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1 Referência: aula do prof. Moisés Lima Em torno de 20% das gestações documentadas por exame laboratorial ou ultrassonográfico vão evoluir com aborto. Um detalhe interessante é que grande parte (26 a 30%) das gestações não documentadas têm esse percurso de abortamento. O que seria não documentado? Gestante com atraso menstrual suspeito, mas sem confirmação com β- HCG ou ultrassonografia. Por vezes, chega um sangramento genital diferente do padrão, que representa um abortamento muito precoce. Portanto, em algumas circunstâncias, teremos abortamentos subclínicos. Conceito Do ponto de vista clínico-biológico, o conceito é: interrupção da gravidez até 20-22 semanas completas ou com peso fetal < 500 g ou estatura fetal de até 25 cm (OMS). Do ponto de vista legal, refere-se a um óbito que ocorre até 40 semanas. A idade gestacional (IG) pode ser um diagnóstico em função da data da última menstruação – mas nem sempre ela é condizente com uma idade gestacional precisa, ou através de uma USG, que traz uma definição melhor de IG, especialmente quando feita até 12 semanas e 6 dias. Se não se tem esses dados, podemos nos valer do peso fetal, que está condicionado à expulsão do feto, definindo o diagnóstico retrospectivo – até 499 gramas considera aborto. Esse marco temporal de 20 – 22 semanas diz respeito à possibilidade de viabilidade que o feto teria após esse tempo de idade gestacional. A prematuridade extrema apresenta uma remota possibilidade de sobrevivência, embora existam casos esporádicos, por isso escolhe esse marco temporal. Um feto de 18 semanas, por exemplo, não apresenta nenhuma possibilidade de vida extrauterina, da mesma forma com relação ao peso e à altura. Emite ou não declaração de óbito? Em se tratando de aborto, não emite declaração de óbito, sendo parto prematuro extremo, emite sim. Se a família desejar fazer sepultamento, deve ser emitida pelo aspecto emocional, permitindo que a família vivencie o processo do luto. Nesses casos, não se apegar às diretrizes. Classificação • Precoce: até 12 semanas (primeiro trimestre). A chance maior é por cromossomopatias – grandes alterações genéticas. • Tardio: após 12 semanas (segundo trimestre). Essas formas se relacionam mais com incompetência ístmico-cervical ou doença infecciosa, como sífilis. Perdas recorrentes, do ponto de vista conceitual, são aquelas que ocorrem três ou mais vezes. A partir da primeira perda, há um peso psicológico tão grande, que parece que há necessidade de investigação profunda. A literatura diz, por outro lado, que pela grande frequência de dificuldades reprodutivas, esse evento é relativamente comum para a paciente. Portanto, só se deve investir na investigação da causa do abortamento quando as perdas são repetidas. Se são perdas antes de 12 semanas, o esforço é grande para tentar diagnosticar as doenças genéticas, sejam as numéricas, sejam as estruturais. Nas perdas tardias, investigar toda a história da gestação e pensar em malformações uterinas que não são previamente diagnosticadas, miomatoses uterinas e, mais frequentemente, incompetência ístmico-cervical. Dependendo de como foi o abortamento, a abordagem também será diferente, sendo precoce ou tardia. Incidência • Até 20% nas gestações documentadas → 80% na forma precoce. • Até 26% considerando as formas subclínicas. Essa condição patológica é muito frequente na vida gestacional das mulheres. Etiologia • Alterações cromossômicas o Trissomias (16, 21, 13, 14...): 50% dos abortamentos. Anormalidades na recombinação meiótica. o Monossomia do cromossomo X: 7-10% dos abortamentos o Triploidia: mola parcial. 2 o Alterações estruturais: translocação não balanceada. Não existem tratamentos específicos para as formas precoces de abortamento. Epidemiologicamente, faz essa inferência, procura fazer estudo genético do material abortado para realizar uma orientação genética para as próximas gestações. Só pensa nesse estudo quando há abortamentos de repetição. • Defeitos da fase lútea: não é a principal causa, pensar sempre primeiro em cromossomopatia. • Infecções: sífilis, clamídia, citomegalovírus, gonorreia, toxoplasmose, rubéola, zyka vírus. Quanto mais precoce se tem a fase aguda desses processos infecciosos, maior a chance de provocar abortamentos ou alterações no feto. • Doenças endócrinas: tireoidopatias (em geral, hipotireoidismo) e diabetes mellitus (especialmente o que vem desde antes da gestação). • Causas uterinas: sinéquias intrauterinas (síndrome de Asherman), miomas (não interessa o tamanho, mas sim a localização – intramural e submucoso, pois competem com o desenvolvimento fetal, criando ambiente intrauterino hostil à gestação), malformações mullerianas, incompetência istmocervical (incompetência do orifício cervical interno, há deficiência da contenção, em que o colo do útero se dilata pelo próprio peso e volume da cavidade uterina; relaciona-se com abortamento habitual e limítrofe). • Fatores imunológicos: síndrome antifosfolípide, trombofilias hereditárias. • Drogas e agentes nocivos: tabagismo, álcool, cafeína, trauma. Formas clínicas A primeira coisa a se levar em consideração é o atraso menstrual. Toda mulher que procura o médico com essa queixa, sempre afastar gestação. Do ponto de vista semântico, atraso menstrual é diferente de amenorreia, uma vez que esta última se refere à falha menstrual que se estende além de 12 semanas (antes disso, é atraso menstrual). A depender do dia e das semanas de suspeita, a USG transvaginal não fecha diagnóstico. Por outro lado, em uma semana após a ovulação, o β-HCG já pode estar positivo. Toda mulher com sangramento genital após atraso menstrual já deve ser enquadrada como de risco. Boa parte das mulheres que apresentam sangramentos relativamente leves vão ter um prognóstico bom. As que superam essa etapa têm maior risco para parto prematuro e descolamento de placenta. Um outro aspecto a se considerar são as cólicas uterinas. Elas consistem em um dado subjetivo, já o sangramento é mais objetivo – no que diz respeito à visualização, e não volume. As cólicas podem representar acomodações do útero, mas também podem significar a expulsão do conteúdo intracavitário. Levar sempre a dor de cólica em consideração. Diante de atraso menstrual, seguido de sangramento e cólicas uterinas, temos formas clínicas do abortamento: • Ameaça de aborto: menor gravidade e melhor prognóstico. • Abortamento inevitável: tem sangramento genital mais pronunciado e cólicas uterinas muito bem definidas. Em geral, chama-se de trabalho de abortamento, em uma fase em que ele ainda não se deu por completo, ainda havendo conteúdo intracavitário. Frequentemente evolui para perda definitiva, que pode ser completa ou incompleta. • Abortamento incompleto: retenção de algum resíduo ou resto ovular, seja conteúdo fetal, de membrana ou placentário. Essas formas, em geral, evoluem para abortamento infectado. • Abortamento completo: em formas mais precoces de gestação. • Abortamento infectado: tem meio de cultura dentro da cavidade uterina, bem como uma facilitação para ascensão do microbioma genital da mulher. Geralmente, é secundário a um abortamento incompleto. Mais comum quando é induzido – tentativas de abortamento. • Abortamento retido: significa a parada do desenvolvimento da gestação. A gravidez diminui a sintomatologia dos sinais sugestivos – sinais mamários, de vômitos e náuseas. Então, a mulher vem fazer exame de USG rotineira e se depara com duas situações – saco gestacional vazio ou embrião sem vitalidade. Pela precocidade, em geral, está relacionado com cromossomopatias. Toda gestante que chega com atraso menstrual, pensar em gravidez e pensar em forma de diagnosticar – β-HCG. A segunda escolhaé a ecografia, que é melhor ser transvaginal. Porém, dependendo do dia, a USG pode até nem visualizar o saco gestacional, e o endométrio pode estar apenas espessado ou próprio da fase lútea do ciclo. 3 Se a mulher chega na triagem com história de sangramento, não interessa se é pouco ou muito, ela tem que ser submetida ao exame físico. Esse exame se refere ao uso do espéculo, que extrai informações – intensidade e aspecto do sangramento, conteúdos estranhos na cavidade, fragmentos dos tecidos gestacionais, lacerações vaginais pós-coito, que simulam sangramento genital com abortamento, ou pólipos no colo do útero. Em seguida, realização do toque. Ele não está contraindicado. Busca-se, nesse exame, um colo uterino fechado, em toque bimanual, uma altura de útero compatível com a idade gestacional, com o atraso menstrual. Isso tudo sugere ameaça de aborto. Portanto, tais dados devem ser colocados na requisição da USG, que traz várias informações. No inverso de tudo isso, encontra-se sangramento mais pronunciado, denunciando trabalho de abortamento, geralmente inevitável e incompleto, com colo do útero dilatado ao toque e altura de fundo uterino incompatível para a idade gestacional. No exame físico, também se pode encontrar secreção purulenta com odor fétido, que denuncia quadro de infecção da cavidade uterina. Detalhamento das formas clínicas 1. Ameaça de aborto • Concepto mantém a vitabilidade: coração bate • Sangramento discreto/moderado • Cólicas discretas/moderadas • Volume uterino compatível com a IG • Exame especular: mensurar o sangramento, evidências de material gestacional, excluir outras causas de sangramento • Toque obstétrico: colo uterino impérvio. • USG: saco gestacional proporcional ao feto e este mantém a vitabilidade – FCEmb. A melhor forma de avaliar é a USG transvaginal, mas a transabdominal também pode ser feita. Nessa USG, espera-se encontrar um saco gestacional em posição adequada, de contornos e proporções adequadas para a idade gestacional, proporcional ao volume do feto, eco embrionário com atividade cardíaca e, às vezes, movimentos corpóreos. Também se pode encontrar alguma área de descolamento subcoreal, que é o nome que se dá à pequena placenta. O citotrofoblasto está aderindo ao endométrio. Na área de adesão, aparece como uma lâmina anecoica, que sugere que aquela área se descolou, sendo o sangramento o primeiro sinal. Tentar identificar área de descolamento e mensurar. Conduta: tratamento ambulatorial, repouso relativo, abstinência sexual, monitorização ecográfica oportuna (avalia novamente 14-21 dias depois), sintomáticos (antiespasmódicos). A utilização da progesterona, seja natural ou sintética, é questionada. Geralmente, usa-se a progesterona natural por via vaginal, em dose de 400 mg. Em tese, teria a finalidade de dar certa acalmia da musculatura uterina, aliviando as queixas de cólicas, mas não trata o processo abortivo. A imagem ecográfica transvaginal abaixo mostra o saco gestacional, que é a imagem anecoica (onde o cursor do professor está apontando) e, no contorno dele, uma área hipoecoica, que é a área de descolamento de saco gestacional. Esse espaço se refere a um preenchimento por sangue/coágulo, o que caracteriza um hematoma subcorial. A mulher apresenta a clínica de sangramento genital e cólicas uterinas. A ameaça de abortamento se caracteriza por apresentar uma área de descolamento do saco gestacional, que deveria estar totalmente aderido à parede uterina. Há um espaço de aproximadamente 2.6 cm de distanciamento da parede uterina do saco gestacional. Além disso, há outros achados pertinentes a apenas uma ameaça de aborto, como saco gestacional bem implantado, com contornos bem definidos e, provavelmente, com embrião apresentando batimentos cardíacos (só não foi visto nesse ângulo, mas está lá). Isso tudo fecha diagnóstico de ameaça de abortamento. A realização oportuna do exame é feita justamente para avaliar a absorção do coágulo (hematoma subcorial). O próprio desenvolvimento do saco gestacional rechaça o conteúdo para a extremidade da parede, fazendo a gestação persistir. A própria placenta primitiva continua aderida ao tecido uterino. 2. Abortamento inevitável • Progressão da ameaça de abortamento 4 • Transição para a forma completa ou incompleta do abortamento: em geral, bem precoce. A forma incompleta requer a intervenção do obstetra. • Concepto pode, ainda, manter a vitabilidade: ainda com batimentos cardíacos, mas em intervalo de horas, já não apresenta mais tal vitabilidade. • Sangramento moderado / acentuado • Cólicas moderadas / acentuadas: são a contração uterina na fase expulsiva do abortamento. • Volume uterino compatível com a IG: dependendo do que se perdeu de conteúdo intracavitário, pode ser incompatível. • Exame especular: mensurar o sangramento, expulsão parcial do material gestacional. • Toque obstétrico: colo uterino pode se apresentar pérvio, já com alguma dilatação, devido ao trabalho uterino de modificação cervical. • USG: saco gestacional irregular, heterotópico (já fica mais próximo do orifício cervical externo) e o feto com ou sem vitabilidade (FCEmb). Condutas • Internação hospitalar: o sangramento pode ser volumoso, levando a um quadro de choque, por isso tem que internar. Aguarda a expulsão ou parte para esvaziamento uterino, se o sangramento for muito importante. • Monitoramento ostensivo do sangramento genital • Se há evidências de expulsão ou hemorragia assumir conduta de esvaziamento uterino • Analgesia • Pesquisa do fator Rh, VDRL e anemia: faz classificação sanguínea, para realizar transfusão de sangue, quando necessário. A determinação do fator Rh é importante para fazer profilaxia da isoimunização Rh. Toda gestante Rh negativo, cujo companheiro é positivo, tem 75% de chance de ter um bebê Rh positivo, gerando incompatibilidade sanguínea materno-fetal. Qualquer fator hemorrágico na gestação pode levar a uma transfusão de sangue para a circulação materna, acarretando reação antígeno-anticorpo de isoimunização Rh. É preciso fazer profilaxia, pois uma vez isoimunizada, não há mais como reverter a situação. A pesquisa de sífilis também é rotina, pois é causa de abortamento. A investigação de anemia é importante a depender do grau de sangramento que a gestante possa apresentar. 3. Abortamento incompleto • Forma clínica mais frequente • Sangramento moderado / acentuado • Cólicas moderadas / acentuadas • Volume uterino incompatível com a IG • Exame especular: mensurar o volume de sangramento, expulsão parcial do material gestacional. Já começa a visualizar o conteúdo intracavitário de forma muito clara, às vezes o próprio feto, a membrana ou a placenta se exteriorizando. O colo fica bem dilatado, com herniação do conteúdo intracavitário, o que indica que em seguida ocorrerá o abortamento. • Toque obstétrico: colo uterino pode se apresentar pérvio. • USG: saco gestacional irregular, heterotópico e o feto sem vitabilidade (FECmb) ou visualização de ecos amorfos intracavitários. Não há mais definição de produto gestacional – não se consegue diferenciar placenta, membrana amniótica, embrião, saco gestacional etc. São restos de fragmentos de tecidos e coágulos juntos, o que caracteriza a forma incompleta de aborto. Do ponto de vista clínico, quando se fala do abortamento completo, o sangramento diminui, as cólicas cessam, a altura de fundo de útero é menor que a IG esperada, o colo de útero já praticamente colabou e fechou. Na USG, vê-se eco linear, bem fino e delgado, que caracteriza colabamento das duas paredes – anterior e posterior do útero. Isso nos tranquiliza, pois sabemos que o abortamento foi completo, então a conduta é expectante. Já no abortamento incompleto,em que ainda há conteúdo a ser eliminado, haverá mais cólica e sangramento, exigindo que se parta para procedimentos de esvaziamento uterino. Conduta • Internação hospitalar • Monitoramento ostensivo do sangramento genital • Assumir conduta de esvaziamento uterino: AMIU, curetagem convencional. o AMIU: aspiração manual intrauterina. Faz em gestação com menos de 12 semanas, que tem conteúdo de tecidos moles. o Curetagem convencional: deixa conteúdo ser eliminado ao máximo e depois parte 5 para esse método; faz em gestações mais avançadas. • Acesso venoso e analgesia: não raro as mulheres têm hemorragias pronunciadas. Usa para repor volume e fazer analgesia. • Pesquisa do Fator Rh, VDRL e anemia. O AMIU é composto por uma seringa grande, que faz pressão negativa no êmbolo. A depender da dilatação encontrada no colo, usa um calibre de cânula diferente, os quais são separados por cores. Tudo vai depender do nível de dilatação do colo. Introduz a cânula no interior da cavidade uterina e desfaz o vácuo, sendo o material sugado para dentro da seringa. Quando a gestação é um pouco mais avançada, é muito prudente esperar a expulsão máxima do conteúdo da cavidade. Isso é feito com o misoprostol, que leva a uma forte contração uterina, daí a importância da analgesia na paciente. Em seguida, faz-se uma curetagem convencional – literalmente, uma raspagem da parede anterior e posterior do útero, bem como de seu fundo, no sentido de trazer esse material para fora. É importante que se faça essa limpeza porque a cavidade que mantém restos em seu interior permanece sangrando, além do risco de haver um processo infeccioso na cavidade uterina. 4. Abortamento completo • Eliminação total do material gestacional • Mais frequente nas formas precoces, em geral, até 8 semanas • Diminuição progressiva do sangramento genital • Diminuição progressiva ou ausência de cólica uterina • Ecografia: eco central fino sem evidências de conteúdo intrauterino. Conduta • Orientar a paciente quanto aos achados clínicos e ecográficos • Prescrição de sintomáticos • Observar evolução do sangramento genital • Solicitar Fator Rh e VDRL 5. Abortamento infectado • Presença de restos ovulares na cavidade uterina • Persistência das cólicas e sangramento • Em geral, decorrente de abortamentos ilegais • Febre, taquicardias, eliminação de material purulento • Estado geral toxêmico • Útero amolecido • Etiopatogenia: polimicrobiana com agentes da flora vaginal e intestinal. É por isso que o tratamento antibiótico é de amplo espectro. o Cocos anaeróbicos, gram-negativos, bacteróides, Clostridium perfringens. Pode evoluir para formas complicadas, que levam à endometrite, pelve peritonite, sepse, tromboflebite pélvica e abscessos pélvicos. Muitas vezes, não há outra alternativa a não ser a histerectomia. Diante de um abortamento infectado, que é uma consequência de um abortamento incompleto, a primeira conduta é esvaziar o útero, tentando tirar ao máximo esse conteúdo, que serve como meio de cultura para proliferação bacteriana. Assim, parte para a curetagem uterina, que é mais difícil, porque o útero está amolecido e inflamado. Existe sempre o perigo da perfuração uterina. Geralmente, faz antibioticoterapia anteriormente ao procedimento, assim como drogas uterotônicas, a fim de manter o útero bem contraído, para poder limpar com a cureta. O problema é que, às vezes, a forma infecciosa não se restringe ao endométrio superficial, mas já adentrou na parede do útero, tubas uterinas e foi para a pelve, causando pelve peritonite. Pode haver danos à cavidade uterina, ovários e pelve. Às vezes, sepse. Deve-se lembrar que um fator de risco para tromboflebite infecciosa é a pelve peritonite. Hoje em dia é um evento muito raro, mas temos que ter sempre em mente que o abortamento incompleto, quando não bem assistido, pode evoluir para essa situação. Conduta • Acesso venoso com hidratação • Avaliar necessidade de hemotransfusão • Solicitação de exames: hemograma, função hepática, renal, hemocultura, gasometria, lactato, fator Rh, VDRL, ecografia transvaginal e de abdome total. • Antibióticos por 7 – 10 dias 6 o Sem sepse: clindamicina 600 mg + SF 0,9% 100 ml, IV, 6-6h; gentamicina 240 mg + SF 0,9% 100 ml, dose diária. o Com sepse: amoxicilina 1g, IV, 6-6h; clindamicina 600 mg + SF 0,9% 100 ml, IV, 6-6h; gentamicina 240 mg + SF 0,9% 100 ml, dose diária. o Proceder à curetagem uterina por AMIU ou convencional. o Se afebril por mais que 48h nos casos sem sepse, suspender antibióticos. Nos casos de sepse, manter esquema por 7-10 dias. 6. Aborto retido • Formas clínicas o Abortamento retido: identifica saco gestacional, embrião, mas sem batimentos cardíacos. o Ovo anembrionado: quando a mulher vem fazer o exame, vê-se o saco gestacional, mas não se vê o eco embrionário dentro dele. • Sintomatologia pouco expressiva. Em geral, é um achado ecográfico incidental, que ocorre em uma USG de rotina. Geralmente, após 3 semanas, inicia-se a fase clínica do aborto. Caso não ocorra, proceder à curetagem, pelo risco de coagulopatia. Provavelmente, essa retenção se dá por 30 dias, depois disso a mulher entra em uma fase abortiva clássica. Um tempo maior que esse, 45-60 dias de retenção desse produto, poderia levar a uma coagulação intravascular disseminada, pela absorção desses tecidos fetais, os quais têm uma expressão antigênica e desencadeadora de um processo de coagulopatia, embora tudo isso seja extremamente raro. Conduta • Até 12 semanas: misoprostol 400-800 mcg a cada 3h, até condições de execução da curetagem por AMIU ou convencional. • Após 12 semanas o Misoprostol 200 mcg a cada 4 ou 6h o Ocitocina, IV, SG 5% (20 UI – 20 gotas por minuto o Seguido de AMIU ou curetagem convencional após expulsão do feto o Inibição da lactação com cabergolina 0,5 mg dose única. Critérios ecográficos de viabilidade da gestação • Saco gestacional dentro do útero • Vesícula vitelínica • Membrana amniótica • Embrião (CNN / CCN): faz medida do Comprimento Cabeça Nádega. Acima, temos (1) saco gestacional dentro do útero, contendo um anel extra amniótico, que é a vesícula vitelínica (reduz em tamanho e é incorporada aos tecidos à medida que o embrião cresce), (2) membrana corioamniótica e área de espessamento, mostrando área de aderência da placenta à parede do útero, junto com o feto (onde faz a medida do comprimento cabeça nádega, para definição da idade gestacional e, na região central, identifica-se a FC do feto). As outras duas imagens ele não comentou. Abaixo, imagem ecográfica de abortamento incompleto. Na região central, há uma área de espessamento completamente amorfa, mostrando conteúdo intracavitário típico dessa forma clínica. No abortamento completo, não se encontra essa espessura, mas sim as duas paredes uterinas colabadas, com eco fino, totalmente linear, caracterizando eliminação total do conteúdo gestacional. Achados diagnósticos de aborto na USG transvaginal O diâmetro médio de saco gestacional maior que 25 mm sem evidência de embrião ou vesícula vitelínica, nos faz pensar fortemente em abortamento retido. Nesse caso, temos um ovo anembrionado. Uma outra possibilidade é um embrião com menos de 7 mm sem batimentos cardíacos. Às vezes, é muito difícil de ver esses batimentos em embriões muito pequenos. Quando maiores, é mais fácil, então se não houver batimentos, dá- se o diagnóstico de aborto retido. 7 Um outro achado é o diâmetro de saco gestacional maior que 18 mm, mesmo sem embrião, mas 70 dias ou mais após a data da última menstruação (DUM). Não é tão relevante, porque nunca se tem a certeza se a DUM é verdadeira. Em geral, nos apegamos às duas primeiras variáveis. Na maioria dasvezes, por precaução, repete a USG após 14 dias. Se ela não apresentar sinais clássicos de abortamento, 14 dias depois, fecha diagnóstico e faz esvaziamento. Achados ecográficos relacionados ao diâmetro do saco gestacional e medida do embrião: faz as três medidas do saco gestacional e, em seguida, faz média aritmética. Com mais de 25 mm, tem que ver embrião. Em caso de embrião com mais de 7 mm, temos que ver a FC dele para falar da vitabilidade ou ausência de batimentos cardíacos. Se ausente, fecha diagnóstico de aborto retido. Perceba, acima, que a proporção da vesícula vitelínica com o embrião é grande. Abaixo, observar corpo lúteo gestacional. Na fase folicular, era um folículo anecoico, que rompe e se retrai, dando imagem borrada na área central do corpo lúteo, mas o que chama atenção é a coroa de vasos que fecha toda a cavidade dessa estrutura, trazendo hormônios necessários e a liberação de hormônios gestacionais, no caso a progesterona. Ao lado, achado incidental de 22 semanas de gestação. No exame morfológico, deu para ver, pelo abdome, que o colo do útero estava dilatado e a bolsa amniótica herniava pelo orifício cervical interno. Há herniação da bolsa amniótica pelo canal endocervical até o orifício cervical externo. Quando se colocava o espéculo, identificava colo dilatado e membranas amnióticas protusas. É um achado incidental de uma incompetência ístmico cervical, geralmente relacionada com abortamento habitual e tardio, quando não prematuro extremo. Sempre associar com clínica.
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