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1 DRA. ANA FLÁVIA – SAÚDE DO ADULTO II DANIELE BARBOSA DE MEDEIROS – GAMA XIV Reumatologia Artropatia Por Cristais – Gota É uma doença inflamatória que acomete sobretudo as articulações (monoartrite) e ocorre quando a taxa de ácido úrico no sangue está em níveis acima do normal (hiperuricemia). O aumento nas taxas de ácido úrico no sangue pode ocorrer tanto pela produção excessiva quando pela eliminação deficiente da substância. É importante saber que nem todas as pessoas que estiverem com a taxa de ácido úrico elevada (hiperuricemia) desenvolverão a gota. A maioria dos portadores de gota é composta por homens adultos com maior incidência entre 40 e 50 anos e, principalmente em indivíduos com sobrepeso ou obesos, com vida sedentária e usuários de bebidas alcoólicas com frequência. As mulheres raramente desenvolvem gota antes da menopausa e geralmente tem mais de 60 anos de idade quando a desenvolvem. MONOARTRITE – apenas uma articulação sendo acometida PACIENTE TÍPICO: homem de meia idade, com vida menos regrada, associada ao sedentarismo e aos excessos Fisiopatologia O desequilíbrio metabólico responsável pela gota é a supersaturação do sangue e dos fluidos orgânicos com o íon urato até o ponto em que ocorra a formação de cristais. Em um pH fisiológico e temperatura corporal normal, o urato é considerado supersaturado em concentrações de 7mg/dL ou mais. Assim, de uma perspectiva biológica, a hiperuricemia é caracterizada por nível sérico de urato superior a 7mg/dL nos homens e 6 mg/dL nas mulheres. Ao contrário da maioria dos mamíferos, o urato é o produto final da degradação oxidativa do metabolismo da purina em humanos e espécies primatas superiores, porque o gene que codifica a enzima URICASE (oxidase do urato) tem sido silenciado por mutações. As purinas são compostos que possuem um núcleo de purina de nove membros constituído de anéis de pirimidina e imidazol fundidos. As purinas preenchem as funções essenciais em todas as células vivas, 2 DRA. ANA FLÁVIA – SAÚDE DO ADULTO II DANIELE BARBOSA DE MEDEIROS – GAMA XIV sendo a maior parte dessas funções realizada por derivados de nucleotídeo e nucleosídeo das bases de purina adenina, hipoxantina e guanina. O ácido úrico é o produto final do catabolismo das purinas no homem que, ao contrário da maioria dos mamíferos, não possui a enzima uricase que degrada o ácido úrico. As purinas são bases nitrogenadas: adenina, guanina e hipoxantina. Esta última sofre ação da enzima xantina oxidase que produz no final o ácido úrico. Hiperuricemia A hiperuricemia ocorre quando a produção de urato não é balanceada pela excreção renal. Em 90% de todos os pacientes com gota, a causa desse desequilíbrio é a excreção renal. Os 10% restantes dos casos de gota são causados por superprodução de purina ou uma combinação da superprodução e baixa excreção. As causas não genéticas de hiperuricemia incluem outras condições médicas, componentes da dieta e medicações. HIPERURICEMIA PRIMÁRIA: 90% é por defeito na eliminação renal de ácido úrico. E somente 10% por excesso na produção (eliminação de ácido úrico urinário superior a 800 mg/24h – ex. neoplasias, defeitos enzimáticos). HIPERURICEMIA SECUNDÁRIA: Aumento do ácido úrico associado a fatores externos e de risco como álcool, obesidade, diuréticos, HAS, DRC, hipertrigliceridemia e síndrome metabólica. O ácido úrico é eliminado 2/3 pela via renal e 1/3 pelo tubo digestivo. Na via renal ocorre filtração pelo glomérulo e um processo de reabsorção e excreção nos túbulos proximais, sendo eliminado cerca de 10% do ácido úrico filtrado. O ácido úrico encontra-se, na sua maior parte, sob a forma de uratos (forma solúvel no plasma). O nível máximo de solubilidade é 7mg/dl. Desta forma: ✓ Hiperuricemia em homens > 7 mg/dl ✓ Hiperuricemia em mulheres > 6 mg/dl Fatores De Risco ✓ Sexo masculino ✓ Faixa etária 40 - 50 anos ✓ Dieta rica em purinas: carnes vermelhas, frutos do mar, linguiça, salame, bacon, fígado e miúdos, bebidas alcoólicas (cerveja), chocolate. ✓ Doenças de base já mencionadas ✓ Medicações: diuréticos (em especial os tiazídicos) – aumenta ácido úrico sérico Fatores Protetores Alguns alimentos e medicações tem uma pequena ação uricosúrica (estimulam excreção de ácido úrico), exercendo um efeito “protetor” contra a hiperuricemia: ✓ Produtos lácteos com baixo teor de gordura ✓ Café ✓ Vitamina C ✓ Medicações: fenofibrato, losartana, bloqueadores de canal de cálcio ✓ Estrogênio 3 DRA. ANA FLÁVIA – SAÚDE DO ADULTO II DANIELE BARBOSA DE MEDEIROS – GAMA XIV Manifestações Clínicas HIPERURICEMIA ASSINTOMÁTICA Aumento dos níveis séricos de ácido úrico, sem que existam sintomas de artrite, ou tofos, ou cálculos. Sintomas – não é só dor articular, mas também deposito de ácido úrico em tecidos que podem causar deformações e pacientes acometido por nefrolitíase. Sem indicação formal para tratamento exceto se o paciente possuir um ácido úrico > 13mg/dL em homens e > 10mg/dL em mulheres. ARTRITE GOTOSA AGUDA Crise aguda/súbita de dor intensa O paciente se queixa de muita dor de início súbito, estava bom e acordou ruim 80% monoartrite e 20% oligo ou poliarticular (geralmente quadros crônicos). Pode associar febre (quadros crônicos). Local: 1º articulação metatarsofalangeana (grande artelho). Outros locais: metatarso, tornozelos, calcanhares, joelhos, punhos, dedos e cotovelos. As articulações são regiões pouco vascularizadas e possuem baixas temperaturas, principalmente as articulações periféricas dos membros inferiores, devido a isso ocorre um aumento da precipitação do ácido úrico nesse local. ➢ Geralmente as primeiras crises de gota são em monoartrite, o paciente possui a crise de dor, sendo autolimitada, ou seja, o paciente vai melhorar com o tratamento ou não, de duração de 3 a 10 dias voltando a normalidade. Se o paciente começar fazer crise demais a tendência é que as crises fiquem poliarticular. GOTA INTERCRÍTICA Período que o paciente está assintomático, entre crises A crise geralmente é autolimitada, resolvendo-se espontaneamente de 3 – 10 dias. O período intercrítico fica entre uma crise e outra, estando o paciente completamente assintomático neste momento. 60% terão uma nova crise no primeiro ano, 80% no segundo ano e 93% nos próximos 10 anos. Apenas 7% nunca terão outra crise. GOTA TOFOSA CRÔNICA A hiperuricemia não tratada leva a formação e deposição de cristais de urato monossódico nas cartilagens, articulações, tendões e partes moles. Mais comum em idosos Sede clássica dos tofos: hélice do pavilhão auricular externo (mas não é a mais comum). Os tofos são cercados de tecido granuloso e isso leva a sinovite crônica e erosão óssea. Por vezes os tofos podem ulcerar e liberar uma substância de aspecto calcário, rica em urato Há tendencia a regressão quando estabelecido tratamento da hiperuricemia 4 DRA. ANA FLÁVIA – SAÚDE DO ADULTO II DANIELE BARBOSA DE MEDEIROS – GAMA XIV Diagnóstico O padrão-ouro no diagnóstico de gota é a observação de cristais de urato monossódico na microscopia ótica de luz polarizada compensada, em que esses cristais apresentam birrefringência negativa. A amostra deve ser, de preferência, coletada de articulações afetadas recentemente, bem como de articulações anteriormente afetadas. Entretanto, frente a uma apresentação clínica típica, o diagnóstico clínico é razoavelmente preciso e aceitável na ausência de microscopia disponível ou de reumatologistas. Esse diagnóstico, porém, não é definitivo. Após a comprovação da presença de cristais de urato monossódico no ambiente articular, é preciso quantificar essa deposição, bem como sua extensão e o dano estrutural induzido. Além da anamnese e do exame físico, recursos de imagem, como radiografias,ultrassonografia e tomografia computadorizada de dupla emissão, podem ser úteis para avaliar a fase crônica da doença e os danos acarretados. Diagnósticos diferenciais devem ser considerados, em especial na gota de apresentação oligoarticular e poliarticular, que podem mimetizar diversas doenças, tais como artrite reumatoide e espondiloartropatias. Na forma monoarticular, a artrite séptica sempre deve ser descartada. Caso Suspeito: monoartrite inflamatória de instalação súbita Padrão Ouro: artrocentese diagnóstica. Confirmação: encontro de cristais de urato monossódico no interior dos leucócitos do líquido sinovial da articulação afetada. Obs: < 5% dos casos não são encontrados cristais no exame. Durante a crise pode ocorrer precipitação excessiva e o ácido úrico normal, se dosar o ácido úrico do paciente durante a crise não se descarta gota, repete a dosagem no período intercrítico Quando não se consegue coletar o líquido sinovial, o diagnóstico pode ser considerado altamente provável, caso paciente apresente: ✓ Hiperuricemia ✓ Quadro clínico característico ✓ Resposta significativa à administração de colchicina (impede a fagocitose do cristal) Tratamento O tratamento da gota basicamente divide-se em duas etapas: manejo da crise aguda e terapia de longo prazo. Na primeira é preponderante aliviar a dor, diminuir a inflamação e a incapacitação articular e para isso são usados agentes anti-inflamatórios; na segunda etapa o objetivo é diminuir as concentrações de ácido úrico circulante (AUC), bem como prevenir novas crises. FASE AGUDA: ✓ AINES (primeira linha): Indometacina 75mg ataque seguido de 50mg 6/6h por 2 dias, depois seguir redução para 3x/dia, até 25mg 3x/dia e estender até dois dias após a remissão total do quadro. ✓ Colchicina (segunda linha): 1mg ataque, seguido de 0,5mg até 2/2h (habitual 3 a 4x ao dia). ✓ Corticosteroides intra-articulares ✓ Corticoide sistêmico. COLCHICINA: A colchicina, um alcaloide derivado de extratos do açafrão-do-prado, também é recomendada no tratamento de primeira linha. Essa substância tem diversos efeitos já relatados, a inibição da divisão celular é o mais conhecido. No contexto da gota, essa função interfere diretamente na atividade dos neutrófilos, além de inibir a formação do inflamassomo NLRP3 induzida por cristais de ácido úrico. 5 DRA. ANA FLÁVIA – SAÚDE DO ADULTO II DANIELE BARBOSA DE MEDEIROS – GAMA XIV As diretrizes da ACR complementam que o tratamento com colchicina obtém melhores resultados se iniciado em até 24 horas do início dos sintomas, não deve exceder 36 horas e permanece até que a crise seja suprimida. A administração endovenosa de colchicina é extremamente tóxica e não recomendada. FASE CRÔNICA: ✓ Colchicina profilática: 1mg dia (0,5mg de 12/12h) por 6 meses. ✓ Emagrecimento, controle e eliminação dos fatores de risco principais. ✓ Medicações que reduzem a síntese por inibição da xantina oxidase (alopurinol – inicia 100 - 800mg/dia) ou aumentam a excreção – uricosúricos (benzbromarona 50 – 200 mg/dia).
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