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INTRODUÇÃO 
O mercado segurador brasileiro experimenta, desde a 
estabilização da moeda na década de 1990, um necessário 
desenvolvimento que se comprova numericamente: a receita anual com 
prêmios de seguros e contribuições a planos de previdência foi de 
R$ 15,6 bilhões em janeiro de 2021, o que representa um aumento de 
1,4% em relação ao mesmo mês em 20201, e o quociente dessa receita 
contra o Produto Interno Bruto (PIB) foi de 3,7% do PIB2 no mesmo 
período, excluída a saúde suplementar. Em janeiro de 2021, as 
provisões das seguradoras no segmento de capitalização somaram 
R$ 32,5 bilhões, 6,0% acima do resultado observado em janeiro de 
20203. Além disso, mesmo diante da desaceleração experimentada pelo 
cenário de crise provocado pela pandemia de Covid-19, é um setor que, 
no que diz respeito à arrecadação de prêmios, cresceu 3,29%4 em 2021, 
em relação ao cenário de 2020, excluindo a saúde suplementar. 
Desse modo, trata-se de um mercado economicamente 
relevante, que continua em franca expansão – tradicionalmente, no 
mercado, diz-se que o crescimento é de dois dígitos percentuais ao 
ano –, e com enorme potencial de crescimento, considerando os 
mercados mais desenvolvidos, como EUA e Europa, e a aguardada 
retomada da economia brasileira, especialmente afetada pela 
pandemia de coronavírus. 
O lucro líquido total do setor em 2020 foi de R$ 17,52 bilhões. 
Apesar da crise pandêmica, o setor segurador conheceu aumento de 6% 
no volume total dos ativos garantidores sob gestão, que atingiram R$ 
1,23 trilhão em 2020, contra R$ 1,16 trilhão no fim de 2019, o que 
demonstra níveis adequados de suficiência de capital para a absorção de 
perdas inesperadas. 
 
 
 
1 Dado atualizado conforme publicação da Confederação Nacional das Empresas de 
Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), 
vide páginas 10 e 11. 
2 Dado atualizado conforme publicação da CNseg, vide gráfico “Penetração da 
Arrecadação no PIB, coluna coral escuro referente a 2019 – página 16. 
3 Vide página 13 da publicação da CNseg. 
4 Vide tabela Arrecadação – página 15. 
 
__________________________ 
 
 
Não poderia ser de outra forma, já que a importância do mercado segurador está presente 
na vida cotidiana, no desenvolvimento dos mais diversos mercados, possibilitando que empresas 
assumam riscos, potencializando investimentos e expandindo a economia. 
Naturalmente, tamanha importância na vida diária não se dá sem percalços jurídicos. A 
construção do mercado segurador se deu ao longo dos anos, mas é desenvolvido, constantemente, 
ante o aparecimento de novas demandas, novos riscos, novos produtos e, consequentemente, 
novas discussões e interpretações, que desaguam no poder judiciário muitas vezes. 
Nesse contexto, por meio do ensino a distância, a presente apostila abordará os principais 
temas sobre seguro e resseguro. O objetivo deste material é analisar fundamentos teóricos e legais 
relacionados aos contratos de seguro e de resseguro à luz da teoria contratual, do ordenamento 
jurídico vigente e da jurisprudência nacional. 
No módulo I, veremos os aspectos gerais aplicáveis a todos os ramos de seguros. 
Inicialmente, apresentaremos o Sistema Nacional de Seguros Privados, dando um panorama de 
como o mercado é estruturado. Em seguida, trataremos dos temas referentes ao contrato de 
seguro em si. 
O módulo II é dedicado ao estudo de algumas espécies de seguro. Ante a enorme gama de 
contratos, optamos por abordar os seguros de pessoa – essencialmente, o seguro de vida e 
acidentes pessoais –, e tratar dos seguros de responsabilidade civil e das chamadas linhas 
financeiras – seguro E&O, D&O, e seguro garantia e de crédito –, que são pouco explorados pela 
doutrina clássica e estão em voga no momento. 
No módulo III, veremos as diferentes formas de diluição de risco, isto é, os mecanismos 
utilizados pelo mercado para melhor absorver os riscos segurados, detalhando-se o cosseguro, 
resseguro e a retrocessão, com as consequências práticas de cada um deles. 
 
 
SUMÁRIO 
MÓDULO I – CONTRATO DE SEGURO – PARTE GERAL ................................................................................. 7 
ESTRUTURA DO MERCADO – SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS.................................... 7 
INTERPRETAÇÃO DO CONTRATO E DELIMITAÇÃO DE RISCO ............................................................ 12 
QUALIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO ....................................................... 17 
A MÁXIMA BOA-FÉ ....................................................................................................................................... 23 
CONDUTA DOLOSA (FRAUDE) ................................................................................................................. 29 
AGRAVAMENTO DE RISCO ........................................................................................................................ 31 
AVISO E REGULAÇÃO DE SINISTRO – SALVAMENTO ........................................................................... 34 
MÓDULO II – ALGUNS SEGUROS EM ESPÉCIE ............................................................................................. 37 
SEGURO DE PESSOAS – VIDA, ACIDENTES PESSOAIS E SAÚDE .......................................................... 37 
SEGURO DE RESPONSABILIDADE CIVIL .................................................................................................. 41 
SEGURO D&O E E&O ................................................................................................................................. 47 
SEGURO GARANTIA E SEGURO DE CRÉDITO ......................................................................................... 52 
MÓDULO III – DILUIÇÃO DO RISCO .............................................................................................................. 61 
COSSEGURO, RESSEGURO E RETROCESSÃO ......................................................................................... 61 
SEGURO A 1O E 2O RISCO .......................................................................................................................... 63 
ABERTURA DO MERCADO RESSEGURADOR NO BRASIL – LEI COMPLEMENTAR N. 126/2007 .... 65 
ESPÉCIES DE RESSEGURADORAS ............................................................................................................. 66 
PRINCIPAIS CLÁUSULAS CONTRATUAIS ................................................................................................. 68 
PROFESSORES-AUTORES ..................................................................................................................... 72 
 
 
 
 
 
 
 
 
Neste módulo, veremos os aspectos gerais aplicáveis a todos os ramos de seguros. Para isso, 
apresentaremos o Sistema Nacional de Seguros Privados, dando um panorama de como o 
mercado é estruturado. Em seguida, abordaremos os temas que dizem respeito ao contrato de 
seguro em si. 
 
Estrutura do mercado – Sistema Nacional de Seguros 
Privados 
O mercado de seguros, na forma vigente atual, foi estruturado pelo Decreto-Lei n. 73 de 21 
de novembro de 1966. No art. 8º, tal decreto instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados, 
composto pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), pela Superintendência de 
Seguros Privados (Susep), pelos resseguradores – originalmente, pelo IRB, que detinha o 
monopólio da atividade até 2007 –, pelas sociedades seguradoras autorizadas a operar no país e 
pelos corretores de seguro habilitados. 
O CNSP é o órgão máximo do setor de seguros e, atualmente, é composto pelo Ministro da 
Fazenda ou seu representante (que o preside), pelo Superintendente de Seguros Privados (que 
substitui o Ministro da Fazenda em caso de ausência), por um representante do Ministério da 
Justiça, outro do Ministério da Previdência e Assistência Social, um representante do Banco 
Central e,por fim, um representante da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 
A competência privativa do CNSP está disposta nos incisos do art. 32 da referida norma, de 
onde se destaca: fixar as diretrizes e as normas da política de seguros privados (inciso I); regular a 
constituição, a organização, o funcionamento e a fiscalização dos que exercerem atividades 
MÓDULO I – CONTRATO DE SEGURO – 
PARTE GERAL 
 
8 
 
subordinadas a esse Decreto-Lei, bem como a aplicação das penalidades previstas (inciso II); fixar 
as características gerais dos contratos de seguros (inciso IV); e prescrever os critérios de 
constituição das sociedades seguradoras, com fixação dos limites legais e técnicos das operações de 
seguro (inciso XI). Vale mencionar que o inciso XII se encontra vigente, após repristinação: a 
Medida Provisória n. 905, de 11 de novembro de 2019, que o havia revogado, foi, ela mesma, 
revogada pela Medida Provisória n. 955, de 20 de abril de 2020. 
O mesmo Decreto-Lei foi responsável pela criação jurídica da Susep, autarquia federal com 
autonomia administrativa e financeira, que substituiu o antigo Departamento Nacional de 
Seguros Privados e Capitalização (DNSPC). Desde então, a Susep se tornou o órgão regulador e 
fiscalizador da constituição, organização, funcionamento e operações das Sociedades Seguradoras, 
desse modo, executando a política traçada pelo CNSP. 
Entre as diversas competências da Susep estabelecidas no art. 36 do Decreto-Lei, destacam-se: 
processar os pedidos de autorização, para constituição, organização, funcionamento, fusão, 
encampação, grupamento, transferência de controle acionário e reforma dos Estatutos das 
Sociedades Seguradoras, opinar sobre os mesmos e encaminhá-los ao CNSP (alínea a), baixar 
instruções e expedir circulares relativas à regulamentação das operações de seguro, de acordo com as 
diretrizes do CNSP (alínea b), fixar condições de apólices, planos de operações e tarifas a serem 
utilizadas obrigatoriamente pelo mercado segurador nacional (alínea c) e fiscalizar as operações das 
Sociedades Seguradoras, inclusive o exato cumprimento deste Decreto-lei, de outras leis pertinentes, 
disposições regulamentares em geral, resoluções do CNSP e aplicar as penalidades cabíveis (alínea 
h). São diversas as normas expedidas pelo CNSP e pela Susep na regulação do setor, estabelecendo 
desde regras contábeis até clausulado padrão de diversas modalidades de seguro. A página eletrônica 
da Susep5 permite a consulta dos atos normativos vigentes, separados por ramo ou modalidade de 
seguro. 
Por sua vez, as sociedades seguradoras são especializadas em celebrar esse tipo de contrato, 
sendo-lhes vedado explorar qualquer outro ramo de comércio ou indústria. Por meio desse contrato, 
assumem a obrigação de pagar ao segurado – ou a quem esse designar – uma indenização caso ocorra 
o sinistro, isto é, caso se materialize o risco predeterminado. Para tal, recebem o prêmio mensal 
correspondente e devem, obrigatoriamente, adotar o tipo societário “sociedade anônima”, de acordo 
com a remissão contida no parágrafo único do art. 72 do Decreto-Lei, que remete o leitor ao art. 25 
da Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964. 
Para iniciar as atividades no Brasil, as seguradoras precisam ser autorizadas pelo Ministério 
da Economia, em pedido formulado junto à Susep e encaminhado ao CNSP. É igualmente 
necessária a aprovação prévia de todos os produtos, exceto os seguros de saúde, os quais se 
submetem aos regramentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 
 
 
5 As normas em vigor, catalogadas por ramo ou modalidade, podem ser encontradas em: 
https://www2.susep.gov.br/safe/bnportal/internet/pt-BR. Acesso em: jun. 2021. 
 
 9 
 
 
No que toca aos seguros de danos, com o advento da Circular Susep n. 621, de 12 de 
fevereiro de 2021, que dispõe sobre as regras de funcionamento e os critérios para operação das 
coberturas dos seguros de danos, o envio da indigitada nota técnica à Susep deixou de ser 
necessário. Veja-se: 
 
Art. 12. A nota técnica atuarial do plano de seguro deve conter sua 
estruturação técnica e manter estreita relação com as condições 
contratuais. 
Parágrafo único. A nota técnica atuarial do plano de seguro será 
apresentada à Susep quando solicitado ou quando previsto em 
regulamentação específica. 
 
As empresas do setor de seguros, previdência privada e vida, saúde suplementar e 
capitalização são organizadas em 4 federações: Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), 
Federação Nacional de Previdência e Vida (FenaPrevi), Federação Nacional de Saúde 
Suplementar (FenaSaúde) e Federação Nacional de Capitalização (FenaCap). Juntas, as federações 
compõem a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, 
Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), criada em agosto de 2008, com o intuito de 
estabelecer um modelo de representação institucional do mercado junto à sociedade e aos Poderes 
Executivo, Legislativo e Judiciário. A FenSeg não se confunde com a FenaSeg – Federação 
Nacional das Empresas de Seguros Privados e Capitalização –, que ainda continua sendo a 
entidade de representação sindical do mercado segurador. 
Outro ator do mercado segurador são as companhias de resseguro. Historicamente, o 
Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) detinha o monopólio do setor até a abertura do mercado 
brasileiro com a promulgação da Lei Complementar n. 127/2007, que promoveu grandes 
transformações no setor, atraindo empresas estrangeiras imediatamente. Como será melhor 
analisado em módulo próprio mais adiante, o resseguro cumpre um papel fundamental para o 
mercado ao diluir os grandes riscos. Por maior que seja uma seguradora, é improvável que possa 
absorver, sozinha, um sinistro de grandes dimensões, como uma queda de uma barragem ou o 
afundamento de uma plataforma de petróleo, por exemplo. Tal como ocorre com o mercado 
segurador, as sociedades resseguradoras se organizam em torno da Federação Nacional das 
Empresas de Resseguros (Fenaber), cuja finalidade é concretizar os interesses institucionais das 
empresas associadas. 
Por fim, completando o quadro dos atores do mercado, têm-se os corretores de seguro e 
resseguro. Trata-se de pessoas naturais ou jurídicas, previamente habilitadas pela Susep a operar a 
intermediação dos contratos de seguros, ou seja, prospectar futuros e pretensos novos segurados, 
pessoas naturais ou jurídicas, para firmar contratos de seguros com as sociedades seguradoras, 
 
10 
 
sendo remunerados por meio de comissão, porcentagem, calculada sobre o valor do prêmio pago 
pelo segurado. 
É importante frisar que os corretores, sejam pessoas naturais, sejam jurídicas, não possuem 
vínculos com as seguradoras. Pelo contrário, sua função é auxiliar e defender os interesses dos 
segurados. A profissão é regulamentada pela Lei n. 4.594, de 29 de dezembro de 1964, e, para a 
obtenção de título de habilitação junto à Susep, exige-se a conclusão de curso técnico-profissional 
de seguros e a aprovação no exame nacional promovido pela Escola Nacional de Seguros, 
responsável no Brasil pela formação desse profissional. 
As seguradoras só podem receber propostas de seguros por parte de corretores legalmente 
habilitados ou diretamente dos proponentes. No entanto, em ambos os casos, o recolhimento do 
comissionamento da intermediação é obrigatório, uma vez que, na hipótese de contratação direta 
pelo proponente junto à seguradora, esta deve recolher a importância habitualmente cobrada a 
título de comissão e calculada de acordo com a tarifa respectiva em favor de um Fundo de 
Desenvolvimento Educacional do Seguro, administrado pela Funenseg (art. 18 da Lei nº 
4.594/64)6. 
Entre os principais aspectos da resolução, possui relevo o art. 4º, § 1º, IV, o qual atesta que, 
antes da aquisição de produto de seguro, de capitalização ou de previdência complementar aberta, o 
intermediário deve disponibilizar formalmente ao cliente o montante de sua remuneração pela 
intermediaçãodo contrato, acompanhado dos respectivos valores de prêmio comercial ou 
contribuição do contrato a ser celebrado. A transparência na, grosso modo, “taxa de corretagem dos 
seguros” é uma antiga polêmica do setor, havendo bons argumentos favoráveis e contrários a sua 
implementação.7 
Os corretores de seguros são organizados em sindicatos estaduais associados à Federação 
Nacional dos Corretores de Seguros Privados e de Resseguros, de Capitalização, de Previdência 
Privada, das Empresas Corretoras de Seguros e de Resseguros – Fenacor. No Brasil, não existe a 
figura do agente de seguros – profissional de vendas com vínculo com uma ou mais seguradoras –, 
que é bastante comum nos Estados Unidos e na Europa. 
Em decorrência do fim do monopólio do IRB e da consequente abertura do mercado de 
resseguro (Lei Complementar nº 126/2007), que será abordada em módulo próprio mais adiante, 
resseguradoras estrangeiras se instalaram aqui em busca desse novo mercado. Naturalmente, para 
acompanhar essa nova realidade, diversas corretoras de resseguro também chegaram ao País, 
algumas de grande renome internacional. 
 
6 Nesse sentido, interessante mencionar a entrada em vigor da Resolução CNSP n. 382, de 4 de março de 2020, 
cujo objetivo foi disciplinar o relacionamento das entidades reguladas pela Superintendência de Seguros 
Privados (Susep) e intermediários com o cliente de produtos securitários, previdenciários e de capitalização, 
bem como consagrar a figura do "cliente oculto" na atividade de supervisão da autarquia. 
7 Sobre o tema, confira-se: https://www.conjur.com.br/2020-jul-28/junqueira-bernardes-notas-resolucao-cnsp-
3822020. 
 
 11 
 
A corretora de resseguro possui definição legal na Resolução CNSP n. 168/2007,8 no art. 
2º, inciso IV: pessoa jurídica autorizada a intermediar a contratação de resseguros e retrocessão, 
que disponha de contrato de seguro de responsabilidade civil profissional, e que tenha como 
responsável técnico o corretor de seguros especializado e devidamente habilitado, na forma 
definida pelo Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP. 
A corretora de resseguro deve, necessariamente, estar organizada sob a forma de sociedade 
anônima ou por quotas de responsabilidade limitada, além de ter, por objeto social, única e 
exclusivamente, a intermediação de resseguro, facultada a cumulação com a atividade de 
corretagem de seguro. É vedado que a corretora de resseguro seja acionista, coligada, controlada 
ou controladora de sociedade seguradora ou resseguradora. 
As corretoras de resseguro estão organizadas na Associação Brasileira de Corretores de 
Resseguro – Abecor-Re. O organograma do Sistema Nacional de Seguros Privados pode ser 
retratado da seguinte maneira: 
 
 
 
 
8 A versão compilada da referida norma, com todas as alterações sofridas, pode ser consultada em: 
https://www2.susep.gov.br/safe/bnportal/internet/pt-
BR/search?exp=168%2Fnumero%20%22RESOLUCAO%20CNSP%22%2Fdis. Acesso em: mai. 2021. 
 
12 
 
Interpretação do contrato e delimitação de risco 
Partindo-se do que dispõe o art. 757 do Código Civil9, pode-se afirmar que o contrato de 
seguro é aquele pelo qual uma das partes – denominada segurador –, mediante o recebimento de 
um prêmio, obriga-se a garantir interesse legítimo da outra parte – chamada de segurado –, 
relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. Nesse sentido, emerge do conceito 
legal que os riscos predeterminados no contrato de seguro constituem um de seus principais 
elementos, já que são transferidos do segurado para a seguradora, em troca do pagamento do 
prêmio. Desse modo, a delimitação dos riscos é tema importantíssimo, sem o qual seria 
impossível equilibrar as prestações contraídas por segurados e seguradoras. Sobretudo por uma 
questão de coerência, é fundamental que as duas partes saibam de antemão aquilo que estão 
contratando, evitando surpresas, especialmente diante de um sinistro consumado. 
As questões que envolvem a delimitação dos riscos estão, necessariamente, ligadas à 
interpretação dos contratos, que traz em si diversos princípios do ordenamento jurídico dispostos 
no Código Civil, tais como a boa-fé objetiva (art. 422), a função social do contrato (art. 421) e do 
equilíbrio entre as prestações havidas entre as partes (apesar de não dispor de artigo de lei 
específico, pode-se extrair desse princípio a vedação à onerosidade excessiva – art. 478 –, a lesão – 
art. 157 –, entre outros institutos). Nessa direção, também se destacam os enunciados previstos 
nos arts. 112 (a importância da intenção das partes) e 113 (interpretação conforme a boa-fé). 
O objetivo imediato do segurado é se proteger contra riscos predeterminados, que serão 
objeto de subscrição mediante a aceitação pela seguradora. Por parte da seguradora, é igualmente 
fundamental conhecer os riscos que aceitará para, com base nesses e em sua experiência atuarial 
pretérita, possa precificar o prêmio que será a partir de então devido. No entanto, não se ignora que, 
na prática, existe pouco interesse público sobre o conteúdo dos clausulados de seguro. Poucos são os 
segurados que leem os seus contratos atentamente, contentando-se com esclarecimentos superficiais 
e corriqueiros dados pelos corretores, além de noções difusas sobre o seguro. Por parte das 
seguradoras, certamente, também há campo para melhorar a redação das cláusulas (muitas vezes, 
traduzidas de apólices globais, sem o devido cuidado), tornando-as mais claras e objetivas. 
O problema costuma surgir quando há um sinistro, isto é, quando ocorre o evento – futuro 
e imprevisível – que reclama a cobertura, e há o conflito entre o que o segurado acredita que está 
coberto e aquilo que dispõem as cláusulas contratuais efetivamente. Nesse conflito, devem 
conviver dois princípios: o da interpretação mais favorável ao segurado e da interpretação 
restritiva das cláusulas contratuais. 
De um lado, o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil fixam diversas cláusulas 
gerais que regulam a proteção do segurado. Em especial, O CDC trata, especificamente, da 
proteção contratual, encontrada nos arts. 46 a 54 daquele diploma. 
 
9 Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do 
segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. 
 
 13 
 
Em especial, o art. 46 estabelece que os contratos não obrigarão os consumidores se não 
lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos 
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance, em 
clara referência aos deveres anexos da boa-fé, como a transparência e informação. O artigo 
seguinte complementa a norma anterior, determinando que as cláusulas contratuais serão 
interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Na mesma linha, o Código Civil 
estabelece no art. 42310 que, em contrato de adesão, caso haja cláusulas ambíguas ou 
contraditórias, a interpretação mais favorável ao aderente deve prevalecer. Isso significa que a 
interpretação mais favorável ao aderente ou segurado não deve ser aplicada de forma automática, 
mas somente quando as cláusulas não estejam estipuladas de forma clara, permitindo 
interpretações distintas. 
Por outro lado, ainda que a interpretação venha a ser feita em favor do segurado, isso não 
pode significar que os riscos predeterminados sejam alargados, bem como as exclusões estreitadas, 
sob pena de desequilíbrio contratual. Isso porque a predeterminação dos riscos cobertos se dá por 
meio de sua individualização, traduzida em uma determinação positiva, isto é, que descreve o que 
está coberto. Em um passo seguinte, sobrevêm as chamadas exclusões de risco, cujo mote é 
distinto: não se quer dizer, pelas exclusões, o que está incluído; em vez disso, justamente, são 
descritas as exclusões expressas. 
Cabe sublinhar que a Lei n. 13.874, de 20 de setembro de 2019, alterou a redação do 
art. 421 e incluiuo art. 421-A no Código Civil. Veja-se: 
 
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social 
do contrato. 
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio 
da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. 
 
Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e 
simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o 
afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos 
em leis especiais, garantido também que: 
I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a 
interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou 
de resolução; 
II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e 
observada; e 
 
10 Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais 
favorável ao aderente. 
 
14 
 
III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e 
limitada. 
Em determinada apólice de seguros, a delimitação do risco incluiu as coberturas A, B e C. O 
simples fato de inexistir a exclusão expressa para D não implicaria automática inclusão. Exatamente 
como exposto no parágrafo anterior, a delimitação do risco se faz de modo positivo – é preciso dizer 
o que está coberto, expressamente, para que assim seja. Nesse tocante, a doutrina recomenda que a 
interpretação dos riscos seja restritiva. Por exemplo, vejamos a lição de Pedro Alvim11: 
 
Uma das normas importantes para o contrato de seguro é a que determina 
a interpretação restritiva de suas cláusulas. É necessário aplicar estritamente 
os termos convencionais, sobretudo com relação aos riscos cobertos. Há 
uma correlação estreita entre risco e prêmio. Forçar essa correlação por via 
da interpretação extensiva poderá falsear as condições técnicas do contrato, 
em que repousa toda a garantia das operações de seguro. 
 
Por mais óbvio que possa parecer, vale destacar que as importâncias seguradas de diferentes 
coberturas de uma mesma apólice não se comunicam. Por exemplo, se um seguro de responsabilidade 
civil possui uma cobertura para danos materiais na ordem de R$ 500 mil e, para danos morais, de 
apenas R$ 30 mil, em caso de uma condenação exclusivamente de danos morais em valor superior a 
R$ 30 mil, todo o montante que supere o capital segurado será de responsabilidade do segurado, não 
podendo valer-se da cobertura de danos materiais, ainda que intacta. Tal fato não se dá por mero 
capricho ou ganância da seguradora, mas porque cada cobertura corresponde a uma precificação 
própria, precedida de complexos cálculos atuariais estatísticos. 
Um dos exemplos apontados na doutrina que bem demonstra a necessária observância 
quanto à delimitação do risco é a cobertura para furto simples e furto qualificado. Sabidamente, 
são tipos penais distintos, sendo o primeiro caracterizado pela mera subtração de coisa alheia 
móvel, quando o segundo requer o emprego de alguns elementos, como: destruição ou 
rompimento de obstáculos; abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; 
emprego de chave falsa; concurso de duas ou mais pessoas; ou ainda emprego de explosivo ou de 
artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, §§ 4º e 4-A, Código Penal12). 
Inequivocamente, são fenômenos distintos que ocorrem com frequência igualmente 
distinta, cada qual reclamando seu próprio cálculo atuarial, tornando plenamente possível que se 
ofereça cobertura para furto simples, excluindo o furto qualificado, e vice-versa. O mesmo 
 
11 ALVIM, Pedro. O contrato de Seguro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 175. 
12 Art. 155. - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: [...] § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se 
o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou 
mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. § 4º-A 
A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause 
perigo comum (Incluído pela Lei n. 13.654, de 2018). 
 
 15 
 
raciocínio se aplica à apropriação indébita, que é outro tipo penal. Tal qual os dois tipos de furtos 
citados, a apropriação indébita importa em redução do patrimônio da vítima, mas possui 
características próprias e, por consequência, cálculo e prêmio igualmente individualizado. 
Sintetizando o quanto dito e trazendo o mesmo exemplo, vejamos a lição de Gustavo 
Tepedino, citando o professor Silvio Venosa13: 
 
O risco, que na definição de Clovis Bevilaqua é ‘o perigo que pode correr 
o objeto segurado, em consequência de um acontecimento futuro, 
estranho à vontade das partes’, deve ser declarado na apólice de modo 
preciso, especificando-se a sua natureza e extensão visto que constitui 
elemento essencial do contrato, a qual deve, ainda, indicar os termos 
inicial e final da cobertura. 
Os riscos devem ser minudentemente descritos e expressamente 
assumidos pelo segurador, de modo que um seguro que garanta cobertura 
contra roubos, ou furtos qualificados, não pode ter tal cobertura 
estendida para abranger um furto simples, da mesma conforma que um 
seguro contra incêndios não será estendido a inundações. (VENOSA, 
Sílvio. Direito Civil, p. 374). 
 
O rigor científico empregado na definição do prêmio, que irá se refletir no momento da 
regulação de sinistro, garante inclusive a segurança de toda a atividade securitária, uma vez que 
preserva a essência do seguro, que é o mutualismo. Isso ocorre porque não se pode conceber uma 
operação de seguro por um prisma meramente individual, analisando-se apenas a relação 
seguradora-segurado. O mutualismo existente na cadeia de contratos da seguradora é parte 
indissociável desse tipo de contrato, o que conduz à análise que englobe essa grande diversidade 
de negócios, coberturas e diferentes perfis que são administrados pela Seguradora, com auxílio das 
ciências atuariais. 
Deve-se ter em mente que os valores pagos a título de prêmio mensal destinam-se a compor 
um fundo cuja administração fica a cargo da Seguradora. Justamente, trabalhando com milhares 
de pagamentos diferentes, classificados por diversas variantes, a seguradora terá condição de 
administrar sua carteira, regulando e liquidando os sinistros que venham a ocorrer e que 
encontrem guarida nas previsões contratuais. 
Desse modo, não resta dúvida de que o papel da seguradora vai muito além do simples 
pagamento das indenizações, quando ocorrem os sinistros indenizáveis. Incumbe à seguradora a 
administração do fundo comum, a gestão dos riscos assumidos, de forma a manter hígida a 
 
13 TEPEDINO, Gustavo, et al. Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República, v. II. Rio de Janeiro: Renovar, 
2006, p. 567. 
 
16 
 
carteira administrada, gerando a tranquilidade dos segurados, com a certeza de que, caso ocorra 
um sinistro contratualmente previsto, poderão contar com as coberturas contratadas. 
Ilustrando tal raciocínio, Pedro Alvim14 estabelece que 
 
Sinistro é apenas a realização do acontecimento previsto no contrato, 
independentemente de suas consequências. Enquanto não ocorre, o risco 
é um evento incerto, seja quanto à sua realização, seja quanto ao tempo 
de sua ocorrência. Quando deixa de ser uma incerteza para transformar-
se em uma realidade fática muda de nome; passa a denominar-se sinistro. 
 
A função social de uma companhia seguradora é garantir a cobertura financeira de riscos 
predeterminados. Desde que vigente uma apólice securitária e cobertos os riscos ali especificados, a 
seguradora já está realizando o seu mister em proveito do segurado. Em outras palavras, na vigência 
de uma apólice de seguros, segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, a companhia 
seguradora está prestando garantia ao segurado, na medida em que (i) exerce a gestãofinanceira dos 
prêmios mensais que lhe são confiados, (ii) está de prontidão para, a qualquer momento, entregar a 
indenização devida ao segurado pela ocorrência de um sinistro previsto contratualmente. 
Por isso, é um imperativo técnico que esse fundo comum de depósitos dos segurados 
(prêmios) administrado pela seguradora esteja sempre em perfeitas sintonia e equilíbrio em relação 
aos riscos assumidos no seguro. Isso significa dizer que, majorados supervenientemente os riscos 
assumidos no seguro, os depósitos dos segurados haverão de, proporcionalmente, fazer frente a esse 
inesperado incremento, sob pena de o fundo comum se revelar insuficiente aos riscos que pretende 
garantir por meio do instituto securitário. De outro modo, a imprescindível previsibilidade técnica 
do seguro se esvai, desnaturando o instituto securitário e pondo em risco a promessa de garantia 
financeira que se faz ao segurado e ao mercado como um todo. Por essa razão, quando uma 
seguradora é condenada a indenizar além dos limites contratuais, mais do que causar prejuízo àquela 
pessoa jurídica, em verdade, está atingindo o fundo comum administrado pela seguradora. 
Em suma, tendo um clausulado bem-redigido, por parte da seguradora, com linguagem 
clara, definindo de forma objetiva as coberturas e exclusões, a interpretação possível é a restritiva. 
No entanto, condições contratuais mal redigidas, que dificultem a interpretação, pecando pela 
falta de transparência (dever anexo da boa-fé), podem transformar uma cláusula, que até seja justa 
do ponto de vista técnico-atuarial, em uma cláusula abusiva e, por consequência, nula de pleno 
direito, conforme disposto no art. 51 do CDC. 
Por tudo o quanto se pode ver, a delimitação e exclusão de riscos são inerentes à atividade 
securitária e aos contratos de seguro. O que se deve exigir, como corolário da mais estrita boa-fé 
que se espera de segurado e seguradora, é que o clausulado seja claro, bem-redigido, 
 
14 ALVIM, Pedro. op. cit., p. 393-394. 
 
 17 
 
predeterminando os riscos assumidos (e os excluídos) assertivamente, de modo a preservar o 
equilíbrio contratual e, por consequência, o mutualismo. 
Qualificação e classificação do contrato de seguro 
Em geral, o tema da qualificação dos contratos suscita um profundo debate entre os 
civilistas, em todo o mundo e há muito tempo. A tarefa se torna especialmente tormentosa ao se 
tratar do contrato de seguro, uma vez que a contraprestação imediata da seguradora é intangível. 
Ao contrário do que ocorre em diversos tipos de contrato – tais como compra e venda, 
aluguel, prestação de serviços e tantos outros –, na contratação de um seguro, o segurado 
preenche a proposta, paga o prêmio e, aparentemente, nada recebe além da apólice e condições 
gerais. Como dito anteriormente, a contraprestação da seguradora vai muito além do pagamento 
da indenização em caso de sinistro. Em verdade, o que se contrata é uma segurança, uma garantia 
de tranquilidade de poder contar com o suporte de uma seguradora caso o risco segurado se 
materialize em sinistro. 
No entanto, para que se comprove a resposta acima, em uma investigação metodológico-
científica da qualificação, é imperioso analisar se esse tipo de contrato é (i) paritário ou por 
adesão, (ii) unilateral, bilateral ou plurilateral, (iii) oneroso ou gratuito, (iv) comutativo ou 
aleatório e se (v) de execução instantânea, diferida ou continuada. Não obstante, antes de analisar 
a qualificação sob os aspectos acima traçados, convém tratar, ainda que brevemente, sobre a 
controvertida questão da causa como traço distintivo da qualificação jurídica dos contratos. 
No Brasil15, o que determina a qualificação de um contrato é a causa concreta, ou seja, o 
interesse prático, social e econômico almejado pelas partes. Nesse sentido, a importância do 
estudo do elemento causal se denota, já que, uma vez identificada a causa, estabelece-se qual efeito 
as partes buscavam alcançar, emergindo daí o regime jurídico aplicável. Desse modo, é 
imprescindível ao estudo da qualificação que se compreenda, adequadamente, o conceito da causa 
como elemento de qualificação de um contrato, surgindo daí teorias diversas que se propõem a 
definir o conceito de causa. 
A causa do contrato passou por diversas fases históricas16, desde o século XVII, com Jean 
Domat, Joseph Potiher, Henri Capitant e Planiol-Ripert, até os autores da teoria objetiva da 
causa. Os primeiros autores mencionados contribuíram para o desenvolvimento da corrente 
subjetiva da causa, consagrada no Código Napoleônico, que colocou a causa como fundamento 
da obrigação contratual – verdadeiro motivo do contrato –, com ênfase na vontade. Já os autores 
 
15 Sobre o tema, ver: KONDER, Carlos Nelson de Paula. A constitucionalização do processo de qualificação dos contratos 
no ordenamento jurídico brasileiro. 2009. 239 f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/ 
vufind/Record/UERJ_35c21bf6b328c7afd812a9d7beb06a91. Acesso em: abr. 2017. Sobre a causa do seguro D&O, ver: 
GOLDBERG, Ilan. O contrato de seguro D&O. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. 
16 A cronologia das diversas teses pode ser encontrada, de forma minuciosamente descrita, em: DIEZ-PICAZO, Luis. 
Fundamentos del derecho civil patrimonial. 6. ed. Cizur Menor (Navarra): Aranzadi, 2007, v. I, p. 266-270. 
 
18 
 
da teoria objetiva da causa, em contraponto, privilegiam a previsão legal de um comportamento 
como fonte dos efeitos jurídicos, em detrimento à vontade. Entre eles, destaca-se Emilio Betti, 
que entende a causa como função econômico-social, e Salvatore Pugliatti, que rechaça a função 
econômica ou social, fundando a causa unicamente na sua razão de ser jurídica. Atualmente, a 
causa do contrato é compreendida sobre o prisma do interesse social que o contrato pretende, ou 
seja, um interesse econômico-social, não determinado por um tipo contratual preconcebido, mas 
inserido no contexto das circunstâncias, finalidades e interesses pretendidos pelas partes. 
No Brasil, em que pese a causa não ser tida como elemento do contrato – cuja validade 
requer apenas agente capaz, objeto lícito, possível e determinado, ou determinável, além de forma 
prescrita ou não defesa em lei, cf. art. 104 do CC/02 –, o estudo da causa continua tendo 
absoluto relevo no âmbito dos contratos. Como já dito, é determinando a causa que se pode fazer 
a filtragem jurídica entre a vontade das partes e a aplicação das normas do ordenamento jurídico. 
Tal importância se potencializa a partir da promulgação do Código Civil de 2002, uma vez que a 
autonomia da vontade (muito mais prestigiada no Código de 1916) cede espaço a outros valores e 
princípios da boa-fé, função social, entre outros (v. arts. 187, 421 e 2.035, CC/02). 
Registre-se, a par da qualificação, que a doutrina classifica os contratos de seguro a partir de, 
pelo menos, dois prismas. Uma primeira divisão se dá entre os seguros públicos e os seguros privados. 
Os seguros públicos são aqueles que se destinam a assistir o cidadão e sua família em situações 
como a velhice, a doença e o desemprego. A Constituição Federal, no art. 194, explicita que a 
seguridade social é composta por três grandes pilares: previdência social, assistência social e saúde 
pública. Inegavelmente, a existência da seguridade social encontra guarida no principal fundamento 
do Estado brasileiro, a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CFRB), além de ser elemento 
concretizante do objetivo fundamental expresso no art. 3º, I, CFRB, que é construir uma sociedade 
livre, justa e solidária. Nesse sentido, a solidariedade é o traço mais evidente do sistema público de 
seguridade. No entanto, em que pese o relevo de sua importância, não são os seguros públicos o 
objeto do presente estudo, que concentra esforços no exame dos seguros privados. 
Outra grande divisão se dá entre os seguros de dano e os seguros de pessoa.São grupos que 
possuem distintos objetivos e estruturação técnica. Os seguros de dano possuem evidente caráter 
indenitário, razão pela qual é vedado ao segurado obter lucro com o evento danoso ou tirar proveito 
de um sinistro. É o caso típico da contratação de mais de um seguro para o mesmo tipo de 
cobertura, hipótese em que cada seguradora irá prestar a cobertura de forma proporcional, de forma 
que a indenização recebida seja da exata medida do dano. Tal é a previsão do art. 77817, que é o 
primeiro artigo a disciplinar o seguro de dano no Código Civil e evita que haja desproporção entre 
o valor do interesse segurado e da garantia, preservando o princípio indenitário. 
 
17 Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da 
conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação penal que no caso couber. 
 
 19 
 
Como bem informa Pedro Alvim18, O pagamento a mais pode servir de estímulo à fraude ou 
à especulação, por isso a legislação de todos os povos fulmina de nulidade o seguro de valor superior 
ao do bem. É importante esclarecer que não há qualquer vedação à contratação de um risco inferior, 
ou seja, o valor da garantia pode ser menor do que o interesse, e tal fato se dá em prestígio à 
autonomia da vontade (art. 783, CC/0219). O segurado pode escolher o tamanho do risco que 
pretende repassar à seguradora, o que é vedado é buscar uma indenização maior que seus prejuízos. 
Entre as diversas modalidades do gênero seguro de danos encontram-se, 
exemplificativamente, os seguros de automóveis, residenciais, compreensivos, de transportes, de 
responsabilidade civil, habitacionais, garantia, etc. 
Por seu turno, os seguros de pessoa não têm caráter indenitário, uma vez que a vida ou a 
integridade física e mental não tem valoração econômica. Os valores das coberturas são definidos 
subjetivamente pelos segurados, não possuindo limitação. Naturalmente, quanto maior as 
coberturas, maior será o prêmio cobrado. Entre os seguros de pessoa, podemos listar os seguros de 
vida, de acidentes pessoais, de invalidez e seguros de saúde. 
Embora haja essa distinção entre os seguros de danos e de pessoas, é comum haver 
coberturas das duas modalidades em uma mesma apólice. É o caso de uma apólice de seguro de 
acidentes pessoais ou invalidez que preveja reembolso de despesas hospitalares. No que toca à 
eventual invalidez, o segurado pode ter diversas apólices, com o capital segurado que bem 
entender. No entanto, no que toca ao reembolso das despesas hospitalares, caso haja concorrência 
de apólice, o reembolso será proporcional, de forma que o total reembolsado seja exatamente igual 
àquilo que foi despendido. 
No entanto, como se pode notar, a distinção entre os seguros públicos e privados, e seguros 
de danos e de pessoas, não socorrem suficientemente à determinação da qualificação do contrato 
de seguro. Por tais razões, para adequada qualificação do contrato de seguro, é preciso investigar 
suas diversas características, dentro da disciplina dos contratos em geral. Nesse sentido, o contrato 
de seguro é classificado pela doutrina clássica20 como (i) bilateral, (ii) oneroso, (iii) aleatório e (iv) 
por adesão. 
A bilateralidade na qualificação de um contrato deve ser examinada em dois momentos 
distintos – primeiramente, na sua formação (na qual a bilateralidade de todo contrato é evidente) 
e, principalmente, no momento de sua execução. Apenas a título exemplificativo, a fiança é um 
contrato bilateral na formação e unilateral na sua executoriedade, ao passo que um contrato de 
aluguel é bilateral em ambos os aspectos. 
 
18 ALVIM, Pedro. op. cit. p. 79. 
19 Art. 783. Salvo disposição em contrário, o seguro de um interesse por menos do que valha acarreta a redução proporcional 
da indenização, no caso de sinistro parcial. 
20 Apenas a título exemplificativo, a classificação é uníssona para: ALVIM, Pedro. op. cit. p. 118-136; PEREIRA, Caio Mario 
da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 453; VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: contratos 
em espécie. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 385 e GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos 
unilaterais. 7. ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 502-503. 
 
20 
 
A bilateralidade na fase executiva de um contrato se caracteriza pela correspectividade entre 
as obrigações das partes, isto é, uma sendo causa da outra, naquilo que a doutrina chama de nexo 
causal-funcional. É justamente sobre contratos com obrigações correspectivas que se aplicam, com 
efeito prático, as previsões dos arts. 475, 476 e 477 do Código Civil21, que estabelecem, 
respectivamente, a resolução tácita ou expressa do contrato, a exceção do contrato não cumprido e 
a exceção de inseguridade. Trata-se de três diferentes modalidades de defesa contratual da parte 
que é ou pretende ser adimplente de sua obrigação. 
A primeira, mais gravosa delas, garante à parte prejudicada pelo inadimplemento da outra o 
direito de romper o vínculo e buscar o ressarcimento das perdas e danos, previsão que só faz sentido 
em contratos com obrigações correspectivas. Já a exceção do contrato não cumprido (exceptio non 
adimplenti contractus), que pode ser usada previamente à resolução, trata-se de uma defesa à 
disposição do contratante com vistas à preservação do contrato, uma vez que o que se busca é o 
adimplemento daquele que inadimpliu primeiramente. Ambos os remédios podem ser usados e 
exemplificados no âmbito do contrato de seguro. Imagine que o segurado esteja inadimplente em 
relação ao pagamento do prêmio mensal devido. O natural é que o segurador, primeiramente, 
pretenda arguir a exceção do contrato não cumprido e, em caso de persistir a inadimplência, busque 
o rompimento do vínculo contratual, sem prejuízo de buscar receber os prêmios vencidos até então. 
Por sua vez, a exceção de insegurança é uma defesa contratual colocada à disposição da 
parte inocente para se precaver de eventual risco de inadimplemento da outra parte. Por meio 
desse remédio contratual, a parte inocente pode sobrestar o cumprimento de sua prestação até que 
a outra parte lhe dê garantias de que adimplirá ou satisfaça logo a obrigação. Desse modo, a 
doutrina não diverge quanto à bilateralidade do contrato de seguro, não só quanto à sua formação 
mas, fundamentalmente, quanto à sua execução. O nexo causal que une a obrigação de 
pagamento do prêmio por parte do segurado e o dever de prestar a garantia por parte do 
segurador está esculpido no art. 757, CC/02. 
Ainda nessa temática, cumpre destacar que alguns tipos de seguro podem ser classificados 
como plurilaterais, isto é, quando há mais de dois centros de interesse envolvidos no contrato. Tal 
hipótese se dá quando tomador e segurado não se confundem na mesma posição contratual, a 
exemplo do que ocorre nos seguros D&O e nos seguros-garantia, que serão analisados 
individualmente mais adiante. Nessas hipóteses, o tomador é o responsável pelo pagamento do 
prêmio, mas o segurado é outra pessoa, indicada na apólice. 
No que tange ao aspecto da onerosidade, o traço distintivo entre contratos onerosos e 
gratuitos reside no exame da repartição das vantagens e desvantagens que competem aos 
 
21 Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, 
cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. 
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. 
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de 
comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até 
que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la. 
 
 21 
 
contratantes. Nesse sentido, nos contratosgratuitos, toda a vantagem está com uma das partes e as 
desvantagens com a outra. Já nos contratos onerosos, essa repartição é equivalente. Tal 
equivalência na distribuição dos ônus contratuais, característica dos contratos onerosos, não deve 
ser avaliada de maneira rígida ou aritmética. Como bem diz Silvio Venosa22, pode ocorrer que o 
dever de um dos contratantes esteja em âmbito maior que o do outro, sem que isso descaracterize 
a onerosidade do pacto. 
A distinção entre contratos onerosos e gratuitos possui também relevância prática, 
especialmente em relação ao critério a ser eleito para a interpretação, tanto em relação à fraude 
contra credores bem como à responsabilidade civil. Nesse sentido, o Código Civil prevê, em seu 
art. 114, que os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. Sem 
dúvida, seria completamente descabido impor, àquele que suporta, exclusivamente, as 
desvantagens contratuais, uma interpretação ampliativa que pudesse agravar sua condição. 
O regramento do art. 158 do CC23 é ainda mais severo quando trata dos contratos gratuitos 
em hipótese de fraude aos credores, tutelando o direito destes, prevendo a anulabilidade do 
negócio jurídico. Por fim, o art. 39224 explicita, de maneira clara, o distinto tratamento dado no 
âmbito da responsabilidade civil, prevendo que, nos contratos gratuitos, aquele que suporta 
sozinho as desvantagens só responde por dolo, ao passo que quem recebe as vantagens (assim 
como ambos os contratantes de pactos onerosos) responde por culpa. 
Postas as características, não resta dúvida de que o contrato de seguro se caracteriza como 
um contrato oneroso, independentemente da ocorrência do sinistro, uma vez que cabe ao 
segurado o ônus do pagamento do prêmio, ao passo que cabe à seguradora prestação da garantia, 
traduzida na gestão do fundo comum composto pelo somatório dos prêmios, a fim de manter sua 
higidez financeira para fazer frente aos sinistros, quando e se concretizem. 
A qualificação do contrato diante do aspecto da aleatoriedade é, possivelmente, entre as 
demais características ora analisadas, aquela que suscita o melhor debate. Historicamente, se 
contrapõem contratos aleatórios e comutativos, sendo estes caracterizados por serem contratos nos 
quais há uma verdadeira troca entre as prestações dos contratantes, ao passo que nos contratos 
aleatórios a troca seria incerta, havendo a certeza apenas a prestação de uma das partes. Ante a 
possibilidade de se chegar ao fim da vigência sem que haja ocorrido o sinistro, o seguro sempre foi 
tido como um contrato aleatório. 
No entanto, como já antedito, o art. 757 do CC/02 definiu o contrato de seguro como 
aquele em que o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo 
do segurado, modernizando inequivocamente o criticado preceito do Código Civil de 1916, o qual, 
em seu art. 1.432, afirmava que uma das partes se obriga para com a outra, mediante a paga de um 
 
22 VENOSA, Silvio de Salvo. op. cit. p. 402. 
23 Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles 
reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. 
24 Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a 
quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei. 
 
22 
 
prêmio, a indenizar-lhe o prejuízo resultante de riscos futuros. A alteração foi aplaudida pela 
doutrina, e revela um maior acerto sob o ponto de vista técnico e jurídico, na medida em que 
substituiu a mera obrigação de indenizar pela obrigação de garantia, que compreende uma 
amplitude muito maior na atividade securitária, englobando sua obrigação de bem cuidar do fundo 
comum que administra, apoiada em ciências atuariais e estatísticas na gestão de sua carteira de 
contratos. 
Não é novidade que, para fazer frente a um expressivo número de sinistros que ocorrem 
diariamente, as seguradoras precisam de sofisticada estrutura organizacional. Isso para que, no 
somatório de contratos que são individualmente aleatórios (já que o risco é sempre futuro e quase 
sempre incerto), possam desenvolver uma atividade empresarial com a necessária previsibilidade, 
isto é, sob o manto do mutualismo e com o auxílio de complexos cálculos atuariais, a operação 
financeira nada tem de aleatória, pelo contrário, torna-se bastante segura e sólida. 
Diante dessa nova leitura quanto à obrigação da seguradora, que vai muito além da mera 
indenização do sinistro, tornou-se um dilema para a doutrina definir o contrato de seguro como 
comutativo ou aleatório. Essa clássica distinção entre contratos comutativos e aleatórios sempre 
foi tida como espécies do gênero de contratos onerosos, em outras palavras, os contratos onerosos 
poderiam ser comutativos ou aleatórios. No entanto, já em 1960, Darcy Bessone25 propunha algo 
bastante distinto: 
Dá-se aos primeiros a denominação de comutativos e aos últimos a de 
aleatórios ou de sorte. A verdade é que uns e outros são comutativos, isto 
é, comutam vantagens, desde que a chance é também uma vantagem. A 
rigor, a contraposição deve ser entre os contratos aleatórios e os não 
aleatórios, como simples variedades ou modalidades dos comutativos. 
 
Para o citado autor, aleatórios e não aleatórios seriam espécies do gênero comutativo. A 
proposta doutrinária, diante do alargamento do sinalagma do contrato de seguro – que passa a 
contemplar uma obrigação certa (de prestar a garantia) sem deixar de se submeter a outra aleatória 
(indenizar o sinistro, caso ocorra durante a vigência) –, amolda-se, confortavelmente, à moderna 
definição do contrato de seguro, o qual seria, ao mesmo tempo, comutativo e aleatório. 
Por fim, a doutrina ainda classifica o contrato de seguro como de adesão, uma vez que, quase 
sempre, só é dado ao segurado aceitar as cláusulas predispostas pela seguradora, muitas vezes, 
padronizadas pelo órgão segurador – a Susep.26 
Sem dúvida, é o que de fato se observa na maioria das contratações ocorridas diariamente, nos 
mais diversos ramos: seguros residenciais, de automóveis, de vida, garantia estendida, seguro-viagem, 
 
25 ANDRADE, Darcy Bessone de Oliveira. Do contrato. Rio de Janeiro: Forense, 1960, p. 109. 
26 Recentemente, o Edital de Consulta Pública n. 6/2021 colocou em consulta minuta de circular Susep a 
respeito de seguros do grupo de responsabilidades. A referida minuta revogaria uma série de normativas 
antigas. Em termos gerais, a norma pretende ser menos prescritiva e oferecer maior flexibilidade na elaboração 
de contratos de seguro. 
 
 23 
 
entre tantos outros. E a consequência direta desse tipo de contratação é a aplicação do Código de 
Defesa do Consumidor, em especial atenção, ao disposto no art. 3º, § 2º do referido diploma, que 
menciona, expressamente, a atividade securitária no rol dos serviços que podem ser prestados pelos 
fornecedores, com quem os consumidores contratam. 
No entanto, não se desconhece que, nos seguros dos chamados grandes riscos,27 contratados 
por grandes sociedades empresárias – indústrias, concessionárias de serviços públicos –, muitas das 
quais com atuação multinacional, a contratação não se dá por mera adesão de cláusulas 
predispostas, havendo uma margem negocial bem mais flexível. 
Desse modo, há discussão paritária sobre os termos do contrato, e inexistindo qualquer 
vulnerabilidade entre os contratantes, não subsistiriam razões para que se fizesse incidir as normas 
protetivas dos consumidores, a qual, seguramente, não foi concebida para a tal fim. No entanto, a 
superação ou relativização desta concepção ainda é um desafio à doutrina e à jurisprudência. 
 
A máxima boa-fé 
Mesmo antes da positivação da boa-fé como cláusula geral aplicável a todos os contratos a 
partir do Código Civilde 2002 – art. 113,28 para interpretação dos negócios jurídicos, e art. 422, 
para execução e conclusão dos contratos –, ela já estava presente no contrato de seguro, a teor do 
que dispunha o art. 1.443 do Código Civil de 1916. E a razão de sua previsão não se dá porque 
seja um contrato excepcional – já que a boa-fé deve estar presente em todas as relações –, mas 
porque o contrato de seguro, em seu caráter consensual, é sustentado nos pilares das informações 
prestadas por ambas as partes, cuja importância se realça ainda mais por ser um contrato que 
costuma se protrair no tempo (trato sucessivo), com sucessivas reconduções. 
 
27 Recentemente, em 1º de abril de 2021, entrou em vigor a Resolução CNSP n. 407/2021, que dispõe sobre os 
princípios e as características gerais para a elaboração e a comercialização de contratos de seguros de danos 
para cobertura de grandes riscos. 
28 Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua 
celebração. 
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019) 
I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; (Incluído pela Lei n. 
13.874, de 2019) 
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio; (Incluído pela Lei n. 
13.874, de 2019) 
III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019) 
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e (Incluído pela Lei n. 13.874, de 
2019) 
V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais 
disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no 
momento de sua celebração. (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019). 
 
24 
 
Pelo que se extrai do art. 765 do Código Civil de 200229, exige-se, da seguradora e do 
segurado, a mais estrita boa-fé e veracidade, ou seja, uma boa-fé qualificada, de máxima 
intensidade. Nesse sentido, a mais estrita boa-fé toca aos dois principais elementos do contrato de 
seguro, quais sejam, ao risco suportado pela seguradora e ao interesse legítimo do segurado. 
Na dinâmica da formação do contrato, inicialmente, cumpre à seguradora o papel de 
informar (dever anexo da boa-fé), de maneira clara e objetiva, o exato conteúdo daquilo que é 
oferecido ao mercado. Isso significa informar sua abrangência (riscos cobertos e excluídos), os 
limites e sublimites da importância segurada, os prazos de cobertura, as formas de pagamento do 
prêmio e as condições para aceitação do risco. Além disso, cabe à seguradora formular, com 
precisão e clareza, o questionário que será preenchido pelo futuro segurado. Já ao segurado, ao 
preencher a proposta do seguro, cabe informar tudo aquilo que lhe é questionado com exatidão, 
sem omitir nenhuma informação que possa influir na aceitação do seguro ou no cálculo do 
prêmio cobrado. 
Nesse sentido, pode-se afirmar que, com base unicamente nos elementos e dados fornecidos 
pelo proponente (e futuro segurado), a seguradora irá examinar o risco, delimitando sua 
responsabilidade e fixando o prêmio correspectivo. Desse modo, a veracidade e exatidão das 
informações das declarações, para o que a mais estrita boa-fé é mandatória, são imprescindíveis 
para a boa formação do contrato de seguro, já que é a única fonte de informação que a seguradora 
dispõe para decidir se irá aceitar o risco bem como para calcular o prêmio que irá cobrar. 
A exatidão das informações prestadas (chamada também de reticência) possui tamanha 
relevância que o legislador, no art. 766 do Código Civil30, previu as consequências em caso de 
inobservância de tal preceito. A regra contida no caput do referido artigo prevê a perda do direito 
à garantia, sem prejuízo do direito à cobrança do prêmio, somente sendo aplicável para a hipótese 
de omissões ou declarações inexatas do segurado (ou seu representante) que tenham sido feitas de 
forma intencional, ou seja, de má-fé. 
Para as hipóteses de inexatidões e omissões culposas, o parágrafo único admite duas 
possibilidades: (i) resolução do contrato e (ii) cobrança de diferença de prêmio, mesmo após o 
sinistro. Caso a inexatidão ou omissão, culposa tenha influído na aceitação da proposta, a hipótese 
é de não aperfeiçoamento do contrato, o qual não teria sido firmado caso as informações fossem 
exatas, ou seja, inexiste o caráter consensual do contrato, uma vez que as partes tinham diferentes 
visões acerca do objeto. Por outro lado, caso a inexatidão ou omissão contribua para a formação 
de um contrato que seria celebrado, mas em diferentes bases (com redução de garantia ou 
aumento do prêmio), a consequência é a adequação das bases contratuais ao novo cenário, 
 
29 Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e 
veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes. 
30 Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir 
na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido. 
Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a 
resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio. 
 
 25 
 
conservando-se a relação contratual (arts. 170 e 184, CC/0231) já que a substância do negócio 
jurídico não foi atingida. 
A diferença de tratamento nas três situações se justifica uma vez que há situações 
inequivocamente distintas. Em uma das hipóteses, o contrato não teria existido. Na outra, o 
contrato existiria, mas em outras bases. Em ambas, inexiste a necessidade de penalizar o segurado, 
já que não houve má-fé. A penalidade da perda da garantia e cobrança do prêmio só tem lugar 
quando a inexatidão ou omissão é intencional. 
Como dito anteriormente, antes da celebração do contrato de seguro, o proponente e 
possível futuro segurado presta as informações solicitadas pela seguradora mediante um 
questionário previamente formulado para tal fim, cujas respostas revelarão o seu perfil, bem como 
a dimensão e a grandeza do risco que a seguradora está, possivelmente, assumindo. Dessa forma, a 
resposta ao questionário é o único repositório de informações de que a seguradora dispõe para 
verificar e decidir se irá ou não subscrever o risco em análise. Essa é a singela razão pela qual as 
informações prestadas pelo proponente ganham tamanha relevância, independentemente do ramo 
de seguro que está sendo contratado. Inúmeros são os exemplos que podem demonstrar o desastre 
que pode ser causado pela inexatidão das respostas prestadas. 
Imagine-se a contratação de um seguro de automóvel, uma das modalidades mais 
difundidas no cenário brasileiro. Geralmente, as perguntas feitas pela seguradora no questionário 
buscam traçar um perfil do condutor do veículo (se é homem ou mulher, jovem ou mais velho, 
etc.), do tipo de utilização do veículo (se comercial ou não), se o veículo ficará, usualmente, 
estacionado em garagem ou na rua, se há alarme ou qualquer outro dispositivo de segurança, etc. 
Naturalmente, para cada uma das respostas às perguntas acima descritas, corresponderá um risco 
maior ou menor, que pode ser comprovado estatisticamente. No entanto, o que obriga a lei ao 
impor a boa-fé é que o segurado busque responder aos questionamentos com total franqueza e 
veracidade, jamais visando às repostas que conduzirão ao menor risco e, consequentemente, ao 
menor prêmio. 
Alguns exemplos em que houve a perda do direito à cobertura podem ser retirados da 
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: local de circulação habitual do veículo no estado 
do Rio de Janeiro, e não no Espírito Santo (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (3ª Turma), 
Recurso Especialn. 988.044/ES, relatora: ministra Nancy Andrighi, Brasília, p. 2 fev. 2010); 
condutor habitual diverso (filho do segurado); ausência da alegada garagem na residência 
(BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (3ª Turma), Recurso Especial n. 1.419.731/PR, relator do 
acórdão: ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Brasília, p. 9 set. 2014); e utilização para fim 
comercial, e não locomoção/lazer, pelo segurado (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (3ª 
 
31 Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá esse quando o fim a que visavam as 
partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. 
Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se 
essa for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da 
obrigação principal. 
 
26 
 
Turma), Recurso Especial n. 1.340.100/GO relator: ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Brasília, 
p. 8 set. 2014). 
Consta na ementa deste último julgado: 
 
1. O contrato de seguro é baseado no risco, na mutualidade e na boa-fé, que 
constituem seus elementos essenciais. Além disso, nesta espécie de contrato, 
a boa-fé assume maior relevo, pois tanto o risco quanto o mutualismo são 
dependentes das afirmações das próprias partes contratantes. 2. A 
seguradora, utilizando-se das informações prestadas pelo segurado, como na 
cláusula de perfil, chega a um valor de prêmio conforme o risco garantido e 
a classe tarifária enquadrada, de modo que qualquer risco não previsto no 
contrato desequilibra economicamente o seguro, dado que não foi incluído 
no cálculo atuarial nem na mutualidade contratual (base econômica do 
seguro). 3. A má-fé ou a fraude são penalizadas severamente no contrato de 
seguro. Com efeito, a fraude, cujo princípio é contrário à boa-fé, inviabiliza 
o seguro justamente porque altera a relação de proporcionalidade que deve 
existir entre o risco e a mutualidade, rompendo, assim, o equilíbrio 
econômico do contrato, em prejuízo dos demais segurados. 4. A penalidade 
para o segurado que agir de má-fé, ao fazer declarações inexatas ou omitir 
circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta pela seguradora 
ou na taxa do prêmio, é a perda do direito à garantia na ocorrência do 
sinistro (art. 766 do CC). E assim é porque o segurado e o segurador são 
obrigados a guardar, na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita 
boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e 
declarações a ele concernentes (art. 765 do CC). 5. Apenas se o segurado 
agir de boa-fé, ao prestar declarações inexatas ou omitir informações 
relevantes, é que o segurador poderá resolver o contrato ou, ainda, cobrar, 
mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio, sem prejuízo da indenização 
securitária. 6. Retirar a penalidade de perda da garantia securitária nas 
fraudes tarifárias (inexatidão ou omissão dolosas em informação que possa 
influenciar na taxa do prêmio) serviria de estímulo à prática desse 
comportamento desleal pelo segurado, agravando, de modo sistêmico, ainda 
mais, o problema em seguros de automóveis, em prejuízo da mutualidade e 
do grupo de exposição que iria subsidiar esse risco individual por meio do 
fundo comum. 
 
Ainda no exemplo acima descrito, suponha-se que o contrato foi aperfeiçoado, declarando-se 
que o veículo seria guiado por uma pessoa de 60 anos, com único propósito de passeio, pernoitando 
 
 27 
 
em garagem privada e contando com alarme. No entanto, diante de um sinistro que cause perda 
total, durante a regulação do sinistro, descobre-se que as informações não condiziam com a 
realidade. No momento da regulação do sinistro, os problemas que poderiam ser evitados pela boa-
fé costumam emergir, uma vez que, enquanto não ocorrido o evento futuro cujas consequências se 
pretende prevenir pela contratação do seguro, a relação, uma vez formada, tende a se dar de forma 
tranquila. Não obstante, quando acionado o seguro por meio da comunicação do sinistro é que a 
seguradora, fazendo análise dos fatos e cotejando com as coberturas contratadas, irá verificar se o 
risco foi corretamente declarado na proposta e se possui cobertura na apólice. 
Naturalmente, a atuação da seguradora na regulação do sinistro também deve-se pautar na 
mais estrita boa-fé, já que a atividade de apurar a existência e a grandeza da indenização é de 
interesse de ambas as partes, cabendo à seguradora agir com máxima exatidão e rapidez. 
Voltando ao exemplo, digamos que se tratava de um condutor de 18 anos recém-habilitado, 
que utilizava o veículo de forma comercial, sem garagem para estacionar e sem alarme. Nessa 
hipótese gritante, pode-se dizer que houve boa-fé nas informações prestadas? Deve-se aplicar a 
penalidade da perda da garantia prevista no art. 766, caput, do Código Civil? Indo além, é 
razoável exigir-se da seguradora que verifique as informações, uma a uma, de todos os milhares de 
proponentes que todos os dias buscam contratar um seguro? 
No exemplo acima, seria razoável exigir-se que a seguradora designasse um preposto ou 
contratasse uma investigação terceirizada para que ficasse à espreita, observando o comportamento 
do segurado, para saber se quem conduz o veículo tem 18 ou 60 anos, se o veículo é usado com 
fins comerciais ou não, se o carro é guardado em garagem ou na via pública, etc.? Imagine-se os 
custos das incontáveis diligências necessárias para verificar todas as informações prestadas pelos 
milhares de segurados nos mais diversos ramos de seguro. É evidente que, mesmo que o custo 
fosse suportado pela seguradora, ele seria diluído entre os prêmios cobrados, que seriam 
sensivelmente mais elevados, tornando o seguro um artigo de luxo na sociedade. 
Ocorre que, não raras vezes, a importância da boa-fé na formação do contrato de seguro vem 
sendo mitigada pela jurisprudência, com o propósito de se proteger a parte hipossuficiente da 
relação contratual, acabando por obrigar o segurador, muitas vezes, a arcar com a obrigação de 
indenizar mesmo em hipóteses nas quais o segurado não tenha agido com a dita mais estrita boa-fé. 
Um exemplo emblemático que retrata bem o tema é a necessidade de realização de exames 
médicos prévios à contratação de seguro-saúde. Sobre o tema, o Enunciado n. 609 da Súmula do 
STJ, editado em 2018, pontifica que: “A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença 
preexistente, é ilícita se não houve a exigência de exames médicos prévios à contratação ou a 
demonstração de má-fé do segurado” (DJe 17/04/2018). Com todas as vênias aos membros do 
nosso Superior Tribunal, o entendimento sumulado parece desconectado da realidade e ignora o 
preceito legislativo supracitado, uma vez que a realização de exames prévios (que, 
inequivocamente, onerariam todos os seguros contratados, fazendo com que proponentes de boa-
fé tivessem que pagar mais por isso) não seria sequer ventilada se fosse observada, de forma rígida, 
 
28 
 
a mais estrita boa-fé no momento da contratação, especificamente, no preenchimento do 
questionário que acompanha a proposta do seguro. 
É evidente que, por doença preexistente, não se está referindo à moléstia que ainda não 
apresentou seus sintomas, ou seja, àquela que o segurado desconhece portar no momento da 
contratação. Por óbvio, não se pode exigir algo que ignora existir. A questão é saber se, apenas por 
ter recebido o prêmio sem submeter o proponente a um exame médico prévio, tal fato, por si só, 
seria suficiente para impor a eficácia do contrato entabulado, ignorando-se a conduta do segurado 
que, sabendo ser portador de determinada moléstia, omite tal informação deliberadamente. Nesse 
sentido, veja-se como bem leciona Sergio Cavalieri32, sintetizando a importância da boa-fé na 
realidade prática da comercialização dos seguros: 
 
Se o seguro é uma operação de massa, sempre realizada em escala 
comercial e fundado no estritoequilíbrio da mutualidade; se não é 
possível discutir previamente as suas cláusulas, uniformemente 
estabelecidas nas condições gerais da apólice; enfim, se o seguro, para 
atingir a sua finalidade social, tem que ser rápido, eficiente, não podendo 
ficar na dependência de burocráticos processos de fiscalização, nem de 
morosas pesquisas por parte das seguradoras, então, a sua viabilidade 
depende da mais estrita boa-fé de ambas as partes. Se cada uma não usar 
de veracidade, o seguro se torna impraticável. 
 
Como bem sintetiza Silvio Venosa33: 
 
Caberá ao juiz, no caso concreto, examinando as circunstâncias, 
estabelecer a boa ou a má-fé. Desse modo, agirá com má-fé, por exemplo, 
o sujeito que, ao contratar seguro de vida, omite o fato de 
costumeiramente se dedicar a esportes ditos radicais, como motociclismo, 
automobilismo, paraquedismo ou alpinismo. Não agirá com má-fé, de 
outro modo, o sujeito que padece de moléstia que não sabe ser grava ou 
fatal ou não fora diagnosticada na contratação do seguro. 
 
Mesmo depois de formada a relação contratual, a boa-fé deve continuar pautando as ações 
de ambas as partes. O segurado, na esteira do art. 768, está obrigado a não agravar o risco 
intencionalmente, além de informar qualquer fato suscetível de causar desequilíbrio contratual, e 
a agir de forma a minorar as consequências do sinistro (cf. art. 771). Da seguradora, por sua vez, 
espera-se uma atuação proba, diligente e eficaz durante a regulação e a liquidação dos sinistros. 
 
32 CAVALIERI, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 428. 
33 VENOSA, Silvio de Salvo. op. cit., p. 338. 
 
 29 
 
No âmbito do agravamento do risco, cite-se a aprovação em 2018 do importante 
Enunciado n. 620 da Súmula do STJ: “A embriaguez do segurado não exime a seguradora do 
pagamento da indenização prevista em contrato de seguro de vida”. 
No seguro de automóvel, a jurisprudência tem-se posicionado de forma distinta, afastando 
o direito à indenização do segurado, conforme o leading case: STJ, 3ª Turma, REsp 
nº 1.485.717/SP, ministro relator Ricardo Villas Bôas Cueva, Brasília, j. 22 nov. 2016: 
 
De fato, o seguro de automóvel não pode servir de estímulo para a 
assunção de riscos imoderados que, muitas vezes, beiram o abuso de 
direito, a exemplo da embriaguez ao volante. A função social desse tipo 
contratual torna-o instrumento de valorização da segurança viária, 
colocando-o em posição de harmonia com as leis penais e administrativas 
que criaram ilícitos justamente para proteger a incolumidade pública no 
trânsito. [...] 
 
Uma vez constatado, portanto, que o condutor do veículo estava sob 
influência do álcool (causa direta ou indireta) quando se envolveu em 
acidente de trânsito – fato esse que compete à seguradora comprovar –, 
há presunção relativa de que o risco da sinistralidade foi agravado, o que 
ensejará a aplicação da pena do art. 768 do CC. Por outro lado, a 
indenização securitária deverá ser paga se o segurado demonstrar que o 
infortúnio ocorreria independentemente do estado de embriaguez (como 
culpa do outro motorista, falha do próprio automóvel, imperfeições na 
pista, animal na estrada, entre outros). 
 
Como se vê, a relação securitária é permeada de necessária cooperação mútua, pendulando 
o dever de observância da mais estrita boa-fé, a cada momento, para um dos lados, durante todas 
as fases contratuais. 
 
Conduta dolosa (fraude) 
Em geral, os negócios jurídicos devem sempre buscar atender fins sociais que são tutelados 
pelo ordenamento jurídico, razão pela qual se impede que um contrato seja utilizado para um fim 
socialmente reprovável. Seria, de fato, inconcebível supor a juridicidade de um contrato que 
garantisse proteção contra um ato doloso do próprio contratante. Como bem leciona Pedro 
 
30 
 
Alvim34, a ação dolosa é contrária aos bons costumes e à ordem pública. Recompensá-la com a 
indenização do seguro, além de ser um ato imoral, constituiria um estímulo à criminalidade. 
No âmbito do contrato de seguro, o dolo é popularmente chamado de fraude ou golpe, e 
traduz-se em atos praticados pelo segurado (ou beneficiário) com a intenção de receber o valor do 
capital segurado, logicamente, de maneira ilegal. Desse modo, com a intenção de repelir a 
cobertura para atos dolosos, o art. 762 do Código Civil estabelece que nulo será o contrato para 
garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de 
um ou de outro. 
A redação do referido dispositivo, utilizando a expressão ato doloso, corrigiu a redação do 
art. 1.436 do Código Civil de 1916, que se referia a ato ilícito, equívoco que já era reparado pela 
doutrina e interpretação jurisprudencial, uma vez que já se concebia a contratação de seguros para 
atos ilícitos culposos. Se assim não fosse, os seguros de responsabilidade ficariam restritos aos 
danos causados sem culpa. É preciso esclarecer que, ao seguro que visasse garantir os riscos 
oriundos de um ato doloso, faltaria o elemento do legítimo interesse inserto no art. 757 do 
Código Civil. Além disso, não transporia o óbice do art. 104, II do mesmo diploma, uma vez que 
seu objeto não seria lícito. 
É preciso que se distinga as hipóteses, já que se pode ter um contrato de seguro nulo em 
razão do objeto – como o exemplo de um seguro de transporte para uma carga contrabandeada –, 
como pode-se ter um seguro com objeto lícito que sofra prática do ato doloso durante sua 
vigência. Na primeira hipótese, o contrato é nulo; na segunda, não, embora a indenização possa 
ser negada a depender das circunstâncias. 
Não se trata da possibilidade da contratação de um seguro para prevenir-se de atos dolosos 
de terceiros. São exemplos destes os seguros D&O, que serão estudados em capítulo próprio, e os 
seguros infidelidade, que são aqueles pelos quais se pretende prevenir contra atos de infidelidade 
dos próprios empregados. Vale destacar que, quando um empregado age, deliberadamente, contra 
o segurado, resta descaracterizada a representação. O ato doloso de representante que acarreta a 
nulidade do contrato, cf. art. 762, é aquele em que o representante age praticando ato desejado 
pelo segurado. 
Outra razão para justificar a proibição da cobertura contra o ato doloso reside no próprio 
risco segurável, à luz da teoria geral das obrigações. Isso porque as condições, como é sabido, 
podem ser causais, potestativas e mistas. No caso do ato doloso do segurado, estaríamos diante de 
uma hipótese de condição puramente potestativa, isto é, aquela que dependeria, exclusivamente, 
da vontade do segurado. Desse modo, seria supor submeter a execução de uma obrigação à 
vontade de uma das partes, aniquilando ainda a aleatoriedade e imprevisibilidade inerente do 
contrato de seguro. 
 
34 ALVIM, Pedro. op. cit., p. 227. 
 
 31 
 
Inúmeros são os casos de tentativas de fraudes contra as seguradoras – das mais banais, 
como a utilização de carteira seguro saúde por terceiros, às mais sofisticadas, com situações ora 
trágicas, ora cômicas. Da doutrina, colhem-se os mais diversos exemplos. 
Ricardo Bechara35 conta, por exemplo, o episódio em que um empresário contratou um 
seguro compreensivo para o estabelecimento comercial, com cobertura para incêndio, entre outras. 
Para tentar receber o valor do seguro, teve a brilhante e cruel ideia de envolver gatos com arame e 
estopa, e atear-lhes fogo, para que as chamas se espalhassem por todo o galpão. O plano teria sido 
perfeito se os reguladores, na vistoria ao imóvel incendiado, não tivessem descoberto (e desconfiado) 
ossadas dos animais juntamente com os restos dos arames, os quais não sucumbiram às chamas. 
Outra história narrada pelo autor, também envolvendo fraude de incêndio, foi o caso de 
um empresário que teve a mesma ideia do anterior. No entanto, em vez de sacrificar os animais, 
espalhou baldes de querosene unidos por pavio e pólvora nos dois andares do estabelecimento, 
ateando o fogo inicial e comunicando

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