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Ginecologia Anna Victória T17 1 CASO Paciente, sexo feminino, 42 anos, com queixa de aumento de volume de sangramento no período menstrual, e do número de dias. Antes, seus ciclos menstruais, regulares, de 28 dias, e 4 dias de sangramento; há 1 ano: ciclos regulares, 28-30 dias, com 10 dias de sangramento, com aumento do volume (utiliza até 10 absorventes ao dia). 1. Qual a primeira conduta? 2. Que exames solicitar? 3. Qual possível tratamento seria prescrito? O QUE É NORMAL? • A mulher só deve sangrar no período da menacme (é o período da mulher que se estende da menarca (primeira menstruação) até a menopausa) • Frequência intermenstrual: ✓ 24-38 dias (a mulher só deve sangrar na menstruação, ela não deve sangrar fora da menstruação) • Duração: ✓ Até 8 dias • Regularidade: ✓ Variando entre 7-9 dias entre ciclos curtos e longos • Fluxo: ✓ Até 80 ml (na história se a mulher se incomoda, se ela acha que o fluxo está aumentado e junto com o que sabemos sobre fluxo aumentado devemos perguntar se aquilo atrapalha a vida da mulher, pois não é qualquer sangramento que vai fazer com que uma mulher ativa fique dentro de casa devido a estar sangrando muito e/ou com sintomas de sangramento como astenia, tontura) • Mudanças gerais no padrão de sangramento também são consideradas anormais, então, se a mulher tinha um padrão de sangramento e esse padrão de sangramento mudou bastante, a paciente deve ser considerada com sangramento anormal. Se esse sangramento atrapalha a vida da mulher aí é uma doença também. • Sangramento “não programado/não esperado”: está muito relacionado ao uso de anticoncepcionais a base apenas de progesterona e anticoncepcionais de baixíssima dosagem podem dar sangramentos de escape (sangramentos que não são esperados, geralmente intermenstruais) TERMOS TÉCNICOS • Menorragia/Hipermenorréia/Hipomenorréia → traduzem alterações do sangramento menstrual, alterações em relação ao fluxo e ao número de dias. Para alguns autores menorragia é igual a hipermenorréia (aumento do número de dias de 2 sangramento menstrual) e para outros autores, menorragia é diferente de hipermenorréia, onde menorragia seria o aumento do fluxo sanguíneo e hipermenorréia o aumento de dias. Hipomenorréia seria a diminuição do número de dias do sangramento; • Metrorragia → qualquer sangramento aumentado fora do período menstrual • Menometrorragia → aquela paciente que sangra muito durante a menstruação e sangra muito fora do período menstrual • Oligomenorréia – pouca menstruação, são ciclos menstruais longos, isso quer dizer que durante 1 ano/6 meses ela menstrua pouco, sangramento intermenstrual > 35 dias • Polimenorréia – paciente com ciclos curtos, ela menstrua muito, mas ela não sangra muito • Amenorréia – ausência de menstruação, mas precisa ter critérios para diagnóstico: ter ciclos regulares e passar 3 ciclos consecutivos sem menstruar e/ou paciente que passa mais de 6 meses sem apresentar sangramento menstrual - Falam de frequência intermenstrual • Spotting → sangramento em ponto, geralmente em borra de café, está muito relacionado com o uso de anticonceptivos de baixíssima dosagem. PRIMEIRO PASSO A SE DIAGNOSTICAR Anamnese • Idade (a depender da faixa etária da paciente posso ter sangramentos de causas diferentes, posso pensar em diagnósticos etiológicos diferentes) • Padrão de sangramento/houve mudança? • História de atraso menstrual? (sempre que tiver atraso menstrual tem que excluir a possibilidade de gravidez) • Utilização de fármacos (principalmente fármacos que alteram o sangramento, o grande exemplo, é o anticoncepcional ou então, terapias de reposição hormonal) • Doenças sistêmicas prévias (Hiperprolactinemia, hipotireoidismo podem levar a amenorreia. Lúpus eritematoso sistêmico (plaquetopenia = aumenta sangramento); púrpura trombocitopênica idiopática (queda de plaquetas = começa a sangrar) Exame físico • Definir origem do sangramento - Avaliar palidez de mucosas para saber se a paciente tem anemia severa e examinar a parte pélvica - Começa pela parte externa: ✓ Avaliar a parte externa da paciente, pois pode ter uma ulceração, alguma nodulação na vulva que poderia explicar o sangramento; SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL • Afeta 30% da população feminina • Responsável por grande parte de anemia • Existe uma grande quantidade de causas para definir a causa do sangramento uterino anormal 3 PALM-COEIN • Do lado da palma da mão estão as causas de sangramento uterino estruturais (mudanças na estrutura do útero causam sangramentos anormais) e do lado da moeda estão as causas de sangramento uterino disfuncionais, iatrogênicas e não categorizadas. Sangramento uterino anormal • Agudo: padrões de sangramentos que mudam e causam repercussões na mulher, geralmente os sangramentos agudos têm causa disfuncional/iatrogênica • Crônico: são aqueles sangramentos aumentados em que o padrão se repete por um período > 6 meses e estão muito relacionados com as causas estruturais. ULTRASSONOGRAFIA TRANSVAGINAL • Ajuda principalmente em relação as causas estruturais, para confirmar ou excluir • As principais causas estruturais: - Pólipo, adenomiose, leiomioma (do tipo submucoso é mais fácil de causas sangramentos do que os do tipo outros) - Malignidade/hiperplasia (endométrio mais grosso, com alterações estruturais) Leiomioma (nódulo de músculo liso) submucoso • 0 → totalmente para dentro da cavidade endometrial, é chamado de leiomioma pediculado • 1→ submucoso, a maior parte dele (mais que 50%) está mais no endométrio do que no miométrio • 2→ deforma a cavidade endometrial, mas a maior parte dele está dentro da cavidade miometrial • Causam maior quantidade de repercussões clínicas em relação a sangramento • Lembrando: o leiomioma é um tumor benigno de células de músculo liso. Outros (3,4) – não são submucosos 4 • 3 → não tem componente submucoso, mas toca no endométrio (só faz tocar, sem deformar). Totalmente miometrial. • 4 → Totalmente miometrial, não toca nem fora e nem dentro. Fica só dentro da camada muscular do útero. 5, 6 e 7 (são imagens em espelho dos submucosos – atravessam a parte externa do útero) • 5 → leiomioma subseroso, está fora do útero, mas a maior parte dele é miometrial (> 50% intramural) • 6 → mais para fora do que endometrial • 7 → leiomioma pediculado para fora • Causam mais sintomas de compressão e dor do que aumento do sangramento. Os leiomiomas tipo 8 são aqueles que estão fora do corpo do útero, se localizam ou em colo ou em região ístmica (são muito mais raros) Leiomioma tipo 2-5 AVALIAÇÃO ENDOMETRIAL • Naquelas pacientes que apresentam alterações no endométrio e estão sangrando de maneira anormal, principalmente aquelas com espessamento ou risco maior de câncer • Podemos avaliar o endométrio “as cegas” (em que não vejo o que estou fazendo, mas vou colher uma amostra desse endométrio, vou fazer uma biopsia) ou pela imagem ótica - Curetagem ambulatorial semiótica (cureta de novak e pipelle) – “as cegas” → pacientes com suspeita de alterações endometriais em que você quer estudar o endométrio delas - O problema é que não dá para saber de onde estamos colhendo a amostra → para resolver isso: histeroscopia (exame complementar padrão ouro para avaliação de endométrio) - A histeroscopia pode ser diagnóstica (só exame de imagem, pegando pequenas amostras) como também pode ser cirúrgica. Na histeroscopia cirúrgica é necessária uma anestesia melhor, mais tempo e nela pode ser utilizado inclusive alças de bisturi elétrico. Na histeroscopia cirúrgica podemos retirar,por exemplo, miomas submucosos. Pacientes com sangramento anormal podemos fazer ablação endometrial. O SANGRAMENTO ANORMAL PELA VIDA DA MULHER • Lactância → O estrogênio produzido pela mãe atravessa a barreia placentária e pode estimular o endométrio desse recém- 5 nascido. Na hora que nasce corta o cordão umbilical, o estrogênio que é produzido pela mãe cessa. Na infância não tem estrogênio sendo produzido. Quando tem deprivação estrogênica materna algumas pacientes podem ter sangramento, geralmente é um sangramento pequeno, e mesmo sendo pequeno, sangramento antes da menarca é anormal; • Pré-puberdade ✓ Vulvuvaginites: geralmente causadas por má higiene. Tratamento: medicação oral (metronidazol ou nistatina) e orientações de higiene ✓ Corpo estranho intracavitário causa irritação, inflamação e sangramento. Tratamento: retirada do corpo estranho. Como desconfiar? Padrão do sangramento, padrão da secreção (mal cheirosa), exame de imagem. ✓ Puberdade precoce: paciente com caracteres sexuais secundários ✓ Tumor: tumor de ovário secreta hormônio ✓ Abuso sexual: toda criança que chegar com sangramento tem que ser investigado abuso sexual • Adolescência ✓ Anovulação: imaturidade do eixo hipotálamo hipófise ovário ✓ Hormônio exógeno: anticoncepcional pode alterar o padrão de sangramento ✓ Gravidez ✓ Coagulopatia • 20-menopausa ✓ Exógena: anticoncepcional ✓ Gravidez ✓ Anovulação: principal causa SOP ✓ Leiomiomas ✓ Pólipos • Perimenopausa ✓ Anovulação: queda da reserva ovariana ✓ Leiomioma ✓ Pólipos • Pós-menopausa ✓ Atrofia endometrial (principal causa): a parte interna do útero se torna tão fina devido a redução do estrogênio que expõe os vasos, isso faz a mulher sangrar. Tratamento: estrogênio. ✓ Pólipos ✓ CA de endométrio (principal sintoma: sangramento pós-menopausa) → espessamento do endométrio grande, heterogêneo ✓ TRH ✓ Outros tumores Qual espessamento é esperado do endométrio após a menopausa? • Até 4 mm • > 4 mm existe risco aumentado para malignidade, principalmente se a pct tiver sangramento pós-menopausa → investigação endometrial: curetagem semiótica ou de preferência histeroscopia para excluir CA de endométrio Observação: quando a pct faz terapia de reposição hormonal (TRH) multiplica esse valor por 2. É normal o endométrio de até 8 mm. TRATAMENTO DOS SUA’S Não cirúrgico • AINE’S → funciona pois diminui a produção de prostaglandinas e faz com que as artérias ou arteríolas espiraladas do útero fiquem mais finas, reduzindo ou estancando o sangramento delas. Além disso, participa do alívio da dor. Tanto trata o sangramento como a dismenorreia (cólica menstrual) • Antifibrinolíticos (Transamin) → ácido tranexâmico, vai evitar que o corpo cause a fibrinólise e volte a sangrar. O Transamin é muito bom para o sangramento uterino agudo. • Tratamento Hormonal Terapia hormonal • Anticoncepcionais combinados (E+P) • Progestágenos isolados (cíclicos e contínuos) • Estrogênios isolados → atrofia endometrial (pós-menopausa) / estancar o sangramento • DIU com liberação de levonorgestrel (MIRENA) • Agonista de GnRH (ZOLADEX) → paciente com sangramento grande, anemia severa ou se quero preparar a paciente para uma possível cirurgia → bloqueia o eixo por 6 completo, causa uma menopausa transitória. Cirúrgico • Histeroscopia cirúrgica • Curetagem/ esvaziamento uterino (pct chega na emergência, tomou transamin e continua sangrando → curetagem) • Ablação endometrial (queima o endométrio) • Embolização seletiva de artérias (leiomiomas) • Histerectomia (cirurgia de médio porte) SUA AGUDO (EMERGÊNCIA) • Excluir causas externas (doenças de vulva, vagina ou colo do útero) • Excluir que paciente esteja grávida • Avaliar estabilidade da paciente • Opção terapêutica para conter sangramento: ✓ ACO combinado em dose alta ✓ Estrogênio conjugado (1,25 mg) até de 4/4h por 24h e depois 1 vez ao dia por 7 dias, seguido por Progestágeno isolado ✓ Ácido tranexâmico – 1g/6-4h ✓ Curetagem uterina na emergência... RESUMÃO – SUA • Varia de causa de acordo com a idade • Uma boa anamnese e exame garante o melhor tratamento • Cuidado com sangramento em CRIANÇAS (abuso sexual) • Exames de imagem, ou amostra de tecido ajudam ao diagnóstico • Nem sempre sangramento anormal = ACO ou Histerectomia! - Avalie as outras opções de tratamento! RESPOSTAS DO CASO CLÍNICO 1. Examinar a paciente 2. US transvaginal, BhCG, hemograma (avaliar anemia), TAP/TTAP 3. AC progesterona, transamin no período menstrual, AINE’S - Paciente com disfunção ovulatória.
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