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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ WELLINGTHON EVARISTO BARBOSA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: O QUE É, NO QUE SE CONSISTE E QUAIS OS SEUS TIPOS? MARINGÁ 2020 WELLINGTHON EVARISTO BARBOSA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA: O QUE É, NO QUE SE CONSISTE E QUAIS OS SEUS TIPOS? Texto dissertativo apresentado à Universidade Estadual de Maringá como exigência parcial para a obtenção de nota na avaliação do 1° bimestre da disciplina de Pesquisa Jurídica, sob a orientação da Prof.ª. Dra. Valéria Silva Galdino Cardin. MARINGÁ 2020 Argumentação Jurídica: o que é, no que se consiste e quais os seus tipos? Argumentar é quase que instintivo entre as pessoas que vivem em sociedade quando se encontram em discordância. Essa prática torna-se ainda mais relevante quando vista dentro do âmbito jurídico, onde se instaura a chamada argumentação jurídica. Nesse sentido Ferraz Júnior (2019) a define como um tipo específico de raciocínio em oposição à demonstração, em outras palavras, como um procedimento típico que corresponde ao raciocínio persuasivo jurídico, reservando a palavra argumento para expressar o que se costuma chamar de prova formal. Assim, ao se estabelecer um discurso de convencimento, o objetivo do argumentador se consiste em fazer com que o auditório (a maioria) concorde com o argumentado apresentado e compreenda todo o ato de racionalidade que envolve a discussão. Existem variadas formas de se classificar os argumentos, de modo que os seus principais tipos são: Argumento a contrario sensu: não é apenas típico do direito, mas também de origem jurídica. Esse argumento se consiste em concluir de uma proposição admissível (aceitável), pela proposição que lhe é oposta. Logicamente, ele é insustentável, pois uma consequência verdadeira pode resultar de um princípio falso, bem como duas hipóteses contrárias podem ter a mesma consequência. Um exemplo seria: se o legislador especificou taxativamente os casos de incidência do tributo, a contrario sensu os demais casos não estão abrangidos. Assim, observa-se que esse argumento depende de um juízo de valor do intérprete para se sustentar. Argumento de analogia, a pari ou a simile: a palavra analogia remete a ideia de semelhança, contudo não se trata se uma semelhança exterior, aparente, mas de uma semelhança na função, no sentido. Dito isso, o argumento por analogia relaciona dois casos entre si, considerados semelhantes, concluindo que, se, para ambos, vale a mesma hipótese, devem valer também as mesmas consequências. Argumenta-se por analogia quando se conclui que desde que as duas coisas são compatíveis, parecidas ou derivadas da mesma linha de raciocínio em alguns aspectos, elas provavelmente os são em outros. Argumento a fortiori: de origem tipicamente jurídica representa a passagem de uma proposição para uma segunda, para a qual devem valer as mesmas razões da primeira, e ainda com mais força. O argumento a fortiori é usado para determinar um limite a quo, como, por exemplo, no dito popular: quem pode o mais, pode o menos. Na argumentação jurídica, a fórmula é utilizada sobretudo para justificar regras de conduta (ninguém dá o que não tem, o que a lei não distingue não deve o intérprete, distinguir etc). Como outros, também esse argumento não tem um estatuto lógico, mas axiológico. Argumento de axiologia: este argumento se baseia em valores e a sua força depende do público ao qual se destina, tornando-se cada vez mais forte na medida em que esses valores se alinham com os do público. Muito utilizado nos discursos em geral, mesmo que apresente um risco, o argumentador não sabe quais são os valores do grupo de pessoas ao qual se está proferindo o discurso, e isso, evidentemente, coloca todo o seu trabalho em ameaça. Argumento de facilidade: este argumento está relacionado ao meio mais simples para se atingir determinado objetivo. Ele procura colocar em destaque que a solução defendida consiste na maneira mais rápida e fácil para se resolver um problema, ou seja, a chamada “lei do menor esforço”. Argumento ab auctoritate: argumento que procura provar uma tese qualquer, utilizando-se dos atos ou das opiniões de uma pessoa ou de um grupo que a apoiam, fundando-se, sobretudo, no prestígio da pessoa ou do grupo invocado. No direito esse argumento é extremamente importante, tomando como exemplo, basta pensar no peso da tradição, no papel dos jurisconsultos e na força da jurisprudência, que exercem grande pressão na tomada de decisões e na compreensão dos conflitos judiciais e extrajudiciais. Também vale-se ressaltar a enorme influência que a lei propriamente dita assume no Direito atual, em virtude da sua posição de autoridade. Argumento de premência: frequentemente utilizado para “frear” o argumento adversário, quando esse propõe uma solução de elaboração mais lenta e dividida em partes. Seu carro-chefe é a necessidade, a urgência que a situação a ser defendida demanda. Argumentos ab inutile sensu e a rubrica: o argumento ab inutile sensu declara que as leis não devem conter palavras inúteis. Por outro lado, o argumento a rubrica diz que não se pode desprezar as emendas, os livros seções e títulos, também considerados como argumentos. Eles estão quase que em desuso, pois não possuem um embasamento forte o suficiente que os sustente. Argumento de prevenção: também chamado de argumento de precaução, seu modo de operar é bem análogo ao do argumento de premência. Deve ser utilizado sempre acompanhado de outro argumento, já que ao se prevenir algo está se criando uma situação que nem sempre corresponde à realidade porvindoura. Argumento de melhor opção: esse argumento defende que, dentre as possíveis soluções, a defendida é a que menos causará prejuízos, ou que a que trará os maiores benefícios. Por meio da “melhor opção” tenta-se demonstrar que a situação foco da argumentação corresponde a um dilema, para o qual deverá ser feita a escolha entre a solução do argumentador e a de seu adversário. Caso não haja adversário, sendo o discurso proferido unilateralmente, cria-se o argumento que seria oposto ao que se está defendendo, uma vez que nesse tipo de discurso o auditório pode estar consigo mesmo, criando argumentos contrários ao do orador. Argumento de redução ao ridículo: para operar esse argumento, basta afirmar a partir de uma negação ou, por outra perspectiva, tomar um detalhe negativo (falha) da argumentação do adversário e expandi-la, dando-lhe ênfase, de modo a se tornar caricata. Quando não existe a falha, há a possibilidade de criá-la, por meio da descontextualização do que foi dito pelo argumentador. Após tudo isso, basta apenas confirmar a impossibilidade de toda a posição do adversário a partir da alegação reduzida ao ridículo, ficando deformada a sua argumentação no geral. Argumento pragmático: um dos principais tipos de argumento utilizado nos discursos, apresentando um forte poder persuasivo, uma vez que se fundamenta em juízos de fato, incontestáveis desde que verdadeiros. Para utilizar esse argumento na defesa de uma posição, avaliam-se as consequências vantajosas e a utilidade do que se está defendendo. Em contrapartida, para criticar a posição do adversário, apontam- se as desvantagens, a inutilidade daquilo que se está propondo. Argumento de causalidade: como o próprio nome já indica, esse tipo de argumento avalia a causa, o motivo de uma dada situação. Uma ilustração do argumento de causalidade seria a questão da pena de morte, onde ao se criticar esse tipo de punição, o argumentador, com o objetivo de atenuar a responsabilidade do criminoso, alega que a causa primária da criminalidade está na própria sociedade, que não dá as condições mínimas de sobrevivência para algumas pessoas e por não terem outra escolha acabam praticando o crime. Argumento psicológico: este argumento procura resgatar a intençãodo legislador na ocasião da elaboração da lei, demonstrando que a interpretação literal da lei desvirtua a que o legislador queria alcançar, ou seja, a interpretação da lei pelo que ela diz desvincula-a de suas razões originais. Argumento histórico e a exempla: o argumento histórico consiste na construção de um fato no tempo e no espaço, com certo poder de generalização. Significa dizer que a aplicação de uma norma jurídica, por exemplo, teve, historicamente, tais e tais implicações em determinado lugar e época, e que, portando, talvez seria proveitoso repetir a experiência. Já a argumentação a exempla, se volta para uma realidade específica, tomando um caso isolado capaz de comprovar a força ou a falha de uma proposição. Esses dois tipos de argumentos são fortes, já que são capazes de emocionar o auditório, na medida em que a argumentação passa da abstração à realidade. Argumento teleológico: esse tipo de argumento se baseia numa finalidade, analisando-se aqui se os objetivos estão sendo cumpridos ou desviados. Como exemplo, utiliza-se as leis, elas foram criadas para serem cumpridas e se não são, acabam não atingindo seu principal objetivo. Uma subespécie do argumento teleológico é o argumento baseado na evolução. Argumento sistemático: o argumento sistemático parte da hipótese de que o Direito é ordenado e que suas diversas normas formam um sistema, cujos elementos podem ser interpretados de acordo com o contexto em que estão inseridos. Argumento ab absurdo ou reductio ad absurdum: no plano da retórica, fala- se em absurdo quando a demonstração consequente de uma proposição conduz-nos a uma conclusão manifestamente inaceitável, que nos obriga a reconhecer a “verdade” da proposição oposta. Este é, genericamente, o sentido da chamada prova pelo absurdo. Esse tipo de argumento começa por admitir que a proposição a ser examinada é verdadeira, então, aplica-se a ela todas as regras lógicas da demonstração, a fim de mostrar que, seguindo sua consequencialidade, chegamos a um resultado inaceitável. Passando-se da verdade postulada da proposição a sua falsidade. Argumento a coherentia: esse argumento segundo Perelman, é aquele que “partindo da ideia de que um legislador sensato – e que se supõe perfeitamente previdente – não pode regulamentar uma mesma situação de duas maneiras incompatíveis, supõe a existência de uma regra que permite descartar uma das duas disposições que provocam a antinomia”. Referências: CARNEIRO, Maria Francisca. Argumentação jurídica: área de expansão e retração das controvérsias. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/31879/argumentacao-juridica-area-de-expansao-e- retracao-das-controversias>. Acesso em: 06. set. 2020. CARNEIRO, Maria Francisca; SEVERO, Fabiana Galera; ÉLER, Karen. Teoria e prática da argumentação jurídica: lógica e retórica. 2. ed. Curitiba, PR: Juruá, 2008. FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 11. ed. São Paulo, SP: Atlas, 2019. MAURO, Linguagem jurídica: blog. 2005. Disponível em: <http://linguagemjuridica.blogspot.com/2005/04/os-tipos-de-argumentao.html>. Acesso em: 06. Set. 2020. MEDEIROS, Ana Dorotéia Arantes. Apostila de língua portuguesa, linguagem jurídica e metodologia. Disponível em: < https://pt.calameo.com/read/004715642b4a9b5517812>. Acesso em: 06 set. 2020.
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