serão descritos os dois primeiros. Estes vírus são classificados em três (3) grupos, a mencionar: Alphaherpesvirinae (citolíticos), que inclui HSV-1, HSV-2 e VZV; Betaherpesvirinae (citomegálicos), que inclui EBV ou HHV-4, CMV ou HHV-5, HHV-6 e HHV-7 e; Gammaherpesvirinae (oncogênico) que contém o HHV-8, causador do Sarcoma de Kaposi. 2.1. Herpes Simples DefiniçãoPor definição, o Herpes simples é uma afecção eruptiva de um ou mais grupos de vesículas, que assentam sobre uma base eritematosa e se localizam em qualquer parte da superfície cutânea, tendo predilecção pela cara e pela região genital, precedida e acompanhada de sensação de calor ou queimadura. Breve Contextualização Histórica da Doença As lesões herpéticas têm sido descritas desde a antiguidade, inclusive pelos notáveis médicos Hipócrates e Galeno. A palavra “herpes” foi definida por estudiosos gregos como “rastejar ou engatinhar”, em referência à natureza da propagação das lesões na pele. Lipschitz foi o primeiro a sugerir diferenças antigénicas entre os dois tipos de HSV, mas foi somente em 1968 que Nahmias e Dowdle demonstraram que o HSV-1 era mais frequentemente associado com infecções orolabiais e o HSV 2, com infecções genitais. Epidemiologia O vírus herpes simples tem uma distribuição mundial e é mais comum em países de baixa renda. Estima-se que cerca de um terço da população do mundo tenha experimentado uma infecção por HSV sintomática. O HSV-2 é o agente etiológico de 80 a 90% dos casos de herpes genital e de 10 a 20% dos casos de herpes labial. Com o HSV-1, ocorre justamente o contrário. A infecção pelo HSV-2 é, geralmente, de transmissão sexual, com grande incremento no início da puberdade. Já o HSV-1 é adquirido desde a infância e acomete 50% das crianças na faixa etária de 12 anos. Etiologia O Herpes simples é causado pelo Herpes vírus hominis. Existem dois (2) tipos antigénicos de principais vírus: os tipos 1 e 2 (HSV-1e HSV-2). Transmissão A transmissão dos vírus da Herpes simples dá-se por meio do contacto directo com a pele ou secreções de uma pessoa infectada. A transmissão do vírus pode persistir após a infecção estar clinicamente resolvida. Patogenia Os HSV-1e HSV-2 são vírus que se replicam no interior do núcleo da célula infectada. Após o contacto directo ou por meio de secreções com o tecido mucocutâneo, o vírus é transmitido via nervos sensitivos aos gânglios onde reside em fase latente. Infecções recorrentes são causadas por reactivação do vírus que cursa retrogradamente à pele ou mucosa, resultando em infecção activa. A reacção imune suprime o vírus com clareamento das lesões em 1 a 2 semanas, mas persiste a latência nos gânglios nervosos. A infecção recorrente pode ocorrer com intervalos de semanas, meses ou anos. A febre, a exposição ao sol e o stress são os factores capazes de desencadear a recorrência da infecção. Manifestações Clínicas a) Anamnese Os pacientes com Herpes orolabial queixam-se de “bolha da febre” ou “ferida do resfriado” na região perioral ou de feridas na cavidade oral. Enquanto os pacientes com Herpes genital queixam-se de dor ou formigueiro na região genital. A infecção primária ocorre de 3 a 7 dias após a exposição. Dor, sensibilidade e queimação localizadas podendo ser acompanhadas por febres, mal-estar e linfadenopatia de consistência macia. Inicialmente surgem vesículas que evoluem para pústulas e /ou erosões, com resolução em 1 a 2 semanas. b) Exame Físico Ao exame físico, caracteriza-se por lesões cutâneas ou mucosas localizadas, constituídas por um ou mais grupos de vesículas confluentes em “cacho de uvas”, geralmente acompanhadas por adenite satélite. As lesões são acompanhadas por eritema local e as vesículas rompem-se e formam crostas que tendem para a cura sem cicatriz. A localização mais frequente é nos lábios, herpes labial, mas também no nariz, na região geniana e nas orelhas. Ocorre na boca como gengivo-estomatite herpética, na língua, faringe e estômago. Na região genital e nádegas, herpes genital e, nos dedos, o panarício herpético. Legendas: Herpes labial (A); Herpes genital (B) e Panarício herpético (C). Diagnóstico O diagnóstico do Herpes Simples é essencialmente clínico através das principais características das lesões, que são vesículas agrupadas e dolorosas, ou erosões na face ou na região genital. A B C a) Diagnóstico Laboratorial As culturas para vírus e a reacção em cadeia polimerase (PCR) são testes sensíveis e específicos capazes de diferenciar entre HSV-1e HSV-2. b) Diagnóstico Histopatológico O esfregaço de Tzanck precedido de raspado da base da lesão com bisturi revela células epiteliais gigantes e multinucleadas. A biopsia da pele revela alterações no núcleo dos queratinócitos, características de infecção viral. Tratamento O Herpes orolabial brando em pacientes imunocompetentes não requer tratamento. Contudo, a doença moderada a intensa pode ser tratada com fármacos tópicos ou orais. É imprescindível iniciar o tratamento imediatamente após o inicio do sintomas, pois a efectividade dos fármacos é reduzida quando administrados 72 horas após a instalação dos sintomas. Na tabela que se segue serão listados os principais fármacos orais e tópicos. Tabela 1: Medicamentos para o tratamento de herpes simples Medicamentos Tópicos Nome genérico Posologia Duração Pomada de aciclovir a 5% A cada 3 horas , 6 vezes ao dia 7 dias Creme de docosanol a 10% 5 vezes ao dia Até 10 dias Creme de Penciclovir a 1% A cada 2 horas 4 dias Medicamentos Orais Aciclovir Primário: 400mg, 3 vezes ao dia Genital recorrente: 800 mg, 2 vezes ao dia 7-10 dias 5 dias Fanciclovir Primário: 250mg, 3 vezes ao dia Orolabial recorrente: 1,5g, dose única Genital recorrente: 1g duas vezes ao dia 7-10 dias 1 dia 1 dia Valaciclovir Primário: 1g, 2 vezes ao dia Orolabial recorrente: 2g, 2 vezes ao dia Genital recorrente: 500mg, 2 vezes ao dia 10 dias 3 dias 1 dia Fonte: Adaptado do Soutor, C. Hordinsky, M. (2015) Dermatologia Clínica. Evolução e Prognóstico O prognóstico, em geral, é bom. As lesões tendem evoluir para a cura, sem cicatriz em 1 a 2 semanas. Por vezes, 7 a 10 dias após o herpes labial recorrente, podem surgir lesões do eritema multiforme induzido por sensibilização à componentes virais. 2.2. Vírus da Varicla-Zóster (VZV ou HHV-3) O Vírus da Varicla-Zóster (VZV) ou Herpes vírus humano - 3 (HHV-3) é o agente etiológico da varicela (catapora) e do herpes-zóster (cobreiro). Por se tratar de duas entidades diferentes, sendo a primeira a infecção primeira e a segunda uma reactivação, estas serão descritas de forma individualizada. 2.2.1. Varicela Definição A Varicela é numa doença infecciosa e altamente contagiosa, de carácter benigno e auto- limitado, causada pelo vírus Varicela-zóster, cuja principal característica clínica é o polimorfismo das lesões cutâneas que se apresentam nas diversas formas evolutivas (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas) acompanhadas de prurido. Epidemiologia O VZV tem uma distribuição mundial e 98% da população adulta é soropositiva. Sem imunização, 90% dos casos ocorrem em crianças com menos de 10 anos de idade e em menos de 5% dos indivíduos com mais de 15 anos. Com imunização, a incidência é acentuadamente reduzida. Transmissão Gotículas contaminadas suspensas no ar são a rota usual de transmissão da varicela, embora o contacto directo com o líquido vesicular seja outro modo de propagação. O período de incubação varia entre 11 e 20 dias. A varicela é extremamente contagiosa, e 80%-90% dos contactos domiciliares susceptíveis desenvolvem uma infecção clínica. O indivíduo afectado pode infectar outras pessoas 1-2 dias antes das lesões da pele aparecerem até que todas as vesículas tenham crostas. Patogenia Durante a infecção primária da varicela, a viremia ocorre depois de um período inicial de 2 a 4 dias de replicação viral dentro de linfonódos regionais. Um ciclo de replicação viral no fígado, baço e outros órgãos é seguido por viremia secundária pelo corpo inteiro 14 a 16 dias pós-exposição. Durante esse período, o vírus viaja para a epiderme ao invadir as células endoteliais capilares e causa degeneraçãopor balonização das células epiteliais e acúmulo de líquido de edema com vesiculação. Subsequentemente o VZV viaja a partir de lesões mucocutâneas para as células ganglionares da raiz dorsal, onde permanece latente até reactivação em data posterior. Manifestações Clínicas Em geral, o quadro costuma a ser de evolução benigna. Os pródromos incluem hiperemia da orofaringe, febre alta, astenia e tosse seca. As lesões cutâneas iniciam-se com máculas eritematosas, de distribuição craniocaudal, que, em um período de cerca de 8 a 12 h, evoluem para vesículas, pústulas e crostas, em um processo contínuo que causa polimorfismo regional. Tendem a se localizar mais no eixo central do corpo e poupam parcialmente as extremidades. Algumas lesões evoluem com umbilicação central bastante característica. Legenda: Varicela. Lesões no dorso e na face em vários estágios de evolução, pápulas eritematosas, pústulas e lesões crostosas. Diagnóstico O diagnóstico da varicela é eminentemente clínico, com a erupção característica em combinação com a história de exposição viral nas 2 a 3 semanas anteriores. a) Diagnóstico Laboratorial O diagnóstico laboratorial pode ser feito através da sorologia por ELISA que mostra anticorpos IgM na infecção recente. Pode-se utilizar ainda a imuno-histoquímica, com anticorpos monoclonais específicos para VZV ou PCR para detecção do DNA viral nas vesículas recentes. b) Diagnóstico Histopatológico Em geral não é necessário. A citodiagnose de Tzanck revela células multinucleadas. A histopatologia mostra vesícula epidérmica com células balonizantes. Podem ser encontradas inclusões eosinofílicas em núcleo de células epiteliais e em células endoteliais. Tratamento O tratamento consiste essencialmente em: i. Medidas gerais: repouso e higienização das lesões e antibióticos sistêmicos em caso de infecção secundária. ii. Tratamento sintomático: antipiréticos como o paracetamol ou dipirona para controle da febre. Não é indicado usar aspirina em criançaspelo risco da síndrome de Reye. 1. Agentes Antivirais: em caso de doença moderada a grave, está indicado aciclovir na dose de 20 mg/kg por via oral, 4 vezes/dia, sendo eficaz quando iniciado nas primeiras 72 horas. Evolução e Prognóstico O prognóstico, em geral, é bom e a evolução da doença é de carácter autolimitado. 2.2.2. Herpes Zóster Definição Herpes Zóster, também dito Cobreiro, é a designação atribuída a reactivação do vírus lactente da varicela. Epidemiologia Indivíduos com história de varicela primária apresentam risco de 20 a 30% de desenvolver herpes zóster ao longo da vida. Raramente afecta as crianças e os adolescentes.A incidência e a gravidade aumentam apos os 60 anos e em indivíduos imunocomprometidos. Patogenia Após o curso da varicela, o vírus pode manter-se latente em gânglios da raiz dorsal. A reactivação causa erupção cutânea na área de enervação dói nervo sensitivo afectado, pode ser induzida por traumatismo, stress, febre, radioterapia ou imunossupressão. Manifestações Clínicas O quadro clínico é, quase sempre, típico. A maioria dos doentes refere, antecedendo as lesões cutâneas, dores nevrálgicas. A lesão elementar é urna vesícula sobre base eritematosa. A erupção é unilateral, raramente ultrapassando a linha mediana, seguindo o trajecto de um nervo (distribuição dermatómica). Surgem de modo gradual, levando de dois a quatro dias para se estabelecerem totalmente. Quando não ocorre infecção secundária, as vesículas se dessecam, formam-se crostas e o quadro evolui para a cura em duas a quatro semanas. Os nervos mais frequentemente acometidos são: torácico (53%), cervical (C2 a C4 – 20%), trigêmeo, incluindo o oftálmico (15%) e lombossacro (11%). Legenda: Herpes zóster costal. Diagnóstico O diagnóstico é essencialmente clínico, tendo como achados vesículas dolorosas agrupadas e distribuídas sobre um dermátomo. a) Diagnóstico Laboratorial O diagnóstico laboratorial é feito através da cultura para o vírus e do teste de PCR. b) Diagnóstico Histopatológico Os achados do esfregaço de Tzanck ou biopsia da pele são similares aos do herpes simples. Complicações A neuralgia pós-herpética é a complicação mais grave do herpes zóster. Ocorrendo falha no seu tratamento, pode ser intensa e perdurar por meses ou anos. Atinge principalmente doentes idosos. Pode haver comprometimento de fibras motoras, como paralisia facial, paralisia intestinal ou disfunção urinária como sequelas de comprometimento de nervoso. Tratamento O tratamento consiste essencialmente em: i. Medidas gerais: estão indicadas compressas com antissépticos para evitar infecção secundária ii. Tratamento sintomático: Analgésicos, consoante a intensidade da dor. iii. Agentes Antivirais: a terapia electiva é com aciclovir, na dose de 800 mg, cinco vezes por dia (dosagem diária 4 g), 7 dias' que deve ser iniciada precocemente. Pode ser substituído pelo famciclovir, 1 g cada 12 horas, igualmente por 7 dias. Este tratamento feito precocemente previne a neurálgia pós-herpética. O tratamento de neuralgia pós-herpética inclui carbamazepina em doses de 100 a 400 mg/dia, amitriptilina em doses de 12,5 a 75 mg/dia, benzodiazepínicos, opiáceos e, até mesmo, bloqueio ganglionar. Evolução e Prognóstico As lesões cutâneas cicatrizam em duas semanas e deixam manchas pigmentares. 3. Poxvírus A família dos poxvírus (Poxviridae) é capaz de infectar vertebrados e invertebrados. Foram descritos em todos os continentes. São DNA-vírus de grandes dimensões e dividem-se em quatro gêneros: Orthopoxvirus (varíola, vaccínia, cowpox, monkeypox), Parapoxvirus (Orf, nódulo dos ordenhadores), Molluscipoxvirus (molusco contagioso) e Yatapox (tanapox). 3.1. Vacina Definição A vaccínia ou vacina é uma moléstia localizada, restrita ao ponto de inoculação, decorrente da infecção com o vírus vacínico-Poxvírus officinale, usada para o desenvolvimento da imunidade antivariola. Acomete pessoas recém-vacinadas com o VACV, que era usado na imunoprofilaxia da varíola até o final dos anos 1970. Epidemiologia Actualmente a doença é de menor importância, em virtude da erradicação da varíola e consequente interrupção da administração da vacina. Antes da introdução da metisazona na terapêutica, era fatal em 80% dos casos. Transmissão Actualmente, com a extinção da varíola, a vacinação foi abolida. Assim, a lesão tecidual pela vacina surge em indivíduo não vacinados, por contágio directo com indivíduos vacinados. Etiologia O agente etiológico é o vírus vacinico-Poxvírus officinale. Manifestações Clínicas Os quadros descritos após a vacinação são eczema vaccinatum, descrito por Kaposi em atópicos, semelhante ao quadro causado pelo herpes-vírus; vaccínia generalizada; lesões por auto inoculação com atenção especial ao acometimento ocular (vaccínia ocular); uma reacção local muito intensa com necrose tecidual (vaccínia progressiva ou vaccínia gangrenosa); e raros casos de encefalite pós-vacinal. Tratamento O tratamento é feito através da administração de Metisazona 600 mg/kg dose única ou em 8 doses menores de 50mg/kg a cada 6 horas. Alternativo à esta, a Imunoglobulina Hiperimune antivariólica é útil. 3.2. Nódulos dos Mungidores Definição Nódulos Mungidores também conhecida como Paravacina ou Pseudo-cowpox, corresponde à infecção causada pelo paravaccínia vírus. Epidemiologia Apresenta distribuição universal e é observado nos indivíduos em contacto com o úbere de vacas (ordenhadores de gado, veterinários) ou focinho de bovinos infectados, podendo ocorrer também naqueles que manipulam carnes e/ou objectos contaminados. Manifestações Clínicas O período de incubação é de 5 a 15 dias. O número de lesões varia de 1 a 5 e são eritematopapulosas, assintomáticas, que evoluem com ulceração central,acometendo preferencialmente mãos, antebraços e, ocasionalmente, face. As lesões regridem espontaneamente em um período de 6 a 8 semanas, sem deixar cicatrizes. Raramente ocorre linfadenopatia. A infecção confere imunidade ao hospedeiro. Legenda: Nódulo dos ordenhadores. Lesão nodular eritematoviolácea, arredondada, de centro claro deprimido, com halo eritematoso. Diagnóstico O diagnóstico geralmente se baseia na história epidemiológica, no exame dermatológico e na histopatologia. a) Diagnóstico Histopatológico Os achados histopatológicos são hiperparaceratose e acantose da epiderme, vesículas multiloculadas, degeneração reticular e balonização das células do terço superior da epiderme. Corpos de inclusão eosinofílicos e intracitoplasmáticos são característicos, mas não estão presentes em todas as fases de evolução. Na derme, há um infiltrado inflamatório mononuclear com eosinófilos. O diagnóstico pode ser estabelecido definitivamente pela demonstração de partículas virais por microscopia electrónica. Tratamento Por se tratar duma doença autolimitada, a conduta é expectante. Evolução e Prognóstico O prognóstico é bom e a evolução da doença é de carácter autolimitado. 3.3. Ectima Contagioso Definição O Ectima contagioso, também dito Orf ou dermatite pustulosa infecciosa, é a designacao atribuída à infecção do vírus Orf e ocorre em pastores e veterinários que lidam com carneiros ou cabras infectados. Por essa razão, também é chamado de Dermatite Pustulosa dos Carneiros. Epidemiologia A doença atinge, preferencialmente, os lavradores, veterinários, magarefes e carniceiros. Etiologia O Orf humano é causado por um parapoxvírus dermatotrópico, que infecta comumente ungulados (ovinos, caprinos, cervídeos, etc.). Transmissão Os seres humanos são infectados por inoculação do vírus por contacto directo com cordeiros e indirectamente por objectos contaminados. Não ocorre transmissão de um ser humano para outro. A exposição ocorre na época do abate de cordeiros na Páscoa ou no feriado muçulmano Eid al-Adha. Manifestações Clínicas O quadro clínico da doença é caracterizado por máculas, pápulas e nódulos no local de inoculação, que ocorrem mais comumente nas mãos, nos braços, nas pernas e na face. As lesões podem estar edemaciadas ou bolhosas. Ocorrem síndrome inflamatória de reconstituição imune (SIRI) e lesões em alvo. As lesões são de coloração rosada a vermelha a esbranquiçadas. As lesões evoluem, formando erosões crostosas ou úlceras. Outras anormalidades associadas são linfangite ascendente e linfadenopatia. Legenda: Orf humano: Várias bolhas com padrões em alvo e síndrome inflamatória de reconstituição imune em lesões nas mãos de um pastor de ovelhas. Diagnóstico Manifestações clínicas com história apropriada. A doença pode ser confirmada pela detecção do DNA do vírus Orf pela reacção em cadeia da polimerase quantitativa. Tratamento Não existe nenhum tratamento antiviral efectivo. Nos quadros de múltiplas lesões pelo ORF, foi descrita a utilização de imiquimode, crioterapia e excisão cirúrgica. Evolução e Prognóstico É uma enfermidade de evolução auto limitada e, em geral, possui um bom prognóstico. As lesões regridem espontaneamente em quatro a seis semanas, sem deixar cicatrizes. Nos seres humanos, a infecção confere imunidade duradoura. 3.4. Molusco Contagioso Definição O molusco contagioso é uma infecção viral epidérmica benigna e autolimitada. Epidemiologia A infecção tem distribuição mundial e ocorre em todas as etnias. É uma doença tipicamente de crianças e adultos jovens. É igualmente comum em adultos sexualmente activos, sendo mais prevalente no sexo masculino do que no feminino. É mais comum e mais grave em paciente com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), especialmente nos com contagem baixa de CD4. Na doença avançada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), centenas de pequenos moluscos ou moluscos gigantes ocorrem na face e em outros locais. Etiologia Esta dermatose é produzida pelo maior vírus que se conhece e que pertence ao grupo Poxvirus. O vírus do molusco contagioso (MCV) apresenta quatro subtipos distintos, sendo o MCV1 de longe o mais prevalente e o MCV2 o mais frequente em adultos. Transmissão A transmissão faz-se por contágio directo pele a pele ou indirecto por roupas e outros objectos de uso comum . Manifestações Clínicas O período de incubação após o contacto com o indivíduo infectado varia entre 2 a 7 semanas, seguido do surgimento de pápulas na pele e algumas vezes na mucosa genital. As lesões inicialmente costumam a ser assintomáticas, mas é possível haver prurido e inflamação. Ao exame físico, as lesões características são pápulas nódulos, tumores de cor da pele com umbilicação ou depressão central. As lesões podem assumir vários padrões de distribuição e formas que vão desde lesões redondas, ovais, hemisféricas. Lesão única isolada; lesões dispersas múltiplas e distintas; ou placas confluentes em mosaico. Os moluscos maiores podem ter um tampão ceratótico central, formando uma depressão ou umbilicação central na lesão. Em pacientes imunocomprometidos, as pápulas podem ser maiores ou com distribuição mais extensiva. No que se refere ao padrão de localização das lesões, este varia em função da faixa etária. Em crianças, afecta mais a face, região superior do tórax e membros superiores, enquanto as regiões suprapúbica, anogenital e crural são mais afectadas em adultos. Legenda: Molusco contagioso. Pápulas umbilicadas características no tórax dum adolescente (A); Pápulas umbilicadas isolada e confluentes na face de um homem com doença pelo HIV. Diagnóstico O diagnóstico do molusco contagioso é basicamente clínico, sendo as características essenciais para a sua efectivação, a presença de pápulas de cor de pele com umbilicação central. A confirmação do diagnóstico é feita através do exame histopatológico que, em geral, é desnecessário pois o quadro dermatológico é característico. O exame histopatológico é extremamente característico, com o material viral eosinofílico ocupando o citoplasma e deslocando o núcleo dos queratinócitos para a periferia. Tratamento Em linhas gerais, conclui-se que nenhum tratamento isolado mostrou-se efectivo. Assim, o tratamento ideal a realizar inclui curetagem, criocirurgia e eletrodissecação, associada a aplicação do creme de imiquimode a 5%, nitrogénio líquido, cantaridina, ácido tricloroacético e solução aquosa de KOH a 5 ou 10%. Evolução e Prognóstico No hospedeiro normal, o molusco frequentemente persiste por até seis meses e, em seguida, sofre regressão espontânea sem deixar cicatrizes. Na doença pelo HIV, os moluscos persistem e proliferam mesmo após tratamento tópico agressivo. Em geral, os moluscos são sintomáticos e podem causar desfiguração estética e preocupação quanto à sua transmissão para um parceiro sexual. 4. Papovavírus Os Papovavírus são vírus oncogénicos que incluem os papilomavirus humanos (HPV).Têm 45 a 55 nm de diâmetro, simetria cúbica, 72capsómeros e DNA bicatenário, não são envolvidos e são resistentes ao éter. A família Papovaviridae contém dois géneros de vírus: os papilomavírus e os poliomavírus. O alvo da infecção dos primeiros é o epitélio de superfície, enquanto o dos poliomavírus são os órgãos internos. Estes vírus causam dois tipos distintos de infecção: produtiva e de transformação celular. A primeira leva a desintegração celular, enquanto a segunda afecta o comportamento das células levando a perda da inibição de contacto, constituintes antigénicos acompanhado de alterações nos cromossomas e capacidade de produzir tumores. Os papilomavirus humanos originam infecção de transformação gerando diferentes tipos clínicos de verrugas. 4.1.Verrugas Definição As verrugas são proliferaçõesepidérmicas benignas consequentes à infecção mucocutânea pelo papilomavírus humano (HPV). Contextualização Histórica da Doença A existência das verrugas remonta à Antiguidade. Na Grécia e na Roma antiga, já se sabia que as verrugas anogenitais eram transmitidas sexualmente. No final do século 19, as verrugas foram reconhecidas como infecção e, em 1907, Ciuffo demonstrou a sua transmissão por meio de filtrado estéril e livre de células proveniente de lesão clínica. Recentemente, esses vírus adquiriram importância pela associação com certos tipos de câncer, sendo o do colo uterino o exemplo mais eminente. Epidemiologia A prevalência das verrugas na população geral é desconhecida, estimando-se uma incidência de 10% para crianças e adultos jovens. O pico de incidência ocorre entre 12 e 16 anos de idade, sendo 70% verrugas vulgares, 24% plantares e 3,5% planas, e assiste-se, actualmente, a uma incidência ascendente das lesões genitais. Há alta incidência de infecção por papilomavírus (HPV) em pessoas com depressão da imunidade celular. Dos transplantados renais, cerca de 75% apresentam verrugas 5 anos após o transplante e, em função do uso de imunossupressores, são de dificílimo tratamento. A depilação, inclusive masculina, propicia a disseminação de lesões, assim como ocorre com o molusco contagioso. Etiologia As verrugas são causas por um grupo heterogéneo de Papilomavirus Humanos (HPV). Existem, até o momento, mais de 150 tipos, discriminados de acordo com o grau de homologia do DNA e estão classificados em 5 gêneros (α, β, μ, v e γ). Na medicina, os de maior significado pertencem ao género α, que é dividido em tipos cutâneos (agentes das verrugas vulgares) e tipos mucosos, sendo estes subdivididos em termos de evolução para câncer de alto risco (HPV-16 e -18) e de baixo risco (HPV-6 e -12). Transmissão A transmissão de HPV para uma pessoa não infectada ocorre pelo contato íntimo com alguém infectado ou por meio de queratinócitos descamados. Pequenas soluções de continuidade na pele são necessárias para a inoculação do HPV, explicando as verrugas em áreas de trauma e o fenômeno de Köebner. A autoinoculação é possível. Estudos experimentais demonstraram que o período de incubação varia de 1 a 6 meses para verruga vulgar e de 1 a 20 meses para verrugas genitais. Quanto mais antiga a lesão genital, menos contagiosa é. Classificação As verrugas podem classificar-se em dois grupos com suas respectivas variedades: i. Verrugas Infecciosas Comuns: a) Verrugas vulgares b) Verrugas Planas c) Verrugas filiformes digitais d) Verrugas plantares ii. Verrugas Genitais Manifestações Clínicas i. Verrugas Infecciosas Comuns As verrugas infecciosas comuns são excrescências papilares e hiperqueratósicas circunscritas que podem apresentar-se com diferentes aspectos clínicos conforme será descrito a seguir. a) Verrugas vulgares ou Comum Apresentam-se como pápulas cor de pele, hiperqueratóticas, exofíticas em forma de cúpula com tamanho variando entre 1 a 10 mm de diâmetro, podendo formar grandes massas por confluência. Pode haver eritema brando ao redor das bordas. Encontram-se, com maior frequência, no dorso das mãos, nos dedos e nos joelhos de crianças, principalmente entre 12 e 15 anos, mas podem ocorrer em outras regiões do corpo. b) Verrugas Planas Apresentam-se como pápulas pequenas, com 1 a 3 mm de diâmetro, ligeiramente elevadas, achatadas com mínima descamação, frequentemente vistas na face e nas mãos. c) Verrugas filiformes digitais Apresentam-se como pápulas pedunculadas com projecções digitiformes, que surgem da superfície cutânea e são frequentemente vistas na face e no pescoço. d) Verrugas plantares Apresentam-se, inicialmente, como pápulas brilhantes e nitidamente demarcadas, de 1 a 10 mm de diâmetro, que afectam a superfície plantar. Depois evoluem para placas com superfície hiperqueratótica rugosa, salpicada de pontos marrons-enegrecidos (capilares trombosados). As verrugas plantares que coalescem formando grandes placas são denominadas “verrugas em mosaico”, que consistem em uma colecção confluente e localizada de pequenas verrugas, “verrugas que se beijam”. ii. Verruga Genitais ou Venéreas Dos tipos de HPV descritos, O HPV-6 é o que mais se relaciona às lesões genitais e, portanto, à transmissão venérea. Podem apresentar-se como lesões vegetantes, úmidas, isoladas ou agrupadas, com aspecto de couve-flor (condiloma acuminado), ou como pápulas sésseis, queratóticas, verruga vulgar-símile e, às vezes, tendo proporções gigantescas. São popularmente conhecidas como “crista de galo”. Localizam-se na área genital e perigenital, geralmente de pessoas adultas, com aspecto róseo. Pode haver acometimento da mucosa uretral, retal ou vaginal. As pápulas sésseis e queratósicas são vistas na rafe peniana. As lesões hiperplásicas podem tornar-se exofíticas e maiores, enquanto as pápulas sésseis tendem a se manter pequenas. Legenda: Verruga vulgaris – pápulas hipererqueratóticas verrucosas na superfície dorsal do polegar. Legenda: Verrugas planas – múltiplas pápulas queratóticas na fronte e no couro cabeludo. Legenda: Verrugas Digitiformes – múltiplas pápulas pedunculadas com projecções digitiformes. Legenda: Verrugas Plantaris – múltiplas verrugas em padrão mosaico com pontod marrons-enegrecidos causados por capilares trombosados. Legenda: Condiloma Acuminado no pénis (A) na vulva(B) e no ânus (C). Diagnóstico O diagnóstico das verrugas é fundamentalmente clínico, tendo como a principal característica para a sua identificação a presença de pápulas lisas verrucosas, geralmente nas mãos, pés ou nos órgãos genitais. Pode indicar-se a biópsia da pele, especialmente se houver suspeita de carcinoma ou quando o diagnóstico for incerto. No exame histopatológico, os principais acfhados clínicos comuns às verrugas são a hiperceratose, paraceratose, acantose e papilomatose. A B C Tratamento O melhor tratamento é uma escolha pessoal, pois não há um fármaco antiviral específico para os HPV. Existem diversas modalidades terapêuticas, em especial as que levam à destruição ou à remoção das lesões visíveis, ou à indução de citotoxicidade contra as células infectadas. Contudo, vale referir que tratamentos dolorosos e que levam a formação de cicatrizes devem ser evitados. O tratamento das verrugas não deve ser feito, obrigatoriamente, de rotina, sendo indicado apenas quando há dor, prejuízo funcional, prejuízo estético ou capacidade oncogénica. As diferentes formas de tratamento de verrugas podem ser categorizadas em dois tipos: tratamento farmacológico, que pode ser sistémico ou local e o tratamento cirúrgico. 1. Tratamento Farmacológico Sistémico Indicada apenas nas verrugas vulgares múltiplas e nos condilomas ou papilomas venéreos múltiplos. Os fármacos mais eficazes, embora de acção nem sempre curativa, são o Etretinato e o Interferão. 2. Tratamento Farmacológico Local a) Cáusticos: os mais usados são o ácido nítrico, o ácido sulfúrico e o ácido tricloroacético. Embora muito eficazes, vêm sendo progressivamente abandonados devido ao risco de gerar cicatrizes inestéticas. b) Queratolíticos: o mais utilizado é o ácido salicílico a 10-20% em vernizes, pomadas ou telas adesivas. Actualmente constitui o método mais usado. c) Citostáticos: a escolha dos citostáticos varia em função do tipo de verruga. Assim, para o tratamento dos condilomas acuminados usa-se o pedofilino a 20% em álcool-éter. A cantaridina a 0,7% em colódico e acetona é usada para verrugas periungeais. A bleomicina é usada em injecções intralesionais para o tratamento de verrugas subungeais. 3. Tratamento Cirúrgico a) Electrocoagulação: consiste na electrocoagulação e raspagem com cureta, precedidas de anestesia da base da verruga com procaina. b) Criocirurgia: feita com nevecarbónica ou azoto líquido, consiste em congelar a verruga e 1 a 2 mm do tecido normal circundante. O Congelamento mata o tecido infectado, mas não o HPV. c) Cirurgia: consiste na curetagem da verruga precedida de anestesia local. A cirurgia clássica com incisão elíptica e sutura deve ser evitada devido a frequência de recidivas ao longo da sutura. Outras modalidades terapêuticas documentadas são a Laser terapia; as injecções sublesionais de sais de bismuto, que criam uma bolha de liquido entre a derme e a verruga, causando analgesia e insuficiente nutrição dói tecido resultando na sua involução; e pedilúvios de soluto de formalina para o tratamento das verrugas plantares. Na tabela que se segue serão apresentadas as técnicas mais aconselháveis para cada tipo de verruga. Tabela 2: Técnicas de tratamento dirigidas para cada tipo de verruga Tipo de Verruga Técnica de tratamento mais aconselhável Verrugas vulgares Com excepção dos tratamentos sistémicos, todas as técnicas podem ser usadas. Verrugas filiformes Queratolíticos como ácido salicílico e acido láctico Curetagem cirúrgica como alternativa. Verrugas plantares Queratolíticos em pomada com oclusão ou em telas adesivas, seguida de raspagem das partes maceradas. Curetagem cirúrgica como alternativa aos queratolíticos Verrugas planas Queratolíticos, especificamente, o soluto alcoólico de ácido salicílico a 5-10% para causar esfoliação superficial da epiderme. Condilomas Acuminados Pedofilino a 20% dissolvido em partes iguais de álcool e éter, aplicado em dias alternados. Deixa-se actuar por 4 horas e sua remoção é feita por lavagem com água e sabão. Criocoagulação e radiação a laser para condilomnas do colo do útero. Evolução e Prognóstico Nos indivíduos imunocompetentes, as infecções cutâneas pelo HPV em geral regridem espontaneamente, sem qualquer intervenção terapêutica. Na presença de defeitos dos mecanismos de defesa do hospedeiro, as infecções cutâneas causadas por HPV podem ser muito resistentes a todas as modalidades de tratamento. 5. Acrodermatite Papular Infantil Definição A Acrodermatite Papular Infantil ou Síndrome de Gianotti-Crosti refere-se à um padrão de reacção cutânea, relativamente frequente, exantemática e eritematopapulosa, associada à infecção primária e resposta imunológica à vírus, bactérias e vacinas, com depósito de imunocomplexos na pele. Epidemiologia A síndrome de Gianotti-Crosti tem uma distribuição mundial e ocorre, principalmente, em crianças mais novas. Em uma série grande de pacientes, a variação de idade foi de 6 meses a 14 anos, com a idade média de 2 anos, com igual intensidade em ambos géneros. Etiologia Antigamente tinha como principal etiologia o vírus da hepatite B, antígeno Austrália subtipo AYW. Actualmente, o Vírus Epstein-Barr (EBV) tornou-se o principal agente, porém outros vírus também podem desencadeá-la como o Citomegalovírus, vírus Coxsackie A16, B4, B5, vírus ECHO 7 e 9, poliovírus, parvovírus e o Herpes vírus humano – 6 (HHV-6), assim como pode surgir após imunizações. Eventualmente, bactérias como Bartonella henselae, Mycoplasma pneumoniae, estreptococos beta-hemolíticos também podem desencadear a doença. Manifestações Clínicas Clinicamente, caracteriza-se por erupção simétrica, eritematosa ou papulosa, muitas vezes pruriginosas, de 1 a 5 mm de diâmetro localizada na face, no pescoço, nas nádegas e na face extensora das extremidades, geralmente com preservação do tronco, de instalação em cerca de 3 a 5 dias, e perdura por 1 a 3 meses. Acompanha-se de poliadenopatias generalizadas e de hepatomegália que persistem meses. Legenda: várias pápulas vermelhas, que se tornam confluentes nas bochechas (A) e na face extensora do membro superior esquerdo (B). Diagnóstico O diagnóstico da síndrome de Gianotti-Crosti é feito com base na história clínica completa e no exame físico. O hemograma pode revelar leucocitose com linfocitose. A histopatologia mostra infiltrado linfocitário perivascular, sem especificidade. Os testes laboratoriais os agentes virais específicos como o vírus da hepatite B e o Vírus Epstein- Barr, somente devem ser obtidos se forem clinicamente indicados. Tratamento A regressão espontânea normalmente ocorre dentro de 3 a 4 semanas, embora a erupção possa persistir por até 8 semanas. Evolução e Prognóstico O prognóstico da síndrome de Gianotti-Crosti é bom e as lesões regridem espontaneamente dentro de 3 a 8 semanas. A B 6. Eritema Infeccioso Definição O Eritema infeccioso também conhecido pelos nomes de Quinta doença ou doença da “face esbofeteada” é um exantema infantil associado à infecção primária pelo parvovírus humano B1 9, caracterizado por placas eritematosas e edemaciadas nas bochechas (bochechas esbofeteadas). Denomina-se a Quinta doença porque foi a últimas das 5doencas descritas que exibem exantemas parecidos. As outras 4 são a Rubéola, o Sarampo, a Escarlatina e a Doença de Filatov-Dukes. Epidemiologia A infecção por B19 ocorre em um padrão sazonal e tem o pico de incidência durante o inverno e a primavera. É mais comum em indivíduos jovens. A soroprevalência dos anticorpos B19 aumenta em proporção directa com a idade, de modo que 2-15% das crianças com 1-5 anos de idade, 15-60% dos indivíduos entre 5 e 19 anos e 30-80% dos adultos são imunes. Etiologia O agente etiológico da quinta doença é o parvovírus humano B19, um pequeno vírus de fita simples não envelopado. Transmissão O vírus é encontrado nas vias respiratórias durante o estágio de viremia da infecção primária e sua transmissão ocorre por gotículas respiratórias acrossolizadas. Patogenia Em voluntários que carecem de anticorpos séricos contra o vírus, ocorre viremia dentro de seis dias após a inoculação intranasal do parvovírus humano B 19. Os anticorpos IgM e, em seguida, IgG são produzidos depois de uma semana e eliminam a viremia. Nessa ocasião, pode ocorrer depressão significativa da medula óssea. O exantema começa 17 a 18 dias após a inoculação e pode ser acompanhado de artralgia e/ ou artrite, manifestações essas mediadas por imunocomplexos. Em hospedeiros imunocomprometidos, o parvovírus humano B19 pode destruir as células precursoras eritroides, causando crise aplásica grave em adultos. Manifestações Clínicas Os sintomas prodrómicos são vagos e, em geral, discretos, por vezes inexistentes, resumindo-se em febre baixa, mal-estar, dores musculoesqueléticas e náuseas, correspondendo a fase de virêmia. Abaixo seguem-se as próprias da doença: i. Lesões cutâneas faciais: placas edematosas e confluentes na região malar, “bochechas esbofeteadas”, com preservação da ponte do nariz e de regiões periorbitárias. As lesões desaparecem no decorrer de um a quatro dias. Em geral, ausentes nos adultos. ii. Lesões não faciais: aparecem depois das lesões faciais. Máculas e pápulas eritematosas, que se tornam confluentes, conferindo um aspecto rendilhado ou reticulado São melhor observadas nas superfícies extensoras dos braços, bem como no tronco e no pescoço. Desaparecem em cinco a nove dias. A erupção reticulada pode sofrer recidiva. iii. Lesões das mucosas: Raramente, enantema com eritema da língua e da faringe; máculas vermelhas na mucosa oral e no palato. iv. Articulações: particularmente, em adultos, há eventual poliartropatia de intensidade e duração variáveis, comummente acometendo as pequenas articulações das mãos, dos joelhos, dos punhos, dos tornozelos e dos pés. Legenda: “Bochechas esbofeteadas” - Eritema difuso e edema das bochechas (A); Eritema infeccioso reticulado – máculas eritematosas isoladas formando anéis nos braços (B). Diagnóstico Em geral, estabelecido com base nas manifestações clínicas. Demonstração de anticorpos IgM antiparvovírus humano B 19 ou soroconversão para IgG. Demonstraçãodo parvovírus humano B19 no soro. Durante a crise aplásica: ausência de reticulócitos, diminuição da hemoglobina, hipoplasia ou aplasia da série eritroide na medula óssea. Tratamento Nenhuma terapia antiviral específica está disponível para as infecções por B19, o tratamento é basicamente sintomático. Os medicamentos anti-inflamatórios não esteróides são úteis se houver artropatia sintomática. Os pacientes predispostos com crise aplásica podem precisar de transfusões de eritrócitos. As gestantes com infecção primária por B19 durante os primeiros trimestres devem ser submetidas a uma série de ultrassonografias fetais, e o tratamento de fetos gravemente afectados é possível com transfusão in útero. Evolução e Prognóstico A infecção regride em até três semanas, com possibilidade de recidiva r por estímulos variados, como exposição solar, tensões emocionais ou uso de corticoides. Em princípio, o prognóstico é bom. No entanto, factores como a imunodepressão e a gravidez podem agravar o prognóstico pela possibilidade de ocorrer anemias hemolíticas e anemia grave fetal, respectivamente. Conclusão Tomando em consideração a inespecificidade diagnóstica de vários exames laboratoriais dirigidos a identificação dos agentes virais, é-se chegado a concluir que a identificação clínica das infecções virais da pele, por meio da história e do exame físico, é uma ferramenta de valor inestimável para o estabelecimento do diagnóstico precoce e, nisso, instituição dum tratamento atempado e adequado. Um outro aspecto de relevo significativo a destacar, é o facto da maior parte das dermatoses virais não possuir ainda um tratamento definitivo. Assim, considerando que a infectibilidade dos vírus é influenciada por uma série de factores, grande parte destes preveníveis, é-se levado a valorizar a prevenção ao invés do tratamento, como um ângulo para o controle das viroses cutâneas. Referências Bibliográficas ARENAS, Roberto. s/d. Atlas de Dermatologia: diagnóstico e tratamento. 3ª ed. Mc Graw Hill. AZULAY, Rubem Davide. AZULAY, David Rubem (2007). Dermatologia. 3ª ed. 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