Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Estudante dedicada trypanosoma Cruzi 1. Identificar a possível doença e suas possíveis causas. A doença citada pelo caso é a doença de chagas, ou tripanossomíase americana . A Doença de Chagas é uma antropozoonose de elevada prevalência e expressiva morbimortalidade. Ainda representa importante problema de saúde pública em diferentes países da América Latina, com impactos sociais e econômicos,considerada negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Sua transmissão para seres humanos e outros mamíferos ocorre principalmente pelo inseto vetor conhecido como “barbeiro” (triatomíneo) Foi descoberta e descrita pela primeira vez por Carlos Chagas em 1908, ele conseguiu encontrar flagelados no intestino de triatomíneos. Chagas conseguiu estabelecer a etiologia e o ciclo parasitário, identificar os insetos vetores, os reservatórios domésticos e silvestres da nova tripanossomíase,descrever a doença e seu diagnóstico, enfeixando assim todos os aspectos básicos de sua patologia e epidemiologia. Essa doença pode ser transmitida de distintas formas : ● Transmissão pelo vetor: este mecanismo de transmissão é o que tem maior importância epidemiológica. A infecção ocorre pela penetração de tripomastigotas metacíclicos (eliminados nas fezes ou na urina de triatomíneos, durante o hematofagismo) em solução de continuidade da pele ou mucosa íntegra. O barbeiro deposita sobre a pele do indivíduo enquanto suga o sangue. A picada provoca coceira que, por sua vez, provoca microfissuras nas pele. Nessa situação, as fezes com parasita caem na corrente sanguínea. Além disso, o Trypanosoma cruzi pode entrar no organismo pela mucosa dos olhos, nariz e boca. ● Transmissão oral: pode acontecer em várias situações,como na amamentação, pois o T.cruzi já foi encontrado em leite materno na fase aguda da infecção; animais ingerindo triatomíneos infectados; canibalismo entre diferentes espécies de animais; pessoas ingerindo alimentos contaminados (muito recorrente na região norte, através do consumo do açaí) com fezes ou urina de triatomíneos infectados. A penetração do parasito, em todos estes casos, pode ocorrer pela mucosa da boca ou gastrointestinal, íntegra ou lesada. ● Transfusão sanguínea/ transplante de órgãos: este constitui um mecanismo de importância epidemiológica na transmissão da doença de Chagas, teve amplificação pelo processo de urbanização da doença de Chagas no Brasil e em outros países endêmicos na América Latina. Antigamente, era muito recorrente no Brasil, no entanto na atualidade existem mecanismos de testagem do sangue que é transfundido, levando a diminuição dos riscos de contaminação. ● Transmissão congênita (vertical): A transmissão ocorre quando existem ninhos de amastigotas na placenta, que liberariam tripomastigotas que chegariam à circulação fetal. O diagnóstico diferencial é feito pelo encontro do T. cruzi na placenta ou pesquisa de anticorpos IgM anti-T. cruzi no soro do recém-nascido pela RiFI ou ELISA. ● Acidente de laboratório: pode ocorrer entre pesquisadores e técnicos que trabalham com o parasito, seja no sangue de animais, pessoas infectadas, meios de cultura ou vetores. A contaminação pode se dar por contato do parasito com a pele lesada, mucosa oral ou ocular ou auto-inoculação. É necessário trabalhar bem e com todas as condições de segurança. ● Transmissão via sexual: este mecanismo de transmissão pelo potencial das mucosas para a transmissão, essa via é teoricamente possível. Foi demonstrada a transmissão em modelos animais e possibilidade de transmissão em humanos. 2. Identificar e caracterizar os possíveis agentes etiológicos e vetores. Morfologia do Agente etiológico A tripanossomíase americana, ou doença de Chagas, tem por agente causal o protozoário Trypanosoma cruzi, que determina no homem quadros clínicos com características e consequências muito variadas. O Trypanosoma cruzi é um protozoário unicelular flagelado, pertence ao filo Sarcomastigophora, da ordem Kinetoplastida e da família Trypanosomatidae. Esse agente etiológico faz parte de um grupo que se destaca porque seus membros possuem, além das estruturas celulares habituais, uma organela bastante singular, o cinetoplasto. Este é formado por um segmento de sua longa mitocôndria onde se encontra abundante DNA de tipo especial, o kDNA. O núcleo é único, havendo também um só flagelo, que nasce do corpúsculo basal ou blefaroplasto, junto ao cinetoplasto. O grupo constitui a ordem Kinetoplastida, onde a família Trypanosomatidae reúne grande número de espécies parasitas de insetos e de vertebrados . Trypanosoma cruzi apresenta muitas variações morfológicas, fisiológicas e ecológicas, além de variações quanto à sua infectividade e patogenicidade, o que leva os autores a pensar que não se trate de uma espécie bem definida mas sim de um "complexo cruzi"', englobando várias entidades. Mais de 60 linhagens ou cepas já foram descritas por diferentes autores, segundo diferentes critérios. Com base nas informações reunidas e nos estudos sobre o DNA ribossômico, três grupos de T. cruzi foram propostos no Brasil (1999): ● O grupo 1 é aquele encontrado em animais silvestres e triatomíneos que com eles convivem, particularmente na região amazônica. Esses flagelados mantêm-se no ciclo silvestre e produzem, no homem, infecções esporádicas e assintomáticas. ● O grupo 2 é o prevalente nas áreas endêmicas da doença humana e tem como principal vetor o Triatoma infestans. Supõe-se que seja originário dos Andes bolivianos, tendo-se adaptado, com este vetor, a um ciclo doméstico nas habitações rústicas das zonas rurais.Acompanhando migrações humanas, propagou-se para os países do sul do Continente e invadiu o Brasil a partir dos estados sulinos. Ele é responsável pelas formas sintomáticas e graves da doença. ● O grupo 3, de ocorrência mais rara, é também uma zoonose de animais silvestres, a merecer mais estudos para compreensão de seu papel epidemiológico. Os T. cruzi dos grupos 1 e 3 raramente causam infecções (assintomáticas) do homem. Os gêneros e espécies da família Trypanosomatidae, ainda que possuam todos basicamente a mesma organização, exibem morfologia que varia não só de gênero para gênero, ou de espécie para espécie, como também no decorrer do ciclo biológico de cada espécie. As mudanças morfológicas podem estar condicionadas pelo tipo de hospedeiro em que a espécie se encontre (vertebrado ou invertebrado), do tecido que esteja parasitando (sangue, fibras musculares, macrófagos etc.) ou, mesmo, da posição que o parasito esteja ocupando no aparelho digestivo do inseto vetor. Também nos meios de cultura a forma se modifica no decurso do tempo devido a outras circunstâncias . Os tripanossomatídeos possuem, graças à diferenciação celular, uma alternância de suas formas celulares. Esse pleomorfismo é evidente, principalmente, na transição entre hospedeiros vertebrados e invertebrados, mas também pode ocorrer frente às mudanças fisiológicas de um mesmo organismo. As formas que o Trypanosoma cruzi pode apresentar 3 formas evolutivas identificáveis, durante seu ciclo vital , são: ➔ tripomastigota – possui forma alongada, cinetoplasto arredondado posteriormente ao núcleo, flagelo emergindo da bolsa flagelar. Essa forma é altamente infectante e é encontrada no inseto vetor, hospedeiros vertebrados, cultura de células infectadas; ➔ Amastigota – possui formado arredondado, cinetoplasto em forma de bastão na região anterior ao núcleo, flagelo curto também emergindo da bolsa flagelar. Pode ser encontrado no interior das células hospedeiras; ➔ Epimastigota – formato alongado, cinetoplasto em forma de bastão na região anterior ao núcleo. O flagelo emerge da bolsa flagelar com abertura lateral. Pode ser encontrado no tubo digestivo do inseto vetor. A importância do flagelo se dá pela movimentação, sobretudo no final do ciclocelular. Nesse momento, originam-se as formas tripomastigotas, que se movimentam intensamente no citoplasma da célula hospedeira. É por meio dessa movimentação que a célula é rompida. Ciclo biológico O ciclo biológico do T: cruzi é do tipo heteroxênico (Fig. 11.3), passando o parasito por uma fase de multiplicação intracelular no hospedeiro vertebrado (homem e mamíferos pertencentes a sete ordens diferentes) e extracelular no inseto vetor (triatomíneos). Um inseto vetor infectado triatomíneo (ou inseto “beijador”) se alimenta de sangue e libera tripomastigotas em suas fezes próximo ao local da picada. Os tripomastigotas entram no hospedeiro através da ferida da picada ou das membranas mucosas intactas, como a conjuntiva . No interior do hospedeiro, os tripomastigotas invadem as células próximas ao local da inoculação, onde se diferenciam em amastigotas intracelulares . Os amastigotas se multiplicam por fissão binária e se diferenciam em tripomastigotas e, em seguida, são liberados na circulação como tripomastigotas da corrente sanguínea . Os tripomastigotas infectam células de uma variedade de tecidos e se transformam em amastigotas intracelulares em novos locais de infecção. Manifestações clínicas podem resultar desse ciclo infeccioso. Os tripomastigotas da corrente sanguínea não se replicam (diferente dos tripanossomos africanos). A replicação recomeça apenas quando os parasitas entram em outra célula ou são ingeridos por outro vetor. O inseto do “beijo” é infectado ao se alimentar de sangue humano ou animal que contém parasitas circulantes . Os tripomastigotas ingeridos se transformam em epimastigotas no intestino médio do vetor . Os parasitas se multiplicam e se diferenciam no intestino médio e se diferenciam em tripomastigotas metacíclicos infectantes no intestino posterior . Além dos humanos, vários mamíferos servem como hospedeiros reservatórios para o T. cruzi, por exemplo, tatus, gambás, guaxinins, ratos silvestres, alguns outros roedores e cães domésticos. As espécies comuns de vetores de triatomíneos para tripanossomíase pertencem aos gêneros Triatoma , Rhodnius e Panstrongylus Vetores Trypanosoma cruzi infecta grande número de mamíferos e é transmitido de um hospedeiro a outro por intermédio de insetos estritamente hematófagos - os triatomíneos - , que são hemípteros da família Reduvüdae e subfamília Triatominae . No Brasil, existem cinco espécies mais importantes: a) Triatoma infestans b) Triatoma brasiliensis c) Panstrogilus megistus d) Triatoma pseudomaculata e) Triatoma sordida. Eles possuem hábitos noturnos e um adulto tem longevidade de 9 a 20 meses. A segmentação de seu corpo, assim como de todos os insetos, é dividida em cabeça, tórax e abdômen. Tanto as ninfas como os adultos são hematófagos, assim como os machos e as fêmeas. Isso, epidemiologicamente, é ruim, pois aumenta a chance de contaminação. Ao todo, a ninfa possui cinco estágios (períodos compreendidos entre mudas) seguidos de um adulto alado. Esse ciclo pode durar de seis meses a dois anos, conforme seja a espécie. Para que ocorra uma muda é necessário que ocorra, no mínimo, um repasto sanguíneo. Isso é decorrente da distensão abdominal que, juntamente com fatores proteicos, vai ativar as células neurossecretoras. Os barbeiros, assim como os demais insetos, possuem um exoesqueleto, que é substituído através da muda ou ecdise. Esse fato permite o crescimento. Eles, ainda, possuem o corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen. A forma das peças que constituem cada uma dessas partes varia de acordo com as distintas espécies. Das 153 espécies de triatomíneos reconhecidas, no Brasil já foram encontradas e relatadas 68, das quais 24 são reportadas para o Estado da Bahia. Os habitats dos triatomíneos podem ser silvestres, peridomiciliares e intradomiciliares, sendo que nesses abrigos estão associados com uma fauna de vertebrados que servem de fonte alimentar, uma vez que cada espécies apresenta, por sua vez, especificidade em relação à preferência alimentar. 3. Relacionar as manifestações clínicas com os “ mecanismos de agressão e de defesa - MAD 's", evidenciando os principais processos patológicos envolvidos nesta doença. A infecção por Trypanosoma cruzi mobiliza mecanismos das imunidades inata e adquirida. Apesar da redução na multiplicação desse parasita, a sua persistência leva o sistema imune a uma atividade prolongada, o que provoca lesões teciduais e, eventualmente, alterações musculares e nervosas. Nesse sentido, a imunidade é responsável tanto pelo combate do patógeno como pelas lesões locais oriundas da atividade antiparasitária. No entanto, a persistência indefinida do parasita, leva a uma atividade prolongada do sistema imune, culminando no aparecimento de lesões teciduais e, eventualmente, a alterações funcionais musculares e nervosas, características da Doença de Chagas. As células e mecanismos efetores do sistema imune seriam então responsáveis, tanto pelo controle da multiplicação do parasita nos tecidos como pelas lesões locais resultantes da atividade antiparasitária. A imunidade inata ao 'T: cruzi existe e pode ser verificada em aves totalmente refratárias à infecção pelo 'T: cruzi. A explicação para tal fenômeno é que nas aves ocorre a lise mediada por complemento (LMCo) via alternativa, de maneira muito eficiente e independente da ação de anticorpos. As células natural killer (NK) também exercem papel fundamental limitando a multiplicação do parasita e promovendo a imunidade celular inata através da liberação de citocina IFN-y, relevante na ativação de macrófagos que destroem os parasitas por liberação de óxido nítrico (NO) e do ânions superóxidos (O;) produzidos rapidamente pela imunidade inata. Além disso, o IFN-a, tem um papel-chave na indução da atividade Thl imunoprotetora. Um fato que evidencia a presença de imunidade adquirida, bem demonstrado em modelos experimentais, é que uma nova infecção por 'T: cruzi pode se estabelecer ao lado de uma infecção preexistente sem ocorrer reagudização e aumento da parasitemia. Apenas um aumento dos níveis de anticorpos é verificado temporariamente após a reinfecção indicando ser a imunidade na doença de Chagas do tipo parcial. Há também indicações de que a imunidade da doença de Chagas é dependente da presença do parasito no hospedeiro, pois já foi demonstrado que camundongos tratados e curados tornam-se novamente susceptíveis a infecção desenvolvendo nova fase aguda com alta parasitemia. ➔ Imunidade humoral Aparentemente a imunidade humoral exerce um papel fundamental no controle da infecção. Diversos autores têm demonstrado que uma forte ativação do sistema imunológico ocorre durante a fase aguda da doença de Chagas. No primeiro estágio da doença é observada uma grande mobilização do sistema imune com o objetivo de conter o parasito e os danos da infecção. O parasito promove a ativação inespecífica de macrófagos e células natural killer (imunidade celular) acompanhado de ativação de linfócitos T e B, resultando numa produção de imunoglobulinas (imunidade humoral) Com relação a imunidade humoral, tem sido bem documentado em diversos modelos experimentais e em humanos, que o surgimento de IgM e IgG são precoces (sete a 15 dias após infecção) atingindo níveis elevados a partir da quinta semana de infecção coincidindo esta elevação com o aumento da parasitemia detectável ao exame a fresco. Alguns meses após a infecção (três ou mais) e depois da queda da parasitemia, os níveis de IgM diminuem progressivamente até desaparecerem. São raros os casos de IgM positiva durante a fase crônica da infecção. Por outro lado, anticorpos IgG aumentam por mais alguns meses e depois decrescem lentamente estabilizando-se em níveis variáveis de hospedeiro para hospedeiro podendo ser facilmente detectáveis pelo testes sorológicos ao longo da infecção. Alguns estudostêm encontrado correlação entre a presença de altos níveis de IgM e cardiopatia chagásica crônica, níveis elevados de IgA e forma digestiva da doença e níveis elevados de IgE anti-T. cruzi em pacientes chagásicos com a forma cardíaca. Em um hospedeiro na fase crônica da infecção, existem evidências de que o mecanismo de LMCo ocupa um papel fundamental na manutenção da parasitemia em níveis subpatentes. Este mecanismo imunológico de controle da infecção foi intensivamente estudado demonstrando-se que os anticorpos responsáveis por este fenômeno (denominados anticorpos líticos, subclasses IgG1 e IgG2) atuam apenas sobre tripomastígotas vivos e estão presentes em infecções ativas. Sendo assim, métodos de diagnóstico explorando este mecanismo foram padronizados com o objetivo de determinar a cura de pacientes tratados. Mais recentemente foi verificado que anticorpos que reconhecem o epítopo terminal contendo galactosil a 1-3-galactose (anticorpos antigal) também exercem atividade lítica sobre o parasito independente da presença de complemento. Estes anticorpos elevam-se na fase aguda da infecção e permanecem elevados durante a fase crônica. ➔ Imunidade celular O papel da participação da imunidade celular na doença de Chagas não é muito conhecido. O parasito ativa as células NK a sintetizarem o IFN-y. Esta citocina constitui um importante mediador da resistência à infecção e passa nos estágios posteriores da infecção a ser produzida por células T CD4' e T CD8'. As citocinas IL-12 e TNFa (produzidas por macrófagos) e IFN-y participam desta interação de forma cooperativa. A IL-10, antagônica ao IFN-y, também é produzida intensamente pelos macrófagos durante a infecção. Portanto, o balanço dessas respostas determinaria o curso da infecção aguda na doença de Chagas. Entretanto, a divisão de aspectos protetores e lesivos no paradigma Thl e Th2 não foi estabelecida para esta infecção. ➔ Auto imunidade Quando se analisa as linhagens de células T, verifica se que as células T CD4' aparentemente são mais importantes na proteção contra a infecção por 7: cruzi na faseaguda da infecção, devido a produção de citocinas, como IFN-g, e pelo estímulo de produção de anticorpos líticos que auxiliam na destruição dos parasitas intra e extracelulares. As células T CD8+ parecem ter participação mais importante na fase crônica da infecção e na gênese das lesões, estando associadas a fenômenos de citólise, fibrose tecidual e, portanto, as manifestações cardíacas e intestinais da doença. A ocorrência de lesões progressivas, associadas a fenômenos degenerativos intensos (inflamação, fibrose e denervação), em pacientes com baixa parasitemia na fase crônica da infecção apresentando as formas clínicas graves da doença, sugerem que a auto-imunidade exerce um papel importante na gênese das lesões na doença de Chagas. Este fato seria explicado pelo fato de que tecidos e órgãos do hospedeiro adquirem componentes do parasito sendo, portanto, reconhecidos por anticorpos e células que atuariam sobre o mesmo. O surgimento de métodos mais sensíveis para a detecção do parasito, como a PCR e as reações de imuno-histoquimica, demonstrou claramente que a presença do parasito nas lesões seria de fato responsável pelo início de todo o processo degenerativo e também pelo desencadeamento de fenômenos de auto-agressão. Quando se analisa as linhagens de células T, verificase que as células T CD4' aparentemente são mais importantesna proteção contra a infecção por 7: cruzi na fase aguda da infecção, devido a produção de citocinas, como IFN-g, e pelo estímulo de produção de anticorpos líticosque auxiliam na destruição dos parasitas intra e extracelulares. As células T CD8+ parecem ter participação mais importante na fase crônica da infecção e na gênese das lesões,estando associadas a fenômenos de citólise, fibrosebtecidual e, portanto, as manifestações cardíacas e intestinais da doença. A ocorrência de lesões progressivas, associadas a fenômenosndegenerativos intensos (inflamação, fibrose e denervação), em pacientes com baixa parasitemia na fase crônica da infecção apresentando as formas clínicas graves da doença, sugerem que a auto-imunidade exerce um papel importante na gênese das lesões na doença de Chagas. Este fato seria explicado pelo fato de que tecidos e órgãos do hospedeiro adquirem componentes do parasito sendo, portanto, reconhecidos por anticorpos e células que atuariam sobre o mesmo. O surgimento de métodos mais sensíveis para a detecção do parasito, como a PCR e as reações de imuno-histoquimica, demonstrou claramente que a presença do parasito nas lesões seria de fato responsável pelo início de todo o processo degenerativo e também pelo desencadeamento de fenômenos de auto-agressão. A doença de Chagas tem uma fase aguda e outra crônica. A fase aguda geralmente é assintomática, mas pode se manifestar com sintomas somáticos inespecíficos. Raramente, a fase aguda pode ser mais grave, com sinais e sintomas cardíacos ou neurológicos em potencial. Lesões nodulares ou furúnculos, geralmente chamados de chagomas, podem se desenvolver em torno do local de alimentação do vetor. Chagomas que ocorrem nas pálpebras são comumente referidos como edema firme palpebral e periocular. A maioria dos casos agudos se resolve em um período de algumas semanas ou meses em uma forma crônica subclínica da doença (“forma indeterminada”). A reativação da doença de Chagas dessa forma assintomática pode ocorrer em pacientes com HIV ou em uso de imunossupressores. A forma crônica sintomática (“forma determinada”) pode demorar anos ou mesmo décadas após a infecção inicial. Isso pode incluir envolvimento cardíaco ou gastrointestinal, que ocasionalmente ocorrem juntos. As muitas complicações da doença de Chagas crônica podem ser fatais. A invasão amastigota do músculo liso pode causar megaesôfago, megacólon e cardiomiopatia dilatada. Forma cardíaca da fase crônica A cardiopatia chagásica crônica, que tem como substrato morfológico fundamental a miocardite crônica progressiva e fibrosante, pode ser assintomática ou se manifestar como síndrome congestiva e/ou como alterações do ritmo cardíaco e da condução do estímulo elétrico. Outras vezes, sua primeira manifestação é a morte súbita. No miocárdio, o processo se mantém pela eclosão de repetidos focos de inflamação que tendem a confluir com o tempo, conferindo o aspecto zonal/difuso à lesão. Desde as fases iniciais do processo, há alterações degenerativo-necróticas das fibrocélulas já expostas anteriormente. À medida que o processo evolui, a fibrose substitui as fibras cardíacas destruídas e circunda as demais fibrocélulas, as quais se atrofiam e podem desaparecer. Há, também, a formação dos chamados megas. Estes são dilatações permanentes e difusas de vísceras ocas ou de canais, mas não há obstáculo mecânico; são muito frequentes no esôfago e cólon. Forma digestiva da fase crônica O megaesôfago é uma ocorrência que pode aparecer em qualquer idade, porém, a maioria dos casos é observada entre os 20 e 40 anos, em homens e na zona rural. Os principais sintomas são disfagia, odinofagia, dor retroestemal, regurgitação, pirose, soluço, tosse e sialose. O megacólon, por sua vez, compreende as dilatações dos cólons sigmoide e reto. É mais frequente no homem adulto entre 30 e 60 anos. O diagnóstico é feito mais tardiamente, pois a obstipação, o sintoma mais frequente, é encontrado em outras partes digestivas. Forma nervosa Nesse caso, tem-se a denervação como mecanismo patogênico básico. Ela consiste em agregados de células gliais e linfoides, sem encontro de parasitas. Ainda, admite-se que, na fase crônica, a perda/diminuição de neurônios possa ser consequência da isquemia devido à ICC e arritmias cardíacas. 4. Caracterizar as principais formas de diagnóstico, controle e tratamento. Elementos importantes para a suspeitada etiologia chagásica são: a região de procedência do paciente ou o fato de ter vivido ou pernoitado em casas onde havia triatomíneos. Outro antecedente a levar em conta é o fato de o paciente ter recebido transfusões sanguíneas, mesmo fora das áreas endêmicas, pois nem todos os bancos de sangue cumprem as normas para uma triagem rigorosa dos doadores. Durante a fase aguda, o diagnóstico é facilitado e está presente o sinal de Romana . Em pacientes de áreas endêmicas, deve-se pensar na tripanossomíase americana sempre que crianças apresentarem febre, com poliadenite, aumento do fígado e do baço e sintomas cardíacos. Noutros casos, as arritmias e a insuficiência circulatória em adultos jovens chamam, muito, a atenção. Devido à inespecificidade e diversidade das manifestações clínicas, os métodos de laboratório devem ser utilizados sempre que se queira confirmar ou afastar o diagnóstico de tripanossomíase. No período agudo recomenda-se principalmente o exame parasitoscópico do sangue, a punção-biópsia de linfonodo, a imunofluorescência, e a hemaglutinação etc. Na fase crônica, são mais indicadas as provas imunológicas; o xenodiagnóstico e a cultura ou a inoculação em animais de laboratório. Diagnóstico laboratorial Os métodos de diagnóstico laboratorial apresentam diferentes resultados se aplicados na fase aguda ou crônica da infecção. Na fase aguda, observam-se: alta parasitemia, presença de anticorpos inespecíficos e início de formação de anticorpos específicos (IgM e IgG) que podem atingir níveis elevados. Nesta fase, recomenda-se: pesquisa direta e, se necessário, pesquisa indireta do parasito. Na fase crônica, observam-se: baixíssima parasitemia, presença de anticorpos específicos (IgG). Nesta fase, a presença de anticorpos IgM é discutida, só sendo detectada esporadicamente em baixos títulos. Recomendam-se métodos sorológicos (imunofluorescência indireta, ELISA, hemaglutinação indireta ou fixação de complemento) ou a pesquisa do parasito por métodos indiretos (xenodiagnóstico, hemocultura ou inoculação em animais de laboratório). Estes métodos de diagnóstico parasitológicos tomam-se especialmente necessários quando a sorologia é duvidosa ou quando se deseja verificar a eficácia do tratamento. Controle A profilaxia da doença de Chagas está intimamente ligada a melhoria das condições de vida dos indivíduos (principalmente aqueles que residem na zona rural), bem como a modificação do hábito secular de destruição da fauna e da flora. Sabemos que para se alcançar isto será necessário modificar a estrutura desigual brasileira e a educação sanitária. Assim, se faz necessário em virtude de evitar a presença dessa doença e de seu vetor: ● melhoria das habitações, com adequada higiene e limpeza da mesma; ● curar os doentes; ● educação sanitária; ● combate ao triatomíneo por meio de inseticidas e outros métodos auxiliares (combate biológico etc.);utilização de telas em portas e janelas ; ● identificação e seleção dos doadores de sangue; ● controle da transmissão via sexual, com o uso de preservativo durante as relações; ● controle da transmissão congênita; ● Evitar consumir alimentos crus, principalmente carnes que possam ter sido possivelmente contaminados (açaí, cana); Tratamento A terapêutica da doença de Chagas continua parcialmente ineficaz, apesar dos grandes esforços que vêm sendo desenvolvidos por vários laboratórios e pesquisadores, em especial de brasileiros, argentinos, chilenos e, mais recentemente, os venezuelanos. Diversas drogas vêm sendo testadas em animais e algumas delas têm sido usadas no homem,mas nenhuma consegue suprimir a infecção pelo t. cruzi e promover uma cura definitiva em todos pacientes tratados. Na atualidade, duas drogas têm sido mais usadas para o tratamento da doença de chagas. São o nifurtimox (Lampit) e o benzonidazol (Rochagan). Estes medicamentos são indicados especialmente nos casos agudos que tenham ocorrido por transmissão natural, por transfusão sanguínea ou acidental, reagudização por qualquer droga ou doença imunossupressora e na prevenção da transmissão por transplantes de órgãos. De toda a forma, o objetivo é, precocemente, diminuir ou eliminar a infecção, o que tem sido mais fácil durante a fase aguda ou infecção recente. Esta é a razão pela qual a OMS recomenda que as pessoas que trabalham em laboratório, sujeitas ao risco de infecção com o 7: cruzi, façam exames sorológicos a cada seis meses detectando assim infecções recentes mais facilmente curáveis. Nos casos crônicos, apesar da pouca eficiência dos medicamentos, aconselha-se o seu emprego, principalmente em crianças ou nos acometidos com a forma indeterminada da doença ou formas cardíacas ou digestivas leves, paralisando, assim, sua evolução. Deve-se, por outro lado, esclarecer ao paciente o período prolongado de uso, as reações de toxicidade que provocam e que diminuindo a parasitemia e os ciclos endógenos haverá, pelo menos, redução da evolução da doença. Nifurtimox - age contra as formas sanguíneas e parcialmente contra as formas teciduais. É administrado via oral, sob a forma de comprimido na dose 8 a 12mg/kg por dia, até 90 dias. Os efeitos colaterais (que aumentam com doses mais prolongadas) são anorexia, emagrecimento, náuseas, vòmitos, alergia cutânea, parestesias irreversíveis, polineuropatia. Esta droga foi recentemente retirada do mercado. Benzonidazol - possui efeitos apenas contra as formas sanguíneas. Deve ser empregado em comprimidos, por via oral, na dose de 5 a 8mg/kg por dia, durante até 60 dias. Os efeitos colaterais observados são: anorexia, perda de peso, vertigens, dermatites urticariformes, cefaléia, sonolência e dores abdominais, hiperexcitabilidade, depressão medular, polineuropatia (mais frequente em idosos e de efeito cumulativo). Muitos estudos têm sido conduzidos na procura de terapias alternativas para o tratamento da doença de Chagas. Alguns deles, como o uso dos derivados azólicos ou de citocinas associadas ao benzonidazol (imunoquimioterapia) em modelos experimentais, vêm se constituindo em potenciais tratamentos para a infecção. 5. Relacionar os principais fatores de risco com a situação epidemiológica na Bahia e no Brasil. Os principais fatores de risco para doença de chagas estão relacionados às formas de habitações precárias, assim como a permanência em localidades nas quais há infestações desses vetores, o surgimento de de “novas” espécies contaminantes e a ingestão de alimentos contaminados ( com a ocorrência de surtos episódicos de transmissão oral ), sejam alimentos in natura em geral, acabam por ser as principais práticas de risco existentes para uma maior transmissibilidade da doença de chagas. A doença de Chagas é endêmica em 21 países do continente americano e estima-se que mais de 90% dos infectados desconhecem esta situação por falta de oportunidade de diagnóstico. Devido à globalização passou a ser uma doença presente na Europa e na Ásia. No Brasil, estima-se que existam hoje de 1,9 e 4,6 milhões de pessoas afetadas pela doença, das quais 60% vivem em áreas urbanas, provocando impactos sociais, previdenciários e assistenciais. Trata-se de gerações de pessoas vivendo com Chagas, a maioria na invisibilidade por não ter sido sequer diagnosticada e, portanto, alheia às possibilidades de tratamentos existentes. No Brasil, apenas os casos agudos são obrigatoriamente notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Ministério da Saúde). A maioria dos casos crônicos é desconhecida e não tratada. casos da doença (WHO, 2008; Dias, 2000). Migrações humanas não controladas, degradação ambiental, alterações climáticas, maior concentração da população em áreas urbanas e precariedade de condições socioeconômicas (habitação, educação, saneamento, renda, entre outras) inserem-se como determinantes e condicionantes sociais para a transmissãode T. cruzi ao homem. Negligenciadas em diferentes graus e perspectivas, as populações infectadas apresentam maior vulnerabilidade, que se expressa pela sobreposição e maior exposição a outras doenças, condições e agravos, menor cobertura com intervenções preventivas, maior probabilidade de adoecimento, menor acesso à rede de serviços de saúde, pior qualidade da atenção recebida em serviços de atenção primária, menor probabilidade de receber tratamentos essenciais, menor acesso a serviços de nível secundário e terciário, maior probabilidade de desenvolvimento de formas graves da doença e maior risco de evolução para óbito. Atualmente no Brasil, os surtos de transmissão oral causados pela ingestão de alimento contaminado por fezes de triatomíneos infectados ou pelo próprio inseto infectado triturado são os maiores responsáveis por novos casos da doença (Dias et al., 2008). Porém, embora sejam cada vez mais raros, ainda existem registros de casos novos por transmissão vetorial, transfusional e outros. Vale lembrar que a subnotificação e o sub registro são fatores que influenciam enormemente nos índices, relativamente baixos, da doença de chagas no brasil , essa letargia acaba por levar a um alastramento silencioso dessa enfermidade pelo país e, principalmente nas regiões norte e nordeste, assim como são condicionadas por diversos determinantes sociais e pelas desigualdades profundas. Nacional Entre o período de 2007 a 2016, foram registrados casos confirmados de doença de Chagas aguda na maioria dos estados brasileiros, com uma média anual de 200 casos. Entretanto, a maior distribuição, cerca de 95%, concentra-se na região Norte. Destes, o estado do Pará é responsável por 85% dos casos. Em relação às principais formas prováveis de transmissão ocorridas no país, 69% foram por transmissão oral, 9% por transmissão vetorial e em 21% não foi identificada a forma de transmissão. Apesar de não haver dados sistemáticos relativos à prevalência da doença, em estudos recentes as estimativas de prevalência variaram de 1,0 a 2,4% da população, o equivalente a 1,9 a 4,6 milhões de pessoas infectadas por T. cruzi. Reflexo disso é a elevada carga de mortalidade por DC no país, representando uma das quatro maiores causas de mortes por doenças infecciosas e parasitárias. Estadual Do total de 417 municípios existentes, 101(24,2%) municípios são classificados como de baixo risco, 219(52,5%) médio risco e 97 (23,3%) alto risco Na Bahia, o maior impacto em relação a doença de Chagas, tem sido representado pelas formas crônicas, especialmente a cardiovascular, que pode evoluir para óbito. Tem sido registrado, em média 400 a 500 óbitos anuais pela doença. Cabe assinalar que, em se tratando de doença com longo período de evolução, os óbitos atuais estão relacionados à infecção ocorrida há décadas anteriores. Quanto a forma aguda, os dados disponíveis no SINAN não têm refletido a real ocorrência desta forma da doença, foram notificados casos crônicos no período de 2010 a 2016 como se fossem agudos, dificultando a detecção dos casos novos pois, após monitoramento do Sistema pelo GT-Chagas/DIVEP, nenhum caso foi confirmado pelo critério laboratorial (parasitológico direto) ou clínico-epidemiológico.
Compartilhar