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A escolha do tratamento depende: 1. Inicialmente, do diagnóstico de um tumor sólido; 2. Caracterizar o tipo de tumor através da biópsia; 3. Estadiamento, que vai variar conforme a localização e tipo oncológico (clínica ou exames de imagem); Crescimento inicialmente restrito → invasão dos tecidos locais → disseminação e destruição de órgãos vizinhos → disseminação regional e sistêmica. T: tamanho N: disseminação para os linfonodos regionais M: metástase Estadiamento patológico a partir de peças cirúrgicas. 4. Exames gerais que indiquem o estado do paciente, comorbidades e marcadores relacionados ao tipo de tumor. Após o diagnóstico e estadiamento, é possível definir se o tumor é ressecável ou não através de processo cirúrgico. NEOADJUVANTE: quando um tratamento é adm antes de outro definitivo (cirurgia) e busca diminuir as chances de recidiva e/ou aumentar o sucesso na cura. ADJUVANTE: quando o tratamento é administrado após a cirurgia de retirada. No caso de tumores disseminados ou quando o tumor não é ressecável, a cirurgia deixa de ser uma opção e são avaliadas outras modalidades de tratamento: a) SISTÊMICOS: quimioterapia b) LOCAIS: radioterapia • TRATAMENTO LOCAL ➢ CIRURGIA A mais antiga modalidade de tratamento; iniciou-se com William Stuart Halsted, que propôs e idealizou uma cirurgia que consistia na mastectomia radical (retirada dos músculos peitorais, gânglios linfáticos e a mama) como tratamento para o CA de mama. Através da evolução de outros tratamentos, como quimio, radio e hormonioterpia e dos exames de imagem, vêm aumentando as possibilidades de cirurgias cada vez mais conservadoras e com taxa de sucesso similares às radicais. O melhor conhecimento da história natural das diferentes neoplasias e de seus respectivos padrões de metastização permitiu o emprego de técnicas minimamente invasivas e o desenvolvimento de cirurgias laparoscópicas e de avaliação de linfonodos sentinelas. A era moderna da cirurgia foi precedida por dois acontecimentos importantes. O primeiro foi a aplicação da anestesia inalatória com éter por John Collins Warren, em 1846, e a segunda foi a introdução de técnicas de assepsia por Joseph Lister, em 1867. Esses avanços aumentaram consideravelmente a amplitude e a extensão das cirurgias de câncer. 90% dos pacientes com Câncer requerem cirurgia em algum momento: o Diagnóstico de tumores o Tratamento de tumores sólidos o Tratamento de complicações ❖ PLANEJAMENTO PRÉ-OPERATÓRIO A abordagem ao tratamento do câncer é exclusiva para cada doença cirúrgica. Muitas vezes, as doenças apresentam-se de uma maneira que o exame físico, a informação diagnóstica limitada e a avaliação do médico fornecem informações suficientes para orientar a intervenção cirúrgica. Antes de qualquer intervenção cirúrgica, existe um período de planejamento em que todas as informações adequadas são meticulosamente recolhidas e processadas, antes de se iniciar o tratamento. ❖ DIAGNÓSTICO POR IMAGEM Os achados de imagem frequentemente vão influenciar a estratégia de tratamento e a ordem em que as diferentes terapias serão aplicadas. A imagem seriada é utilizada para avaliar a resposta durante o curso do tratamento e na vigilância de recorrência da doença após o tratamento ser concluído. Para o cirurgião, os achados radiográficos fornecem a base para a avaliação da ressecabilidade do tumor e o planejamento da extensão da operação. Há inúmeros exemplos em que a imagem de local específico adicional é valiosa. Para o câncer de pâncreas, a tomografia computadorizada de alta resolução, a colangiopancreatografia por ressonância magnética e a ultrassonografia endoscópica podem prever com precisão o envolvimento vascular e influenciam significativamente a decisão a favor ou contra da cirurgia. Todas as modalidades de diagnóstico por imagem são invocadas fortemente na tomada de decisão cirúrgica, e o cirurgião deve estar familiarizado com as indicações para cada modalidade de imagem e ser experiente na interpretação dos exames. ❖ AVALIAÇÃO ENDOSCÓPICA A endoscopia desempenha um papel diagnóstico importante e cada vez mais terapêutico no tratamento do câncer. Trata-se de um dos principais meios de obtenção de biópsias de tumores gastrintestinais. A ultrassonografia endoscópica é utilizada no estadiamento de cânceres de esôfago, estômago e reto. A ultrassonografia endoscópica é extremamente sensível na localização de tumores no pâncreas e pode ser utilizada para orientar biópsias com agulha para fins de diagnóstico. No câncer colorretal, a avaliação endoscópica é importante para a obtenção de diagnóstico do tecido e para a detecção de lesões síncronas. ❖ ESTADIAMENTO LAPAROSCÓPICO A laparoscopia é utilizada principalmente no estadiamento de neoplasias malignas gastrintestinais e ginecológicas. Às vezes, ela é usada para obter o tecido para análise patológica, a fim de ajudar com os dilemas de diagnóstico. Esse cenário é frequentemente observado com linfoma. ❖ ESTABELECIMENTO DE DIAGNÓSTICO DO TECIDO Com poucas exceções, um diagnóstico de tecido consistente é obrigatório antes do início da terapia para a maioria dos tumores malignos. Mesmo quando relatórios patológicos externos estão disponíveis, todos os esforços devem ser feitos para obter o tecido para análise na instituição onde o tratamento deve ser administrado. ❖ PRINCÍPIOS DA CIRURGIA Finalidade tanto curativa (tem como propósito a cura e o aumento da sobrevida) quanto paliativa (estágios mais avançados e sua finalidade depende de alterações, como dor por compressão de nervos até obstrução de órgãos). Algumas classificações: R0: ressecção curativa – aquela na qual todo o tumor é retirado e suas margens são microscopicamente livres da lesão. R1: procedimentos com macroscópicas livres, mas microscópicas comprometidas. R2: ressecção com doença macroscópica residual. D1: quando apenas as cadeias primárias linfonodais são removidas. D2: cadeias secundárias são removidas. D3: cadeias terciárias são removidas. Na teoria, considerando a disseminação linfática, a ressecção de linfonodos negativos depois da última cadeia comprometida irá propiciar mais segurança em relação à retirada completa da doença. Normalmente D2 é considerada radical. Diagnóstico: PAAF, linfonodo sentinela, biópsia por agulha fina. Estadiador: laparoscopia, laparotomia, linfonodo sentinela. Profilático: mastectomia em portadores da mutação germinativa BRCA-1 ou colectomia na polipose adenomatosa familiar. ❖ TIPOS DE CIRURGIA Cirurgia Radical (Curativa): remoção completa do tumor com margem adequada associada a remoção da área de drenagem linfática locorregional, quando indicada. Cirurgia Radical Ampliada: Além da cirurgia clássica, remove-se, em monobloco, parte ou a totalidade de um ou mais órgãos, e/ou estruturas, que se pressupõe macroscopicamente comprometidas pelo tumor. Cirurgia Citorredutora: redução do volume do tumor primário ou sítios de metástases. Melhorar efeito de QT adjuvante. Cirurgia Paliativa: evidência de doença após a cirurgia (tumor irressecável, ressecção incompleta, doença metastática não ressecável) o melhorar a função o evitar complicações da progressão da doença o viabilizar alternativas de tratamento o melhorar qualidade de vida. Cirurgia das Metástases: Curativa o tumor primário controlado o ressecção completa da(s) metástase(s) o Paliativa o melhorar sintomas. Cirurgia de Urgência: evitar piora clínica e óbito por complicação relacionada ao tumor ou ao tratamento o obstrução o hemorragia o perfuração o “infecção” ❖ AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA O cirurgião tem a responsabilidade suprema de oferecer ou não a terapia cirúrgica de câncer e essa decisão depende de determinar se os benefícios da cirurgia compensam o potencial de morbidade e mortalidade. Esse é um processo altamente complexoe inexato. A avaliação inicial inclui um exame geral de saúde do paciente. Em segundo lugar, o cirurgião deve ter uma compreensão completa da história natural da neoplasia maligna de apresentação. Os padrões de disseminação, a taxa de crescimento, a probabilidade de ressecção curativa, devem ser considerados. Finalmente, o cirurgião deve ter igualmente em conta o risco do procedimento proposto e ter uma compreensão do que será necessário para o paciente durante a cirurgia. Os relatos da maioria das séries cirúrgicas incluem uma descrição dos desfechos de sobrevida, complicações operatórias e mortalidade. Essa informação, combinada ao conhecimento do estado de saúde geral do paciente, fornece uma estimativa razoável dos riscos e benefícios de qualquer tratamento cirúrgico. ❖ PLANEJAMENTO MULTIDISCIPLINAR Nos últimos 30 anos, tem havido progresso constante em termos de avanços de cirurgia, radioterapia e terapia sistêmica. O oncologista cirúrgico deve compreender os inconvenientes e as complicações associados à quimioterapia e à radioterapia, no que se refere ao paciente cirúrgico . O oncologista cirúrgico é plenamente empenhado, desde o início dos exames de diagnóstico até a vigilância pós-tratamento de câncer. ❖ TERAPIA NEOADJUVANTE A terapia neoadjuvante refere-se à quimioterapia ou à radioterapia administrada ANTES da cirurgia. Isso tem aplicação no tratamento de uma variedade de neoplasias malignas, como câncer esofágico, câncer gástrico, sarcomas, câncer de mama, metástases hepáticas colorretais e câncer retal. As vantagens potenciais incluem facilitar as cirurgias, minimizando a extensão da ressecção necessária, e melhorando o controle local e a sobrevida. Tanto a quimioterapia quanto a radioterapia neoadjuvantes podem reduzir o estágio do tumor. Tal fato tem os benefícios potenciais de facilitar a ressecção final, limitando a extensão da ressecção e possibilitando a preservação de nervos, vasos sanguíneos e órgãos adjacentes. ➢ RADIOTERAPIA Finalidade de utilizar radiações ionizantes no tratamento de tumores malignos e, ocasionalmente, de tumores benignos. Seu objetivo é destruir células tumorais pela deposição de uma dose precisa de irradiação no volume alvo a ser tratado, com mínimo dano aos tecidos normais vizinhos. Método que atua local ou regionalmente na área do tecido acometido pela neoplasia e que se vale de equipamentos e técnicas variadas para irradiar áreas do organismo humano, procurando administrar radiação em um volume limitado e definido, denominado volume-alvo, e tentando poupar ao máximo os tecidos saudáveis próximos. Pode ser utilizada em associação com cirurgia e quimioterapia ou de forma exclusiva. A história da radiação ionizante é relativamente recente. O físico Wilhelm Conrad Roentgen descobriu os raios-X em 1895, enquanto trabalhava com um tubo de raios catódicos na Universidade de Wuerzburg, Alemanha. Esses raios-X possuíam a capacidade de atravessar diversos materiais, incluindo tecidos humanos, mas eram parados por objetos metálicos e ossos. Pouco tempo depois, os novos raios já eram utilizados nos campos de batalha, auxiliando os médicos de campanha a localizar balas alojadas em soldados feridos. Henri Becquerel descobriu, de maneira acidental, uma nova forma de irradiação, inicialmente denominada “raios Becquerel”, com capacidade de penetrar alumínio e cobre, partindo de sais de urânio em repouso. Pela descoberta da radioatividade espontânea, Becquerel recebeu o prêmio Nobel de Física em 1903. Esse prêmio foi divido com Pierre e Marie Curie, que, em suas pesquisas isolaram, entre outras substâncias radioativas, o rádio – o material com a maior radioatividade espontânea que todos os outros até então. Apesar de muitas controvérsias e diversos relatos, a primeira pessoa a utilizar irradiação no tratamento de lesões cancerosas foi Emil Grubbé, um médico de Chicago, Estados Unidos, que empregou os raios recém- descobertos por Roentgen na tentativa de controlar um câncer de mama recidivado após cirurgia, em janeiro de 1896, e acabou recebendo o título histórico de “primeiro radio-oncologista” do mundo. Os pacientes eram tratados no início do século passado – uma única dose intensa de radiação, geralmente com 1 hora de duração, e com terríveis efeitos colaterais. Após uma sugestão, inicialmente considerada controversa, em 1914, de que o tratamento poderia funcionar melhor se “fracionado”, apenas em 1922 foi comprovado que múltiplas pequenas doses de radiação são tão efetivas quanto o tratamento em dose única, porém com menos efeitos secundários. Iniciaram-se, dessa maneira, os estudos radiobiológicos, ou dos efeitos das radiações ionizantes (por exemplo, aquelas que causam ejeção de elétrons orb itais do átomo/molécula do meio irradiado) sobre o tumor e tecidos normais de pacientes com câncer, ganhando força nos anos 1950 e formando a base da radiobiologia moderna. ❖ TIPOS DE RADIOTERAPIA A radioterapia pode ser classificada em diferentes tipos, dependendo da posição da fonte de radiação em relação ao paciente. Braquiterapia: O equipamento que aplica a radiação está em contato direto com o tecido onde se localiza o alvo, por exemplo implantes utilizados no tratamento de tumores em região de difícil acesso, como tumores de próstata e ginecológicos. Devido à proximidade, altas doses podem ser aplicadas em pequenas distâncias, o que preserva razoavelmente os tecidos próximos. A administração pode ocorrer em BTD (baixa taxa de dose), realizada em alguns dias, ou ATD (altas taxas de doses), sendo administrada em poucos minutos. Com a colocação de fontes de radiação próximas ao tumor, ocorre uma queda brusca da dose fora do volume alvo e, com isso, o volume da irradiação em doses mais elevadas se limita a uma pequena área, menor do que aquela irradiada pela fonte externa de radiação, ou teleterapia. Assim, os efeitos da radiação ocorrem particularmente no volume alvo reduzindo a quantidade de irradiação dos tecidos normais e, consequentemente, a toxicidade relacionada a esse tratamento. A desvantagem é que a braquiterapia pode ser utilizada apenas em casos de tumores pequenos e bem localizados. Por esse motivo, muitas vezes, a braquiterapia é utilizada como complementação de dose à radioterapia externa, aumentando, assim, a dose de irradiação em uma área específica e limitada. O material normalmente utilizado na braquiterapia são isótopos radioativos. Alguns dos isótopos utilizados são: irídio-192, iodo-125, paládio-103, césio-137, e ouro-198. A principal forma de irradiação utilizada em braquiterapia são fótons. Teleterapia ou radioterapia externa: Nessa modalidade há uma certa distância entre a fonte emissora e o alvo, ficando a cerca de 1m do volume em que a radiação irá ser administrada. Atualmente é o tipo mais usado no tratamento clínico. O termo teleterapia (do grego tele, distante) refere-se ao posicionamento da fonte de radiação longe do tumor, fora do corpo do paciente e, por isso, também é chamado radioterapia externa. É utilizado em tratamentos com finalidade curativa e paliativa. O feixe de radiação ionizante pode ser manipulado e focalizado à região de interesse de forma a tratar o tumor com altas doses e, ao mesmo tempo, proteger os tecidos normais adjacentes. Fótons e elétrons são os tipos de radiação mais utilizados na radioterapia externa atualmente. Essa evolução tecnológica culminou com o desenvolvimento de equipamentos extremamente sofisticados, com precisão milimétrica, para o tratamento radioterápico. Isotopoterapia: isótopos radioativos que tenham tropismo por determinados tecidos são administrados por via oral ou venosa. O uso de iodo radioativo (I-125) em neoplasia da tireoide é o exemplo mais conhecido. Essa modalidade não é considerada como pertencente à especialidade da radioterapia. ❖ TEMPO DE TRATAMENTO A dose diária de radiaçãoé de 180 a 200 Centigrays/dia e o tempo médio de tratamento varia de 4 a 5 semanas. Apesar disso, intervalos de tempo com doses maiores ou menores são possíveis. A variação das doses se relaciona com a finalidade do tratamento, o tipo histológico do tumor e sua localização. O número máximo de campos expressa a MAIOR DOSE POSSÍVEL para determinada área. Doses maiores que máxima são PERMITIDAS em algumas situações como prevenir ou diminuir hemorragias e dores, desde que os pacientes sejam considerados incuráveis ou terminais. No geral, irradiações de grandes áreas não são permitidas ou então são evitadas. Uma exceção a isso seria a irradiação de corpo inteiro pré-transplante de medula óssea. ❖ EFEITOS DA IRRADIAÇÃO Interação da radiação com a matéria: Os efeitos biológicos da radioterapia ocorrem por meio da deposição de energia da radiação ionizante nos tecidos irradiados, com consequente quebra do DNA, das células tumorais e também das células normais. Essa quebra pode ser de dois tipos: 1. DIRETO: respondendo por cerca de 30% do efeito biológico e provoca alterações estruturais diretamente na célula. A radiação incidente (fótons, elétrons, nêutrons e prótons), ou os elétrons do meio, que são colocados em movimento pela radiação ionizante incidente, atingem e danificam o DNA celular. 2. INDIRETO: produz radicais livres a partir da água dentro das células, como a hidroxila. Esse mecanismo é o principal meio de dano que produz o efeito desejado na radioterapia. Ocorre quando os elétrons colocados em movimento promovem a hidrólise da água, o principal constituinte do corpo humano. Tais alterações nas moléculas de água levam à formação de radicais livres (H2 O ↔ H+ + OH-), principalmente o radical hidroxil (OH-), que reagirão com o DNA celular, danificando-o e podendo causar diversas alterações. • quebra da hélice de DNA: pode ser de uma única hélice ou de ambas as hélices de DNA. A primeira pode ocorrer na ponte fosfodiéster ou na ponte entre a base e o açúcar, e a maioria delas é causada pelos radicais hidroxil. A de dupla hélice é diretamente proporcional à dose de radiação e é, em geral, a responsável pela morte celular radioinduzida, apesar de nem todas as quebras da dupla hélice serem necessariamente letais; • modificações dos pares de bases: a radiação pode causar excisão, danificação ou destruição de bases do DNA, sendo as pirimidinas (T, C) mais sensíveis que as purinas. Têm significado biológico menos importante que o dano provocado na hélice de DNA. Entretanto, nem todo dano ao DNA leva à morte celular, e o sucesso terapêutico (também chamado de “índice terapêutico”) é uma equação entre morte e sobrevivência de células tumorais versus células normais As células, tanto saudáveis quando tumorais, são mais propensas à lesão do DNA durante a mitose ou divisão ativa. Devido a isso, ambas podem sofrer morte celular com a radioterapia. No entanto, as células saudáveis são capazes de reparar as lesões decorrentes de pequenas doses de radiação. Isso traz certa seletividade no tratamento do câncer com essa terapia. O ciclo celular pode ser longo ou curto, e a fase G1 com sua duração é o fator que diferencia esse tempo, pois as demais fases têm durações semelhantes em diferentes tipos de células. G1 é considerada uma fase radiorresistente e as células cancerígenas tem um período G1 menor, assim, em uma aplicação de radioterapia, espera-se que existam mais células neoplásicas em fase radiossensível do que células normais. Diante disso, são propostos 5 “R” que guiam na duração e intensidade do tratamento: 1. Reparo: A frequência com que as aberrações cromossômicas letais ocorrem é uma função linear quadrática da dose de radiação e, portanto, diretamente proporcional ao aumento da dose utilizada no tratamento. 2. Redistribuição: Quando uma população de células é exposta a doses citotóxicas de radiação, a maioria das células que morre é aquela localizada nas fases mais radiossensíveis do ciclo celular (por exemplo, final de G2 e M). A progressão das células sobreviventes dentro do ciclo celular ocorre de forma mais sincronizada em relação às fases do ciclo, após a morte das células que se encontravam nas fases mais sensíveis do ciclo durante a fração anterior de radiação. Teoricamente, com doses diárias de radiação, um número crescente de células tumorais se sincroniza, de forma a alcançar as fases sensíveis durante a próxima fração, aumentando a morte celular. 3. Repopulação: É o aumento no número total de células baseado na multiplicação celular de células tronco (stem cells) ou clonogênicas, compensando a morte celular radioinduzida durante o tratamento fracionado. O fracionamento da dose total de radiação permite que a repopulação, também conhecida como regeneração, dos tecidos normais irradiados ocorra de modo a evitar alguns dos efeitos secundários severos e limitantes. O início da repopulação e a velocidade com que esta ocorre dependem do tipo de tecido irradiado. Em tecidos de resposta precoce, como mucosas e pele, o início da repopulação é rápido, podendo levar de horas a dias após a i rradiação, dependendo do tempo necessário para diferenciação celular. Ao mesmo tempo, as células tumorais também passam por um processo de repopulação como resposta à irradiação que, da mesma forma que as células normais, aparenta estar relacionado a um aumento no índice de proliferação das células clonogênicas. Essa repopulação tumoral é chamada acelerada quando o índice de proliferação durante o tratamento é maior do que aquele apresentado antes do tratamento. Nesses casos, mesmo que o tumor apresente uma regressão inicial adequada durante a irradiação, uma repopulação tumoral rápida estimulada pelo próprio tratamento pode reduzir suas chances de cura completa, dependendo do tempo total de tratamento. 4. Reoxigenação: O oxigênio é um potente radiossensibilizador, aumentando a efetividade de uma dose de radiação em duas ou três vezes, em comparação aos tecidos hipóxicos. Células tumorais hipóxicas são, em geral, mais resistentes à radioterapia. O oxigênio fixa o dano promovido pelos radicais livres, impedindo seu reparo imediato, ocasionando com isto um aumento da mortalidade celular. Reoxigenação é o fenômeno por meio do qual as células tumorais hipóxicas têm sua oxigenação melhorada depois que uma ou mais frações de irradiação provocam a morte de células com oxigenação normal, geralmente mais periféricas ou próximas de capilares sanguíneos. Consequentemente, as células antes consideradas radioresistentes se tornam radiossensíveis devido à normalização de seus níveis de oxigênio. 5. Radiossensibilidade: indica a chance da erradicação de todas as células tumorais que possam originar um novo tumor e está relacionada à radiossensibilidade celular ou intrínsica das células constituintes do tumor, sendo independente dos demais “R’s” radiobiológicos. Em termos práticos, durante o tratamento radioterápico, objetiva-se o maior dano celular tumoral possível ao mesmo tempo que se poupam as células dos tecidos normais dos efeitos letais da radiação. Um tratamento favorável, ou o sucesso terapêutico, ocorre quando a resposta tumoral é maior do que a resposta dos tecidos normais à mesma dose – nesse caso, há um “índice terapêutico” alto. Assim, uma dose ideal de irradiação é aquela que maximiza a diferença entre o maior controle tumoral e o menor dano aos tecidos normais. ❖ ETAPAS DE UM TRATAMENTO DE RADIOTERAPIA Objetivo do tratamento: A radioterapia pode ser usada com intenção curativa, paliativa e profilática. O tratamento CURATIVO é reservado para os tumores localizados, tanto benignos como malignos. A radioterapia curativa pode ser utilizada como modalidade única de tratamento ou combinada com cirurgia (antes ou depois da cirurgia) ou quimioterapia (de forma sequencial ou concomitante). O tratamento PALIATIVOé usado com o objetivo de controlar sintomas do paciente, visando melhorar sua qualidade de vida. Em raras situações, o tratamento paliativo pode levar a um aumento da sobrevida. O tratamento PROFILÁTICO é utilizado com o intuito de controlar possível doença subclínica fora do sítio primário do tumor como, por exemplo, na irradiação profilática do cérebro em pacientes com tumores de pequenas células do pulmão. Doses: De acordo com o Sistema Internacional de Unidades, a dose de radiação absorvida por um meio é expressa em gray (Gy), que corresponde a J/kg, isto é, a quantidade de radiação necessária para depositar 1 joule (J) de energia em 1 quilo de matéria. As doses de irradiação a serem utilizadas em um determinado tratamento dependem de diversos fatores como, por exemplo, finalidade do tratamento, tipo histológico do tumor, localização do tumor, tecnologias de planejamento e tratamento disponíveis, além de fatores relacionados à prática da oncologia em uma determinada localização geográfica, evidências clínicas no tratamento do mesmo tipo de tumor e utilização de tratamento sistêmico concomitante. As doses de radiação mais comumente utilizadas nos tratamentos paliativos mais comumente utilizados são de 8 Gy em 1 fração, 20 Gy em 5 frações diárias, ou 30 Gy em 10 frações diárias. Já tratamentos curativos utilizam uma gama maior de doses e esquemas de fracionamento. Convencionalmente, a utilização de doses diárias de 1,8 ou 2 Gy por fração, realizadas cinco vezes por semana, é conhecida como “fracionamento convencional”. Classicamente, doses diárias de 1,2 a 1,5 Gy são realizadas duas vezes por dia. Dessa maneira, a dose total de radiação é aumentada, mas a tolerabilidade dos tecidos normais é preservada devido às menores doses diárias empregadas. Planejamento: O planejamento de todo tratamento radioterápico inicia-se com a definição das áreas a serem tratados. Independentemente da forma de planejamento utilizada, é necessário que três volumes- alvos sejam definidos: • GTV (gross tumour volume): volume de tumor “grosseiro”, ou aquele que pode ser visualizado ao exame físico ou com o auxílio de técnicas de imagem diagnóstica (tomografia, ressonância magnética etc.) ou palpado durante o exame físico; • CTV (clinical target volume): volume de alvo clínico. Margem ao redor do GTV que engloba a doença não visível ou palpável, mas com elevada chance de conter doença microscópica, sabendo-se da história natural da doença em questão. Por exemplo, a inclusão das cadeias linfáticas por possível envolvimento microscópico faz parte do CTV; • PTV (planning target volume): volume de alvo de planejamento. Margem ao redor do CTV que leva em consideração as incertezas do tratamento, como erros de posicionamento e movimentação de órgãos. O planejamento do tratamento radioterápico sempre se baseia em imagens para localizar adequadamente a área a ser tratada e para a proteção de tecidos normais . A simulação virtual baseada em raios-X ou fluoroscopia é conhecida como planejamento 2D – nessa situação, tecidos moles não são visualizados ou são visualizados com o auxílio de contraste (intravesical, endorretal e deglutição de contraste), e o tratamento acaba por englobar uma quantidade maior de tecidos normais para evitar erros de localização, o que limita a dose total a ser utilizada no tratamento de tumores próximos a estruturas sensíveis. Como mencionado, com a popularização da TAC e da ressonância magnética, e com a evolução dos computadores e sistemas de planejamento, tornou- -se possível realizar planejamentos radioterápicos baseados na segmentação e reconstrução em 3D do alvo a ser irradiado, bem como das estruturas normais adjacentes a serem protegidas. Esse tipo de planejamento originou a radioterapia conformacional 3D (3D-CRT), dando início aos tratamentos com maior liberdade de angulação e melhor conformalidade dos campos de tratamento, o que permitiu melhorar as distribuições de doses, aumentando as doses de irradiação nos volumes tumorais, enquanto as doses aos tecidos normais são mantidas dentro das de tolerância estabelecidas. ❖ FINALIDADE DA RADIOTERAPIA A radioterapia visa, através de uma dose o mais precisa possível sobre uma massa tumoral com tamanho anteriormente definido, a erradicação do tumor ou, paliativamente, através da diminuição dos sintomas desse no paciente, como dor e compressão de estruturas ou órgãos, uma melhora da qualidade de vida. Isso deve ocorrer com a menor lesão possível ao tecido saudável. Algumas definições importantes sobre as modalidades de radioterapia são: Pré-operatória ou neoadjuvante - ocorre antes do tratamento considerado definitivo, objetivando diminuir o tumor para facilitar o processo cirúrgico e usando doses menores do que a máxima permitida; Pós-operatória ou profilática adjuvante - após o tratamento definitivo para tentar esterilizar focos microscópicos do tumor; Anti-álgica ou anti-hemorrágica - tratamentos com esses fins específicos ocorrem normalmente em dose única. No entanto, no caso da anti-hemorrágica, o fracionamento a classifica como paliativa. Ambas usam doses menores do que as permitidas por área.
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