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REGIMES DE TRIBUTAÇÃO ETAPA 2 Autor Fabiana Tramontin Bonho Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO 1 INTRODUÇÃO O regime de tributação é um aspecto importante para o resultado da empresa. Essas decisões tributárias, quanto às opções, são: o lucro real, o presumido, o arbitrado e o simples nacional e devem ser realizadas e efetivadas anualmente pelos gestores. A escolha entre uma opção ou outra poderá interferir no resultado financeiro da empresa devido à incidência de diferentes tributos. A legislação não permite que sejam realizadas mudanças sistemáticas no decorrer do exercício, assim, a opção por uma das modalidades entre o lucro real, o presumido, o arbitrado e o simples nacional será definitiva. Caso for escolhida uma opção inadequada à realidade da empresa, esta sofrerá o efeito de sua escolha ao longo do ano. A escolha se define quando for realizado o primeiro pagamento do imposto, que costuma ser recolhido no mês de fevereiro de cada ano, caso a escolha for pelo Simples Nacional, se dará até o último dia útil do mês de janeiro. Assim, esta etapa tratará sobre as modalidades de tributação da pessoa jurídica, as quais os gestores deverão analisar e optar, através das regras e das normas, em qual delas a sua empresa se enquadra, se é na apuração pelo lucro real, pelo lucro presumido, pelo lucro arbitrado ou pelo simples nacional. 2 REGIMES DE TRIBUTAÇÃO A escolha do regime de tributação das empresas envolve algumas questões, como o faturamento, o ramo de atuação, as despesas, entre outros fatores. Deve ser levado em conta o quanto se pretende faturar, pois o tipo de regime afeta o cálculo dos seguintes tributos: IRPJ, CSLL, PIS e Cofins, os outros tributos não são afetados pela escolha da tributação. REGIMES DE TRIBUTAÇÃO ETAPA 2 CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO A seguir, estudaremos os tipos de modalidades que as empresas poderão optar na escolha da tributação: lucro real, presumido, arbitrado e simples nacional. 2.1 LUCRO REAL O lucro real acontece por meio da legislação fiscal e tributária, o qual prevê que o lucro líquido, ou prejuízo, do período de apuração, antes da provisão para o imposto de renda, seja ajustado pelas adições, exclusões ou as compensações. É necessário que o lucro apurado seja comprovado com lançamentos contábeis, transmitidos à RFB por meio do Sped Contábil e da Escrituração Contábil Fiscal (CREPALDI, 2019). Shingari (2016, p. 268) comenta quais são as pessoas jurídicas sujeita à apuração do lucro real, segundo a Lei n° 9.718/1998: I. Aquelas cuja receita total, no ano-calendário anterior, seja superior ao limite de R$ 78 milhões, ou proporcional ao número de meses do período, quando inferior a 12 meses. II. Aquelas cujas atividades sejam de bancos comerciais, de investimentos, de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização e entidades de previdência privada aberta. III. Aquelas que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior. IV. Aquelas que, autorizadas pela legislação tributária, usufruam de benefícios fiscais relativos à isenção ou redução do imposto. V. Aquelas que, no decorrer do ano-calendário, tenham efetuado pagamento mensal pelo regime de estimativa. VI. Aquelas que explorem as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, compra de direitos creditórios resultante de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring). VII. Que explorem as atividades de securitização de créditos imobiliários, financeiros e do agronegócio. Ziese (2015, p.73) traz que a receita para fins de determinação do cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido é basicamente o faturamento obtido no período tributável, sendo considerado receita o valor obtido de: • venda de mercadorias e produtos; • prestação de serviços; • venda de imóveis; • ganho obtido em operações financeiras. CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Porém, nem todos os valores recebidos como receitas permanecem na pessoa jurídica que a recebeu, sendo que alguns desses valores necessitam ser excluídos da receita, pois caracterizam o desfazimento de vendas ou substituição da responsabilidade no recolhimento do tributo. Conforme Ziese (2015, p. 73), os valores que podem ser excluídos da receita recebida pela pessoa jurídica são: • as vendas canceladas; • as vendas devolvidas; • os descontos incondicionais concedidos; • Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); • ICMS Substituição Tributária. De acordo com Crepaldi (2019), o lucro real pode ser realizado de duas formas: o lucro real anual e o lucro real trimestral. O lucro real anual é o lucro contábil ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas pela legislação fiscal. “A determinação dessa categoria de lucro será precedida da apuração do lucro líquido do exercício à soma algébrica do lucro operacional, dos resultados não operacionais e das participações –, e deverá ocorrer com observância dos preceitos da lei societária (art. 190 da Lei n° 6.404 de 15 de dezembro de 1976)” (CREPALDI, 2019, p. 85). Assim, no lucro real anual por estimativa, a empresa poderá recolher os tributos mensalmente calculados com base no faturamento, de acordo com percentuais sobre as atividades, aplicando-se a alíquota do IRPJ e da CSLL, de forma semelhante ao lucro presumido. A vantagem de escolha pelo lucro real por estimativa é a possibilidade de levantar balanços ou balancetes mensais, reduzindo ou suspendendo o valor do recolhimento, caso o lucro real apurado seja efetivamente menor que a base presumida. Nesse caso, no final do ano, a empresa levanta o balanço anual e apura o lucro real no exercício, ajustando o valor dos tributos ao seu resultado real. Andrade, Lins e Borges (2015) corroboram trazendo que o regime de apuração anual tem o período base encerrado no dia 31 de dezembro de cada ano-calendário e a apuração trimestral tem seu período base que se encerrará nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro. Quando a opção for o lucro real trimestral, o IRPJ e a CSLL são calculados com base no balanço apurado no final de cada trimestre civil. Assim, o lucro real do trimestre não é somado ao prejuízo fiscal de trimestre seguintes, por mais que seja dentro do mesmo ano-calendário. Crepaldi (2019) comenta que o prejuízo fiscal de um trimestre só poderá deduzir até o limite de 30% do lucro real dos trimestres seguintes. Porém, para as empresas com picos de faturamento durante o exercício, a opção pelo lucro real anual poderá ser mais vantajosa, porque poderá suspender ou reduzir o pagamento do CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO IRPJ e da CSLL quando os balancetes apontarem lucro real menor que o estimado. Outra vantagem é que o prejuízo apurado no próprio ano pode ser compensado integralmente com lucros do exercício. De acordo com Andrade, Lins e Borges (2015, p. 20), as adições e exclusões refletem diversos aspecto da interpretação fiscal das operações empresariais. Conforme estabelecido na legislação tributária, são adicionadas ao lucro líquido do período das despesas não dedutíveis de forma a apurar o lucro tributável: I- os custos, despesas, encargos, perdas, provisões, participações e quaisquer outros valores deduzidos na apuração do Lucro Líquido que, de acordo com o Regulamento, não sejam dedutíveis na determinação do Lucro Real;II- os resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores não incluídos na apuração do Lucro Líquido que, de acordo com o Regulamento, devam ser computados na determinação do Lucro Real. Assim, como também existe na determinação do lucro real, que poderão ser excluídos do lucro líquido do período de apuração e, portanto, deduzidos da base de cálculo do tributo: I - os valores cuja dedução seja autorizada pelo Regulamento e que não tenham sido computados na apuração do Lucro Líquido do período de apuração; II - os resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores incluídos na apuração do Lucro Líquido que, de acordo com o Regulamento, não sejam computados no Lucro Real; III - o prejuízo fiscal apurado em períodos de apuração anteriores, limitado a 30% (trinta por cento) do Lucro Líquido ajustado pelas adições e exclusões previstas no Regulamento, desde que a pessoa jurídica mantenha os livros e documentos, exigidos pela legislação fiscal, comprobatórios do prejuízo fiscal utilizado para compensação. Segundo Ziese (2015, p. 75), o IRPJ incide sobre o lucro tributável e é calculado utilizando a alíquota de 15%. Incide ainda um adicional de 10% para os valores que ultrapassam R$ 20.000,00 no período de apuração. Porém, além desses percentuais de alíquotas, poderá ter a tributação exclusiva aplicável em alguns casos. Como exemplo o autor traz “prestação de serviços de natureza profissional prestados entre Pessoas Jurídicas, previstos no artigo 647 do Regulamento do Imposto de Renda [...] deverá ser retido na fonte o Imposto de Renda a alíquota de 1,5%”. Quanto à CSLL, que é outro tributo que incide sobre o lucro tributável, é calculada utilizando a alíquota de 9%. Sendo que essa alíquota é única e aplicada sobre a base tributável, não havendo alíquota adicional. Trazemos um exemplo conforme Andrade, Lins e Borges (2015, p. 20): Em dez/X1, a Cia. ABC apresentou as seguintes receitas e despesas: – Receita de vendas: R$ 2.000.000 – Receita de equivalência patrimonial: R$ 15.000 – Despesa com salário de funcionários: R$ 500.000 CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO – Despesa com aluguel do escritório: R$ 80.000 – Multa de trânsito do diretor da Cia.: R$ 10.000 – Multa cobrada pelo IBAMA por danos ambientais: R$ 75.000 Dessa forma, a DRE resumida seria apresentada da seguinte forma: Descrição R$ Receita de vendas Receita de equivalência patrimonial Despesa com salário de funcionários Despesa com aluguel do escritório Multa de trânsito do diretor da Cia. Multa cobrada pelo IBAMA por danos ambientais Lucro Contábil R$ 2.000.000,00 R$ 15.000,00 (R$ 500.000,00) (R$ 80.000,00) (R$ 10.000,00) (R$ 75.000,00) R$ 1.350.000,00 O Lucro Real seria apurado conforme demonstrado a seguir: Descrição R$ Lucro Contábil Exclusões (receitas não tributáveis): Receita de equivalência salarial Adições (despesas não dedutíveis): Multa de trânsito do diretor da Cia. Multa cobrada pelo IBAMA por danos ambientais Lucro Real R$ 1.350.000,00 (R$ 15.000,00) R$ 10.000,00 R$ 75.000,00 R$ 1.420.000,00 Conforme o exemplo, pode-se perceber que o lucro real é maior que o lucro contábil em razão de não se aceitar como despesa dedutível as multas contabilizadas pela empresa. Por isso, a incidência do IRPJ e CSLL seria sobre o maior valor, ou seja, o Lucro Contábil ajustado pelas adições e exclusões previstas na legislação. “Quando optante pelo lucro real além do IRPJ e a CSLL, a empresa também deverá apurar do seu faturamento o PIS, Programa de Integração Social e a Cofins, Contribuição para Fins Sociais” (ANDRADE; LINS; BORGES 2015, p. 21). Ziese (2015) comenta que o lucro real determina a não cumulatividade para o PIS e a Cofins e, assim, enquanto estiver enquadrada nesta modalidade de tributação, deverá permanecer com a apuração desses dois tributos pela não cumulatividade. Sendo que as alíquotas por esta modalidade serão de 1,65% para o PIS e de 7,6% para a Cofins. CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Para melhor entendimento vamos estudar a prática a partir de outro exemplo, lembrando que lucro real é pela não cumulatividade e neste exemplo foi considerando deduções do PIS e Cofins não cumulativos de 50% de uma empresa que possui faturamento trimestral. Empresa com faturamento trimestral: R$ 200.000,00 (100%) Lucro Real Apurado: R$ 40.000,00 (20%) Tributo Valor COFINS (7,6% X R$ 100.000,00) R$ 7.600,00 PIS (1,65% X R$ 100.000,00) R$ 1.650,00 IRPJ (15% X R$ 40.000,00) R$ 6.000,00 CSLL (9% X R$ 40.000,00) R$ 3.600,00 Totais R$ 18.850,00 FONTE: Adaptado de Contabilizei (2021) 2.2 LUCRO PRESUMIDO O lucro presumido é uma modalidade prática para determinação da base de cálculo do IRPJ e da CSLL das pessoas jurídicas não obrigadas à apuração do lucro real, sendo que estes tributos são apurados trimestralmente por nesta modalidade. Crepaldi (2019, p. 86) relata que “a alíquota de cada tributo (15% ou 25% de IRPJ e 9% da CSLL) incide sobre receitas com base em percentual de presunção variável (1,6% a 32% do faturamento, dependendo da atividade)”. Ziese (2015, p. 90) traz que para poder-se definir a opção pela modalidade do lucro presumido, deve-se considerar dois fatores: 1°) identificar nas regras do Lucro real se a empresa está obrigada ao seu enquadramento nessa modalidade em decorrência da atividade explorada ou dos limites de receita; 2°) gerar uma provisão das receitas para o período e efetuar um cálculo comparativo com as demais modalidades de tributação do lucro. Existem alguns tipos de receitas que entram direto no resultado tributável, como ganhos de capital. Porém, nem todas as empresas podem optar pelo lucro presumido, devido às restrições relativas ao objeto social e ao faturamento. Existe um limite da receita bruta para optar-se pela modalidade do lucro presumido que é de até R$ 48 milhões da receita bruta total, no ano- calendário anterior. A escolha pelo lucro presumido poderá ser vantajosa para empresas com margem de lucratividade superior à presumida. Lembrando que empresas tributadas pelo lucro presumido não poderão aproveitar os créditos do PIS e da Cofins no sistema não cumulativo, apesar de pagarem o PIS e a Cofins nas alíquotas mais baixas (CREPALDI, 2019). CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Andrade, Lins e Borges (2015, p. 24) ressaltam que diferentes receitas devem ser agregadas e aplicados os percentuais de acordo com a natureza de cada uma, como é apresentado no Quadro 1: QUADRO 1 – ATIVIDADES X PERCENTUAL LUCRO PRESUMIDO Atividades geradoras da receita Percentual aplicado – Revenda para consumo de combustíveis (petróleo, álcool etí- lico carburante e gás natural). 1,6% – Venda de mercadoria ou produto (exceto revenda de combus- tíveis). – Transporte de cargas. – Serviços hospitalares. – Atividade rural. – Industrialização com materiais fornecidos pelo contratante. – Construção por empreitada com emprego de materiais próprios. – Quaisquer outras atividades (exceto prestação de serviços) para a qual não haja percentual aplicado específico. 8% – Serviços de transporte (exceto cargas). – Serviços (exceto hospitalares, de transporte e de sociedade civil de profissão regulamentada, cuja receita bruta anual não seja superior a R$ 120.000,00). – Instituições financeiras e as entidades a elas equiparadas. 16% – Serviços em geral, para os quais não esteja previsto o percen- tual específico, inclusive os prestados por sociedades civis de profissão regulamentada. – Intermediação de negócios. – Administração, locação ou cessão de bens imóveis, móveis e direito de qualquer natureza. – Factoring. – Construção por administração ou empreitada unicamente de mão de obra. 32% FONTE: Andrade, Lins e Borges (2015, p. 25) A seguir, vamos entender o cálculo de imposto de renda pela opção do lucro presumido apresentado por Andrade, Lins e Borges (2015, p. 25): Uma empresa prestadora de serviços de projetos de engenharia obteve no primeiro trimestre do ano-calendário X1um faturamento de R$ 400.000. Assim, de acordo com a quadro acima, a base de cálculo seria apurada aplicando-se o percentual de 32%. Ter-se-ia: Faturamento: R$ 400.000 Percentual aplicado: 32% Base de cálculo para incidência do IRPJ: R$ 128.000 Ressalta-se que o resultado contábil, isto é, o lucro ou prejuízo, não afeta a apuração do lucro presumido, pois este tem como base de cálculo a Receita Bruta. CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Conforme com o Pegâs (2017, p. 113), quando uma empresa muda a forma de tributação de um ano para outro, passando do lucro real para lucro presumido: os valores diferidos (excluídos da base para tr ibutação posterior) no lucro real devem ser incluídos na primeira apuração do lucro presumido, independentemente do registro ou não destes valores no LALUR. Portanto, em resumo, o dispositivo alterado prevê a tributação dos saldos dos valores diferidos na hipótese de mudança de tributação do lucro real para o lucro presumido, independentemente da necessidade de controle no livro de que trata o inciso I do art. 8° do Decreto-Lei n° 1.598/77 (e-LALUR). Conforme Ziese (2015), a pessoa jurídica que ultrapassar o limite de receita de R$ 78.000.000,00 estabelecido para a opção pelo lucro presumido passará a ser tributada pelo Lucro Real no mês imediatamente seguinte ao desenquadramento. Ressaltando também que a pessoa jurídica optante pela modalidade do lucro presumido não poderá utilizar nenhum tipo de incentivo fiscal para fins de redução da base de cálculo do imposto. São permitidas somente as deduções de valores retidos na fonte, como por exemplo, aquelas efetuadas pelo tomador do serviço. Ziese (2015) também traz que pela apuração pelo lucro presumido deverão ser tributados do seu faturamento o PIS e a Cofins. Porém, no caso desta modalidade, é determinada a cumulatividade para estes dois tributos, não sendo permitido o crédito fiscal de Pis e Cofins sob nenhuma hipótese. As alíquotas aplicáveis são 0,65% para o PIS e 3% para a Cofins. Para melhor entendimento da apuração desses tributos na modalidade do lucro presumido vamos a um exemplo apresentado no site da Contabilizei (2020): Uma empresa prestadora de serviços de engenharia, enquadrada no lucro presumido, teve um faturamento de R$ 12.000,00 em janeiro. Sabendo que o ISSQN da cidade onde ela presta o serviço é de 5%, teremos, assim, os seguintes tributos sobre o faturamento: • PIS (0,65%): R$ 78,00 • COFINS (3%): R$ 360,00 • ISS (5%): R$ 600,00 Para o cálculo do IR e da CSLL, é necessário aguardar o faturamento do trimestre; então, suponhamos que o faturamento de R$ 12.0000,00 se repita em fevereiro e março: teremos um total faturado no trimestre de R$ 36.000,00. A presunção para o serviço de engenharia é de 32%; então, aplicaremos 32% sobre R$ 36.000,00. Assim, temos uma base de R$ 11.520,00 para o cálculo de IR e CSLL. O resultado final será: CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO • IRPJ (15%): R$ 1.728,00; • CSLL (9%): R$ 1.036,80. Dessa forma, mesmo que o lucro seja maior que o percentual prefixado, como no caso do exemplo – um lucro trimestral superior a R$ 11.520,00 –, o imposto incidirá apenas sobre aquela margem do faturamento. 2.3 LUCRO ARBITRADO O lucro arbitrado é uma forma coercitiva de apuração do IRPJ e da CSLL em substituição ao lucro real e presumido, quando o contribuinte não possui escrituração contábil ou fiscal ou não mantém documentação que embase a escrituração. Crepaldi (2019, p. 87) traz quais são os artigos relacionados com esta modalidade: “artigos 529, 530 e 537 do RIR/1999 evidenciam as hipóteses de arbitramento e a forma de apuração dessa sistemática de cálculo”. Ziese (2015, p. 111) comenta que quando é verificada a possibilidade ou necessidade de arbitramento do Lucro, deve-se partir para a identificação da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. A base de cálculo terá tratamento diferenciado, dependendo de “conhecermos ou não a receita bruta, se a opção do arbitramento ser do próprio contribuinte e o tipo de atividade exercida pela Pessoa Jurídica”. Sendo que o valor de partida para a definição de cálculo do IRPJ e da CSLL deverá se utilizar do valor da receita bruta. Andrade, Lins e Borges (2015) comentam que o lucro arbitrado, quando conhecida a Receita Bruta, será determinado pela aplicação dos percentuais do lucro presumido, acrescidos de 20%, sobre a receita auferida, como é demonstrado no Quadro 2, porém quando se tratar de pessoa jurídica com atividades diversificadas, serão adotados os percentuais específicos para cada uma das atividades econômicas, cujas receitas deverão ser apuradas separadamente. QUADRO 2 – ATIVIDADES X PERCENTUAIS DO LUCRO ARBITRADO Atividades Percentuais Atividades em geral (RIR/1999, art. 532) 9,6% Revenda de combustíveis 1,92% Serviços de transporte (exceto transporte de carga) 19,2% Serviços de transporte de cargas 9,6% Serviços em geral (exceto serviços hospitalares) 38,4% Serviços hospitalares 9,6% Intermediação de negócios; Administração, locação ou cessão de bens e direitos de qualquer natureza (inclusive imóveis) e Factoring 38,4% Bancos, instituições financeiras e assemelhados 45% FONTE: Andrade, Lins e Borges (2015, p. 26) CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO A seguir, conheceremos um exemplo trazido por Andrade, Lins e Borges (2015, p. 27) referente ao lucro arbitrado. Uma empresa, cuja atividade é a prestação de serviços de consultoria, foi auditada pela Receita Federal do Brasil (RFB) em dezembro de X1 e teve seu lucro arbitrado. A receita anual da empresa era de R$ 1.200.000,00. Dessa forma, a base de cálculo apurada seria a seguinte: Receita: R$ 1.200.000,00 Percentual aplicado: 38,4% Base de cálculo inicial apurada: R$ 460.800,00 (1.200.000 × 38,4%) Quanto à forma de tributação do PIS e da Cofins sobre o faturamento, Ziese (2015) traz que o lucro arbitrado determina a cumulatividade destes dois tributos. Tendo as mesmas alíquotas definidas pelo lucro presumido. Porém, quando a empresa for extinta desta modalidade de apuração ou da situação que levou a empresa ao arbitramento do lucro, a forma de tributação da apuração irá retornar ao modelo que era realizado anterior ao arbitramento, assim, quando ocorrer a transição do lucro arbitrado para o presumido mantém as alíquotas de 0,65% e 3% e também a cumulatividade; e quando a transição for o lucro arbitrado para o lucro real, retoma as alíquotas de 1,65% e 7,6%, inclusive a não cumulatividade. 2.4 SIMPLES NACIONAL Para poder escolher a modalidade do simples nacional, o contribuinte dever ser enquadrado como microempresa ou empresa de pequeno porte. Essa tributação é muito visada pelos gestores pelo fato de ser aparentemente mais simples e as suas alíquotas são relativamente mais baixas. Fabretti, Fabretti e Fabretti (2019, p. 146) relatam que o artigo 3° da lei geral define, pelos parâmetros fiscais de receita bruta, que, na prática, geralmente é denominada de faturamento: Art. 3° Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: (Redação dada pela Lei Complementar no 139, de 10 de novembro de 2011) (efeitos: a partir de 01/01/2012). I – no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e (Redação dada pela Lei Complementar no 139, de 10 de novembro de 2011) (efeitos: a partir de 01/01/2012) II – no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ouinferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). (Redação dada pela Lei Complementar no 155, de 2016)36 CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Sendo que a lei geral dispõe também que a Microempresa (ME), no ano-calendário, ultrapassará o limite de R$ 360.000,00 e passará no ano- calendário seguinte à condição de Empresa de Pequeno Porte (EPP). E a EPP que não alcançar o limite de R$ 360.000,00 passará no ano-calendário seguinte à condição de ME (FABRETTI, FABRETTI; FABRETTI, 2019). Ziese (2015, p. 117) relata que é considerado receita bruta para fins de determinação do enquadramento no simples nacional: Valor da Venda de Bens e Serviços; (-) Vendas Canceladas; (-) Descontos Incondicionais Concedidos; (=) Receita Bruta Existem diversas restrições legais para a escolha desta opção, que vai além do limite de receita bruta, que é de R$ 4,8 milhões no ano. É uma forma simplificada de tributação o qual estabelece um pagamento mensal unificado, neste valor corresponde a aplicação de um percentual sobre a receita bruta mensal, e nele também estão inclusos os seguintes tributos e contribuições: IRPJ, CSLL, Cofins, PIS, IPI, INSS, ICMS e o ISS (CREPALDI, 2019). Aquelas empresas que estão enquadradas neste regime f icam dispensadas, também, do pagamento das demais contribuições instituídas pela União, inclusive as contribuições para entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical (Sesc, Sesi, Senac, Sebrae e o salário-educação). Neste último caso, a economia pode representar cerca de 5,8% sobre a folha de pagamento. As demais receitas que não integram a receita bruta e o ganho de capital, como juros cobrados dos clientes e os descontos obtidos, não estarão sujeitas à tributação nesse regime. Entretanto, o ganho de capital na venda de bens do ativo permanente, tributado à alíquota de 15% a título de IRPJ, e o rendimento de aplicações financeiras de renda fixa ou o ganho líquido em operações de renda variável sofrerão tributação em definitivo, sendo que esses últimos rendimentos sujeitos às alíquotas aplicáveis conforme o prazo da aplicação (CREPLADI, 2019). Andrade, Lins e Borges (2015) comentam sobre a exclusão do simples nacional, essa exclusão será feita de ofício ou mediante comunicação da própria ME ou EPP que, espontaneamente, deixa de ser optante por esta modalidade. A Receita Federal (2021) traz as principais características do regime do Simples Nacional: • ser facultativo; • ser irretratável para todo o ano-calendário; • abrange os seguintes tributos: IRPJ, CSLL, PIS/Pasep, Cofins, IPI, ICMS, ISS CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO e a Contribuição para a Seguridade Social destinada à Previdência Social a cargo da pessoa jurídica (CPP); • recolhimento dos tributos abrangidos mediante documento único de arrecadação - DAS; • disponibilização às ME/EPP de sistema eletrônico para a realização do cálculo do valor mensal devido, geração do DAS e, a partir de janeiro de 2012, para constituição do crédito tributário; • apresentação de declaração única e s impl i f icada de informações socioeconômicas e fiscais; • prazo para recolhimento do DAS até o dia 20 do mês subsequente àquele em que houver sido auferida a receita bruta; • possibilidade de os Estados adotarem sublimites para EPP em função da respectiva participação no PIB. Os estabelecimentos localizados nesses Estados cuja receita bruta total extrapolar o respectivo sublimite deverão recolher o ICMS e o ISS diretamente ao Estado ou ao Município. Shingari (2016, p. 255) traz como relevante que as empresas aderentes ao Simples Nacional ficam dispensadas de contribuir com as entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical, assim como as demais entidades de serviço social autônomo. E que o pagamento da contribuição para seguridade social não estará incluído nas seguintes atividades de prestação de serviço: (i) construção de imóveis e obras de engenharia em geral, inclusive sob a forma de subempreitada, execução de projetos e serviços de paisagismo, bem como decoração de interiores; (ii) serviços de vigilância, limpeza e conservação. Nesses casos, a contribuição deve ser recolhida de acordo com a legislação prevista para os demais contribuintes. Assim como a contribuição para seguridade social também não está incluída na prestação de serviços de transporte intermunicipais e interestaduais. Essas atividades serão tributadas na forma da tabela a seguir, acrescido das alíquotas correspondentes ao ICMS previsto na tabela referente à partilha do comércio de acordo Shingari (2016, p. 256): 1. Será apurada a relação (r): folha de salários incluídos encargos (em 12 meses); e receita bruta (em 12 meses). 2. Na hipótese em que (r) seja maior ou igual a 0,40 as alíquotas do Simples nacional relativas ao IRPJ, PIS/Pasep, CSLL e Cofins, conforme Lei complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. 3. Na hipótese em que (r) seja maior ou igual a 0,35 e menor que 0,40, a alíquota do Simples nacional relativa ao IRPJ, PIS/Pasep, CSLL e Cofins, para todas as faixas de receita bruta, será igual a 14%. 4. Na hipótese em que (r) seja maior ou igual a 0,30 e menor que 0,35, a alíquota do Simples nacional relativa ao IRPJ, PIS/Pasep, CSLL e Cofins, para todas as faixas de receita bruta, será igual a 14,5%. 5. Na hipótese em que (r) seja menor que 0,30, a alíquota do Simples nacional relativa ao IRPJ, PIS/Pasep, CSLL e Cofins, para todas as faixas de receita bruta, será igual a 15%. 6. Somar-se-á à alíquota do Simples nacional relativa CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO ao IRPJ, PIS/Pasep, CSLL e Cofins, apurada na forma anterior, a parcela correspondente ao ISS, prevista no Anexo IV desta lei complementar. 7. A partilha das receitas relativas ao IRPJ, PIS/Pasep, CSLL e Cofins arrecadadas na forma da Lei complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Conforme Shingari (2016, p. 259), a Lei Complementar n° 147/2014, adicionou a Anexo VI à Lei do Simples nacional, que prevê alíquotas entre 16,93% e 22,45% para a receita decorrente de alguns tipos de prestações de serviços (aqueles relacionados no § 5°-I, artigo 18 da Lei complementar n° 123, de 2003). Esses tipos de prestações de serviços serão tributados conforme o disposto no Anexo VI: 1. Será apurada a relação (r) conforme a seguir: (r) = Folha de salários incluídos encargos (em 12 meses) Receita bruta (em 12 meses) 2. A partilha das receitas relativas ao IRPJ, PIS/Pasep, CSLL, Cofins e CPP arrecadadas na forma deste Anexo será realizada com base nos parâmetros definidos na Tabela V-B do Anexo V desta lei complementar. 3. Independentemente do resultado da relação (r), as alíquotas do Simples nacional corresponderão conforme Lei complementar n° 123, de 14 de dezembro de 2006. Outro fato importante que deve ser ressaltado, trazido por Ziese (2015, p. 118), é que no momento em que a empresa solicita a sua inscrição na modalidade simples nacional, deverá estar ciente de sua projeção de receita para o período, pois isso nem sempre é possível, podendo ocorrer excesso de receita, e quando isso acontecer no ano-calendário em que foi realizada a opção a empresa deverá atendar para: • A ME, que exceder a receita bruta no ano em exercício, será enquadrada como EPP no ano seguinte. • A EPP, que exceder a receita bruta em 20% no ano em exercício, será desenquadrada no mês seguinte. • A EPP, que exceder a receita bruta em menos de 20% no ano em exercício, será desenquadrada a partir do ano seguinte. • A EPP, que exceder a receita bruta em 20% no ano de início das atividades, serádesenquadrada retroativamente ao início das atividades. Devido às restrições, os diferenciais de valores das receitas, o melhor que os gestores têm a fazer é comparar as opções do lucro real e do lucro presumido antes de optar pelo Simples Nacional, a qual é chamada de exclusão por opção. Esta será feita por comunicaçãoquando a ME ou EPP tiver ultrapassado o limite proporcional. CURSO LIVRE – PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO REFERÊNCIAS ANDRADE, E. S. M. de; LINS, L. dos S.; BORGES, V. L. Contabilidade tributária: um enfoque prático nas áreas federal, estadual e municipal. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015. CONTABILIZEI. Regime de tributação. 2020. Disponível em: https://www. contabilizei.com.br/contabilidade-online/. Acesso em: 31 mar. 2021. CREPALDI, S. Planejamento tributário: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. FABRETTI, L. C.; FABRETTTI, D.; FABRETTI, D. R. As micro e pequenas empresas e o Simples Nacional: tratamentos tributário, fiscal e comercial. São Paulo: Atlas, 2019. PÊGAS, P. H. Manual de contabilidade tributária. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2017. RECEITA FEDERAL. Simples nacional. Disponível em: http://www8.receita. fazenda.gov.br/SimplesNacional/Servicos/Grupo.aspx?grp=11. Acesso em: 30 mar. 2021. SHINGARI, M. Gestão de impostos: para pessoas físicas. 9. ed. São Paulo: Saint Paul Editora, 2016. ZIESE, I. Contabilidade e planejamento tributário. Indaial: UNIASSELVI, 2015.
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