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A coloração de Gram é uma técnica de análise tintorial no exame à microscopia. As bactérias possuem, externamente à sua membrana celular, uma parede de peptidoglicano. Em algumas bactérias, essa parede é mais espessa e têm contato direto com o meio externo - dessa forma, o corante fica retido, e a bactéria é caracterizada como Gram +, sendo vista no exame microscópico com coloração mais arroxeada. É comum, na composição das bactérias Gram +, o ácido lipoteicóico, que tem origem na membrana celular e atravessa a camada de peptidoglicano, fazendo contato com o meio externo. Todavia, outras bactérias possuem essa parede de peptidoglicano um pouco mais delgada e que não faz contato direto com o meio externo porque, mais externamente ao peptidoglicano, existe uma outra camada composta de fosfolipídios. Aqui, a camada de peptidoglicano fica no chamado espaço periplasmático, delimitado de um lado pela membrana celular e do outro pela camada fosfolipídica externa - dessa forma, o corante não fica tão retido, e a bactéria é caracterizada como Gram -, sendo vista no exame microscópico com coloração mais rosada. Na composição das bactérias Gram -, é comum encontrarmos na camada externa de fosfolipídios tanto porinas, que são canais proteicos pelos quais substâncias externas entram no espaço periplasmático, quando lipopolissacarídeos (em especial, a endotoxina). OBS: Essa parede de peptidoglicano pode ser formada no processo de transpeptidação, feito pela proteína transpeptidase ou PBP (proteína ligadora de penicilina). A parede de peptidoglicano existe em todas as formas de bactérias, exceto no Mycoplasma. Gram + Gram - Cocos - Estreptos; - Estáfilos; - Enterococos. - Neisserias; - Moraxellas. Bacilos - Listeria; - Clostridium*. - Pseudomonas; - Hemófilos; - Enterobactérias (Klebsiella, Escherichia, Salmonella e Shigella). Outras aeróbicas importantes: Micobacterium, Chlamydia, Mycoplasma, Treponema *Anaeróbica “Substância química com ação inibitória da reprodução ou com poder destrutivo de microorganismos” (Penildon, 2010). O termo “antimicrobiano” diz respeito a todos os fármacos utilizados contra agentes infecciosos, não necessariamente sendo bactérias - dessa forma, todo antibiótico é um antimicrobiano, mas nem todo antimicrobiano é um antibiótico. Além do mais, o termo “antibiótico” é mais corretamente empregado para substâncias naturais; costuma-se denominar os antibióticos sintéticos de “quimioterápico”, embora, na prática, é usual chamar todas as substâncias que atuam contra agentes bacterianos de “antibióticos”. A maioria dos antibióticos é projetada para atuar seletivamente em processos específicos do patógeno-alvo, minimizando os efeitos adversos em seres humanos, característica conhecida como toxicidade seletiva. Quanto ao mecanismo de ação: ● Inibidores da síntese de peptideoglicanos da parede celular ou ativação de enzimas que atuam nela: ○ 𝛃-lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas, carbapenêmicos e monobactâmicos), glicopeptídeos e fosfomicina. ● Potencializadores do aumento da permeabilidade da membrana de fosfolipídios, levando ao vazamento de conteúdos intracelulares: ○ Polimixinas e daptomicina. ● Inibidores da síntese proteica: ○ Macrolídeos, lincosamidas, tetraciclinas, aminoglicosídeos, oxazolidinonas, estreptograminas e cloranfenicol. ● Bloqueadores seletivos de vias metabólicas: ○ Trimetoprima e sulfonamidas. ● Inibidores da síntese de DNA ou RNA bacteriano: ○ Fluoroquinolonas, rifamicinas, nitroimidazóis e nitrofuranos. ● Alteram reações de oxirredução: ○ Imidazólicos. Quanto ao tipo de ação antibiótica ● Bactericida: promovem a lise bacteriana total se administrados na concentração adequada e segura. Uma concentração abaixo da recomendada faz deles apenas bacteriostáticos. Alguns também têm maior eficácia em períodos de alta multiplicação bacteriana e, portanto, podem ter efeito reduzido se administrados com fármacos bacteriostáticos. ○ 𝛃-lactâmicos, glicopeptídeos, lipopeptídeos, quinolonas e aminoglicosídeos. ● Bacteriostático: inibem a multiplicação e o crescimento bacterianos, sem destruir as bactérias, que são eliminadas por mecanismos imunes do hospedeiro. São fármacos menos eficazes em pacientes imunocomprometidos, ou se utilizados em fases de dormência de bactérias. ○ Macrolídeos, lincosamidas, afenicóis, tetraciclinas, sulfonamidas, oxazolidinonas. ● Bactericida e bacteriostático ○ Sulfonamidas, eritromicina, nitrofurantoína. Fatores dos microorganismos: ● Identificação do microorganismo; ● Suscetibilidade (concentração bactericida mínima, concentração inibitória mínima). Fatores dos hospedeiros: ● Alergia ao fármaco; ● Variabilidades farmacêuticas (alimentação e absorção de fármacos, interação entre fármacos); ● Função renal; ● Função hepática; ● Gestação e lactação; ● Sítio de infecção; ● Quadro clínico. Fatores dos fármacos: ● Custo; ● Penetração tecidual; ● Toxicidade; ● Prevenção da resistência. Antibióticos não induzem resistência bacteriana, mas sim selecionam as bactérias que já são naturalmente resistentes. A resistência aos fármacos antibacterianos pode ser intrínseca à bactéria (resistência inata) ou adquirida por modificação de sua estrutura genética (resistência adquirida). Os principais mecanismos pelos quais as bactérias desenvolvem resistência adquirida aos fármacos antibacterianos são: mutação espontânea, conjugação, transdução e transformação. Uma mutação genética simples em uma população bacteriana leva aos organismos resistentes que sobrevivem e crescem seletivamente enquanto bactérias sensíveis são mortas por um fármaco antibacteriano. Isso é chamado evolução vertical. Os outros 3 mecanismos envolvem aquisição de material genético de outros organismos resistentes, conferindo, assim, resistência. Isso é chamado evolução horizontal. A conjugação se dá pelo contato direto célula a célula e, geralmente, envolve a transferência de fragmentos circulares autorreplicantes de DNA (plasmídeos), que podem conter múltiplos genes de resistência. Um transpóson (uma sequência de DNA que pode mudar sua posição relativa dentro do genoma) pode facilitar a transferência de seções de DNA de um organismo para outro, saltando para DNA de plasmídeo. A transferência do plasmídeo ocorre através de uma estrutura de conexão chamada pilus. O plasmídeo pode permanecer fora do genoma da bactéria ou pode ser incorporado nele, quando é mais estável, porém menos transmissível. As bactérias são susceptíveis à infecção por vírus conhecidos como bacteriófagos. Durante a replicação dos bacteriófagos, o DNA das células bacterianas hospedeiras (contendo genes de resistência) pode ser replicado juntamente com o DNA do bacteriófago e levado ao vírus. O fago que transporta os genes de resistência pode, então, infectar outras células bacterianas e espalhar a resistência (transdução). Esse método de resistência adquirida é raro. A transformação consiste na incorporação de DNA de bactérias mortas por bactérias vivas que podem espalhar genes de resistência. Resistência aos 𝛃-lactâmicos A resistência aos antibióticos 𝛃-lactâmicos ocorre principalmente pela baixa afinidade da transpeptidase, a proteína responsável pela transpeptidação (formação da cadeia de peptidoglicano). Uma alteração na conformação tridimensional da transpeptidase pode não favorecer para o encaixe correto do antibiótico, o que não leva à lise celular. Além disso, pode ocorrer síntese proteica da proteína 𝛃-lactamase, que realiza a clivagem do anel 𝛃-lactâmico, inativando-o e fazendo com que o antibiótico perca seu efeito. Alguns antibióticos atualmente já acompanham substâncias inibidoras de 𝛃-lactamase, como o clavulanato e o sulbactam. Outro mecanismo é a conformação diferenciada de porinas em bactérias Gram -, o que dificulta o transporte de fármacos antibióticos do meio extracelular para o espaço periplasmático. Um exemplo é a ausência da proteína de membrana porina D2 em Pseudomonasaeruginosa, o que a torna resistente ao Imipenem. Resistência a outros antibióticos Quando presentes, os plasmídeos (fitas de DNA circular adicionais à bactéria) podem ser capazes de codificar a síntese de enzimas inativadoras, o que leva à menor afinidade dos antibióticos e uma maior resistência bacteriana. Além disso, existem mutações que levam à síntese de enzimas de menor afinidade, à alteração da permeabilidade ao fármaco (como bombas de efluxo em Staphylococcus aureus, tornando-a resistente a quinolonas) e também às modificações das estruturas ribossomais.
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