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ENDOCRINOLOGIA HIPOTIREOIDISMO Trata-se de um distúrbio da glândula tireoide, com deficiência na produção de hormônios tireoidianos (T4, T3, T3r). Epidemiologia Acomete cães e gatos na faixa dos 2-6 anos de idade. Raças mais acometidas: Golden Retriever, Doberman, Pinscher, Setter Irlandês, Schnauzer miniatura, Daschund, Alredale Terrier, Old English, Sheepdog, Cocker Spaniel, Boxer, Beagle, Poodle. Fisiologia do Eixo Hipotálamo-Hipófise-Tireoide Hipotálamo libera TRH e estimula a hipófise a produzir TSH, que estimula a tireoide a produzir T4, T3 e T3r (reverso). A concentração sérica fisiológica máxima desses hormônios faz um feedback negativo no hipotálamo, impedindo a maior produção. Efeitos dos hormônios: aumento do metabolismo e consumo de O2, efeito inotrópico e cronotrópico positivo, catabolismo em músculos e tecido adiposo, estímulo a eritropoiese, regulação da síntese e catabolismo de colesterol, crescimento e desenvolvimento do sistema neurológico e esquelético. Classificação do Hipotireoidismo Primário: é o mais comum, ocorrendo na própria tireoide (tireoidite linfocítica). Pode ocorrer atrofia idiopática da glândula ou neoplasias. Secundário: enfermidade na hipófise (má formação, neoplasias), causando deficiência de TSH. Terciário: deficiência de TRH. Outros: hipotireoidismo congênito (cretinismo), iatrogenias (cirurgias, medicamentos, iodo radioativo). Sinais Clínicos Letargia, inatividade, fraqueza, ganho de peso elevado ou obesidade, intolerância ao frio, anestro, estro silencioso, sangramento prolongado, galactorréia, ginecomastia, perda de libido, atrofia testicular, bradicardia sinusal, contratilidade diminuída, arritmias, constipação, convulsão, ataxia, andar em círculos, lipemia retinal ou corneal, uveíte, dermatopatias não pruriginosa (alopecia simétrica bilateral ou assimétrica, “cauda de rato”, seborreia seca ou oleosa, repilação lenta, pelagem seca e opaca, mixedema, hiperpigmentação, mixedema, fácies trágicas), predisposição a piodermite, demodicose e malassezia. Diagnóstico Anamnese, exame físico e sinais Exames laboratoriais: hemograma (anemia normocítica normocrômica arregenerativa, poiquilocitose), bioquímica sérica (lipídeos – hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia, ALT e FA, CK) Ecocardiograma: bradicardia sinusal, baixa amplitude de R. Dosagem hormonal: diálise de equilíbrio (concentração de T4 livre < 1- 0,5ng/dL = suspeita) ou radioimunoensaio, [ ] sérica de TSH na mesma amostra pra T4 livre, interpretando em conjunto Diferencial: eutireoidismo (cerca de 1,5ng/dL). Tratamento Levotiroxina sódica Puran T4 comprimidos, dose de 0,02mg/kg, BID, VO ou 22 microgramas/kg, aumentando gradativamente a partir de ½ dose, BID. O excesso pode levar a tireotoxicose! Monitoração por 4-8 semanas e dosagem de T4 livre. HIPERTIREOIDISMO Trata-se de um distúrbio da glândula tireoide, com excesso na produção de hormônios tireoidianos (T4, T3, T3r), ou tireotoxicose. É a endocrinopatia mais comum em gatos. Epidemiologia Atinge animais com média de idade de 13 anos, sem predisposição racial ou sexual Etiologia Fatores ambientais (fertilizantes e herbicidas, cigarro, uso regular de alguns ectoparasiticida, areia higiênica), fatores dietéticos (miúdos de aves, peixe, fígado), genética, status imunológico e infecções. Patogenia Normalmente surge devido a presença de hiperplasia adenomatosa da tireoide, adenoma ou carcinomas em tireoide (uni ou bilateral). Nesse contexto, a concentração de TSH vai estar diminuída (feedback negativo) devido a um aumento excessivo na concentração de T4. Sinais Clínicos Aumento no volume da tireoide, emagrecimento e caquexia, hiperatividade e agitação, taquicardia, arritmia/ritmo de galope, agressividade, polifagia, poliúria, polidipsia, êmese, diarreia ou fezes volumosas, dispneia, dermatopatias (alopecia localizada devido a lambedura excessiva), letargia, anorexia, fraqueza, sopro, ICC, ventro-flexão cervical. Diagnóstico Exames laboratoriais: hemograma (VG e VCM aumentados, neutrofilia, linfopenia, eosinopenia), bioquímica sérica (ALT, FA, Ur, creatinina). Eletrocardiograma: taquicardia, arritmias, complexo QRS alargado, R alto. Radiografia torácica: cardiomegalia dilatada ou hipertrófica. Ecocardiografia: cardiomiopatia hipertrófica secundária (hipertrofia ventricular esquerda, espessamento do septo interventricular). Dosagem hormonal: T4 livre (específico - cerca de 8,5ng/dL) Tratamento Tireoidectomia, iodo radioativo Metilmazol (Tapazol) Dose de 5-15mg/kg, SID, VO. Bloqueia a síntese do hormônio. Monitorar função hepática e renal + hemograma. Tratamento sintomático ADRENAIS Hipófise libera ACTH, estimulando as adrenais a produzir o cortisol (fasciculada e reticulada) e aldosterona (glomerulosa) SÍNDROME DE CUSHING – HIPERADRENOCORTICISMO Trata-se da liberação excessiva e crônica de cortisol sérico. Pode ter origem hipofisária, adrenocortical ou iatrogênica. Alterações: aumento de catabolismo proteico, imunossupressão, resistência à insulina e hiperglicemia, efeitos de mineralocorticoides (PU/PD, não concentra urina), aumento na excreção de cálcio. Epidemiologia Atinge normalmente animais acima de 6 anos, com média de 11 anos. Não há predisposição sexual. Raças predispostas são Poodle, Teckel, Beagle, Pastor Alemão, SRD, Labrador, Terriers. Patogenia Hiperadrenocorticismo hipofisário: Alta produção de ACTH na hipófise devido a tumores → aumento na produção de cortisol Tumor em adrenal: Baixa produção de ACTH na hipófise → tumor em adrenal faz excesso de produção de cortisol Sinais Clínicos Evolução crônica, PU/PD, polifagia, distensão abdominal, hepatomegalia, perda muscular, fraqueza, letargia, respiração ofegante, dispneia, obesidade, dermatopatias (alopecia simétrica bilateral, hiperpigmentação, comedões, calcinose cutânea), pele fina, piodermite, anestro, atrofia testicular, intolerância ao calor, hipertensão (ICC). Diagnóstico Exames laboratoriais: hemograma (policitemia ou normal, leucocitose por neutrofilia, linfopenia, eosinopenia, monocitose, trombocitose), urinálise (densidade < 1008 ou 1015, glicosúria, infecção urinária), bioquímica sérica (FA e ALT aumentadas, Ur diminuída, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, hiperglicemia leve ou grave), hemogasometria. Ultrassonografia abdominal: morfologia e tamanho de adrenais + avaliação hepática HAC adrenocortical: calcificação da adrenal, atrofia da adrenal contralateral, massa ou hiperplasia unilateral HAC hipofisário: hiperplasia bilateral HAC iatrogênico: atrofia bilateral Radiografia de tórax e abdômen: metástase de tumores, calcificação de brônquios e traqueia, calcinose cutânea, osteoporose, hepatomegalia, massa em adrenal, calcificação de adrenal. Tomografia computadorizada: radioterapia contra o tumor. Serve para confirmar a presença de tumor em hipófise e fornecer segurança para uma possível adrenelectomia. Teste de supressão com dexametasona: coleta de sangue → aplicação de 0,01mg/kg de dexametasona IV → coleta de sangue novamente em 4 e 8 horas. Se obtém o perfil de cortisol. Teste de estimulação com ACTH Tratamento HAC adrenocortical: Mitotano (Lisodren) dose 40-50mg/kg, BID, VO, Cetoconazol, adrenelectomia bilateral e reposição com hidrocortisona. HAC hipofisário: Mitotano (Lisodren) dose 40-50mg/kg, BID, VO, hipofisectomia, radioterapia HAC iatrogênico: desmame de corticosteroide HIPOADRENOCORTICISMO Trata-se da produção deficiente e liberação insuficiente de mineralocorticoides ou glicocorticoides. Etiologia Insuficiência adrenocortical primária (na adrenal): deficiência de mineralocorticoides e glicocorticoides, de origem idiopática ou autoimune. Insuficiência adrenocortical secundária (intracraniano): deficiência de glicocorticoide, de origem neoplásica, inflamatória, traumática ou iatrogênica (corticoideterapia prolongada, terapia com Mitotanoou Trilostano). Fisiopatologia Mineralocorticoides atuam no sistema renina-angiotensina-aldosterona, aumentando a excreção de sódio (hiponatremia) e cloro (hipocloremia) e retendo o potássio nos rins (hipercalemia). Glicocorticoides atuam na diminuição da gliconeogênese hepática, diminuição do metabolismo da glicose e proteína, intolerância ao estresse/letargia e causando desequilíbrio hidroeletrolítico. Sinais Clínicos Normalmente os episódios são intermitentes (melhora e piora).Dentre as principais manifestações estão as doenças gastrointestinais, renais e neuromusculares, anorexia, letargia, êmese, fraqueza muscular, diarreia, emagrecimento, tremores, PU/PD, sensibilidade abdominal, calafrios, pulso fraco, bradicardia, hipotermia, choque hipovolêmico. Sinais como hematêmese, hematoquezia e melena são raros, mas podem ocorrer. Exames Complementares Hemograma: anemia normo-normo moderada a grave. Bioquímica e hemogasometria: hipercalemia, hiponatremia, hipocloremia, hiperfosfatemia, hipoglicemia, hipercalcemia, ureia e creatinina (diferencial de DRC). Urinálise: densidade urinária (diferencial de DRC). ECG: bradicardia, onda T alta e estreita, diminuição de amplitude da onda R, alargamento de ondas QRS, ausência de onda P (arritmia patológica, bloqueio atrioventricular). Radiografia e US abdominal: microcardia em Rx torácico e possíveis alterações em fígado. Teste de estimulação com ACTH: coleta de amostra basal 24h antes → administração do ACTH (Cortrosina) → nova coleta 1h após. Tratamento Fluidoterapia com solução fisiológica apenas, 60-80ml/kg/h Monitorização do débito urinário Mineralocorticoide: acetato de Fludrocortisona 0,015-0,02mg/kg/dia, SID ou BID, VO Glicocorticoide: succinato de hidrocortisona ou dexametasona 2-4mg/kg Bicarbonato de sódio Glicose em crises de hipoglicemia DIABETES MELLITUS Deficiência na produção e secreção de insulina, impossibilitando o metabolismo de glicose e causando hiperglicemia. Total (Tipo I): dependente de insulina // Parcial (Tipo II): não dependente de insulina // Transitório Epidemiologia Cães: normalmente do tipo I, aos 7-9 anos, fêmeas. Poodle, Labrador, Lhasa Apso, SRD, Yorkshire, Schnauzer miniatura e standard Gatos: normalmente tipo II ou transitório, aos 9-11 anos, machos castrados (sobrepeso/obesidade). Etiologia Tipo I: normalmente genética ou imunomediada Tipo II: obesidade ou amiloidose Transitória: diestro em cadelas (P4 e hormônio do crescimento – fazer OSH), obesidade, pancreatite crônica, glicocorticoides Sinais Clínicos PU/PD/PF, perda de peso, hipo/anorexia, alterações locomotoras (neuropatia diabética), anorexia, letargia, fraqueza, depressão, êmese, cetoacidose diabética, hepatomegalia, catarata bilateral súbita, pelagem opaca, hálito cetônico, infecção urinária. Diagnóstico* Hemograma Bioquímico: hiperglicemia*, ureia e creatinina (diferencial de DRC), ALT, FA, potássio, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia Urinálise: glicosúria* persistente em jejum (>180mg/dL), cetonúria, bacteriúria, DU > 1.025 Hemogasometria: pH < 7,3, HCO3 <12mEq/L, cetoacidose* Urocultura diante de bacteriúria US abdominal Tratamento Insulinoterapia: glicemia ideal 100-180mg/dL Insulina regular: usada na emergência. Tem duração curta, mas potência maior. Insulina NPH: usada na manutenção. Tem duração longa, mas potência menor. Insulina lenta e ultralenta: usada apenas em gatos. Fluidoterapia intensa com solução fisiológica ou R/L. Monitorizar a glicemia! Hipoglicemia pode matar. Reposição de eletrólitos Dieta seca e úmida, rica em fibras. Associar a exercícios. Em casos de DM Tipo II – hipoglicemiante oral (sulfoniluréias, biguanidas), glicemia a cada 15 dias e em casos de glicosúria + glicemia > 200mg/dL, deve se realizar insulinoterapia DIABETES INSIPIDUS Alterações na síntese ou secreção de ADH. Não há reabsorção renal de água, concentração de água e desidratação. Central absoluta ou parcial: intracraniano /// Nefrogênico: rins Etiologia Central: idiopático, traumático, congênito, neoplásico, metastático, inflamatório. Nefrogênico: hereditário (<18 meses) ou adquirido Sinais Clínicos PU/PD, sinais neurológicos (convulsões, ataxia, deambulação), magreza ou normal, TPC/mucosas/hidratação normais. Achados Laboratoriais Hemograma: policitemia, hiperproteinemia Urinálise: DU < 1.010 Bioquímico: glicose, sódio, ureia e creatinina (todos para diferencial) Teste de privação hídrica: 12h de jejum hídrico → coleta de urina e plasma cd 2h + pesagem do animal → aplicação de vasopressina ou desmopressina DIC Absoluta: DU > 1.008 após ADH DIC Parcial: DU > 1.015 após ADH DIN: < 1.006 após ADH Rx/US abdominal, histopatologia renal, tomografia ou ressonância magnética Diagnóstico diferencial: DM, polidipsia psicogênica, DRC, HAC, hipertireoidismo, piometra Tratamento Vasopressina ou Desmopressina
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