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P á g i n a | 1 
 
UFRN . Profa. Renata Oliveira 
 
 
 
 
 
Material de apoio da disciplina Direito 
Médico: 
 
DIREITO À SAÚDE 
 
Profa. Dra. Renata Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
P á g i n a | 2 
 
UFRN . Profa. Renata Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANOTAÇÕES 
 
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
 
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
 
JURISPRUDÊNCIAS 
 
A. O serviço público de saúde é essencial, jamais pode se caracterizar como temporário, 
razão pela qual não assiste razão à administração estadual (...) ao contratar 
temporariamente servidores para exercer tais funções. [ADI 3.430, rel. min. Ricardo 
Lewandowski, j. 12-8-2009, P, DJE de 23-10-2009.] 
 
B. [...] o tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do 
Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo 
pode ser composto por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente.[RE 
855.178-ED, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 23-5-2019, P, DJE de 16-4-2020, Tema 
793.] 
 
C. O direito à saúde é prerrogativa constitucional indisponível, garantido mediante a 
implementação de políticas públicas, impondo ao Estado a obrigação de criar 
condições objetivas que possibilitem o efetivo acesso a tal serviço.[AI 734.487 AgR, 
rel. min. Ellen Gracie, j. 3-8-2010, 2ª T, DJE de 20-8-2010.] Vide RE 436.996 AgR, rel. 
min. Celso de Mello, j. 22-11-2005, 2ª T, DJ de 3-2-2006Vide RE 271.286 AgR, rel. min. 
Celso de Mello, j. 12-9-2000, 2ª T, DJ de 24-11-2000. 
 
D. O direito à saúde – além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas 
as pessoas – representa consequência constitucional indissociável do direito à vida. O 
poder público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da 
organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da 
saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave 
comportamento inconstitucional. A interpretação da norma programática não pode 
transformá-la em promessa constitucional inconsequente. O caráter programático da 
regra inscrita no art. 196 da Carta Política – que tem por destinatários todos os entes 
políticos que compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado 
brasileiro – não pode converter-se em promessa constitucional inconsequente, sob 
http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=604552&idDocumento=&codigoClasse=504&numero=3430&siglaRecurso=&classe=ADI
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752469853
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=752469853
http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=613652
http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=343060
http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=335538
P á g i n a | 5 
 
UFRN . Profa. Renata Oliveira 
pena de o poder público, fraudando justas expectativas nele depositadas pela 
coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável 
dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a 
própria Lei Fundamental do Estado. (...) O reconhecimento judicial da validade jurídica 
de programas de distribuição gratuita de medicamentos a pessoas carentes, inclusive 
àquelas portadoras do vírus HIV/aids, dá efetividade a preceitos fundamentais da 
Constituição da República (arts. 5º, caput, e 196) e representa, na concreção do seu 
alcance, um gesto reverente e solidário de apreço à vida e à saúde das pessoas, 
especialmente daquelas que nada têm e nada possuem, a não ser a consciência de sua 
própria humanidade e de sua essencial dignidade. Precedentes do STF. [RE 271.286 
AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 12-9-2000, 2ª T, DJ de 24-11-2000.]= STA 175 AgR, rel. 
min. Gilmar Mendes, j. 17-3-2010, P, DJE de 30-4-2010 Vide RE 668.722 AgR, rel. min. 
Dias Toffoli, j. 27-8-2013, 1ª T, DJE de 25-10-2013 Vide AI 734.487 AgR, rel. min. Ellen 
Gracie, j. 3-8-2010, 2ª T, DJE de 20-8-2010. 
 
E. Custeio, pelo Estado, de serviços hospitalares prestados por instituições privadas em 
benefício de pacientes do SUS atendidos pelo Samu [Serviço de Atendimento Móvel 
de Urgência] nos casos de urgência e de inexistência de leitos na rede pública. Dever 
estatal de assistência à saúde e de proteção à vida resultante de norma constitucional. 
Obrigação jurídico-constitucional que se impõe aos Estados. Configuração, no caso, de 
típica hipótese de omissão inconstitucional imputável ao Estado. Desrespeito à 
Constituição provocado por inércia estatal (...). Comportamento que transgride a 
autoridade da Lei Fundamental da República (...). O papel do Poder Judiciário na 
implementação de políticas públicas instituídas pela Constituição e não efetivadas 
pelo poder público. A fórmula da reserva do possível na perspectiva da teoria dos 
custosdos direitos. Impossibilidade de sua invocação para legitimar o injusto 
inadimplemento de deveres estatais de prestação constitucionalmente impostos ao 
poder público. A teoria da "restrição das restrições" (ou da "limitação das limitações"). 
Caráter cogente e vinculante das normas constitucionais, inclusive daquelas de 
conteúdo programático que veiculam diretrizes de políticas públicas, especialmente 
na área da saúde (CF, arts. 6º, 196 e 197). A questão das "escolhas trágicas". A 
colmatação de omissões inconstitucionais como necessidade institucional fundada em 
http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=271286&CLASSE=RE%2DAgR&cod_classe=539&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M&EMENTA=2013
http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=271286&CLASSE=RE%2DAgR&cod_classe=539&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M&EMENTA=2013
http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=610255
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=4758737
http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=613652
P á g i n a | 6 
 
UFRN . Profa. Renata Oliveira 
comportamento afirmativo dos juízes e tribunais e de que resulta uma positiva criação 
jurisprudencial do direito. Controle jurisdicional de legitimidade da omissão do poder 
público: atividade de fiscalização judicial que se justifica pela necessidade de 
observância de certos parâmetros constitucionais (proibição de retrocesso social, 
proteção ao mínimo existencial, vedação da proteção insuficiente e proibição de 
excesso).[ARE 727.864 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 4-11-2014, 2ª T, DJE de 13-11-
2014.] 
 
F. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais. A ausência 
de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como regra 
geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial. É possível, 
excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em 
caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto 
na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: (i) a existência de pedido de 
registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para 
doenças raras e ultrarraras);(ii) a existência de registro do medicamento em 
renomadas agências de regulação no exterior; e (iii) a inexistência de substituto 
terapêutico com registro no Brasil. As ações que demandem fornecimento de 
medicamentos sem registro na Anvisa deverão necessariamente ser propostas em 
face da União. [RE 657.718, rel. p/ o ac. min. Roberto Barroso, j. 22-5-2019, 
P, Informativo 941, Tema 500.] 
 
G. Incumbe ao Estado (gênero) proporcionar meios visando a alcançar a saúde, 
especialmente quando envolvida criança e adolescente. O SUS torna a 
responsabilidade linear alcançando a União, os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios. [RE 195.192, rel. min. Marco Aurélio, j. 22-2-2000, 2ª T, DJ de 31-3-2000.] 
 
 
H. Planos de saúde. Regência. Observância. Os planos de saúde submetem-se aos 
ditantes constitucionais, à legislação da época em que contratados e às clausulas deles 
constantes – considerações. [ADI 1.931, rel. min. Marco Aurélio, j. 7-2-2018, P, DJE de 
8-6-2018.] 
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=7218726
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4143144
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo941.htm
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo941.htm
http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=195192&CLASSE=RE&cod_classe=437&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14968742
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
 
I. Não fere o direito à saúde, tampouco a autonomia profissional do médico, o 
normativo que veda, no âmbito do SUS, a assistência diferenciada mediante 
pagamento ou que impõe necessidade de triagem dos pacientes em postos de saúde 
previamente à internação. [RE 581.488, rel. min. Dias Toffoli, j. 3-12-2015, P, DJE de 
8-4-2016, Tema 579.] Vide RE 226.835, rel. min. Ilmar Galvão, j. 14-12-1999, 1ª 
T, DJ de 10-3-2000 
 
J. Consolidou-se a jurisprudência desta Corte no sentido de que, embora o art. 196 da 
Constituição de 1988 traga norma de caráter programático, o Município não pode 
furtar-se do dever de propiciar os meios necessários ao gozo do direito à saúde por 
todos os cidadãos. Se uma pessoa necessita, para garantir o seu direito à saúde, de 
tratamento médico adequado, é dever solidário da União, do Estado e do Município 
providenciá-lo.[AI 550.530 AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 26-6-2012, 2ª T, DJE de 
16-8-2012.] 
 
K. Acórdão recorrido que permitiu a internação hospitalar na modalidade "diferença de 
classe", em razão das condições pessoais do doente, que necessitava de quarto 
privativo. Pagamento por ele da diferença de custo dos serviços. Resolução 283/1991 
do extinto Inamps [Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social]. O 
art. 196 da CF estabelece como dever do Estado a prestação de assistência à saúde e 
garante o acesso universal e igualitário do cidadão aos serviços e ações para sua 
promoção, proteção e recuperação. O direito à saúde, como está assegurado na Carta, 
não deve sofrer embaraços impostos por autoridades administrativas, no sentido de 
reduzi-lo ou de dificultar o acesso a ele. O acórdão recorrido, ao afastar a limitação da 
citada Resolução 283/1991 do Inamps, que veda a complementariedade a qualquer 
título, atentou para o objetivo maior do próprio Estado, ou seja, o de assistência à 
saúde. [RE 226.835, rel. min. Ilmar Galvão, j. 14-12-1999, 1ª T, DJ de 10-3-2000.] = RE 
207.970, rel. min. Moreira Alves, j. 22-8-2000, 1ª T, DJ de 15-9-2000 Vide RE 581.488, 
rel. min. Dias Toffoli, j. 3-12-2015, P, DJE de 8-4-2016, Tema 579. 
 
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10624184
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=251894
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=2555288
http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?PROCESSO=226835&CLASSE=RE&cod_classe=437&ORIGEM=IT&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M
http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=241389
http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=241389
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10624184
P á g i n a | 8 
 
UFRN . Profa. Renata Oliveira 
L. Planos de saúde. Regência. Observância. Os planos de saúde submetem-se aos 
ditantes constitucionais, à legislação da época em que contratados e às clausulas deles 
constantes – considerações. 
[ADI 1.931, rel. min. Marco Aurélio, j. 7-2-2018, P, DJE de 8-6-2018.]. 
 
M. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei ordinária 9.656/1998. (...) Prestação de 
serviço médico pela rede do SUS e instituições conveniadas, em virtude da 
impossibilidade de atendimento pela operadora de plano de saúde. Ressarcimento à 
administração pública mediante condições preestabelecidas em resoluções internas 
da Câmara de Saúde Complementar. Ofensa ao devido processo legal. Alegação 
improcedente. Norma programática pertinente à realização de políticas públicas. 
Conveniência da manutenção da vigência da norma impugnada. [ADI 1.931 MC, rel. 
min. Maurício Corrêa, j. 21-8-2003, P, DJ de 28-5-2004.] = RE 594.266 ED, rel. min. Dias 
Toffoli, j. 2-12-2010, 1ª T, DJE de 15-3-2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14968742
http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?id=347335&idDocumento=&codigoClasse=555&numero=1931&siglaRecurso=MC&classe=ADI
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=620580
P á g i n a | 9 
 
UFRN . Profa. Renata Oliveira 
 
 
ARTIGO 1 
 
Medicamentos de alto custo: reservado possível ou mínimo existencial? 
 Bianca Stephanie Souza Ragasini 
Migalhas 
 
Além do mínimo necessário à sobrevivência humana, também está o bem estar social e o 
Estado Democrático de Direito, os quais se interligam em questões de saúde pública. 
quinta-feira, 5 de março de 2020 
Inicialmente, antes mesmo de explicar o debate existente acerca destes dois princípios, faz-
se necessário o entendimento de cada um deles, para compreender sua relevância no 
direito administrativo (visto ser o medicamento requerido de responsabilidade pública), no 
direito constitucional (por ser a saúde um direito fundamental previsto 
constitucionalmente) e no direito tributário (uma vez que envolve questões orçamentárias). 
Reserva do possível 
Entende-se por reserva do possível, a limitação do Estado ao investir em condições sociais, 
como a saúde. Dentre os motivos para tanto, está a verba orçamentária, visto que, ao 
utilizar altos valores com um indivíduo, outros terão menos recursos, pois haverá 
desequilíbrio financeiro. Justamente por conta disto, deve-se observar três pontos em sua 
pretensão: a proporcionalidade, a razoabilidade e a disponibilidade financeira do Estado. 
Em dados recentes deste ano de 2020, do Portal da Transparência, da Controladoria Geral 
da União, o orçamento para a saúde é de 136,25 bilhões de reais, e o total de despesas 
executadas nesta mesma área é de 10,21 bilhões de reais. Estes valores são distribuídos 
para órgãos e entidades executadoras, bem como para fundos de saúde e associações. 
A questão é que, embora os valores empregados sejam altíssimos, a demanda é ainda 
maior. Provavelmente o valor supriria a maior parte da população ou quase todas as 
pessoas se não fosse preciso medicamentos de alto custo para parcela delas. Mas não é 
assim que funciona. Muitos necessitam de remédios específicos para se manterem vivos, 
motivo pelo qual os pleiteiam judicialmente. 
Embora o Estado tenha a obrigação de tratar da saúde pública, não é o valor integral de 
todos os tributos que é revertido para a mesma. Há também demais áreas que necessitam 
de investimentos, como a educação, a moradia, a cultura e etc., todos eles previstos no rol 
dos direitos fundamentais da Constituição Federal. 
https://migalhas.uol.com.br/autor/bianca-stephanie-souza-ragasini
P á g i n a | 10 
 
UFRN . Profa. Renata Oliveira 
Por conta disto, ao ultrapassar o valor reservado para a área da saúde, há risco de faltar 
verba pública nas demais áreas, pois os recursos financeiros por parte do Poder Público são 
escassos, e com isso, originam-se as escolhas trágicas. 
Contudo, sabe-se que uma vida humana importa, e importa muito. Justamente por isso, a 
Constituição a protege e trouxe o fundamento do mínimo existencial, conforme exposto a 
seguir. 
MÍNIMO EXISTENCIAL 
Compreende-se por mínimo existencial tudo aquilo que é necessário para uma vida digna, 
pois é observado o princípio da dignidade da pessoa humana. Há previsão constitucional a 
seu respeito, no artigo 1º, inciso III, da CRFB/88, conforme passa a expor: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos: 
(...) 
III - a dignidade da pessoa humana; (...) 
Portanto, ao se tratar de saúde pública, embora o Estado tenha que lidar com limites 
orçamentários, o indivíduo não pode deixar de ser amparado pelo Sistema Único de Saúde 
(SUS). 
O autor Clever Vasconcelos (2017) aponta que a dignidade da pessoa humana cuida do 
"conjunto de diversos direitos fundamentais indeterminados; por exemplo, o mínimo 
existencial e a proteção do Estado a sofrimentos evitáveis. Vale dizer que os direitos 
fundamentais são passíveis de renúncia desde que não se ofenda a dignidade dessa pessoa". 
(p. 72). 
Ainda, após mencionar o que se entende por este princípio tão importante no direito 
constitucional, o mencionado doutrinador faz uma ligação com os medicamentos de altos 
valores em um possível Mandado de Segurança, para pleitear tal direito líquido e certo. 
Vejamos: 
Na prática, podemos imaginar a seguinte situação: alguém impetra um Mandado de 
Segurança contra o Secretário de Saúde do Estado (ou ministro, ou do município - em 
questão de saúde são solidários), para liberar medicamentos caros. Usa-se este fundamento 
como comando-regra, pois pode ser aplicado de imediato. Conforme se verá adiante, como 
matéria de defesa o Estado usa a Teoria da Reserva do Possível - não é possível atender a 
todos; cabe ao Estado determinar o que é prioridade, onde utilizar o recurso. No caso em 
tela, podemos supor que com a verba de apenas um medicamento o Estado poderia 
empregar este dinheiro para comprar cinco mil xaropes para tuberculosos. Todavia, 
atendendo às condições casuísticas, geralmente o Judiciário concede ordem para o 
medicamento ser fornecido ao particular. A regra de legitimidade dos gastos públicos está 
ligada ao atendimento do bem-estar social. (VASCONCELOS, 2017, p. 72). 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
P á g i n a | 11 
 
UFRN . Profa. Renata Oliveira 
Pois bem. Pode-se observar que, além do mínimo necessário à sobrevivência humana, 
também está o bem estar social e o Estado Democrático de Direito, os quais se interligam 
em questões de saúde pública. Os tributos que pagamos são revertidos para diversas ações 
em prol da sociedade, e a saúde é uma delas. Assim, cabe ao poder público o amparo com 
quem necessita, seja de um xarope ou de um medicamento de valor exorbitante. 
O debate existente acerca destes dois princípios constitucionais 
O debate jurídico é justamente este: de um lado tem-se a limitação do Estado, e do outro, 
a dignidade da pessoa humana que necessita ser levada em consideração pelo Poder 
Público. 
E o que se faz, nestes casos então? Observa-se quais os medicamentos estão registrados na 
Anvisa e os fornece. 
Mas, e se o remédio não estiver registrado? Neste caso, o Supremo Tribunal Federal já 
entendeu o que se deve fazer, conforme decisão abaixo. 
DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) 
No mês de maio do ano de 2019, o Supremo entendeu que o Estado não é obrigado a 
fornecer medicamento experimental ou sem registro da Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária (Anvisa), salvo em casos excepcionais. Assim, conforme o STF, a decisão foi 
tomada, por maioria de votos, no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 657718, com 
repercussão geral reconhecida, de relatoria do ministro Marco Aurélio. 
A tese firmada pelo Plenário, por maioria dos votos, para efeito de repercussão geral, foi no 
seguinte sentido: 
1) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais. 
2) A ausência de registro na Anvisa impede, como regra geral, o fornecimento de 
medicamento por decisão judicial. 
3) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro 
sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao 
previsto na lei 13.411/16), quando preenchidos três requisitos: 
I - a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil, salvo no caso de 
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras; 
II - a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no 
exterior; 
III - a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 
4) As ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa 
deverão ser necessariamente propostas em face da União. 
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4143144
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13411.htm
P á g i n a | 12 
 
UFRN . Profa. Renata Oliveira 
Logo, pode-se perceber que não se trata de uma negação absoluta por parte do Poder 
Público em fornecer os referidos medicamentos, pois cabe exceção aplicável em casos 
excepcionais: de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido. Portanto, a não 
obrigatoriedadedo Estado em seu fornecimento é regra, sendo a mora irrazoável, exceção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ARTIGO 2 
 
Direito à saúde deve ser visto em face do princípio da reserva do possível 
Por Ana Franco do Nascimento 
12 de fevereiro de 2017, 10h44 – ConJur. 
 
A saúde está positivada na Constituição como um direito de todos e um dever do Estado, que 
deve ser garantido por meio de políticas sociais e econômicas que objetivem a redução do 
risco de doença e de outros problemas, bem como proporcionem o acesso universal e 
igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação. 
A Constituição protege a prevenção e o tratamento de doenças, por meio de medidas que 
assegurem a integridade física e psíquica do ser humano. Ocorre que todas as receitas e 
despesas do Estado estão limitadas pela legislação, de modo que o Estado não pode realizar, 
por si, investimentos para os quais não haja recursos suficientes. 
Desse modo, o direito à saúde, em que pese consubstanciar uma norma constitucional de 
caráter programático, encontra óbice na escassez de recursos e na seleção de prioridades do 
administrador público. 
1. Direito à saúde na Constituição 
A saúde, segundo a Constituição, é “direito de todos e dever do estado”, sendo um direito 
social fundamental, previsto também na ordem internacional. A Constituição brasileira 
apresenta diversos dispositivos que tratam expressamente desse direito, reservando ainda 
uma seção específica sobre o tema dentro do capítulo destinado à Seguridade Social. 
Em seu artigo 6º, prevê a saúde como um direito social. No artigo 7º há dois incisos tratando 
da saúde: o IV, que determina que o salário-mínimo deverá ser capaz de atender as 
necessidades vitais básica do trabalhador e sua família, inclusive a saúde, e o XXII, que 
determina a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene 
e segurança. Os artigos 23, e 24, inciso XII tratam da competência comum e concorrente que 
a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios possuem de assegurar a prestação à 
saúde e legislar sobre a defesa da mesma. 
Diversos outros dispositivos tratam da saúde, como o artigo 34, inciso VII, alínea “e” e 35, 
inciso III que possibilitam a intervenção da União nos estados e municípios quando não for 
aplicado o mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a 
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e 
serviços públicos de saúde. O artigo 196 considerou a saúde como direito de todos e dever 
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco 
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação. 
O direito à saúde, portanto, é inerente ao direito à vida e abrange a saúde física e mental, 
devendo ser proporcionado por meio de políticas de tratamento e de prevenção, assistência 
https://www.conjur.com.br/2017-fev-12/ana-franco-direito-saude-visto-face-reserva-possivel#author
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médica, psicológica e jurídica por todos os entes da federação, para que haja efetividade na 
garantia do referido direito a todos e que seja observado o princípio da igualdade material, 
que considera cada caso concreto, bem como que seja garantido o mínimo existencial, que 
será mais a frente explicitado, e a dignidade da pessoa humana. 
1.1. Da prestação do direito fundamental à saúde pela seguridade social 
A Lei 8.090/1990 dispõe sobre as condições e o funcionamento dos serviços de saúde, de 
maneira que o Sistema Único de Saúde presta-se a promover a saúde, priorizando as ações 
preventivas, nos moldes da Carta de 1988, bem como informando à população acerca de seus 
direitos e dos riscos à saúde. 
Muitas vezes, a prestação do direito à saúde encontra óbices, principalmente quanto ao fator 
financeiro, tendo em vista que nem sempre o Estado pode cumprir seus deveres, o que faz 
com que a demanda para o Poder Judiciário aumente, objetivando que o mesmo obrigue o 
Poder Público a fornecer medicamentos ou tratamentos que ultrapassam os limites da Lei 
Orçamentária, a fim de prestigiar o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. 
Para toda prestação, deve-se ter em conta os princípios da razoabilidade e da 
proporcionalidade, pois muitas vezes, para cada medicamento de alto custo que a justiça 
concede a apenas uma pessoa, milhares de outras ficam prejudicadas. 
Diante das situações, surge a necessidade de fazer escolhas, tendo em vista que o princípio 
da reserva do possível, pautado na necessidade-possibilidade, deve ser levado em conta. 
Desse modo, embora o direito à saúde seja um dever do Estado, tendo o artigo 196 da 
Constituição Federal caráter programático, não se pode aplicá-lo indistintamente em todas 
as situações, pois o Poder Público encontra-se amparado por limites orçamentários, e a 
população necessita de demais direitos além da saúde, como educação, segurança, 
alimentação, transporte, lazer, dentre outros. 
Assim, é inviável assegurar indistintamente os direitos fundamentais, mormente no que se 
refere a tratamentos de custo altíssimo e sem perspectiva de efetividade. Viável será se no 
caso concreto estiverem presentes os três elementos: distributividade dos recursos, o 
número de cidadãos atingidos e a efetividade do serviço, observando, desse modo, o princípio 
da reserva do possível. 
2. Do princípio da reserva do possível 
O princípio da reserva do possível consubstancia aquele em que o Estado, para a prestação 
de políticas públicas – que incluem os direitos sociais e prestacionais – deve observar, em 
cada caso concreto, os três elementos ditos acima: a necessidade, a distributividade dos 
recursos e a eficácia do serviço. Conforme será visto, o Poder Público encontra-se limitado 
economicamente, não tendo condições de atender toda a população indistintamente. 
Assim, havendo tais requisitos o serviço a ser prestado estará em conformidade com a reserva 
do possível. Consequentemente, incumbirá ao Poder Público prestar o serviço 
adequadamente, fazendo jus ao princípio da dignidade da pessoa humana. 
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Para tanto, deve-se sempre observar as peculiaridades de cada caso concreto, pois como o 
Poder Público não possui recursos financeiros suficientes para o atendimento de todas as 
demandas, deve-se fazer escolhas entre os casos mais necessários. (LIMA, 2008, p. 319-323) 
2.1. A garantia da saúde e a limitação orçamentária 
O direito à saúde deve ter acesso universal e igualitário às ações e aos serviços necessários 
para sua promoção, proteção, bem como recuperação. Vale ressaltar que a observância 
desses princípios deve ser encarada com ligação aos limites orçamentários do Estado. 
A Lei 4.320/1964, que trata das normas gerais de direito financeiro dispõe que haverá 
subvenções sociais para a garantia de serviços essenciais de assistência médica, social e 
educacional, nos limites das possibilidades financeiras, sempre que os recursos privados 
aplicados a esses objetivos revelarem-se mais econômicos para o Poder Público. 
A Lei Orgânica da Saúde – 8080/1990 – dispõe, em seu artigo 2º, caput, que a saúde é direito 
de todos, devendo ser provida pelo Estado, responsável por garanti-la por meio de políticas 
econômicas e sociais que visem à prevenção e à redução de riscos de doenças e outros 
agravos. Dispõe ainda, nos parágrafos deste artigo, que há fatores determinantes e 
condicionantes da saúde, como a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o 
trabalho, a educação, o transporte, dentre outros. 
Assim, no planejamento orçamentário, há verbas destinadas à saúde, tanto na modalidade 
assistencial, quanto preventiva, de maneira que a União, os estados, o Distrito Federal e os 
municípiostêm o dever de garantir o direito à saúde, por meio do SUS, dentro, é claro, dos 
parâmetros orçamentários estabelecidos em lei, podendo, excepcionalmente, haver verbas 
suplementares, desde que, para tanto, haja autorização legislativa. A responsabilidade, 
portanto, é solidária ante os entes da federação (IBRAHIN, 2012 p. 3-4). 
Em alguns casos, entretanto, a garantia do direito a saúde parece ser inviável, tendo em vista 
que o Poder Público não possui recursos suficientes para atender a todas as demandas, 
mormente as de altíssimo custo. Diante disso, é preciso invocar o princípio da reserva do 
possível, dentro, é claro, dos parâmetros de razoabilidade e proporcionalidade. 
2.3. O mínimo existencial e a reserva do possível 
O princípio da reserva do possível, apesar de ser de fundamental importância, não deve ser 
banalizado, justamente para que não aumente as desigualdades já existentes, garantindo 
alguns direitos e restringindo outros. 
Assim, para a prestação do direito social, deve-se levar em consideração, além da 
disponibilidade financeira do Estado e do possível beneficiário do serviço, a importância do 
direito a ser garantido, para que sejam salvaguardados os direitos a quem mais necessita, 
considerando, para tanto, o mínimo existencial, devendo, eventual impacto trazido pela 
reserva do possível ser reduzido pelo controle das decisões políticas, quanto à alocação de 
recursos, e à transparência das decisões, viabilizando o controle social sobre a aplicação dos 
recursos alocados no âmbito do processo político. 
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Há de se observar que o "mínimo existencial" depende da avaliação do binômio necessidade-
capacidade, tanto do Estado, quanto da pessoa. Com efeito, deve-se ter em mente a ideia de 
que a reserva do possível não consiste em uma limitação à atuação do Estado na prestação 
dos direitos sociais, mas na obrigação do Poder Público reservar o total de recursos 
disponíveis para a gestão e execução das políticas públicas ligadas a tais direitos prestacionais. 
Diante disso, deve ser levada em conta a reserva do possível, mas sempre preservando o 
mínimo existencial, ou seja, as condições básicas para a sobrevivência humana. 
2.4. Necessidade de se fazer escolhas 
Inicialmente, deve-se compreender que os direitos fundamentais não são absolutos e podem 
ser essencialmente conflitantes. Para tanto, deve ser aplicado o princípio da 
proporcionalidade e da razoabilidade na resolução de questões desse tipo, como um meio de 
impedir ou reprimir violações a direitos fundamentais. 
A Constituição Federal estabelece alguns princípios a serem observados na prestação do 
direito à saúde. Os principais são da universalidade, da integralidade e da equidade. 
O legislador, como foi visto, teve a cautela de planejar todas as despesas a serem realizadas 
pelo Poder Público, mas tal ato, como dito no decorrer deste trabalho, não pode levar ao 
pensamento equivocado de que a previsão orçamentária limita a atuação do Estado na 
efetivação dos direitos sociais e fundamentais. 
Assim, as prioridades devem ser levadas em conta para que seja preservado o “mínimo 
existencial”. Para tanto, deve ser feita uma ponderação de valores, a fim de que os direitos 
mais fundamentais sejam efetivados. Daí surge a necessidade de se fazer escolhas entre os 
casos mais necessários. 
Conclusão 
Pode-se concluir do presente trabalho que a saúde, sendo um direito fundamental social 
inerente à vida, deve ser assegurada pelo Poder Público, conforme disposto no artigo 196 da 
Constituição. 
Tal artigo, embora seja uma norma de caráter programático, a qual trata de diretrizes e 
projetos futuros do poder executivo para ver assegurada a intenção do legislador, não deve 
ser interpretado como uma mera promessa, pois a saúde, como dito, é um direito 
fundamental, tendo aplicação imediata. 
Para assegurar a saúde, o Poder Público criou o Sistema único de Saúde— SUS, por meio das 
Leis 8.080/1990 e 8.142/1990, que tem o objetivo de melhorar o acesso à saúde, por meio da 
criação de uma política descentralizada e solidária, ou seja, cabe à União, em conjunto com 
os estados e municípios, assegurar a prestação do direito à saúde, bem como disponibilizar 
hospitais e postos de saúde e outros meios que facilitem o atendimento da população, 
priorizando as ações preventivas, nos moldes da Carta de 1988, bem como informando à 
população acerca de seus direitos e dos riscos à saúde. 
Diante da limitação de recursos do Estado, aliada à escassez dos mesmos, o Estado deve 
obedecer ao princípio da reserva do possível, segundo o qual o Poder Público atua balizado 
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por cada caso, levando em consideração a concreta necessidade do cidadão, a 
distributividade dos recursos e a efetividade do serviço, para que seja assegurado o direito 
pretendido, observando, ainda, o mínimo existencial, ou seja, as mínimas e dignas condições 
necessárias de sobrevivência, considerando a necessidade do cidadão e as possibilidades do 
Estado. 
Assim, se o Estado observar, no caso concreto, que há necessidade, recursos disponíveis e 
que o serviço tem possibilidade de efetividade, deve assegurar o direito, para fazer jus ao 
princípio da dignidade da pessoa humana e da igualdade material, pois deve se ater às 
prioridades, levando em conta a necessidade da coletividade. 
Referências bibliográficas 
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. 2 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2008. 
APPIO, Eduardo. Controle Judicial das Políticas Públicas no Brasil. 1 ed. Curitiba: Juruá, 
2005. 
BARROS, Marcus Aurélio de Freitas. Controle Jurisdicional de Políticas Públicas. 1 ed. Porto 
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2008. 
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva. 
BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: 
Senado, 1988. 
FIGUEIREDO, Mariana 
Filchtiner. Direito Fundamental à Saúde: Parâmetros para sua eficácia e efetividade. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 17 ed. Rio de Janeiro: Editora 
Ferreira, 2012. 
LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 
LIMA, GEORGE MARMELSTEIN, Curso de Direitos Fundamentais. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2009. 
MORAES, Alexandre 
de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a 5º da Constit
uição da República Federativa do Brasil,doutrina e jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Atlas, 
2003. 
OLSEN, Ana Carolina 
Lopes. Direitos Fundamentais Sociais: efetividade frente à reserva do possível. 1 ed. 
Curitiba: Juruá, 2011. 
SCAFF, Fernando Facury. Reserva do Possível, Mínimo Existencial e Direitos Humanos. 1 ed. 
Porto Alegre: Notadez, 2005. 
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 32 ed. São Paulo: Malheiros, 
2009. 
TSUTYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 3 ed. São Paulo, Saraiva, 
2008. 
 
 
 
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ARTIGO 3 
 
Reserva do possível não é somente cálculo matemático 
Por Salomão Ismail Filho 
3 de outubro de 2016, 10h59 – ConJur. 
A tese da “reserva do possível” tem origem na doutrina alemã, que desenvolveu uma teoria 
segundo a qual o Estado-Administração apenas poderia realizar os direitos fundamentais que 
exigissem prestações materiais conforme a disponibilidade existente no seu caixa, ou seja, se 
houvesse disponibilidade orçamentária para concretizar o direito em discussão. 
Em princípio, trata-se de uma conclusão lógica e justa, pois não se podem exigir prestações 
materiais de quem não tem condições financeiras de supri-las ou executá-las. 
A reserva do possível, destarte, apresenta-se como um corolário da visão germânica a 
respeito dos direitos sociais, os quais, segundo parcela importante da sua doutrina, não 
deveriam sequer estar previstos de forma expressa no texto constitucional,pois, correm o 
risco de se transformarem em meras promessas frustradas, bastando que Constituição 
apenas faça menção à fórmula do Estado de Direito Social, pois, de resto, deverá sempre o 
Executivo estar vinculado e respeitar os direitos fundamentais do cidadão (Hesse, 1998, p. 
170-173). 
Importante lembrar, porém, que Holmes e Sunstein, ao tratarem dos direitos fundamentais 
nos Estados Unidos da América, demonstram que não apenas os ditos direitos sociais, mas 
também os direitos de liberdade podem gerar custos para o Estado, pois estes têm corolários 
que não se limitam apenas à abstenção das autoridades públicas (Holmes; Sunstein, 1999, p. 
35-36). 
A bem de uma boa Administração Pública, voltada para a concretização das metas e objetivos 
constitucionais, máxime em uma realidade onde exista desrespeito continuado a tais valores 
(como em alguns setores da gestão pública brasileira e latino-americana), o princípio da 
reserva do possível há de ser interpretado da seguinte forma: os orçamentos dos 
organismos/entidades estatais, responsáveis pela promoção dos direitos fundamentais, 
devem ser elaborados com a finalidade de garantir sempre um percentual que assegure a 
realização dos direitos fundamentais aos quais estejam constitucional ou legalmente 
vinculados. 
Afinal, o princípio da reserva do possível não pode servir de justificativa ou desculpa para o 
mau gestor público justificar a sua inércia na promoção dos direitos fundamentais em sua 
perspectiva social. 
Até porque, os direitos sociais nada mais são do que a formalização de relações jurídicas 
fundamentais para que o indivíduo possa afirmar-se como pessoa humana perante si mesmo 
e perante a comunidade onde se encontra inserido. Por isso, os direitos fundamentais sociais 
independem do seu reconhecimento pelo Estado, pois são a formalização jurídica de algo que 
é inerente à dignidade humana (Longo, 2012, p. 44-48). 
https://www.conjur.com.br/2016-out-03/mp-debate-reserva-possivel-nao-somente-calculo-matematico#author
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Por conseguinte, há de ser feita uma análise pontual do orçamento; ou seja, deve-se inquirir, 
se, no direito fundamental com projeção social em discussão (educação, saneamento, saúde, 
desporto, alimentação etc.), foi investido tudo o que era possível, pelo governante, à luz da 
arrecadação financeira da entidade pública em questão. 
A propósito, a ONU, através da sua Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico, 
caracteriza como eficaz e eficiente (atributos da boa governança) aquele gestor público que 
consegue utilizar o máximo dos recursos materiais que tem disponíveis para atender às 
necessidades da população. 
Indispensável, assim, que o orçamento da entidade pública destine a verba possível e 
necessária para a efetivação dos direitos fundamentais, aos quais esteja juridicamente 
vinculada. 
Nesse sentido, deverá ser feita uma análise específica no orçamento, ou seja, em cada rubrica 
da norma orçamentária, com a finalidade de comprovar se houve ou não um excesso de gasto 
público em determinas rubricas, como a construção de prédios públicos; a compra/aluguel 
de carros oficiais; a publicidade institucional, dentre outras, em detrimento do investimento 
em áreas sociais prioritárias, como alimentação, educação e saúde. 
Portanto, pertinente a crítica de Andreas Krell, segundo o qual é preciso cautela na adaptação 
de teorias estrangeiras ao ordenamento jurídico brasileiro. Afinal, a realidade europeia seria 
bem diferente da brasileira, com relação à carência de determinados direitos sociais. Lembra, 
a propósito, que a “reserva do possível” poderia sempre ser invocada pelo Executivo, sob o 
argumento de falta de verba pública para investir em determinada área social, o que reduziria 
a zero a eficácia dos direitos fundamentais sociais (Krell, 2002, p. 51-52). 
O Supremo Tribunal Federal, nos autos do RE 410.715-AgR/SP, em decisão de 22 de novembro 
de 2005, através de voto do ministro Celso de Mello, reconheceu que o princípio da reserva 
do possível não poderá ser invocado para inviabilizar o estabelecimento e a preservação, em 
favor dos cidadãos, de condições materiais mínimas de existência. 
Por isso, a importância do bom senso e de uma certa flexibilidade, quando da interpretação 
de normas de direitos fundamentais, como ensina Robert Alexy, ao dispor sobre uma "reserva 
do possível no sentido daquilo que o indivíduo pode requerer de modo razoável da 
sociedade". Para o referido autor, os direitos sociais não seriam meras proposições 
programáticas, mas sim normas dotadas de eficácia, as quais, dentro de uma lógica razoável, 
poderão ser exigíveis, sem que se imponha o impossível aos decisores políticos (Alexy, 2011, 
p. 64-69). 
Ou seja, não se trata apenas de uma questão de recorrer ao orçamento e matematicamente 
verificar se é possível ou não atender ao pleito de um determinado direito fundamental. 
A exigibilidade do direito social, em determinado caso concreto, dependerá da 
fundamentação apresentada pela parte requerente; das justificativas invocadas pelo gestor 
público, à luz do orçamento disponível para materializar o direito humano em discussão, e da 
forma como gerencia (ou gerenciou) toda a verba pública à sua disposição. 
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Referências 
ALEXY, Robert. Direitos fundamentais, ponderação e racionalidade. Tradução de Luís Afonso 
Heck. Teoria Geral dos Direitos Humanos, vol. 1. In: PIOVESAN, Flávia; GARCIA, Maria (Orgs.). 
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 915-927. 
HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da República Federal da 
Alemanha. Tradução de Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998. 
HOLMES, Stephen; SUNSTEIN, Cass R. The cost of rights: why liberty depends on taxes. New 
York: Norton Paperback, 1999. 
KRELL, Andreas J. Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha: os (des) 
caminhos de um direito constitucional “comparado”. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris 
Editor, 2002. 
LONGO, Erik. Le relazioni giuridiche nel sistema dei diritti sociali: profili teorici e prassi 
costituzionali. Milano: Casa Editrice Dott. Antonio Milani, 2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ARTIGO 4 
 
ADI 5595 define financiamento dos direitos fundamentais nos 32 
anos da CF 
Por Por Élida Graziane Pinto 
5 de outubro de 2020, 9h13 – ConJur. 
 
Esta segunda-feira (5/10) é aniversário de 32 anos da nossa Constituição Cidadã. Em meio ao 
debate sobre o teto dado pela Emenda 95/2016, nenhuma agenda é mais nuclear para o 
alcance da pretensão constitucional de máxima eficácia dos direitos fundamentais do que o 
desafio de como custear adequada e suficientemente tais direitos por dentro do ciclo 
orçamentário. 
A existência de regras constitucionais que vinculam receitas e impõem dever 
de gasto mínimo em prol de determinados direitos sociais revela prioridades 
orçamentárias de alto significado civilizatório. Quão maior a escassez de 
recursos, maior deve ser a proteção constitucional em defesa, por exemplo, da 
saúde e da educação em seus respectivos pisos. 
Tamanha é a relevância prática das garantias constitucionais de financiamento 
adequado para os direitos fundamentais que suas tentativas de desconstrução 
têm sido, cada vez mais, levadas ao filtro da nossa Corte Suprema. 
Eis o contexto em que se dará a retomada do julgamento da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade 5.595 pelo Supremo Tribunal Federal, pautada para esta 
quarta-feira (7/10). Seu objeto é o exame da constitucionalidade dos artigos 2º 
e 3º da Emenda Constitucional nº 86/2015, nas quais houve imposição de 
restrição orçamentário-financeira à fruição do direito fundamental à saúde, 
decorrente de alteração regressiva do piso federal em ações e serviços públicos 
de saúde. 
Na prática, trata-se do principal debate constitucionalsobre o arranjo 
federativamente equilibrado (ou não) de financiamento do Sistema Único de 
Saúde (SUS). Ao nosso sentir, diante dos efeitos prolongados da pandemia da 
Covid-19 e da perspectiva de retomada do teto dado pela Emenda 95/2016 em 
relação ao orçamento de 2021, a procedência da ADI 5.595 se torna 
absolutamente premente tamanha a sua repercussão paradigmática para o 
custeio constitucionalmente adequado do SUS ao longo do tempo. 
https://www.conjur.com.br/2020-out-05/elida-pinto-financiamento-direitos-fundamentais-32-anos-cf#author
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O que está essencialmente em debate é o o alcance do princípio da vedação de retrocesso e 
também do princípio da vedação de proteção insuficiente diante de alterações 
constitucionais que afetam, por via oblíqua, direitos e garantias fundamentais, mediante 
imposição de restrição orçamentária para sua fruição. 
Cabe à Suprema Corte brasileira avaliar se o núcleo pétreo da Constituição de 1988 (artigo 
60, §4º, IV) pode conviver com emenda constitucional que afete a garantia fundamental de 
financiamento suficiente e progressivo, sobretudo, impondo restrições fiscais que 
constranjam os pisos de custeio em saúde e educação a que se referem os artigos 198 e 212 
da CF. 
Desde a propositura da ADI 5.595, há quatro anos, passamos do risco potencial de colapso do 
SUS pelo agravamento do estrutural subfinanciamento para o quadro atual de iminência de 
uma catástrofe humanitária sem precedentes em relação à Covid-19. 
A bem da verdade, o severo risco de insuficiência de atendimento à população brasileira no 
âmbito do SUS de gigantescas proporções não decorre apenas na pandemia da Covid-19. A 
fragilização da capacidade operacional do nosso sistema público de saúde tem ocorrido 
paulatinamente, como comprova notícia [1] de que, entre 2009 e 2020, foram extintos cerca 
de 34,5 mil leitos de internação no Brasil. 
No contexto da pandemia, a crise do SUS emerge como realidade ainda mais dramática, haja 
vista o fato de que acumulamos mais de 145 mil mortes em apenas nove meses de 
calamidade. A conhecida judicialização da saúde é apenas uma limitada e parcial resposta ao 
fato de que sucessivas restrições interpretativas, emendas constitucionais e operações 
contábeis, historicamente, causaram — direta ou indiretamente — retrocesso ao direito à 
saúde ao mitigarem suas garantias de financiamento e de arranjo federativo-orgânico no 
âmbito do SUS. 
O que se almeja, com a declaração de inconstitucionalidade do artigo 3º da Emenda 86/2015 
pela ADI 5.595, é garantir a alocação do maior volume possível de recursos para o SUS, 
sobretudo, buscando os que se encontrem, porventura, disponíveis no Fundo Social do Pré-
Sal para as ações e serviços públicos de saúde. 
Por outro lado, em relação ao artigo 2º da EC 86/2015, são inegáveis os efeitos prospectivos 
da ADI 5.595, especialmente diante da promulgação da EC 95/2016. Não se trata de debater 
o artigo 2º da Emenda 86/2015 de forma estática, mas é preciso reconhecer os efeitos 
dinâmicos trazidos pela série de atos e omissões do Executivo federal, desde a revogação 
daquele dispositivo pelo artigo 3º da Emenda 95/2016, enquanto já estava em debate no STF 
a ADI 5595. 
Desse modo, o Supremo Tribunal Federal é chamado a debater não só a fotografia dos artigos 
2º e 3º da Emenda 86/2015, mas primordialmente precisa refletir sobre o filme das suas 
implicações trazidas intertemporalmente ao piso federal em saúde pela Emenda 86/2015 em 
face da Emenda 95/2016. 
https://www.conjur.com.br/2020-out-05/elida-pinto-financiamento-direitos-fundamentais-32-anos-cf#_ftn1
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Dito de outra forma: o filme que o STF precisa julgar diz respeito ao déficit de aplicação no 
piso federal em saúde de 2016 (dada a suspensão cautelar dos artigos 2º e 3º da EC 86/2015), 
que obrigaria a União ao dever de compensação em 2017 (ainda não cumprido plenamente) 
e que, por sua vez, ampliaria necessariamente a base de cálculo de 2018 a 2036, para o piso 
federal em saúde, o qual passou a ser meramente corrigido pela inflação, segundo a previsão 
do artigo 110 do ADCT. 
Tecnicamente, se o mérito da ADI 5.595 for julgado procedente, haverá alteração do valor 
nominal do piso federal em saúde de 2016 até 2036, sobretudo para fins de fixação da base 
de cálculo de 2017 (se inclui, ou não, a necessária compensação do déficit de aplicação 
verificado em 2016) para fins de aplicação, a partir de 2018, da correspondente correção 
monetária até 2036, na forma do artigo 110, II, do ADCT. 
Importante apontar que, em 2016, a União aplicou na política pública de saúde menos de 15% 
da sua receita corrente líquida, invocando e fiando-se na "validade" prospectiva (?) do subpiso 
de 13,2% dado pelo artigo 2º da EC 86/2015, mesmo após a sua revogação expressa e 
imediata operada pelo artigo 3º da Emenda 95/2016. 
É o que se verifica a partir da publicação do seu Relatório Resumido de Execução 
Orçamentária relativo ao sexto bimestre de 2016, de onde se extraiu o seguinte excerto da 
sua tabela 12 (publicada em atendimento ao artigo 35 da LC 141/2012): 
 
Fonte: Excerto do "Anexo 12 — Demonstrativo das Despesas com Ações e Serviços Públicos 
de Saúde" do Relatório Resumido de Execução Orçamentária do Governo Federal do 6º 
bimestre de 2016, cujo inteiro teor se encontra disponível 
em http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/352657/RROdez2016.pdf/19a25
934-21d9-4e40-9304-a488555c8dbf 
 
Como se extrai dos dados acima, para cumprir o piso federal em saúde de 15% da receita 
corrente líquida no exercício financeiro de 2016, a União deveria ter aplicado, no mínimo, R$ 
108,371 bilhões, ao invés de R$ 106,236 bilhões, de modo que seu patamar de aplicação em 
ASPS ficou aquém do exigido constitucionalmente. Isso sem falar aqui do dever de 
compensação dos restos a pagar que tenham sido computados em anos anteriores no piso 
federal em saúde e que, em 2016, foram cancelados. 
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/352657/RROdez2016.pdf/19a25934-21d9-4e40-9304-a488555c8dbf
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/352657/RROdez2016.pdf/19a25934-21d9-4e40-9304-a488555c8dbf
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
Esse dado concreto já demonstra a necessidade da declaração de inconstitucionalidade dos 
artigos 2º e 3º da EC 86/2015, mesmo após a revogação do artigo 2º trazida no bojo da EC 
95/2016, sobretudo diante do dever imediato de compensação a que se refere o artigo 25 da 
LC 141/2012 no exercício financeiro imediatamente posterior. 
Não há perda de objeto diante dos efeitos prospectivos até 2036 para o piso federal em 
saúde, porque, na prática, a decisão cautelar do ministro Ricardo Lewandowski na ADI 5.595 
impôs o dever de a União aumentar seu piso em saúde de 2017, a pretexto de medida 
compensatória do déficit declarado inconstitucional de 2016 (piso de 13,2% em face do dever 
de aplicação de 15% da RCL federal). Com o acréscimo da medida compensatória e por 
consequência da base de cálculo do artigo 110, II do ADCT, haveria efeito de majoração 
acumulativa do patamar federal de gasto mínimo em saúde (a ser corrigido pela inflação de 
2018 a 2036), a partir do que efetivamente deveria ter sido aplicado em 2017. 
Ora, o exame de mérito da ADI 5.595 incide não só sobre o piso federal em saúde de 2016, 
como também repercute para a medida compensatória que deveria ter ocorrido em 2017 e 
para a correspondente ampliação da base de cálculo do gasto federal em saúde dado pelo 
artigo 110 do ADCT, a ser corrigido pela inflação de 2018 até 2036. 
Como já dito, a decisão do STF na ADI 5.595 pode determinar à União que seja considerado 
como piso federal em saúde o patamar de 15% da RCL no exercício de 2016, ao invés dos 
13,2%. Tal interpretação necessariamente implicará efeitos prospectivos, do ponto de vista 
de medida compensatória e base de cálculo do custeio federal para o SUS, relativamenteaos 
exercícios de 2017 e seguintes (até 2036). Trata-se do dever de compensação do déficit no 
piso em saúde, na forma do artigo 25 da LC 141/2012, o que, por óbvio, seria incorporado 
adicionalmente à base de cálculo de 2017, para a incidência do piso congelado em saúde a 
partir de 2018 e até 2036, que a Emenda 95/2016 inseriu no ADCT, na forma do seu artigo 
110, inciso II. 
Em meio à pandemia da Covid-19, cabe ao Supremo Tribunal Federal enfrentar 
estruturalmente o subfinanciamento federal do Sistema Único de Saúde, confirmando a 
cautelar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski e julgando procedente a ADI 5.595. A 
bem da verdade, os artigos 2º e 3º da Emenda 86/2015 revelam uma faceta perversa 
do subfinanciamento da política pública de saúde brasileira que tem se agravado ao longo 
dos anos, com o risco de descontrução paulatina da capacidade operacional do nosso SUS. 
Reconhecer o problema e corrigi-lo em sua integralidade é a única solução capaz de situá-lo 
em seu devido patamar sistêmico, porque hábil a reconhecer que as medidas necessárias à 
sua resolução devem levar em conta, na forma da ADPF 347, "uma multiplicidade de atos 
comissivos e omissivos dos poderes públicos da União, dos Estados e do Distrito Federal, 
incluídos os de natureza normativa, administrativa e judicial". 
Diante da forma limitada como tem sido interpretado o dever de gasto mínimo federal em 
ações e serviços públicos de saúde (ASPS) previsto no artigo 198 da Constituição, faz-se 
necessária a afirmação de precedente pela Suprema Corte brasileira que reafirme a vedação 
de manipulação financeira que frustre a efetividade dos direitos fundamentais, tal como feito 
pela ADPF 45, desde 2004. 
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
A ADI 5.595, neste momento, é uma oportunidade ímpar de o STF resguardar garantia de 
proteção financeira suficiente para o SUS e, por conseguinte, para o direito fundamental à 
saúde, em rota de coerência interpretativa com sua longa jurisprudência em prol do mínimo 
existencial e da máxima eficácia dos direitos sociais. 
Nesta semana do 32º aniversário da nossa Constituição Cidadã, vedar retrocesso no piso 
federal em ações e serviços públicos de saúde (ASPS) é defender a higidez constitucional do 
próprio direito à saúde e, por conseguinte, de todos os direitos sociais amparados por 
vinculação orçamentária. 
Afinal, vivemos o momento em que a sociedade mais precisa da garantia de que haverá 
financiamento juridicamente estável e fiscalmente progressivo para o SUS continuar a fazer 
face não só à pandemia da Covid-19 no curto prazo, mas a todas as suas atribuições 
constitucionais no médio e longo prazos. 
[1] Como se pode ler em https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-
perdeu-34-5-mil-leitos-de-internacao-entre-2009-e-2020,70003243158. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.conjur.com.br/2020-out-05/elida-pinto-financiamento-direitos-fundamentais-32-anos-cf#_ftnref1
https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-perdeu-34-5-mil-leitos-de-internacao-entre-2009-e-2020,70003243158
https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-perdeu-34-5-mil-leitos-de-internacao-entre-2009-e-2020,70003243158
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
 
 
ARTIGO 5 
 
A escolha de Sofia e o direito de personalidade em tempos de 
pandemia 
Por Andrea de Souza Gonçalves 
31 de maio de 2020, 13h06– ConJur. 
 
Você já ouviu falar na "escolha de Sofia"? Parece que estamos revivendo nos campos 
de Auschwitz, onde uma prisioneira polonesa de nome Sofia teve que escolher qual filho (a 
menina ou o menino) deveria poupar da execução nazista. 
A pandemia da Covid-19, especialmente na Europa, trouxe uma discussão sobre a 
possibilidade dos profissionais de saúde, através de protocolos específicos, escolherem para 
qual paciente será disponibilizado atendimento em razão da ausência de condições de acesso 
no sistema de saúde. 
Porém, afora todas as questões polêmicas que envolvem a matéria, como saber se a escolha 
foi a correta, ou melhor, como explicar aos familiares daquele que não foi escolhido, que a 
razão da opção se deu pela idade, ou talvez através de outros critérios, muitas vezes 
subjetivos e complexos? 
No campo jurídico, o direito à vida, aqui tolhido, compõe uma das máximas do direito de 
personalidade, com caráter subjetivo, ou seja, oponíveis erga omnes (se aplicam a todos os 
homens e contra todos). São aqueles direitos que a pessoa tem para defender o que é seu, 
como a vida, a integridade, a liberdade, a sociabilidade, a honra, a privacidade, a autoria, a 
imagem e outros. 
Nesse contexto, se a todos deva ser garantido o direito à vida, como qualificar ou justificar 
aos que não tiveram essa opção? Estaríamos diante de uma nítida afronta ao bem mais 
precioso do cidadão, qual seja, sua vida e, por via de consequência, a dignidade da pessoa 
humana? 
Essa situação especifica é chamada de Medicina de Catástrofe, que, por exemplo, na 
Espanha já foi disposta pela Sociedade Espanhola de medicina intensiva, a saber: 
 "Una pandemia global, como la del SARS-Covid-19, puede abrumar la capacidad de las 
instalaciones ambulatorias, los departamentos de emergencias, los hospitales y los servicios 
de medicina intensiva (SMI). Impacta en los recursos disponibles, tanto a nivel de estructuras, 
de equipamientos y de profesionales, con graves consecuencias en los resultados de los 
https://www.conjur.com.br/2020-mai-31/andrea-goncalves-escolha-sofia-direito-personalidade#author
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
pacientes, de sus familias, de los propios profesionales sanitarios y de la sociedad en general. 
Esta situación excepcional se debe manejar como las situaciones de 'medicina de catástrofe', 
aplicando una atención de crisis excepcional basada en la justicia distributiva y en la 
asignación adecuada de los recursos sanitarios" [1]. 
O Estado passa a fundamentar esse procedimento com a ideia de que o direito individual 
pode ser mitigado em prol da coletividade, o que, após analise profunda, quer nos parecer 
não se enquadrar nessa situação, já que ao que tudo nos indica, o direito a saúde e ao bem 
estar não deveria fazer acepção de pessoa e, por via de consequência, não poderia fazer 
distinção alguma, seja de idade, etnia, sexo, situação clinica, entre outros critérios. 
Quer nos parecer que estamos diante da colisão de dois direitos distintos: o direito individual 
de personalidade e o direito coletivo, justificado pelo Estado na reserva do possível (que 
significa que a efetividade dos direitos sociais e a prestações materiais estaria sob a reserva 
da capacidade financeira do Estado). Ocorre que, salvaguardadas opiniões contrárias, o 
Estado não poderia argumentar reserva do possível e escassez do sistema de saúde quando 
estamos falando do bem mais precioso que o indivíduo possui e que sem ele nenhum outro 
faz qualquer sentido ou mesmo subsistiria. 
Voltando ao caso de Sofia, ela acabou por escolher deixar vivo o menino, por entender que 
este seria o mais forte, o que transportando para nossa realidade, se é que deveria ter havido 
alguma escolha, de certo que, ela pode ter feito uma análise equivocada, até porque nunca 
mais encontrou seu filho, desconhecendo o que teria com ele ocorrido. Essa situação posta 
pode certamente ocorrer com os inúmeros pacientes portadores da Covid-19 que não 
puderem contar com atendimento médico necessário e eficaz nessa situação, sendo a eles 
eivada qualquer chance de cura, sob uma justificativa subjetiva e financeira. 
É claro que não se trata de criar sensacionalismo aparente com essa questão demasiado difícil 
e dolorida, mas tentar entender e analisar juridicamente as inúmeras situações complexas 
que serão abordadas a partir daqui e que ainda não estão maduras o suficiente para tecermos 
qualquer definição. 
Mesmo sobre o fundamentado de força maior, essa argumentação do Estado não conseguirá 
impedir futuras açõesjudiciais em busca de respostas e reparações de danos causados às 
inúmeras famílias que possam perder seus entes nessa situação, sob o argumento, entre 
muitos, da perda de uma chance, ou ainda inúmeras ações judiciais com pedidos de 
atendimento e exercício do direito ao acesso à saúde, sem excluirmos ainda a discussão penal 
sobre a matéria. 
Dessa forma, o principal desafio do Estado frente a essa dicotomia dos direitos individuais em 
detrimento aos direitos coletivos, ao meu ver, seria formular estratégias políticas e sociais 
orquestradas com outros mecanismos e instrumentos de garantia democrática que 
aperfeiçoem os sistemas de saúde e de Justiça com vistas à efetividade do direito à 
saúde, uma vez que idade, ou qualquer outra distinção, não poderia ser fator de exclusão sob 
nenhum aspecto, e enquanto isso não for possível, cabe a nós, operadores do Direito, 
juntamente com a sociedade, utilizarmos de todos os mecanismos necessários para que a 
governança trate a máquina publica como ela efetivamente deve ser, "coisa do povo" . 
https://www.conjur.com.br/2020-mai-31/andrea-goncalves-escolha-sofia-direito-personalidade#_ftn1
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
 
 
[1]https://www.spg.pt/wp-content/uploads/2020/04/SocESpCI_RECOMENDACIONES-
%C3%89TICAS-PARA-LA-TOMA-DE-DECISIONES-EN-LA-SITUACI%C3%93N-EXCEPCIONAL-DE-
CRISIS-POR-PANDEMIA-COVID-19-EN-LAS-UNIDADES-DE-CUIDADOS-
INTENSIVOS.pdfc acesso em 10/4/2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.conjur.com.br/2020-mai-31/andrea-goncalves-escolha-sofia-direito-personalidade#_ftnref1
https://www.spg.pt/wp-content/uploads/2020/04/SocESpCI_RECOMENDACIONES-%C3%89TICAS-PARA-LA-TOMA-DE-DECISIONES-EN-LA-SITUACI%C3%93N-EXCEPCIONAL-DE-CRISIS-POR-PANDEMIA-COVID-19-EN-LAS-UNIDADES-DE-CUIDADOS-INTENSIVOS.pdfc
https://www.spg.pt/wp-content/uploads/2020/04/SocESpCI_RECOMENDACIONES-%C3%89TICAS-PARA-LA-TOMA-DE-DECISIONES-EN-LA-SITUACI%C3%93N-EXCEPCIONAL-DE-CRISIS-POR-PANDEMIA-COVID-19-EN-LAS-UNIDADES-DE-CUIDADOS-INTENSIVOS.pdfc
https://www.spg.pt/wp-content/uploads/2020/04/SocESpCI_RECOMENDACIONES-%C3%89TICAS-PARA-LA-TOMA-DE-DECISIONES-EN-LA-SITUACI%C3%93N-EXCEPCIONAL-DE-CRISIS-POR-PANDEMIA-COVID-19-EN-LAS-UNIDADES-DE-CUIDADOS-INTENSIVOS.pdfc
https://www.spg.pt/wp-content/uploads/2020/04/SocESpCI_RECOMENDACIONES-%C3%89TICAS-PARA-LA-TOMA-DE-DECISIONES-EN-LA-SITUACI%C3%93N-EXCEPCIONAL-DE-CRISIS-POR-PANDEMIA-COVID-19-EN-LAS-UNIDADES-DE-CUIDADOS-INTENSIVOS.pdfc
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
 
ARTIGO 6 
 
O Supremo Tribunal Federal e a pandemia da Covid-19 
Por Gilmar Mendes 
26 de setembro de 2020, 8h00 – ConJur. 
 
Em minha última coluna para o "Observatório Constitucional", do dia 11 de abril deste ano, 
destaquei a importância de se encarar a Constituição não como um obstáculo na condução 
da resposta à pandemia da Covid-19, mas como um caminho necessário ao seu 
enfrentamento. Hoje, passados mais de quatro meses desde aquela reflexão inicial sobre a 
"Jurisprudência de Crise", é possível se fazer um balanço sobre como o Supremo Tribunal 
Federal tem atuado nos diversos casos em que teve de se manifestar sobre o tema. 
Como pudemos comprovar nos últimos meses, a Covid-19 representou matéria da mais 
absoluta relevância constitucional. Em obra doutrinária coordenada por mim, pelo professor 
José Roberto Afonso e por Hadassah Laís Santana, tivemos a oportunidade de registrar, no 
capítulo introdutório, em coautoria, o seguinte: 
"Vivemos um dos maiores desafios dos últimos cem anos (certamente o maior das últimas 
quatro gerações), em se tratando de medidas sanitárias, epidemiológicas, econômicas e 
sociais. As consequências que já sabemos (milhares de mortes, desemprego de milhões de 
pessoas, fechamento de milhares de empresas, diminuição da remuneração de praticamente 
todo o Segundo e Terceiro setores, estagnação econômica, entre outros) e as ainda incertas 
(em sua extensão — tamanho da recessão e o momento da retomada do crescimento 
econômico, retorno dos empregos e do padrão remuneratório perdidos etc.) perdurarão 
algumas delas por mais de um ano, necessitando de uma resposta estatal à altura do 
problema que estamos enfrentando. 
Temos assistido a medidas contraditórias, descoordenadas e investimentos públicos 
ineficazes no combate à pandemia (vide a espiral de casos confirmados e a escalada de 
dezenas de milhares de mortes lastimáveis), seja pela sobreposição de atos governamentais 
dúbios, seja pela gritante disparidade de preços dos mesmos produtos nas unidades 
federativas, incluindo a necessidade de auxílio financeiro aos entes subnacionais que 
perderam receitas com a crise que assola o país."[1] 
Ao lado complexo quadro institucional que se desenhou, assistimos também à 
implementação de medidas sanitárias até então pouco usuais, com impactos relevantes na 
fruição de direitos fundamentais. Nas mais diversas localidades do país, os mecanismos de 
prevenção da Covid-19 variaram da obrigatoriedade do uso de máscara à restrição da 
circulação de pessoas, ao fechamento do comércio, de escolas e até mesmo à implementação 
de barreiras sanitárias. 
https://www.conjur.com.br/2020-set-26/observatorio-constitucional-supremo-tribunal-federal-pandemia-covid#author
https://www.conjur.com.br/2020-abr-11/observatorio-constitucional-jurisprudencia-crise-pensamento-possivel-caminhos-solucoes-constitucionais
https://www.conjur.com.br/2020-set-26/observatorio-constitucional-supremo-tribunal-federal-pandemia-covid#_ftn1
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
No plano internacional, diversos estudiosos alertaram como os poderes excepcionais 
tolerados durante a Covid-19 poderiam representar riscos às liberdades e aos direitos 
fundamentais. A violação, segundo algumas entidades, poderia ocorrer tanto por ações que 
buscassem conter o alastramento da pandemia, como restrições indevidas à liberdade de 
locomoção e ao direito à privacidade, quanto por medidas que limitavam a circulação de 
informações sobre o vírus, como por meio da divulgação de dados manipulados ou 
incompletos e de restrições à liberdade de expressão.[2] 
Obviamente, o Supremo Tribunal Federal foi chamado para atuar frente a esse complexo 
quadro que se desenhou. Segundo o "Painel de Ações da Covid-19", o STF reúne, atualmente, 
um total de 5.317 processos tratando da temática, nos quais foram proferidas, entre decisões 
monocráticas e colegiadas, um total de 5.846 manifestações da Corte. 
Felizmente, em um momento no qual se afirmava a possibilidade de as normas 
constitucionais dificultarem a resposta à Covid-19, é possível destacar que a construção de 
uma jurisprudência atuante e aberta ao grave contexto atual possibilitou um ambiente 
institucional equilibrado para a implementação das medidas necessárias à contenção da 
pandemia. 
Tal atuação foi inicialmente vista em um dos primeiros debates levados à Corte sobre a 
temática: os questionamentos sobre as restrições orçamentárias contidas na Lei de 
Responsabilidade Fiscal, que poderiam representar um grave obstáculo à implementação de 
políticas necessárias ao enfrentamento da Covid-19. Em decisão liminar proferida pelo 
ministro Alexandre de Moraes, posteriormente referendada pelo plenário, uma série de 
artigos relativos ao orçamento público foi excepcionada. Na oportunidade, assim destacou o 
ministro: 
"O surgimento da pandemia de Covid-19 representa uma condição superveniente 
absolutamente imprevisível e de consequências gravíssimas, que, afetará, drasticamente, a 
execução orçamentária anteriormente planejada, exigindo atuação urgente, duradoura e 
coordenada de todos as autoridades federais, estaduais e municipais em defesa da vida, da 
saúde e da própria subsistência econômica de grande parcela da sociedade brasileira, 
tornando, por óbvio, logica e juridicamente impossível o cumprimento de determinados 
requisitos legais compatíveis com momentos de normalidade. O excepcional afastamento da 
incidência dos artigos14, 16, 17 e 24 da LRF e 114, caput, in fine, e § 14, da LDO/2020, durante 
o estado de calamidade pública e para fins exclusivos de combate integral da pandemia de 
Covid-19, não conflita com a prudência fiscal e o equilíbrio orçamentário intertemporal 
consagrados pela LRF, pois não serão realizados gastos orçamentários baseados em propostas 
legislativas indefinidas, caracterizadas pelo oportunismo político, inconsequência, desaviso 
ou improviso nas Finanças Públicas; mas sim, gastos orçamentários destinados à proteção da 
vida, saúde e da própria subsistência dos brasileiros afetados por essa gravíssima situação; 
direitos fundamentais consagrados constitucionalmente e merecedores de efetiva e concreta 
proteção."[3] 
Em outros importantes precedentes, suspendeu-se por 180 dias o pagamento das dívidas de 
uma série de Estados com a União.[4] Receosos com a grave crise econômica que se 
encaminhava e com o aumento de gastos em áreas como a saúde, diversos governos locais 
https://www.conjur.com.br/2020-set-26/observatorio-constitucional-supremo-tribunal-federal-pandemia-covid#_ftn2
https://www.conjur.com.br/2020-set-26/observatorio-constitucional-supremo-tribunal-federal-pandemia-covid#_ftn3
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
solicitaram ao STF tal medida, que conferiu maior conforto fiscal aos Estados para a 
implementação das medidas necessárias ao combate à Covid-19. 
A responsabilização dos servidores no complexo contexto da crise sanitária igualmente foi um 
tema de grande relevância debatido pela Corte.[5] Por meio da Medida Provisória nº 
966/2020, limitou-se a responsabilização dos agentes públicos por decisões relacionadas à 
pandemia a apenas em casos de dolo ou erro grosseiro na conduta. Nas ações que 
questionaram tal dispositivo, defendeu-se a incompatibilidade da previsão com as 
disposições constitucionais sobre o tema, bem como alegou-se a falta de critérios objetivos 
para a configuração de erro grosseiro do agente público, o que conduziria a verdadeiro regime 
de impunidade. 
Na oportunidade, o STF destacou a possibilidade de a legislação ordinária qualificar a 
modalidade culposa pela qual o agente público pode ser responsabilizado — no caso em 
questão, por erro grosseiro –, mas conferiu interpretação conforme da norma no sentido de 
se adotar, como critério para a aferição de tal modalidade culposa, a observação: "(i) de 
standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como estabelecidos por organizações e 
entidades internacional e nacionalmente conhecidas; bem como (ii) dos princípios 
constitucionais da precaução e da prevenção" 
É necessário destacar que a referida decisão tem como pano de fundo críticas relevantes à 
ausência de critérios para a definição da responsabilidade administrativa de gestores públicos 
mesmo em situações de normalidades. Autores como Floriano de Azevedo Marques Neto[6], 
Gustavo Binenbojm, Carlos Ari Sundfeld[7], e outros de igual calibre têm diagnosticado, no 
Brasil, a ocorrência de verdadeiro "Apagão das Canetas" — expressão utilizada para designar 
sentimento generalizado de temor e de inação de nossos gestores públicos frente aos riscos 
de responsabilização pelos órgãos de controle e pelo Poder Judiciário. 
Na sua essência, esse fenômeno decorre de visão da Administração Pública que projeta, no 
gestor, o ideário de que ele deve ser mero "aplicador" da lei; como se todas as escolhas 
importantes para a funcionamento do Estado já tivessem sido tomadas pelo legislador, 
cabendo ao servidor apenas desvendá-las. Para além de todos os desafios que essa visão de 
mundo implica, em termos de hermenêutica jurídica, qualquer aplicador do direito 
minimamente atento à realidade consegue reconhecer suas limitações. Como bem destacam 
Binebojm e Cyrino, embora "“o mundo da aplicação da lei de ofício seja um lugar bastante 
seguro para o agente público, esse mundo não existe e talvez nunca tenha existido". 
Sobretudo em sociedades complexas como a nossa, é inegável que "administrar envolve 
tomar decisões difíceis em âmbitos deixados em aberto pelo legislador"[8]. 
Não é preciso destacar como todo esse debate ganhou contornos ainda mais complexos com 
a Covid-19, que, diante das dificuldades de uma crise econômica, financeira e sanitária, 
demandou a implementação medidas invasivas e urgentes, muitas delas pouco usuais na 
Administração Pública. Assim, se por um lado o gestor se via envolto em uma situação de 
grande complexidade, por outro, a sua inação – um possível "Apagão das Canetas" — poderia 
levar a consequências ainda mais catastróficas. 
https://www.conjur.com.br/2020-set-26/observatorio-constitucional-supremo-tribunal-federal-pandemia-covid#_ftn5
https://www.conjur.com.br/2020-set-26/observatorio-constitucional-supremo-tribunal-federal-pandemia-covid?pagina=2#_ftn6
https://www.conjur.com.br/2020-set-26/observatorio-constitucional-supremo-tribunal-federal-pandemia-covid?pagina=2#_ftn7
https://www.conjur.com.br/2020-set-26/observatorio-constitucional-supremo-tribunal-federal-pandemia-covid?pagina=2#_ftn8
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UFRN . Profa. Renata Oliveira 
A decisão, ao definir critérios mais claros para a aferição da responsabilidade do agente 
público, conferiu maior segurança jurídica aos gestores, sem se olvidar da necessidade da 
correta utilização dos bens públicos. A Corte reforçou que os órgãos de controle, ao realizar 
o exame a posteriori da responsabilidade do agente público, devem considerar o contexto 
informacional contemporâneo à tomada de decisão. 
Outro debate de grande relevância ao país tratou da divisão de competência entre os entes 
na implantação de medidas sanitárias de controle da pandemia.[9] No contexto de uma série 
de ações adotadas por Estados e Municípios, a União invocou os dispositivos constitucionais 
relativos à sua competência exclusiva, para centralizar as decisões acerca de medidas de 
enfrentamento da crise sanitária do Covid-19, enquanto os entes regionais e locais 
fundamentaram-se em dispositivos de competência comum e concorrente para justificar os 
atos de restrição de locomoção de pessoas que vêm sendo adotados em seus âmbitos. 
Como é sabido, a Constituição de 1988 traz sistematização pouco objetiva em matéria de 
competências administrativas e legislativas. Não é fácil identificar no Texto Constitucional os 
limites das competências dos entes federativos em cada matéria. A Constituição fala, por 
exemplo, que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios “cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas 
portadoras de deficiência”. No mesmo sentido, o Texto Constitucional, ao estabelecer o 
Sistema Único de Saúde, revela que esse sistema deve ser pesando de forma descentralizada 
(artigo 196). 
Em meio aos desencontros entre as posições dos governos estaduais e municipais frente a 
posição defendida pela União, parecia clara que a pluralidade de opções sobre o assunto e a 
ausência de medidas uniformes, no contexto de urgência, alertavam para a necessidade de 
definição dos limites constitucionais e legais para a atuação dos entes federativos regionais e 
locais. Isso porque, independentemente do direcionamento da política pública de saúde que 
se pretendesse adotar, seria inviável, em um contexto de pandemia, a sua execução sem uma 
articulação mínima entre a União, os Estados e municípios. 
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, baseado no federalismo cooperativo que permeia 
nossa Constituição, afirmou a competência concorrente dos entes da Federação para 
implementar as medidas de contenção da pandemia e destacou a necessária articulação entre 
eles para o seu êxito. Dessa forma, garantiu-se aos Estados e Municípios a possibilidade de 
adoção de medidas restritivas, sem se afastar a necessária e devida atuação da União, seja 
coordenando as ações dos outros entes, seja

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