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Avaliação dos Níveis de Consciência Objetivo: Estudar a avaliação dos níveis de consciência. Quando nos referimos a alteração do estado mental, pontuamos que há prejuízo da consciência, que é composta por dois pilares: - CONTEÚDO: córtex cerebral – memória, julgamento e linguagem; - DESPERTAR: porção rostral do tronco encefálico – vigília/alerta. Logo, para que haja comprometimento do nível de consciência, são necessárias lesões hemisféricas bilaterais ou do sistema reticular ativador ascendente (SRAA), no tronco cerebral. 1. Nível de consciência: relacionado com o grau de alerta comportamental, que se apresentará de acordo com a integridade ou não dos hemisférios cerebrais ou do tronco encefálico. 2. Conteúdo de consciência: relacionado com as funções cognitivas e afetivas do ser humano, como atenção, memória, julgamento, linguagem, organização do pensamento, experiências subjetivas, que possuem uma região anatômica correspondente no cérebro. O paciente “não responsivo” pode se encaixar em um amplo espectro de alterações do estado mental: (1) estado confusional, (2) letargia, (3) obnubilação, (4) esturpor ou (5) coma. Com relação ao nível de consciência, deve-se utilizar a escala de coma de Glasgow, caracterizando coma quando a soma der menor ou igual a 8. *** No entanto, a ECG possui diversas limitações, podendo pacientes possuir ECG total idênticos e apresentarem diferentes quadro clínicos a depender das subclassificações com relação à motricidade, abertura ocular e resposta verbal. Existem outras classificações de coma, como a FOUR (The Full Outline of Unresponsiveness) que incorpora maiores detalhes que a ECG e não utiliza a resposta verbal, o que é útil principalmente em pacientes em intubação orotraqueal. Escala de Coma de Glasgow: Antigo ECG (Resposta motora): Mudanças na interpretação da ECG (ATLS. 10ed., 2018): A 10ª edição do ATLS (Advanced Life Trauma Support), de 2018, a nomenclatura ‘’ao estímulo de dor’’ foi substituída por ‘’ao estímulo de pressão’’, tal mudança foi feita não só pela dificuldade da definição de dor, mas também pelo questionamento da necessidade de submeter o paciente a essa sensação. Passo a passo: 1) Faz-se a avaliação da escala normalmente (O__V__M__) com resposta de abertura ocular ao estímulo; 2) Faz-se a avaliação da reatividade pupilar com estímulo luminoso: se ambas as pupilas estiverem fotorreagentes, não se altera o somatório; se somente uma das pupilas não estiver reagente, subtrai-se 1; e se nenhuma das 2 pupilas estiverem reagentes, subtrai-se 2 pontos da escala. Esquematizando: ECG-P = ECG – (n o de pupilas não reagentes) Medicina 3º Semestre - UNIFTC Escala de FOUR Reflexo corneano: O leve toque da córnea com uma mecha de algodão provoca um piscar bilateral. A via aferente é a primeira divisão do nervo trigêmeo (V). A via eferente, os nervos faciais (VII), que inervam os músculos orbiculares dos olhos. Quando falamos de coma devemos caracterizar por uma lesão bilateral dos hemisférios cerebrais e/ou do SRAA (junção mesencéfalo-diencefálica recebe conexões ascendentes e descendentes do córtex cerebral). Pode ser decorrente de causa mecânica/estrutural (com destruição anatômica de áreas do tronco encefálico ou de hemisférios cerebrais) ou metabólica (atinge difusamente o encéfalo, ocorrendo interrupção na entrega de glicose ou oxigênio (hipoglicemia, hipóxia) ou alteração na resposta da membrana neuronal (intoxicação por álcool, drogas, metabólitos endógenos tóxicos, anestesias ou epilepsia). Síndrome da Diabetes Objetivo: Destrinchar a síndrome da Diabetes Diabetes mellitus (DM) não é uma única doença, mas um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresenta em comum a hiperglicemia, resultante de defeitos na ação da insulina, na secreção de insulina ou em ambas. Classificação (OMS e ADA – Associação Americana de Diabetes): Apresentam quatro classes clínicas: DM tipo 1 (DM1), DM tipo 2 (DM2), outros tipos específicos de DM e DM gestacional. Há ainda duas categorias, o pré-diabetes (glicemia em jejum alterada) e a tolerância a glicose diminuída, que não são entidades clínicas, mas sim fatores de risco para o desenvolvimento de DM e doenças cardiovasculares. Diabetes Mellitus tipo 1 É caracterizado por destruição das células beta que levam a uma deficiência de insulina, sendo subdivido em tipos 1A e 1B. - Diabetes Mellitus tipo 1A Responsável por 5 a 10% dos casos de DM, tratando-se de uma doença autoimune, atuante na destruição de células betapancreáticas com consequente deficiência de insulina. Há diminuição progressiva da função secretora dessas células, que se traduz inicialmente pela perda da primeira fase da secreção de insulina e elevação gradual dos níveis glicêmicos. Há, assim, um período mais ou menos longo de "latência", de pouca expressão clínica, que pode preceder a eclosão da doença em vários anos. Possuem marcadores de autoimunidade, que podem ser identificados na fase pré-clínica da doença (meses ou anos antes do diagnóstico), os quais são os anticorpos anti-insulina (AAI), antitirosina-fosfatase (IA2 e IA2B) e antitransportador de zinco (Znt) (1A). * EPIDEMIOLOGIA: No Brasil, segundo Ferreira et al. existe uma incidência de 7,6/100.000 por ano em população de jovens com idade inferior a quinze anos. No sexo feminino, a maior incidência foi observada no grupo etário de 5 a 9 anos e, no sexo masculino, entre 10 e 14 anos. A fisiopatologia envolve fatores genéticos e ambientais. É uma condição poligênica, sendo que na maioria dos casos os principais genes envolvidos estão no sistema do antígeno leucocitário humano (HLA) classe II. Esses genes podem expressar a doença ou proteger o organismo contra ela. Podemos citar alguns fatores ambientais como desencadeante da autoimunidade em indivíduos geneticamente predispostos: certas infecções virais, fatores nutricionais (aleitamento precoce com leite bovino), deficiência de vitamina D, entre outros. Em geral, 70% dos parentes em primeiro grau positivos para pelo menos três desses anticorpos desenvolvem a doença dentro de cinco anos. Esses marcadores podem ser utilizados principalmente para diferenciação de DM1 e DM2 nas crianças, já que observa-se um aumento no número de crianças com DM2 recentemente. A taxa de destruição das células beta é mais rápida em crianças, já em adultos, observa-se uma forma mais progressiva, denominando-se diabetes autoimune latente do adulto - LADA. - Diabetes Mellitus tipo 1B Conhecido por idiopático, não possui uma etiologia clara. Corresponde a minoria dos casos de DM1, porém, ao contrário da DM1A, a tipo B não possui marcadores de autoimunidade contra células B e sem associação com haplótipos (alelos ligados ao locus patológico) do sistema HLA. Portadores desse tipo de DM podem desenvolver cetoacidose e apresentam graus variados de deficiência de insulina. Devido a avaliação dos anticorpos não ser facilmente disponível, a distinção etiológica da DM1 nem sempre é possível. Patogênese da DM1 A evolução da doença não é aguda, e sim um processo de auto agressão de evolução lenta, podendo durar anos = fase pré-clínica. Os pacientes se apresentam depois de apenas dias ou semanas de poliúria, polidipsia e perda de peso com concentrações séricas de glicose acentuadamente elevadas. Corpos cetônicos também estão aumentados em virtude da falta acentuada de insulina, resultando em acidose grave, potencialmente fatal (cetoacidose diabética), sendo necessário tratamento com insulina. Na fase clínica, observa-se presença de hiperglicemia e cetose com número de células beta bastante reduzidos ou ausentes nas ilhotas pancreáticas. Como é o quadro histológico? Então, observa- se a presença de um infiltradodo tipo linfomononuclear e ausência de células beta. Como as células produtores estão em maior número nas ilhotas, acabam que muitas dessas se tornam atrofiadas. O DM1A tem início quando ocorre um desequilíbrio nos mecanismos de tolerância aos antígenos próprios, resultando insulite: infiltrado inflamatório composto de linfócitos T e B, macrófagos e células dendríticas. As células T-CD4 ativadas (CD4+) agem no processo da insulite, determinando reações inflamatórias e secreção de citocinas, especialmente interleucina 1 (IL-1), interferon g (IFN- g) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), culminando com a morte das células-beta (imunidade celular). As células T CD4+ também funcionam como células auxiliares ativadoras das células T-CD8 e linfócitos B produtores de auto-anticorpos (imunidade humoral). Como os linfócitos compõem a imunidade adaptativa, são capazes de distinguir determinados antígenos específicos. Assim, os linfócitos T só reconhecem como Ag, peptídeos associados à proteínas de seu MHC (complexo principal de histocompatibilidade), dessa forma, possui ativação antígeno-específica e MHC restrita. Pelo menos 50% da suscetibilidade para DM tipo 1 têm sido ligada aos genes do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) que codificam moléculas dos antígenos leucocitários humanos (HLAs) de classe II (DR, DQ e DP) expressos na superfície de células apresentadoras de antígenos específicos, como macrófagos. As moléculas de classe II formam um complexo com antígenos estranhos processados ou autoantígenos, que então ativam linfócitos T CD4 por meio de interação com o receptor de células T. O antígeno específico da célula-beta, alvo inicial do sistema imune, não está definido, mas os auto-anticorpos contra vários componentes das células- beta, presentes no soro de pacientes diabéticos recém- diagnosticados e de indivíduos que posteriormente desenvolvem a doença, são importantes marcadores da progressão dela. O perfil de secreção de citocinas é padrão Th1, que possui como principais constituintes IL2, TNF e interferons. Com baixa do perfil Th2 (IL-4 e IL-10), não conseguindo conter a reposta pró-inflamatória Th1. Há ainda a participação de radicais livre – ERO, sendo o exemplo principal o NO, produzido a partir do amino- ácido L-arginina, de forma constitutiva e forma induzida, podendo sua produção ser estimulado por citocinas de perfil Th1 como IF-Y por macrófagos. Diabetes Mellitus tipo 2 Corresponde de 90 a 95% dos casos, caracterizando por defeitos na secreção de insulina e na regulação da produção hepática de glicose. A resistência a insulina e defeitos na função das células B estão presentes precocemente na fase pré-clínica da doença. É causado por uma interação de fatores genéticos (apesar de se observar uma variedade de variantes genéticas, a herdabilidade ainda é pouco explicada) e ambientais. Nos fatores ambientais podemos citar o sedentarismo, as dietas ricas em gorduras haja vista que a maioria dos casos de DM2 estão relacionados com obesidade, e envelhecimento. Cetoacidose é mais difícil de ocorrer em pacientes com DM2, é mais comumente observado em outras condições, como infecções. No DM tipo 2, ao contrário da falta absoluta de insulina no DM tipo l, dois defeitos metabólicos são responsáveis pela hiperglicemia: (1) resistência de tecidos-alvo aos efeitos da insulina e (2) secreção inadequada de insulina por células B pancreáticas na situação de resistência à insulina. Existe uma maior prevalência de DM2 em pacientes após seus 40 anos. O tratamento não depende de insulina, mas pode-se utilizar essa ferramenta para se obter um controle metabólico adequado. Patogênese da DM2 A resistência a insulina e a deficiência na secreção das células b para o desenvolvimento variam bastante. Porém, como a DM2 está comumente relacionado à obesidade, um dos fatores preponderantes das anormalidades na secreção de insulina e a resistência periférica à mesma é devido a grande presença de ácidos graxos livres decorrentes da gordura visceral/periférica. Podemos observar isso, quando nos pacientes obesos, inicialmente apresentam aumento na secreção de insulina, com consequente hipertrofia das ilhotas, todavia, a captação hepática e a eficácia periférica da insulina estão diminutas. O aumento da circulação dos ácidos graxos livres (AGL) inibe a depuração hepática de insulina, levando a hiperinsulinemia e à resistência periférica, além do direcionamento desses para a síntese de triglicérides pelo fígado. As adipocitocinas, advindas da inflamação crônica de baixo grau do tecido adiposo, tem-se relacionado ao quadro de resistência à insulina na DM2. Consideradas mediadores imunoinflamatórios que promovem resistência insulínica, destaca-se: TNF-a, resistina, IL-6. A adiponectina é considerada uma adipocina de efeito antagônico, promovendo proteção vascular, aumento da captação de glicose e aumento da sensibilidade à insulina, diminuição da gliconeogênese hepática e supressão de citocinas pró inflamatórias (IL- 6 e TNF-a) = balança/regulação/equilíbrio. Em caso de hiperplasia de adipócitos, IL-6 e TNF-a são sintetizadas em excesso e há infiltração de macrófagos e linfócitos no tecido (sistema imune agindo), desencadeando redução da cadeia de sinalização insulínica e consequente translocação de glicose, afetando a homeostase energética – resistência insulínica. Tais mediadores também irão agir na regulação da síntese de proteína C reativa (PCR), importante marcador de lesão tecidual. No processo inflamatório é comumente observado produtos de glicação avançada, geradores de estresse oxidativo e citocínico, principalmente no tecido adiposo visceral, acarretando em aumento de citocinas pró-inflamatórias como IL-6, de ERO, recrutamento de macrófagos consequente elevação de PCR e estado pró-inflamatótio, evoluindo na resistência insulínica (Acúmulo de metabólitos lipídicos tóxicos + citocinas inflamatórias + danos mitocondriais). Como ocorre o estresse oxidativo? Hiperglicemia aumento de mediadores inflamatórios e glicação de proteínas inativação funcional dessas proteínas e auto-oxidação das partículas de glicose formação de radicais livres destruição e disfunção das células – como as b- pancreáticas. Salienta-se também o papel da resistina, uma citocina imunoinflamatória, que aumenta a expressão de TNF-α e IL-6, culminando em resistência à ação da insulina e processo pró-inflamatória, acabando por bloquear a translocação de glicose, gerando o estado hiperglicêmico. Em estados normais a adiponectina inibe a resistina. Tem sido relatado que a associação de citocinas Th1 está envolvida na destruição de células β pancreáticas através da liberação de mediadores citotóxicos, tais como óxido nítrico, radicais de oxigênio, serina esterases, etc. Observa-se, ainda, altos níveis de IL-10, produzidos pelas células T-reg, sendo responsável pela inibição da resposta Th2, desregulando o balanceamento da inflamação, trazendo um perfil pró- inflamatório. A disfunção vascular irá decorrer principalmente por três mecanismos: alteração de vias de sinalização que levam à inativação da eNOS, ativação do endotélio por moléculas pró-inflamatórias, disfunção mitocondrial e aumento do estresse oxidativo na vasculatura, os quais podem ser particularmente importantes de acordo com fatores genéticos predisponentes. O estresse oxidativo é induzido pelas espécies reativas de oxigênio (EROs) e o ânion superóxido reage com o NO para formar peroxinitrito, substância altamente reativa. A exposição da vasculatura à hiperglicemia e o aumento de ácidos graxos livres característicos do DM e estados de resistência insulínica induzem à produção de superóxido e reduzem a biodisponibilidade de NO. Outros tiposde Diabetes Mellitus São as formas menos comuns de DM e sua apresentação clínica é bastante variada, dependendo da alteração de base. Podemos incluir nessa categoria, defeitos genéticos nas células B, defeitos genéticos na ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, dentre outras condições. As formas associadas a defeitos genéticos na função das células beta incluem MODY, diabetes neonatal, diabetes mitocondrial e outros. MODY- herança autossômica dominante, com idade precoce de aparecimento (em geral antes dos 25 anos) e graus variáveis de disfunção da célula beta. Já foram encontrados 13 diferentes subtipos de MODY por diferentes mutações. Corresponde de 1 a 2% dos casos de DM. O quadro clínico varia de acordo com a idade. Estima-se que a maioria dos pacientes portadores de MODY seja inicialmente classificada como portador de DM tipo 1 ou tipo 2. O diabetes neonatal é uma forma monogênica de diabetes, diagnosticado nos seis primeiros meses de vida. Cerca de 50% dos casos são transitórios, ocorrendo a remissão em semanas ou meses, podendo recidivar por volta da puberdade, e os demais são permanentes. Os pacientes afetados apresentam baixo peso ao nascer e a hiperglicemia desenvolve-se nas primeiras semanas. Pacientes com diabetes neonatal permanente apresenta baixo peso ao nascer e hiperglicemia aparece nos 3 primeiros meses de vida. O diabetes pode apresentar de forma isolada ou pode acompanhar alterações neurológicas, como retardo no desenvolvimentos, crises epilépticas e fraqueza muscular – síndrome DEND. Doenças do pâncreas exócrino, como pancreatite, trauma, pancreatectomia e carcinoma pancreático, podem causar diabetes. Além disso, endocrinopatias com aumento de hormônios contrarreguladores da ação da insulina, entre os quais hormônio de crescimento (GH), cortisol e glucagon, podem ser causas de diabetes. Diabetes Mellitus Gestacional Qualquer intolerância à glicose, de magnitude variável com início ou diagnóstico durante a gestação. Pacientes de alto risco e que na consulta inicial de pré-natal, no primeiro trimestre de gestação, já preenchem os critérios para diabetes fora da gestação, serão classificadas não como diabetes gestacional, mas como diabetes mellitus tipo 2. Similar ao DM2, o DM gestacional associa-se tanto à resistência à insulina quanto à diminuição da função das células beta. Prevalente em 1 a 14% das gestações, relacionando-se com o aumento de morbidades e mortalidades perinatais. No Brasil, cerca de 7% das gestações são complicadas por hiperglicemia. Deve-se analisar de 4 a 6 semanas a gestante diagnosticada e reclassificá-la, como portadora de DM, glicemia de jejum alterada, tolerância à glicose diminuída ou normoglicemia. Na maioria das vezes haverá reversão do quadro, porém, há risco de 10 a 63% desenvolver DM2 de 5 a 16 anos após o parto. *** Fatores de risco e Pré-diabetes: - Glicemia de jejum alterada: relacionada às concentrações de glicemia de jejum inferiores ao critério diagnóstico para DM, contudo mais elevadas que o valor de referência normal. - Tolerância à glicose diminuída: anormalidade na regulação da glicose no estado pós-sobrecarga, diagnosticada por meio de teste oral de tolerância à glicose (TOTG), o qual inclui a determinação da glicemia de jejum e de 2 h após a sobrecarga com 75 g de glicose. Quadro Clínico da DM Poliúria e Polidipsia Variações na osmolaridade intra ou extracelular induzem respostas distintas tanto para excreção renal quanto para o mecanismo da sede. Na DM, devido a hiperglicemia, haverá uma hiperosmolariadade plasmática extracelular, acarretando desidratação celular, alterando a homeostase do organismo. Existem neurônios no SNC, localizados no hipotálamo, que agem como osmorreceptores e são capazes de detectar alterações na osmolaridade e tomar as cabíveis providências, como estimular o centro da sede. Assim como a desidratação celular agirá potencializando tal necessidade. Podemos, ainda, analisar essa possível alteração de polidipsia por outra perspectiva, pois, à medida que haverá um aumento na concentração de glicose no sangue e, consequentemente, aumento da volemia por osmose, a taxa de filtração glomerular no rim irá diminuir e haverá uma maior passagem de água e soluto (glicose). Dessa forma, ao invés da glicose ser totalmente reabsorvida nos túbulos contorcidos proximais, por estarem totalmente saturados, haverá o fenômeno de glicosúria concomitante a poliúria. Assim, devemos sempre analisar que essa quebra de equilíbrio no funcionamento da filtração e reabsorção renal, a osmose irá participar ativamente no processo de poliúria. É lógico, que, ao mesmo tempo em que haverá uma maior excreção de soluto, haverá de água, dessa forma, o corpo ativa o centro da sede para que haja uma maior ingestão de água e compensar a perda. Perda de peso Pode ocorrer em consequência tanto da desidratação quanto da perda de calorias na urina (poliúria e glicosúria). Perda de peso acentuada é mais provável em portadores de insulinopenia grave – DM1, devendo-se tanto à perda calórica quanto à atrofia muscular. O catabolismo proteico/proteólise será estimulado, pois, hormônios antagônicos da insulina como cortisol e glucagon estarão agindo na proteólise e lipólise, causando perda de peso e astenia/fraqueza muscular, devido exacerbação das atividades catabólicas, contribuindo, assim, para o atraso do crescimento observado em crianças com DM1. Outras Consequências da Hiperglicemia Em mulheres, a glicosúria pode levar a uma incidência aumentada de vulvovaginite por cândida. Em alguns casos, esse pode ser o único sintoma da apresentação. Em homens não circuncidados, a balanite por cândida (uma infecção similar da glande do pênis) pode ocorrer. Complicações Microvasculares A hiperglicemia irá causar, ainda, um aumento intracelular de glicose naquelas células que não possuem um controle de entrada e saída do mesmo, como o endotélio, glomérulos e células nervosas. Os danos microvasculares são decorrentes de quatro vias distintas: via dos polióis (1), aumento de formação do produto final da glicosilação avançada (AGE) (2), ativação de proteína quinase C (PKC) (3) e fluxo aumentado das hexosaminas (4). Estudos mostram o fluxo aumentado dessas vias por aumento de ERO por aumento do fluxo de glicose por meio do ciclo do TCA. O resultado final será acúmulo de proteínas nas paredes dos vasos, disfunção das células endoteliais, perda de células e, por fim, oclusão. - Retinopatia: Frequente tanto no tipo 1 quanto no tipo 2 de DM. Microaneurismas dos capilares da retina, aparecendo como pontos vermelhos minúsculos são detectáveis clinicamente. Essas protrusões na parede capilar devem-se à perda de periquitos que sustentam as paredes dos capilares, aumentando a permeabilidade vascular. Exsudatos duros são comuns, formando um anel na área do vazamento, decorrente do extravasamento de gordura pelo vaso, acarretando edema macular (causa mais comum de cegueira). A medida que a retinopatia progride, sinais de isquemia aumentam. - Nefropatia: A DM é a causa mais comum de doença renal em fase terminal (DRFT). Mais frequente no DM1 do que no DM2 Resulta principalmente da função glomerular desordenada. As membranas basais dos capilares glomerulares são espessas e podem colabar os vasos, o mesângio está aumentado por depósito de material semelhante. Antes dessas alterações haverá uma fase de hiperfiltração, por depleção das substâncias negativas que repelem as proteínas, acarretando em proteinúria, que se agrava à medida que a função renal diminui. A hipertensão acelera esse processo. A retinopatia geralmente precede a nefropatia. - Neuropatia: Nos casos de polineuropatia distal periférica (mais comum), haverá desmielinizaçãodos nervos periféricos, acredita-se que principalmente pela ativação da via dos polióis, causando dormência, formigamentos e parestesias nos membros distais, com evolução para as regiões proximais. Observa-se além da desmielinização, a perda de fibras nervosas com regeneração periférica reduzida. Nos portadores de DM1 ocorre também com mais frequência a neuropatia autonômica, que afeta o funcionamento autonômico dos sistema circulatório, urogenital e GI. Podem apresentar taquicardia em repouso, fixa, e hipotensão ortostática, disfunção erétil, constipação, incontinência urinária. Complicações Macrovasculares Sendo mais devastadores na DM2, a doença macrovascular envolve doenças ateroscleróticas com frequência aumentada de IAM, AVE, claudicação e grangrena das extremidades inferiores. Hipertensão também é comum, relacionado ao aumento do Na+ extracelular, sendo responsiva à inibição do SRAA. Geralmente, a HAS apresenta-se no DM1 após a nefropatia, por dificuldade de excreção de solutos. Ademais, a resistência à insulina está associada com a ativação do SRAA, que leva a hipertensão, comum no DM2. No que tange a aterosclerose, alguns fatores são preponderantes, como alterações da composição de lipoproteínas tornando-as mais aterogênicas (LDL densa, pequena, aumentada, aumento da oxidação e glicosilação de lipoproteínas), aumento de certos fatores de coagulação e de agregação plaquetária, alterações pró-aterogênese nas paredes dos vasos que aumenta a formação de células espumosas, depósito de proteínas glicosiladas e o ambiente pró-inflamatório. Diagnóstico DM Entre o DM1 e o DM2 os estados intermediários de glicemia de jejum alterada e tolerância à glicose diminuída variam e o tempo de curso irá depender da combinação de resistência à ação insulínica e disfunção de células beta, sendo na DM2 mais gradual e na DM1 é abrupto. Atualmente existem três critérios aceitos para o diagnóstico com utilização da glicemia: A) Sintomas de poliúria, polidipsia e perda ponderal acrescidos de glicemia casual ≥ 200 mg/dl. Compreende-se por glicemia casual aquela realizada a qualquer hora do dia, independentemente do horário das refeições. B) Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl (7 mmol/l). Em caso de pequenas elevações da glicemia, o diagnóstico deve ser confirmado pela repetição do teste em outro dia. C) Glicemia de 2 h pós-sobrecarga de 75 g de glicose ≥ 200 mg/dl. O teste de tolerância à glicose deve ser feito com os cuidados preconizados pela OMS, com coleta para diferenciação de glicemia em jejum e 120 min após a ingestão de glicose. A tolerância à glicose diminuída ocorre quando, após uma sobrecarga de 75 g de glicose, o valor de glicemia de 2 h situa-se entre 140 e 199 mg/dl. Em julho de 2009 foi proposta o exame de hemoglobina glicada (HbA1c) como critério para diagnóstico. A HbA1c avalia o grau de exposição à glicemia durante o tempo e os valores se mantêm estáveis após a coleta. - Diabetes: HbA1c ≥ 6,5% a ser confirmada em outra coleta. Dispensável em caso de sintomas ou glicemia ≥ 200 mg% - Indivíduos com alto risco para o desenvolvimento de diabetes: HbA1c entre 5,7 e 6,4%. Porém, existem alguns problemas para o uso desse método para o diagnóstico, como pessoas com hemoglobinopatias, anemias hemolíticas e ferropriva. Outro ponto a considerar é a discordância entre os resultados da glicemia e da HbA1c quando, mesmo após a repetição deles, somente um permanecer anormal. Nesse caso, a pessoa deve ser considerada diabética. Diagnóstica de DM gestacional (DMG): Na primeira consulta pré-natal, deve ser solicitada glicemia de jejum. Caso o valor encontrado seja ≥ 126 mg/dl, é feito o diagnóstico de diabetes mellitus franco diagnosticado na gravidez. Caso glicemia plasmática em jejum seja ≥ 92 mg/dl e < 126 mg/dl, é feito o diagnóstico de DMG. Em ambos os casos, deve ser confirmado o resultado com uma segunda dosagem da glicemia de jejum. Caso a glicemia seja < 92 mg/dl, a gestante deve ser reavaliada no segundo trimestre. A investigação de DMG deve ser feita em todas as gestantes sem diagnóstico prévio de diabetes. Entre a 24ª e a 28ª semana de gestação, deve-se realizar TOTG com dieta sem restrição de carboidratos ou com, no mínimo, ingestão de 150 g de carboidratos nos 3 dias anteriores ao teste, com jejum de 8 h. Outros estudos e métodos de análise: Complicações do DM Doença Coronariana Silenciosa Apesar de portadores de DM ter alto risco de desencadear doença cardiovascular, o risco de desfecho é extremamente variável. Mas é sempre importante realizar busca de riscos no paciente de desenvolver DCV e beneficiá-los com o tratamento adequado, quanto mais precoce melhor. O risco de evento cardiovascular será ainda maior quando um paciente diagnosticado com DM já tiver história pregressa de IAM, AVE, AIT, angina do peito, dispneia de origem isquêmica, claudicação intermitente ou doença da aorta. Na DM1, com o passar dos anos, o risco de complicações CV é aumentada, principalmente após os 40 anos. Contudo, esse intervalo pode variar de acordo com o aparecimento de nefropatias, HAS e descontrole glicêmico. Retinopatia Diabética Após 20 anos de doença, mais de 90% dos diabéticos DM1 e 60% daqueles com DM2 apresentarão algum grau de retinopatia. Na RD a principal causa será por edema macular, podendo ter evolução para doença proliferativa grave (perda visual grave, cegueira irreversível). O tempo de duração do diabetes e o controle glicêmico são, respectivamente, os dois fatores mais importantes relacionados com o desenvolvimento e a gravidade da RD. Vale destacar também a importância do controle intensivo da pressão arterial para o tratamento. Neuropatia Diabética Em geral, o acometimento patológico do sistema nervoso é muito amplo e, inúmeras vezes, bastante grave no DM. A lesão neurológica é extensa no organismo humano diabético, envolvendo amplamente todo o sistema nervoso periférico em seus componentes sensorimotor e autônomo, com clínica característica e concordante com as hipóteses patogênicas de natureza metabólica e/ou microvascular. O diagnóstico se dá por quadro clínico + testes neurológicos. As principais manifestações clínicas de comprometimento somático são de dormência ou queimação em membros inferiores (pode ter acometimento de MS), formigamento, pontadas, choques, agulhadas em pernas e pés, desconforto ou dor ao toque de lençóis e cobertores e queixas de diminuição ou perda de sensibilidade tátil, térmica ou dolorosa. É importante destacar que a ausência de sintomas e sinais de parestesia anteriormente mencionada não exclui a neuropatia, pois alguns pacientes evoluem direto para a perda total de sensibilidade. Pé Diabético Infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos moles associadas a alterações neurológicas e vários graus de doença arterial periférica (DAP) nos membros inferiores. Epidemiologia, etiologia e complicações dependem de múltiplos fatores como condições socioeconômicas do país. A insensibilidade é resultado no agravo às fibras finas (tipos C e delta) pela exposição à hiperglicemia associada a fatores CV. Há comprometimento das fibras grossas (beta, A alfa), com perda da propriocepção, do movimento articular e do feedback da percepção de posição pelos receptores nas pernas e pés. Clinicamente, observam-se as deformidades neuropáticas: dedos em garra ou em martelo, proeminências de metatarsos e acentuação do arco. Traumas ainda podem piorar o quadro, como sapatos inapropriados, presença de objetos nos mesmos, caminhar descalço... precipitando as ulcerações (UPD). Associados as limitações de mobilidade articular aumentam as pressões em áreas plantares e dorsais, dentre outras regiões, favorecendo a ocorrência de calos ulcerações. Doença Renal no Diabético (DRD) A classificação atual da doença renal crônica, independentemente da etiologia, é baseada na taxa de fi ltração glomerular (TFG) e na excreção urinária de albumina (EUA). Tem-se observado uma ampliação de DND por fenótipo de doença renal não albuminúrica, resultado de redução da TFG. Nefropatia diabética deve ser relacionada para pacientes com proteinúria detectável persistente, relacionado em geral à elevação da PA. Com base nos valores crescentes de EUA, a DRD tem sido historicamente classificada em três fases: normoalbuminúria, microalbuminúria e macroalbuminúria. O aumento da EUA é importante fator de risco para eventos coronarianos, e para o desenvolvimento e progressão da DRD. É importante salientar que a tanto a EUA como a TFG são preditores independentes de doença cardiovascular e de mortalidade no paciente com DM2. Tratamento DM Controle Glicêmico O controle glicêmico mais estrito pode prevenir complicações crônicas e mortalidade. Esse controle glicêmico intensivo no DM1 previne o desenvolvimento e a progressão de complicações micro e macrovasculares. Em pacientes DM2 o controle glicêmico previne o desenvolvimento e a complicações microvasculares. Válido destacar que o controle deve ser analisado em conjunto com os fatores de risco CV. Metas*: HbAc1 < 7%, glicemia de jejum entre 70 -130 mg/dL e pós-prandial abaixo de 180 mg/dL. *devem ser consideradas idade/expectativa de vida da pessoa, a duração da doença, e as comorbidades. Alvo menos rigoroso (HbA1c entre 7% e 7,9%) pode ser considerado em casos mais complexos, como pessoas com histórico de hipoglicemias frequentes, doença micro ou macrovascular avançada e/ou dificuldade em obter bom controle glicêmico, apesar da associação de diversas medicações antidiabéticas. Deve-se flexibilizar mais, também, cujo o início da DM2 ocorreu após 60-65 anos, quando for difícil o controle glicêmico, deve-se considerar a potencialidade do controle de outros parâmetros, como peso e PA, ou outros fatores de risco, como sedentariamo e alimentação inadequada. Monitorização da Glicemia É recomendada a monitorização da glicemia capilar três ou mais vezes ao dia a todas as pessoas com DM1 ou 2 em uso de insulina em doses múltiplas. Pessoas com controle pré-prandial, mas HbAc1 elevada monitorização da glicemia capilar 2 hrs após as refeições. Portadores de DM2 em uso de antidiabéticos orais a monitorização periódica não é precisa. A HbAc1 deve ser realizada no início do tratamento e a cada três meses, ou duas vezes ao ano quem possui um bom controle metabólico, para evolução do tratamento. Importante lembrar dos fatores que interferem no HbAc1. A pesquisa de corpos cetônicos na urina (cetonúria), precisa ser aferida em pessoas com DM tipo 1 se a glicemia for maior do que 300 mg/dl, se houver estresse agudo ou sintomas de hiperglicemia/cetose. Não é preciso pesquisa na DM2. Tratamento Não Medicamentoso Hábitos de vida saudáveis são a base do tratamento do diabetes, sobre a qual pode ser acrescido – ou não – o tratamento farmacológico. Seus elementos fundamentais são manter uma alimentação adequada e atividade física regular, evitar o fumo e o excesso de álcool e estabelecer metas de controle de peso. Estratégias cognitivo-comportamentais que promovam mudança de comportamento e aderência às recomendações, bem como programas de educação em saúde que visam à promoção e ao apoio ao autocuidado fazem parte do tratamento do DM e, como tal, a equipe precisa ser instrumentalizada para aplicá-los no seu dia a dia. Tratamento Medicamentoso O tratamento do DM tipo 1, além da terapia não farmacológica, exige sempre a administração de insulina, a qual deve ser prescrita em esquema intensivo, de três a quatro doses de insulina/dia, divididas em insulina basal e insulina prandial, cujas doses são ajustadas de acordo com as glicemias capilares, realizadas ao menos três vezes ao dia. O DM tipo 2, que acomete a grande maioria dos indivíduos com diabetes, exige tratamento não farmacológico, em geral complementado com antidiabético oral e, eventualmente, uma ou duas doses de insulina basal, conforme a evolução da doença. A escolha do medicamento geralmente segue a sequência apresentada a seguir. No entanto, casos com hiperglicemia severa no diagnóstico (>300 mg/dl) podem se beneficiar de insulina desde o início. Antidiabéticos Orais Primeira escolha para o tratamento de DM2 não responsivo a medidas não farmacológicas isoladas, uma vez que promovem, com controle estrito, redução de complicações, tem boa aceitação pelos pacientes, simplicidade de prescrição e levam menor aumento de peso em comparação à insulina. No DM2 obeso, a prioridade é a perda de peso. Caso não se consiga após 4 a 6 semanas controle glicêmico adequado, podem ser indicadas inicialmente drogas que sensibilizam a ação de insulina (biguanida e tiazolidinediona), associadas ou não a drogas anti- obesidade. Caso ainda não se consiga um controle glicêmico satisfatório, podem ser associadas drogas que diminuam a absorção intestinal de glicose (acarbose ou miglitol), ou que aumentem a secreção de insulina (sulfoniluréia, repaglinida ou netaglinida). 01. Biguanidas (Metformina) Pode ser usada como tratamento após 3 meses sem êxito no tratamento não medicamentoso. A metformina melhora a sensibilidade da ação da insulina no fígado, diminuindo a produção hepática da glicose em 10 a 30% e, no músculo, aumentando a captação de glicose em 15 a 40% e estimulando a glicogênese. No adipócito, a metformina inibe a lipólise e a disponibilidade de ácidos graxos livres (FFA). Tem sido descrito que esta droga aumenta o número e melhora a afinidade dos receptores de insulina, tanto no adipócito, quanto no músculo. A nível celular foi demonstrado que a metformina aumenta a atividade da tirosinaquinase do receptor da insulina, estimulando a translocação do GLUT4 e a atividade da glicogênio- sintetase. A secreção de insulina aos estímulos pode permanecer inalterada ou diminuir. Ocorre também melhora do perfil lipídico, com diminuição de 20 a 25% nos níveis de triglicérides e de até 10% do LDL- colesterol, e aumento de até 17% dos níveis de HDL- colesterol, com diminuição de 20 a 30% do fator inibidor de ativação do plasminogênio (PAI-1). Seu efeito anorético auxilia na perda de peso. A outra vantagem é não provocar hipoglicemia, por não estimular a secreção de insulina. 02. Sulfoniluréias (Gliclazida) No DM2, uma das possíveis causa da perda da sensibilidade da célula beta pancreática ao estímulo da hiperglicemia, está na regulação dos canais de KATP. A nível celular, as SU agem inibindo os canais de KATP, despolarizando a célula beta pancreática e estimulando o influxo de Ca 2+ e a secreção de insulina. A curto prazo, as SU aumentam a secreção de insulina, mas a longo prazo (mais de 6 meses), a secreção de insulina pode estar igual ou até diminuída em relação aos níveis iniciais, mas o efeito hipoglicemiante persiste e possivelmente está relacionado aos efeitos extra-pancreáticos (25). Alguns estudos sugerem que elas aumentem o número de receptores de insulina e/ou tenham efeito pós-receptor, facilitando as ações da insulina. Insulina A indicação da insulina no tratamento do DM2 reserva-se para diabéticos sintomáticos, com hiperglicemia severa, com cetonemia ou cetonúria, mesmo recém-diagnosticados, ou para diabéticos que não respondam ao tratamento com dieta, exercício e/ou hipoglicemiante oral, anti-hiperglicemiante ou sensibilizadores da ação de insulina. Naqueles pacientes que têm hiperglicemia pós- prandial, o uso de metformina, acarbose, repaglinida ou nateglinida, pode melhorar o perfil glicêmico, reduzir a dose de insulina e minimizar o aumento depeso. A glicemia 1 a 2h após a refeição se eleva muito. Quando se administra insulina regular ou simples por via subcutânea resulta numa inapropriada hiperinsulinemia (4 a 5h após), a qual aumenta a chance de hipoglicemia interprandial. Os análogos de insulina de ação mais rápida do que a insulina humana diminuem este risco. Cetoacidose A perda profunda de atividade da insulina leva não só a um aumento dos níveis séricos de glicose (aumento do efluxo hepático de glicose e diminuição da captação pelos tecidos), mas leva também à cetogênese. A cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação aguda do Diabetes Mellitus (DM) caracterizada por hiperglicemia, acidose metabólica, desidratação e cetose, na vigência de deficiência profunda de insulina. Ausência de insulina + Excesso de hormônios contrarreguladores (glucagon, cortisol e catecolaminas) lipólise estimulada produção de ácidos graxos livres oxidados no sistema microssomal hepático formação de Acetil-CoA fígado usa para manter suas atividades e o que sobra converte em corpos cetônicos (acetoacetato, B-hidroxibutirato e acetona) pela ação do glucagon sem oposição. *** Como insulina é um hormônio anabólico, sua deficiência favorece processos catabólicos – lipólise, proteólise e glicogenólise. *** O processo de oxidação de AGL é favorecido tanto pela disponibilidade de substrato, como também as vias metabólicas estimuladas. A insulinopenia + glucagon ativam de forma indireta do sistema enzimático carnitina-acil-transferase carreia os AGL do citosol para a mitocôndria dos hepatócitos. Além de ocorrer inibição de enzimas que efetuam/contribuem para lipogênese. A hiperglicemia + cetose é mais comum em DM1 – mais comum em infecções, uso inadequado da insulina ou diagnóstico de DM desconhecido, entretanto, a cetoacidose também pode ocorrer no DM2, durante infecções, traumatismos graves ou outras causas de estresse que cause aumento dos hormônios contrarreguladores, produzindo um estado de inibição profunda da ação da insulina. A CAD é observada ao diagnóstico de DM1 em 3 a 40% dos pacientes diagnosticados com DM1. Recentemente, identificamos que, em nossa população, essa frequência é de 32,8%. É mais recorrente no sexo feminino, e caso o tratamento seja iniciado precocemente tem grandes chances de reverter o quadro. Nos últimos anos a taxa de mortalidade vem caindo, mas há uma observação que a mortalidade aumenta de acordo com a faixa etária, podendo chegar em até 50% dos idosos maiores de 80 anos. Quadro Clínico da Cetoacidose Antes da CAD pode ser observado poliúria, polifagia, polidipsia e cansaço, com sinal de disfunção metabólica. Com a instalação da CAD observa-se anorexia, náuseas e vômitos que podem agravar a desidratação. Cefaleia, mal-estar, parestesia e dor abdominal são comuns. A dor abdominal é presente em 30% dos pacientes, podendo ser causada por estase gástrica e distensão. Alterações do nível de consciência podem ocorrer, embora coma só ocorra em cerca de 10% dos pacientes. O aumento da cetogênese por falta grave da insulina, acarreta em um aumento dos níveis séricos de cetonas e cetonúria. Acredita-se que a insulinopenia diminua a afinidade das células em utilizar cetonas. Por serem ácidos orgênicos, os corpos cetônicos diminuem o pH sanguíneo e o bicarbonato sérico. Quando o nível do pH é mais baixo que 7,20, ocorrem respirações rápidas, profundas, características (respiração de Kussmaul). Com a redução do pH a afinidade da Hb com o O2 diminui (efeito Bohr), dessa forma, haverá o desligamento desse complexo e a ação taquipneia para compensar o quadro. A taquipneia também será um fator importante para diminuição do pH sanguíneo por diminuir o pCO2. Embora acetona seja um produto menor da cetogênese, seu odor de frutas pode ser detectado no hálito durante a cetoacidose diabética. A presença de ânions cetoácidos na CAD causa aumento no ânion gap (diferença entre cátions e ânions mensurados). Ánion gap (mEq/L) = (Na + + K + ) - (Cl - + HCO3 - ) A diminuição do anion gap ao longo do tratamento, com persistência da acidose, pode indicar acidose hiperclorêmica (por sobrecarga de cloreto administrado com a solução salina a 0,9%). Desidratação celular profunda ocorre em resposta ao aumento acentuado da osmolalidade do plasma. Uma perda acentuada de líquido intracelular no encéfalo leva ao coma. O coma acontece quando a osmolalidade efetiva do plasma atinge 330 mOsm/L. Consequências da Cetoacidose Hiponatremia: Além de água, Na+ é perdido durante a diurese osmótica que acompanha a cetoacidose diabética. Portanto, o Na+ corporal total é exaurido. Os níveis séricos de Na+ geralmente são baixos devido à atividade osmótica da glicose elevada, que puxa água para dentro do espaço extracelular e, dessa forma, diminui a concentração de Na+. Alterações de concentração de sódio apresentam maior importância em crianças, já que nestes indivíduos há maior tendência a desenvolvimento de edema cerebral por hiponatremia. Hipocalemia e Hipercalimia Os estoques corporais totais de K+ também são exauridos por diurese e vômitos. Contudo, acidose, insulinopenia e níveis elevados de glicose causam um desvio de K+ para fora das células, mantendo níveis séricos de K+ normais ou mesmo elevados até que acidose e hiperglicemia sejam corrigidas. Com administração de insulina e correção da acidose, o K+ sérico cai à medida que K+ se move de volta para dentro das células. Sem tratamento, o K+ pode cair a níveis perigosamente baixos, levando a arritmias cardíacas potencialmente letais. O hiperaldosteronismo secundário relacionado à depleção de sódio e a presença de cetoácidos de carga negativa no líquido tubular aumentam ainda mais as perdas urinárias de potássio. Por isso, suplementação de K+ é administrada rotineiramente no tratamento da CAD. Depleção de Fosfato A depleção de fosfato acompanha a cetoacidose diabética, embora acidose e insulinopenia possam causar a normalização dos níveis séricos de fósforo antes do tratamento. A reposição de fosfato só é fornecida em casos de depleção extrema, dados os riscos da administração de fosfato. (O fosfato intravenoso pode complexar com Ca2+, resultando em hipocalcemia e depósito de fosfato de Ca2+ em tecidos moles). Hipertrigliceridemia Pode acompanhar a CAD devido a alta produção e depuração diminuída de VLDL que ocorre em estados de deficiência de insulina. Esse quadro é devido o fluxo aumentado de AG, os quais além de servirem como fontes de energia, desencadeiam um aumento na secreção de VLDL; produção de VLDL aumentada pela perda de efeitos inibidores da insulina sobre proteínas necessárias para a montagem da molécula; depuração diminuída pela atividade reduzida lipase lipoproteica. A hipertrigliceridemia pode interferir em alguns procedimentos comuns usados para dosar Na+ sérico. Diagnóstico da Cetoacidose O diagnóstico definitivo de CAD consiste em demonstrar a presença de hiperglicemia (acima de 250 mg/dl), acidose metabólica (pH < 7,2 e bicarbonato < 15 mEq/L) e cetonemia (ou cetonúria). Tratamento Cetoacidose A CAD leve a moderada pode ser tratada fora de unidade intensiva. Casos mais graves devem ser conduzidos em CTI. A CAD pode ser classificada quanto à gravidade com bicarbonato sérico, PA, ânion gap, excesso de base e osmolaridade sérica. No geral a CAD é tratada por reposição de água e eletrólitos (Na+ e K+) e administração de insulina. Com a reposição de líquidos e eletrólitos, a perfusão renal é aumentada, restaurando a depuração renal da glicose sanguínea elevada, e a produção de hormônios contrarreguladores é diminuída, reduzindo a produção hepática de glicose. Essa ação se dá concomitante a administração de insulina, que reduz a hiperglicemiapela maior captação de glicose e reduzir o efluxo hepático e reduzindo a gliconeogênese. A reidratação será importante para o reajuste da osmolaridade sanguínea. A terapia com isulina na ausência de reposição de líquidos e eletrólitos haverá uma correção da glicemia, que levará água também para dentro da célula, mas causará um colapso vascular, por hipotensão/hipovolemia. Risco x Benefício do Exercício Físico no DM É sabido que o exercício físico previne DM2, principalmente para grupos de riscos, como obesos e pessoas com AF+. Por outro lado, um diabético apresenta menor condição aeróbica, menor força muscular e menos flexibilidade, e isso decorre das alterações metabólicas e suas consequências, assim como a menor capilarização tipicamente observado no diabético. Desse modo, diabéticos fisicamente ativos e/ou com bom condicionamento aeróbico, melhor prognóstico. Ao comparar diabéticos sedentários com sedentários não portadores de DM, observa-se que os diabéticos têm menores consumos máximos de oxigênio, débito cardíaco e capacidade de extração tecidual de oxigênio, refletida por uma menor diferença arteriovenosa da oxigênio para exercícios submáximos e máximos. O exercício físico além de atuar na perda de peso, ajuda na sensibilidade insulínica, redução da glicemia, melhor respostas dos transportadores de glicose, maor capilarização nas células musculares esqueléticas e melhor função mitocondrial. Estudos mostram que a melhor hora para o exercício para o diabético é 30 minutos após uma refeição, pois utilizará a glicose ingerida como substrato energético, evitando hiperglicemia pós- prandial. O maior problema da prescrição do exercício para o diabético é o tipo de exercício apropriado, frequência e a hipoglicemia gerada, durante, logo depois ou horas depois do exercício. O fenômeno de hipoglicemia é mais prevalente no DM1 ou pacientes dependente de insulina ou de medicamentos que estimulem ela (sulfonilureias), devendo sempre ter um bom monitoramento glicêmico ao longo do dia. Por isso é sempre bom um diabético levar uma fonte de carboidrato imediata quando for realizar exercícios. Se a hhiperglicemia pré-exercício for observada em paciente hidratado, assintomático, sem cetose e em período pós-prandial, o exercício é indicado e reduz a glicemia; agora, se ouver cetose e hiperglicemia (> 250mg/dL), o exercício esta´ra contraindicado pelo maior risco de cetoacidose diabética (aumento da lipólise e formação de corpos cetônicos, além da hiperglicemia por gliconeogênese). Desidratação A desidratação ocorre quando a perda de água é maior que a sua reposição. Isso pode acontecer em qualquer pessoa, mas as crianças e os idosos são mais susceptíveis a ela. Geralmente a depleção de água se faz acompanhar pela perda de sais minerais nela diluídos, sobretudo sódio e potássio, gerando um desequilíbrio eletrolítico. Dependendo da relação entre a perda de água e de eletrólitos, a desidratação é chamada isotônica, hipertônica ou hipotônica. - Desidratação isotônica: a água e os sais minerais são perdidos em proporções equivalentes às que existem no organismo. Isso acontece nos vômitos e diarreias, por exemplo, nos quais não se produz uma transferência de água do meio intracelular para fora das células. Frequentemente, é o tipo de desidratação encontrada em crianças pequenas. - Desidratação hipertônica: a perda de água é proporcionalmente maior que a perda de eletrólitos, como ocorre na falta de ingestão de água, sudação excessiva, diurese osmótica e uso de diuréticos. Nesses casos há transferência de água intracelular para os espaços extracelulares. É comum em diabéticos e em algumas crianças com diarreia. - Desidratação hipotônica: também chamada de hiponatremia. Proporcionalmente são perdidos mais sais que água, como nos casos de transpiração muito elevada, perdas gastrointestinais ou quando a reposição é feita só com água, sem sais. Nesse caso, ocorrerá transferência de líquido extracelular para dento da célula. Ocorre em alguns casos pediátricos com diarreias. Referências http://files.bvs.br/upload/S/1983- 2451/2011/v36n3/a2664.pdf https://eg.uc.pt/bitstream/10316/79614/1/M onografia%20Ivo%20Barreiros.pdf https://www.diabetes.org.br/profissionais/ima ges/docs/DIRETRIZES-SBD-2015-2016.pdf https://www2.ufjf.br/neurologia/2018/12/11/ escala-de-coma-de-glasgow-importancia-e- atualizacao-de-2018/ https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104- 42301999000200015&script=sci_arttext&tlng= pt https://www.scielo.br/pdf/abem/v51n9/03.pd f https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar ttext&pid=S0004-27302000000600011 http://files.bvs.br/upload/S/1983-2451/2011/v36n3/a2664.pdf http://files.bvs.br/upload/S/1983-2451/2011/v36n3/a2664.pdf https://eg.uc.pt/bitstream/10316/79614/1/Monografia%20Ivo%20Barreiros.pdf https://eg.uc.pt/bitstream/10316/79614/1/Monografia%20Ivo%20Barreiros.pdf https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/docs/DIRETRIZES-SBD-2015-2016.pdf https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/docs/DIRETRIZES-SBD-2015-2016.pdf https://www2.ufjf.br/neurologia/2018/12/11/escala-de-coma-de-glasgow-importancia-e-atualizacao-de-2018/ https://www2.ufjf.br/neurologia/2018/12/11/escala-de-coma-de-glasgow-importancia-e-atualizacao-de-2018/ https://www2.ufjf.br/neurologia/2018/12/11/escala-de-coma-de-glasgow-importancia-e-atualizacao-de-2018/ https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-42301999000200015&script=sci_arttext&tlng=pt https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-42301999000200015&script=sci_arttext&tlng=pt https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-42301999000200015&script=sci_arttext&tlng=pt https://www.scielo.br/pdf/abem/v51n9/03.pdf https://www.scielo.br/pdf/abem/v51n9/03.pdf https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302000000600011 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302000000600011
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