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Ana Carolina Thomaz Mendes Dor neuropática Causa Doenças infecciosas – causadas por bactérias ou vírus que podem afetar os nervos pela liberação de toxinas ou pela degeneração provocada pela presença do microrganismo (Sífilis, herpes, AIDS); Traumas – acidentes, fraturas ou cirurgias podem causar lesões nos nervos ou diretamente na medula, que levam a dores agudas, de grande intensidade, no período pós-operatório. Essas dores podem se tornar crônicas caso não sejam tratadas adequadamente; Diabetes mellitus – na fase degenerativa, a doença pode lesar a bainha de mielina, afetando principalmente os membros, provocando a chamada neuropatia diabética; Alcoolismo e deficiência nutritiva – hipovitaminoses afetam a função nervosa de forma significativa, podendo causar o desenvolvimento da dor neuropática; Problemas nos nervos – estenose do canal medular, plexopatias neoplásicas; Problemas de tireoide - hipotireoidismo; Amputação – de um membro, em que surge uma dor referida ao membro desaparecido, conhecida por dor do membro fantasma. Vasculites – LES, artrite reumatoide e síndrome de Sjogren; Além disso, a quimioterapia, doenças como mieloma múltiplo e esclerose múltipla, medicamentos e uremia podem também provocar dor neuropática. Fisiopatologia Dor neuropática é um diagnóstico sindrômico, baseado em descrição clínica e não etiológica. A lesão de nervos periféricos induz descargas rápidas e intensas por períodos mais ou menos prolongados, na ausência de estímulos. Estes estímulos parecem produzir a ativação de receptores NMDA, originando o fenômeno de “wind up” nos neurônios do corno dorsal da medula. Logo depois a indução de processos inflamatórios faz com que certos mecanismos desencadeantes da dor neurogênica sejam comuns ao da dor nociceptiva. As extremidades do nervo lesionado “aderem-se” logo após o trauma, podendo formar uma estrutura de crescimento irregular denominada neuroma, que pode dar origem a descargas espontâneas e hipersensibilidade a estímulos mecânicos. São produzidos padrões anormais de comunicação interneuronal na periferia, nas quais um neurônio modifica a atividade de neurônios adjacentes. Logo após a lesão, as fibras simpáticas (que normalmente não afetam a sinalização dos terminais sensoriais) respondem a estímulos, tanto na periferia como nos gânglios da raiz dorsal, a agonistas α (norepinefrina), em particular os neurônios Aβ. Os neurônios aferentes lesados também sofrem alterações fenotípicas, observando-se maior expressão de peptídeos pró-nociceptivos, como a colecistoquinina. Em consequência das alterações fenotípicas que acontecem durante a neuropatia periférica, os aferentes mielinizados sintetizam e liberam substância P que ligam-se a receptores NK-1. O resultado é a expressão de neurônios nocicpetivos espinhais que respondem de forma exagerada a estímulos inócuos. Uma importante sequela da injúria nervosa e outras doenças do sistema nervoso como ataques virais são a apoptose de neurônios na periferia e no SNC. A Ana Carolina Thomaz Mendes apoptose parece induzir sensibilização e perda do sistema inibitório, causando um processo irreversível. A dor neuropática é um tipo de dor crônica que ocorre quando os nervos sensitivos do SNC e/ou SNP são feridos ou danificados. Esse tipo de problema está presente em até 10% da população e pode ser incapacitante, causando diferentes sensações de dor. A dor neuropática pode ser dividida em três categorias: ● Dor mediada pelo simpático – A dor de manutenção simpática depende da atividade eferente simpática. Às vezes, a síndrome da dor regional complexa abrange a dor de manutenção simpática. Outros tipos de dor neuropática podem apresentar um componente de manutenção simpática. Os mecanismos provavelmente envolvem conexões nervosas anormais simpático- somáticas (efapses), mudanças inflamatórias locais e alterações na medula espinal. ● Dor neuropática periférica – dano do SNP sem o envolvimento autonômico. A lesão ou disfunção nervosa periférica pode resultar em dor neuropática. Exemplos são: o Mononeuropatia - quando somente um trajeto nervoso está comprometido pela doença, a dor é bem localizada, podendo afetar um lado do corpo ou da região (por exemplo, um lado da perna, do tórax, da face). Às vezes, mais de um nervo pode estar envolvido, causando dores em mais de um segmento do corpo (mononeuropatia múltipla). o Plexopatias (tipicamente causadas por compressão neural, como por neuroma, tumor ou hérnia de disco) o Polineuropatia - quando vários nervos estão alterados ou danificados, a dor aparece de forma generalizada, podendo, por exemplo, surgir no tronco, braços e pernas ao mesmo tempo. Provavelmente os mecanismos variam e podem recrutar maior quantidade de canais de sódio nos nervos em regeneração. Pode ocorrer também por infiltração tumoral, compressão e dor devida ao tratamento. Radioterapia causa hipóxia tecidual levando a uma fibrose nos tecidos perineurais e estes neurônios são sensíveis a hipóxia – causando neuropatia periférica e posteriormente dor neuropática. ● Dor neuropática central - As síndromes de dor neuropática central possivelmente envolvem reorganização do processamento somatossensorial central; os principais tipos são a dor por desaferentação e a dor de manutenção simpática. Ambas são complexas e, embora possivelmente relacionadas, diferem de modo substancial. Esse tipo de dor pode ter envolvimento encefálico ou medular e ser causada por complicação do tratamento. Em condições normais , fibras C e fibras A são responsáveis pela transmissão do estímulo doloroso. Respondem somente com alto limiar, mas em condições de neuropatia sua fisiologia se modifica. Quando a lesão é interrompida, surgem microneuromas – estes geram potenciais de ação e são sensíveis ao estímulo mecânicos, a isquemia tecidual, elevação da concentração de K, acúmulo de peptídeos, prostanoides, citocinas, etc. Ana Carolina Thomaz Mendes O sistema nervoso neurovegetativo Libera NADR que age nos receptores adrenérgicos alfa-1 dos aferentes primários excitando ou inibindo as descargas ectópicas. Correntes efáticas ocorrem nos neuromas e nas fibras em degeneração de modo que a atividade deste pode despolarizar as fibras nervosas vizinhas – modificam o núcleo do neurônio sensitivo – atividade aumentada – ocorre alteração nos neurônios de segunda ordem do CPME. WIND UP Quando se trata de dor neuropática três aspectos devem ser mencionados: 1. Ausência de um padrão definido de diagnóstico de dor neuropática; 2. A existência de uma neuropatia não é necessariamente suficiente para justificar a dor como neuropática; 3. O exame neurológico que identifica a lesão de nervo nem sempre identifica a presença de uma dor neuropática, particularmente quando envolve fibras grossas; Avaliação da dor neuropática IASP – avaliação inicial por questionário de dor neuropática, exame clínico e medidas eletrofisiológicas, características da dor e da avaliação de seu tratamento, avaliação psicológica, avaliação de incapacidade, avaliação de qualidade de vida e testes laboratoriais (reflexos, potencial evocado, microneurografia, imagem funcional cerebral, biopsia de pele, função do sistema nervoso autônomo). Ana Carolina Thomaz Mendes EFNS – história e exame como fundamentais. Instrumentos gerais de avaliação e os questionários são úteis em indicar provável dor neuropática – LEPs e biopsia de pele. Métodos não invasivos com o potencial evocado coposto ao calor – CHEPS e a microscopia com focal de córnea com melhor aplicação. Questionário O exame do paciente é indispensável para fazer diagnóstico diferencial com outras dores e definir se há lesão, disfunção oudoença que esteja causando a dor. Assim, o exame neurológico deve ser considerado por todo o especialista com área de atuação em dor, que deverá ser treinado para esse fim. O conhecimento da anatomia e da fisiologia das vias somatossensitivas e autonômicas é primordial para o reconhecimento diagnóstico. A dor neuropá�ca pode ser classificada em dois grupos: desencadeada por es�mulos e independente de es�mulos ● A dor independente dos es�mulos pode ser persistente ou paroxís�ca e, em geral, é descrita como penetrante, em pontada ou em queimação. As parestesias e as disestesias podem ter origem periférica em virtude dos impulsos ectópicos que percorrem as fibras Aβ, Aδ e C, que se originam como a�vidade espontânea devida a processos como a desestruturação dos canais de sódio (“vazamentos”) que se acumulam ao longo dos nervos periféricos lesionados e geram alteração no potencial limiar. Os disparos paroxís�cos, ou dor em choque elétrico (antes considerados �picos da a�vidade ectópica das fibras mielinizadas), bem como a dor em queimação con�nua (ainda atribuída à atividade dos nervos não-mielinizados), quase certamente se originam das descargas ectópicas ou efáp�cas geradas por qualquer �po de fibra. A dor independente de es�mulos também pode ser causada por depressão das vias inibitórias provenientes do encéfalo ou da medula espinhal. -Estímulo simpático → coordena secreção de adrenalina e noradrenalina. Sensibilização periférica: Após a ocorrência de um evento causador de lesão direta do nervo, ocorre primeiramente uma resposta inflamatória. A lesão no nervo resulta, além da inflamação, na degeneração Walleriana. Esses Ana Carolina Thomaz Mendes eventos induzem a ativação e migração de macrófagos e células de Schwann para o nervo e gânglio da raiz dorsal. O recrutamento e ativação destes macrófagos fazem com que as metaloproteases sejam ativadas interrompendo a barreira hemato-encefálica. Na sequencia, mediadores vasoativos como o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (calcitonin gene-related peptide - CGRP), substância P, bradicininas e óxido nítrico são liberados no local da lesão causando hiperemia e inchaço, promovendo a invasão de monócitos e linfócitos T. Os monócitos são atraídos para o local da lesão pelas quimiocinas CCL2 (quimiocina ligante 2) e CCL3 (quimiocina ligante 3). Os macrófagos e mastócitos liberam prostaglandinas e citocinas IL -1β, IL6, IL-18, TNF e o fator de inibição da leucemia (LIF). Todos estes fatores induzem a ativação das fibras nociceptivas. As fibras Aβ, enviam respostas exageradas para a medula espinhal e, associados à sensibilização central, contribuem para o desenvolvimento da dor espontânea, da hiperalgesia e da alodinia. Esses impulsos ectópicos podem persistir por longos períodos de tempo e acredita-se que possam desempenhar um papel importante na iniciação e manutenção da dor neuropática. As descargas contínuas nas fibras C podem produzir sensações de queimação intermitente, enquanto que descargas espontâneas em fibras Aβ ou Aδ podem produzir disestesias cortante ou parestesias. Além disso, um neuroma pode se formar no local da lesão. Descargas anormais ectópicas a partir de um neuroma parecem ser causadas por alterações intracelulares de diferentes subtipos de canais de sódio. Isto leva ao aumento da frequência de disparo, possivelmente resultando em não apenas dor espontânea, mas também a sensibilização central. Após lesão no nervo, além da inflamação descrita anteriormente, eventos envolvendo canais de sódio também são relatados. O aumento da atividade ectópica espontânea é acompanhado por um aumento da expressão do RNA mensageiro de genes que codificam canais de sódio, como o Nav1.3 (proteína do canal de sódio tipo 3) e Nav1.8 (proteína do canal de sódio tipo 8), nos neurônios aferentes primários. O Nav1.3 é um canal de sódio que, após lesão nervosa, se acumula ao redor de neurônios sensoriais e desempenha papel significativo no aumento da excitabilidade neuronal, contribuindo assim para a dor neuropática. Sendo o Nav1.8 o canal que predominantemente está envolvido na abertura dos canais de sódio em condições fisiopatológicas da dor, e que a localização deste canal sugere que intervenções farmacológicas podem ajudar na terapia de neuropatias. Esses canais de sódio não só se acumulam no local da lesão do nervo periférico, mas também ao redor e dentro do gânglio da raiz dorsal (GRD) intacta. Assim os disparos ectópicos ocorrem no GRD quando atingem seu limiar. As desordens nos canais de sódio também foram relatadas como causa de dor neuropática. Além dos canais de sódio, vários outros canais iônicos, sofrem alterações após lesão no nervo, como por exemplo, os canais de potássio. Um estudo em ratos testou o papel 12 dos canais de cálcio e potássio na transmissão sensorial na medula espinhal e concluíram que os canais de potássio ao serem bloqueados provocaram um aumento no estímulo nociceptivo. Sensibilização central: Como consequência da hiperexcitabilidade dos nociceptores periféricos, mudanças secundárias ocorrem no Corno dorsal da medula espinhal. O aumento da atividade neuronal propaga essa hiperexcitabilidade para os segmentos espinhais. Este evento é chamado de sensibilização central. Quando a sensibilidade central é estabelecida normalmente, estímulos inócuos táteis são capazes de ativar na medula espinhal sinais dolorosos a partir de neurônios de baixo limiar como as fibras Aδ e Aβ. Acredita-se ser esse o mecanismo responsável pelo fenômeno clínico da Alodinia. ● Modulação central e periférica da dor neuropática A DN resulta da lesão parcial ou total de um nervo periférico, de um plexo nervoso ou no SNC. Nesta situação, a doença não está no tecido da área dolorosa, mas no circuito responsável pela sua inervação. Em relação a modulação da dor neuropática, quando comparada a modulação da dor nociceptiva, o efeito Ana Carolina Thomaz Mendes inibitório de fibras descendentes provenientes da substância periaquedutal cinzenta do locus coeruleus, está reduzido em 50%. Há eficácia reduzida do sistema opioide na medula espinal, com diminuição de B-endorfinas no encéfalo e na medula espinal e consequente redução do efeito analgésico da morfina, tanto por via sistêmica como por via espinal. Tal fato é um indicativo de que os receptores para opióides ou outros fatores necessários para ativação do sistema opioide espinal estejam comprometidos após a lesão do nervo. Por outro lado, em neurônios do corno dorsal da medula espinal, que expressam c-jun, pode haver indução de morte celular programada. Isso envolve estudos com a família de genes Bcl-2 e Bax que inibem e favorecem a morte celular, respectivamente. Ou seja, o nervo seccionado faz com que haja um aumento da expressão de c-jun e há redução da relação Bcl-2/Bax, indicando tendência a apoptose e desaferentação dos neurônios espinais pós-sináptico. Supõe-se, então, que haja uma hipoativação das vias inibitórias descendentes, desimpedindo a transmissão do estímulo nociceptivo, o que terá grande influência na gênese e manutenção da DN, periférica ou central, uma vez essa desinibição torna as fibras mais suscetíveis a estímulos excitatórios. A ativação da PKC também influencia na modulação da dor neuropática, já que, quando ativada, diminui a transmissão inibitória, reduzindo os níveis de GABA da inibição tônica da glicina e da inibição descendente conduzida pela substância cinzenta periaquedutal PAG. ● Neuroplasticidade A neuroplasticidade é a habilidade que o SN tem em responder a estímulos intrínsecos ou extrínsecos pela reorganização da sua estrutura, da sua função e suas conexões. Ocorre a nível molecular, sináptico, celular e circulatório: ● Molecular(alteração da função, pela fosforilação); ● Força sináptica (varia desde um estado de falência de indução de resposta pós-sináptica (sinapse silenciosa) até um estado de potenciação, no qual estímulos subliminares já induzem despolarização pós-sináptica); ● Celular (alteração na frequência de despolarização espontânea do neurônio, assim como rotura do axônio e/ou do dendrito, degeneração e neurogênese). Alterando os circuitos de processamento paralelo e em série atuam uns sobre os outros, aumentando ou diminuindo o seu grau de conectividade ou constituindo conectividade aberrante. A dor neuropática resulta de neuroplasticidade mal adaptativa do SNC e do SNP como consequência da sua lesão ou disfunção. O SNC é um sistema com características imunológicas específicas, que, embora tendo um mecanismo de proteção (barreira hematencefálica) contra a penetração de células e de grandes moléculas, não está imunologicamente isolado. Responde muito sensivelmente a mediadores anti e pró-inflamatórios, que podem modificar a função neuronal. Para melhor entender esses papéis, importa rever que são quatro os mecanismos de plasticidade cerebral: ● As alterações do equilíbrio inibição-excitação ocorrem instantaneamente, e dependem da região e das conexões anatômicas; ● A intensificação ou diminuição das sinapses existentes; ● Alteração da excitabilidade da membrana celular; ● Alterações anatômicas, que possam desencadear a formação de novos terminais axônicos e novas sinapses. Esta reorganização cortical é considerada a base do potencial da recuperação das funções neurológicas. A plasticidade cerebral resulta do que é aprendido, induzindo mudanças plásticas e dinâmicas no SNC. A integração motora pode promover neurogênese, sinaptogénese, angiogênese, modulação pré e pós- sináptica, e todos estes podem contribuir para resultados positivos na recuperação. Porém, quer a intensidade, quer a especificidade do tratamento, bem como o intervalo de tempo, entre a lesão e o início do procedimento, influenciam o restabelecimento da função neurológica. Resumindo, a dor crônica está associada a alterações regionais do encéfalo (alterações do volume da massa cinzenta). Ana Carolina Thomaz Mendes Essas alterações estão relacionadas com a morfologia e com a funcionalidade. Clínica A dor neuropática é uma sensação de incômodo evidente. Pode ser contínua ou intermitente (em crises). A intensidade da dor varia de fraca a intolerável, dependendo do estágio da doença e do grau de comprometimento dos nervos. Os sintomas são duradouros, persistindo normalmente após resolução da causa primária, visto que o SNC foi sensibilizado e remodelado. Os sintomas da dor neuropática podem trazer sensações como: Queimação; Agulhadas; Choques, Formigamento ou adormecimento. Diagnóstico: ● Avaliação clínica A dor neuropática é sugerida por sintomas típicos quando a lesão do nervo é conhecida ou suspeita. A causa (amputação, DM) pode ser imediatamente perceptível. Quando isso não ocorre, o diagnóstico geralmente é obtido com base na descrição. A dor aliviada por bloqueio nervoso simpático é a dor de manutenção simpática. Tratamento: O tratamento da dor neuropática varia de acordo com a doença e o estágio em que ela se encontra. O objetivo poder ser tratar especificamente o nervo, a doença que está causando a lesão indiretamente e/ou a dor oriunda dessas lesões; ou somente buscar o alívio da dor. Os tipos de tratamento usados são: ● Tratamento multimodal; ● Anticonvulsivantes – diminuem a atividade elétrica dos nervos ou bloqueiam as dores por determinadas passagens nervosas. ● Anestésicos – diminuem a atividade elétrica dos nervos, reduzindo a sensação de dor. ● Antidepressivos – estimulam partes do SN que impedem a passagem das dores, além de atuar na depressão que geralmente acompanha a neuropatia ou qualquer dor na fase crônica. ● Cirurgia - para alguns tipos específicos de dores neuropáticas o médico pode indicar algum tratamento cirúrgico no nervo, medula espinhal ou até no cérebro. O objetivo do tratamento para dor neuropática é a cura da doença ou quando não é possível, o alívio dos sintomas. O controle da dor facilita as atividades diárias, proporciona sono tranquilo, aumenta a capacidade para o trabalho e melhora a autoestima de quem tem a doença. Para lesões nervosas periféricas, há necessidade de mobilização para prevenir alterações tróficas, atrofia por desuso e ancilose. Outros tratamentos potencialmente eficazes incluem: ● Estimulação da coluna por um eletrodo inserido de modo epidural para certos tipos de dor neuropática (dor crônica no membro inferior após cirurgia da coluna) ● Podem ser implantados eletrodos ao longo dos nervos periféricos e dos gânglios para certas neuralgias crônicas. ● Em geral, o bloqueio simpático é ineficaz, exceto para alguns pacientes com síndrome da dor regional complexa. Ana Carolina Thomaz Mendes Dor neuropática por desaferentação A dor por desaferentação é uma das dores neuropáticas contínuas que pode acometer várias áreas do corpo. Ela decorre da interrupção parcial ou completa da atividade neural aferente central ou periférica em uma região específica do corpo devido à remoção de parte de uma via neural. Em geral está associada a traumas, no entanto pode não guardar relação temporal com o fator desencadeante e ocorrer independente da presença de lesão aparente. Exemplos são: Neuralgia pós-herpética Dor de origem central Dor no membro fantasma Dor no membro fantasma Mais de 70% dos amputados apresentam dor pós- amputação no membro residual, o que pode limitar severamente a função, prejudicar a qualidade de vida e impedir significativamente a reabilitação. Deve-se avaliar e tratar agressivamente a dor no membro residual porque algumas causas podem ser danosas. Sensação de membro fantasma é uma anormalidade sensorial positiva e indolor que pode melhorar a propriocepção e é distinta da dor fantasma. Causas Dor cirúrgica pós-operatória Infecção cutânea Infecção de tecido profundo (osteomielite, infecção do enxerto vascular) Pontos de pressão com ou sem ruptura da pele Neuroma Neuropatia Esporões ósseos Isquemia do membro Dor fantasma Síndrome de dor regional complexa Em geral, a dor da lesão cirúrgica pós-operatória desaparece à medida que os tecidos cicatrizam, normalmente ao longo de 3 a 6 semanas. A dor que continua além desse período tem inúmeras causas, incluindo infecção, deiscência da ferida, insuficiência arterial, hematoma, preenchimento muscular insuficiente ao longo das extremidades ósseas e uma prótese preparatória mal ajustada. Os tratamentos são direcionados à causa e também podem incluir modificação da prótese, interrupção do uso da prótese até a cicatrização e analgésicos. A dor neuropática é comum em amputados e geralmente é descrita como uma dor lancinante ou de queimação e costuma se desenvolver 7 dias após a amputação. Pode desaparecer por si só, mas geralmente se torna crônica. Pode ser contínua e grave, ou intermitente. Muitas vezes, é decorrente de danos nos nervos causados pela lesão ou secção de nervos durante a amputação. O tratamento da dor neuropática é multimodal (tratamentos psicológicos, uso de modalidades físicas, uso de fármacos antidepressivos ou anticonvulsivantes). A infecção profunda pode ser mais difícil de diagnosticar porque o edema e o eritema locais podem não ser aparentes até que o aparecimento da dor já há algum tempo; as manifestações sistêmicas como febre ou taquicardia podem aparecer antes e não devem ser ignoradas. O neuroma doloroso pode ocorrer em qualquer nervo seccionado (por cirurgia ou trauma) e pode resultar em uma área focalou ampliada da dor que pode ser temporariamente bloqueada (como uma manobra diagnóstica) por injeção local de anestésicos. Sugere- se que o diagnóstico de neuroma seja feito por anamnese e exame físico. A dor decorrente do neuroma pode ter características neurogênicas como sensação de choque, lancinante, formigante, aguda e penetrante ou em espinhos. A dor normalmente não envolve o membro fantasma, mas pode envolver. Outros sintomas que sugerem neuroma incluem sensações incomuns e desagradáveis que ocorrem sem estimulação ou durante a contração dos músculos do membro residual e uma sensação não agradável (disestesia) que acontece à palpação leve da pele. Dores neurogênicas que ocorrem durante o uso da prótese e desaparecem rápida ou lentamente Ana Carolina Thomaz Mendes após a remoção dela sugerem neuroma. Quanto mais o neuroma é irritado, mecanicamente pela prótese ou pela contração muscular, mais tempo ele leva para se dissipar. Pode-se utilizar RM e/ou US para confirmar o diagnóstico de neuroma. Em casos graves, recomenda-se a realização de uma neurectomia cirúrgica. Os pacientes cuja amputação foi necessária por causa de doença vascular periférica têm maior risco de isquemia, que pode ser difícil de diagnosticar, mas pode ser sugerida por baixa tensão de O2 transcutânea (< 20 mmHg) na parte distal do membro. Se não há doença clínica que causa dor, massagem e percussão combinadas com elevação do membro residual pode aliviá-la. Se isso for ineficaz, pode-se usar analgésicos leves [AINEs, acetaminofeno]. Os amputados também podem sentir dor em outros membros, articulações, costas e pescoço em razão dos movimentos compensatórios do corpo feitos para suprir a função perdida da parte amputada. O protético deve avaliar regularmente a eficiência estática e cinemática da prótese e fazer os ajustes necessários. Além disso, exercícios regulares de alongamento e fortalecimento muscular ajudam a equilibrar o corpo e aliviar a dor. O fisioterapeuta pode desenvolver um programa seguro de exercícios. Dor fantasma A maioria dos pacientes sente dor fantasma em algum momento. O aspecto fantasma não se refere à dor, que é real, mas à localização da dor — o membro que foi amputado. Acredita-se que o mecanismo envolva fatores periféricos e centrais. O início e a duração geralmente ocorrem alguns dias após a amputação, mas podem tardar meses ou anos. Os termos usados para descrever a dor fantasma incluem formigamento, laceração, pontada, latejamento, queimação, ardência, beliscão, fisgada e compressão semelhante a torno. A dor fantasma costuma ser mais intensa logo após a amputação, e então diminui com o tempo. Há terapias dessensibilizantes pós-cirúrgicas disponíveis e são recomendadas para diminuir a dor durante o período inicial de suporte do peso na prótese. Para muitos pacientes, a dor fantasma é mais comum quando a prótese não está colocada, por exemplo, à noite. O risco de sentir essa dor é reduzido se for usada anestesia geral durante a cirurgia. Outras terapias não farmacológicas podem ser tentadas para aliviar a dor, incluindo estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), acupuntura e estimulação da medula espinal. Sensação fantasma Muitos pacientes têm a sensação fantasma, que é a sensação de que a parte amputada continua presente. A sensação fantasma não deve ser erroneamente interpretada como dor fantasma. A sensação fantasma pode ser um problema especial no caso da amputação de membros inferiores durante as idas noturnas ao banheiro. O paciente sente que o membro continua lá e dá um passo, caindo ou ferindo o membro residual. Pode-se usar um dispositivo de proteção durante o sono para evitar lesões. Dor oncológica Causas A dor é mais frequentemente causada pelo próprio câncer. Mas a dor também pode ser provocada pelo tratamento ou pelos exames realizados para diagnosticar a doença. No entanto, você também pode ter dor que não está relacionada à doença e seus tratamentos. ● Dor oncológica. A maior parte dos casos de dor ocorre quando um tumor pressiona os ossos, nervos e órgãos do corpo. Pacientes com doença avançada são mais propensos a sentirem dor. ● Compressão da medula espinhal. Quando um tumor invade a coluna vertebral, pode pressionar a medula espinhal. Isso é denominado compressão da medula espinhal. O primeiro sinal da compressão é geralmente dor na parte posterior do pescoço ou dor de garganta, às vezes com dormência ou fraqueza em um braço ou perna. Tossir, espirrar ou realizar outros movimentos, muitas vezes, agravam a dor. Essa compressão deve ser tratada rapidamente para impedir Ana Carolina Thomaz Mendes que você perca a função da bexiga ou do intestino ou ainda ficar paraplégico. Se o tratamento for imediato, podem ser evitadas complicações sérias, como as mencionadas acima. Os tratamentos incluem normalmente radioterapia e administração de esteroides para reduzir o tamanho do tumor. Ou pode ainda ser realizada uma cirurgia para retirar o tumor que está pressionando a coluna vertebral, o que pode ser seguido por radioterapia. ● Dor óssea. Esse tipo de dor pode acontecer quando a doença se dissemina para os ossos. O tratamento visa controlar o câncer e proteger os ossos afetados. A radioterapia é feita para tratar o osso afetado. Os bisfosfonatos são um tipo de medicamento que fortalecem os ossos, impedindo possíveis fraturas. Esses são exemplos de tratamentos que visam parar ou controlar a dor óssea. O paciente pode ainda precisar de analgésicos, mas, às vezes, esses tratamentos já diminuem substancialmente a dor. A dor óssea também pode ocorrer como um efeito colateral dos medicamentos como os fatores de crescimento ou fatores estimuladores de colônias. Esses medicamentos podem ser administrados para impedir que as taxas dos glóbulos brancos diminuam após o tratamento quimioterápico. Esses medicamentos ajudam o corpo a produzir mais leucócitos na medula óssea. Como a atividade da medula óssea é maior com esses medicamentos pode ocorrer dor óssea. ● Dor cirúrgica. A cirurgia é realizada para tratar cânceres que cresceram como tumores sólidos, mas outros tratamentos, como quimioterapia ou radioterapia também podem ser administrados de forma concomitante. Dependendo do tipo de cirurgia, sentir dor é algo esperado. A dor devido a uma cirurgia pode durar de alguns dias a algumas semanas, dependendo do tipo e extensão de procedimento cirúrgico. ● Dor de outros tratamentos contra o câncer. Alguns dos efeitos colaterais provocados pela quimioterapia e radioterapia podem provocar dor. A dor pode até levar à suspensão do tratamento se não for bem gerenciada. ● Neuropatia periférica. Essa condição refere- se a dor, ardor, formigamento, dormência, fraqueza, dificuldade para andar ou sensações estranhas nas mãos, braços ou pernas e pés. A neuropatia periférica pode ser provocada por determinados tipos de medicamentos quimioterápicos, embora também possa ser devido a deficiências vitamínicas, câncer e outros problemas de saúde, como diabetes e infecções. ● Feridas na boca. A quimioterapia pode provocar feridas e dor na boca e garganta (estomatite ou mucosite). A dor pode ser intensa a ponto de impedir que o paciente se alimente ou inclusive tenha dificuldades para falar. ● Mucosite e outras lesões devido à radioterapia. A dor devido ao tratamento radioterápico depende da parte do corpo que foi irradiada. A radioterapia pode provocar queimaduras cutâneas, mucosite (aftas) e cicatrizes, que podem provocar dor. A garganta, intestino, pulmão e bexiga também são suscetíveis a danos provocados pela radioterapia. ● Dor devido a procedimentos e exames. Alguns exames realizados para diagnóstico do câncer e avaliação da resposta do tumorao tratamento podem ser dolorosos. Se o paciente e seu médico concordam que é necessário um determinado exame, a preocupação com a dor não deve impedir a realização do exame. Qualquer dor durante e após o procedimento geralmente pode ser tratada e aliviada.
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