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Material produzido por Luiza Messeder Zahluth com base no evento “Treinamento em Saúde Felina: FIV e FELV” organizado pela Cangaçeiro Vet e realizado em fevereiro/2022. CICLO DE PALESTRAS FIV E FELV ETIOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DO FIV M.V. Dra. Sabrina Almeida Moreira Legatti O FIV é um retrovírus do gênero Lentivirus. Tem potencial oncogênico, ou seja, podem fazer com que as células ex- pressem genes formadores de neoplasias. São vírus en- velopados com baixa resistência ambiental. Possuem 3 nucleoproteínas importantes: transcriptase reversa, inte- grase e protease. TIPOS DE VÍRUS DA FIV: Classificação baseada nas pro- teínas do envelope. No Brasil, há prevalência do tipo B. Atualmente, pesquisadores da Mayo Clinic desenvolve- ram uma técnica para modificar o genoma dos gatos, tor- nando-os imunes ao vírus por meio de um fator que im- pede a replicação viral (TRIMCyp) - estudo importante pela aplicabilidade no HIV em humanos. REPLICAÇÃO VIRAL: Se conectam a receptores de membrana, com as quais se fusam e adentram nas células. Após isso, ocorre a integra- ção do DNA viral ao DNA do hospedeiro. A célula infectada irá produzir proteínas virais, como enzi- mas. O vírus, então, sairá da célula por brotamento. GENES IMPORTANTES: ● gag - produz capsídeo ● pol - produz neuproteínas ● env- produz proteínas do envelope EPIDEMIOLOGIA: Possui distribuição mundial em felinos domésticos e sil- vestres, sendo menos patogênico nos selvagens. Pode ser um problema quando há aglomeração de gatos, como em gatis. Não há fatores de risco e pode afetar todos os animais - filhotes que entram em contato com o vírus de- senvolvem a doença mais cedo. A idade média de infec- ção é 3 anos, mas a média de desenvolvimento da sín- drome de imunodeficiência felina é 10 anos. Segundo o Hosp. Veterinário da FMVZ USP, 11,7% dos gatos possuem o vírus, entre saudáveis e doentes. TRANSMISSÃO: É parenteral, pois está presente na saliva ou no sangue. Ocorre por mordedura, brigas, feridas - a saliva deve ser inoculada no sangue. Transmissão placentária, no parto, pelo leite, por transfusões sanguíneas e/ou via sexual são raros. “VÍRUS DA BRIGA” PATOGENIA: entrada do vírus → disseminação para o SNC ou órgãos → aumento da viremia → replicação contínua → infec- ções oportunistas por falhas no sist. imune No SNC, causa alterações comportamentais. Linfócitos T e B e macrófagos tentam driblar a infecção, mas há disfunção imunológica pois o vírus destrói essas células, assim, o organismo perde grande parte da defesa. ● linf. T helper - indica para os linf B ● linf. T citotóxico - destrói células infectadas O pico da carga viral ocorre entre 8 a 1 semanas após a infecção, sendo que os anticorpos são detectáveis em 2 a 4 semanas. Após a fase aguda, ocorre uma aparente cesseção da vi- remia com um período variável de infecção inaparente, po- rém continua a produção viral nos tecidos infectados. As- sim, pode ser encontrado no sangue, líquor, sêmen e teci- dos linfoides. ● A imunossupressão ocorre por gradual diminuição dos linf. TCD4+, diminuição da resposta aos agressores virais como fitoemaglutinina e LPS e redução da produção e resposta a citocinas infla- matórias - IL2. ASPECTOS CLÍNICOS, DIAGNÓSTICO E TRATA- MENTO DO FIV M.V. Me. Polyana Paixão Sintomas clássicos são de infecções secundárias virais, bacterianas, fúngicas ou de protozoários com manifesta- ção em gripe, conjuntivite, diarreia, vômitos etc. Ocorrem doenças imunomediadas, como as neoplasias (ex: carcinoma de células escamosas) Comuns os casos de gengivoestomatite, uveítes, rinite crônica, adenopatia linfática, anemias arregenerativas, gromerulonefrite imunomediada. Somado a isso, problemas dermatológicos como queda de pêlos, demodicose, pediculose, perda de peso. MUITOS PERMANECEM ASSINTOMÁTICOS POR ANOS MÉTODOS DIAGNÓSTICOS: Ocorre por testes rápidos que reconhecem anticorpos p24 ou antígenos para FIV que podem ser feitos com soro total, soro ou plasma. A produção de anticorpos ocorre a partir de 60 dias (ani- mais negativos devem ser retestados) Em resultados discordantes ou em dúvida, deve ser feito PCR para confirmação - usar amostra de saliva, sangue, medula óssea, tecidos ou tumores. Material produzido por Luiza Messeder Zahluth com base no evento “Treinamento em Saúde Felina: FIV e FELV” organizado pela Cangaçeiro Vet e realizado em fevereiro/2022. Testes sorológicos não identificam de forma confiável ga- tinhos infectados com menos de 6 meses de idade. Tes- tar para FIV e retestar em 60 dias. O resultado positivo deve ser confirmado com PCR TRATAMENTO: Animais assintomáticos não precisam de tratamento, mas sim de MONITORAMENTO. Em caso de imunossupres- são (neutropenia), realizar terapia com estimulantes de granulócitos, como o Filgrastim. Qualquer doença a ser desenvolvida deve ser tratada desde o início. EX: anemia => eritropoietina humana (100UI/kg, via SC a cada 48h) Doenças imunomediadas => corticoides AZT inibe a replicação do FIV e melhora o estado imuno- lógico e clínico. Dose: 5-10mg/kg a cada 12h VO ou SC. Interferon ômega: citocina antiviral e antitumoral. Causa imunoestimulação - não deve ser usado em assintomáti- cos. CONTROLE DA DOENÇA: Em casas com mais de 5 gatos, testar todos os gatos, to- dos devem ser castrados, manter vários locais de alimen- tação e bebedouros, além de caixas de areia e brinquedos para evitar competição. Quando houver risco de outras do- enças infecciosas, fazer isolamento dos positivos. Gatos positivos devem ser vacinados com a quíntupla + raiva, com hemograma prévio. ETIOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA E FISIOPATOLO- GIA DO FELV M.V. Luana Mirela De Sales Pontes É uma doença infecciosa comum em gatos causada por um vírus da família Retroviridae com subgrupos. Foi des- crita em 1964. ● subgrupo A = levemente patogênico e altamente contagioso, causa neoplasias hematopoiéticas ● subgrupo B = linfoma, ocorre junto do A ● subgrupo C = mutação do A, causa anemia arre- generativa e mielose eritrêmica ● subgrupo T = citopático, causa linfopenia, neutro- penia, febre e diarreia ETIOLOGIA: É um RNA virus de fita simples e envelopado. São lábeis fora do hospedeiro e conseguem se camuflar no orga- nismo. A glicoproteína do envelope viral se liga ao receptor celu- lar, com entrada do DNA viral na célula e produção viral. Fármacos retrovirais impedem a transcrição reversa, inter- rompendo a síntese viral. EPIDEMIOLOGIA: Espécie-específica não zoonótica. Possui alta morbidade e alta mortalidade. É um vírus cosmopolita com alta fre- quência. Fatores de risco: animais não sadios, inteiros, com alta aglomeração ou errantes, jovens e machos. A transmissão é oronasal com disseminação vertical e ho- rizontal. A eliminação ocorre por saliva, secreção nasal, fezes, leite e urina. Pode ser transmitido mais frequente- mente pela lambedura. “VÍRUS DO GATO AMIGO” Também é transmitido por brigas, baixa higiene em con- sultórios e transfusão sanguínea. Pouca transmissão por compartilhamento de vasilhas e caixas de areia e placen- tária (filhotes não sobrevivem ou ocorrem perdas durante a prenhez) FISIOPATOLOGIA: As consequências da exposição ao vírus dependem de: cepa inoculada, tratamento, carga infectante, idade e ge- nética do paciente, função imune e presença de coinfec- ções, qual foi via de transmissão, estresse como fator de- sencadeante, tratamentos anteriores com imunosupresso- res. exposição ao vírus → replicação nos tecidos linfoides (tonsilas) → viremia primária com sinais cínicos inespe- Material produzido por Luiza Messeder Zahluth com base no evento “Treinamento em Saúde Felina: FIV e FELV” organizadopela Cangaçeiro Vet e realizado em fevereiro/2022. cíficos ou sem sintomas → infecta a medula óssea → vi- remia secundária: virus se replica em leucócitos e pla- quetas → replicação em outros tecidos PÓS INFECÇÃO: O RNA viral é detectável em PCR após uma semana e o pós-viral após 2 semanas. O antígeno é detectável após 30+ dias. Em animais regressivos, a carga viral diminui com o tempo para níveis indetectáveis. FORMAS: 1. abortiva - resposta imune eficaz e precoce com- bate o vírus 2. regressiva - contém a replicação mas não elimina o vírus. doença controlada, o vírus pode ser trans- mitido por transfusão sanguínea. 3. progressiva - infecção não é contida, extensa re- plicação viral, o animal tem probabilidade maior de desenvolver doenças e possui tempo menor de sobrevida. IMUNOSSUPRESSÃO: Não é completamente descrita. Agride o sistema imune com maior ocorrência de infecções oportunistas, doenças graves e refratárias ao tratamento. Peptídeo p15E do envelope viral inibe os linfócitos T e B e compromete as funções citotóxicas, de forma que deteri- ora a imunidade humoral mediada por células CD4+. Além disso, também promove alterações na morfologia dos mo- nócitos com comprometimento das funções e responsivi- dade das citocinas. Somado a isso, também atua no desenvolvimento de do- enças proliferativas com atuação de protooncogenes e destruição de genes supressores de tumores, aumen- tando a possibilidade de desenvolvimento de linfomas e leucemias. Também pode causar doenças de medula ós- sea, anemias e trombocitopenias. FELV-A + oncogenes = VÍRUS DO SARCOMA FELINO = fibrossarcomas cutâneos Causa disturbios imunomediados, alterações reprodutivas (infertilidade, abortos) e síndrome do definhamento do ne- onato. Alterações neurológicas ocorrem por efeitos do linfoma e infiltração linfocitária. O vírus favorece o influxo de cálcio livre nos neurônios causando efeito tóxico e morte neuro- nal. ASPECTOS CLÍNICOS, DIAGNÓSTICO E TRATA- MENTO DO FELV M.V. Mariana Lira PRÓ-VÍRUS = material genético viral inserido no genoma das células hospedeiras Possui diferentes formas de infecção. 1. Progressiva: resposta imunológica inefetiva, o vírus consegue se repli- car. Ocorre viremia primária e secundária. Possui maior importância epidemiológica pois há desenvolvimento da doença e maior possibilidade de transmissão. Os animais acometidos possuem menor expectativa de vida. 2. Regressiva: resposta imunológica parcialmente efetiva, permite a inte- gração do provírus mas contém a replicação viral. Não são virêmicos, mas ocorre viremia primária e pode ser trans- missível por doações de sangue. Podem reativar a infec- ção e possuem menor probabilidade de doenças associa- das, como supressão medular e linfomas. 3. Abortiva: resposta imune eficaz que contém completamente a repli- cação viral, não ocorre a integração do provírus. Não se tornam virêmicos. 4. Focal ou atípica: são raras, o provírus e a replicação são restritas a alguns tecidos. MÉTODOS DIAGNÓSTICOS: Teste ELISA ou Imunocromatográfico: teste rápido ou Point-of-Care, identifica as partículas de antígeno p27 no sangue - gatos virêmicos. Qualquer gato suspeito, doente ou não, deve ser testado. O teste também deve ser realizado antes da introdução do gato e antes da vacinação. “MIOU TESTOU” Quando resultado POSITIVO: ● confirmar o diagnóstico com PCR ou outra marca de teste rápido ● separar e isolar o animal ● retestar depois de 6 a 12 semanas Quando resultado NEGATIVO: ● pode ser um animal que não foi exposto, em infec- ção abortiva ou fase inicial da infecção. ● um animal recém resgatado da rua pode ser con- siderado em fase inicial, pois não se sabe o histó- rico. deve-se segregar e testar novamente após 30 dias. RT-PCR: usado com amostras de sangue ou saliva; é in- dicado para ambientes multicats. Pode ser utilizado após 7 dias de exposição. PCR pró-viral: utilizado para confirmar resultados, doado- res de sangues e esclarecer casos suspeitos com teste rápido negativo. Indicado para exposições recentes, após 15 dias da exposição. Detecta carreadores de pró-vírus. Quando resultado POSITIVO: ● deve-se saber se é regressor ou progressor, para isso, realizar um teste de antígeno ou RT-PCR Material produzido por Luiza Messeder Zahluth com base no evento “Treinamento em Saúde Felina: FIV e FELV” organizado pela Cangaçeiro Vet e realizado em fevereiro/2022. ● positivo = progressor ● negativo = regressor Quando resultado NEGATIVO: ● não houve exposição ou é infecção abortiva ● em animais de histórico desconhecido, deve-se considerar fase inicial e retestar em 15 dias. A terapia anti-viral ainda é pouco usada por falta de estu- dos, além de ter altos custos e ser de difícil acesso. PARA ANIMAIS POSITIVOS ASSINTOMÁTICOS: Devem ser mantidos indoor, vacinados regularmente, ter o controle parasitário atualizado, castrado. A nutrição deve ser de qualidade, evitando alimentos crus. Deve ser avali- ado a cada 6 meses. ASPECTOS CLÍNICOS: A taxa de óbito é alta em ambiente multicats. Os sinais clínicos variam conforme a síndrome clínica: ne- oplasias, imunossupressão, doenças imunomediadas, dis- túrbios hematopoiéticos. ANEMIA: Possui sinais inespecíficos como fraqueza, febre, letargia, anorexia, palidez das mucosas, taquipneia/dispneia e ta- quicardia com sopro. Causas da anemia: ● não regenerativa = mielosupressão, aplasia me- dular, anemia da doença inflamatória e doenças mieloproliferativas ● regenerativa = anemia hemolítica imuno-mediada, micoplasmose hemotrópica Diagnóstico por hemograma, bioquímicos, PCR para Mycoplasma, mielograma. Tratamento suporte da nutrição e transfusão sanguínea. Quando positivo para micoplasmose, realizar o tratamento com doxiciclina e quinolonas. Uso de corticoides em ane- mias hemolíticas. Realizar suplementação com ferro e uso de eritropetina. MIELOSSUPRESSÃO: Caracterizada por neutropenias persistentes, VCM au- mentado, alterações plaquetárias, desordens mieloprolife- rativas formando a síndrome “panleucopenia felina-like” Tratamento em neutropenias importantes, mas ainda maior de 2.000 celulas, uso de filgastrin (estimulante de colônia granulocítica). Quando há febre ou suspeita de sepste, uso de antibiótico de amplo espectro. TUMORES: Maior risco de desenvolver linfomas (principal) e leuce- mias. Também ocorrem neuroblastoma, fibrossarcoma, osteocondroma e tumores de queratinócitos (cutâneos). Tratamento por quimioterapia, quando houver neurotoxici- dade FELV induzida usar antivirais - zidovudina (5mg/kg BID). IMUNODEFICIÊNCIAS E INFECÇÕES SECUNDÁRIAS: Coinfecções virais, bacterianas, fúngicas ou por protozoá- rios. O tratamento é conforme a infecção diagnosticada, com uso de imunomoduladores. As imunodeficiências têm tratamento com glicocorticoides, como prednisolona. PREVENÇÃO: Conscientização do tutor, evitar o acesso à rua, testagem, segregação e vacinação. TODOS OS FILHOTES DEVEM SER VACINADOS após 2 meses = 2 doses com 3 a 4 semanas de intervalo e reforço anual ADULTOS = testagem antes da vacinação, 2 doses com 3 a 4 semanas de intervalo e reforço anual. ANIMAIS EM ABRIGOS E RESIDÊNCIA MULTICATS DEVEM SER VACINADOS!
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