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1 Bibliografia: aula do prof. José Gomes Batista Sinonímia: mioma uterino, leiomiomatose uterina, fibromas, escleroma, fibroleiomioma. Mioma uterino é um tumor benigno, composto por fibras musculares lisas e estroma de tecido conjuntivo. Epidemiologia • Neoplasia benigna mais comum da mulher, 95% dos tumores benignos do trato genital feminino. A mulher chega com irregularidade menstrual. • Responsável por 1/3 do total de histerectomia • Raros antes dos 20 anos de idade Fatores de risco: história familiar (relacionada com cromossoma 12), idade, raça negra, nuliparidade, álcool, menarca precoce. Alguns autores consideram tabagismo e anticoncepcional como fatores de proteção. Etiopatogenia Não está totalmente elucidada. Existem fatores que podem influenciar no crescimento da musculatura uterina: • Níveis circulantes de estrogênio: principal fator determinante do crescimento tumoral. Aprendemos que, nos tecidos tumorais da mulher, há um maior número de receptores de estrogênio. o Não foram comprovados níveis de estrogênio elevados em mulheres com leiomiomas. Porém, é comprovado o maior número de receptores para tal hormônio. • Ação sinérgica do GH com o estrogênio: influência no crescimento tumoral. • Obesidade: facilita o crescimento dos leiomiomas; a cada 10 kg de ganho ponderal, aumenta-se em 20% o risco de surgir miomas. o Aumento da estrona circulante pela conversão periférica de androstenediona pela aromatase. Esta última se encontra aumentada no tecido gorduroso. As mulheres gordas, quando entram na menopausa, têm menos fogachos e sintomas, porque elas têm aromatase e gordura, que vai transformar em estrona. • Alterações cromossômicas o Cromossomo 12: a análise citogenética mostra cariótipos normais em 50% dos casos, várias anormalidades (deleções, trissomias, translocações). Essas alterações ocorrem, em especial, no cromossomo 12q 13-15. • Fatores protetivos o Tabagismo: dez cigarros ao dia elevarão em 18% a redução no risco de desenvolvimento de leiomiomas. O tabagismo cria um estado hipoestrogênico, ocorrendo a menopausa três anos antes que em não fumantes. A fisiopatologia envolvida está relacionada com a vasoconstrição determinada pela nicotina. • Níveis circulantes da progesterona: o estrogênio age aumentando os receptores de progesterona. Nos leiomiomas existem mais receptores de progesterona do que nos tecidos normais. Há evidências de que a progesterona iniba a apoptose e estimule o crescimento celular. O índice mitótico aumenta na fase lútea (é a fase de predomínio da progesterona). • Aromatase: converte andrógenos em estrógenos. O leiomioma apresenta maiores concentrações de aromatase do que o miométrio normal. • Influência genética: aproximadamente 40% dos miomas têm anormalidades cromossômicas em suas células. Os miomas apresentam origem monoclonal, advém de uma mutação numa única célula, que após consecutivas duplicações constituem tumores. Patologia Tumores nodulares, únicos ou múltiplos, pequenos ou gigantes, circunscritos, bem delimitados, pseudocapsulados, pediculados ou sésseis • Histopatologia: fibras musculares lisas distribuídas de forma espiralar, com tecido conjuntivo de permeio. Alterações degenerativas secundárias • Hialina: mais comum, tumor amolecido, diminuição do fluxo sanguíneo para o mioma. • Cística: liquefação das áreas com degeneração hialina, coleções líquidas. 2 • Mucoide: cistos preenchidos com material gelatinoso. • Rubra: obstrução venosa devido ao rápido crescimento tumoral. Semelhante à gravidez. • Gordurosa: mais rara, tecido gorduroso no interior das fibras musculares lisas. • Calcificação: acúmulo de cálcio onde o fluxo sanguíneo é baixo. Após menopausa, miomas que sofrem necrose. • Necrose: mais comum em miomas pediculados. • Sarcomatosa: rara. Por isso que na miomatose uterina na pós menopausa, faz só controle. Classificação • Localização o Cervicais o Ístmicos: separa corpo do colo. o Corporais (98%) • Posição relativa das camadas o Subseroso: quando é muito grande clinicamente, produz dois, é coisa rara. Cresce “para fora”. o Intramural: produz intramenorragia. o Submucoso: útero pode estar discretamente aumentado, produz metrorragia, que é um sangramento acíclico. Cresce “para dentro” da cavidade uterina. o Intraligamentar o Parido: quando faz exame ginecológico, dá vontade de fazer torção e tirar. Porém, tem que ter cuidado no pedículo lá em cima, pois pode ficar sangrando. Manifestações clínicas • 50% dos miomas são sintomáticos. • Sintomas o Sangramento anormal (mais frequente), dor pélvica e dismenorreia, aumento do volume abdominal, sintomas geniturinários, distúrbios intestinais, infertilidade. 1. Sangramento anormal • Hipermenorreia: mioma intramural, aumento da quantidade e da duração do fluxo menstrual. • Metrorragia: mioma submucoso. É um sangramento acíclico. Faz diagnóstico diferencial com pólipo. A maioria dos miomas é intramural, e sintomatologia é mais com eles. No ambulatório, as pacientes vêm com um fluxo menstrual aumentado em quantidade e duração. • Aumento da superfície endometrial • Compressão e congestão venosa do miométrio e endométrio • Dificuldade de contração do miométrio. 2. Dor Pode se manifestar de diversas maneiras: dor hipogástrica com irradiação para região lombar e MMII, dismenorreia, dispareunia (dor durante relação sexual). • Deriva principalmente da compressão das estruturas contíguas ao mioma. • A isquemia é a responsável pela dor proveniente do próprio mioma. • Os miomas paridos (sai pelo colo do útero, que confunde com pólipo) podem levar à cólica intensa associada a ulceração e infecção. 3. Sintomas geniturinários 3 Ocorrem em miomas volumosos, ístmicos ou intraligamentares Os sintomas urinários incluem: polaciúria, incontinência urinária, hidronefrose, ITU. Faz diagnóstico diferencial com gravidez, muitos estão acima da cicatriz umbilical. No pré-operatório, muitas vezes se pede uma urografia excretora, para avaliar aparelho urinário, como está acontecendo o desvio ou não das estruturas, principalmente do ureter. 4. Distúrbios intestinais Decorre da compressão do retossigmoide. É raro e ocorre em mioma grande. Inclui: constipação, obstrução, fezes em fita e hemorroidas. 5. Infertilidade Geralmente há outros fatores associados. Os miomas estão presentes em cerca de 5 a 10% dos casais inférteis. Dependendo de onde ele se encontra no endométrio, pode impedir ou dificultar a nidação. • Mecanismos: oclusão dos óstios tubários (miomas fúndicos), alterações vasculares impedindo a nidação, miomas submucosos que mimetizam um DIU, distensão uterina deficiente (miomas múltiplos ou volumosos). Diagnóstico clínico • Anamnese: o exame clínico apresenta boa acurácia em úteros com mais de 300g. • Ao toque, devemos identificar a posição, o volume, a forma, os contornos, a consistência e a mobilidade do útero. • O útero miomatoso apresenta: aumento de volume, superfície irregular, bocelada e endurecida, diminuição da mobilidade, modificação de forma. A primeira coisa é a anamnese. Geralmente, é uma paciente que chega no período do menacme, com uma queixa principal de irregularidade menstrual tipo hipermenorreia – aumento de fluxo e da duração. Durante investigação de dor pélvica, pode pedir USG e encontrar mioma pequeno, que pode ou não ser a causa da dor. Queixa principal: perguntar o que mais incomoda. Pensar na idade, não encontra em menina de 10 anos, mas em mulher em menacme, multípara ou que deseja engravidar. Na maioria das vezes, mulheres de 40 anos, no período de transição menopausal. No toque bimanual, quando o volume uterino é grande, é possível delimitar. No exame ginecológico, examina mama,abdome e depois o exame ginecológico propriamente dito, faz inspeção da vulva e exame especular. No espéculo, já vê pólipo ou mioma parido. No toque, identifica aumento do volume uterino, móvel ou não, com superfície irregular. Anexos palpáveis ou não. Exames complementares • Exame de sangue: hemograma. Paciente com hipermenorragia se queixa de indisposição. Pode- se encontrar anemia, porque todo mês ela está sangrando. • USG • Histerossalpingografia • Histeroscopia • Videolaparoscopia • TC e RNM. 1. USG pélvica Pode ser pélvica e transvaginal. Pede a pélvica quando a paciente diz que é virgem. É o exame mais importante e mais acessível. O estudo transvaginal tem a vantagem de fornecer informações adicionais sobre a arquitetura e a anatomia da massa, bem como alterações endometriais. Os miomas podem ser vistos como nódulos hipoecóicos na parede uterina. Aonde tem líquido, a coloração é escura. 2. Histerossalpingografia Está indicado na avaliação de permeabilidade tubária em casos de infertilidade. Pode detectar os miomas submucosos como uma falha de enchimento. Distorções uterinas podem ser vistas em casos intramurais. 4 3. Histeroscopia Tendo um pólipo ou mioma parido, tem que ver onde está o pedículo que alimenta o mioma. Utilizada para avaliação de sangramento uterino anormal. Identifica os nódulos submucosos pela visualização direta e os nódulos intramurais pelas deformidades que estes causam à cavidade uterina. Em casos de infertilidade, permite a localização precisa do tumor e a visualização dos óstios tubários. Abaixo, ver mioma que preenche toda a cavidade. 4. Videolaparoscopia Não é um exame rotineiro, o mioma pode ser um achado em videolaparoscopia realizada com outra finalidade. Pode ser realizada em casos de infertilidade ou em casos de dúvidas diagnósticas mesmo após exames complementares. Injeta contraste na histerossalpingografia e vai olhando a permeabilidade da trompa, fazendo lise de aderências. Hoje em dia, pode fazer histerectomia por VDL. Tomografia computadorizada (TC) É útil no planejamento do tratamento e em casos suspeitos de degeneração maligna. Pode ser utilizada em casos em que há dúvida se a afecção é ou não ginecológica. Geralmente, USG resolve tudo. Ressonância nuclear magnética (RNM) Tem como limitação o elevado custo. É o método ideal para diferenciar leiomioma e adenomiose (endometriose interna). Quando se opta por um tratamento conservador (como embolização) deve ser sempre realizada. Diagnóstico diferencial Tratamento • Casos assintomáticos: não tratar, a conduta é expectante. Acompanhamento com USG. o Pacientes sintomáticas, sem comprometimento geral. o Pacientes em perimenopausa com sintomas leves: acompanha, não é indicação de histerectomia. Qual o tipo e momento ideal de intervenção? • Tamanho do mioma • Localização do mioma • Sintomas: dependendo da sintomatologia, faz tratamento clínico ou cirúrgico. 5 • Idade da mulher: mulher de 50 anos, com mioma acima de 300 cm, grande e já tem prole definida, faz tratamento cirúrgico. • História obstétrica • Aspirações reprodutivas: em prole não definida, a conduta é conservadora. Tratamento clínico • Objetivos: alívio dos sintomas, evitar complicações associadas à intervenção cirúrgica, triagem antes da intervenção cirúrgica, conservação uterina. Tratamento farmacológico • Análogos do GnRH • Danazol • Gestrinona • Inibidores da aromatase • Contraceptivos hormonais • AINES 1. Análogos do GnRH • Efeito inicial positivo: saturação dos receptores. • Provocando dessensibilização dos receptores pela redução do número → estado de profundo hipoestrogenismo • Diminuição média de 30-70% no tamanho de miomas, com redução em cerca de 35-60% do tamanho uterino (3 meses de uso) • Amenorreia em 2/3 das pacientes, com melhora dos parâmetros hematimétricos. • Rápido retorno após interrupção do uso da medicação. 2. Contraceptivos hormonais • Tratamento do sangramento uterino • Sem eficácia para a redução dos leiomiomas • Parecem ser eficazes na diminuição da sintomatologia pela atrofia endometrial • Há evidência de que o uso de ACO’s e contraceptivos injetáveis de progesterona diminuem o risco de desenvolvimento de novos leiomiomas e reduzem sintomas de outras ginecopatias. 3. Mifepristone • Antagonista da progesterona – RU 486. Ocupa o receptor da progesterona. • Efeito inibitório sobre as células endometriais • Modulador seletivo do receptor de progesterona com atividade antagonista e agonista parcial do receptor • Promovem a diminuição do volume uterino em 26-74%, em comparação com os agonistas do GnRH • Melhora os sintomas do sangramento • Tratamento requer altas doses 4. AIE não hormonais • Parecem não diminuir a perda sanguínea. Contudo, diminuem dor, pois diminuem prostaglandina (principalmente piroxicam). 5. Raloxifeno • Pertence à classe dos moduladores seletivos de estrogênio • Não possui efeito no miométrio normal na pós- menopausa e parecem não agir na pré- menopausa. Modalidades de intervenção cirúrgica • Histerectomia: fúndica, subtotal, total. o Mioma grande, com muito sangramento e prole definida, faz histerectomia total. • Miomectomia: via laparotômica, via videolaparoscópica, via histerocópica. • Ablação endometrial • Miólise • Oclusão da artéria uterina Sabe-se que o endométrio tem uma camada basal e uma funcional. Quando a mulher entra na menopausa, ela não vai mais ter a camada funcional, porque a camada basal responde ao estrogênio, que faz proliferar o endométrio. A ablação consiste em retirar a camada basal. Assim, mesmo que dê estrogênio, não vai ter camada basal, nem receptor. Portanto, não haverá proliferação do endométrio. A seguir, útero pós histerectomia. Quando o mioma é intraligamentar, tem que ter cuidado para não lesa ureter, pois ele passa por aí – artéria hipogástrica passa por cima e ureter por baixo. 6 Geralmente, deixa-se os ovários em paz, pois eles vão produzir estrogênio, para não ter que fazer reposição. Tratamento cirúrgico por videolaparoscopia A trompa tem que estar desobstruída. Quando faz histerossalpingografia, injeta contraste para ver se ela está desobstruída. Usa isso em infertilidade. Muitas vezes, quando temos um mioma aqui e se acha que ele está perturbando, se não consegue por histeroscopia, tira por VDL. Miomectomia via videolaparoscópica (VDL): risco de conversão para via aberta Miomectomia via histeroscópica: tratamento de escolha para leiomiomas submucosos, depende da localização, tamanho e número. Ablação endometrial Consiste na destruição do endométrio, realizada com laser, balões térmicos, microondas, fluidos quentes, corrente mono ou bipolar e criocirurgia. • Indicações: menorragia, pacientes esterilizadas ou com prole constituída, cavidade uterina < 12 cm na histerometria, ausência de dismenorreia severa sugestiva de adenomiose, histologia benigna do endométrio (período máximo de 6 meses), obesidade ou contraindicação cirúrgica. Miólise Coagulação térmica ou crioablação do tecido miomatoso. Tenta cauterizar, queimar. Muitas vezes associa ablação à miólise. Indicações • Pacientes com menos de quatro miomas • O diâmetro do maior mioma não pode ser maior que 10 cm. o Obs.: o procedimento deve ficar reservado para pacientes com prole constituída. Pode aumentar a chance de formação de aderências ou de ruptura uterina na gravidez. • A miólise associada à ablação endometrial é mais efetiva do que o procedimento realizado isoladamente. Embolização da artéria uterina É uma técnica promissora no tratamento não invasivo dos leiomiomas. Consiste na injeção de partículas na circulação uterina, com o objetivo de interromper o fluxo sanguíneoaos miomas. Pode-se utilizar álcool polivinil (PVA), gelfoam e microesferas embosféricas. O maior calibre dos vasos do mioma em relação aos da circulação permite que a embolização seja seletiva. É indicada para pacientes sintomáticas com miomas volumosos e múltiplos, não pediculados, não degenerados, e que desejam preservar o útero. É formalmente contraindicada em caso de infecção pélvica ativa. O acesso é feito por uma ou ambas artérias femurais, até se atingir a artéria uterina. A confirmação da oclusão das artérias uterinas após a injeção dos materiais é feita por angiografia. Os efeitos colaterais são decorrentes da oclusão de outras artérias, como as que irrigam o ovário, a bexiga e o intestino (pode dar necrose). Pode provocar: dor pélvica, cefaleia, vômitos, endometrite, intensa secreção vaginal, infecção, sangramento. • Produz uma redução de 40 a 70% no tamanho do mioma e tem uma taxa de recorrência de 1 a 2%. 7 USG focada guiada por RNM Tecnologia muito recente e ainda de alto custo. Está indicada para mulheres que não desejam mais gestar, que apresentam riscos cirúrgicos elevados ou para aquelas que não desejam retirar o útero. Gravidez Pode haver crescimento do mioma na gravidez, mas em 2/3 dos casos não há diferença no volume. O risco gestacional aumenta com a presença do mioma. Durante o ciclo gravídico puerperal, não deve ser praticado qualquer tratamento medicamentoso ou cirúrgico. As únicas indicações de cirurgia para mioma em gestação são casos de degeneração rubra e torção pedicular acompanhada de abdome agudo.
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