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Disciplina: Princípios da Organização do Trabalho em Instituições Educacionais (POT) Sumário UNIDADE I – Estudo e Análise das Teorias das Organizações ....... 3 UNIDADE II – Afinal o que é fundamental ...................................... 22 UNIDADE III - Inovação ................................................................. 32 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ................................................................ 42 UNIDADE I – Estudo e Análise das Teorias das Organizações Teoria Geral da Administração (TGA) A Teoria Geral da Administração (TGA) surgiu no momento em que as organizações alcançaram certo tamanho e complexidade (no início do século XX). A TGA é um conjunto orgânico e integrado de teorias, hipóteses e ideias a respeito da administração como ciência, técnica e arte. Essa teoria oferece aos dirigentes das organizações modelos e estratégias adequadas para a solução de problemas empresariais. Todas as teorias administrativas são válidas, embora cada uma valorize uma ou algumas das cinco variáveis básicas da teoria geral da administração. Na verdade, cada teoria surgiu como uma resposta aos problemas empresariais mais relevantes de sua época, mas todas são ainda aplicáveis às situações atuais, o que permite ao administrador ou gestor uma gama de ferramentas à sua disposição uma série de alternativas adequadas para cada situação. A Teoria Geral da Administração (TGA) atravessou diversas fases diferentes e que se superpõem. Cada fase realça e enfatiza um aspecto importante da administração, chamado de variável da administração. São cinco as variáveis básicas da teoria geral da administração. Figura 1 – Variáveis Básicas Essas variáveis constituem os principais componentes do estudo da administração nas organizações. O comportamento das variáveis é sistêmico e complexo: cada um influi e é influenciado pelos outros. O comportamento de seu conjunto é diferente da soma dos comportamentos de cada componente separado. Na realidade, a adequação e integração dessas cinco variáveis constituem o desafio da administração. As Principais Teorias Administrativas e seus principais enfoques: ÊNFASE TEORIAS ADMINISTRATIVAS PRINCIPAIS ENFOQUES Nas Tarefas Administração Científica (1903) Racionalização do trabalho no nível operacional Na Estrutura Teoria Clássica (1916) Organização Formal Princípios gerais da Administração Funções do Administrador Teoria da Burocracia (1909) Organização formal burocrática Racionalidade Organizacional Teoria Estruturalista (1947) Múltipla Abordagem: Organização Formal e Informal. Análise intra-organizacional e interorganizacional Nas Pessoas Teoria das Relações Humanas (1932) Organização Informal: Motivação, liderança, comunicações e dinâmica de grupo. Teoria do Comportamento Organizacional (1957) Estilos da Administração: Teorias das Decisões Integração dos Objetivos organizacionais e individuais. Teoria do Desenvolvimento Organizacional (1962) Mudança organizacional Planejada. Abordagem do sistema aberto. No Ambiente Teoria Estruturalista (1947) Análise Intra-organizacional e análise ambiental. Abordagem de sistema aberto. Na Tecnologia Teoria da Contingência (1972) Análise Ambiental (imperativo ambiental). Abordagem de sistema aberto. Adaptado de CHIAVENATO, Introdução à Teoria Geral da Administração, Ed. Campus 2000, p.8. Ênfase nas tarefas: é o foco das teorias que consideram a administração uma ciência aplicada na racionalização e no planejamento das atividades operacionais. Ênfase nas estruturas: é o foco das teorias que consideram a administração uma ciência que cuida da configuração e estruturação das organizações. Ênfase nas pessoas: é o foco das teorias que consideram a administração uma ciência aplicada sobre as pessoas e suas atividades dentro das organizações. Ênfase no ambiente: é o foco das teorias que consideram a administração uma ciência que busca a adequação das organizações às demandas e situações que ocorrem em seu contexto externo. Ênfase na tecnologia: é o foco das teorias que consideram a administração uma ciência que cuida da aplicação bem-sucedida da tecnologia na atividade organizacional. Influências Históricas na Administração Influência dos Filósofos Desde os tempos da Antiguidade a administração recebeu influência da Filosofia. Antes de Cristo, o filósofo grego Sócrates (470 a.C. 399 A.C) em sua discussão com Nicomaquis, expõe o seu ponto de vista sobre a administração: “Sobre qualquer coisa que um homem possa presidir, ele será, se souber do que precisa e se for capaz de provê-lo, um bom presidente, quer tenha a direção de um coro, uma família, uma cidade ou um exército. Não é também uma tarefa punir os maus e honrar os bons? Portanto, Nicomaquis, não desprezeis homens hábeis em administrar seus haveres...” Platão (429 A.C 347 A.C) Também filósofo grego, discípulo de Sócrates, preocupou-se profundamente com os problemas políticos inerentes ao desenvolvimento social e cultural do povo grego. Em sua obra, A República, expõe o seu ponto de vista sobre a forma democrática de governo e de administração dos negócios públicos. Aristóteles, também filósofo grego, discípulo de Platão, do qual bastante divergiu, deu enorme impulso à Filosofia principalmente à Cosmologia, Nosologia, Metafísica, Ciências Naturais, abrindo as perspectivas do conhecimento humano na sua época. Foi o criador da Lógica. No seu livro política, estuda a organização do Estado e distingue três formas de Administração pública: Monarquia, Aristocracia e Democracia. Francis Bacon (1561-1626), filósofo e estadista inglês, considerado o fundador da Lógica Moderna, baseada no método experimental e indutivo. Antecipou-se ao princípio conhecido em Administração como “princípio da prevalência do principal sobre o acessório”. René Descartes (1596-1650), um filósofo, matemático e físico francês, considerado o fundador da filosofia moderna. Em seu livro O Discurso do Método, qual descreve os preceitos do seu método filosófico, hoje denominado o método cartesiano, que serviu de fundamento para a tradição científica do ocidente. Veremos mais tarde que vários princípios da moderna administração, como os da divisão do trabalho, da ordem, do controle etc. estão basicamente contidos nos princípios cartesianos. Thomas Hobbes (1588-1679) desenvolveu a teoria da origem contratualista do estado, segundo o qual o homem primitivo, vivendo em estado selvagem, passou lentamente à vida social, através de um pacto entre todos. O homem primitivo era um ser antissocial por definição, vivendo em guerra permanente com o próximo. O Estado viria a ser, portanto, a inevitável resultante da questão, impondo a ordem e organizando a vida social, qual um Leviatã. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) desenvolveu a teoria do Contrato Social: O Estado surge de um acordo de vontades. Kal Marx (1818-1883) e seu parceiro Friedrich Engels (1820-1895) propõem uma teoria da origem econômica do Estado. O surgimento do poder político e do Estado nada mais é do que o fruto da dominação econômica do homem pelo homem. Com o surgimento da Filosofia Moderna, deixa a Administração de receber contribuições e influências, uma vez que o campo de estudo filosófico afasta-se enormemente dos problemas organizacionais. Influência da Igreja Católica Através dos séculos, as normas administrativas e princípios de organização pública foram-se transferindo das instituições dos Estados para as instituições da nascente Igreja Católica e para as organizações militares. Ao longo dos séculos, a Igreja Católica foi estruturando sua organização, sua hierarquia de autoridade, seu estado-maior (assessoria) e sua coordenação funcional. Hoje a Igreja tem uma organização hierárquica tão simples e eficiente que a sua enorme organizaçãomundial pode operar satisfatoriamente sob o comando de uma só cabeça executiva. De qualquer forma, a estrutura da organização eclesiástica serviu de modelo para muitas organizações que, ávidas de experiências bem sucedidas, passaram a incorporar uma infinidade de princípios e normas administrativas utilizadas na Igreja Católica. Influência do Exército A organização militar tem influenciado enormemente o desenvolvimento das teorias da Administração ao longo do tempo. • A organização linear, por exemplo, tem suas origens na organização militar dos exércitos da Antiguidade e da época medieval; • O princípio da unidade de comando (pelo qual cada subordinado só pode Ter um superior) fundamental para a função de direção; • A escala hierárquica, ou seja, a escala de níveis de comando de acordo com o grau de autoridade e responsabilidade correspondente é tipicamente um aspecto da organização militar utilizado em outras organizações. O conceito de hierarquia dentro do exército é provavelmente tão antigo quanto a própria guerra, pois a necessidade de um estado estado-maior sempre existiu para o exército. Todavia, o estado-maior formal como um quartel-general somente apareceu em 1665 com a Marca de Brandenburgo, precursor do exército prussiano; • A evolução do princípio de assessoria e a formação de um estado maior geral ocorreu posteriormente na Prússia, com o Imperador Frederico II, o Grande (1712-1786); • Outra contribuição da organização é o princípio da direção, através do qual todo soldado deve saber perfeitamente o que se espera dele e aquilo que ele deve fazer. Mesmo Napoleão, o general mais autocrata da história militar, nunca deu uma ordem sem explicar o seu objetivo e certificar-se de que haviam compreendido corretamente, pois estava convencido de que a obediência cega jamais leva a uma execução inteligente de qualquer coisa. No início do século XIX, Carl von Clausewitz (1780-1831), general prussiano, escreveu um Tratado sobre a Guerra e os Princípios de Guerra, sugerindo como administrar os exércitos em períodos de guerra. Foi o grande inspirador de muitos teóricos da Administração que posteriormente se basearam na organização e estratégia militares para adaptá-las à organização e estratégia industriais. Clausewitz considerava a disciplina como um requisito básico para uma boa organização. Para ele, toda organização requer um cuidadoso planejamento, no qual a decisões devem ser científicas e não simplesmente intuitivas. As decisões devem basear-se na probabilidade e não apenas na necessidade lógica. O administrador deve aceitar a incerteza e planejar de maneira a poder minimizar essa incerteza. Influência da Revolução Industrial A partir de 1776, com a invenção da máquina a vapor por James Watt (1736-1819) e a sua posterior aplicação à produção, uma nova concepção do trabalho modificou completamente a estrutura social e comercial da época, provocando profundas e rápidas mudanças de ordem econômica, política e social que, num lapso de aproximadamente um século, foram maiores do que as mudanças havidas no milênio anterior. É o período chamado Revolução Industrial, que se iniciou na Inglaterra e rapidamente se alastrou por todo o mundo civilizado. A segunda fase da revolução industrial a partir de 1860 apresentou as seguintes características: • A substituição do Ferro pelo Aço; • A substituição do Vapor pela Eletricidade; • O desenvolvimento de maquinaria automática e um alto grau de especialização do trabalho; • O crescente domínio da indústria pela ciência; • Transformações radicais nos transportes e comunicações; • O desenvolvimento de novas formas de organização capitalista: A dominação da indústria pelas inversões bancárias e instituições financeiras e de crédito, como foi o caso da formação da United States Steel Corporation, em 1901, pela J.P. Morgan & Co; A formação de imensas acumulações de capital, provenientes de trustes e fusões de empresas; Frederick W. Taylor é o pai da Organização Científica do Trabalho e a sua abordagem é a que mais claramente se orienta para o estudo do sistema de produção fabril. Deve-se a Taylor a apresentação do primeiro livro que, de forma sistematizada e científica, aborda os princípios e a prática de gestão – “Princípios da Administração Científica” publicado em 1911. A separação entre a propriedade particular e a direção das empresas; O desenvolvimento das holding companies. • A expansão da industrialização até a Europa Central e Oriental, e até o Extremo Oriente. Influência dos Economistas Liberais Adam Smith (1723-1790) visualizava o princípio da especialização dos operários em uma manufatura de agulhas e já enfatizava a necessidade de racionalizar a produção. O princípio da especialização e o princípio da divisão do trabalho aparecem em referencias em seu livro Da Riqueza das Nações. Adam Smith reforçou bastante a importância do planejamento e da organização dentro das funções da Administração. James Mill (1773-1836), outro economista liberal, sugeria em seu livro Elementos de Economia Política, publicado em 1826, uma série de medidas relacionadas com os estudos de tempos e movimentos como meio de obter incremento da produção nas indústrias da época. David Ricardo (1772-1823) publica seu livro Princípios de Economia Política e Tributação, no qual aborda trabalho, capital, salário, renda, produção, preços e mercados. Administração Científica – Frederick Taylor De acordo com Taylor o principal objetivo das organizações é assegurar ao empregador e a cada empregado a prosperidade máxima. O conceito fundamental do “taylorismo” é do one and only best way, ou seja, há uma e uma única maneira de melhor executar uma tarefa. Com base neste conceito Taylor partiu para o método para atingir esse objetivo, que designou por “estudo de tempos e movimentos” Com base neste método e, no sentido de identificar uma e única maneira de melhor executar uma tarefa, Taylor propõe que qualquer tarefa, mesmo as de supervisão, sejam as mais simples possíveis. Este método consiste na Embora com base conceitual idêntica à de Taylor, Henry Fayol desenvolveu a sua teoria numa perspectiva global, sendo os seus princípios que expôs no seu livro “Teoria Geral da Administração” que publicou em 1916, destinados à organização como um todo. Fayol vai preocupar-se fundamentalmente com a análise da estrutura hierárquica das organizações, pondo foco na linha de comando da qual dependeria todo o bom funcionamento organizacional. desagregação de cada tarefa de um indivíduo nos seus movimentos físicos elementares que eram cronometrados, e em seguida, tendo presente o objeto da tarefa, recompostos de forma a minimizar o tempo de execução. especializado. Assim, cada colaborador labora como um autômato fazendo repetidamente tarefas extremamente simples. Taylor apenas se debruça sobre o nível operacional e fabril das organizações, pois para ele a coordenação interna e o relacionamento com o exterior são dispensáveis. Henry Ford foi o primeiro a adotar, em grande escala e com sucesso, os princípios organizativos do “taylorismo”, tendo por fim obter grandes ganhos de eficiência. Em resumo, a filosofia de gestão de Taylor pode sintetizar-se nas seguintes ideias chave: • Aplicação do método científico para encontrar a “única melhor maneira” de realizar o trabalho; • Seleção, de forma científica dos trabalhadores que melhor desempenharão a tarefa; • Treino, educação e desenvolvimento dos trabalhadores de modo a melhor desempenharem as tarefas; • Interação amigável entre os gestores e os trabalhadores, mas com uma clara separação dos deveres entre uns e outros. Henry Fayol Fayol dividiu as operações empresariais em seis funções fundamentais: comercial, técnica, segurança, contabilidade, financeira e administração. 1) Funçõestécnicas, relacionadas com a produção de bens e serviços da empresa. 2) Funções comerciais, relacionadas com a compra e venda. 3) Funções financeiras, relacionadas com a procura e gerência de capitais. 4) Funções de segurança, relacionadas com a proteção e preservação dos bens e das pessoas. 5) Funções contábeis, relacionadas com os inventários, registros, balanços e estatísticas. 6) Funções administrativas, relacionadas com a integração de cúpula das outras cinco funções. As funções administrativas coordenam e sincronizam as demais funções da empresa, pairando sempre acima delas. A Administração ou função administrativa engloba as funções de gestão, tal como definidas por Henry Fayol – planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Assim Henry Fayol tenta caracterizar quais as funções de cada responsável hierárquico, definindo as funções a desempenhar pelo gestor – prever, organizar, comandar, coordenar e controlar – independentemente do seu nível hierárquico, sendo este, sem dúvida, o seu grande contributo para a teoria das organizações. Considerou também crucial a clareza das relações hierárquicas bem expressa na unidade de comando – cada subordinado tem um só chefe e para cada chefe é inequívoco quem são as pessoas que respondem perante ele. Fayol adota o conceito de “homem-servo”. Na prática Fayol definiu um conjunto de regras a que deve obedecer a estrutura interna de qualquer organização num conjunto de 14 princípios gerais de gestão (administração): • Divisão do trabalho; • Autoridade; • Disciplina; • Unidade de comando; • Unidade de Direção; • Subordinação do interesse individual ao coletivo; • Remuneração; • Centralização; • Cadeia de Comando; • Ordem; • Equidade; • Estabilidade de Emprego; • Iniciativa. Modelo Burocrático da Organização (Max Weber) Max Weber Uma vez definidos os objetivos e atividades da organização é possível formular um sistema de regras e de papéis a serem desempenhados por todos os membros da organização. O indivíduo tem apenas de seguir comportamentos prefixados, geralmente por escrito. Tudo está definido e todas as situações estão previstas e para todas as perguntas há uma resposta. Apesar da carga negativa que existe hoje associada à palavra burocracia, a Burocracia de Weber assentava-se num conjunto de características que são cruciais para a sua sustentabilidade e funcionalidade que ainda hoje estão presentes nas organizações, notadamente: • A avaliação e seleção dos funcionários; • Remuneração regular dos funcionários; • Carreira Regular dos funcionários; • Separação da propriedade do cargo; • Divisão do trabalho; • Hierarquia da autoridade. No entanto, uma organização com foco nos princípios de Weber tem um grande perigo: a passagem das regras de funcionamento a objetivos da organização; sendo os verdadeiros objetivos esquecidos pelos colaboradores, e apresentando ainda várias disfunções como o excesso de formalismo, a resistência a mudanças, a despersonalização do relacionamento, a super- Ao contrário de Taylor e Fayol, Max Weber não é um gestor profissional, mas sim um acadêmico alemão – sociólogo. Weber vai aplicar às organizações o seu método de análise que consiste na definição de um tipo ideal de organização. A organização “weberiana”, apelidada de burocracia, é do tipo racionalizada em que existe predeterminação total a todos os níveis. conformidade com rotinas e procedimentos e a grande dificuldade no atendimento ao cliente e conflitos com o público. Teorias Comportamentalistas As abordagens comportamentalistas, e muito particularmente a mais antiga conhecida por “teoria das relações humanas”, surgem nos anos 30 como contraponto às abordagens clássicas. Todas estas as abordagens assentam no conceito de que o homem, o indivíduo na organização, tem de ser o ponto de partida e chegada de qualquer análise do funcionamento das organizações. Ponto de partida porque é através do estudo do comportamento humano que poderemos compreender o comportamento organizacional e ponto de chegada porque as organizações devem ser estruturadas à medida e para servirem os que nela trabalham. Ocorre assim um desvio do foco de análise do sistema técnico-produtivo para o sistema social o que vai abrir um conjunto de novas perspectivas relativamente ao funcionamento das organizações. Por outro lado, a maior complexidade da tecnologia envolvida exigia cada vez mais a aplicação intelectual do trabalhador, sendo o seu esforço físico substituído pelas próprias máquinas. Embora a análise ainda perspective a organização como um sistema fechado, o homem já não é visto como um mero elemento do sistema interno da organização, mas como um todo – um ser humano com objetivos e inserção social própria que não abandona nem esquece à entrada da empresa. É dado o primeiro passo para introduzir na organização a incerteza provocada pelo ambiente exterior. O comportamento humano vai ser visto como o elemento crucial, como o verdadeiro objeto do estudo das organizações. A motivação e o relacionamento interpessoal passam a ser considerados como a verdadeira chave da eficiência do sistema produtivo. A eficiência do sistema produtivo passa sobretudo pela vontade das pessoas – a motivação. O objetivo terá de ser otimizar o sistema social e não o técnico- produtivo. Gerir a organização é gerir um sistema social, baseado no conhecimento profundo dos mecanismos da motivação humana e do funcionamento de sistemas sociais complexos; o gestor não é o chefe hierárquico ou o especialista técnico, mas o condutor de homens, capaz de motivar os indivíduos que integram a organização. Num conjunto de experiências que decorreram entre os anos de 1924 e 1932, ao tentar estudar o impacto das condições físicas de trabalho ( iluminação e horários de trabalho ) na produtividade dos operários Elton Mayo detectou, surpreendentemente, que a produtividade se mantinha ou até aumentava, quando a intensidade da luz aumentava em excesso ou era reduzida abaixo do razoável, o que parecia contraditório. Teoria das Relações Humanas (Elton Mayo) Mayo chegou à conclusão que os aumentos de produtividade tinham mais a ver com o espírito de grupo e as relações entre as chefias que com as condições físicas em que se desenvolvia o trabalho. A liderança e motivação dos indivíduos eram as variáveis que melhor explicavam os resultados da sua experiência. Surgem conceitos como “organização informal” – relacionamento à margem da empresa e da hierarquia estabelecida que se gera entre homens “completos”, que não são apenas trabalhadores mas também cidadãos – e como “moral” dos trabalhadores – indicador do nível motivacional do sistema social interno – que se tornam elementos fulcrais no estudo e compreensão do funcionamento de qualquer organização. Em síntese, pode-se dizer que a teoria das relações humanas, embora continue a contextualizar a organização como um sistema fechado, vai pela primeira vez levantar uma nova perspectiva da organização como um sistema social inter-relacionado. Teóricos Comportamentais (Behaviouristas – Maslow e McGregor) Os vários autores que se inserem nesta corrente de pensamento retomam, atualizam e sofisticam nos anos 50 e 60, pela aplicação dos conhecimentos, entretanto adquiridos no nível da psicologia e sociologia, algumas ideias já desenvolvidas na década de 30 no âmbito da teoria das relações humanas. A organização continua a ser vista como um sistema fechado, mas dotado de grande dinâmica interna que lhe advêm das vontades dos indivíduos e dos processos de inter-relação e de estruturação organizacional. Os autores desta corrente pretendem desenvolver um conhecimento aprofundado dos processos dinâmicos que ocorrem no sistema social interno da organização, embora pequem noque se refere à transposição para o normativo de gestão dos conhecimentos adquiridos O homem na organização é visto como um ser criativo que deve envolver todas as suas capacidades intelectuais no processo produtivo. A teoria das necessidades de Maslow assenta fundamentalmente nos seguintes pressupostos: As necessidades insatisfeitas motivam as pessoas ou influenciam o seu comportamento. Enquanto uma necessidade básica não for satisfeita, as outras, regra geral, não exercem influência no comportamento do indivíduo. É o chamado princípio da dominância. Teoria das necessidades (Maslow) Neste sentido, as necessidades agrupam-se segundo uma hierarquia. E as necessidades de qualquer nível da hierarquia emergem como motivadores significativos apenas quando as necessidades de níveis inferiores àquele na hierarquia já estiverem razoavelmente satisfeitas (princípio da emergência). A figura abaixo, esquematicamente, apresenta os princípios citados. Figura 2: Hierarquia das Necessidades de Maslow Douglas McGregor pôs em evidência a filosofia do gestor sobre a natureza humana e a sua relação com a motivação dos subordinados. Segundo McGregor, os gestores tendem a desenvolver um conjunto de assunções, crenças ou ideias sobre os empregados que podem basicamente ser divididas em dois grupos, os quais constituem assim duas visões diferentes, antagónicas até – a teoria X e a teoria Y. Necessidades Básicas: as necessidades básicas ou fisiológicas referem-se à sobrevivência. Neste grupo enquadram-se as necessidades de água, alimento e abrigo. Neste caso, aplicando-se ao mundo do trabalho a presença dos fatores, por si só, não é um fator motivacional; entretanto, por exemplo, se o salário recebido não for suficiente para arcar com as necessidades mais básicas a motivação será afetada. Necessidades de Segurança: as necessidades de segurança referem-se às necessidades de proteção das pessoas, quanto a sua integridade física e psicológica. O emprego e a própria proteção contra sua perda encontram-se neste grupo. Necessidades Sociais: as necessidades sociais envolvem a interação e relação com outras pessoas. Uma vez que, as necessidades básicas e de segurança estão satisfeitas os indivíduos procuram atender suas necessidades de afiliação, amizade e de aceitação por parte da comunidade, grupos ou equipes as quais pertence. Necessidades de Estima: neste grupo estão incluídas as necessidades de reconhecimento por si mesmo e pelos outros. A realização pessoal, o desejo de status e poder se enquadram neste campo. Nesta categoria, as pessoas podem ser influenciadas pelo reconhecimento organizacional, materializado em recompensas adicionais ou pelo status conferido. Necessidades de Auto Realização: neste grupo estão inclusas as necessidades de maximização das competências e aptidões pessoais. Localizado no topo da pirâmide este grupo de necessidades busca desafiar o indivíduo. O objetivo maior está voltado para a realização de grandes desafios ou contribuições, ultrapassando o atendimento das necessidades anteriores. Teoria X e Y (McGregor) Pressuposições da Teoria X: • As pessoas são preguiçosas e indolentes; • As pessoas evitam o trabalho; • As pessoas evitam a responsabilidade, com o objetivo de se sentirem mais seguras; • As pessoas precisam ser controladas e dirigidas; • As pessoas são ingénuas e sem iniciativa. Pressuposições da Teoria Y: • As pessoas são esforçadas e gostam de ter o que fazer; • O trabalho é uma atividade tão natural como brincar ou descansar; • As pessoas procuram e aceitam responsabilidades e desafios; • As pessoas podem ser automotivadas e autodirigidas; • As pessoas são criativas e competentes. Desenvolvimento Organizacional Dado o cunho demasiado teórico das abordagens behavioristas alguns autores percebem que é um fracasso a sua aplicação prática e tentam desenvolver uma abordagem sistemática à gestão das organizações que designaram como “desenvolvimento organizacional”. Surgem assim trabalhos como a Matriz de Gestão – Blake e Mouton. Esta matriz constitui uma importante técnica de análise dos estilos de liderança e, com ela, pretende-se consciencializar os gestores da sua forma de atuação a fim fazer luz sobre aos caminhos através dos quais podem melhorar a sua capacidade de liderança. Essencialmente o Desenvolvimento Organizacional pretende a mudança das organizações de forma a que estas se transformem em sistemas sociais que vejam a mudança como sua componente intrínseca. Assim, começou a desenhar-se a tendência de contextualizar a organização como sistema entreaberto face ao exterior, e de considerar a existência de interação da organização com o meio ambiente. O Desenvolvimento Organizacional inclui: • Mudanças estruturais e técnicas; • Mudar as pessoas, a natureza e qualidade das suas relações de trabalho. A ênfase principal do desenvolvimento organizacional é a mudança da cultura da organização e os seus objetivos são: • Aumentar a eficácia e a saúde da organização; • Renovação da organização a partir das pessoas. Em resumo o Desenvolvimento Organizacional é a “mudança organizacional planejada”, cujas principais características são: • Ver a organização como um todo; • Orientação sistêmica; • Agente de mudança; • Solução de problemas; • Aprendizagem experimental; • Processos de grupos e desenvolvimento de equipes; • Feedback; • Orientação contingencial. Teorias Pragmáticas As abordagens aqui designadas por “pragmáticas” englobam essencialmente o esforço analítico e normativo levado a cabo a partir de meados dos anos 50 por pessoas ligadas à gestão de empresas. O denominador comum de todos esses autores é a definição de “regras práticas de gestão”. A visão genérica é ainda a proposta dos clássicos atenuada por muitos ensinamentos das teorias comportamentalistas, notadamente em nível da motivação individual. Teoria Neoclássica Esta abordagem foi buscar sua inspiração às teorias clássicas, readaptando alguns dos principais conceitos à época em que surge. Neste sentido, o estudo das funções do gestor de Fayol, ganha novo relevo. A grande inovação é o acentuar da função Inovação que passa a ser apresentada como preponderante. Esta ideia decorre da alteração fundamental introduzida pelos neoclássicos, que consiste na necessidade de contextualizar a empresa já não totalmente como um sistema fechado, mas como um sistema que tem de adaptar-se à evolução dos mercados onde coloca os seus produtos. Efetivamente, falar de neoclássicos é falar de Marketing e da preponderância em nível de todo o comportamento organizacional e da função de gestão. A inovação traduz-se na capacidade de detectar oportunidades no mercado e em seguida ser capaz de aproveitá-las ativamente. Outra característica a realçar é a acentuação na importância dos resultados da empresa e não meramente no “output”. Produzir já não é essencial, mas sim produzir o que o mercado quer, de forma a que a atividade da empresa possa ser rentável. A organização, e particularmente o gestor, tem por papel fundamental apreender a evolução do mercado e inovar nas respostas a dar às oportunidades detectadas de forma a maximizar o lucro. A abordagem neoclássica procura sobretudo descobrir “regras flexíveis” que são, muitas vezes, princípios de lógica a aplicar ou formas de raciocinar sobre problemas e situações concretas enfrentadas pelas empresas. Administração por Objetivos A administração por objetivos pretende ser uma forma de intervenção sistemática e planeada em todo o processo de gestão de uma empresa. A Gestão por objetivos trata-se de uma filosofia de gestão que põe ênfase no estabelecimento de objetivos acordados entre os gestores de grau superior e subordinados e, no uso destes objetivos assimdefinidos, como base fundamental dos esforços de motivação avaliação e controle. A administração por objetivos constitui uma aproximação altamente coerente à problemática de compatibilização entre objetivos organizacionais, setoriais e individuais, constituindo um poderoso instrumento ao serviço de uma maior rentabilidade empresarial. A lógica da Administração por Objetivos está centrada nos seguintes princípios: • preocupação prioritária na realização dos objetivos globais; • rentabilidade de cada órgão da empresa vista na perspectiva da contribuição para os objetivos globais; • avaliação objetiva dos indivíduos em função de metas preestabelecidas; • implementação de uma gestão planejada; • autocontrole efetuado por cada indivíduo na organização. A preocupação central é a de instituir uma gestão planejada que passa, primeiramente, pela definição dos objetivos globais em função dos quais são definidos os objetivos intermediários. Entretanto devemos considerar, notadamente, a perda de visão de conjunto e simplificação decorrente da tentativa de objetividade e quantificação que pode ser grave, quando dela resulta uma excessiva orientação para os resultados de curto prazo. Tendências de Evolução do Pensamento Conceitual As abordagens anteriores começaram a ser postas em causa a partir do fim da década de 60, devido às suas características dominantemente determinísticas e normativas. Assim, Lawrence e Lorch (1967), vão desenvolver o que designam por modelo contingencial, em que o comportamento organizacional é explicado em grande parte pela conjuntura (tipo e situação). Porém o corte mais radical com a teoria tradicional das organizações deve-se a Emery e Trist (1965) que num artigo assumem, pela 1ª vez de forma explícita, a organização como um sistema aberto que só é explicável e logo compreensível, se analisado conjuntamente com a sua interação com o meio envolvente. Na década de 70 firma-se o conceito da organização como sistema aberto, centrando-se o a discussão nas formas de interação, nas consequências, nos seus intervenientes e no grau de determinismo imposto pela envolvente à organização, discussão que ainda é atual. Análise Sistêmica Em vez de ligar separadamente com as várias partes de uma organização, a abordagem sistêmica apela a que a gestão veja a organização como um sistema uno, composta de partes inter-relacionadas. Esta abordagem permite aos gestores verem a organização como um todo, e ainda fazendo parte de um sistema maior – o ambiente externo. A atividade de qualquer parte de uma organização afeta em diferentes graus todos as outras partes, isto é uma organização ou uma empresa deve ser vista como um sistema aberto ao meio ambiente externo, com o qual se relaciona. Para melhor perceber esta ideia vejamos o conceito de sistema, sistema fechado, sistema aberto. Sistema: é um conjunto de dois ou mais elementos em que: • Cada um tem efeitos no comportamento do todo; • A forma como cada elemento afeta o todo depende, pelo menos, de outro elemento (há interdependência de efeitos); • Não é possível dividir o todo em elementos independentes sem, com isso, afetar as suas características. • Sistema fechado: são sistemas que não recebem nenhuma influência do meio ambiente e, por outro lado, também não influenciam o ambiente. • Sistema aberto: são os sistemas que apresentam relações de intercâmbio com o ambiente, através de entradas e de saídas. Modelos Contingenciais Uma das abordagens do pensamento e da prática da gestão relativamente recentes é a teoria da contingência. Os defensores desta abordagem põem em destaque a ideia de que, o que os gestores fazem, na prática, depende do conjunto de circunstâncias que caracterizam cada situação; põe em relevo a relação entre a forma como a organização toma as suas decisões e processa a atividade e as características da situação. Alguns dos aderentes a esta abordagem da gestão puseram em confronto sobretudo a estrutura da organização e as características do seu ambiente. Nesta linha de pensamento, Tom Burns e George Stalker, por exemplo, descrevem dois tipos de gestão radicalmente diferentes: • Sistema mecanicista, caracterizado por uma estrutura rígida com destaque para a linha hierárquica; • Sistema orgânico, muito mais flexível, menos estruturado, permitindo uma maior influência dos trabalhadores na tomada de decisões. Joan Woodward defende que a escolha do tipo de estrutura que melhor se adapta a uma determinada empresa é influenciada pela tecnologia que ela usa. Assim, sugere que uma empresa caracterizada por tecnologia correspondente à produção em massa pode perfeitamente adoptar uma estrutura mecanicista, enquanto para uma empresa de produção contínua (refinaria, por exemplo) uma estrutura orgânica é mais aconselhável. Mais recentemente, a teoria da contingência alarga-se a outros domínios específicos da gestão como o desenho de tarefas, a liderança, a dinâmica de grupos e as relações de poder. SAIBA MAIS! Para conhecer mais sobre as teorias da Administração acesse também o site abaixo: http://www.historiadaadministracao.com.br Veja por meio do artigo disponível em seu ambiente de aprendizagem virtual uma visão complementar sobre o tema e as possíveis correlações entre Administração Geral e Administração Escolar. Artigo: A Correlação entre Administração Geral e Administração Escolar http://www.historiadaadministracao.com.br/ http://www.historiadaadministracao.com.br/ UNIDADE II – Afinal o que é fundamental Após observamos as Teorias Administrativas, é bem provável que tenhamos levantado questões, quanto aos aspectos positivos e negativos de cada teoria apresentada. Ainda é provável que indagações, quanto à validade e até mesmo aplicabilidade de cada teoria à realidade e desafios da Gestão Educacional, ou seja, da Gestão de uma Organização Educacional, também tenham surgido ao longo das reflexões. Em primeiro lugar, é importante destacarmos que as Teorias Administrativas foram desenvolvidas ao longo da História e refletem as características da sociedade vigente, com seus anseios, qualidades e defeitos. Constituindo-se assim, como tentativas de respostas aos anseios por melhores resultados, principalmente, das organizações em evidência naquele momento histórico. Portanto, podemos perceber que toda construção e evolução das Teorias Administrativas esteve em torno, ou melhor, direcionou-se fortemente para a busca de mecanismos, métodos e práticas, rumo ao alcance dos resultados empresariais, em particular, em direção à melhoria dos resultados de organizações industriais. A breve e até óbvia constatação acima já nos direciona para básicas considerações. A mais importante é que diferentemente das organizações puramente empresariais, em especial das organizações industriais, uma organização educacional, uma escola, não possui um produto claramente tangível, um bem físico. De fato a “produção” da escola, diferente de outras organizações, não tem sua qualidade definida na padronização, mas na “produção” de seres emancipados e autônomos. (Bourdigon & Gracindo 2001, p 155). Portanto, quando nos referimos a uma organização educacional, a uma escola, por exemplo, estamos falando fundamentalmente da “produção” de conhecimento e sobretudo do desenvolvimento e transformação das pessoas. Em suma, estamos falando de gente! E estamos nos referindo às capacidades de uma organização em contribuir significativamente para a formação de cidadãos em qualquer sociedade. Assim, nossa primeira “tentação” como profissionais da Educação seria nos opormos frontalmente às Teorias Administrativas. Pois estamos desenvolvendo pessoas e não produzindo objetos. Em soma, ao olharmos as Teorias é como se estivéssemos também presos ao passando, observando afirmações descasadas das temáticas atuais. Contudo,as constatações acima não invalidam as Teorias Administrativas. Vejamos! Como funciona o cotidiano de nossas organizações educacionais? O quão mecanicista ainda estamos? O quão nossas organizações funcionam como sistemas abertos ou fechados, sem nenhuma participação da comunidade? Como a natureza das relações humanas é entendida e tratada em nossas organizações? O que são objetivos e resultados na Educação? O estilo de gestão de nossas lideranças está em sintonia com a razão de ser de uma organização educacional? Veja as questões podem ser inúmeras. E não existem respostas prontas ou soluções “mágicas”. E é nesta direção que as Teorias Administrativas podem contribuir! Não como um caminho único, como respostas únicas, mas como opções de contribuição para o entendimento da desafiante realidade de gestão de nossas organizações. Em segundo lugar, tanto as Teorias Administrativas, quanto as organizações educacionais continuam em evolução e buscando soluções às novas demandas e desafios da sociedade em resposta aos desafios de gestão para o desenvolvimento de cidadãos para o século XXI. E neste caminho, tropeços, críticas, redirecionamentos, e até mesmo rupturas serão naturais na evolução e aplicação de qualquer teoria. Portanto, novos temas relacionados à melhoria da gestão irão surgir. O que não invalida o que podemos chamar de passado ou antigo. O que podemos entender como passado ou antigo em relação às Teorias Administrativas pode nos trazer importantes contribuições, quando nos convidamos a entender seus fundamentos, isto é, seus pilares fundamentais, suas bases. Neste sentido, iremos agora voltar ao tema de nossa unidade, à pergunta inicial – Afinal o que é fundamental? Isto é, iremos nos concentrar em apresentar determinados temas, conceitos e pilares de Administração capazes de contribuir para a Gestão de Organizações Educacionais. Assim, de forma sequencial, iremos apontar conceitos e práticas em sintonia com os desafios de mudança presentes em nosso contexto atual. O que é Administração ou Gestão Embora já tenhamos passado por esse conceito, vamos relembrar e nos ater ao que é fundamental. Tão antiga quanto as próprias civilizações a Administração está presente em nosso dia-a-dia, em nossa vida pessoal e profissional. Seja quando criamos ou cuidamos de um projeto, gerenciamos uma organização, iniciamos uma atividade, realizamos uma viagem ou planejamos um evento. Mas o que vem a ser Administração? Iniciando nossa busca por uma definição, é preciso, primeiramente, enumerarmos os elementos vitais para um entendimento simples e ao mesmo tempo eficaz do termo Administração. Nesta perspectiva, podemos observar que recursos, resultados e decisões de forma interdependente nos permitem caminhar para o entendimento do conceito de Administração. Para isto, observe a ilustração abaixo: Figura 3 – Conceito de Administração Fonte: (Maximiano 2004) Em primeiro lugar, podemos entender recursos como, informações, tempo, recursos financeiros e instalações. Isto é, tudo aquilo que é necessário para o alcance de resultados. Neste sentido, é preponderante destacarmos que os recursos são essencialmente escassos. Em um mundo ideal teríamos todos os recursos disponíveis a qualquer tempo e custo. Entretanto, em nosso mundo real quase nunca possuímos todos os recursos desejados. Por exemplo, de maneira geral, se pensarmos na realidade uma organização escolar pública em nosso país, não teremos dúvidas, quanto à escassez dos recursos. Ao mesmo tempo, interligada à definição de recursos, encontram-se as decisões de: planejamento, organização, execução e controle. Assim, em uma realidade de escassez ou não de recursos é necessário planejar, ou melhor, Decisões: Planejamento, Organização, Execução e Controle RESULTADOS estabelecer o que alcançar prioritariamente e os meios necessários, definindo o que fazer primeiro, quem fará, quanto custará, como e quando fazer. Por consequência, fazer acontecer, colocar em prática! Executar e promover os ajustes necessários ao longo do caminho, ou seja, exercer acompanhamento rumo aos resultados. Perceba até aqui que o conceito de Administração gira em torno do termo resultados. De forma simples um resultado ou objetivo é o que desejamos alcançar. Mas o que é resultado para uma organização Educacional? A formação de cidadãos capazes de transformar a sociedade? Alcançar as melhores notas nos exames nacionais de avaliação? Ter preparado os estudantes para a vida? Ter preparado os estudantes para o mercado de trabalho? Ter transformado a comunidade, a vida dos estudantes e de suas famílias? Ter diminuído a evasão? Ter diminuído a violência na escola? Ter alcançado o conceito máximo nas avaliações dos órgãos que regulam a Educação? Perceba que o termo resultados pode assumir diferentes dimensões, níveis e perspectivas. Não há uma resposta única. A cada organização caberá entender seu momento, seus desafios atuais e futuros, ao estabelecer seus resultados. O que é relevante para educadores e gestores é que no mínimo tenhamos clareza sobre os resultados. Isto é, que as organizações em que atuamos tenham clareza sobre seu propósito, sobre o que almejam e onde pretendem chegar! Mas para quem a Administração precisa gerar resultados? A Administração por meio de seus recursos e esforços busca gerar resultados para duas principais partes interessadas, os acionistas e os clientes. Vamos nos concentrar apenas na primeira parte interessada – Os acionistas. No mundo das empresas os acionistas investem seus recursos e desejam obter retornos maiores sobre os recursos investidos. Você já deve ter ouvido falar sobre acionistas. É comum ouvirmos o termo acionista, quando escutamos sobre as empresas com ações nas bolsas de valores. Acionista é a pessoa física ou jurídica, proprietária de ações de uma ou mais empresas ou organizações empresariais. Também poderíamos entender acionista como o dono de um negócio, isto é, aquele que é proprietário de um negócio ou até mesmo sócio, embora não tenha ações na bolsa de valores. Em resumo, o acionista seja ele dono ou não, arrisca seus recursos, esperando resultados. Neste caso, obter retorno e lucro. Em um primeiro momento poderíamos pensar que as denominações apresentadas só são aplicáveis ao mundo das empresas privadas. Entretanto, por exemplo, também podemos considerar que as organizações públicas, as quais teoricamente não visam lucro, possuem acionistas. Quem são? Somos nós cidadãos. Somos nós cidadãos que por meio do pagamento de nossos impostos “investimos” nossos recursos, esperando melhores retornos, isto é melhores serviços públicos, incluindo a Educação. E também, valeria observarmos, que assim como os acionistas de uma empresa demandam de seus administradores melhores resultados, deveríamos demandar dos administradores públicos melhores resultados. Portanto, qualquer organização terá falhado em sua missão, em sua Administração, caso não alcance, não entregue melhores resultados. No caminho do alcance de melhores resultados é importante entendermos que a obtenção de resultados está fundamentalmente mais ligada à eficácia do que à eficiência. Mas certamente, há considerável falta de entendimento entre eficácia e eficiência, que fica, respectivamente, entre fazer as coisas certas (eficácia) - o que fazer; e fazer as coisas da maneira certa (eficiência) - como fazer. Isto é, não há nada tão inútil quanto fazer com grande eficiência aquilo que nem deveria ser feito. Onde a eficácia consiste, ante de tudo, em fazer as coisas que são realmente importantes, ao invés de desperdiçar tempo, recursos financeiros e energia fazendo coisas, não importa quão bem ou eficientemente, que não contribuem para um bom desempenho e para a obtenção de resultados. E uma vez, que tenhamosfeito as escolhas certas, é hora de nos concentrarmos na eficiência. Isto é, ao como fazer, ao fazer melhor, ao fazer com mais qualidade e com menos desperdícios. Portanto, na perspectiva aqui apresentada, podemos entender a Administração como: O processo de alcançar resultados e utilizar recursos com eficácia e eficiência. A Administração está ainda fundamentalmente ligada ao exercício da liderança. E o exercício de liderar está associado, principalmente, à gestão de pessoas, ao envolver, comprometer e conectar as pessoas em busca dos resultados. E inteiramente ligado ao entendimento que ao contrário dos recursos, dos objetos, pessoas têm controle se trabalham, quanto e quão bem; e que, portanto, exigem responsabilidade, respeito, motivação, participação, orientação, satisfação e reconhecimento. Assim, não importa se os produtos são automóveis ou cosméticos, ou se vendemos serviços de internet, ou administramos uma escola pública. Uma organização só é tão excelente quanto as pessoas que a integram. E para isto, liderar significa desenvolver as pessoas. Pois, sem a participação das pessoas nenhuma organização, nenhum gestor, pode ter sucesso no alcance dos resultados. Liderar ainda significa negociar e acordar prioridades. Como anteriormente comentado, os recursos são limitados e cabe aos gestores concentrar seus esforços, onde exista a maior probabilidade de obter os melhores resultados. Portanto, é necessário negociar, buscar a participação das pessoas e priorizar. E Priorizar significa dizer não e escolher entre as alternativas possíveis. Nesta perspectiva, vale citar Vilfredo Pareto. Mais conhecido somente como Pareto. Este economista italiano, em 1897, publicou um estudo sobre a distribuição de renda e, através deste estudo, percebeu-se que a distribuição de riqueza não se dava de maneira uniforme, havendo grande concentração (80%) nas mãos de uma pequena parcela da população (20%). Ao longo dos anos, os princípios estudados por Pareto foram entendidos como válidos e aplicáveis e passaram a ser utilizados no mundo das organizações, e tornaram-se conhecidos como regra 80-20, onde 20% das causas são responsáveis por 80% dos problemas, ou 80% dos resultados são provenientes de 20% das ações. Isto é, utilizando a ótica de Pareto, é necessário priorizar em um exercício contínuo de concentração de esforços e alocação de recursos nas melhores oportunidades para a organização. Naquelas determinadas ações (poucas) que podem proporcionais os melhores resultados. Liderar exige ainda as capacidades de decidir e executar. Em um processo constante de: análise e identificação da situação, desenvolvimento de alternativas e soluções, comparação entre as alternativas e soluções, classificação dos riscos de cada alternativa e a escolha e realização do melhor caminho. As Organizações Ao longo deste material de estudo você já deve ter percebido algumas vezes a palavra organização ou organizações. Podemos definir organização como “o resultado de um conjunto de respostas aos desafios que se apresentaram ao longo de sua trajetória...” (Galbraith, 2011) ou de forma mais simples, como um conjunto de pessoas que atuam em um determinado contexto para a realização de objetivos comuns. Uma escola, uma hospital, uma igreja, uma associação, uma universidade, uma cooperativa, uma empresa comercial são exemplos de organizações que executam ações específicas para a solução e/ou atendimento das necessidades de determinados agrupamentos de pessoas. Nesta perspectiva, como ilustrado, pelas Teorias Administrativas mais recentes, as organizações podem ser entendidas como organismos abertos e sujeitos às mudanças e desafios de seu ambiente. Uma igreja, por exemplo, precisa interagir e entender as realidades e carências de seus frequentadores. Da mesma forma que uma escola deverá interagir e entender a comunidade na qual está inserida. Portanto, as organizações não atuam de forma isolada, em “seu mundo próprio” e sem sofrer os reflexos ou até mesmo alterar as realidades nas quais está inserida. Cada organização possui um jeito próprio de atuar, um jeito próprio de interagir com o ambiente, um jeito próprio de ser. Denominamos este “jeito próprio de ser” como Cultura Organizacional. Teoricamente, a cultura organizacional pode ser definida como o conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas, compartilhados pelos membros de uma organização. Constitui o modo institucionalizado de pensar e agir que existe em uma organização. Ou a maneira costumeira ou tradicional de pensar e fazer as coisas, que são compartilhadas pelos membros da organização e que os novos membros devem aprender e aceitar. Em resumo, a “regra do jogo”, o “jeito de ser de uma organização”, sua “personalidade”. Mas porque é importante conhecermos o conceito de cultura organizacional? Quando pensamos na geração de resultados, como já enfatizado nas temáticas anteriores é natural nos lembramos do uso da capacidade de liderança, ou seja, da capacidade de desenvolvermos e orientarmos as pessoas, atuando como facilitadores no processo de alcance de resultados. No entanto, mesmo para organizações com grandes disponibilidades de recursos e com lideranças atuantes a cultura pode tanto se tornar um fator propulsor dos resultados, como um obstáculo para mudanças e melhores resultados. Por exemplo, culturas organizacionais que possuem como traços a valorização de comportamentos voltados para a melhoria constante, em certa medida podem permitir que a organização, ou seja, as pessoas que compõe a organização procurem sempre atuar, buscando sempre fazer “bem feito”, com mais qualidade. Isto é, neste tipo de cultura sempre há espaço e oportunidades para fazer melhor. Por outro lado, culturas permissivas, onde o “mal feito” não causa grandes transtornos, ou seja, onde a não qualidade é constantemente aceita, podem trazer como consequência resultados constantemente insatisfatórios. As culturas organizacionais são compostas por aspectos formais e abertos, e de aspectos informais e ocultos. Os primeiros, dizem respeito àquilo que pode ser literalmente visto. Já os aspectos informais e ocultos são aqueles que não são necessariamente vistos, mas percebidos por meio dos comportamentos e ações dos membros das organizações. Aspectos formais e abertos • Estrutura organizacional; • Títulos e descrições de cargos; • Objetivos e estratégias; • Práticas gerenciais; • Métodos e procedimentos. Aspectos informais e ocultos • Percepções e atitudes das pessoas; • Sentimentos e normas de grupos; • Padrões de interações informais. Uma visualização bastante interessante, quando falamos sobre cultura organizacional é imaginarmos a ponta de um Iceberg. Os aspectos abertos da cultura compõe a ponta do Iceberg, perfazendo apenas uma parte da cultura organizacional percebida. Em conclusão, a maior parte do Iceberg está encoberta, assim como a maior parte da cultura organizacional. Figura 4 – “Iceberg”_Cultura • Distância do Poder: elevada ou pequena? • Linguagem: ênfase na linguagem falada ou escrita? • Relações Humanas: consenso ou autoridade individual? • Atitudes em relação ao futuro: atitude proativa ou reativa? • Normas aplicadas: para todos ou dois pesos e duas medidas? • Orientação para o ambiente: orientação para fora ou para dentro? • Propensão ao risco: baixa, moderada ou elevada? • Abertura para o novo: baixa, moderada ou elevada? • Natureza da verdade: aceitação ou não aceitação? Quais aspectos devemos avaliar para entendermos uma determinada cultura organizacional? E como pergunta final: é possível mudar a cultura de uma organização? Sim é possível! Mas há quase um consenso de que culturas organizacionais são difíceis de mudar. Assim, é melhor entendermos e atuarmos para queas culturas organizacionais possam evoluir em acordo com as necessidades da organização e de seu ambiente. SAIBA MAIS! Você conhece o Prêmio Gestão Escolar? Para isto, acesse o site abaixo, navegue e faça uma leitura atenta, principalmente, dos critérios e dimensões de gestão avaliadas. www.premiogestaoescolar.com.br Leia também: Artigo: A Escola é sobretudo Gente Artigo: Gestão na Educação – Teoria e Contexto http://www.premiogestaoescolar.com.br/ UNIDADE III - Inovação A necessidade de adaptação e de mudanças Antes de nos concentrarmos no termo Inovação é importante lembrarmos que a busca e a consecução de resultados não acontece de forma isolada do ambiente. De forma geral, podemos observar que toda organização está inserida em um cenário, em um contexto de atuação. Podemos denominar este contexto como ambiente organizacional. O lugar ou o entorno, onde a Administração acontece, exerce e sofre influências. O importante, como já citado, é percebermos que as organizações não atuam isoladamente, pois estas sofrem a influência e impactos de mudanças como diferentes motivações como: econômicas, políticas, tecnológicas, sociais, entre diversas outras. Ou seja, de uma série de variados aspectos que exercem pressão e podem provocar antecipações, adequações, reações e mudanças nas organizações. Para isto, basta olharmos e refletirmos, por exemplo, em nosso dia-a-dia pessoal e profissional sobre as mudanças provocadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação como: o advento da internet, os telefones celulares de última geração, os softwares de comunicação online e as redes sociais, apenas para citar alguns exemplos. E, com toda esta parafernália tecnológica, hoje com as conexões online, temos a oportunidade de comunicação em frações de segundos com o alcance de milhões de pessoas. E um dos caminhos, uma resposta em evidência à velocidade e intensidade das mudanças trata-se da Inovação. Vejamos! O que é inovação A Inovação já por um bom tempo tem se mantido em total evidência. Observe! Apenas por curiosidade! Fizemos uma pesquisa no Google, utilizando a palavra inovação e obtivemos 12.300.000 citações. Isto no idioma Português! Já no idioma Inglês para o termo innovation, encontramos 195.000.000 de citações! Ou basta lembrarmos de produtos que antes eram somente vistos nos filmes de ficção científica e que hoje Já são ou estão próximos da realidade. Os carros movidos por eletricidade ou até mesmo os carros que voam, as impressoras 3D capazes de produzir os mais diferentes tipos de objetos, os jogos por meio da realidade virtual, o turismo espacial. E a lista de novidades seria interminável! De fato não há como negar que o termo inovação esteve, está e estará presente em nosso dia-a-dia e que de fato, por séculos, os progressos técnicos nos mais diversos campos profissionais tem contribuído de forma significativa para o surgimento de novas tecnologias, novos produtos, novos serviços e novas possibilidades de progresso. Ainda nesta perspectiva em relação ao entendimento do conceito de inovação, podemos recorrer a outra questão. Porque a inovação é importante? “As inovações são importantes não somente para aumentar a riqueza das nações no estrito sentido de aumentar a prosperidade, mas também no sentido mais fundamental de permitir às pessoas fazerem coisas que nunca haviam sido feitas anteriormente.” (Freeman & Soete – Economia da Inovação). Assim, ao longo da história, além de se constituírem como um verdadeiro e robusto “combustível” à criatividade humana, as inovações foram o principal motor de desenvolvimento das nações, criando continuamente progresso técnico e econômico, como pode ser visualizado na próxima página. Períodos Onda Tecnologia e Educação Transporte e Comum. Fontes de Energia Fatores- Chave e de baixo custo 1780- 1840 Revolução Industrial, produção em fábricas têxteis Aprendizado no trabalho, escolas de dissidentes religiosos e sociedades científicas Canais, estradas carroçáveis Energia Hidráulica Algodão 1840- 1890 Era da energia a vapor e das ferrovias Profissionais de Eng. Civil e Mecânica; massificação do ensino primário Ferrovias (trilhos de ferro) telégrafo Máquinas a vapor Carvão e Ferro 1890- 1940 Era da eletricidade e da siderurgia Laboratórios industriais. Química e eletricidade Ferrovias (trilhos de aço), telefone Eletricidade Aço 1940- 1990 Era da produção em massa (“Fordismo”) de automóveis e de materiais sintéticos Pesq. & Des. (P &D) Governamental e industrial em larga escala. Massificação do ensino superior Auto- Estradas, rádio e TV, linhas aéreas Petróleo Petróleo, plásticos 1990-? Era da microeletrônica e das redes de computadores Redes de dados, redes globais de P & D, treinamento e educação continuados Canais de informação, redes digitais Gás/Petróleo Microeletrônica Fonte: (Freeman & Soete – 2008) Com a análise do quadro acima fica clara a importância do novo, do inédito, daquilo que é capaz de causar mudanças e progresso. Assim, em suma, Inovação significa novidade ou renovação capaz de gerar impactos significativos em uma realidade. Sendo a palavra derivada dos termos latins novus (novo) e innovatio (algo criado novo). Em aprofundamento ao conceito de inovação, conforme Tidd, Bessante & Pavitt no livro Gestão da Inovação, uma das dimensões da inovação é o grau de novidade envolvido. Nesta direção, há diferentes graus de novidade envolvidos, desde melhorias incrementais menores, até mudanças radicais que transformam intensamente um contexto. Por exemplo, um novo acessório de comunicação para um carro pode ser considerado como uma inovação incremental; já a inserção no mercado de um avião movido por energia solar é uma inovação radical. Ou no contexto educacional, por exemplo, uma nova competência inserida no currículo escolar poderia ser considerada como uma inovação incremental; já uma mudança drástica no processo de ensino- aprendizagem ou no modelo educacional poderia ser considerada como uma inovação radical. Mas como inovar? Como inovar – Caminhos para Inovação Assim como em Educação não existem fórmulas mágicas para inovar não teremos “receita de bolo”. No entanto, existem requisitos fundamentais como a criatividade. Pense na ansiedade dos pacientes em uma sala de emergência com altos índices de óbitos ou na frustração de passageiros em um aeroporto tomado pelos atrasos frequentes, ou nas iniciativas de uma pequena indústria à beira da falência para desenvolver novos produtos, ou nas dificuldades em uma comunidade tomada pela violência para encontrar soluções e melhorias para suas escolas. Embora como diz o bom e velho ditado que a necessidade é a mãe da invenção, observe que estes problemas citados e tanto outros não são questões triviais. Carecem de soluções fora da rotina. “Fora da Caixa” ou fora do lugar comum. Isto é, carecem de soluções criativas. Criatividade que deverá ir além da atuação individual, além da ideia de que as inovações somente são advindas de grandes gênios individuais. Criatividade que se constitui, portanto, em uma característica necessária às equipes e grupos. Nesta ótica, no livro a Emoção e a Regra o sociólogo italiano Domenico de Masi apresenta a história de grandes empreendimentos criativos, como a revolucionária escola de arquitetura alemã Bauhaus. Uma ponte entre artesanato, arte, indústria e academia, em um ambiente capaz de desenvolver profissionais capazes de conhecer todo o processo produtivo e de expressar uma criatividadeconstante, constituindo-se na chamada criatividade racional da Bauhaus, onde conforme o autor destacavam-se as características dos grupos criativos como: • A habilidade de concentração de energias de cada um no objetivo comum; • A capacidade de encontrar recursos; • O estilo de liderança informativo, orientado para a integração e para o intercâmbio contínuo; • Uma alta cooperação e participação nos processos decisórios; • As relações informais e processos informativos incentivados ao máximo; • Um clima de trabalho estimulante, flexível e entrosado. Em síntese, é possível perceber que a inovação exige cooperação e colaboração, exige trabalho em equipe de alta qualidade, exige a criação de sinergias, isto é, de efeitos por meio dos quais, o produto total de uma equipe é maior do que os produtos combinados de cada um dos membros, trabalhando individualmente. Inovar ainda exige interatividade. Interatividade no sentido de entendermos que a inovação também está fortemente conectada ao entendimento das reais necessidades humanas. E para entender as necessidades humanas, as “dores”, os reais problemas que incomodam, são fundamentais os exercícios da observação e empatia. Onde observação, significa entender em profundidade o que as pessoas fazem e o que não fazem em suas realidades; enquanto empatia, significar ir além ao observar, colocando-se no lugar das pessoas, “calçando os sapatos do outro”. Literalmente, colocando-se no lugar das pessoas, buscando entender suas necessidades racionais e emocionais. Criando assim condições para traduzir observações em insights e insights em ideias, e ideias em inovações que possam contribuir para melhorar a vida das pessoas. Por exemplo, imagine que você é o Diretor de uma Escola de ensino fundamental ou ensino médio e que deseje e precise inovar, fazer diferente! Você pode estar diante de uma série de problemas, como a alta evasão escolar ou a baixa participação da comunidade na escola, ou alta violência no âmbito da escola, além do baixo desempenho e aprendizado dos alunos. E ainda em um contexto de escassez de recursos financeiros. Então, você poderá querer inovar no currículo, introduzindo novos conteúdos, você poderá querer inovar no processo de ensino, “na maneira de ensinar”. Você poderá ainda buscar formas novas para engajar e aproximar a comunidade da escola ou você poderá desejar inovar em relação ao espaço físico, mudando por completo o tradicional formato das salas de aula. Veja, muitas podem ser as possibilidades. Mas é preciso ter um foco definido, ou seja, um desafio claro. No caso da Escola poderia ser “a maneira de ensinar”. Com o foco identificado será a hora imergir, isto é, realizar uma imersão no entendimento do problema e na busca de soluções. Onde a imagem do mergulho é uma boa forma de percebermos o significado de imergirmos. Pois, assim como no mergulho, imergir, significa ir mais fundo. Significa buscarmos entender em profundidade e sob diferentes pontos de vista as realidades e as necessidades das pessoas. Nesta direção, será o momento de envolver as pessoas, aquelas que podem de fato contribuir para o entendimento da situação, para o aprofundamento sob diferentes perspectivas das realidades, práticas, comportamentos, satisfações e insatisfações das pessoas. Por exemplo, no caso da escola, poderiam ser envolvidos: professores, pais, equipes de apoio, alunos atuais, alunos já formados, professores de outras escolas, profissionais de outras áreas, como artistas infantis, profissionais de comunicação ou esportistas, envolvendo visões e experiências diferentes no exercício contínuo de participação. Inovar ainda exige que a organização queira mudar. Mas queremos Mudar? Há uma lei na Física, denominada como Lei ou Princípio da Inércia. Esta define que qualquer corpo permanece em repouso sem sofrer variação de velocidade, ou continua em movimento retilíneo uniforme, se sobre ele não atuar nenhuma força ou se a resultante das forças que atuam sobre esse corpo for nula. Complicado! Traduzindo, se este corpo está parado, irá permanecer parado. Na vida das organizações pode-se considerar que o princípio é aplicável. Ou seja, naturalmente as pessoas, em sua grande maioria, não querem e não gostam de mudar. Assim, é, de modo geral, mais confortável ficarmos onde estamos. Mudar dá trabalho! Cansa! Mudar cria conflitos e tensões. Queremos nos manter em nossa “zona de conforto” e preservar o Status Quo! No entanto, se fizermos apenas o que rendeu frutos no passado é bem provável que ficaremos lá no passado e com o mesmo aprendizado, ou seja, no mesmo lugar. Neste sentido, a aprendizagem e a inovação também estão interligadas. Pois, ao se depararem com seus desafios, problemas e questões, as organizações buscam soluções e aprendem ao longo do tempo, acumulando erros e acertos e os conhecimentos necessários à inovação. Todavia, é necessário que o conhecimento além de criado seja compartilhado entre os membros da organização. Assim, organizações que aprendem e inovam tendem a ser capacitadas a criar, a adquirir e a transferir conhecimentos e, ainda, a modificar seus comportamentos para refletir esses novos conhecimentos em novas soluções e melhores resultados. Em seu clássico livro a Quinta Disciplina, Peter Senge nos propõe cinco disciplinas essenciais ao fomento da aprendizagem organizacional: domínio pessoal, modelos mentais, visão compartilhada, aprendizagem em equipe e pensamento sistêmico. Domínio Pessoal A primeira disciplina de Senge relaciona-se à capacidade de autocontrole e autodisciplina para a aprendizagem pessoal. Neste contexto, a aprendizagem organizacional depende da aprendizagem de seus indivíduos. Modelos Mentais Mudanças e inovações não são empreendidas, diante dos modelos mentais presentes nas organizações. É preciso confrontar os modelos mentais vigentes, isto é, as crenças e atitudes arraigadas sobre a organização, seus processos e sua forma de atuar. É preciso aprender novas formas de enxergar e questionar a realidade, minimizando ou até mesmo eliminando os obstáculos para a realização da inovação. Visão Compartilhada O que se deseja para as organizações deve ser entendido e compartilhado entre seus membros. Os esforços e recursos devem estar em sintonia para criação de uma direção comum. Aprendizagem em Equipe O resultado da aprendizagem em equipe tende a ser mais efetivo do que a individualidade. A colaboração e os esforços cooperativos devem ocupar o espaço das competições pela busca de resultados individuais em detrimento dos resultados organizacionais. Pensamento Sistêmico Nesta quinta disciplina, é recomendável pensar sistemicamente. Não enxergar apenas as partes isoladas ou determinadas áreas ou processos da organização, esquecendo-se da importância do conjunto ou da relação entre as partes. Portanto, para permitir a aprendizagem organizacional e a inovação, um conjunto integrado de disciplinas pode favorecer o aprendizado, permitindo que as organizações promovam, quando necessário, a renovação de suas crenças e práticas. Poderíamos ainda acrescentar ao preconizado pelo autor o estímulo à paciência, à aceitação que os processos de inovação e aprendizado, demandam a aceitação da necessidade de “errar durante o processo”, enquanto as ideias inovadoras evoluem e tomam forma. Inovações como o Post-it, por exemplo, não foram sucessos obtidos da noite para o dia, mas levaram anos “cozinhando” antes de surgirem e serem tão comuns em nosso dia-a-dia. E neste contexto, a Administração que se mostra destrutivamente crítica, quando erros são cometidos, destrói a iniciativa e a criatividade. E é essencial que se tenha muitas pessoas com iniciativa e criatividade para que a organização aprenda e inove. Inovação – Colocar em Prática A inovação é um processo demudança! O primeiro passo é sem dúvida, entendermos que a inovação constitui- se como um processo de mudança e que mudar não é simplesmente um desejo. É necessário que tenhamos claramente definido a motivação, o porquê se deseja mudar, os motivos para esta ou aquela organização. Neste cenário, mudar para algumas organizações, pode ser o único caminho para a sobrevivência. Para outras, mudar e renovar, também pode ser necessário para um salto naquilo que realiza, para melhorias significativas no desempenho, ou para aprimorar o que já foi construído. Enfim, as motivações deverão ser robustas, pois é natural que as resistências sejam fortes. Partindo do princípio das dificuldades inseridas em um processo de mudança é preciso que a mudança tenha gestão. Isto é, a mudança também precisa ser administrada. A este processo denominamos gestão da mudança. Um dos mais renomados estudiosos sobre os processos de gestão de mudanças é John Kotter. O professor da renomada universidade de Harvard dedicou a maior parte de suas pesquisas à gestão das mudanças. Seu livro “Liderando Mudanças” foi publicado em 1996, e defende que as organizações, independentemente do seu tamanho, devem gerenciar seus processos de mudança, por meio de uma estrutura lógica, consciente e disciplinada da mudança. Em sua abordagem, são oferecidos passos essenciais para o gerenciamento da mudança, conforme destacado abaixo: Criar um senso de urgência Conforme ressalta Kotter, os problemas de hoje são intermináveis e esse senso de urgência é um despertar, idealmente por parte de todos na organização, para enxergar as oportunidades nos problemas. Esclarecer a visão da mudança É preciso haver clareza quanto à visão, que deve ser comunicada intensamente. Nos casos de maior sucesso, segundo Kotter, é sempre possível observar que há algo que faz sentido às pessoas e que está claro para elas aonde querem chegar e como pretendem fazê-lo. Comunicar-se para conquistar adesão Há uma quantidade enorme de formatos e meios de comunicação nos casos de sucesso, e o objetivo é que todos na organização digam: “Isso faz sentido”. Dar poder para as pessoas agirem É preciso liderar estando perto das pessoas, mas também é necessário sair da frente delas, dar-lhes espaço para a movimentação – é o chamado empowerment, ou seja, o empoderamento das pessoas envolvidas com a condução da mudança. Criar vitórias de curto prazo O descrédito para com a mudança sempre existirá. Para diminuir a tensão e conseguir manter o impulso da mudança, é preciso alcançar pequenos sucessos ao longo do caminho, aconselha o pesquisador. Ele ainda acrescenta que tais vitórias precisam ser reconhecidas e as pessoas, recompensadas. Persistir Não se pode esmorecer ao longo da trajetória de mudança. Afinal, é preciso passar por esses passos várias vezes, a fim de fortalecer a equipe e conquistar novas vitórias, até chegar à mudança esperada. Fazer a mudança perdurar Por fim, Kotter destaca que a tradição é uma força poderosa. Apenas ter algo novo funcionando, não significa que continuará assim, a menos que se encontre uma maneira de fixar esse novo, uma âncora, que leve a mudança a ser integrada à cultura da organização. Colocar a Inovação em Prática também significa dar vida às ideias Significa trabalharmos para diminuirmos as incertezas de um projeto, por exemplo, um projeto de educação como um novo currículo fora dos padrões vigentes, um novo processo de ensino-aprendizagem com intenso uso de novas tecnologias, um novo formato de sala de aula sem as tradicionais cadeiras, uma nova forma de aproximação e diálogo com os pais, dentre outras possibilidades, precisará ser testado. Significa irmos então para a realidade ao experimentarmos as ideias em seu mundo real, permitindo que as ideias se tornem tangíveis e que sejam testadas e aperfeiçoadas de forma antecipada. Significar irmos para a ação de forma preparada e testada, investigando antecipadamente determinadas questões e validando determinadas hipóteses. Em resumo, significa experimentarmos e ensaiarmos uma ideia de forma planejada e organizada. Em síntese, devemos buscar e implementar oportunidades de aprendizado, de obtermos respostas e feedback, entendendo que devemos tentar antecipar problemas, pois não temos uma obra acabada. Afinal estaremos experimentando, testando e aprendendo rumo à construção e ao refinamento de nossa ideia, de nossa possível solução. Em adição, não estaremos em busca da perfeição. Estaremos diante de uma oportunidade de aprendizado, onde quanto mais rápidos formos em testar, mais rápidos seremos em aprender. Portanto, ao implementarmos mudanças, novas ideias ou até inovações radicais a recomendação é que tenhamos consciência de que devemos colocar o imaginado em prática e percebermos que a aprendizagem continua, diante de uma obra inacabada. SAIBA MAIS! Leia também os artigos complementares sobre o tema, disponíveis em seu ambiente virtual de aprendizagem. Artigo: Gestão Escolar e Inovação Artigo: Inovação é o caminho para acelerar melhorias na Educação BIBLIOGRAFIA BÁSICA ARAUJO, Luis César G. de. Teoria Geral da Administração: aplicação e resultados nas empresas brasileiras. São Paulo: Atlas, 2004. CHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da Administração. 8. ed. São Paulo: Campus, 2011. CHIAVENATO, Idalberto. Princípios da Administração: o essencial em teoria geral da administração. Editora Manole, 2006. CHIAVENATO, Idalberto. Teoria Geral da Administração: uma visão abrangente e moderna da administração das organizações. Ed. Compacta. 3ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. DECENZO, David A.; ROBBINS, Stephen P. Fundamentos da Administração: conceitos essenciais e aplicações. 4. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2010. DRUCKER, Peter. Prática da administração de empresas. São Paulo: Thomson Learning, 1981. MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. MINTZBERG, Henry. Ascensão e queda do planejamento estratégico. Bookman Editora, 2004. MOTTA, Fernando C. Prestes; VASCONCELOS, Isabella F. Gouveia de. Teoria geral da administração. 3. ed. rev. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, Cengage Learning, 2006. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Teoria Geral da Administração: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2008. SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
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