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Enfermidades pelo Gênero Salmonella 45 Tatiane Alves da Pa ixão 1 José Paes de Almeida Nogueira Pinto e Renato de Lima Santos ► Definição Doenças infectocontagiosas de potencial zoonótico cau- sada por diferentes sorotipos do gênero Salmonella, ca- racterizada por sinais entéricos e septicêmicos em ani- mais e humanos. Sinonímia: salmonelose. ► Etiologia O gênero Salmonella inclui bactérias gram-negativas per- tencentes à família Enterobacteriaceae. Esses microrganis- mos intracelulares facultativos têm formato de bacilos (0,5 a 1,5 µm) , são móveis por flagelos, capsulados ou não, além de não formarem esporos. As condições ótimas de isola- mento são temperatura de 37ºC e pH entre 6,5 e 7,5. Salmonelas são bactérias aeróbias isoladas de afec- ções extraentéricas em meios de cultura convencionais, como ágar suplementado com sangue ovino ou bovino (5%), mostrando colônias acinzentadas, não hemolíticas, com 1 mm de diâmetro, após 24 de incubação a 37ºÇ. É mais comum, todavia, proceder ao isolamento seletivo com meios específicos em amostras de origem fecal. O isolamento das fezes de animais é realizado em condições de aerobiose, em meios especiais para entero- bactérias ou específicos para o gênero Salmonella, como ágar MacConkey, ágar Salmonella-Shigella, ágar verde brilhante, ágar sulfito de bismuto, ágar Levine e ágar XLD, geralmente subcultivados previamente por 12 a 48 h, em meios líquidos seletivos, como caldo tetrationato, caldo selenito ou Rappaport. São conhecidos mais de 2.500 sorotipos de salmone- la, classificados com base na identificação sorológica dos antígenos somáticos (O) , flagelares (H) e capsulares (Vi). Todos os sorotipos pertencem a apenas duas espécies: Salmonella enterica (S. enterica) e Salmonella bongori (S. bongori). S. enterica tem cerca de 2.400 sorotipos, em sua maioria patogênicos para animais e humanos, enquanto s. bongori contém 20 sorotipos. Embora se ~o_nside:e, para efeito deste capítulo, apenas as duas espec1es das- sicas de salmonela, recentemente foi proposta uma nova espécie pertencente ao gênero, denominada Salmonella subterranea (S. subterranea). A espécie S. enterica é dividida e~ seis su~es~écies, denominadas enterica, salamae, anzonae, dzanzonae, houtenae e indica, numeradas como I, II, IIIa, IIIb, IV e VI, respectivamente. Todos os sorotipos que infectam animais de sangue quente pertencem à subespécie I. A maioria dos sorotipos de interesse veterinário pertence à S. enterica subesp. enterica. A grafia completa do sorotipo Typhimurium, sob a óptica taxonômica, seria S. enterica subesp. enterica so- rotipo Typhimurium ( o sorotipo não é grafado em itálico e somente a primeira letra é maiúscula). No entanto, tem sido consagrada pelo uso, e pela maioria dos microbiolo- gistas, a grafia simplificada, que denomina o agente de S. Typhimurium (ficando ocultas a espécie enterica e a su- besp. enterica) , a qual será adotada neste capítulo. S. enterica é capaz de infectar grande número de es- pécies de hospedeiros. Alguns sorotipos, como Typhimu- rium, infectam amplo espectro de hospedeiros, enquanto outros, como Dublin e Choleraesuis, são hospedeiro- adaptados ou apresentam certa seletividade por espécies animais, infectando, preferencialmente, bovinos e suí- nos, respectivamente, embora esses dois sorotipos man- tenham a capacidade de infectar outras espécies, como os humanos. Outros sorotipos adaptados são Abortusequi ( em equinos) , Abortusovis (em ovinos) , Pullorum e Galli- narum (em aves) . Os sorotipos Newport, Anatum, En- teritidis, Agona e Montevideo têm sido isolados com certa frequência em animais, mas não têm preferência por espécies. Typhi e Paratyphi são sorotipos que infec- tam, preferencialmente, os humanos, causando, respec- tivamente, febre tifoide e paratifo. Os demais sorotipos Capítulo 45 • Enfermidades pelo Genero ;:ia.11 nv, ,r::ua tram baixa (ou Jt1Sellc1a de) especificidade por li . )11()S . . . _, . . . . . . . _ l)S d l·ros e podem rnlu 1,11 md1s t:n1·a111enlc anini· ·. , A fon te de infc<..çao principal consiste nos própri os animais, que eliminam a bactéria pelas fezes. Muitos ani- mais são considerados hospedeiros de manutençáo, que mantêm o microrganismo e o eliminam pel as táes para o ambiente. pe e ,tis e 1 umanos. . . . 1 Apesar da mawr fre_quefü·1;:: de iso lamento dos soro- . s adaptados, nas dderentcs espécies an imais ci·tad tJPº . . , . as, sorotipo Typh1munu m e o mais prevalente na maioria ~os animais. _Assim, as maniiestações clínica e patológi- ca das infecçoes por ~almonela dependem da espécie do hospedei~o e_ d~ sorot~po env~lvi~o .. Os pnnc1pa1s fato1es de v1rulenc1a das estirpes de sal - O reconhecimento desses hospedeiros de manuten ção é fund amental para os estudos epidemiológicos de rastreamento de casos ou surtos, bem como para a ado ção de ações de controle e profilaxia. No entanto, mui tos animais podem albergar o agente na mucosa do íleo, no ceco, no cólon e nos Jinfonodos mesentéri cos, sem aparentar sinais clínicos, embora eliminem o microrga- nismo por cerca de 6 semanas ou mais pelas fezes. A bactéria pode manter-se viável no ambiente 6 a 9 meses, fato que propicia a transmissão e, consequentemente, dificulta o controle. monela são rep_resentad~s por presença de cápsula (K), flagelo (H), ptlt ou adesm~s (P), lipopolissacarídios de membrana (LPS!, enter~to~mas e plasmídios. As estirpes ou sorotipos mais patogemcos parecem ser capazes de se multiplicar intracelularmente. Evidências recentes apon- tam que certos isolados de salmonela produzem enteroto- xina termolábil, associada à ocorrência de diarreia. A infecção de animais e humanos ocorre, em geral, pela via oral, por ingestão de água e alimentos contamina- dos por fezes (carne, frutas e verduras) , que representam as principais vias de transmissão da bactéria. Fômites e utensílios de uso comum em animais ( comedouros e be- bedouros) também podem servir como veiculadores do patógeno nos criatórios. ► Epidemiologia A salmonelose figura entre as mais importantes doenças infectocontagiosas, em razão do elevado número de espé- cies animais que acomete, assim como por seus reflexos na saúde humana, em virtude do potencial zoonótico de vários sorotipos. Em razão da característica oportunista da bactéria, outras portas de entrada, além da via oral (digestória), são observadas na infecção por salmonela em animais, como as vias geniturinária, umbilical, cutânea, conjunti - va! e transplacentária. Ocasionalmente, a infecção pode ocorrer pela via respiratória em ambientes excessivamen- te contaminados ou em laboratórios, em virtude da for- mação de aerossóis. Particularmente nas aves, os soroti- pos Enteritidis, Pullorum e Gallinarum podem infectar os ovários e são veiculados, por vezes, para os ovos. A epidemiologia da salmonelose é extremamente com- plexa, dada a variedade de espécies animais envolvidas, bem como os diferentes sorotipos do patógeno e o papel dos alimentos e da água na veiculação da bactéria, tornan- do difíceis as ações de profilaxia e controle. Salmonela tem distribuição cosmopolita. Cerca de 2.500 sorotipos já foram descritos em diferentes países. Em sua maioria, não são hospedeiro-específicos. Assim, diferentes espécies animais podem albergá-los e inter- cambiá-los, muitos dos quais associados às várias ma- nifestações entéricas e extraentéricas. Da totalidade dos sorotipos descritos, cerca de 70 a 80 são reconhecidos como os mais patogênicos, todos pertencentes à espécie S. enterica subesp. enterica. Historicamente, têm-se observado variações na pato- genicidade entre os sorotipos na etiologia da salmonelo- se, embora S. Typhimurium e, recentemente, S. Enteriti- dis estejam entre os mais frequentes, tanto em humanos como em animais. A doença entérica e septicêmica é mais comum em animais jovens, até 1 ano de idade, apesar de predominar em bezerros, potros, suínos e cães com menos de 4 meses de idade.Animais velhos ou imunossuprimidos, entre- tanto, também desenvolvem doença clínica. Na ocorrência da doença, não existe predileção por sexo dos animais, exceto nos casos de piometra em ca- delas. Efeito sazonal pode ser observado em períodos de maior pluviosidade em certas regiões ou países, em razão do maior acúmulo de sujidades e umidade, o que pode fa - vorecer as infecções pela bactéria em animais domésticos. O estabelecimento da doença depende de alguns fa- tores, como espécie animal, dose infectante do patógeno, sorotipo envolvido, virulência do agente, higidez do hos- pedeiro e condições de criação dos animais. Dentre as condições de manejo e criação dos animais, considera-se que animais criados sob confinamento estão mais sujeitos à infecção, pois há maior proximidade dos animais, acú- mulo de matéria orgânica e, consequentemente, facilidade de disseminação do agente nesse tipo de ambiente. Mesmo não desenvolvendo a doença clínica, muitos desses ani- mais servem como reservatórios e continuam eliminando o agente pelas fezes, recontaminando o ambiente e perpe- tuando condições propícias para novas infecções. Além disso, a baixa ingestão de colostro (hipogama- globulinêmicos) predispõe os animais domésticos, nas pri- meiras semanas de vida, ao desenvolvimento de infecções respiratórias e entéricas, particularmente a salmonelose. O excesso de matéria orgânica em ambientes como baias, salas de ordenha, capris, apriscos, bezerreiros, ca- nis, gatis ou outros locais de alto fluxo e concentração de animais favorece a ocorrência da doença. A contaminação 479 Seção 1 • Bactérias de aguadas e bebedouros por fezes de animais é outro fa - tor que deve ser levado em consideração na ocorrência da doença. Deficiências na limpeza e na antissepsia do umbigo de animais domésticos recém-nascidos estão associadas à infecção por via umbilical e ao desenvolvimento de doen- ça sistêmica, como septicemia, artrite e pneumonia. Ademais, mudanças bruscas no regime alimentar, extremos de temperatura, superlotação, transporte e pre- nhez são fatores estressantes que podem favorecer a mul- tiplicação do microrganismo no ambiente entérico. O consumo de carne crua por animais domésticos (principalmente cães e gatos), silvestres ou selvagens (zoo- lógicos e centros de recuperação de animais) pode faci- litar a transmissão da bactéria pelo alimento cru ou sem tratamento térmico. Nos EUA, estudos têm apontado a contaminação de rações comerciais para animais de com- panhia ou suplementos alimentares que utilizam carne ou subprodutos mal cozidos ou crus. A proximidade da genitália das fêmeas com o reto possibilita a invasão do útero por certas estirpes de sal- monela, pela via ascendente - particularmente em cade- las - resultando em quadros de piometra. O trânsito de pessoas e veículos também é outro fator que deve ser considerado na disseminação do patógeno, além da presença de roedores, animais silvestres e outras espécies domésticas no ambiente de criação. --: : i' . ... . , -~ ""e' i , ' .... , tA A doença em animais de produção causa grandes prejuí- zos, em razão da ocorrência de diarreia, emagrecimento, in - fecções sistêmicas (pneumonia, artrite e septicemia) e morte ocasional. Há prejuízos associados, ainda, à redução da pro- dução de leite, carne e lã, assim como ao desenvolvimento de ninhadas desuniformes em suínos. A salmonelose é motivo de preocupação, também, em animais de companhia, seja por quadros clínicos graves, ou pelo fato de essas espécies atuarem como reservatórios do patógeno para humanos. ► Patogenia A patogenicidade das linhagens e dos diferentes sorotipos do gênero Salmonella depende fortemente da capacida- de da bactéria de invadir células epiteliais do hospedeiro, sobreviver e se multiplicar na circulação e no interior de células fagocíticas dos suscetíveis (Figura 45.1) , assim como de se disseminar pelos vários órgãos dos animais. Salmonela tem vários mecanismos de patogenicida- de. Dentre os mecanismos relacionados com a virulência bacteriana, devem ser considerados, cápsula (K), flagelo (H), pili (P) ou adesinas, lipopolissacarídios de membra- na (LPS) , enterotoxinas e plasmídios. A cápsula presente em certas estirpes dificulta a fago - citose por neutrófilos e macrófagos, enquanto os flagelos possibilitam a mobilidade bacteriana. As adesinas, ou pili, são responsáveis pela aderência da bactéria aos enteróci- tos e a outras células suscetíveis. O antígeno somático (O), .. . ·. • f . • 1 s 1 Figura 45.1 lmunomarcação de S. enterica sorotipo Typhimurium na mucosa ileal de bezerro infectado experimentalmente. A. Intensa imunomarcação de salmonela, 15 min após inoculação, associada à superfície apical do epitélio intestinal. s. 1rnuno- marcação da bactéria localizada profundamente na lâmina própria 2 h após a infecção. caJízado na par~de cel~l~r, apr~senta ~PS_e1,11 _sua eslru tu - 10 . 'dio A e pohssacand10 ), CUJa porçao l1p1d1Ca está rela r'.1 (hp~a com os processos de choque endotóxico. Os plas- ·1ona • . . (.. 'd' 5 têm DNA extracromossom1co, transmissível entre 1111 !O . e d . 1 • . ·tS estirpes: que car~e1~11~ 1~tores ~ v1_ru en~ia assoc!ados '. istência aos antlm1Crob1anos e ,1 produçao de toxmas. a res . d ']ul - e , . d Salmonela mva e ce as nao 1agoc1t1cas o hospedeiro . um processo muito semelhante à fagocitose. As célu- Pº1 Ivo infectadas são, primariamente, as células M das pla- las-a d b . , , . as de Peyer e, no caso os ovinos, tambem os enterocitos cp·aura 45.2). Ao entrar em contato com a superfície apical ( 1 " · 1· · d h d . b ' · e das células epite ia1s o ospe e1ro, a actena trans1ere pro- , as bacterianas efetoras para o interior do citoplasma da rern , . é!ula-alvo. Esse processo e determmado por mecanismo de cecreção do tipo III, codificado pela ilha de patogenicidade ~ de sabnonela ( ou SPI, do inglês Salmonella pathogenicity ís/and). Esse sistema transfere proteínas bacterianas com ação de quinases, fosfatases ou com afinidade pelo citoes- queleto da célula, result~do em alteração das vias de sina- lização intracelular e do c1toesqueleto. Esse processo resulta na polimerização de actina e na indução de um fenômeno semelhante à fagocitose, que possibilita a internalização do microrganismo na célula não fagocítica do hospedeiro. Estirpes mutantes, com o sistema de secreção do tipo III afuncional, são incapazes de invadir as células do hos- pedeiro. Além disso, estudos recentes identificaram cinco proteínas bacterianas efetoras ( que são transferidas para o citoplasma da célula do hospedeiro), consideradas essenciais para a capacidade de invasão do gênero Salmonella. A estru- tura do sistema de secreção do tipo III da SPI-1 também foi estudada em detalhes, resultando na identificação de wna estrutura semelhante a uma agulha de injeção, de 80 nm de comprimento, constituída por várias proteínas bacterianas. ' '. --- - ,- - - - Estudos rea lizados 110 início da década de 1990 de- monstraram as caraclerblicas morfológicas e a dinâmica de interação da salmonela com as células epiteliais intestinais. [mediatamente após o contato inicial com a célula do hospe- deiro, formam -se projeções ci toplasmáticas, com alteração cio citoesqueleto da região adjacente. Essas projeções envol- vem a bactéria, que é internalizada em um vacúolo revestido de membrana. Esse processo tem início cerca de 40 s após o contato da bactéria com a superfície apicaJ do enterócito, e a internalização da bactéria completa-se em menos de 30 min. Essas alterações morfológicas da célula do hospedeiro incluem a ação de proteínas efetoras bacterianas, que in- terferem nas moléculas de sinalização da célula do hospe- deiro, como as GTPases ( do inglês, guanosine tríphosphate hydrolase) Rho (Cdc42 e Rac-1) . Esse mecanismo leva a alterações do citoesqueleto, incluindo o recrutamento e a polimerização de seus componentes, como a actina, o que resulta na formação deprojeções e na indução de processo semelhante à fagocitose. Salmonela é sensível a estímulos ambientais, como con- centração de oxigênio, osmolaridade e pH. Assim, o mi- crorganismo consegue reconhecer o ambiente do lúmen intestinal, o que determina a expressão de genes bacterianos responsáveis pela invasão. Com o microrganismo interna- lizado no citoplasma da célula do hospedeiro, as condições ambientais são alteradas, o que resulta em mudança no per- fil da expressão gênica da bactéria, passando-se a reprimir a expressão de genes necessários à invasão e a induzir genes necessários à sobrevivência intracelular. Apesar de a invasão intestinal pela bactéria depender for- temente do mecanismo ativo citado, há também wn modo alternativo de invasão, mediado por células dendríticas (CD18+), as quais apresentam projeções citoplasmáticas que Figur_a 45.2 Microscopia eletrônica de transmissão. Mucosa intes~inal _de bezerro 15 min apó~ i_noculação expe!imental ~om_ S. e_ntenca sorotipo Typhimurium. A. Bactéria em contato com as m1c;o_v1los1dades de um enteroc1to, c~m formaçao de proJe?~es citoplasmáticas (seta tracejada) e bactérias internalizadas em enterocItos (~eta) . Ba~~a = 2.4 µm . B. Celula M contend~ bactenas Intracitoplasmáticas (seta) . Barra= 1 µm. Fonte: Santos RL, Zhang S, Tsohs RM, Baumler AJ, Adams LG . Morpholog1c and mo- lecular characterization of Salmonella Typhimurium infection in neonatal calves. Vet Pathol. 2002;39(2) :200-15. 481 Seção 1 • Bactérias 1 chegam :1 .~ upcrfície apical do epitélio, possibilitando a inter- na I ização da bactéria sem a necessidade de o microrganismo atravessar a barreira epitelial. Não está totalmente esclareci- do, contudo, o significado dessa rota alternativa de invasão na patogênese da diarreia induzida pelas estirpes do patógeno. Outro aspecto importante na patogenia é a capacidade de sobrevivência de salmonela, bem como de multiplicação no interior de células fagocíticas e não fagocíticas do hos- pedeiro. Diversos genes bacterianos são associados a esse mecanismo de virulência, mas a ilha de patogenicidade 2 tem papel extremamente importante na sobrevivência in- tracelular do patógeno. Essa ilha codifica outro sistema de secreção do tipo III que, à semelhança do descrito anterior- mente, é responsável pelo transporte de proteínas bacteria- nas efetoras para o citoplasma da célula do hospedeiro. No entanto, nesse caso, tais proteínas são essenciais para aso- brevivência da bactéria no interior da célula do hospedeiro. Assim que o patógeno invade o ambiente intracelular, ocorre uma mudança no perfil de expressão gênica da bac- téria, visto que é sensível aos sinais que caracterizam o am- biente intracelular. Esse processo resulta em indução da ex- pressão de genes essenciais para a sobrevivência intracelu- lar, incluindo a ilha de patogenicidade 2. Um dos principais sinais ambientais para essa mudança no perfil de expres- são gênica é a baixa concentração de Mg2+, que sensibiliza um sistema regula.tório de dois componentes, chamado de PhoP-PhoQ. A proteína PhoQ, localizada na superfície da bactéria, é alterada pelos sinais ambientais e pela fosforila PhoP, ativando a expressão de vários genes que favorecem a sobrevivência intracelular, ao mesmo tempo que reprime a expressão de genes envolvidos nos mecanismos de invasão de células não fagocíticas. Certos patógenos, capazes de sobreviver e multiplicar- se nas células do hospedeiro, tal como o gênero Salmo- nella, conseguem evadir-se da formação do fagossomo, localizando-se no citoplasma da célula-alvo. A maioria dos microrganismos que sobrevivem em células do hospedeiro, contudo, apresenta vacúolos revestidos de membrana. Os microrganismos providos de vacúolos podem ser separados em três grupos: (a) organismos que residem em vacúolos que não se fundem com nenhuma organela da cascata endocítica, (b) organismos seletivamente fusogêni- cos ( como salmonela, cujo vacúolo é modificado por fusão seletiva) e (c) completamente fusogênicos, que seguem as vias normais de maturação do fagolisossomo. Em macró- fagos, o vacúolo que contém estirpes de salmonela sofre acidificação rápida, que resulta na inativação da maior par- te dos organismos fagocitados. Os microrganismos sobre- viventes influenciam ativamente a maturação do vacúolo, que adquire, seletivamente, marcadores de maturação, os quais podem ser incorporados ou excluídos. Tal modifica- ção do tráfego intracelular requer a ação do sistema de se- creção do tipo III, codificado pela ilha de patogenicidade 2 e, particularmente, de uma proteína efetora chamada SpiC. 482 A explosão respiratória, dependente da oxida.se NAD PH (nicotinamida-adenina-dinucleótido-fosfato) ,éumdosme- canismos bactericidas mais importantes do macrófago. o patógeno é capaz de se evadir desse mecanismo,_por impe- dir que os componentes da oxida.se NADPH seJam recru- tados para a membrana do vacúolo que_contém º ,micror- ganismo. Nessas condições, a preser~a~ao _do vacuo~o que contém Salmonella favorece a sobrev1vencia e a replicação do microrganismo. Interessantemente, uma das_ prot~ínas efetoras de salmonela, a SifA, atua na manutençao da inte- gridade da membrana do vacúolo. Esses me~anism~s tam- bém são dependentes do sistema de secreçao do tipo III , codificado pela ilha de patogenicidade 2. Outro aspecto importante da patogênese da salmonela é capacidade da bactéria de induzir morte celular em macró- fagos, mediada, nesse caso, pela caspa.se 1 \também chama- da de ICE, do inglês interleukin-1 convertmg enzyme) , que tem como substratos as interleucinas IL-113 e IL-18, citoci- nas fortemente pró-inflamatórias, que são clivadas e ativadas pela ação da caspa.se 1. Esse fator é depe~d~nte do sistema de secreção do tipo III da ilha de patogemc1dade 1, que se- creta flagelina para o interior do citoplasma de macrófagos. A flagelina é reconhecida pelo receptor citoplasmático Ipaf, desencadeando a ativação da caspa.se 1 e a morte celular do macrófago. Esse mecanismo recebeu o nome piroptose ( em contraste à apoptose, que ocorre na ausência de inflamação), em virtude da natureza pró-inflamatória desse processo. À semelhança do que ocorre nos macrófagos, salmo- nela também é capaz de sobreviver e multiplicar-se em células dendríticas. De maneira geral, após a infecção dos animais por via oral, as células epiteliais do intestino constituem a primei- ra barreira a ser transposta pelo microrganismo. Dada a importância do sistema de secreção do tipo III, codifica- do pela ilha de patogenicidade l , na invasão de células epiteliais, as estirpes mutantes da bactéria - nas quais esse sistema se encontra inativa.do - são praticamente a.pato- gênicas para a mucosa intestinal. As células epiteliais do intestino desempenham fun - ção importante na indução da resposta inflamatória do hospedeiro, uma vez que produzem mediadores de in- flamação, particularmente quimiocinas da classe CXC (como IL-8), que são quimiotáxicos para neutrófilos, in- duzindo, assim, a infiltração e a migração transepitelial de neutrófilos para o lúmen intestinal. A infiltração de neutrófilos acontece rapidamente após a invasão da mucosa intestinal por Salmonella sp. A secreção de IL-8 ocorre somente no sentido basolateral do epitélio intestinal, sendo responsável, primariamente, pelo recrutamento de neutrófilos do compartimento in- tra.vascular para a lâmina própria. Ademais, outros fatores quimiotáxicos (como a hepoxilina A3) são secretados no sentido apical do epitélio, os quais induzem a migração transepitelial e o acúmulo intraluminal de neutrófilos. Além de IL-8, várias outras quirniocinas e cito • , . . _ emas ró-intlamato~ias sao produzidas durante a invasão da P cosa intestinal pela salmonela. A produção de m _ d' mu , . , e ia - dores inflamatonos por celulas epiteliais é estimulada pelo reconhecimento, por parte ?ªs células do hospedeiro, de padrões moleculares de ?ato.genos, mediado por recepta- s do tipotoll (TLR, do mgles toll-like receptors). Exemplo re , , fl desse processo e a resposta a agelina, mediada por TLR-S, ue se localiza na membrana basolateral do enterócito, mas ~ão na membrana apical. Assim, a flagelina somente con- tribui para o desencadeamento da resposta inflamatória após a invasão pe_la bactéria, evitando a indução de infla- mação por orgamsmos flagelados que, mesmo em condi- ões normais, habitam o lúmen intestinal. ç o resultado da forte resposta pró-inflamatória induzida por Salmonella sp. é um proc~~so inflamatório agudo, grave, predominantemente ~eutr?fíhco. O grande afluxo de neu- trófilos resulta em lesao tec1dual e necrose superficial da mu- cosa, com extravasamento de grande quantidade de líquido rico em proteína ( exsudato) para o lúmen intestinal (Figura 45.3). Esse processo caracteriza a enteropatia induzida por salmonela como diarreia primariamente exsudativa. Embo- ra a inflamação intestinal possa ser vista como a primeira Unha de defesa do hospedeiro, a enterite induzida pelo pa- tógeno favorece a disseminação do microrganismo no am- biente e, portanto, a transmissão da doença. A adaptação da bactéria ao ambiente intestinal infla- mado é tamanha que o processo inflamatório leva à ex- pressão de peptídios antibacterianos, como a lipocalina 2, que suprimem a microbiota entérica, enquanto o pató- geno resiste a esse efeito supressivo do lúmen intestinal, potencializando, portanto, a transmissão. Estudos recentes apontaram que certas linhagens de salmonela produzem uma enterotoxina termolábil, a qual ativa a adenilciclase nos enterócitos, resultando na perda Capítulo 45 • Enfermidades pelo Gênero Salmonel/a de fluidos e eletrólitos para o lúmen intestinal, em meca- nismo semelhante ao observado em estirpes de Escheri - chia coli enterotoxigênicas. O conjunto desses fatores patogéni cos provoca, nos animais, diarreia agud a, profusa, contendo ou não estrias de sangue. Além dos fluidos, os animais perdem grande quantidade de eletrólitos, particularmente bicarbonato, que resulta em acidez metabólica. Em alguns animais infectados por via entérica, 0 mi crorganismo pode atingir os linfonodos mesentéricos e, posteriormente, disseminar-se para outros órgãos, levan - do ao desenvolvimento, principalmente, de pneumonia e (poli)artrite. A multiplicação do microrganismo ou mes- mo a ação do sistema imune podem expor, na circulação, a fração lipídica do LPS bacteriano (lipídio A) , que inte- rage fortemente com os mediadores inflamatórios, resul- tando em sinais de choque endotóxico (febre, taquicardia, taquipneia, atonia ruminai e anorexia) , de curso fatal em muitos animais. Além disso, animais que desenvolvem bacteremia persistente, ou mesmo septicemia, geralmen- te apresentam comprometimento da resposta imune. Os bezerros têm servido como modelos experimen- tais da salmonelose, infectados, particularmente, por so- rotipos não tifoides de salmonela, como Typhimurium. Além da infecção oral, foi desenvolvido modelo de infec- ção em segmentos ligados (isolados) de íleo. Apesar da artificialidade, esse modelo de ligadura intestinal possi- bilitou a investigação de fenômenos que ocorrem durante as fases iniciais da interação do patógeno com o hospe- deiro. Análises por microscopia eletrônica nesse modelo demonstraram que salmonela induz projeções de mem- brana em células do epitélio intestinal do bezerro, à se- melhança do observado em cultivo celular. Verificou-se, também, detalhadamente, a cinética de invasão da muco- sa intestinal pelo patógeno (Figura 45.4) , que invade não ·1 112 h após infecção experimental por S. enterica sorotipo Ty~himu- Figura 45 3 Íleo bovino A Mucosa ileal normal. B. Mucosa , ea - d pseudomembrana Fonte: Santos RL, Zhang S, Tsohs RM , • • • • • • 1 t entuada e formaçao e · · M' b I f t num, com enterite necrosante f1bnnopuru ~n ª ac f Salmonella infections: gastroenteritis vs . typho1d fever. 1cro es n ec · Kingsley RA, Adams LG, Bãumler AJ . Animal models 0 2001 ;3(14-15):1335-44. 48~ Figura 45.4 A. Mucosa i~testinal normal de ~m ~ezerro. Barra = 50 ~Lm . B. l~testino ~ h apó.5 ~ infecção por s. enterica sorotipo Typhimurium, com retraçao acentuada das v1los1dades. Barra = 50 ~Lm. C. M1croscop1a e_letro~1ca de varredura da mucosa intes- tinal normal na placa de Peyer - mesmo segmento de A. Barra = 100 µm. D. Mucosa 1ntest1nal 3 h após a infecção - mesmo segmento de B. Barra = 100 µm. E. Mucos~ intestin_al 3 h após a infecção, com desprendimento de enterócitos e erosão na extre- midade da vilosidade. Barra = 30 µm. F. M1croscop1a de varredura do mesmo segmento de E, mostrando erosão das vilosidades (seta) . Barra= 30 µm. Fonte: San~os ~L, Zhang S, Tsolis RM , Bãumler AJ , Adams LG. Morphologic and molecular characterization of Salmonella Typhimurium infect1on 1n neonatal calves. Vet Pathol. 2002;39(2) :200-15. 484 somente as célula_s M das placas, de Peyer, rnas também nterócitos (ver Figura 45.2) e ate, eventua lmente, células e !íciformes. Constatou-se que a bactéria inicia a invasão ~: s células epit~~i ~is do _intestino 15 min após a inocula - ção e, após, 1 ~, Ja e ~oss1v_el obs~_rv~_r o microrgan ismo na lâmina propna d~ mtestmo, pt mupalmente no interior de macrófagos residentes da lâmina própria. ► Clínica Clinicamente, a doença pode ser dividida em manifesta- ões entéricas e extraentéricas (principalmente septicê-ç . . ' . . nücas) . Os sma1s entencos caractenzam-se por diarreia, inapetência/anorexia, febre, perda de peso e quadros de desidratação, que perduram 7 a 10 dias. Na manifesta- ção septicêmica, muit~s ~nimais podem morrer em até 48 h por choque endotox1co. As principais complicações da manifestação septicêmica ou da disseminação bac- teriana por via hemolinfática são pneumonia, artrite e meningite. Considerando que diversas espécies de animais do- mésticos podem ser infectadas por diferentes sorotipos, as várias manifestações clínicas das infecções pelo pa- tógeno (Tabela 45.1) serão descritas, a seguir, de acordo com o hospedeiro. Tabela 45.1 Principais sorotipos do gênero Salmonella e afecções em animais domésticos e humanos. Sorotipos Typhimurium Enteritidis Dublin Abortusequi Newport, Agona eAnatum Abortusovis e Brandenburg Choleraesuis Pullorum Gallinarum Comumente suscetíveis Domésticos em geral e humanos Domésticos em geral e humanos Bovinos Equinos Equinos Ovinos Suínos Aves jovens Aves adultas Afecções Enterite e diversas afecções extraentéricas (septicemia, poliartrite, pneumonia, hepatite, nefrite e endocardite) Enterite e diversas afecções extraentéricas (septicemia, poliartrite, pneumonia, hepatite, nefrite e endocardite) Enterite, septicemia, poliartrite e pneumonia Ocasionalmente, encefalite, abortamentos e osteomielite Abortamentos Enterite, cólica (fezes esverdeadas e diarreia profusa) , poliartrite e pneumonia Abortamentos Enterite, septicemia, pneumonia, hepatite e encefalite Enterite Tifo aviário Arizonae Perus Enterite . li WJ Leonard FC. Micro- Adaptada de Ouinn PJ, Markey BK, Carter ME, D~~;eri Art~ed; 2005. biolog1a veterinária e doenças 1nfecc1 osas. Porto g Capítulo 45 • Enfermidades pelo Gênero Salmonella Bovinos Vá rios sorotipo:-. de S. cntcrica podem in fec tar bovrn os , mas a maioria das infccçõe~ é cau,;ada pelo<, ,oro tipos Typhim urium e Dublin . O sorolipo Dublin é con,1derado o mais frequ ente e adaptado aos bovi no~. embora po!>~a infectar outras espécies, inclusive hu mano<i . Ape,ar d1,so o pri ncipal responsável por morbimorlalidade de bezer ros, nos EUA, é o sorotipo Typhimurium. Em bezerros jovens, os sorotipos Dublin e Typh1mu rium causam doenças com manifestações clín icas indis- tinguíveis, caracterizadas, principalmente, por diarreia. Em contraste, o sorotipo Dublin apresenta maior poten - cial para disseminação sistêmica, podendo resultar em meningoencefalite, poliartrite, osteomíelite ou pneumo-nia, eventualmente sem diarreia. In fecções experimentais demonstraram que o sorotipo Typhimurium, comparado ao Dublin, tem maior potencial para induzir mediadores de inflamação aguda no intestino. Outra manifestação clínica nos casos de infecção pelo sorotipo Dublin são os abortamentos, em vacas ou novi - lhas, mesmo na ausência de qualquer outro sinal clinico. Após a infecção, pela via oral, com o sorotipo Typhi - murium, bezerros desenvolvem sinais clínicos entre 12 e 48 h. As infecções incluem sinais clínicos bastante va- riados e podem manifestar-se de três maneiras distintas: superaguda, aguda e crônica. A manifestação superaguda apresenta sinais clínicos de evolução rápida, culminan- do com a morte em poucas horas ou menos de 2 dias. Na manifestação aguda, observam-se diarreia, anorexia, febre, sinais de desidratação, prostração e morte. Nesses animais, a taxa de mortalidade depende da precocidade de instituição do tratamento, variando de 10 a 60%. Na manifestação crônica é mais comum em bezerros de 6 a 8 meses de idade e nem sempre está associada à diarreia. Bezerros infec tados pelo sorotipo Typhimurium tendem a sofrer desidratação mais acentuad,1, quando comparados a bezerros que apresentam out ras doenç,1s diarreicas neonatais. Suínos Os sorotipos mais comumente associados ;\ doe1:ça t:-~1 suínos são Choleraesuis ( considerado adaptado a t'spe- cie) e Typhimurium, afetando, principalmt'nte, leitões t'l11 crescimento até 5 meses de idade. A salmonelose suína causada pelo snrotipo Cholerae- suis pode apresentar-se, clinicamente, _de 111üdo_ lo_c.::i~a~o (manifestação entérica) e/ou generalizado ~mc1111 te:staçao · , · a) o período de inwbaç;io é de 2 dias a semanas. sept1Cem1c, • . . d. -. · A manifes tação entérica caracteriza -se po1 ia1 ie1a aquosa, amarelada e fé tida, por 3 a 7 dias, pode~do tor- nar-se recorrente. Sangue e muco poden: ou nao _estar . . e , Além da diarreia, o ammal mamfesta presentes nas iezes. _ . . d des1·dratação febre, anorexia e reduçao do ganho SliléllS e ' , . de peso. Nesses casos, a mortalidade e baixa. 485 I;\ a n1ani fL'sta1,:,10 disseminada envolve sinais de com - pmnwti nwnto septicêmico. Os animais que sobrevivem ,\ Sl'pliccmi ,l apresentam bacteremia relacionada com ptwumonia , enterocolite, hepatite ou meningoencefalite. Os sinais clínicos, nesse caso, são representados por disp- neia, anorexia, letargia, febre alta, relutância em mover-se, tosse e cianose das extremidades. Porcas gestantes podem ,lbortar. Quando ocorre envolvimento do sistema nervo- so central, há sinais de tremor, fraqueza, paralisia e con- vulsão. Diarreia aquosa e amarelada está presente apenas ,\ partir do terceiro ou quarto dia do início da doença. A mortalidade é elevada, principalmente quando o sistema nervoso central é acometido, com morte entre 2 e 4 dias. Infecções por S. Typhimurium, mais frequentes em sis- temas de criação intensiva, causam, geralmente, enteroco- lite aguda em leitões ou animais debilitados. Clinicamente, os animais manifestam diarreia aquosa, amarelada, com ou sem presença de estrias de sangue. Febre, inapetência e desidratação também são observadas. Os animais podem desenvolver, tardiamente, emagrecimento crônico e cons- trição anal por fibrose decorrente de proctite ulcerativa. A mortalidade é considerada baixa, observada, nos casos em que a diarreia persiste, por muitos dias. Equídeos Os equídeos, particularmente potros até 1 ano de idade, são altamente suscetíveis às infecções por salmonela. Os equinos são, em geral, infectados por S. Typhimurium, embora outros sorotipos, como Newport, Anatum, Ari- zona e Agona, tenham sido descritos na espécie. Animais com salmonelose podem ser portadores assintomáticos ou apresentar diferentes quadros clínicos, como diarreia aguda, septicemia e abortamentos. Nessa espécie, a manifestação mais comum da doença é representada pela enterocolite aguda, caracterizada por diarreia aquosa intensa ou profusa, de odor fétido e co- loração esverdeada, associada a sinais como febre, cólica, anorexia e desidratação. Acomete, geralmente, potros e animais adultos hospitalizados ou debilitados. Em neona- tos, a infecção resulta em septicemia e morte superaguda ou bacteremia com infecção extraintestinal (pneumonia, artrite séptica ou meningite). Septicemia é o quadro disseminado da salmonelose, mais comum em potros, em virtude da imunossupressão, podendo ocorrer sem sinais de enterocolite. Outros ani- mais apresentam laminite como sequela da endotoxemia. Em infecções discretas, a doença é autolimitante e mani- festa -se por febre, perda de peso e diarreia leve. Dilatação gástrica e diarreia crônic~ ?ºr vá,ri~s semanas são consi- deradas manifestações chmcas atipicas. o sorotipo Abortusequi está associado a abortamen- tos em éguas. Outros sinais clínicos em equinos com sal- monelose incluem fístulas de cernelha, orquite e artrite. 486 Cães e gatos A salmonelose clínica em animais de companhia é, pro- vavelmente, mais frequente do que se tem relatado. A fre- quência de isolamento da bactéria das fezes de cães e ga- tos, aparentemente saudáveis, varia de 1 a 36% e entre 1 e 18%, respectivamente. Apesar de o diagnóstico clínico da doença não ser tão comum, esses animais servem como portadores assintomáticos do agente. A doença acomete, principalmente, filhotes e animais adultos coinfectados com doenças debilitantes. Os gatos são, aparentemente, mais resistentes que os cães ao desenvolvimento da doen- ça clínica. A mortalidade por salmonelose em cães e gatos é baixa, geralmente menos de 10%. Em cães, a manifestação entérica é o quadro clínico mais comum, caracterizada por febre ( 40 a 41 ºC) , vômito e diarreia após 3 a 5 dias da infecção. A diarreia é aquosa, podendo conter sangue e muco. A fase aguda da doença dura 4 a 10 dias, mas a diarreia intermitente pode persis- tir até 4 semanas. Em quadros clínicos não complicados, a doença é au- tolimitante, mas os cães podem tornar-se portadores crôni- cos. Em animais com quadro clínico persistente, observam- -se anorexia, perda de peso e sinais de desidratação poucos dias após o início da diarreia. Nos casos de disseminação da bactéria, com bacteremia e septicemia, verificam-se taquicardia, taquipneia, palidez de mucosas, icterícia, de- pressão e hipotermia, evoluindo para tosse, dispneia e sinais neurológicos (incoordenação, hiperexcitabilidade e con- vulsões), dependendo dos órgãos envolvidos. Outra manifestação clínica observada em cães é a ocorrência de sinais da esfera reprodutiva, como aborta- mentos e piometra. As fêmeas apresentam secreção va- ginal purulenta, havendo abortamentos na fase final da gestação ou nascimento de fetos fracos e emaciados. No interior do estado de São Paulo, foram investigados os principais sorotipos de salmonela nas fezes de 32 cães (30 com enterite e dois sem sinais entéricos) , bem como 14 cães com infecções sistêmicas ( septicemia, infecção do trato urinário, piometra e conjuntivite) , entre 1997 e 2007. Nesse estudo, constatou-se que os casos de enterite ocorreram, principalmente, em animais com menos de 4 meses de idade (87,5%), enquanto as infecções sistêmicas foram observadas em qualquer idade, com predomínio dos sorotipos Typhimurium e Enteritidis. Em gatos, a salmonelose caracteriza-se por gastrente- rite, letargia, febre, vômito, diarreia (com ou sem sangue), episódios de vômito e hipersalivação. Alguns gatos apre- sentam doença febril crônica, sem sinais de gastrenteri- te, ou quadro de diarreia intermitente crônica, com 3 a 4 semanas de duração. Conjuntivite e linfadenopatia têm sido identificadas em gatos com eliminação crônica da bactéria pelas fezes. Outros animais podem desenvolver bacteremia e lesões extraintestinais, como metrite, abor t,iniento, artrite, infarto e1~ diversos órgaos, trombose e Ulação intravascular disseminada. coag pequenos ruminantes E ovinos e caprinos, também são observadosquadros rn . . entéricos, pneumoma, s~pt,cemia e artrite por salmonela. Os sorotipos Abortusov1s e Brandenburg estão relaciona- dos com a ocorrência de abortamentos em ovinos. Outros sinais clínicos da infecção pelo patógeno em animais domésticos incluem piotórax, otite, conjuntivite, cistite, pielonefrite, meningite e osteomielite. ,... Diagnóstico 0 diagnóstico presuntivo da doença fundamenta -se em dados epidemiológicos, além de achados clínicos e de necropsia. No entanto, o diagnóstico de rotina é firmado com base no isolamento e na identificação de Salmonella, bem como na caracterização dos sorotipos. Achados clínico-epidemiológicos A salmonelose acomete, principalmente, animais domés- ticos jovens ( 4 a 6 meses) e potros de até 1 ano. A doença clínica é observada, comumente, em propriedades rurais, hospitais veterinários, canis e gatis com deficiências na higienização do ambiente e nas medidas de manejo, in- cluindo acúmulo de matéria orgânica, contaminação de água e alimentos com a bactéria e assepsia inadequada do umbigo de animais recém-nascidos. Animais com salmonelose apresentam, principal- mente, manifestação septicêmica, diarreia aguda ou crô- nica. A manifestação clínica é dependente de espécie e idade dos animais, presença de condições predisponen- tes, sorotipo envolvido e carga infectante bacteriana. A septicemia costuma ocorrer em bezerros, leitões e potros neonatos, bem como em suínos com 4 a 5 meses (em surtos causados por S. Choleraesuis). O quadro de enterite associado à diarreia aguda é observado em be- zerros jovens e, menos comumente, em animais adultos. Diarreia crônica ocorre, em geral, em suínos e bovinos. Em cães e gatos, predominam os casos de diarreia, septi- cemia e piometra em cadelas. Exames clinicolaboratoriais Ao contrário da maioria das infecções bacterianas em ani- mais domésticos que revelam leucocitose por ne_ut~ofilia, o principal achado laboratorial, relatado na maiona dos animais com salmonelose é a leucopenia por neutrope- nia, na manifestação aguda da doença. Hipoproteine~ia é outra alteração marcante, em razão da perda de _prote~nas pelo intestino. Acidose metabólica, hiponatremia e hip~- potassemia são frequentes, em virtude da perda de eletro- litos pela diarreia. Capítulo 45 • Enfermidades pelo Gênero Safmonella Os bezerros in fec tados com o sorot ipo Typhimurium desenvolvem leucopenia por neutropenia durante os es- tágios iniciai s da infecçào, seguida de neutrofilia nos está- gios mais tardios da doença. Outra alteração bioquímica durante a infecção consiste na diminuição das concentra- ções plasmáticas de sódio e cloreto, bem corno das con- centrações de proteína total e albumina, apesar da desi- dratação. Em contraste, as concentrações séricas de ureia e potássio estão, geralmente, elevadas. Durante a infecção aguda, bezerros com diarreia frequentem ente desenvol vem acidose metabólica, com pH sanguíneo ::; 7,0. Em equinos, os achados hematológicos revelam , predominantemente, neutropenia e linfopenia. Em ca- sos graves de endotoxemia, o leucograma apresenta neu - tropenia com desvio à esquerda e neutrófilos tóxicos. Entretanto, neutrofilia pode ser detectada em estágios mais tardios da infecção nessa espécie. A concentração de fibrinogênio é extremamente variável, estando ba ixa na presença de coagulopatia ou elevada nos casos de in - flamação marcante. Inicialmente, há hiperalbuminemia por desidratação e, posteriormente, hipoalbuminemia por perda de proteína pelo intestino lesionado. Trom- bocitopenia e coagulação intravascular disseminada po- dem ocorrer em casos mais graves. Em cães com infecções sistêmicas e evolução para choque endotóxico, observam-se leucopenia por neutro- penia, linfopenia, anemia e trombocitopenia. Nesses ani - mais, faz-se necessário o diagnóstico diferencial para par- vovirose em animais até um ano de idade, em virtude da similaridade de sinais clínicos e achados hematológicos. Isolamento e identificação microbiológica O diagnóstico definitivo da infecção com o gênero Salmo- nella é baseado na cultura de fezes e outros espécimes clí- nicos suspeitos (líquido sinovial, secreções de abscessos, sangue, fragmentos de tecidos, lavado transtraqueal, se- creção vaginal, urina e liquor) . Em animais com diarreia, o ideal é considerar fezes frescas coletadas diretamente do reto dos animais, com swabs ou luvas de palpação. O material deve ser refrigerado (4 a 8ºC) e enviado imedia- tamente ao laboratório. O isolamento da bactéria de espécimes clínicos de origem extraentérica é forte indício de salmonelose clí- nica. No entanto, o simples isolamento das fezes deve ser avaliado com cautela, já que alguns animais pndem servir como portadores inaparentes do microrganismo. Os protocolos de isolamento microbiológico de sal- monela para amostras de animais não s:\O padronizados, havendo certa diferença entre os laboratórios. Ademais, os sorotipos da bactéria ,\presentam diferenças de tole- rância aos componentes dos meios seletivos. Ainda, as li- nhagens podem ser eliminadas de modo intermitente e/ou em concentrações subótimas para o isolamento nas fezes . 487 Seção 1 • Bactérias O conjunto desses fatores pode dificultar o isolamento mi- crobiano. Assim, recomenda-se a associação de diferentes meios, ,1 fim de otimizar o isolamento microbiológico. O isolamento do gênero Salmonella em amostras de fozes de animais é realizado em meios seletivos. O ma- terial fecal deve ser cultivado em duplicata ( amostras 1 e 2). 1nicialmente, a amostra 1 é cultivada diretamente em ágar MacConkey, ágarverde brilhante ou ágar XLD, man- tida por 24 h, a 37ºC, em aerobiose. Simultaneamente, o mesmo material (amostra 2) é cultivado em aerobiose, a 3 7ºC, em caldos como selenita ou Rappaport-Vassiliadis (24 a 48 h) ou, ainda, em caldo tetrationato por 12 h. Esse mesmo material (amostra 2) é subcultivado nos mesmos meios e condições iniciais (aerobiose, a 37ºC, por 24 h) considerados no cultivo direto (amostra 1) ou, então, em outros meios seletivos, como ágar Salmonella-Shigella (SS). Colônias suspeitas nos meios seletivos cultivados ( amos- tras 1 ou 2), com centro enegrecido no ágar SS (Figura 45.5) ou bactérias lactose negativas no ágar MacConkey são sub- metidas a testes bioquímicos e uso de substratos como: des- carboxilação de lisina, uso da glicose, citrato, produção de gás, urease, fenilalanina desaminase (LTD), H 2 S, motilidade e reação no indol ou, ainda, a ágar TSI (tripie sugar iron, que significa: tríplice açúcar/ferro). Na classificação fenotípica, com base nas provas supracitadas, salmonela acusa produ- ção de gás e utilização de glicose, além de positividade para H 2 S, lisina, citrato e motilidade. Em contraste, acusa reação negativa para urease, indol e LTD ( consulte a tabela comple- ta de diferenciação bioquímica de enterobactérias no capítu- lo Enfermidades por Escherichia coli). Reações bioquímicas positivas para o gênero Salmo- nella são confirmadas por aglutinação em lâmina, utili- zando soros polivalentes comerciais. Em amostras de ali- mentos, o material pode ser pré-enriquecido com água peptonada, antes do cultivo direto inicial. É importante salientar que uma cultura negativa não exclui infecção. Em amostras de fezes obtidas de potros suspeitos de salmonelose, recomenda-se o cultivo sequencial de três Figura 45.5 S. enterica em meio seletivo de ágar entérico Hektoen (verde) e ágar XLT4 (vermelho) . 488 amostras de fezes, intercalado em 48 h, para maximizar a possibilidade de isolamento da bactéria. Outros autores entretanto, indicam três cultivas de fezes, intercalado~ em 7 dias, visando ao isolamento da bactéria nas fezes. Os linfonodos mesentéricos e o conteúdo do íleo são as amostras de escolha para os casos entéricos. O isolamento pode ser realizado, também, por meio de fragmentos de tecidos de animais ou fetos submetidos à necropsia. Nos fetos , o conteúdo estomacal e intestinal, os linfonodosmesentéricos, os pulmões e o fígado são in- dicados ao isolamento da bactéria em abortamentos. Após a confirmação bioquímica e por aglutinação com soro polivalente, a identificação definitiva dos soro- tipos é realizada com base na composição de seus antí- genos O (somático) , Vi (capsular) e H (flagelar) . Outras provas, como fagotipagem, tipagem por resistência aos antimicrobianos, caracterização plasmidial, mapeamen- to da proteína de membrana externa e análise de DNA, auxiliam na definição do sorotipo isolado. No Brasil, os sorotipos são caracterizados somente em laboratórios de referência, como Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Certos sorotipos de salmonela são reconhecidos mais pela classificação por fagos do que pela sorologia, como S. Typhimurium DT104 (fagotipo), agente causal de sur- tos da doença principalmente em humanos e, por vezes, em animais. Outros métodos diagnósticos Ensaios com diferentes métodos sorológicos estão dispo- níveis na literatura, visando ao diagnóstico e a inquéritos soroepidemiológicos da doença. No entanto, considerando a possibilidade do estado de carreador e do contato de ani- mais com a bactéria no ambiente (sem o desenvolvimento de doença clínica) , as técnicas sorológicas são pouco em- pregadas no diagnóstico individual da bactéria em animais. Técnicas moleculares têm sido aplicadas, recente- mente, no diagnóstico de salmonela em animais, utilizan- do, principalmente, material fecal, com boa sensibilidade e especificidade. Diferentes genes têm servido como alvos da ba.ctéria. No entanto, resultados positivos em PCR e negativos no cultivo microbiológico devem ser avaliados com cautela, em razão da possibilidade de contaminação nas técnicas moleculares. Achados anatomopatológicos Os principais achados post mortem, à necropsia de bovi- n_os com salmonelose, são caquexia, congestão e disten- sao com acúmulo de líquido no intestino delgado, bem como :nterite fibrinopurulenta ou fibrinonecrótica (íleo e porçao aboral do jejuno), pseudomembrana aderida à super~ície da placa de Peyer (ver Figura 45.3), linfadeno- megaha mesentérica e depleção linfoide acentuada das placas de Peyer e de outros órgãos linfoides. À necropsia d,e _suínos, obser:7am-se enterite, coli te e . t'' bri·nonecrot1ca focal ou difusa, aguda ou crônica ·f11te 1 ' ti ntada por úlceras botonosas (Figura 45.6) , além ·eprese 1 i·nfadenomegalia acentuada e edema dos linfonodos de i . - · 1 1 ntéricos da regiao 1 eoceca . rnese - 1· d , Na manifestaçao genera 1za a, os sumos apresentam . ase de orelhas, pés, cauda e abdome, assim como he- c1an 1. .1 . h , . wesplenomega 1a, necrose m1 iar epahca, congestão P~ farto da mucosa gástrica na região fúndica, linfade- e !11 , . b . omegalia mesentenca, roncopneumoma, hemorragia 11 edema pulmonar, enterite serosa a necrótica, além de ~ernorragias petequiais no epicárdio, adrenais e serosas. Em equinos, verificam-se, à necropsia, enterite eco- lite ( ulcerativa a fibrinonecrótica) , principalmente no ceco e no cólon ascendente, linfadenomegalia e hemor- raoia dos linfonodos mesentéricos, bem como petéquias e ;quimoses adrenais, na serosa intestinal e no epicárdio. Em cães e gatos com salmonelose entérica, identifi- cam-se congestão intestinal, principalmente em ceco e có- lon, ]infadenite mesentérica, fezes amolecidas e com san- aue, além de palidez de mucosas. Nos casos de bacteremia ; septicemia, encontram-se petéquias, sufusões, líquido serossanguinolento em cavidades e pontos de necrose em órgãos. Focos puntiformes ~e necrose hepátic~ e ~m outr,os órgãos são observados ocasionalmente em amma1s domes- ticos, sendo denominados nódulos paratíficos. Outros achados post mortem, que podem ser obser- vados em animais domésticos com salmonelose, incluem sinais de piotórax, endocardite, miocardite, nefrite, cisti- te, encefalite e osteomielite. Microscopicamente, as infecções entéricas por sal- monela revelam necrose, atrofia de vilosidades e intenso infiltrado, predominantemente neutrofílico, na lâmina própria. Exsudato fibrinonecrótico pode estar presente , . - Gol ite necrosante e Figura 45.6 Salmonelose entenca em sumo. . da por múltiplas Ulcerativa causada por Salmonella sp. , caracten~a Fagundes úlceras botonosas. Imagem cedida pelo Prof. rnane do Nascimento. Capítulo 45 • Enfermidades pelo Gênero Sa/monella no lúmen intestinal. Ocorrem, também, lesões endote- liais e trombos em vasos sanguíneos da lâmina própria, resultando em isquemia e ulceração da mucosa. Na fase aguda, ocorre necrose das placas de Peyer, seguida de hi- perplasia linfoide. As lesões mais graves envolvem íleo, ceco e cólon. Diagnósticos diferenciais As principais doenças consideradas no diagnóstico _d~fe- rencial da salmonelose estão listadas na Tabela 45.2. E im- portante salientar que, frequentemente, os enteropat_óge- nos acometem animais domésticos de maneira associada. Assim, é fundamental que, nos distúrbios entéricos em animais domésticos, o diagnóstico seja abordado como síndrome, investigando-se, simultaneamente, os princ~- pais enteropatógenos de origem bacteriana, viral e parasi- tária, incluindo o gênero Salmonella. ► Tratamento O tratamento é recomendado a quadros clínicos entéricos graves ou casos disseminados (septicemia, pneumonia e artrite) . Baseia-se em tratamento de suporte e no uso de antimicrobianos, administrados por via oral ou parente- ral, a fim de controlar a infecção intestinal e evitar a dis- seminação da bactéria. . . O tratamento com antimicrobianos deve ser mst1tu- ído, idealmente, com o respaldo de testes in vitro de sen- sibilidade microbiana. A antibioticoterapia em animais domésticos é indicada no início da manifestação clínica da doença. Tabela 45.2 Principais doenças consideradas no diagnóstico diferencial da salmonelose entérica, conforme as diferentes espécies domésticas. -Bovinos Equinos Suínos Diagnóstico diferencial Colibacilose, paratuberculose, campilobacteriose, clostridioses, coccidiose, criptosporidiose , eimeriose, diarreia virai bovina, rotavirose e coronavirose C/ostridium difficile, Clostridium perfringens (colite X), infecções entéricas por Rhodococcus equi, colibacilose, Lawsonia intracellularis, criptosporidiose, Strongyloides westeri, erliquiose monocítica, rotav írus , coronavírus e intoxicação por metais pesados Colibacilose, Lawsonia intracel/ularis (enteropatia proliferativa) , criptosporidiose, rotavirose , peste suína e circovirose Cães Colibaci lose , Ancylostoma caninum, criptosporidiose, giardíase, Toxocara canis, parvovirose e coronavirose Gatos Colibacilose, criptosporidiose, giardíase, toxocaríase, ancilostomíase e coronavirose d 1·1 OM Gay CC Hinchcliff KW Constable PD. Velerinary Ad piada de Ra os ' s , , ' . d 1 ª . . . 1 xlbook oi the disease oi cattle , horses, sheep, p1gs, an goa s. ~i~~i~ehil:d:lphia: Saunders Elsevier; 2007. p.896-920; ~ de Greene CE. lntec- . d. . f lhe dog and cal 4 ed. St. Louis: Elsev1er, 2012. lious 1seases o · · 489 Seção 1 • Bactérias Uma vez que Sal li , . mane a e um agente mtracelular re- comenda-se utiliza. t· . b. , b _ 1 an m11cro 1anos lipossolúveis, com oadpe:fusao nas células. Em ruminantes domésticos de pro uçao e equinos · · b. . . , os ant11111cro ianos mais amplamente utilizados por v· , 1 -' Ia parentera , sao sulfadiazina/trimetopri - ma (20 mg/kg, ª cada 12 a 24 h) , ceftiofur (2 a 5 mg/kg a cada 12 ª 24 h) e fluoroquinolonas ( enrofloxacino, 5 a ; O mg/kg, por via intramuscular, subcutânea ou intravenosa, a cada 24 h) . As fl · · 1 _ uo10qumo onas devem ser evitadas em potros, em razao dos efeitos adversos em cartilagens. Alternativa- n:ente, tem-se recomendado, a essas espécies, a associa- çao de am~icilina e aminoglicosídios (gentamicina). Em sumos, os antimicrobianos podem ser adminis- trados por via oral, na água dos animais (sulfametazina, na ?~se de 75 mg/ e deágua). Em equinos com sinais entencos, 0 tratamento com antimicrobianos é contro- verso, visto que animais tratados podem permanecer como portadores. No entanto, ainda se recomendam os antimicrobianos a essa espécie, em razão do risco de septicemia. Em cães e gatos, os antimicrobianos de escolha são amoxacilina/ácido clavulânico (25 mg/kg, via oral, a c~da 12 h) , sulfonamidas/trimetoprima (30 mg/kg, por via oral, a cada 12 h) e cloranfenicol (50 mg/kg, por via subcutânea ou intravenosa, a cada 8 a 12 h). Outras al- ternativas, em animais de companhia, são cefalosporinas (cefotaxima, ceftriaxona e ceftiofur) e aminoglicosídios (gentamicina e amicacina) , apesar da restrição destes úl- timos em animais com insuficiência renal. O tratamento de animais com antimicrobianos tem duração variada: 7 a 1 O dias para casos entéricos e 15 dias ou mais para casos septicêmicos ou disseminados. A multirresistência de salmonela isoladas de animais domésticos aos antimicrobianos, tem sido motivo de preocupação crescente entre os profissionais da área mé- dica, com sérias implicações em Saúde Pública e na esco- lha do fármaco na terapia clínica. Além dos antimicrobianos, preconiza-se terapia de suporte com anti-inflamatórios não esteroides, como flu - nixina meglumina para animais de produção ( 1, 1 mg/kg, por via intravenosa, a cada 12 h, no máximo três aplica- ções) e meloxicam para cães (inicialmente, 0,2 mg/kg; depois, O, 1 mg/kg, a cada 24 h, por via oral ou intraveno- sa, até 14 dias) e gatos (inicialmente, 0,1 mg/kg; depois, 0,05 mg/kg, a cada 24 h, por via oral ou intravenosa, até 4 dias), a fim de reduzir a dor e as alterações hemodinâmi- cas decorrentes da endotoxemia. A reposição hidreletrolítica e energética por via pa- renteral também é essencial para corrigir a desidratação e O desequilíbrio eletrolítico. Em animais de companhia com sinais entéricos graves, recomenda-se não fornecer água nas primeiras 48 h, evitando maior desidratação pe- los episódios de vômito. 490 Em animais de companhia com sinais enténcos, sao indi cados antieméti cos, como metoclopramida (0,2 a 0,-1 mg/kg, por via subcutânea, a cada 8 h) , e protetores he. pát icos, como ranitidin a (2 a 4 rng/kg, por via subcutânea ou intravenosa, a cada 8 h). Em ani mais com choque hi - povolêmico, podem ser util izadas soluçõe!> hipertônicas, como NaCI a 7,5% (4 m/J/kg, por via intravenosa, ern in - fu são rápida) ou (hidro)dexametasona (5 a l O mg/kg, por via intravenosa, em infusão rápida) . ► Profilaxia e controle A profilaxia da salmonelose em animais dom ésti cos deve ser baseada em ações que reduzam a contaminação am - biental, incluindo cuidados com a alimentação dos ani - mais e medidas de manejo específicas. No ambiente dos criatórios, recomenda-se limitar a exposição a material fecal , remover diariamente os mate- riais orgânicos dos ambientes de alto flu xo e evitar a con - centração de animais (baias, canis, gatis, apriscos, capris, salas de ordenha) . Também é preciso realizar a limpeza e a desinfecção química de instalações, comedouros, be- bedouros e outros fômites, com desinfetantes à base de fenol, cloro ou iodo (concentrações de 3 a 5%), após a desinfecção física de instalações com vassoura de fogo. Água de qualidade, de origem controlada, preferen- cialmente clorada, deve ser fornecida aos animais. É ne- cessário, ainda, controlar possíveis vetores, como roedo- res e pássaros. Indica-se, também, manter ambiente seco, ventilado e com exposição à luz solar para os animais, evitando umidade em excesso. No caso de suínos, após a desinfecção química do ambiente das granjas, recomen- da-se a adoção de vazio sanitário das baias ( 14 dias) antes da introdução de novos lotes. Animais de companhia devem ser alimentados exclusi- vamente com ração comercial, evitando-se comida caseira. Para animais de companhia e de zoológicos, é importante' evitar fornecer carne crua ou de procedência desconhc'ci- da, além de mudanças bruscas no regime alimentar. Dentre as medidas voltadas especificamente para o:,; animais, recomendam-se o monitoramento da ingesLitl de colostro nas primeiras horas de vida e a antissq>sia adequada do cordão umbilical com soluções de iodo, hl'Il1 como a segregação dos animais por idade, com local t':spt'· cífico para recém-nascidos. Animais infectados e portadores dewm St'r isnb,h,~ para tratamento com o uso racional de ant imicrubi,llhl~. Deve-se evitar o contato entre animais intec1,1dos e sau dáveis, principalmente nennatos, imunossuprimid()s e \'l' · lhos. Não se recomenda adquirir animais de propriedade~ endêmicas. É importante realizar exames de s.1udc nns ,111 1 mais a serem introduzidos no planlt'l. Ind ica-se, t.1111bérn , o controle de outros cntcropatógt•nos, com a ,1pl ica1r:âú de vacinas e vermffugos. Ak1111 disso, {, necess,írin minim izJr fatores estressantes, oferecendo conlorto aos animais nas . stalações ou durante o transporte. ,11 - , . d. d A vacinaçao : rn 1c~ a somente a surtos da doença rn l·ebanhos bovmos, sumos e equinos E~.., t·-'io cJi·sn , . e . ' · ., ' , ,..,o n1ve1s comercialmente bactennas e vacinas atenuadas (soro ti - pos Typhimurium, Dublin e Choleraesuis) para profilaxia e controle da doença em certas espécies animais, embora os níveis de proteção sejam moderados. Estudo de vaci~a in,tr~nasal foi conduzido em pôneis com resultados sat1sfatonos, apesar de ainda insuficien - tes para sua comercialização. Ainda, estudos com vacinas atenuadas ~ara bovino~, suínos e aves demonstraram que a resp~s~a un~ne medrada _por células é responsável por confenr 1murndade contra mfecções por Salmonella sp. ► Saúde Pública Os diferentes sorotipos de salmonela que acometem di- versas espécies animais, causando doença clínica ou não, têm reflexo significativo na saúde humana. Água e ali- mentos (especialmente os de origem animal) contamina- dos pela bactéria representam os principais veículos de transmissão do patógeno aos humanos. A salmonelose ocorre esporadicamente em humanos, afetando poucos indivíduos, ou em grandes surtos, envol- vendo milhares de pessoas. Estima-se que somente nos EUA, em 2008, tenha ocorrido cerca de 1,4 milhão de casos de salmonelose humana, com prejuízo estimado de U$ 2,6 bilhões, incluindo perda de produtividade no trabalho, gas- tos com a investigação dos surtos e prejuízos aos produtores e distribuidores. Na União Europeia, também em 2008, fo- ram confirmados 131.468 casos da enfermidade, com taxa média de notificação de 26,4 casos/100.000 habitantes. No Brasil, a exemplo de outros países, salmonela tam- bém tem sido apontada como o principal agente etiológi- co das doenças transmitidas por alimentos (DTA), tendo sido responsável, no período entre 1999 e 2009, por 42,5% dos surtos em regiões específicas. Todos esses dados, to- davia, são considerados subestimados, posto que muitos casos e surtos não são notificados aos órgãos de saúde responsáveis pela vigilância epidemiológica das DTA. Vários são os fatores apontados como determinantes da participação dos alimentos de origem animal como veí- culos de salmonela para os humanos, a saber: o grande número de espécies animais que podem atuar como re- servatórios do patógeno; a existência de muitos sorotipos ?ão hospedeiro-específicos que podem, indistintamente, Infectar tanto espécies animais como humanos (tornan- do seu controle extremamente difícil) ; o surgimento de linhagens multirresistentes aos antimicrobianos, com sé- rias implicações na terapêutica clínica humana e animal ; práticas intensivas de criação animal, possibilitando a ª~pla disseminação do agente ainda na produção primú- na, especialmente em suínos, aves de corte e de postura , além de bovinos de corte criados sob confinamento. vu1J ILu 1G "t0 • LI lltJ, , II UcJUt::::, 1-Jt:10 uenero ~a,mone11a No caso de aninwis dest inados à produção de ca rne e produtos derivados, a cnt rada de lotes infectados nos matadourosírigo rífi cus leva , in vari avelmente, ao forn eci- mento el e produtos co11l.am111ado '> pelo patúgeno ao me r- cado co11 su111idor, a dcspc ilo dm avanço '> tecnolúgicos observados, nas t'dtim as décadas, cm opcraçôe'> dt: abate e processa mento, além da inspeçüu rnai c.; ri goro<,a por parte dos órgãos o!"iciais e da in stitu ição de programas de auto control e pelas empresas. No abate de animais de produção, a contaminação por salmonela é críti ca em aves durante os processos de escaldagem, depenagem, evisceração e pré-resfriam ento co'.11 água clorada e gelo, rea lizados nos chamados spin ch1llers. Para os suínos, a escaldage rn e a depelagem, além da evisceração, também é preocupante. Nos bovinos, a contaminação é particularmente significativa nos proces- sos de retirada do couro e evisceração. O tratamento térmico, mesmo aq uele reali zado ern condições caseiras (fervura, fritura ou cacção), geral - mente elimina salmonela das carcaças de aves e de cortes cárneos provenientes de bovinos e suínos. Assim , casos e surtos de salmonelose oriundos do consumo desses alimentos ocorrem, em geral, por tratamento té rm ico insuficiente, ficando os alimentos expostos a tempera- turas inadequadas por longos períodos de tempo, e por contaminação cruzada. Neste último caso, o patógeno e transferido do alimento cru para outros já prontos para consumo por meio das mãos do manipulador, das super- fícies de corte e de equipamentos e talheres, considerados fatores determinantes para a ocorrência da salmonelost:' em humanos. Em relação aos ovos, cuidados especiais dt:"wm St:' r tomados, visto que têm sido rotineiramente implicados em grandes surtos de salmonelose. No Brasil, os ovos s,io considerados os principais alimentos envolvidos t:'m DT A pelo gênero Salmonella . A contaminação do produto p1.)de ocorrer no momento da postura, pelo contato com ,\s ft' - zes de aves portadoras de salmonela , ou por via transo - variana, ainda na formação do ovo. Na via trnnsovarian,1, S. Enteritidis tem sido particularmente frequentt' , dacb a capacidade desse sorotipo de colonizar o apardho rl'pw dutor das aves, com amplos reflexos na Saúde Pública . Apesar do número reduzido ( < 0,00 l l¼:>) dt' t)\'()S (Otl - taminados em relação ao total produzido, tr;ll ;l -Sl' d1.' in grediente bastante usado cm diVt'rsas prcpara1it11.'S 1.:ulin :í - rias, como maionese G\Sl'ira e bt1los scn·idt1s cm festas , casamentos, almoços e outras confr,1ll.'rn i, a~·ô1.'s , conten - do número expressivo de bact érias , i11cl11i111.iu Sdl111011d/a , o que pode levar a GlSllS l'Spoddicos ou surtos da doença . Ovos dcst inados ao consumo devem estar íntegros, sem rachaduras n,1 casca l' !impus, nunca devendo ser inge- ridos i111111tun1 . Rcce it ,1s que levam ovos crus e/ou que não serão submetidos a nenhum tratamento térmico posterior (maionese, bolos) devem ser sempre evitadas, em virtude 491 Seção 1 • Bactérias do risco de co11tam· - 1 , maçao pe o patogeno. Nesse caso, reco- menda-se a escolha de produtos pasteurizados, nas formas l' .d . iqm a ou desidratada (clara, gema e ovo integral) . . Salmonela não é agente frequente como causa de mas- tite em animais domésticos. No entanto, a contaminação do leite pode ocorrer de modo cruzado com as fezes , ou no processamento dos produtos. A maioria dos registros de transmissão da bactéria pelo leite e derivados associa-se ao consumo do produto não pasteurizado (ou cru) , espe- cialmente queijos de massa mole e frescais . Cuidados também são necessários para evitar a re- contaminação do produto após o tratamento térmico. Um dos maiores surtos de salmonelose em humanos foi des- crito nos EUA, justamente por consumo de leite já pro- cessado e distribuído a vários estados norte-americanos. A contaminação ocorreu na abertura de uma válvula, por descuido de um funcionário da indústria de laticínios, em virtude da mistura de produto pasteurizado com leite cru contaminado por S. Typhimurium. Estima-se que mais de 160.000 pessoas tenham sido afetadas, com sete óbitos. No Brasil, a contaminação por Salmonella sp. tem sido ve- rificada, especialmente, em queijos artesanais, não sendo frequente em amostras de leite fluido. Apesar da ampla variedade de sorotipos da bactéria já identificados, todos são potencialmente patogênicos aos humanos. A doença é causada por cerca de 70 a 80 soroti- pos, pertencentes à subespécie enterica. No Brasil, S. Ente- ritidis e S. Typhimurium têm se revelado particularmente patogênicos nos casos de salmonelose em humanos. Historicamente, S. Typhimurium é considerado o so- rotipo mais patogênico para humanos e animais, embora, nas últimas décadas, seja crescente a descrição de casos por S. Enteritidis em humanos. A emergência de S. Enteritidis teve início na Europa e nos EUA a partir de 1980 e, no Bra- sil, especialmente a partir de 1993. Registros do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, um dos centros de sorotipagem de Salmonella no Brasil, revelaram que, entre 1991 e 1995, o número de isolamentos de S. Enteritidis passou de 1,2 para 64,9%, no caso de estirpes provenientes de humanos, e de O para 40,7%, no caso de isolados não humanos (ovos, aves e amostras do meio ambiente). São fortes os indícios de que as estirpes virulentas de S. Enteritidis tenham sido introduzidas no Brasil pela importação de material genético avícola contaminado, disseminando-se rapidamente por plantéis avícolas e pelo ambiente em geral. Nesses criatórios, as estirpes contami- naram não somente alimentos de origem avícola, mas a cadeia agroalimentar como um todo, com reflexos signi- ficativos em saúde humana. Atualmente, S. Enteritidis é o sorotipo mais preocupante envolvido na doença em hu- manos, embora em proporção menor do que a verificada desde O início dos anos 2000. Surtos de salmonelose em humanos e animais por S. Typhimurium DT104 (fagotipo) , têm sido identificados 492 em vári os países , desde 1990. O aumento da ocorrência de casos da doença pelo fogo tipo S. Ty phimurium DT104 está diretamente relacionado com a emergência de linhagens da bactéri a resistentes ao cloranfe nicol, visto que esse fagotipo é reconhecidamente resistente a esse fármaco. Na América do Norte, tem sido observada a emergência de linhagens multirresistentes aos antimicrobianos do sorotipo Newport, bem como a preocupação do contato de indivíduos com equinos, em virtude da ocorrência desse sorotipo nessa espécie animal. S. Typhi, agente causal da febre tifoide em humanos, e outros sorotipos podem ficar albergados na vesícula biliar dos indivíduos, assumindo reflexos significativos em Saúde Pública, particularmente em manipuladores de alimentos, pois se constituem em portadores crônicos da bactéria. Os principais sinais clínicos das infecções alimentares por salmonela em humanos, são diarreia, dor abdominal, febre, náuseas, mialgia, sinais de desidratação e episódios de vômito. Em alguns indivíduos, principalmente imu- nocomprometidos, o microrganismo pode disseminar-se por via linfática a partir dos linfonodos mesentéricos e, também, por via hemática, localizando-se em vários ór- gãos, o que leva, principalmente, a quadros de hepatite, endocardite, pneumonia e nefrite. Linhagens de Salmonella resistentes aos diferentes antimicrobianos são motivo de preocupação constante entre os profissionais da área de saúde. Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças ( CDC, do inglês Center for Disease Contrai and Prevention) , em Atlanta, EUA, dos 1 O sorotipos mais comumente isolados de infecções humanas, oito apresentam pelo menos urna estirpe resistente a cinco ou mais antimicrobianos. O impacto à saúde humana torna-se ainda mais evi- dente quando se verifica o elevado número de surtos de salmonelose humana associado a linhagens com perfil de multirresistência, originárias de animais infectados. No ano 2000, em New Jersey, EUA, em surto ocorrido por con- sumo de leite contaminadocom S. Typhimurium, a estirpe era resistente a cinco diferentes antimicrobianos conven- cionais: ampicilina, canamicina, estreptomicina, sulfame- toxazol e tetraciclina. Em outro surto, também nos EUA, 47 pessoas foram afetadas em cinco estados norte-ameri- canos pelo consumo de produtos cárneos contaminados por S. Newport. Dentre os isolados, três eram resistentes a nove antimicrobianos: amoxicilina/áci.do clavulânico, am- picilina, cefoxitina, ceftiofur, cefalotina, cloranfenicol, es- treptomicina, sulfametoxazol e tetraciclina. Dois isolados ainda mostraram resistência à canamicina e sensibilidade reduzida à ceftriaxona. De maneira geral, para evitar a contaminação de ali- mentos por salmonela são requeridas ações em todas as fases da cadeia produtiva, desde a produção primária até as etapas de industrialização, comercialização, conservação preparo dos alimentos pelo consumidor. Todos os elos ~a cadeia produtiva devem estar integrad~s. Esse conceito deu origem ao lema from_farm to table ( da tazenda à mesa) , criado pelos norte-amenGmos, devendo ser O objeti vo de rodos que almejam a pro~ução de alimentos seguros. A literatura tem registrado, além dos alimentos, 0 envolvimento frequente de animais de estimação na vei - culação da bactéria para humanos. Diversas espécies de animais d?méstico_s, silvestres _e selvagens - como gatos, cães, equinos, peixes, porquinhos-da-índia, hamsters, roedores, coelhos, lagartos, cobras e tartarugas _ podem albergar diferentes sorotipos do gênero Salmonella, mani- festando sinais clínicos ou não. A primeira associação da doença a répteis foi descrita em meados de 1950, tornando-se frequente, desde então, especialmente em lagartos, cobras e tartarugas. Estima-se que mais de 90% dos répteis possam manter e eliminar estirpes de salmonela para o ambiente. Ademais, o contato estreito de cães e gatos com hu- manos, particularmente com crianças, idosos e pessoas imunossuprimidas, tem sido fator de risco na ocorrência da infecção nesse grupo populacional, mais suscetível ao desenvolvimento de doença clínica. Nos EUA, estima-se que 10 a 94% da população de cães e gatos albergue, respectivamente, linhagens do gê- nero Salmonella. No Brasil, os sorotipos Enteritidis e Typhimurium, reconhecidamente patogênicos para hu- manos, já foram descritos em animais de companhia, em infecções entéricas e extraentéricas (infecção renal) , re- forçando a necessidade de práticas de posse responsável e de profilaxia de doenças em cães e gatos, a fim de mini- mizar o risco de veiculação de zoonoses, como a salmo- nelose, por esses animais. ► Bibliografia Alcaine SD, Warnick LD, Wiedmann M. Antimicrobial resistance in nontyphoidal Salmonella. J Food Prot. 2007;70(3) :780-90. Bel! C, Kyriakides A. 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Kulikos v~k_iy A e/ ,d. ~dcn tifi c ,1nd tcch,mal f,1c. tc,r \ affcctmg the setting oi Sa lmnnella cnler1,1 fo r raw p1,ultry d glCJh,11 per~pcc tr,e J food Prot. 2010;73(8): 1566 90. Murray MJ. Salmonellosis in horses J Am Vet .\1e<l Aw1c 1991'> 209(3) :558-60. Quinn PJ, Markcy BK. Ca rter ME, Donnell y W/, Lcorwd fr , ' .1 1cr,, biologia veterinári a e doenças infecc iosas. Port() Alegre Artmcd 2005. p. 122-7. Quinn PJ, Markey BK, Leonard FC. FítzPatrick ES, Fanrnng \ Harl1 gan PJ. Veterinary Microbiology anel Microbial Disease5. GK: v\/i ley Blackwell; 20 11 . Enterobacteriaccac; p.34 1-74. Radostits OM , Gay CC, f-lin chcl iff KW, Constablc PD Vcten nary medicine: a textbook of th c disease of ca ttle, horse,. shecp pigs, and goats. JO . ed. Philadelphia: Sau nders Elsevier; 2007 p. 896-920. Ribeiro MG, Brito CJC, Paes AC, Megid J, Pinto JPAN. Liston i F/P. Infecção do trato urinário em cão por Sa lmonella enterica sorotipo Enteritidis: relato de caso. Clín Vet. 2003;8(43):30-7. 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