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A estrutura das Revoluções Científicas

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Universidade de Brasília - Faculdade de Direito (FD)
Disciplina: Pesquisa Jurídica
Professora: Loussia Penha Musse Felix
Matrícula: 180122584
Fichamento sobre o texto:
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 3ª ed., Capítulos 8 ao 12 e Posfácio.
São Paulo: Perspectiva, 1994, pp. 125-257.
Thomas Kuhn foi um físico norte americano, ao publicar a estrutura das revoluções científicas
muda toda a concepção de ciência delimitada e restrita que até então vigorava. Ao escrever sua
obra, com a publicação em 1962, estava imerso em um contexto histórico conturbado, aos quais
os Estados Unidos era um dos protagonistas, do mundo bipolar. Além disso, a presença dos
movimentos sociais propagava a luta por direitos e uma contracultura, lutando por um mundo
mais igualitário. Influenciado pelas as grandes revoluções políticas e pela a história da ciência,
Kuhn insere em sua obra conceitos como paradigmas, e é definido em seu prefácio como “as
realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem
problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (KUHN,
1998, p. 13), e ciência normal, significando “pesquisa firmemente baseada em uma ou mais
realizações científicas passadas” (KUHN, 1998, p.29). Tenta explicar, assim, a natureza da
ciência suas revoluções científicas e suas transformações. (KUHN, 1998)
No capítulo 8, Kuhn, primeiramente, define as revoluções científicas como uma mudança de
paradigma, frisando ser, assim, não cumulativa. No qual, o antigo paradigma é substituído total
ou parcialmente por outro, sendo ambos incompatíveis. Além disso, utilizando-se de um
paralelismo, associa as revoluções políticas e científicas em aspectos que possuem em comum.
As duas revoluções acontecem com a sensação progressiva, na maior parte de um pequeno grupo,
de que o paradigma atual possui um funcionamento defeituoso, no sentido de não responder mais
efetivamente aos aspectos que ajudaram a produzir. As revoluções possuem outra particularidade,
só são perceptíveis por aqueles inseridos nela, ou seja, os indivíduos externos tem uma visão
normal do processo (KUHN, 1998).
Além disso, a obra coloca em ênfase outra similaridade entre ambas as revoluções. As revoluções
políticas ao realizar mudanças para seu êxito requisita um abandono parcial de algumas de suas
instituições em favor de outras. Nesse ínterim, no decorrer das mudanças inicia-se uma
polarização da sociedade- um lado é arraigado aos costumes antigos e outro visa mudanças de
todo o sistema- nesse contexto, para fazer valer sua ideia o grupo utiliza-se do instrumento da
argumentação e da persuasão. Ao longo da evolução da ciência verifica-se esse mesmo padrão
das revoluções políticas. A escolha entre paradigmas científicos concorrentes confirma ser um
caminho entre modos de vidas distintos. É exposto também, que argumentar em favor de seu
paradigma, com o intuito da comunidade principal adotá-lo, é utilizado outro paradigma, isso
mostra um caráter cíclico nesse aspecto (KUHN, 1998).
Outrossim, o autor evidencia três tipos de fenômenos dos quais podem desenvolver uma teoria. O
primeiro, diz respeito a fenômenos já compreendidos satisfatoriamente pelos paradigmas
possuindo já sua existência, o que dificilmente vai ser aceito como motivo para a construção de
uma nova teoria. O segundo também é baseado em paradigmas existentes, porém, articulam a
teoria a fim de entender melhor seus detalhes. Já a terceira, a que, realmente, promove o
surgimento de novas teorias, são as anomalias reconhecidas, cujo traço característico é a “recusa
obstinada a serem assimiladas aos paradigmas existentes” (KUHN, 1998, p.131).
Ademais, embora uma teoria tenha similaridades com sua sucessora ambas possuem diferenças
irreconciliáveis e necessárias. É preciso ocorrer uma transformação da teoria, só assim não haverá
uma afirmação do que já é conhecido. Até porque paradigmas sucessivos não só diferem quanto à
substância, mas também da própria ciência que os produziu. Quando um paradigma é colocado
em discussão pode, inclusive, redefinir a própria ciência correspondente. Aliás, “a tradição
científica normal que emerge de uma revolução científica, muitas vezes, é incomensurável com
aquela que a precedeu” (KUHN, 1998, p.146). Por fim, Kuhn, cita que os paradigmas são
elementos constitutivos da ciência (KUHN, 1998).
No seguinte capítulo, Kuhn, explana que as revoluções são tão profundas ao ponto da própria
percepção de mundo dos cientistas se alterarem. A partir de um paradigma novo o olhar posto
sobre o mesmo aspecto anterior muda. Portanto, quando ocorre essa alteração da tradição
científica normal, à noção desse praticante da ciência sobre o ambiente, ao qual está inserido,
precisa ser educada novamente. Entretanto, o autor deixa claro que essa percepção da realidade
varia com a experiência visual-conceitual prévia e o treinamento que o cientista teve da ciência
normal, e que o próprio paradigma é um pré-requisito para uma mudança de olhar. Para
exemplificar essa ideia o físico cita um exemplo: a Lua antigamente era vista como um planeta,
porém, a partir de Copérnico descobriu-se que, na verdade, ela é um satélite. Não é pelo fato de
terem achado que a Lua é um planeta para ela ter sido um, o que mudou foi o olhar sobre o fato, e
não o fato em si (KUHN, 1998).
Além disso, é importante salientar, mesmo havendo uma percepção distinta sobre um mesmo
assunto fundamental, nenhum deles pode ser considerado totalmente errôneo ou irrelevante.
Aliás, foi uma parte importante, promovendo, assim, discussões e explorações do próprio
paradigma e produzindo a partir dele uma compreensão considerada mais correta pela
comunidade científica, questão que não poderia ter sido alcançado sem essas percepções
distintas. Então, cada noção diferente pressupõe um paradigma. Essas noções são parte da ciência
normal que não visa transformar, ou corrigir, e sim articular um paradigma já existente
evidenciando, dessa forma, suas anomalias (KUHN, 1998).
Outro ponto importante a ser considerado são as interpretações imediatas. Essas precisam ser
deixadas de lado, até porque podem gerar interpretações de dados inequívocos. Kuhn define essas
interpretações como “os traços perceptivos que um paradigma destacado de maneira tão notável
que eles revelam suas regularidades quase à primeira vista” (KUHN, 1998, p.161). Para ele é
mais importante ter em mente a discussão das operações e medições feitas pelos os cientistas em
laboratório. As operações e medições são determinadas por um paradigma, de uma maneira muito
mais correta que a experiência imediata. Por conseguinte, ele cita que não há ainda uma
linguagem geral efetiva de objetos de percepções puras. (KUHN, 1998).
Ao finalizar o nono capítulo, Kuhn, acaba citando que as mudanças nunca são em sua totalidade,
aliás, mesmo que a percepção mude o cientista ainda habita o mesmo mundo. Até porque seu
laboratório, sua bagagem, sua linguagem, é a mesma. O que muda, necessariamente, é como ele
emprega essas características. Como consequência, a ciência surgida da revolução usará os
mesmos mecanismos de sua antecessora, as mudanças, reais, serão em como ele lidará com o
novo paradigma e os resultados advindos disso (KUHN, 1998).
O capítulo 10 começa discorrendo sobre a invisibilidade das revoluções científicas, fato
proveniente de uma fonte autoritária que disfarça a existência e o significado das revoluções
científicas, sendo assim, despercebidas e/ou não entendidas. Essa fonte de autoridade é,
principalmente, os manuais científicos, juntamente com os textos de divulgação e obras
filosóficas. De acordo com ele, esses manuais visam comunicar o vocabulário e a sintaxe de uma
linguagem científica, porém, essa transmissão não é eficaz para todos, já que a maioria da
sociedade não é familiarizada com esse dialeto. É frisado, também, que essa publicação se refere,
especificamente, a um corpo articulado de problemas, dadose teorias e ao conjunto de
paradigmas aceitos pela comunidade científica prevalecida, na época em que estão inseridos
(KUHN, 1998).
É exposto, inclusive, que os conhecimentos científicos dos praticantes da ciência, bem como de
outros leigos nela, são alicerçados nos manuais. Entretanto esses manuais por perpetuarem,
somente, a ciência normal, toda vez que um paradigma é posto no lugar de seu antecessor,
precisam ser reescritos, já que os problemas ou as normas se modificaram. Desse modo, ao serem
escritos novamente muita informação importante é perdida e truncada a respeito da história da
ciência. E é através dessas características que, erroneamente, tem-se a percepção da ciência
cumulativa e linear, como se todos os trabalhos científicos tivessem sido feitos de uma forma fixa
e estável. Ao serem retratados dessa maneira os manuais perdem o cerne dos episódios mais
significativos do desenvolvimento científico, e isso ocorre em um campo que preza sempre pelo o
que é mais factual possível, demonstrando uma contradição. Kuhn diz que “o manual sugere que
os cientistas num processo frequente comparado à adição de tijolos a uma construção, juntaram
um a um os fatos, conceitos, leis ou teorias ao caudal de informações, o que de fato não acontece”
(KUHN, 1998, p. 178).
No capítulo seguinte, o autor, especifica que no conceito de manuais, trabalhado anteriormente,
são consequências de uma revolução, servindo assim, como suporte para uma nova prática da
ciência normal. Kuhn cita inclusive que são os jovens os mais aptos para serem adeptos a um
novo paradigma. Isso se deve ao fato de serem os primeiros a verem o mundo de uma maneira
diferente, e por estarem menos arraigados com o paradigma obsoleto. O papel do pesquisador
frente a um paradigma é de um solucionador de quebra-cabeças, e não de um testador do próprio
paradigma. O teste de um paradigma ocorre, de fato, quando há um insucesso na resolução dos
quebra-cabeças que culmina uma crise. O teste não é uma questão de comparação do paradigma
com a natureza, mas sim, a competição entre dois paradigmas concorrentes (KUHN, 1998).
Kuhn associa a ideia apresentada no parágrafo anterior com teorias filosóficas sobre a
verificação. Frisa, portanto, que não existem muitos filósofos que busquem fundamentos totais
para a verificação de teorias, até porque o que eles consideram mais relevante é não se a teoria foi
verificada, mas sim, sua probabilidade, dada a evidência. O capítulo ressalta também a teoria
probabilística, uma das mais populares teorias filosóficas sobre a verificação, que requer a
comparação da teoria científica com todas as outras que se adaptam ao mesmo conjunto de
teorias. Sua limitação é o não acesso a todas as experiências ou teorias possíveis. O autor coloca
em questão a relação da verificação com a seleção natural: “ambas escolhem a mais viável entre
as alternativas existentes em uma situação histórica determinada”. (KUHN, 1998, p.185).
Um contra argumento a esses conceitos foi desenvolvido por Karl Popper, negando assim a
verificação. Sua defesa é pela falsificação, isto é, o teste, com o resultado negativo, obriga a
rejeição de uma teoria estabelecida. A falsificação, assim possui a mesma função das anomalias,
e a partir dela que uma nova teoria é cogitada, porém, nenhuma teoria soluciona os
quebra-cabeças, como consequência as soluções encontradas possuem, também, anomalias.
Nesse aspecto há uma contradição já que é precisamente adaptação defeituosa entre a teoria e os
dados que estabelece muitos dos quebra-cabeças da ciência normal. Porém, mesmo com as
contrariedades a experiência de Popper é relevante ao propiciar um embate para um paradigma já
existente (KUHN, 1998).
A escolha de paradigmas é proveniente de um embate conturbado, isso se deve ao conjunto de
problemas científicos diversos, com padrões distintos, nada regular e previsível. Por conta disso,
estabelece-se uma desavença, nenhum dos lados aceitará todos os pressupostos não empíricos
colocados em questão pelo adversário que defende seu ponto de vista. “As razões de fracassos
entre relacionamentos com perspectivas diferentes são descritas como a incomensurabilidade das
tradições científicas normais, pré e pós-revolucionárias” (KUHN, 1998, p. 188). As
incomensurabilidades são: A divergência chega a ser tão excessiva que até os padrões científicos
ou a definição da própria ciência pode chegar a não ser a mesma, ela difere em quais problemas o
candidato a paradigma deve resolver. O segundo é que os novos paradigmas necessariamente
nascem dos antigos, como consequência termos, conceitos e conhecimentos do antecessor serão
incorporados. Por fim, o terceiro diz que os rivais praticam sua ciência em mundos distintos,
assim, ao direcionarem seu olhar para um ponto muito raramente verão a mesma coisa. Por ser
dessa forma, a transição entre paradigmas deve ocorrer subitamente. (KUHN, 1998).
Ao finalizar o capítulo Kuhn fala que “para que um paradigma possa triunfar é necessário que ele
conquiste alguns adeptos iniciais que o desenvolverão até que o ponto em que argumentos
objetivos possam ser produzidos e multiplicados”, (KUHN, 1998, p. 199), se o paradigma que
terá o papel de orientar no futuro as pesquisas sobre os problemas terá êxito. Porém não há um
argumento que poderá convencer a todos, uma característica citada que ajuda nessa conquista é
como a estética, o modo que esse paradigma é apresentado, de uma forma clara e visivelmente
convidativa contribui para a adoção mais rápida do mesmo, podendo ser algumas vezes decisivas.
Por meio da ciência normal que a comunidade científica obtém sucesso, pois ao explorar o
alcance e a precisão do velho paradigma motiva a formação de outro paradigma. Através de uma
crise do paradigma a comunidade científica fica também mais propicia a aceitar um novo
paradigma, mas não somente isso é o bastante e necessário que o candidato específico escolhido
tenha uma fé, ou credibilidade, embora a teoria nem precise ser nem racional, nem correta. Por
conseguinte, a forma correta de ter adeptos é por meio da persuasão, de forma gradual,
aperfeiçoando-o, mostrando as possibilidades, aumentando a força do argumento e assim o
número de experiências, instrumentos, artigos e livros baseados no paradigma vão ganhando
força conquistando novos apoiadores (KUHN, 1998).
No último capítulo, o ensaio discorre sobre o progresso através das revoluções. Kuhn recita que
associamos ciência com o progresso, sendo ele um traço muito marcante desse campo. Por isso,
há uma grande dificuldade em reconhecer como ciência as ciências sociais, seu progresso não é
tão notável como a física, por exemplo. Essas áreas das ciências naturais são consideradas como
ciência sem hesitação, enquanto as outras entram em debates no sentido de provarem e serem
reconhecidas como tal, há pessoas com inúmeros argumentos dizendo que tal campo das ciências
sociais, como a Psicologia, por exemplo, possui características de uma ciência, mas outras
utilizam desses mesmos traços para dizerem que não. Esses debates de acordo com Kuhn”
apresentam paralelos com os períodos pré-paradigmáticos em áreas que atualmente são rotuladas
de científicas sem hesitação” (KUHN, 1998, p.202).
Para solucionar isso, precisamos reconhecer as causas, que, hoje, acreditamos serem os efeitos. A
ciência normal tem o aspecto de ter, no período pré-paradigmático, um grande número de escolas
rivais, cada uma questionando frequentemente os fundamentos alheios, o que torna o encontro de
provas de progresso muito complicado. Porém, esse debate, em que há o questionamento mútuo
de seus objetivos e critérios assegura o progresso, tendo em vista que ele se atesta quando a
ciência normal predomina. Outro fator que mostra a diferença de reconhecimento de progresso
entre as ciências é o fato das ciências naturais terem um isolamento frente às exigências dos não
especialistas e da vida cotidiana. Esses cientistas não estão preocupados se seus trabalhosserão
aceitos pela as pessoas comuns, isso torna seu trabalho mais dinâmico, já que suas conclusões
serão avaliadas por um grupo restrito de pessoas, que assim como ele, possuem os mesmos
valores e concepções. Ademais, ele próprio, a partir de seu ponto de vista, escolhe as questões
mais importantes a serem trabalhadas, ao contrário dos das sociais que precisam solucionar
problemas considerados urgentes,tendendo a defender sua escolha de objeto de pesquisa (KUHN,
1998).
A comunidade científica é imensamente efetiva para resolver quebra-cabeças definidos por seu
paradigma, e ao resolvê-los, irremediavelmente, leva ao progresso. Isso é consequência dos
alunos das áreas das ciências naturais de sempre ao longo de sua formação acadêmica terem
recebido uma educação rígida e estreita, já que seu aprendizado é regido por manuais produzidos
de uma forma mais breve e clara, sendo, assim, o aluno é equipado perfeitamente bem. Nas áreas
sociais não, no começo do curso já possuem contato com a literatura científica, lendo sempre a
obra, realmente, escrita dos grandes pensadores, entrando em contato com várias soluções e
questões frente a um mesmo problema, essas questões terão que ser julgadas pelo próprio
estudante. Por fim, Kuhn, coloca que os empreendimentos, mudanças de paradigmas, dos
cientistas não levam a uma proximidade sempre maior da verdade, o real motivo, na verdade, é
um processo continuado por um entendimento mais detalhado e mais claro da natureza (KUHN,
1998).
Thomas Kuhn, no desfecho da obra, ilustra em seu posfácio correções a cerca dos conceitos
demonstrados no livro, elabora comentários a respeito de críticas e ainda esboça novas visões de
seu pensamento. Durante o texto, ele diz que o termo paradigma foi empregado com dois
significados, de um lado indica as crenças, valores, técnicas, partilhadas pelos membros de uma
comunidade, e o outro modo é que são as respostas concretas de quebra-cabeças que podem ser
usadas no lugar de regras como base para resolver os demais quebra-cabeças (KUHN, 1998).
No primeiro ponto o autor declara que a comunidade troca paradigmas entre si, e,
consequentemente, a comunidade cientifica também. Afirma, ainda, que os cientistas a serem
submetidos a uma educação parecida, a uma mesma iniciação profissional absorvem o mesmo
ensino de uma especialidade cientifica, praticando-a, e delimitando seu objeto, perseguindo-o por
meio de objetivos em comum. Há especificação que as escolas do período pré- paradigmático
compartilham também o paradigma, o que muda com o desenvolvimento é sua natureza, pois só
depois do amadurecimento a pesquisa normal será orientada para a elucidação de problemas.
Deixa claro também que para ele revolução não é necessariamente uma grande mudança, nem
revolucionária, mas sim uma reconstrução dos compromissos do grupo. Além do mais, outra
alteração diz respeito às crises, no texto entende-se que elas precisam preceder as revoluções,
entretanto, as crises não são pré-requisitos obrigatórios para as revoluções, só funciona como uma
característica para que a ciência normal não fique estagnada, sem desafios (KUHN, 1998).
Já no segundo ponto, um problema que Kuhn tenta sanar é o que paradigma pode ser, o que gerou
muitas dificuldades no entendimento de seu ensaio. Ele então associa paradigma e todas as suas
derivações com matriz disciplinar, não com teoria. Essa matriz disciplinar é dividida em três
aspectos: o primeiro é que a grandeza de uma ciência aumenta com o tanto de generalizações
simbólicas feitas, outro componente diz respeito aos paradigmas metafísicos e por último os
valores distribuídos por comunidades diferentes (KUHN, 1998).
No terceiro tópico discorre em como os estudantes são propícios na resolução de quebra- cabeças,
já que eles ao resolverem um número elevado de questões são propícios a resolverem muito mais,
isso é importante, pois elucidar problemas é compreender a natureza. É mostra que "os cientistas
resolvem quebra-cabeças modelando-os de acordo com soluções anteriores, frequentemente com
um recurso mínimo a generalizações simbólicas” (KUHN, 1998, p.235).
Outro aspecto mal interpretado pelos leitores, posto no tópico quatro e que Kuhn tenta sanar, foi o
fato de entenderem uma colocação errada da construção da ciência. O texto deu a entender que a
ciência é baseada em interpretações subjetivas, um conhecimento adquirido de perspectivas que
não respeitam leis ou lógica. Ao discorrer sobre o fato de cada cientista ter uma visão de mundo
diferente, portanto, ao olhar para o mesmo objeto terá uma interpretação a partir de suas
concepções, fica-se subentendido, que a ciência não é objetiva. Para esclarecer essa questão,
primeiro, ele deixa claro que as intuições são produto de uma comunidade, e não individual, ou
seja, partilhando paradigmas. Esse sistema compartilhado não foge do caráter sistemático da
ciência. Quanto aos sistemas, frisa que não é contrário, porém, não concorda quando os
conhecimentos são interpretados erroneamente, abstraídos de exemplares e com o tempo passam
a substituí-lo (KUHN, 1998).
 
Além disso, tirando o aspecto individual entendido em seu texto ele explana que dois grupos ao
captar os mesmos estímulos produzem sensações diferentes, ou seja, mundos diferentes, isso não
quer dizer que podem ter quaisquer percepções. Explica que isso não se aplica dentro de um
grupo, pelo fato desses indivíduos juntos compartilharem a mesma língua, aprenderem as
mesmas coisas, discutirem os mesmos assuntos, frequentarem os mesmos lugares. Portanto,
frente a um objeto pensarão da mesma forma, involuntariamente, são treinados para pensarem
igual, sobre um processo sem possuir controle (KUHN, 1998).
Para mais, no quinto tópico, outro ponto é a incomensurabilidade e seus efeitos na escolha dos
cientistas entre teorias sucessivas. No livro, sua colocação diz respeito que a discussão, diálogo
de surdos, não leva os cientistas a uma escolha de uma teoria e sim a forma como eles empregam
a persuasão. Os filósofos, ao lerem essa passagem tiraram conclusões equivocadas achando que a
ideia do autor se refere sobre a defesa de teorias distintas que não podem conversar entre si, como
consequência, em um debate elas serão escolhidas por critérios meramente subjetivos, de cada
indivíduo. Já no penúltimo tópico, Kuhn tenta tirar a visão relativista que alguns de seus críticos
associaram a sua imagem. Na verdade, ele argumentou que em grupos, os cientistas são pessoas
aptas a resolver quebra- cabeças, em que os valores advindos de seu trabalho e de sua pesquisa
entram em conflitos ao tentar resolvê-los (KUHN, 1998).
Finalizando sua linha de raciocínio, Thomas Kuhn, manifesta a ideia de natureza da ciência.
Acusam, novamente, o autor em outro aspecto, dizendo que ele peca no sentido de passar várias
vezes em sua obra do descritivo ao normativo, confundindo, assim, descrição com prescrição,
porém, para se defender tece o comentário de que atualmente essa distinção não é mais aplicável,
pois, contextos relevantes já revelaram ambas as características. Nega que seu livro delimite uma
natureza da ciência, na verdade, entretanto abre espaços para sua aplicação em muitos outros
campos. Ao aplicar termos como rupturas revolucionárias, Kuhn abre novas perspectivas para a
ciência, remodulando a concepção dessa natureza que até então era defendida. Também, não só
colocou em questão a similaridade da ciência com outras áreas, mas frisou as diferenças, o
progresso é um ponto muito particular desse campo, por exemplo, (KUHN, 1998).
Os manuais científicos, propostos por Kuhn, são o conjunto de problemas, dados e teorias
adotados pela comunidade científica. No direito esses manuais são muito usados e difundidos,
entretanto, possuem características mecânicas, rígidas de ideias abstratas. Esses manuais não
enxergam as mudanças significativas ocorridas na sociedade e toda sua subjetividade. Como
consequência de todo esse formalismo, a teoria do Direito peca na prática,as leis possuem
lacunas, são ambíguas. Ademais, os estudantes de Direito no decorrer do curso entram em
contato com muito material didático que não existe na realidade, a complexidade toda proposta
por esses manuais não é encontrada na vida cotidiana. Esses manuais didáticos compartilham
valores, pontos de vista, generalizações, propostas soluções para problemas, todavia essas
adversidades na prática jurídica são muito mais amplas e não encontradas nessa teoria. A prática
do direito fica limitada nesse sentido. A consequência de todo esse fenômeno é o que foi
colocado no texto Meu Guri, de Armando Antenori. Por uma irresponsabilidade, Jeremias foi
pego em flagrante, em um assalto, com uma arma de brinquedo. Entretanto mesmo o crime não
oferecendo um risco muito grande para a sociedade, até porque ele é réu primário, tem família, e
não usou de uma violência significativa (aliás, a vítima nem esboçou reação) o celular ter sido
entregue, e além do mais, possuir filhos e um trabalho fixo, teve que ficar meses aguardando
julgamento na prisão, sendo humilhado, e levando sua mãe ao desespero. Nem o fato, de sua
família ficar sem o principal provedor, e nem de sua mulher perder a filha no ventre, fez o juiz
rever sua situação e, assim, escolher o que seria correto: solicitar Jeremias aguardar o julgamento
em liberdade. O sistema respaldado por uma lei que não via as especificidades da condição de
Jeremias foi injusto.
Percebe- se, portanto, que a obra tem uma importância significativa em ampliar o conceito de
ciência, e o processo em que ela é desenvolvida e sua influência. Esclarece-se como de fato são
as revoluções cientificas, ou seja, a troca de paradigmas, e como esse processo ocorre, a partir de
percepções diferentes de um mesmo objeto por parte de grupos distintos, que tentam por meio da
persuasão fazer valer seus valores frente a outros. Ao longo da obra, o autor dialoga com o leitor
por meio de perguntas provocando assim a reflexão sobre suas ideias. Ademais, por meio de
exemplificações de áreas como a física, química e matemática (as quais possui um entendimento
considerável), mostra que de fato seus conceitos são aplicáveis, não ficando assim, restritos a
teoria. Entretanto, o leitor precisa ter uma ideia, pelo menos básica, dessas áreas do
conhecimento, para ter um entendimento favorável da obra. Além disso, por ser um ensaio, em
alguns pontos, as ideias se tornam confusas e esparsas. Por fim, um ponto positivo foi o fato de
Thomas Kuhn, ter tido a preocupação de fazer um pósfacio para deixar suas ideias mal
interpretadas mais claras, e guiar o leitor de uma forma melhor em pontos que ficaram vagos.
Nota-se a importância da obra não só para a comunidade cientifica, mas inclusive para os recém
ingressos no ensino superior que começaram a ter contato com o ensino do Direito e a pesquisa.
Referências Bibliográficas:
Meu Guri- A mãe, a avó e a mulher de um dos 250 mil brasileiros presos antes do
julgamento, Armando Antenore, Revista Piauí 132, setembro de 2017.
KUHN, Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. 5ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva
S.A., 1998, pp. 125-257.

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