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Estudante dedicada Intoxicação alimentar (enterobacteriaes) Objetivos 1.Diferenciar Infecção, intoxicação e toxinfecção alimentar. 2. Identificar os patógenos bacterianos que podem causar diarreia sanguinolenta. 3. Identificar e caracterizar o patógeno causador da diarreia sanguinolenta e SUH. 4. Caracterizar os principais mecanismos de agressão do patógeno e de defesa do homem a estes microrganismos. 5. Descrever as principais formas de diagnóstico, controle e tratamento. 6. Determinar a situação epidemiológica da patologia na Bahia e no Brasil. 7. Listar os possíveis fatores de risco para o surgimento da SUH. Diferenciar Infecção, intoxicação e toxinfecção alimentar. Um dos principais problemas públicos de saúde do mundo são as doenças causadas por alimentos. Elas ocorrem tanto em países desenvolvidos quanto subdesenvolvidos apresentando uma taxa significativa de morbimortalidade. Podem ser causadas pelo consumo de alimentos contaminados por microrganismos patogênicos, toxinas microbianas ou substâncias químicas. Segundo o Ministério da saúde a DTA é definida como sendo a: “Síndrome geralmente constituída de anorexia, náuseas, vômitos e/ou diarréia, acompanhada ou não de febre, relacionada à ingestão de alimentos ou água contaminados.” Dentro da contaminação alimentar nós podemos classificar três tipos de casos diferentes: a infecção, a intoxicação e a toxinfecção. A infecção alimentar é quando um indivíduo ingere algum alimento que está contaminado com células de microrganismos patogênicos (bactérias) que irão se aderir e se multiplicar no trato intestinal (LIMA; SOUSA, 2002). Intoxicação se refere tanto ao consumo de alimentos contaminados com toxinas microbianas, uma toxina pré-formada, que foram liberadas no alimento durante o processo de proliferação dos microrganismos, quanto à contaminação por agrotóxicos ou substâncias químicas presentes no alimento. Já a toxinfecção ocorre pela ingestão de alimentos contaminados com células microbianas e toxinas ou substâncias tóxicas presentes. Identificar os patógenos bacterianos que podem causar diarreia sanguinolenta. Os principais patógenos causadores da diarreia sanguinolenta são em geral aqueles que fazem parte da Família das Enterobacteriaceae. Essas bactérias são bactérias Gram negativas, com formato bacilar, apresentam ou não motilidade, dependendo da espécie, aeróbias ou anaeróbias facultativas, fermentam açúcares e crescem numa variedade de meios sólidos. Habitam comensalmente o trato gastrointestinal de vertebrados e estão entre os agentes patogênicos mais comuns que infectam seres humanos e animais. É também importante notar que, como residentes da microflora intestinal, podem representar colonização ao invés de infecção verdadeira. As bactérias da família Enterobacteriaceae são microrganismos ubiquitários, encontrados em todo o mundo no solo, na água e na vegetação. Esses microrganismos fazem parte da microbiota normal da maioria dos animais, incluindo o homem. Essas bactérias causam uma variedade de doenças em humanos, incluindo um terço de todas as bacteremias, mais de 70% das infecções do trato urinário (ITU) e muitas infecções intestinais. Alguns microrganismos (p. ex., Salmonella sorotipo Typhi, espécies de Shigella e Yersinia pestis) estão sempre associados a doenças humanas, enquanto outros (p. ex., Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Proteus mirabilis) são comensais, membros da microbiota normal, que podem causar infecções oportunistas. Existe um terceiro grupo, que compreende microrganismos que normalmente são comensais e se tornam patogênicos quando adquirem genes de virulência localizados em plasmídeos, bacteriófagos ou ilhas de patogenicidade. Infecções causadas por Enterobacteriaceae podem se originar de um reservatório animal (p. ex., a maioria das espécies de Salmonella, espécies de Yersinia), de um carreador humano (p. ex., espécies de Shigella e Salmonella sorotipo Typhi) ou por meio de transmissão endógena de microrganismos (p. ex., transmissão de E. coli do intestino para a cavidade peritoneal, após perfuração do intestino. Eles compartilham um antígeno comum (antígeno comum de enterobactéria), são móveis com flagelos peritríquios (uniformemente distribuídos pela célula) ou imóveis, e não formam esporos. Todos os membros dessa família podem crescer rapidamente aeróbica e anaerobicamente (anaeróbios facultativos), em uma variedade de meios seletivos (p. ex., ágar MacConkey) e não seletivos (p. ex., ágar-sangue). As Enterobacteriaceae têm necessidades nutricionais simples, fermentam glicose, reduzem o nitrato, são catalase positivas e oxidase-negativas. A ausência de atividade da citocromo oxidase é uma característica importante. A capacidade de fermentar a lactose (detectada pela mudança de cor no meio contendo lactose, como, p. ex., em ágar MacConkey) é usada para diferenciar cepas que fermentam lactose (p. ex., Escherichia, Klebsiella, Enterobacter, Citrobacter e Serratia; colônias rosa-lilás no ágar MacConkey) das que não fermentam a lactose ou são lentas na fermentação (p. ex., Proteus, Salmonella, Shigella e Yersinia spp.; colônias sem cor no ágar MacConkey). Resistência aos sais biliares em alguns meios seletivos é usada para distinguir patógenos entéricos (p. ex., Shigella e Salmonella) dos microrganismos comensais que são inibidos pelos sais biliares (p. ex., bactérias Gram-positivas e algumas Gram- negativas presentes no trato gastrointestinal). Algumas Enterobacteriaceae parecem mucoides (colônias úmidas, altas, viscosas), têm cápsulas proeminentes (p. ex., a maioria das cepas de Klebsiella, alguns Enterobacter e cepas de Escherichia), enquanto uma camada limosa difusa envolve outras cepas. O lipopolissacarídeo (LPS) termoestável é o principal antígeno da parede celular e consiste em três componentes: o polissacarídeo O somático mais externo, um polissacarídeo central comum a todas as Enterobacteriaceae (antígeno comum de enterobactéria) e o lipídio A. Fatores de virulência: ● Endotoxina ● Cápsula ● Variação de fase antigênica ● Sistemas secretórios tipo III ● Sequestro de fatores de crescimento ● Resistência aos efeitos bactericidas do soro ● Resistência aos antimicrobianos A diarreia sanguinolenta pode ser causada por bactérias como Salmonella, Shigella, Staphylococcus aureus, Bacillus cereus, vibrio cholerae, Campylobacter e Escherichia coli enterohemorrágica, que acometem a mucosa do intestino grosso. Pode ser necessário o tratamento com antibióticos para controlar a infecção. ❏ Escherichia coli E. coli é o mais comum e mais importante membro do gênero Escherichia. Este microrganismo está associado a uma variedade de doenças, incluindo gastrenterite e infecções extraintestinais como ITU, meningites e sepse. Uma variedade de cepas podem causar doenças, sendo alguns sorotipos associados à maior virulência (p. ex., E. coli O157 é a causa mais comum de colite hemorrágica e síndrome hemolítico-urêmica). ❏ Staphylococcus aureus Uma das principais causas de gastrenterite e a intoxicação alimentar estafilocócica, uma intoxicação causada pela ingestão de uma enterotoxina produzida por S. aurus; Eles também possuem uma resistência bastante alta ao calor; as células vegetativas podem tolerar 60°C por meia hora. S. aureus frequentemente habita as passagens nasais, a partir das quais contamina as mãos. Ele também é uma causa frequente de lesões cutâneas nas mãos. Dessas fontes, pode facilmente penetrar no alimento. Se os micróbios foram incubados nos alimentos, uma situação denominada temperatura de abuso, reproduzem-se e liberam enterotoxina no alimento. O método mais confiável de prevenir a intoxicação alimentar estafilocócica é a refrigeração adequada durante o armazenamento, para impedir a formação de toxina. A toxina rapidamente ativa o centro reflexo do vômito no cérebro; cólicasabdominais e diarreia geralmente vem a seguir. Essa reação é essencialmente de caráter imunológico; a enterotoxina estafilocócica é um exemplo modelo de superantígeno. A recuperação normalmente estará completa dentro de 24 horas. ❏ Salmonella ● Bacilos Gram negativos ● Anaeróbios facultativos ● Fermentadores, oxidase negativos ● Lipopolissacarídeo consiste do polissacarídeo externo do antígeno somático O, o polissacarídeo central (antígeno comum) e o lipídio A (endotoxina) ● Mais de 2.500 sorotipos O ● Virulência: tolerante aos ácidos nas vesículas fagocíticas. Pode sobreviver no macrófago e se espalhar a partir do intestino para outros sítios do corpo ● Doenças: enterite (febre, náusea, vômito, diarreia com ou sem sangue, cólicas abdominais) febre entérica (febre tifoide, febre paratifoide); bacteremia (geralmente causada por Salmonella Typhi, Salmonella Paratyphi, Salmonella Choleraesuis); colonização assintomática (principalmente por Salmonella Typhi e Salmonella Paratyphi) ● Epidemiologia: A maioria das infecções é adquirida pelo consumo de alimentos contaminados (aves, ovos e laticínios são as fontes mais comuns de infecção) ● Transmissão direta orofecal em crianças Salmonella Typhi e Salmonella Paratyphi são patógenos humanos estritos (nenhum outro reservatório); estas infecções são transmitidas pessoa a pessoa; colonização assintomática prolongada ocorre com frequência Indivíduos com risco de infecção são aqueles que consomem aves ou ovos mal-cozidos, pacientes com níveis reduzidos de ácido gástrico e os imunocomprometidos As infecções ocorrem no mundo inteiro, particularmente nos meses quentes do ano. ❏ Yersinia Os patógenos humanos mais conhecidos dentro do gênero Yersinia são: Yersinia pestis, Yersinia enterocolitica e Yersinia pseudotuberculosis. Y. pestis é um patógeno altamente virulento que causa doença sistêmica fatal conhecida como peste; Y. enterocolitica e Y. pseudotuberculosis são basicamente patógenos entéricos que raramente são encontrados em culturas de sangue. Características Gerais São bacilos Gram negativos, anaeróbios facultativos; Fermentadores, oxidase negativos. Lipopolissacarídeo consiste do polissacarídeo do antígeno somático O, o polissacarídeo central (antígeno comum) e o lipídio A (endotoxina) Algumas espécies de Y. enterocolitica podem crescer em temperaturas frias (grande quantidade de bactérias pode crescer em alimentos contaminados refrigerados ou produtos sanguíneos) Virulência — cápsula de Y. pestis é antifagocítica, Y. pestis é resistente aos efeitos bactericidas do soro; Yersinia possui genes para aderência, atividade citotóxica, inibição da migração fagocítica e engolfamento e inibição da agregação plaquetária Doença — Y. pestis causa a peste bubônica (mais comum) e a peste pulmonar, ambas com alta taxa de mortalidade, outras espécies de Yersinia causam gastroenterite (diarreia aquosa aguda ou diarreia crônica) e sepse relacionada à transfusão; doença entérica em crianças pode se manifestar com nódulos linfáticos mesentéricos aumentados e doença parecida com a apendicite aguda. Y. pestis é uma infecção zoonótica, humanos são hospedeiros acidentais; reservatórios naturais incluem ratos, esquilos, coelhos e animais domésticos Doença é transmitida por mordidas de pulga, contato direto com tecidos infectados ou pessoa a pessoa, por inalação de aerossóis infectados de um paciente com doença pulmonar Outras infecções causadas por Yersinia são transmitidas por exposição a produtos alimentares contaminados ou produtos sanguíneos (Y. enterocolitica). Colonização por outras espécies de Yersinia pode ocorrer. ❏ Shigella ● Bacilos Gram negativos ● Anaeróbios facultativos ● Fermentadores, oxidase negativos Lipopolissacarídeo consiste do O polissacarídeo do antígeno somático O, o polissacarídeo central (antígeno comum) e o lipídeo A (endotoxina) ● Quatro espécies reconhecidas: S. sonnei responsável pela maioria das infecções em países desenvolvidos; S. flexneri responsável pelas infecções em países em desenvolvimento; S. dysenteriae responsável pelas infecções mais graves; S. boydii que raramente é isolada ● Virulência - exotoxina (toxina Shiga) produzida por S. dysenteriae inibe a síntese de proteína e produz danos endoteliais ● Doença — a forma mais comum da doença é a gastroenterite (shigellose), uma diarreia aquosa inicial progride dentro de 1 a 2 dias para dores abdominais e tenesmo (fezes com ou sem sangue); a forma grave da doença é causada por S. dysenteriae (disenteria bacteriana); um pequeno número de pacientes se torna carreador assintomático (reservatório para futuras infecções) ● Humanos são o único reservatório dessa bactéria ● Transmissão da doença ocorre pessoa a pessoa por via orofecal ● Pacientes com alto risco para a doença são crianças pequenas em creches e instituições decustódia; irmãos e parentes dessas crianças; Identificar e caracterizar o patógeno causador da diarreia sanguinolenta e SUH. O patógeno causador da diarreia sanguinolenta, assim como da SUH ´é a Escherichia coli. A Escherichia coli é uma bactéria gram-negativa pertencente à família Enterobacteriaceae. Esta bactéria coloniza o intestino de humanos poucas horas após o nascimento, permanecendo como comensal durante toda a vida. Quando as cepas de E. coli adquirem certo material genético adicional, elas podem se tornar patogênicas ao trato gastrointestinal (TGI). Além disso, a infecção do trato urinário (ITU) tem como principal patógeno a E. coli, acometendo principalmente mulheres. A doença sistêmica é rara em adultos, mas tem certa importância em recém-nascidos e em adultos que adquiriram em meio hospitalar. As cepas de E. coli que causam gastrenterite são subdivididas em cinco grupos principais: enterotoxigênica, enteropatogênica, enteroagregativa, enterohemorrágica e enteroinvasiva (Tabela 27-2). Os três primeiros grupos causam uma diarreia secretora envolvendo o intestino delgado, enquanto nos dois últimos grupos a infecção geralmente envolve o intestino grosso. A cepa causadora da diarreia sanguinolenta é a E. coli enterohemorrágica (EHEC, de enterohemorrhagic E. coli). ➔ E. coli enterohemorrágica A toxina verotoxina produzida por essas estirpes causa a morte de células do intestino grosso, produzindo diarréias sanguinolentas. O principal fator de virulência dessas bactérias é uma toxina do tipo Shiga. As toxinas Shiga constituem uma família de toxinas que estão intimamente relacionadas. Algumas linhagens de E. coli que produzem toxinas do tipo Shiga são chamadas de E. coli produtoras de toxina Shiga (STEC, de Shiga-toxin-producing E. coli). A verdadeira toxina Shiga é produzida somente por Shigella dysenteriae. A maioria dos surtos ocorre devido à EHEC sorotipo O157�H7. Outras linhagens menos conhecidas incluem a O121 e a O104�H21. Como a toxina é liberada em consequência da lise celular, a antibioticoterapia pode agravar os danos ao provocar a liberação de mais toxina. As bactérias EHEC (em roxo) aderem-se à parede epitelial, destruindo a superfície das microvilosidades e causando a formação de projeções semelhantes a pedestais (em amarelo), sobre as quais elas se apoiam. A função dessas estruturas ricas em actina ainda não está elucidada, mas elas podem facilitar a disseminação das bactérias para as células vizinhas. As criações de gado, as quais não são afetadas pelo patógeno, são o principal reservatório; as infecções são disseminadas por água ou alimentos contaminados. Atualmente, 2 a 3% do gado doméstico carreia STEC, a qual contamina a carcaça no momento do abate. Existem exigências para a testagem da carne moída para a presença dessa linhagem de E. coli, principalmente se ela é destinada à exportação. Vegetais folhosos também podem ser contaminados, muitas vezes pelo escoamento de rejeitos de confinamentos. Alimentos ingeridosnão são a única fonte de infecção; alguns casos têm sido associados com a visita de crianças a fazendas e zoológicos. Estima-se que a dosagem infecciosa seja bem pequena, provavelmente muito menor que 100 bactérias. Em seres humanos, as toxinas Shiga frequentemente causam apenas uma diarréia autolimitada, mas em cerca de 6% das pessoas infectadas, elas produzem uma inflamação do colo (a porção final do intestino grosso que termina logo acima do reto) envolvendo um sangramento profuso, chamada de colite hemorrágica. Diferentemente da Shigella, estas bactérias E. coli não invadem a parede intestinal (ver Figura 25.7), mas, em vez disso, elas liberam a toxina no lúmen (espaço) intestinal. Outra complicação perigosa é a síndrome hemolítico-urêmica (HUS, de hemolytic uremic syndrome). Caracterizada por sangue na urina, frequentemente levando à insuficiência renal, a HUS ocorre quando os rins são afetados pela toxina. Cerca de 5 a 10% das crianças pequenas que foram infectadas progridem para esse estágio, que tem uma taxa de mortalidade de cerca de 5%. Os cuidados desses pacientes envolvem principalmente a reidratação intravenosa e o monitoramento cuidadoso dos eletrólitos séricos. Alguns sobreviventes da HUS podem exigir diálise renal ou mesmo transplantes. Estima-se que 200 a 500 óbitos ocorram anualmente. ➔ Síndrome Hemolítica- urêmica (SHU) A Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU) é uma doença grave, responsável por falência renal aguda na população pediátrica mundial, principalmente em crianças com menos de quatro anos. Em geral, todas as pessoas estão vulneráveis a adquirirem infecção por microrganismos que causam a Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU), porém sua ocorrência é mais frequente em menores de 5 anos. É caracterizada pelo conjunto de sinais e sintomas que são manifestados por anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia e lesão renal aguda, conhecidos como a tríade da SHU, podendo acontecer ou não após episódios de diarreia com sangue. A SHU é uma das principais causas de insuficiência renal aguda em crianças e pode ser definida pela presença de trombocitopenia (contagem de plaquetas inferior a 150.000/mm3), início agudo de anemia com sinais de hemólise microangiopática em esfregaço de sangue periférico e por lesão renal aguda evidenciada por palidez, hematúria, proteinúria ou aumento do nível sérico de creatinina. A incidência de SHU varia entre 0,2 e 3,4/100.000 a cada ano. Cerca de 90% dos casos de SHU são precedidos por um quadro de gastrenterite aguda, sendo mais de 80% após infecção por E. coli, produtora de toxina do tipo SLT. Algumas crianças podem requerer diálise renal ou mesmo transplantes, pois essa enfermidade é de grande gravidade que leva à falência renal e morte. (CESTARI et al., 2008). Uma característica da EHEC que a distingue dos outros sorotipos é a inabilidade de produzir ß-glucoronidase. Portanto, a EHEC não cresce bem a uma temperatura de 44 a 44,5°C, sendo esta uma temperatura comumente usada no crescimento de E. coli em alimentos e amostras de água. ➔ Diarreia sanguinolenta A diarreia aguda (DA) é uma importante causa de mortalidade em crianças com menos de cinco anos. Embora a mortalidade por diarreia nessa faixa etária tenha tido uma redução de mais de 30% nos últimos 15 anos, a DA continua a ser a segunda causa de óbito.1 Apesar da queda na mortalidade, a morbidade em países em desenvolvimento, especialmente na África subsaariana e no sul da Ásia, continua a ser bastante elevada.2 A DA (também nominada como gastroenterite, enterite aguda ou enteroinfecção) deve ser suspeitada quando há uma diminuição, e início abrupto, da consistência das fezes e/ou um aumento da frequência evacuatória associado ou não a início súbito de vômitos; eventualmente com a presença de sangue. Na maioria das crianças, a DA tipicamente dura menos de sete dias e não mais de 14.3 Nos textos médicos, com frequência, o termo disenteria aparece como sinonímia de DA com sangue (fezes sanguinolentas).4 Outros, caracterizam a disenteria como presença de fezes com sangue e/ou muco, associada a febre e cólicas abdominais. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0021-75572020000700020&script=sci_arttext&tlng=pt#B1 https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0021-75572020000700020&script=sci_arttext&tlng=pt#B2 https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0021-75572020000700020&script=sci_arttext&tlng=pt#B3 https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0021-75572020000700020&script=sci_arttext&tlng=pt#B4 Caracterizar os principais mecanismos de agressão do patógeno e de defesa do homem a estes microrganismos. Conhecidamente, a produção da toxina shiga (stx1, stx2 ou variantes) é o fator de virulência principal das STECs, embora outros fatores descritos, também estarem associados às doenças em humanos. Tais fatores são utilizados na caracterização de E. coli entero-hemorrágica (EHEC), um subtipo de STEC (CAPRIOLI et al., 2005). No subgrupo EHEC o gene eae é responsável pela produção da adesina intimina uma proteína da membrana externa, que é causadora de uma lesão histopatológica no epitélio intestinal denominada “attaching and effacing” (lesão A/E) (KAPER et al., 2004). Cepas de STEC também podem produzir a enterohemolisina (ehx), a qual é considerada um marcador de alta virulência, sabe-se que, em grande parte dos casos de CH e SHU existe a produção concomitante de stx e ehx (TRABULSI, 2008). Com a finalidade de criar mecanismos de escape e maior patogenicidade, as cepas de STEC podem ou não possuir também um plasmídeo (pO157) que contém vários genes de virulência (LIM et al., 2005; MURRAY et al., 2014). Os genes Stx1 e Stx2 codificam as toxinas stx1 e stx2, respectivamente. Em contato com as células epiteliais do intestino do hospedeiro essas toxinas são absorvidas, entrando na corrente circulatória, buscando seus principais alvos que são as células endoteliais de artérias de pequeno porte, dos rins, do cérebro e de mucosas gastrointestinais. Essas células expressam o receptor glicolipídico globotriacilceramida (Gb3) responsável pelo processo de internalização das toxinas. Após a ocorrência desse processo, ocorre a ligação das toxinas com o ácido ribonucléico ribossomal (rRNA) resultando em uma cascata de reações que inclui a inibição da síntese protéica ou apoptose celular. A SUH, é causada pela hiperativação da via alternativa do complemento, e é subdividida em SHU típica (associada a toxinas), SHU atípica (determinada por anormalidades primárias na via alternativa do complemento), SHU secundária (associada a doenças sistêmicas, transplante, drogas, gestação, sepse, hipertensão maligna e tumores) e, por fim, SHU idiopática. Na SHU-STEC, a toxina Shiga causa dano endotelial direto, com aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias, aumentando o risco de trombose com danos a diversos órgãos, principalmente os rins. Além disso, essa toxina ativa a via alternativa do sistema complemento, amplificando a resposta inflamatória. A lesão patológica fundamental parece ser a deposição de fibrina nas paredes dos capilares e das arteríolas, e esses depósitos são semelhantes aos que se formam na SHU de diferentes etiologias. Essas anormalidades da microcirculação afetam principalmente os rins e poucas vezes ocorrem em outros órgãos. O histopatológico renal demonstra depósitos amorfos subendoteliais e mesangiais, bem como grande quantidade de fibrina no interior das alças glomerulares. O consumo excessivo de plaquetas leva a trombocitopenia, e a destruição mecânica das hemácias leva a anemia hemolítica microangiopática. Os sinais e sintomas mais frequentes são insuficiência renal aguda, acompanhada por palidez, petéquias e hematomas. Alguns pacientes podem desenvolver quadros de hipertensão arterial. Além disso, cerca de 25% dos pacientes apresentam manifestações neurológicas como convulsões, letargia,irritabilidade e até coma. Frequentemente, a SHU é acompanhada por gastroenterite e diarréia sanguinolenta. E em alguns casos pode ter a ocorrência de febre, porém a ausência dela pode ajudar na diferenciação da SHU das shigeloses e também de outras disenterias causadas por cepas entero-invasivas de E. coli e Campylobacter. O principal reservatório de STEC que vem sendo apontado é o gado bovino. A contaminação cruzada na preparação de alimentos e a contaminação fecal da água e outros alimentos também constituem uma importante via de infecção. A transmissão se dá pelo consumo de alimentos contaminados, especialmente aqueles preparados com carne moída crua ou mal cozida e leite não pasteurizado (EDUARDO, et al. 2002). As cepas produtoras de STEC são resistentes e podem sobreviver por muitos meses no solo, nas fezes e na água contaminada com matéria fecal. Por exemplo, a E. coli O157�H7 tem condições de sobreviver nos sucos e nas carnes fermentadas que apresentam baixo pH. E ainda pode ocorrer contaminação de verduras pela irrigação com água contaminada. ➔ Transmissão As doenças veiculadas por alimentos são extremamente comuns em todo mundo. A transmissão de E. coli O157�H7 pode ocorrer por uma variedade de caminhos devido a fatores ecológicos e epidemiológicos. Contudo sua principal via de transmissões é a oral, através do consumo de alimentos contaminados, leite não pasteurizado, carnes, ovos crus ou malcozidos e vegetais crus (LIM et al.,2010). Outra via de transmissão relatada é a fecal-oral, nos quais hábitos inadequados de higiene são os precursores do processo (TRABULSI, 2008). É oportuno lembrar que, manipuladores de alimentos, instituições que prestam serviços e cuidados para populações mais susceptíveis como: crianças, idosos, deficientes mentais e imunossuprimidos, devem apresentar hábitos higiênicos adequados, a fim de evitar o aumento da transmissão. ➔ Diagnóstico A SHU também pode ser diagnosticada através da observação das manifestações clínicas e sua confirmação é dada mediante resultados de exames laboratoriais de sangue, que avaliem a função renal e a presença de anemia microangiopática O diagnóstico é feito geralmente pela pesquisa de bactérias nas fezes do paciente e sua identificação por métodos fenotípicos e moleculares. Em relação a Escherichia coli O157�H7, as fezes devem ser cultivadas em ágar-McConkey contendo D-sorbitol, sendo que esta bactéria não fermenta (ou fermenta muito vagarosamente) este carboidrato. Uma característica da E. coli O157�H7 que a distingue dos outros sorotipos é a inabilidade de produzir ßglucoronidase. Portanto, a E. coli O157�H7 não cresce bem a uma temperatura de 44 a 44,5°C, sendo esta uma temperatura comumente usada no crescimento de E. coli em alimentos e amostras de água. A presença de genes que codificam as toxinas Stx e o gene que determina a lesão A/E pode ser determinada por sondas de DNA específicas ou por PCR. A ação da toxina pode ser comprovada através da demonstração de atividade citotóxica para células em cultura de tecido (células VERO), entretanto, é mais trabalhosa. A sorologia para identificação do sorogrupo baseia-se na presença de antígenos de natureza polissacarídica e lipopolissacarídica, localizados na parede bacteriana, também denominados de antígenos somáticos (O). Para a determinação do sorotipo outras estruturas antigênicas como flagelos, também denominados antígenos H, são determinadas. Os diferentes antígenos são identificados por meio de testes de aglutinação, utilizando-se anti-soros preparados em coelhos. A E. coli pode ser cultivada prontamente a partir das fezes em condições aeróbias. No entanto, as E. coli patogênicas não são distinguíveis das cepas não patogênicas ou umas das outras por sua aparência em placas de cultura ou pelos resultados dos testes bioquímicos usuais. Por esse motivo, testes moleculares são necessários para diferenciar as cepas diarreiogênicas. ➔ profilaxia Muitos casos de colite hemorrágica e suas complicações associadas podem ser evitados com o cozimento completo da carne moída e o não consumo de produtos não pasteurizados como sidras de maçã. A prevenção deve iniciar-se com a seleção da matéria-prima, em um contexto macro, observando a higiene no local da criação dos animais, a disposição do lixo separado do local de pastagem e confinamento, assim como a separação dos animais doentes. Nos abatedouros devem ser evitadas a entrada do animal sujo no local de abate e a contaminação cruzada decorrente do contato das vísceras e conteúdo gastrintestinal com a carne. Para a prevenção, é importante que a população seja alertada para o perigo potencial da exposição às fezes de animais infectados, podendo assim tomar medidas que diminuam os riscos. Simples medidas como atenção à higiene pessoal e à higiene dos alimentos são elementos fundamentais para a prevenção de infecção por E. coli O15718. A prevenção das doenças transmitidas por alimentos baseia-se no consumo de água e alimentos que atendam aos padrões de qualidade da legislação vigente, higiene pessoal/alimentar e condições adequadas de saneamento. As recomendações que seguem são de aplicação geral, tanto para os alimentos comprados no comércio informal como nos serviços de alimentação inspecionados: ● Lave as mãos regularmente:- antes, durante e após a preparação dos alimentos;- ao manusear objetos sujos;- depois de tocar em animais;- depois de ir ao banheiro ou após a troca de fraldas;- antes da amamentação; ● Selecione alimentos frescos com boa aparência e, antes do consumo, os mesmos devem ser lavados e desinfetados; ● Para desinfecção de hortifruti (frutas, legumes e verduras) deve-se imergir os alimentos em uma solução preparada com 10 ml (1 colher de sopa) de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água tratada; ● Os ovos devem ser lavados em água potável, um por vez, somente antes do uso (nunca antes de estocar); ● Lave e desinfete todas as superfícies, utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos; ● Assegure-se de que os alimentos cozidos estejam mantidos sob a temperatura adequada antes do consumo (refrigerados ou aquecidos); ● Alimentos prontos para o consumo devem ser protegidos de novas contaminações e mantidos sob rigoroso controle de tempo e temperatura:- alimentos quentes devem ser mantidos a 60°C ou mais;- alimentos frios devem ser mantidos abaixo de 5ºC. ● Alimentos perecíveis só podem permanecer em temperatura ambiente pelo tempo mínimo necessário para sua preparação. Evite consumir alimentos que ficaram muito tempo sob a temperatura ambiente; ● Reaqueça bem os alimentos que tenham sido congelados ou refrigerados antes de consumi-los; ● Compre alimentos seguros, verificando prazo de validade, acondicionamento e suas condições físicas (aparência, consistência, odor). Não compre alimentos sem etiqueta que identifique o produtor; ● Os pescados e mariscos de certas espécies, e em alguns países em particular, podem estar contaminados com toxinas que permanecem ativas, apesar de uma boa cocção. Solicite orientação aos moradores e produtores locais; ● Consuma leite pasteurizado, esterilizado (UHT) ou fervido. Não beba leite nem seus derivados crus; ● Sorvetes de procedência duvidosa são de risco. Evite-os. ● Evite o consumo de alimentos crus, mal cozidos/assados (carnes e derivados); ● Evite preparações culinárias que contêm ovos crus (Ex. gemada, ovo frito mole, maionese caseira); ● O congelamento dos produtos cárneos (-18ºC) por 7 dias elimina a maioria de cistos teciduais causadores da toxoplasmose. ● Evite o contato entre alimentos crus e alimentos prontos para o consumo para impedir contaminação cruzada; ● Evite ingerir alimentos comercializados em estabelecimentos não inspecionados. ● Mantenha os alimentos fora do alcance de insetos, roedores e outros animais; ● Evitese banhar em rios, lagos, mares e piscinas cuja água seja/esteja contaminada; ● Beba água e/ou gelo apenas de procedência conhecida; ● Quando estiver em dúvida quanto à potabilidade da água de beber, recomenda-se fervê-la ou tratá-la com solução de hipoclorito de sódio a 2,5 %. Coloque 2 gotas em 1 litro de água e aguarde por 30 minutos antes de consumir. Cuidado para não utilizar soluções comerciais com hipoclorito de sódio a 2,5% que também tenham alvejantes na composição. ➔ controle Identificar e retirar, imediatamente, o alimento contaminado dos locais de produção e distribuição, para interromper a cadeia de transmissão e evitar a ocorrência de novos casos. Orientar que os pacientes não utilizem medicamentos sem indicação médica e procurem atendimento para realizar o tratamento adequado. É particularmente importante reconhecer que muitas bactérias entéricas são"oportunistas" que causam doenças quando introduzidas em pacientes debilitados. No ambiente hospitalar ou em outras instituições, essas bactérias são comumente transmitidas por agentes de saúde, por instrumentos ou por medicações parenterais. Seu controle depende da lavagem das mãos, de assepsia rigorosa, da esterilização do equipamento, de desinfecção, da restrição da terapia intravenosa e de precauções restritas para manter as vias urinárias estéreis (i. e., drenagem fechada). ➔ Tratamento O tratamento da SHU-STEC não está totalmente definido na literatura. Em crianças, baseia-se no manejo de suporte, com diálise, transfusões e anti-hipertensivos, e em adultos, além do exposto, alguns autores propõem a plasmaferese, outros, eculizumabe, sem evidências sólidas a favor de uma ou outra terapia7-10. Em relação ao SHU-STEC pós-transplante, foi descrito um caso em um paciente com transplante de pulmão que apresentava grave comprometimento neurológico https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-28002020005039204&script=sci_arttext&tlng=pt#B7 https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-28002020005039204&script=sci_arttext&tlng=pt#B10 em resposta ao manejo com plasmaferese11. Outro relato descreve um paciente submetido a transplante de medula óssea que apresentou sintomas neurológicos e deterioração da função renal, e que recebeu tratamento com eculizumab com melhora dos sintomas neurológicos, bem como estabilização da função renal aos 7 meses de seguimento. Ville et al. descreveram cinco pacientes com transplante de órgãos sólidos que apresentavam SHU-STEC, dos quais dois eram transplantes renais e nos quais foi usado eculizumab, mas com resultados inconclusivos. No entanto, o eculizumab não é atualmente recomendado para o tratamento de SHU-STEC em qualquer população, pois não há evidência de benefício. Tratamento da E.coli E. coli O157�H7. De início, a terapia de reidratação hídrica e mineral é fundamental para tentar obter o controle do quadro. Entenda-se como método de reposição a oferta oral de líquidos de preferência que contenham glicose e sódio. Visto que, a absorção ativa da glicose na presença de íons sódio carrega grande volume de água para o interior dos enterócitos e depois para circulação sanguínea aumentando assim a volemia. Outro aspecto relevante, é que o doente continue, tanto quanto possível a se alimentar. A ciprofloxacina é o antibiótico de primeira escolha para pacientes com EHEC (GONZALES et al., 2011). A utilização de antidiarreicos, se por um lado reduz a motilidade intestinal e, como consequência, diminui significativamente as perdas hídricas, por outro, favorece maior tempo de permanência do agente ou da toxina no ambiente entérico, sendo, portanto, uma medida discutível Determinar a situação epidemiológica da patologia na Bahia e no Brasil. As infecções por E. coli podem ser endêmicas ou epidêmicas e tem distribuição mundial. A relevância epidemiológica de cada sorogrupo varia de acordo com a região geográfica. https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-28002020005039204&script=sci_arttext&tlng=pt#B11 Listar os possíveis fatores de risco para o surgimento da SUH. Os principais fatores de risco relacionados ao surgimento de SUH são: ● ingestão de alimentos ou de água contaminada ● surto na comunidade conhecido de E coli toxigênica ● exposição a indivíduos infectados em ambientes institucionais ● predisposição genética (SHU atípica)
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