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Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI Tipos de Anemias Classificação morfológica: Essa classificação é utilizada, na prática clínica, associada com a classificação fisiopatológica. Se baseia nos valores do VCM, porém não esclarece a causa da anemia, mas sim o aspecto morfológico dos eritrócitos presentes na circulação. 1. Microcíticas (VCM < 80fl): Diminuição da Hb dentro do eritrócito, o que torna as hemácias hipocrômicas e microcíticas. Geralmente ocorre por diminuição da síntese do grupo heme por deficiência de Ferro. Também ocorre nas talassemias (redução da síntese de globina), nas anemias sideroblásticas (acúmulo de Fe nas mitocôndrias), hemoglobinopatia C (mutação no gene da cadeia globina beta). 2. Macrocíticas (VCM > 100 fl): Hemácias de grande volume e, geralmente, hipercrômicas. Não necessariamente indica anemia. Causada muitas vezes pelo consumo de álcool, quimioterapia ou anemia perniciosa. São divididas em megaloblásticas, decorrentes de deficiência de vit. B12 e/ou ácido fólico, e não megaloblásticas, podendo ser decorrente de reticulocitose ou reticulocitopenia associada à hipotireoidismo, hepatopatia e aplasia de série vermelha. 3. Normocíticas (VCM 80-100 fl): Também são normocrômicas. Corresponde a maioria das anemias de doenças crônicas (que, eventualmente, podem ser microcíticas). Se tiver uma resposta medular inadequada, com reticulócitos baixos na presença de anemia, existe uma doença de base que afeta medula óssea, direta ou indiretamente, porque o normal é esperar por aumento dos reticulócitos, caso a medula esteja funcionando corretamente. Assim, pesquisar por doenças sistêmicas (IRC, doenças da tireoide, hepatopatias). Caso reticulopenia venha acompanhada deleucopenia e plaquetopenia, deve--se suspeitar de doença da medula óssea (aplasia ou infiltração medular). Solicitar mielografia e biópsia de medula. Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI Classificação fisiopatológica: Já essa classificação fornece a base fisiopatológica para explicar os diferentes tipos de anemia. A avaliação depende da capacidade de regeneração medular. É baseada na contagem de reticulócitos e é dividida em três grupos: 1. Por deficiência de produção ou hipoproliferativa: Contagem de reticulócitos abaixo de 50.000/mmɜ. Ocorre por acometimento primário ou secundário da medula óssea ou por falta de estímulo à eritropoiese (ex: eritropoietina), falta de ferro, vit. B12 e/ou ácido fólico. Podem acompanhar doenças inflamatórias, infecciosas e neoplásicas. Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI 2. Por excesso de destruição ou hiperproliferativas: Típica das anemias hemolíticas, mas também pode ocorrer após perdas agudas de sangue. Sob estimulação máxima, a medula pode aumentar sua produção de 6 a 8 vezes, entretanto a sobrevida dos glóbulos vermelhos pode encurtar para 15-20 dias (compensação medular), levando a presença de reticulocitose, sem presença de anemia (estado hemolítico compensado). O estado de anemia hemolítico se estabelece quando a produção medular não é capaz de superar a taxa de destruição. Laboratorialmente anemia hemolítica se caracteriza por reticulocitose, ↑ bilirrubina indireta, ↑ desidrogenase lática, ↓ haptoglobina. Pode ocorrer por alterações intrínsecas dos eritrócitos (maioria genética) ou por agressões por agentes extrínsecos(malária, veneno, toxinas). Por perdas: Pode ser (A) aguda, como as anemias pós- hemorrágicas, em que há compensação pela medula caso estoques de Fe estejam preservados ou (B) crônica, que causam espoliação do Fe e, consequentemente, anemia por falta de produção. Anemias por deficiência na produção dos eritrócitos Anemia ferropriva Definida como o “estado mais avançado da deficiência de ferro”. A deficiência de ferro instala-se por mecanismos diversos: (1) aumento do consumo, (2) excesso de perda (hemorragias) ou (3) má absorção. Quando o organismo está em balanço negativo de ferro o primeiro evento é a depleção dos estoques de ferro para a produção de hemoglobina. O intestino aumenta a absorção de ferro antes mesmo do desenvolvimento da anemia. A ferritina sérica já se encontra reduzida. A Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI eritropoese nesses indivíduos resulta em células com conteúdo reduzido de hemoglobina, tornando-a hipocrômica e microcítica (observado no esfregaço sanguíneo) e por redução dos índices hematimétricos (VCM < 80 fL e CHCM < 32 g/dL). Além disso, as dosagens de ferro sérico e transferrina saturada de ferro são baixas. A contagem de reticulócitos também é reduzida. Aobservação do RDW é um importante no diagnóstico diferencial da anemia ferropriva com talassemias. Na anemia ferropriva o RDW está aumentado com os eritroblastos medulares picnóticos e irregulares. Além das manifestações comuns de anemia, na ferropenia podem surgir sintomas menos típicos como glossite atrófica (língua sem papilas gustativas), perversão do apetite, geofagia ou pica (vontade de comer terra e barro), disfagia cervical (síndrome de Plummer-Vinson, que ocorrem mais comumente em mulheres, mais idosas, onde há uma formação de uma membrana entre hipofaringe e o esôfago), coiloníquia, estomatite angular, amenorreia, cabelos finos e quebradiços e diminuição da libido. As principais causas para cada mecanismo estão disponíveis abaixo: Após o ferro ser absorvido, ele pode ser 1. Estocado na forma intestinal, através da ferritina (principal reserva de ferro no organismo). 2. Transportada e absorvida pelo plasma. O ferro é transportado no plasma através da ferroportina, sendo este transportador regulado pela hepcidina, hormônio produzido no fígado, que atua se ligando na ferroportina e diminuindo a sua ação e assim reduzindo a absorção do ferro. A hepcidina está aumentada no ambiente em que há aumento de citocinas inflamatórias, ou seja, em casos de anemia da doença crônica, e quando há aumento de ferro no organismo. Ela está diminuída em casos de hipóxia. Assim que o ferro é absorvido, a maior parte dele é transferida no organismo através da transferrina, que carrega esse ferro para outros tecidos com receptores de transferrina. O ferro pode ser levado para a medula óssea, onde vai ser armazenado na forma de ferritina ou vai ser utilizado para a síntese da molécula de hemoglobina dos eritrócitos. Quando o eritrócito chega ao fim de sua vida útil, ele é fagocitado pelos macrófagos no baço para a reciclagem do ferro. O ferro pode então se ligar à ferritina ou à transferrina para voltar a circulação. SE LIGA! No exame laboratorial da anemia ferropriva encontraremos: • Diminuição de Hb, Ht e VCM • Hipocromia e microcitose • Hemácias em alvo/ lápis • Aumento do RDW • Diminuição dos reticulócitos • Plaquetas podem estar aumentadas, em casos de sangramento crônico Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI • FERRITINA é o primeiro exame que se altera na anemia ferropriva, com redução do seu valor, uma vez que representa o estoque de ferro no organismo! • Diminuição do ferro sérico • Diminuição da transferrina • Capacidade total de ligação do ferro aumentada devido ao aumento de transferrina tentando captar o ferro. O exame padrão ouro para diagnosticar a anemia ferropriva é o mielograma com pesquisa de ferro medular com a coloração do Azul da Prússia. Porém, é pouco utilizado por ser um exame invasivo e pouco disponível, em comparação com os exames laboratoriais. O tratamento da anemia ferropriva é feito através da reposição de ferro, para normalizar a eritropoese e repor os estoques. Ferro via oral: Opção – Sulfato Ferroso 200mg (contém 67 mg de ferro elementar) Adultos: 2-3mg/kg/dia, ou seja, posologia aproximada de 2 a 4 comprimidos por dia. O medicamento deve ser tomado com o estômago vazio a cada 6horas, associado a uma substância ácida, como por exemplo o suco de laranja, que aumenta a absorção de ferro. Efeitos colaterais do ferro via oral: dor abdominal, náuseas, constipação ou diarreia, sensação de gosto amargo na boca e escurecimento das fezes. Ferro via parenteral: mais utilizado em casos em que há intolerância ao ferro via oral, falha no tratamento via oral, má absorção ou quando há necessidade urgente de repor o ferro. Opções: Ferro-dextran, gluconato férrico de sódio, ferro- sucrose, feromoxitol. Efeito colateral: anafilaxia grave O Feromoxitol é a opção com melhor absorção e menos efeitos tóxicos. SE LIGA! A duração do tratamento da anemia ferropriva deve ser feita até que o hemograma e o estoque de ferritina estejam normalizados, o que pode levar até 6 meses para acontecer. Anemia megaloblástica A causa mais comum desse tipo de anemia é a carência de folato e/ou cianocobalamina (vit. B12), sendo mais comum a deficiência de folato. SE LIGA! A vitamina B12 pode ser encontrada em carnes, peixes e laticínios. Após a ingestão da vitamina, ela vai se ligar ao fator intrínseco, liberado pelas células parietais do fundo gástrico e cárdia. O complexo vitamina B12 + fator intrínseco se liga ao receptor no íleo distal, sendo a vitamina absorvida e o fator intrínseco destruído. No plasma, a vitamina B12 é transportada pela transcobalamina até a medula óssea e o fígado. Ela é responsável por transformar homocisteína → metionina e CoA → Succcinil-CoA.] As principais causas de deficiência de B12 e de folato incluem: Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI O quadro clínico desses pacientes varia desde assintomáticos à sintomas clássicos de anemia associados a anorexia, emagrecimento, alterações do hábito intestinal (diarreia ou constipação), glossite, queilite angular, púrpuras, icterícia leve e hiperpigmentação cutânea. Os quadros severos de deficiência de anemia megaloblástica podem apresentar ainda polineuropatia periférica, com parestesia nos membros inferiores e das mãos, alteração de marcha e alterações esfincterianas. Sintomas do sistema nervoso central, como alucinações, não são comuns, mas só são observadas associadas a deficiência de B12. SE LIGA! Defeitos no tubo neural podem levar a quadros de anencefalia, espinha bífida e encefalocele, sendo causados pela deficiência de folato. Assim, é recomendada a suplementação de ácido fólico em gestantes. O diagnóstico é feito a partir de dosagens de vitamina B12 e/ou folato no sangue que estará reduzida indicando a deficiência. SE LIGA: As alterações laboratoriais encontradas na anemia megaloblástica são: • Hemácias macrocíticas • Reticulócitos diminuídos • Leucopenia/trombocitopenia • Neutrófilos hipersegmentados • B12 e ou folato diminuídos • Homocisteína aumentada • Acúmulo de ácido metilmalônico, principalmente na deficiência de B12 • Bilirrubina indireta e DHL aumentados, devido à hemólise • Na medula óssea, é observado hipercelularidade, falta de maturação e presença de metamielócitos gigantes. É importante investigar as causas de deficiência de B12 através da avaliação da história dietética e da avaliação gástrica através da endoscopia digestiva alta. Na investigação da deficiência de folato, é importante também se investigar a história dietética, além de se realizar testes de má absorção através da procura de anticorpos como o anti-trans-glutaminase e o anti-endomisio. Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI O tratamento da anemia megaloblástica consiste na administração da vttamina apropriada. Anemia perniciosa Doença autoimune definida como uma deficiência grave de fator intrínseco associado à gastrite atrófica. É mais comum em mulheres na 7a década de vida, estando associada a outras doenças autoimunes. Na anemia perniciosa ocorre produção de auto-anticorpos contra células parietais do estômago que impedem sua renovação e causam atrofia da mucosa. Sem a produção do fator intrínseco, ocorre diminuição da absorção de vitamina B12 no íleo. Podem ser encontrados também nessa doença, anticorpos contra as células da tireoide, associação com vitiligo, doença de Addison e hipoparatireoidismo. Anemia aplásica É uma doença rara definida como pancitopenia com hipoplasia medular na ausência de infiltrado neoplásico e aumento de reticulina. Pode ser por causa idiopática, exposição a fármacos, a agentes químicos ou infecção viral e ainda existe a forma congênita. A adquirida é a forma mais comum. É uma síndrome de falência medular, com superposição de outras doenças que cursam com falência medular como síndrome mielodisplásica (SMD) e leucemia mieloide aguda (LMA). SE LIGA! A anemia aplásica congênita, também denominada Anemia de Fanconi, é uma doença autossômica ou ligada ao X que está relacionada com o retardo mental e do crescimento, defeitos no esqueleto, alterações renais e cutâneas, além de risco maior de desenvolver neoplasias. As manifestações clínicas decorrem da anemia, neutropenia e plaquetopenia, cursando com astenia, palidez, hemorragias e tendência a infecções. Não ocorre adenomegalia ou hepatoesplenomegalia. Nos achados laboratoriais, é uma anemia normo/normo, com reticulócitos diminuído. Há plaquetopenia e neutropenia em graus variados. O diagnóstico é feito através da biópsia de medula óssea, onde observa-se um aspecto amarelado da medula decorrente da substituição por tecido gorduroso. O tratamento pode ser feito através da suspensão da causa da anemia, da realização do suporte transfusional caso necessário, prevenção de infecções. O transplante de medula óssea é realizado em casos selecionados. Pode ocorrer também a síndrome de Diamond-Blackfan, que é uma aplasia pura de células vermelhas, no qual há somente aplasia da série eritroblástica, cursando com granulócitos e plaquetas normais. O tratamento é feito com o uso de corticoide e o transplante de medula óssea. Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI Anemia de doenças crônicas É a anemia mais comum em pacientes com doença inflamatória crônica ou nos portadores de neoplasia. Comumente normo/normo. Ocorre em doenças sistêmicas de evolução prolongada e é caracterizada pela redução do ferro sérico e da capacidade de ligação do ferro e pela ferritina sérica normal ou aumentada, com presença de estoques de ferro normal (nos macrófagos). A patogênese chave nesse tipo de anemia é a produção de hepcidina pelo fígado, associado a processos infecciosos ou inflamatórios, que impede a absorção de ferro no intestino e aumenta o seu sequestro por macrófagos. Além disso, a hepcidina atua inibindo a liberação de ferro nos seus depósitos (fígado e baço), diminuindo a transferrina e a eritropoetina. SE LIGA! Os achados laboratoriais da anemia da doença crônica encontraremos: Hemácias normocíticas e normocrômicas, porém em até 1/3 desta anemia pode ser microcítica e hipocrômica Reticulócitos baixos Fe sérico baixo Capacidade total de ligação do ferro baixa Ferro medular aumentado Aumento de marcadores inflamatórios – VHS, PCR aumentados Ferritina está normal ou elevada A ferritina é um marcador de fase aguda e eleva-se em estados inflamatórios O tratamento da anemia da doença crônica compreende a correção da doença de base, sem necessidade de fornecer ferro ao paciente, porém, pode ser ofertada a eritropoetina. Anemias hemolíticas Quando a hemólise é patológica, diminui a vida média dos eritrócitos. A hemólise pode ser intravascular, quando a hemoglobina é liberada no plasma, ou extravasular, quando ocorre principalmente no baço. Quando a sobrevida dos eritrócitos está diminuída, a medula óssea aumenta o número de precursores eritroides, a fim de compensar a hemólise. A anemia só ocorre quando a hiperprodução medular não conseguese igualar ao ritmo da destruição. Assim, a medula pode acabar entrando em crise aplásica da anemia hemolítica, que corresponde a sua falência. As anemias hemolíticas podem ser congênitas (defeito corpuscular) ou adquiridas (defeitos extracorpusculares). Nos achados clínicos, observa-se anemia, icterícia, colúria, fezes mais escuras do que o habitual e, se o quadro for crônico, esplenomegalia. Adenomegalia pode estar presente indicando uma anemia hemolítica secundária ou linfoma. É importante a pesquisa da história da anemia, se ocorre desde a infância, a história familiar, a consanguinidade e o uso de medicações antes do aparecimento dos sintomas. No diagnóstico laboratorial, ocorre hiperbilirrubinemia indireta. A degradação da hemoglobina forma duas subunidades de cadeia globínica que são ligadas a haptoglobina circulante, formando um complexo que é metabolizado no fígado. Assim, vemos nesse processo uma diminuição dos níveis séricos de haptoglobina. A hemólise crônica Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI leva a um aumento da absorção do ferro entérico, elevando o ferro sérico e a ferritina. Quando a hemólise for intravascular, os rin serão os responsáveis pela excreção da hemoglobina, cursando com hemoglobinúria e hemossiderinúria e podendo resultar em carência de ferro. Ocorre hiperplasia do setor eritrocítico, levando a um alargamento do espaço medular. É importante salientar que a anemia pode ser normo/normo, hipo/micro ou macrocítica, assim, os achados laboratoriais são variados. Esferocitose congênita Doença genética de caráter autossômico dominante, na qual há defeito na membrana dos eritrócitos ao nível do citoesqueleto. Quando as hemácias passam por um local pobre em glicose (o baço, por exemplo), elas modificam-se, tornam-se mais esféricas e são facilmente destruídas, seja no próprio baço ou em outros locais ricos em células macrofágicas. O quadro clínico varia de assintomático, que é o mais comum, à sintomáticos, cursando com anemia de grau variado, que pode acometer qualquer idade, úlceras nas pernas, esplenomegalia, litíase biliar e icterícia flutuante. SE LIGA! Paciente com esferocitose que apresenta níveis baixos de hemoglobina subitamente, pensa-se em aplasia medular causada pela infecção do parvovírus B19. O exame laboratorial da esferocitose congênita é caracterizada por: • Anemia (ou não, a depender do grau da esferocitose) • Reticulocitose • Microesferócitos • Coombs direto negativo • Hemólise: aumento de DHL e bilirrubina indireta O diagnóstico deve ser feito através do histórico familiar positivo associado aos exames laboratoriais. O teste de fragilidade osmótica pode ser realizado, entretanto possui muitos casos falso- positivos. O tratamento da esferocitose deve ser baseado nos sintomas do quadro, através de transfusões, colecistectomia em casos de litíase biliar, alémde esplenectomia em casos de úlceras de membros inferiores e retardo de crescimento. Anemia hemolítica por deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G-6PD) Como já vimos, a hemácia é uma célula anucelada, portanto não participa da síntese proteica. Assim, os processos metabólicos ficam dependentes das vias enzimáticas, sendo o ciclo da glutationa o maior agente redutor do eritrócito. A deficiência de G-6PD é a deficiência enzimática genética mais comum. Existem quatro síndromes associadas à deficiência da G-6PD. Em todas elas, a hemólise é agravada ou promovida por infecções ou por ingestão de medicamentos ou de alimentos que promovam estresse oxidativo. O quadro clínico pode variar desde assintomático a quadros dehemólise aguda. O bebê ao nascer com essa doença pode apresentar icterícia neonatal. Dentre as drogas que podem desencadear o quadro grave da deficiência de G6PD podemos citar: azul de metileno, azul de toluideno, dapsona, fenazopiridina, nitrofurantoína, primaquina, rasburicase. Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI O diagnóstico é feito pela dosagem de G-6PD nos eritrócitos, quando o paciente se encontra fora das crises. As alterações laboratoriais encontradas quando o paciente se encontra na crise são: • Eritrócitos fragmentados (bite cells) • Remoção do Corpúsculo de Heinz (precipitado de hemoglobina oxidada no meio intracelular da hemácia) • Hemólise intravascular – aumento de DHL e bilirrubina indireta • Reticulocitose Principais achados laboratoriais nas anemias hemolíticas Aumento da destruição dos eritrócitos Aumento de bilirrubina não conjugada (bilirrubina indireta) Icterícia Colelitíase Aumento de urobilinogênio urinário e fecal Diminuição de haptoglobina sérica Alterações extravasculares Esplenomegalia Aumento dos estoques de ferro Alterações intravasculares Hemoglobinemia e hemoglobinúria Hemossiderinúria Diminuição dos estoques de ferro Hiperplasia do setor eritrocitário (compensatória) Expansão medular: alterações ósseas Aumento da eritropoese: inversão da relação mieloide/eritroide Reticulocitose/policromasia Aumento das necessidades de folato: macrocitose O tratamento é suspender o fator desencadeante, além de transfusões sanguíneas alguns em casos. Nos recém-nascidos, pode ser feita a fototerapia e a exsanguineotransfusão. Hemoglobinopatias São as doenças genéticas mais comuns. Estima-se que 7% da população mundial seja portadora de uma hemoglobinopatia. Consiste, principalmente, em síndromes talassêmicas (α e β) e hemoglobinopatias S, C e E (e suas associações). Anemia falciforme É a mais frequente das hemoglobinopatias. Ocorre, principalmente, em indivíduos negros e pardos. É uma anemia hemolítica crônica hereditária, cuja manifestação clínica surge em decorrência da HbS que polimeriza e promove a deformação do eritrócito de formato bicôncavo para a forma de foice em situações de baixa tensão de oxigênio. Essa alteração ocorre pela substituição de um aminoácido, ácido glutâmico, pela valina, na posição 6 da cadeia β da globina. O quadro clínico é reversível quando ocorre a reoxigenação da hemoglobina. Mesmo nas hemácias de formato normal, a presença da HbS reduz a capacidade de deformidade e torna o sangue mais viscoso. Episódios repetidos e prolongados de falcização danificam a membrana da célula. Por isso também, as hemácias em foice aderem à parede do endotélio, podendo resultar em lentificação do fluxo sanguíneo e fenômenos vasoclusivos. Devido a esses fenômenos, ocorrem quadros dolorosos muito intensos (musculares, dores abdominais e priapismo). Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI A fragmentação da membrana do eritrócito favorece a lise mediada por complemento, promovendo hemólise intravascular. O diagnóstico laboratorial inclui o hemograma (anemia hemolítica e presença de drepanócitos no esfregaço), eletroforese de hemoglobina (que quantifica a hemoglobina S e detecta outras hemoglobinas anômalas), triagem neonatal e teste de falcização (útil para triagem da doença, não quantificação de HbS). No tipo heterozigoto da doença (HbAS), o sangue é normal ou pouco alterado e o risco de falcemização diminui. A hemoglobina que chamamos de protetora, visto que inibe a polimerização da hemácia, é a hemoglobina fetal (HbF). Essa está mais presente durante a vida fetal e sua produção vai diminuindo até a fase adulta. Portanto, quanto maior a concentração de HbF o indivíduo possuir, menos sintomático ele será. Talassemias Doença que promove diminuição ou ausência na síntese de cadeias globínicas α e/ou β (α-talassemias e α-talassemias, respectivamente). Os indivíduos homozigóticos para α ou α-talassemias são sintomáticos, enquanto os heterozigotos, em geral, são assintomáticos. Clinicamente são classificadas em major, intermediária ou minor. A talassemia major é grave e necessita de transfusões. A intermediáriaapresenta anemia, com ou sem esplenomegalia, enquanto a minor (ou traço) é assimtomática. Nas α-talassemias ocorre diminuição de cadeias β e excesso de cadeias α. As cadeias de α-globina são instáveis e precipitam no interior dos eritroblastos, o que interfere na maturação. Essa alteração leva à destruição intramedular dos precursores eritrocíticos (eritropoese ineficaz). A degradação dos componentes da cadeia globínica leva à alteração da membrana e à alteração da deformidade celular, o que contribui para o processo hemolítico. A betatalassemia pode ser dividida em dois tipos: (1) β0- talassemias: há ausência total de cadeias beta (ou totalmente não funcionantes); e (2) β1-talassemias: há diminuição da síntese de cadeias beta. • Betatalassemia major ou anemia de Cooley: Geralmente homozigotos β0 β0. Clinicamente, observam-se palidez acentuada, icterícia, hipodesenvolvimento ponderal e psíquico; hepatoesplenomegalia, alterações ósseas (crânio e face), alterações endócrinas (hipogonadismo), manifestações cardíacas, lesão hepática, hemossiderose (por transfusões repetidas) e colúria. • Alfatalassemia com os quatros genes (α2 ou β2) ausentes é incompatível com a vida, ocorrendo hidropsia fetal. • Talassemias por persistência da hemoglobina fetal: A produção de cadeias γ persiste no adulto, formando-se a HbF (α2 γ2). Há apresentações homozigotas e heterozigotas. As primeiras apresentam poliglobulia (a afinidade da HbF pelo oxigênio é maior), enquanto as outras são assintomáticas. Anemia sideroblástica Nesse tipo de anemia ocorre deposição de ferro no interior dos eritroblastos da medula (sideroblastos) decorrente de um defeito na síntese do grupo heme, promovendo uma síntese deficiente de hemoglobina. Essa deposição de ferro ao redor do núcleo da célula forma o que chamamos de sideroblasto “em anel”. O ferro no citoplasma é corado pela reação de Perls. Esse tipo de anemia é hipocrômica e Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI microcítica ou normocrômica, apresentando policromasia. Os achados da medula, como já citados, são os sideroblastos normais e em anel. A anemia sideroblástica pode ser hereditária, adquirida primária (causada pela mielodisplasia por exemplo) e adquirida secundária (causada por doenças como artrite reumatoide, intoxicação por substâncias – álcool, chumbo – e medicamentos como a isoniazida). A hereditária ocorre em indivíduos masculinos, mas é transmitida pelo sexo feminino (ligada ao sexo). SE LIGA! Os achados laboratoriais na anemia sideroblástica são: Ferro aumentado Ferritina aumentada Saturação de transferrina aumentada O tratamento desse tipo de anemia pode ser feito através: Retirada do agente causador Quelante de metal pesado (chumbo) Se anemia hereditária: piroxidina Se doença neoplásica: quimioterapia Suporte: eritropoetina e transfusão sanguínea Anemias hemolíticas adquiridas Anemias hemolíticas imunológicas A anemia hemolítica autoimune (AHAI) é uma condição clínica incomum em que autoanticorpos se ligam à superfície dos eritrócitos, ocasionando sua destruição via sistema complemento (intravascular) ou sistema reticuloendotelial (extravascular). A AHAI é classificada de acordo com a temperatura de reatividade dos anticorpos aos eritrócitos. Na AHAI a quente, os autoanticorpos “quentes” reagem mais fortemente à temperatura corporal (37° C), sendo incapazes de aglutinar as hemácias, e a hemólise ocorre pela destruição pelo sistema reticuloendotelial. Na AHAI a frio, os autoanticorpos “frios” se ligam aos eritrócitos em temperaturas entre 4o- 18° C, podendo levar à aglutinação de eritrócitos na circulação sanguínea periférica, e, ao ser ativado o sistema complemento, ocorre a hemólise. Na forma mista, os dois tipos de autoanticorpos coexistem. Na anemia hemolítica autoimune por anticorpos quentes, a sintomatologia é de uma crise hemolítica, com anemia, icterícia, febre e colúria. No sangue são encontrados esferócitos e reticulócitos. As plaquetas podem estar diminuídas, determinando a síndrome de Evans, caracterizada por anemia hemolítica e por plaquetopenia. Já a por anticorpos frios, apresenta melhor prognóstico. Pode ser aguda, associada à pneumonia e à mononucleose infecciosa ou crônica associada ao linfoma. A AHAI também pode ser classificada com base em sua etiologia. A AHAI idiopática ou primária não apresenta correlação com a doença de base, já a secundária está associada a doenças, como LES, artrite reumatoide, doença linfoproliferativa, uso de medicamentos ou neoplasias. As doenças linfoproliferativas são responsáveis por mais da metade dos casos de AHAI secundária. Esses anticorpos são detectados por meio do teste da antiglobulina ou do teste de Coombs. Eles podem ser detectados no soro (teste de Coombs indireto) ou nos eritrócitos (teste de Coombs direto) dos pacientes. São, em geral, imunoglobulinas de tipo IgM ou IgG (raramente IgA). A doença hemolítica do recém-nascido ocorre quando aloanticorpos maternos dirigidos contra antígenos eritrocitários do feto Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI são produzidos após a exposição a eritrócitos incompatíveis durante a gestação ou transfusão prévia. Nas anemias hemolíticas imunológicas associadas a medicamentos, estes podem provocar anemia hemolítica por vários mecanismos: • Formação de imunocomplexos (anticorpo-fármaco-proteina plasmática) no qual o anticorpo e o complemento atacam a hemácia • Ligação do fármaco à hemácia e o anticorpo presente no plasma atua sobre ele • Modificação da membrana do eritrócito pelo fármaco • Fármaco promovendo indução da reação autoimune Anemias hemolíticas não imunológicas Anemias causadas por destruição dos eritrócitos que apresentam modificações de membrana, provocadas por mecanismos não imunológicos. São produzidas principalmente por e por causas mecânicas. A infecção pelo plasmódio causador da malária leva a esse tipo de anemia por vários mecanismos: (1) mecânico, pela ruptura das células parasitadas; (2) aumento da fagocitose de hemácias não parasitadas, mas lesadas por macrófagos esplênicos- mecanismo de pitting; (3) hemólise intra-medular; (4) mecanismo imunológico associado; (5) hemólise causada por antimalárico usado no tratamento. Outras infecções: Clostridium welchii, Haemophilus influenzae, Mycobacterium tuberculosis e Toxoplasma gondii também podem provocar anemia hemolítica. Outras causas mecânicas que alteram a morfologia das hemácias, tornando-as mais frágeis com diminuição de sobrevida são: válvulas cardíacas artificiais, microangiopatias, síndrome hemolítica- urêmica, hemólise dos corredores de longa distância (hemoglobinúria pela marcha) e coagulação intravascular disseminada. Automedicação com AINES A ação desses medicamentos consiste na inibição da síntese de prostaglandinas (substância mediadora do processo inflamatório) por meio da inativação de enzimas denominadas ciclooxigenases (COXs). Essas isoenzimas são divididas em dois grupos: COX-1 e COX-2. A inativação das COX-2 é responsável pelos efeitos anti-inflamatórios dos AINES, enquanto a inativação das COX-1 está ligada aos seus efeitos adversos. Nesse contexto, a COX-1 está presente em órgãos como estômago, sistema nervoso e rins, em que a não produção das prostaglandinas pode causar danos. No estômago, podem ocorrer úlceras, perfurações (orifícios na parede do estômago causados por fluidos e ácidos estomacais se uma úlcera não é tratada), obstrução (fechamento da saída do estômago em função do inchaço e das cicatrizes de uma úlcera) e sangramento. Nos rins, os AINEs podem levar a glomerulonefrite (inflamação renal), fazendo com que substâncias tóxicas que seriam filtradas pelo rim funcionalmente normal (como ureia ou potássio) se acumulem perigosamente no corpo humano, causando uma variedadede danos, tais como arritmia (alteração do ritmo do coração) e manifestações neurológicas. Além disso, o comprometimento renal pode levar a aumento da pressão arterial e edema (inchaço), podendo, em estágios mais avançados, culminar em insuficiência renal aguda ou crônica. O sistema nervoso central também pode ser atingido, manifestando dores de cabeça, confusão mental, alucinações, depressão, Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI tremores, risco de desenvolvimento de meningite medicamentosa, vertigem, zumbidos e, até mesmo, distúrbios visuais. Os anti-inflamatórios podem, ainda, inibir a produção seletiva ou até causar falência da medula óssea (estrutura responsável por fabricar todas as células do sangue), culminando em anemia (redução dos glóbulos vermelhos), leucopenia (redução dos glóbulos brancos) e plaquetopenia (redução do número de plaquetas). Além dos riscos inerentes já mencionados, a automedicação é preocupante também em função das misturas perigosas que podem ser feitas. Como exemplo, os AINES podem diminuir a ação de alguns anti- hipertensivos, podendo levar o paciente a uma crise hipertensiva (aumento excessivo da pressão arterial). Vale salientar, ainda, que o tipo, a dose determinada e o tempo de uso do medicamento são específicos para cada indivíduo. O remédio que “você” toma, ou aquele que o filho da sua vizinha usa, pode ser prejudicial para o seu filho, pois cada organismo pode reagir de uma forma diferente a uma mesma substância, podendo, inclusive, desenvolver reações alérgicas. Outro problema que decorre do uso de medicamento sem prescrição médica é que, ao aliviar os sintomas, ele pode mascarar a doença, dando a falsa impressão de que o problema foi solucionado, quando, na verdade, ele ainda existe. Uma simples dor de cabeça, por exemplo, pode ser sintoma de uma doença cerebral grave e o paciente, ao fazer uso de analgésico por conta própria, não busca a resolução do problema real. Assim, os remédios não devem ser utilizados por conta própria, por sugestão de amigos ou vizinhos ou indicados por qualquer profissional que não seja médico. Como todo remédio, os anti-inflamatórios oferecem riscos e causam efeitos colaterais que podem danificar diversas estruturas isoladamente ou ao mesmo tempo no seu organismo. Intoxicação por agrotóxicos: A exposição aos agrotóxicos pode causar uma série de doenças, dependendo do produto que foi utilizado, do tempo de exposição e quantidade de produto absorvido pelo organismo. É importante considerar: Os principais afetados são os agricultores, pecuaristas, agentes de controle de endemias (ACE), trabalhadores de empresas desinsetizadoras e trabalhadores das indústrias de agrotóxicos, que sofrem diretamente os efeitos dos agrotóxicos durante a manipulação e aplicação (LONDRES, 2012). Toda a população está suscetível a exposições múltiplas a agrotóxicos, por meio de consumo de alimentos e água contaminados (CDC, 2009). Gestantes, crianças e adolescentes também são considerados um grupo de risco devido às alterações metabólicas, imunológicas ou hormonais presentes nesse ciclo de vida (SARPA, 2010). Formas de exposição No trabalho: Através da inalação, contato dérmico ou oral durante a manipulação, aplicação e preparo do aditivo químico (CDC, 2009). Destacam-se os trabalhadores da agricultura e pecuária, de empresas desinsetizadoras, de transporte e comércio de agrotóxicos e de indústrias de formulação destes produtos (LONDRES, 2012). No ambiente: Caroline de Oliveira Leão – VII período - FASAI Através da pulverizações aéreas que ocasionam a dispersão dessas substâncias pelo meio ambiente contaminando as áreas e atingindo a população. Consumo de alimentos e água contaminados. Outra forma é o contato com roupas dos trabalhadores com o agrotóxico. Principais efeitos à saúde Efeitos Agudos São aqueles de de aparecimento rápido. Podem surgir os seguintes sintomas (KLAASSEN, 2013): Através da pele - Irritação na pele, ardência, desidratação, alergias Através da respiração -Ardência do nariz e boca, tosse, coriza, dor no peito, dificuldade de respirar Através da boca - Irritação da boca e garganta, dor de estômago, náuseas, vômitos, diarreia Outros sintomas inespecíficos também podem ocorrer, tais como: dor de cabeça, transpiração anormal, fraqueza, câimbras, tremores, irritabilidade. Efeitos crônicos São aqueles aparecem após exposições repetidas a pequenas quantidades de agrotóxicos por um período prolongado). Podem-se relatar os seguintes sintomas (ANVISA, 2018): Dificuldade para dormir, esquecimento, aborto, impotência, depressão, problemas respiratórios graves, alteração do funcionamento do fígado e dos rins, anormalidade da produção de hormônios da tireoide, dos ovários e da próstata, incapacidade de gerar filhos, malformação e problemas no desenvolvimento intelectual e físico das crianças. Estudos apontam grupos de agrotóxicos como prováveis e possíveis carcinogênicos (ANVISA, 2018). A associação entre exposição a agrotóxicos e desenvolvimento de câncer ainda gera polêmicas, principalmente porque os indivíduos estão expostos a diversas substâncias, sem contar outros fatores genéticos. Porém, é importante salientar que estudos vêm mostrando o potencial de desenvolvimento de câncer relacionado a diversos agrotóxicos, justificando a recomendação de precaução para com o uso e contato. Classificação: A classificação dos agrotóxicos utilizada para fins de registro e reavaliação pela ANVISA é baseada no grau de toxicidade destas substâncias:
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