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Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Anatomia e fisiologia renal aplicada às doenças renais Principais funções do rim - Regulação do balanço de água: ele participa da homeostase do volume extracelular e dos eletrólitos. Se ingerimos 10g de sal, eu excreto o que estou ingerindo. Da mesma forma, se perdemos sal, o rim retém uma parte para reestabelecer o que foi perdido. Em uma relação de equilíbrio, tudo o que entra, sai. A quebra do balanço de sódio pode levar a HAS - Regulação ácido básico: uma das funções principais do rim. Constantemente ingerimos alimentos que vão gerar ácidos. As células funcionam em m equilíbrio estrito de pH. Rim faz uma regulação fina de hidrogênio e outros metabólitos que promovem a acidose sistêmica. - Rim participa da hematopoese produzindo a eritropoetina, importante para o estímulo da eritropoiese. Um declínio da função renal pode levar a anemia - Participa da formação do calcictriol (vitamina D ativa). Pode ter impacto do metabolismo ósseo e gerar hiperparatireoidismo secundário. - Órgão retroperitoeal. Altura de T12 a L3. Possui uma gordura que sustenta essa estrutura. - Tem uma região cortical, uma medular e dentro delas, vão estar presentes os néfrons. Ao gerar a urina, ela cai nos cálices maiores, depois nos menores. Vai para o ureter e cai na bexiga, e depois é eliminado. 20% do DC vai para o rim! 1 litro por minuto passa pelos rins. Artéria renal se ramifica em artérias segmentares, depois em artérias interlobares, artérias arqueadas, arteríolas interlobulares e arteríola aferente. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Das arteríolas aferentes, gera uma rede de capilares, de onde por fim, sai a arteríola eferente, que por sua vez, forma uma nova rede de capilares que vão irrigar os túbulos. Dali, saem as vênulas como componente de retorno venoso renal. Assim, são dois leitos capilares em série. A medula renal é menos irrigada (atenção pela facilidade de sofrer hipóxia) Nefron é o conjunto do glomérulo e os túbulos: contornado proximal, alça de Henle, contornado distal e depois, o ducto coletor. Quanto à inervação, vemos dor ao distender a capsula renal basicamente em 2 cenários: - Cálculo renal obstruindo via urinária, fazendo hidronefrose e distendendo a cápsula. - Ou ainda, processo inflamatório intersticial, que faz edema e distende cápsula (pielonefrite ou nefrite intersticial). Dor de nefrolítica é extremamente intensa em região lombar, que irradia para região inguinal, conforme deslocação do cálculo. Pielonefrite é dor contínua, não tão lancinante quando cálculo. A manobra de punho percussão exacerba essa dor. Fora a sensibilidade, o rim tem um processo importantíssimo de autorregulação para fazer o balanço e ter reabsorção de eletrólitos ou de água. Arteríola aferente e eferente são moduladas por sistema adrenérgico, fazendo vasoconstrição em uma ou outra dessas arteríolas, impactando em pressão efetiva de ultrafiltração e no fluxo sanguíneo renal. Choque hipovolêmico tem descarga adrenérgica e tem uma vasoconstrição enorme da arteríola aferente Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 - Formado de uma rede de capilares, e as estruturas formam sincícios, que são envoltos por podócitos. - Dentro dos mesângios, tem as células mesangiais. - Existe a região de mácula densa, onde os túbulos entram em contato com as arteríolas. Isso influencia no feedback túbulo-glomerular. - Tem o espaço de Bowman, que recebe o ultrafiltrado e o encaminha para o túbulo contornado distal. - Pode haver perda de podócito, lesão de vaso, e proliferação de células parietais que podem levar a patogenias. De baixo para cima: célula endotelial, membrana basal e podócitos com prolongamentos. Entre um e outro existe a união por proteínas de fenda de filtração. Carga elétrica em geral é negativa por causa dos proteoglicanos da membrana basal. É o que chamamos de barreira de filtração. A barreira é permeável a certas coisas e impermeável a outras. Depende da carga e dos tamanhos das moléculas. Moléculas de carga negativas são geralmente repelidas. Água e glicose passam livremente, mas são reabsorvidas. Quando há excesso, acaba passando sem reabsorver tudo, como em casos de hiperglicemia. - Albumina tem peso molecular elevado e tem carga negativa. O pouco que é filtrado, ainda volta a ser reabsorvido, um valor menor que 30mg é encontrado na urina. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Em doenças renais crônicas, o paciente tem perda progressiva de função do rim. Isso progride até perder a capacidade de manter a homeostase, e começar a inchar. Com isso, o paciente precisa entrar na hemodiálise e tentar equilibrar, ou fazer transplante. DM é a principal causa de doença renal crônica. Depois vem HAS, e depois doenças intrínsecas do glomérulo (glomerulopatias). Lesões renais agudas: pacientes com COVID podem ter instabilidade hemodinâmica, chocar e fazer uso de drogas vasoativas que pode levar a lesão renal. Às vezes, precisa fazer hemodiálise até o rim se regenerar. Anti-inflamatórios também podem fazer lesão renal aguda. Neoplasia de colo uterino pode obstruir ureter e fazer obstrução de via urinaria. Hipóxia pode fazer diminuição aguda da função renal. Acidentes ofídicos também podem lesar o rim pois cursam com coagulação intravascular disseminada. Perdas da capacidade de manter a homeostase. O acúmulo de substancias podem levar a síndrome urêmica. Taxa de filtração glomerular Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Queda do ritmo de filtração. Ureia bem elevada (45 é o normal). Creatinina elevada. Valores de filtração glomerular bem abaixo que a média. Provavelmente em acidose e edemaciado. Esse ritmo de filtração conta com um fluxo sanguíneo, onde uma parte será ultrafiltrado a uma determinada taxa ou frequência. Essa taxa é chamada de ritmo de filtração glomerular. Oscila entre 90 – 120 mL por minuto. Falamos sobre depuração e clearence. Utilizamos a creatinina como marcador desse ritmo. O volume urinário é menos de 1% disso, e vamos reabsorver o ultrafiltrado. Esse ultrafiltrado vai ter alguns processos: algumas substancia são absorvidas e outras são secretadas para formar a urina. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Rede de capilar glomerular fica como se fosse uma árvore. Vai existir uma pressão efetiva de filtração. É esse ultrafiltrado que corresponde aos 180L por dia. Temos essa espécie de resistores que modulam essas pressões efetivas de ultrafiltrações. Vasoconstrição ou vasodilatações medicamentosas podem interferir nas pressões. Bloqueador de receptor de angiotensina II age justamente a arteríola eferente e a vasodilata, reduzindo a pressão. Pressão hidrostática é a principal desse processo. A coloidosmótica ajuda a tentar manter a água dentro do vaso. As diferenças de todas as pressões dão a pressão final. Vários fatores podem interferir em cada uma dessas pressões. Coeficiente de ultrafiltração (Kf) é a área de superfície do glomérulo. Se esclerosar, esse Kf também vai reduzir. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Fluxo depende da diferença de pressão arterial e venosa e da resistência vascular renal (determinada pela microcirculação) Equação que utiliza as variáveis que determinam a pressão efetiva de ultrafiltração. Qualquer alteração pode reduzir o ritmo de filtração glomerularA medida em que fazemos vasoconstrição, temos redução de fluxo sanguíneo e da taxa de filtração glomerular. Vasoconstrição na eferente aumenta a pressão e aumenta também a taxa de filtração. Se a vasoconstrição foi muito intensa, temos um curso bifásico pois tem queda na taxa de filtração ao prejudicar o fluxo sanguíneo Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Tem esse processo de modulação por autorregulação no feedback túbulo-glomerular (pela mácula densa), e isso pode impactar nesses resistores. Paciente perdendo sódio e água e tem hipotensão: a perfusão do rim reduz e a pressão de filtração cai também. Porém, o rim tem mecanismos internos que mesmo com a pressão sanguínea em queda, ele possa manter a autorregulação para a filtração se manter preservada. Túbulo proximal recapta bastante sódio e água, mas a macula densa percebe pouco sal e agua na corrente sanguínea. Para manter a taxa, por meio de prostaglandinas, ele abre a aferente e fecha a eferente, justamente para aumentar a pressão de filtração. Dar anti-inflamatórios, nesse caso, traria vasoconstrição em ambas as arteríolas e a taxa de filtração glomerular cairia absurdamente mais. Esse processo de autorregulação se perde um pouco em alguns cenários. Pacientes com hipertensão arterial crônica acaba por mudar essa autorregulação, fazendo com que um nível pressórico X, considerado normal, já possa a ser uma hipotensão. A curva desses pacientes já foi deslocada para a direita ao longo dos anos. Querer voltar esse paciente para a pressão normal em um curto espaço de tempo pode leva-lo a uma isquemia cerebral ou renal por “queda” de pressão. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Avaliação clínica da filtração. - O ideal seria ter uma substância que é filtrada e que não sofre nenhuma alteração no processo. - Temos a Inulina, mas só utilizamos em forma experimental para analisar clearence. - A creatinina que utilizamos, não e ideal pois é filtrada, porém 10% dela é secretada nos túbulos A creatinina e avaliação clínica do RFG Para representar, temos um balde com um furo, de onde sai a água que a torneira enche. Cada um tem as variáveis diferentes de fluxo. Se a torneira abrir mais, a agua sobe, e a vazão em algum momento vai dar um jeito de se equiparar, e entrar em balanço, mas agora, a um novo nível estacionário do tanque. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Aqui, temos a redução da taxa de escoamento da torneira. O nível vai descer até novamente ter a vazão do que está entrando, mas novamente a um novo balanço e novo nível estacionário. Aumento da vazão até o balanço Redução da capacidade de vazão do balde. Ao aumentar a agua, ela exerce pressão maior até a vazão do balde aumentar e entrar em balanço novamente Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Nosso organismo vive em balanço. Não dá pra comer 10g de sal e eliminar apenas 2g. Quando ocorre quebra desse balanço é onde ocorre as alterações de homeostase Edema extracelular é sinal de retenção de sódio. Muita agua ingerida, já é edema celular. Balanço negativo de potássio dá em hipocalemia. O rim elimina em proporções para que a homeostase normal do corpo seja mantida. Ele é como se fosse uma máquina de proporções, tudo o que estamos inserindo, ele faz o balaço de concentração, guarda o que é necessário e elimina o resto para manter a homeostase sistêmica. Existe uma osmolaridade plasmática que se mantem em uma faixa de sódio, se ela sobe, as células murcham, e se a osmolaridade plasmática cai, incha as células de agua e pode levar a edema cerebral. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 O caso da creatinina Balanço passivo, o que produz eu elimino. Ela é um produto da reação da fosfocreatina que está no musculo . Aminoácidos geram creatina, que é fosforisada, gerando ATP, e energia para o musculo, e o produto final é a creatinina. É um produto muscular, sendo assim, quanto maior a massa e maior a atividade muscular, maior a quantidade de creatinina que é filtrada e secretada, seguindo a mesma proporção que foi produzida. A carga excretada é praticamente similar a carga filtrada na urina. Um pouquinho de nada é secretada nos rins. Mas consideramos a similaridade. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 A imagem mostra um musculo produzindo creatinina diária, onde ainda temos um ritmo de filtração glomerular e uma quantidade de creatinina excretada. Notar ainda que uma quantidadezinha de creatinina permanece circulante, na setinha preta. Quanto de creatinina vou excretar? Uma concentração que está no plasma x ritmo de filtração = carga filtrada Carga excretada = concentração na urina de 24h x o volume que tem ali O clearence vai ser creatinina da urina de 24h x volume / creatinina plasmatica. Isso tudo dividido pela quantidade de minutos no dia (1440). A concentração é em mg por decilitro que corta, e vai ser dado em mL do volume por minuto. Isso tudo traduz em CLEARENCE, que é sinônimo de depuração, o ficou livre de creatinina. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 O jorro da torneira é a produção e atividade, a vazão é o ritmo de filtração e o nível é a concentração de creatinina do plasma que está no sangue A medida que o músculo hipertrofia, sobe o nível de creatinina produzida pelo metabolismo muscular e uma nova vazão de excreção precisa ser estabelecia até chegar em um novo balanço. Porém, isso foi às custas do nível estacionário da creatinina subir, e sair do nível padrão do exame, mas sem lesão renal pois o ritmo glomerular não mudou. Então não traduz em uma perda de função, mas sim de um aumento na hipertrofia muscular. Redução do ritmo de filtração. Exemplo de alguém que fez uma maratona e usou medicamentos ilícitos que levou a uma rabdomiólise e o excesso de mioglobina lesou o rim, tendo perda rápida de função. Ele para de eliminar creatinina e o nível sérico subiu por parar de filtrar Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Relação inversa entre o ritmo de filtração. No eixo X temos a concentração da creatinina plasmática. A medida que a taxa de filtração reduz, o nível de creatinina sérica sobe. Em cinza claro, tem o valor de referência. A queda de função deve ser expressiva até que o nível plasmático de creatinina suba acima do valor de referência. Mesmo com a creatinina baixa, já pode ter perdido mais de 50% da taxa de filtração. Depois disso, qualquer insulto adicional já estoura a creatinina, pois ele não tem mais reserva funcional do rim. Um pouco da creatinina é secretada, mas ela ainda é muito mais fácil de ser dosada em relação a outras substâncias. Apenas em alguns cenários isso atrapalha, como em massas musculares muito destoantes. Dentro desses pacientes, vamos traçar a curva abaixo, nas 3 bolinhas vermelhas. Vemos que o mesmo nível de creatinina tem ritmos de filtração glomerulares completamente distintos a despeito da massa muscular. Um paciente caquético com 1,3 de creatinina, que seria um nível normal para o atleta, para ele já pode classificar uma lesão renal. Como identificar? O que você produz, é o que ele excreta. Ao fazer a correlação na formula, vemos que a creatinina urinaria do paciente “bombado” vai estar muito maior, relatando que a produção de creatinina dele é bem aumentada. Agora, o caquético terá que a quantidadeexcretada dele é pequena, e esse 1,3 de creatinina é muito elevado em ponto de vista de proporção. Porém, não fazemos isso constantemente na pratica clínica. Não é comum ficar coletando urina de 24h. Poderia também dosar a cistatina C, e eliminamos a massa muscular no cálculo de clearence. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Creatinina desse paciente quase não existe, creatinina 0,03. Se ele tivesse 0,8 de creatinina, seria uma baita de uma lesão renal. Seria o equivalente a 5 ou 6 de creatinina de uma pessoa de peso normal. Perdemos néfrons ao longo do envelhecimento. Cai 0,8 a 1 ml por ano a partir dos 40 anos. Essa perda da taxa da filtração é comum no envelhecimento. Equações para estimar RFG Não ficamos pedindo urina de 24h, mas ainda utilizamos apenas a creatinina plasmática como parâmetro. Usamos formulas que utilizam de idade, sexo, raça e a creatinina sérica. CKD-EPI é mais usada. Colocar no google e calcular, pois, é impossível de calcular manualmente. Baseado nos parâmetros, ele vai me dar uma estimativa do ritmo de filtração. Perde a acurácia em casos de pacientes muito fora da curva, como o caso de pacientes com musculatura hipertrofiada. Nesse caso, faz a urina de 24h ou uma cistatina C. Existem formulas de CKD- EPI pra cistatina C. Comparando os 2 valores, veremos a que a taxa desse paciente não vai estar ruim, e que aquela creatinina aumentada vem da massa muscular aumentada. Mas do ponto de vista prático, ela é a formula de melhor acurácia. OBS.: Essas são formulas criadas para pacientes crônicos, onde a creatinina não oscila, ou oscila muito pouco. Existem outras classificações para lesão renal aguda, que veremos nas próximas aulas. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Essa formula está em desuso por tem menor acurácia O problema aqui, é que essa formula vem indexada a uma área corporal de 1,73 m2. Em alguns casos, precisaremos desindexar esse parâmetro. Por exemplo, paciente de câncer com 65 anos, de 1,40m e superfície corpórea pequena. Precisamos calcular a dose do quimioterápico baseado na taxa de filtração glomerular, pois causam lesão renal (principalmente os de CA de cabeça e pescoço). CASO C do slide: indexado a área de superfície, o cálculo mostra que pode ser feito até 70% da dose, mas na realidade, com a área de superfície corporal dessa pessoa sendo mais baixa, a dose ideal seria de apenas 60%, e isso pode trazer problemas de nefrotoxicidade. O mesmo vale para pessoas que tem superfície corporal maior, podem acabar tomando doses mais baixas que o ideal.