Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
teoria do pagamento Introdução Tecnicamente, o pagamento traduz o cumprimento voluntário de uma obrigação. Claro está, todavia, que essa expressão também tem uma acepção mais ampla, para caracterizar o cumprimento das obrigações em geral, e não apenas da obrigação de dar (Clóvis Bevilaqua). Respeitável parcela da doutrina, Roberto de Ruggiero (Instituições de Direito Civil), afirma que a natureza jurídica do pagamento é negocial, o que facilitaria, inclusive, justificar a incidência dos defeitos do negócio. Todavia, a matéria é polêmica, conforme Caio Mário, para quem, a depender do caso, o pagamento teria ou não natureza negocial. Não existe posição certa quanto à natureza jurídica do pagamento. De toda forma, tendo natureza negocial ou não, é um fato jurídico. As condições subjetivas do pagamento referem-se a “quem deve pagar (arts. 304 a 305)” e “a quem se deve pagar (arts. 308 a 309)”. Já as condições objetivas do pagamento são formadas pelo objeto do pagamento e sua prova, o tempo do pagamento e o lugar do pagamento. 1. Condições Subjetivas do Pagamento Q U E M D E V E P A G A R ? solvens e o accipiens Deve-se ter cuidado para não denominar os elementos subjetivos do pagamento como credor e devedor, vez que outras pessoas, que não o devedor, podem pagar; ao mesmo tempo em que outras pessoas, que não o credor, podem receber. A legitimidade para o pagamento, em primeiro plano, por óbvio, é do devedor ou do seu representante. No entanto, o sistema jurídico brasileiro (arts. 304 a 305), admite que um terceiro possa pagar. O devedor é o sujeito ativo do pagamento. O sistema jurídico brasileiro diferencia o terceiro interessado do terceiro não interessado. Terceiro interessado é aquele em face de quem o descumprimento obrigacional poderá juridicamente repercutir, a exemplo do fiador. Nesse caso, se o terceiro interessado pagar, ele se sub-roga em todas as ações, privilégios e garantias do credor originário, além de ter o natural direito ao reembolso pelo que pagou. Q U E M D E V E P A G A R ? Por outro lado, o terceiro não interessado é aquele que não detém interesse jurídico algum no cumprimento da obrigação. Em tal hipótese, duas situações podem ocorrer: se o terceiro não interessado pagar a dívida em seu próprio nome terá pelo menos direito ao reembolso (não se sub-rogando em todos os privilégios e garantias); se o terceiro não interessado, finalmente, pagar em nome do próprio devedor NÃO terá direito a nada. Poderá demandar contra o devedor. O devedor pode se opor ao pagamento feito pelo terceiro? O art. 306 do CC faz expressa menção à possibilidade de o devedor apresentar oposição ao pagamento feito por terceiro, desde que, naturalmente, haja fundamento jurídico para tanto. O devedor tem que demonstrar que tem meios para pagar, por exemplo. Se comunicou e o devedor nada disse, ele terá que ressarcir o terceiro. Embora o CC atual desobrigue o reembolso sem fazer tal ressalva, mantém-se substancialmente a solução do sistema anterior, em homenagem ao princípio da vedação do enriquecimento sem causa. A Q U E M S E D E V E P A G A R Naturalmente, a dívida deve ser paga ao credor ou ao representante –legal ou convencional- dele, admitindo-se também que o pagamento possa ser feito a um terceiro (art. 308 a 309), caso em que determinadas cautelas devem ser observadas. O pagamento feito ao terceiro, para que seja considerado eficaz, deve ser pelo credor ratificado, ou, caso ratificação não haja, deverá ser demonstrado que o pagamento reverteu em proveito dele. Especial hipótese de pagamento feito à terceiro é a prevista no art. 309 do Código Civil, atinente ao denominado credor putativo. À luz da cláusula geral de boa-fé objetiva, na perspectiva do princípio da confiança e com amparo na teoria da aparência, admite-se o pagamento feito de boa-fé ao terceiro que aparentava ser credor. Vale acrescentar, a título de complementação de pesquisa, que a teoria da aparência, além de repercutir no direito administrativo (teoria do funcionário de fato), tem importância até mesmo para o direito de família (art. 1.554). Em qualquer hipótese, deve ser feito a pessoa capaz de fornecer a devida quitação, sob pena de não valer. A quitação sempre poderá ser dada por instrumento particular. A Q U E M S E D E V E P A G A R No que se refere ao pagamento feito ao credor putativo, a lei condiciona a eficácia da solutio a dois requisitos: ter o accipiens a aparência de verdadeiro credor Exemplos: herdeiro aparente, procurador cujo mandato foi revogado sem conhecimento de terceiros, o herdeiro que vem a ser afastado por indignidade, etc, e estar o solvens de boa-fé. Ainda, no que se refere ao pagamento feito a menor, o Código fala em “pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar”, donde se conclui que “se o solvens desconhecia, sem culpa, a incapacidade do credor, o cumprimento será válido, ainda que o accipiens tenha dissipado ou malbaratado a prestação” (Antunes Varela). A lei fixa, portanto, a presunção juris tantum de que o portador da quitação seja autorizado a receber o pagamento, salvo se as circunstâncias afastarem a presunção relativa deste mandato tácito (como por exemplo, constar na quitação assinatura aparentemente falsificada). (art. 311 CC) Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor. 2. Condições Objetivas do Pagamento O O B J E T O D O P A G A M E N T O E S U A P R O V A De acordo com o referido princípio, o devedor de uma quantia em dinheiro libera-se entregando a quantidade de moeda mencionada no contrato ou no título da dívida, e em curso no lugar do pagamento, ainda que desvalorizada pela inflação, ou seja, mesmo que a referida quantidade não seja suficiente para a compra dos mesmos bens que podiam ser adquiridos, quando contraída a obrigação. Nada impede, outrossim, a adoção de cláusulas de escala móvel, para que se realize a atualização monetária da soma devida, segundo critérios escolhidos pelas próprias partes. Entretanto, ao lado das dívidas de dinheiro, a doutrina, influenciada pela instabilidade de nossa economia, elaborou o conceito das chamadas dívidas de valor. Estas não teriam por objeto o dinheiro em si, mas o próprio valor econômico (aquisitivo) expresso pela moeda. Obviamente, este princípio é relativizado pelos índices de correção monetária que visam a atualizar o poder aquisitivo da moeda (exemplo: IGPM). O art. 315 do Código Civil consagra uma regra tradicional em nosso sistema: o princípio do nominalismo. Vale dizer, o devedor se libera, em regra, pagando a mesma quantidade nominal de moeda prevista no título obrigacional: se devo 10, devo pagar 10 (valor nominal ou literal da moeda). O O B J E T O D O P A G A M E N T O E S U A P R O V A A variação cambial pode ser utilizada como critério de reajuste e atualização monetária? Em regra, não se admite a utilização da moeda estrangeira para essa finalidade. Todavia, excepcionalmente, admite-se, nos termos do artigo 6º da Lei nº 8.880/94, a exemplo do que se dá em determinados contratos de arrendamento mercantil (Edcl no AgRg no Resp 417.8781/RS, AgRg no Ag 845.988/SP). Questão delicada diz respeito de se utilizar o salário mínimo como critério de reajuste ou atualização de débito. Em regra, a própria Constituição Federal veda a vinculação do salário mínimo para outras finalidades (art. 7º, IV). Todavia, o próprio STF interpreta com equilíbrio a norma constitucional para admitir a utilização do salário mínimo como base de cálculo de pensões alimentícias (RE 1702103). Assim como, existe expressa referência no próprio CPC/73(art. 475-Q, §4º), bem como no CPC/2015 (art. 533, §4º) A doutrina brasileira é polêmica quanto a legalidade ou não da Tabela Price, o STJ, por sua vez, tem preferido não enfrentar a questão do mérito, alegando quea análise da legalidade ou não da tabela, encontra óbice nas Súmulas 5 e 7 da própria Corte, ou seja, é questão fática, de matemática financeira, que não deve ser enfrentada por aquela Corte superior (AgRg no AResp 311096-SP). A título ilustrativo, ainda a respeito da atualização e cálculo de débitos pecuniários, vale a pena a leitura do REsp 494.377-SP. P R I N C Í P I O D A I D E N T I D A D E F Í S I C A D A P R E S T A Ç Ã O Segundo o CJF, “a interpretação da expressão ‘motivos imprevisíveis’ constante do art. 317 do novo Código Civil, deve abarcar tanto causas de desproporção não previsíveis como também causas previsíveis, mas de resultados imprevisíveis” (Enunciado 17). Adotou-se, com referido dispositivo, a teoria da imprevisão. A prova do pagamento, tecnicamente, opera-se por meio de um ato jurídico denominado quitação. O recibo é o instrumento da quitação. O pagamento é provado por meio da quitação e tem direito de recebê-la. A quitação sempre pode ser dada por instrumento particular. O Código Civil, em seus artigos 322 a 324, prevê presunções relativas de pagamento em favor do devedor. Nas prestações de trato sucessivo, o pagamento da última prestação presume o pagamento das demais: Quitação do capital, sem reserva de juros: Entrega do título, que já estava previsto no CC/16, e consiste na presunção inferida pela posse do devedor do título: Enunciado 18 do CJF: “a ‘quitação regular’, referida no art. 319 do novo Código Civil, engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer formas de ‘comunicação à distância’, assim entendida aquela que permite ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes”. P R I N C Í P I O D A I D E N T I D A D E F Í S I C A D A P R E S T A Ç Ã O No que se refere à última hipótese de presunção, surge uma dúvida se confrontada com o disposto no artigo 386 do CC, o qual prevê que “a devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus coobrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir”. Haveria, então, na hipótese de entrega de títulos, pagamento direto ou remissão de dívidas? Na verdade, a doutrina majoritária entende que a presunção de pagamento só ocorre em se tratando de títulos de crédito, ocorrendo a remissão de dívida nas hipóteses de entrega de documento que consubstancia a dívida, mas que não seja título de crédito (escrito particular – instrumento particular de confissão de dívida, por exemplo). O prazo decadencial de sessenta dias tem sido interpretado como incidente nas hipóteses nas quais o credor entrega voluntariamente ao devedor o título, mas se o credor for desapossado do título, não há como ser aplicado o prazo em questão. T E M P O D O P A G A M E N T O Em regra, toda obrigação deve ser cumprida na data do seu vencimento. Contudo, obrigações que não tenham vencimento estipulado, podem ser exigidas de imediato, nos termos dos artigos 331 e 332 do CC. Entretanto, não se pode olvidar que em alguns casos, mesmo que não haja previsão de prazo para cumprimento, a obrigação demora para ser cumprida (EXEMPLO: construção de casa). Assim, a regra de vencimento à vista pode ser afastada (PRAZO MORAL – prazo para cumprir a obrigação). Caso as partes não acordem quanto a este prazo, o juiz deverá fazê-lo. Não pode o credor reclamar pagamento no último dia do prazo, pois o devedor dispõe desse dia por inteiro. Observação: no caso de mútuo de dinheiro, não havendo vencimento estipulado, o prazo mínimo para pagamento é de 30 dias (art. 592, II, CC) L U G A R D O P A G A M E N T O Regra geral, no sistema jurídico brasileiro, na forma do art. 327, CC, as dívidas devem ser pagas no domicilio do devedor (dívida quesível ou quérable). Excepcionalmente, o pagamento poderá ser feito no domicilio do credor, caso em que, fala- se em dívida portável ou portable. Eventualmente, também recebe essa denominação a obrigação cujo pagamento deva ocorrer no domicílio de terceiro. O lugar do pagamento é o lugar competente para a ação de consignação. O art. 330 é frequentemente citado no estudo da regra proibitiva do venire contra factum proprium, visto que o pagamento feito ao credor em local diverso do previsto em contrato faz presumir sua renúncia. Os dois últimos artigos transcritos constituem inovações importantes introduzidas pelo CC/02, relativizando as regras anteriores e o que constar no instrumento negocial. O primeiro deles (artigo 329) consagra os princípios da função social do contrato e da operatividade / efetividade – todos os custos da mudança serão suportados pelo devedor. Já no segundo, a relação é com o princípio da boa-fé objetiva, tratando o dispositivo de dois institutos que mantêm relação direta com o mencionado cânone: a supressio (renúncia tácita de um direito pelo seu não exercício com o passar dos tempos) e a surrectio ou surreição (surgimento), já que ao mesmo tempo em que o credor perde um direito pela supressão, surge um direito para o devedor, o qual não existia juridicamente até então, mas que decorre da efetividade social, de acordo com os costumes. Teoria do adimplemento substancial (substantial performance) – a origem da teoria está no direito anglo saxônico do Século XVIII. A doutrina do adimplemento substancial sustenta que a atividade do devedor, embora não haja sido perfeita, aproximou-se substancialmente do resultado final esperado (ver enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil e o Noticiário STJ 09.09.2012). Aliás, este Superior Tribunal, à luz dos princípios da função social e da boa-fé objetiva, tem aplicado a teoria (RESp 1051270-RS). Acontece quando o descumprimento é ínfimo ou de menor monta, não cabendo a extinção contratual. Em outras palavras, a mora do devedor, sendo de escassa importância, não autoriza a resolução do contrato, por atentar ao princípio da boa-fé objetiva. L U G A R D O P A G A M E N T O 3. Regras especiais de pagamento e forma de pagamento indireto R E G R A S E S P E C I A I S As regras especiais são atos unilaterais: pagamento em consignação, imputação do pagamento e sub-rogação legal. As formas de pagamento indireto são atos bilaterais (negócios jurídicos): sub-rogação convencional dação em pagamento novação compensação remissão e confusão. Obs.: transação e compromisso (arbitragem) são contratos típicos que geram a extinção obrigacional. Art. 840, CC: “é lícito aos interessados prevenirem ou terminarem litígio mediante concessões mútuas”. C O N S I G N A Ç Ã O E M P A G A M E N T O : M A T É R I A D E P R O C E S S O C I V I L . U N I L A T E R A L Trata-se a consignação em pagamento do instituto jurídico colocado à disposição do devedor para que, ante o obstáculo ao recebimento criado pelo credor ou quaisquer outras circunstâncias impeditivas do pagamento, exerça, por depósito da coisa devida, o direito de adimplir a prestação, liberando-se do liame obrigacional. Tal modalidade de extinção das obrigações deve ser estudada tanto no campo do Direito Material, quanto Processual, uma vez que é objeto de um procedimento especial próprio Natureza jurídica do pagamento em consignação: Trata-se de uma forma de extinção das obrigações, constituindo-se em um pagamento indireto da prestação avençada. Ademais, impende considerar que a consignação não é, em verdade, um dever, mas sim mera faculdade do devedor, que não pôde adimplir a obrigação, por culpa do credor. Hipóteses de ocorrência: O art. 335 apresenta uma relação de hipóteses em que a consignação pode ter lugar, a saber: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; (enunciado 18 da I Jornada de Direito Civil) II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; C O N S I G N A Ç Ã O E M P A G A M E N T O : M A T É R I A D E P R O C E S S O C I V I L . U N I L A T E R A L III - se o credor for incapazde receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento (única causa objetiva para a consignação) Registre-se, porém, que tal rol não é taxativo, pois a própria legislação codificada traz outras situações em que é autorizada a consignação, como, por exemplo, os arts. 341 e 342 do CC, ou ainda em legislação complementar (DL 58/37, art. 17). Requisitos de validade: na forma do art. 336, “para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento”. Assim, em relação às pessoas, a consignação deverá ser feita pelo devedor, ou quem o represente, em face do alegado credor, sob pena de não ser considerado válido, salvo se ratificado por este ou reverter em seu proveito, na forma dos arts. 304 e 308 do CC. Em relação ao objeto, é óbvio que o pagamento deve ser feito na integralidade, uma vez que o credor não está obrigado a aceitar pagamento parcial. C O N S I G N A Ç Ã O E M P A G A M E N T O : M A T É R I A D E P R O C E S S O C I V I L . U N I L A T E R A L O entendimento predominante é o de que é desnecessário tal requisito, pois “há débitos ilíquidos cujo montante ainda não está definido pela recusa do credor a um simples acertamento, cuja iliquidez não depende de outra ação específica para sua liquidação, como de uma prestação de contas etc.; Ainda em relação ao objeto, era comum o entendimento de que o rito especial da ação de consignação em pagamento não era o caminho correto para a discussão de validade de cláusulas contratuais, fazendo-se necessária a propositura de ação de revisão contratual cumulada com consignação em pagamento, seguindo- se o rito ordinário. Entretanto, houve uma alteração no tratamento jurisprudencial dado ao tema, em razão de entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, o qual admite a possibilidade de revisão na própria ação de consignação. Antecipe-se, inclusive, que no procedimento especial correspondente, na forma do §1° do art. 545 do CPC/2015, alegada a insuficiência do depósito, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a conseqüente liberação parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida Discute-se se a consignação exige a liquidez da dívida consignada. C O N S I G N A Ç Ã O E M P A G A M E N T O : M A T É R I A D E P R O C E S S O C I V I L . U N I L A T E R A L Quanto ao modo, da mesma forma não se admitirá modificação do estipulado, devendo a obrigação ser cumprida da mesma maneira como foi concebida originalmente. Vale lembrar que se a dívida for querable, o depósito será feito no domicílio do devedor; se portable, no do credor; ou, se houver foro de eleição, no domicílio estabelecido. Por fim, quanto ao tempo, antes de vencida a dívida não existe a pretensão de consignar A mora do devedor, por si só, não impede a propositura da ação de consignação em pagamento, se ainda não provocou consequências irreversíveis, pois tal ação pode ser usada tanto para prevenir como para emendar a mora Possibilidade de levantamento do depósito pelo devedor depende do momento em que o este pretender realizar tal ato, buscando retornar as coisas ao status quo ante. a) antes da aceitação ou impugnação do depósito: nesse momento, tem o devedor total liberdade para levantar o depósito, uma vez que a importância ainda não saiu do seu patrimônio jurídico. ( art. 338) b) depois da aceitação ou impugnação do depósito pelo credor: o depósito só poderá ser levantado com a anuência do credor, que perderá a preferência e a garantia que lhe competia sobre a coisa consignada, com liberação dos fiadores e co-devedores que não tenham anuído (art. 340). c) julgado procedente o depósito: o devedor já não poderá levantá-lo, ainda que o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores (art. 339). C O N S I G N A Ç Ã O E M P A G A M E N T O : M A T É R I A D E P R O C E S S O C I V I L . U N I L A T E R A L Obviamente, só não cabe a consignação nas obrigações de fazer ou não fazer, pois o próprio art. 334 refere-se ao depósito de coisa devida, e não da atividade ou abstenção devidas. Todavia, se a coisa for incerta, é preciso se proceder à sua certificação, pela operação denominada “concentração do débito” ou “concentração da prestação devida”. Quando a escolha cabe ao devedor, nenhum problema se dará, pois é ele que pretende ofertar o pagamento. Caso a escolha caiba ao credor, deve ele ser citado para tal fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher. Nesse sentido, dispõe o art. 542 do CPC/2015. Procedida à escolha, reger-se-á a consignação pelas mesmas regras referentes à coisa certa. Consignação de coisa certa e de coisa incerta: Embora a maioria esmagadora das situações de consignação em pagamento envolva obrigações pecuniárias, a sua disciplina não se limita a elas. Nesse caso, na forma do art. 341 do CC, “se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada”. C O N S I G N A Ç Ã O E M P A G A M E N T O : M A T É R I A D E P R O C E S S O C I V I L . U N I L A T E R A L Despesas processuais: Para o processo judicial de consignação em pagamento, estabelece o art. 343 do CC que “as despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor”. No mesmo sentido, o art. 546 do NCPC, alerta que "julgada procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios". Do mesmo modo ocorrerá quando o credor receber e der quitação. Prestações periódicas: Nesses casos, recusando-se o credor a receber as prestações ofertadas pelo devedor, pode este consigná-las, na medida em que forem vencendo, a teor do art. 541 do CPC/2005. A falta de depósitos oportunos das prestações subseqüentes, porém, não afeta os depósitos feitos em tempo. De fato, tem entendido a jurisprudência que não terá efeito o depósito de prestação vincenda feito a destempo, mas tal conduta não acarreta a imediata improcedência da ação. C O N S I G N A Ç Ã O E M P A G A M E N T O : M A T É R I A D E P R O C E S S O C I V I L . U N I L A T E R A L Regras procedimentais para a consignação em pagamento. Consignação extrajudicial: A priori, deve-se observar que esse procedimento extrajudicial só se aplica às obrigações pecuniárias, não sendo possível sua aplicação em relações obrigacionais relacionadas com a entrega de coisa. A consignação de coisa continua se dando mediante a via judicial, o que se explica até mesmo pela falta de uma estrutura específica, de natureza extrajudicial, suficientemente idônea para atuar como depositária do bem consignado. Conforme art. 539, §1° e 2º, do CPC/2015 Em resumo, na consignação extrajudicial, o silêncio do credor caracterizará a aceitação do depósito; a inércia do devedor, não promovendo a ação no prazo, a sua mora. Consignação judicial em pagamento: A competência territorial para julgar a ação de consignação continua se dando pelo local indicado para ser procedido ordinariamente o adimplemento da obrigação (art. 540 do CPC/2015). Saliente-se, porém, que tratando-se de ação consignatória de aluguéis e encargos, é competente o foro de eleição e, na sua falta, o lugar da situação do imóvel (art. 58, II, da Lei 8.245/91). I M P U T A Ç Ã O D O P A G A M E N T O ( A R T . 3 5 2 A 3 5 5 , C C ) U N I L A T E R A L É a indicação de qual dívida está sendo paga nos casos de pluralidade de obrigações com mesmas partes. A indicação é realizada pelo devedor, credor ou pela lei, sucessivamente nesta ordem (favor in debitorie). Envolve obrigações líquidas- certas quanto à existência e determinadas quanto ao valor. suficiência do pagamento para solver qualquer das dívidas. Embora pouco tratada pela doutrina, a imputação em pagamento produz efeitos práticas de inegável importância, como no caso de débitos autorizados pelos correntistas (débito automático). É possível se afirmar que todas as limitações à imputação do pagamento podem ser relevadas por mútuo consentimento das partes. Satisfeitos todos os requisitos hábeis à imputação do pagamento, mas havendo resistência do credor em a ela anuir, poderá o devedor consignar em pagamento, posto caracterizada a mora accipiendi. A ordem de imputação prevista pela lei: 1ª) juros precede capital. 2ª) dívida líquida e vencida primeiro. 3ª) dívida mais onerosa (maior custo de manutenção) = de maior valor (em regra). P A G A M E N T O C O M S U B - R O G A Ç Ã O ( A R T S . 3 4 6 A 3 5 1 ) . U N I L A T E R A L Quando um terceiro paga ou empresta o necessário para que o devedor solva a sua obrigação, operar-se-á, por convenção ou em virtude da própria lei, a transferência dos direitos e, eventualmente, das garantias do credor originário para o terceiro (sub-rogado). Há, portanto, dois efeitos necessários da sub- rogação: liberatório (pela extinção do débito em relação ao devedor original) e translativo (pela transferência da relação obrigacional para o novo credor). Contudo, há que se avaliar se o crédito foi constituído intuitu personae, não comportando desse modo a transferência do credor originário para o solvens. Trata-se da mera substituição do credor por um terceiro que efetua o pagamento, mantendo-se os demais elementos obrigacionais, caso dos acessórios da dívida (juros, multa, garantia e fiança). Não há que se confundir, todavia, o pagamento com sub-rogação com a mera cessão de crédito, visto que, nesta última, a transferência da qualidade creditória opera-se sem que tenha havido o pagamento da dívida. P A G A M E N T O C O M S U B - R O G A Ç Ã O ( A R T S . 3 4 6 A 3 5 1 ) . U N I L A T E R A L Os direitos do cessionário decorrem de um contrato sujeito aos requisitos de validade dos negócios jurídicos em geral, enquanto os direitos do sub-rogado derivam do próprio pagamento, resultando daí, as seguintes diferenças, dentre outras: na sub-rogação, a obrigação do devedor limita-se ao valor do que efetivamente foi desembolsado pelo sub-rogado, ao contrário do cessionário, cujo crédito pode ser exigido integralmente, independentemente do valor efetivamente pago na cessão. a prescrição começa a correr a partir da sub- rogação, ao contrário da prescrição incidente sobre o crédito cedido, que não tem o seu curso interrompido com a cessão; o cedente assegura ao cessionário a existência do crédito, o mesmo não ocorrendo na sub-rogação; quem não tem capacidade para alienar, pode sub-rogar, mas não ceder P A G A M E N T O C O M S U B - R O G A Ç Ã O ( A R T S . 3 4 6 A 3 5 1 ) . U N I L A T E R A L Modalidades de sub-rogação a) sub-rogação legal (de pleno direito – pleno iure ou automática). I - É a sub-rogação do credor que paga a dívida do devedor comum (art. 346, CC). II – Do adquirente do imóvel hipotecado que paga a dívida; bem como do terceiro que paga a dívida para não perder o imóvel (afastar a evicção). III – Do pagamento por terceiro interessado na dívida. Ex.: fiador. O terceiro não interessado que paga a dívida em seu próprio nome tem direito a reembolsar-se, embora não se sub- rogue nos direitos do credor. b) sub-rogação convencional (pagamento indireto) terceiro desinteressado I – Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere os seus direitos: aplicam-se as regras de cessão de crédito (art. 348, CC). O devedor não precisa concordar, apenas ser notificado (eficácia). II – Quando terceira pessoa empresta dinheiro ao devedor para ele pagar a dívida ficando convencionada a sub- rogação. É um caso de mútuo. D A Ç Ã O E M P A G A M E N T O – D A T I O I N S O L U T U M ( A R T S . 3 5 6 A 3 5 9 ) Forma de pagamento indireto em que as partes convencionam a substituição da prestação por outra, mantendo-se os demais elementos obrigacionais, caso dos acessórios da dívida. Na dação, a entrega da prestação supletiva objetiva a liberação de um crédito em caráter imediato, enquanto na novação, as partes constituirão uma nova obrigação para extinguir a anterior. É a entrega de uma coisa por outra, e não a substituição de uma obrigação por outra. Se a dação é modo indireto de pagamento, a novação é modo de extinção da obrigação sem pagamento. Em certas situações especiais, a dação é vedada pelo ordenamento, por se travestir em cláusula comissória. (art. 1428 do CC e art. 1422 do CC) Coisa por coisa = dação em pagamento Coisa por dinheiro = dação em pagamento Dinheiro por coisa = regras da compra e venda (art. 357, CC). Obs.: é possível que a coisa dada seja um título de crédito do qual o devedor é credor, aplicando-se as regras da cessão de crédito (art. 358, CC). Ou seja, o devedor do cheque deve ser notificado. Obs.: se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros (de boa fé). D A Ç Ã O E M P A G A M E N T O – D A T I O I N S O L U T U M ( A R T S . 3 5 6 A 3 5 9 ) Evicção da coisa dada em pagamento. Neste caso, se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, a obrigação primitiva será restabelecida com todas as suas garantias, ficando sem efeito a quitação dada ao devedor (efeito repristinatório da evicção da coisa dada em pagamento). Evicção = perda da coisa por decisão judicial ou apreensão administrativa. Datio pro solvendo. Não há que se confundir a dação em pagamento com outra figura, a denominada dação pro solvendo, cujo fim precípuo não é solver imediatamente a obrigação, mas sim facilitar o seu cumprimento. Ocorre na dação de um crédito sem extinção da dívida originária, que, ao contrário, é conservada, suspensa ou enfraquecida. Havendo datio pro sovendo, a dívida primitiva só se extingue ao ser paga a nova. Ex: cheque dado em pagamento de uma duplicata. N O V A Ç Ã O Trata-se da substituição de uma obrigação antiga, por uma obrigação nova, diante da substituição de seus elementos. É modo extintivo não satisfatório. Toda novação tem natureza jurídica negocial. Ou seja, por princípio, nunca poderá ser imposta por lei. Nesse sentido, podemos afirmar não existir, em regra, novação legal. Não se deve confundir a novação objetiva com a dação em pagamento. Nesta, a obrigação originária permanece a mesma, apenas havendo uma modificação do seu objeto, com a devida anuência do credor. Diferentemente, na novação objetiva, a primeira obrigação é quitada e substituída pela nova. Em reforço, havendo evicção da coisa dada, a prestação primitiva, no caso da novação, não revive. A dação, por sua vez, não gera a extinção dos acessórios e, no caso de perda da coisa dada, retornará a prestação primitiva. Principal efeito: todos os elementos da obrigação antiga, em regra, são extintos, caso dos acessórios da dívida (juros, multa, garantias, fiança). Súmula 286 do referido Tribunal, a qual dispõe que “a renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores. Na ação revisional de negócios bancários, pode-se discutir a respeito de contratos anteriores, que tenham sido objeto de novação. Obs.: importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal. N O V A Ç Ã O Requisito da novação: Obrigação anterior (novada): existência da antiga obrigação: inclusive, se a obrigação for nula ou estiver extinta, não pode ser novada. A anulável, contudo, pode ser confirmada pela novação Obrigação nova (novadora): quando a instituição financeira apenas concede o parcelamento da dívida, aumenta o prazo para pagamento, ou recalcula a taxa de jurosaplicada, não necessariamente estará realizando uma novação; Animus novandi = expresso ou tácito, mas sempre inequívoco (art. 361, CC). Ex.: um simples acordo entre as partes não gera novação. Ex.: o devedor dá cheque seu em pagamentos de duplicatas. Segundo a jurisprudência não há novação, mas dação em função de pagamento (datio pro solvendo). Somente haverá novação tácita se as duplicatas forem devolvidas ao devedor e substituídas por cheques. Modalidades da novação Novação objetiva ou real = substituição da prestação Novação subjetiva ativa = substituição do credor Novação subjetiva passiva = substituição do devedor Delegação: acontece com o consentimento do antigo devedor. Expromissão: ocorre sem o consentimento do antigo devedor (art. 362, CC). Possível. Obs.: em caso de dúvida na prova objetiva falar que se trata de novação subjetiva passiva por expromissão. N O V A Ç Ã O Efeitos da novação O principal efeito é o liberatório, ou seja, a extinção da primitiva obrigação, por meio de outra, criada para substituí-la; Extingue os acessórios e as garantias da dívida, a não ser que haja aquiescência do terceiro fiador ou proprietário dos bens dados em garantia (Súmula 214 do STJ: “o fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu); Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso como devedor principal (art. 366) Se a obrigação é solidária, a novação concluída entre o credor e um dos devedores exonera os demais, subsistindo as preferências e garantias do crédito novado somente sobre os bens do devedor que contrai a nova; Se a solidariedade for ativa, extingue-se a dívida perante os demais credores, devendo estes se entenderem com o credor operante; Se ela for indivisível, pela impossibilidade da prestação parcial, a novação acaba beneficiando os demais devedores; No caso de novação objetiva, o perecimento do objeto não dá ao credor o direito de perseguir o da antiga; A anulabilidade oponível à antiga obrigação não cabe após a novação (na verdade, um dos principais préstimos da novação é justamente confirmar obrigações anuláveis). C O M P E N S A Ç Ã O Formas de pagamento indireto que gera a extinção de dívidas mútuas ou recíprocas até o ponto em que se encontrarem. Tem como fundamento o princípio da economia (material + processual). As partes podem afastar ou renunciar à compensação por força de contrato. Alguns autores entendem que esse dispositivo não se aplica à compensação legal por envolver ordem pública O comando legal em questão não adota a teoria dualista da obrigação, já que prevê que o fiador tem uma dívida com o credor. Questão de debate: compensação é exceção pessoal (defesa oponível somente contra determinada pessoa)? Segundo o entendimento majoritário, não, pois admite-se se compensação pelo fiador. Obs.: comodato e depósito são contratos personalíssimos. Obs.: obrigações impenhoráveis são incompensáveis. Obs.: o art. 372, CC, tem relação com a boa fé objetiva, com a máxima tu quoque, ou seja, não faça contra o outro o que você não faria contra si mesmo (não crie uma situação para depois dela tirar proveito). Modalidades de compensação quanto à extensão: a) Total: as duas dívidas são extintas. b) Parcial uma dívida é extinta e a outra compensada. C O M P E N S A Ç Ã O Modalidades de compensação quanto a origem: a) Legal: decorre da norma jurídica devendo ser observados os rígidos requisitos dos arts. 368, 369 e 370, CC. operando-se mesmo que uma das partes não queira a extinção das dívidas. Não comporta compensação a obrigação natural, seja em confronto com outra idêntica, seja com uma civil. A compensação legal retroage à data em que a situação de fato se configurou, ainda que só alegada ou pretendida depois, pois tem eficácia ex tunc. O efeito retroativo repercute nos acessórios da obrigação, pois os juros, a multa convencional e as garantias cessam a partir do momento da coexistência das dívidas. Por ser legal a compensação, não há cogitar da capacidade das partes. a.1) Reciprocidade; a.2) Dívidas líquidas; a.3) Dívidas vencidas; a.4) Coisas fungíveis (STJ, RESp 61.303, Rel. Nilson Naves, DJ 04.09.00) a.5) Identidade total entre as coisas (mesma qualidade). C O M P E N S A Ç Ã O b) Convencional: decorre do acordo entre as partes, ou seja, não deve seguir os rígidos requisitos da compensação legal, bastando a reciprocidade. Ex.: dívida vincenda, ilíquida, ausência de identidade, etc. a legislação especial que permite a compensação convencional entre o contribuinte e a Fazenda Pública (Leis 9.430/96 e Decreto 2.138/97), também chamada compensação administrativa, para aqueles casos em que não seja possível a compensação legal c) Compensação judicial: decorre de decisão judicial. Caracteriza-se por ser uma decisão constitutiva, onde o juiz, embora originariamente ausente a liquidez, acerta que o crédito é pronta e facilmente liquidável. Embora opere ipso iure, como é lícito ao devedor renunciar à compensação, ele deverá opô-la em juízo (não é conhecível de ofício) através da exceptio compensationes. Como opera ipso iure, a sentença que a reconhece opera efeitos ex tunc. C O N F U S Ã O O B R I G A C I O N A L ( A R T . 3 8 1 A 3 8 4 C C ) Forma de pagamento indireto presente quando, por ato inter vivos ou evento mortis causa, as qualidades de credor e devedor confundem-se na mesma pessoa. Pode ser total (própria) ou parcial (imprópria). Efeito fênix “obrigação renasce das cinzas”. Ex.: o pai que faleceu por ausência e reaparece. A confusão imprópria se opera quando se reúnem na mesma pessoa as condições de garante e de sujeito (ativo ou passivo); Requisitos: a) unidade da relação obrigacional; b) reunião, na mesma pessoa, das qualidades de credor e devedor; c) ausência de separação de patrimônios. Este último requisito quer significar que não haja, na mesma pessoa, a divisão entre o patrimônio comum, que é a garantia geral dos credores, e os ditos patrimônios especiais, cuja separação é afetada à origem dos bens que os compõem (por exemplo, os bens excluídos da comunhão) ou os fins que devem desempenhar (o bem de família, por exemplo). Se o crédito e o débito, ainda que atinentes à mesma pessoa, estão posicionados em patrimônios distintos, não há confusão; C O N F U S Ã O O B R I G A C I O N A L ( A R T . 3 8 1 A 3 8 4 C C ) Se ocorrer a confusão na pessoa do devedor ou credor solidário, a obrigação extingue-se até a concorrência de sua parte no débito ou crédito, subsistindo a solidariedade quanto aos demais, pelo remanescente; Se o fato gerador da confusão se invalida, ela cessa e a obrigação restaura-se retroativamente, com todas as suas consequências, inclusive as garantias. Mas as garantias reais e os direitos de terceiros adquiridos durante a confusão devem ser respeitados (art. 384) Assim, “se, por exemplo, a restauração da garantia hipotecária defronta uma nova inscrição, realizada após aquela extinção, não terá sobre ela prioridade, pois que perde o grau de que anteriormente gozava” Ressalte-se, por oportuno, que em relação a certos créditos, a confusão não opera a sua extinção, tal como os títulos ao portador, que não desaparecem por terem regressado ao poder se seu emitente, que poderá ainda transferi-los a terceiros novamente R E M I S S Ã O ( A R T . 3 8 5 A 3 8 8 C C ) A remissão é forma de pagamento indireto efetivada pelo perdão do credor, que deve ser aceito pelo devedor (ato bilateral). Pode ser total ou parcial. Além disso, pode ser expressa ou tácita. Obs.: Remissão tácita. Ex.: devolução voluntária do título quando por escrito particular (art. 386, CC). Se o título devolvido foi título de crédito haverá presunção de pagamento (art. 324, CC). Obs.: a devolução de objeto de penhor não gera remissão, mas apenas renúncia à garantia. Obs.: a remissão parcial ocorre, por exemplo, na solidariedade (art. 388, CC). A remissão somente pode operar-se inter partes, não sendo esta admitida em prejuízo de terceiros; A remissão distingue-seda doação, eis que nesta o doador transfere bens de seu patrimônio para o donatário. A remissão apenas terá o caráter de negócio jurídico unilateral quando efetuada em testamento, assemelhando-se a um verdadeiro legado em prol do devedor; A remissão pode ser revogada unilateralmente, desde que não tenha ainda gerado um direito contrário. O perdão não pode ser acompanhado de prestação do devedor, caso contrário haverá, conforme o caso, dação em pagamento, transação ou mesmo novação, se modificado o objeto (mas pode ser condicionado ou a termo). R E M I S S Ã O ( A R T . 3 8 5 A 3 8 8 C C ) Não se presume fora dos casos admitidos em lei, nem a inatividade do credor permite induzi-lo. Um exemplo é a entrega voluntária do título da obrigação quando por escrito particular (mas lembre-se que, nos termos do artigo 324 do CC, a entrega de título de crédito faz presumir o pagamento – não remissão -, tratando o artigo 386 de instrumentos particulares ou contratos que traduzem dívidas). Atente-se que esta presunção é relativa, podendo o credor provar a ausência de animus em remitir a dívida. Outro caso é a remissão da garantia que se presume com a entrega do objeto empenhado (a dívida remanesce, ficando quirografária). Somente as obrigações patrimoniais de caráter privado comportam perdão. O perdão concedido ao devedor principal extingue a obrigação dos fiadores e liberta as garantias reais. Se forem vários os devedores, a remissão concedida a um deles extingue a obrigação na parte que lhe corresponde. Sendo indivisível, os demais credores somente poderão exigir a prestação com desconto da parte relativa ao remitente.
Compartilhar