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BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (EDUCAÇÃO FÍSICA) Didatismo e Conhecimento 1 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) 1. BETTI, MAURO. IMAGEM E AÇÃO: A TELEVISÃO E A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR. IN: ______ (ORG.) EDUCAÇÃO FÍSICA E MÍDIA: NOVOS OLHARES, OUTRAS PRÁTICAS. SÃO PAULO: HUCITEC, 2003. A presente obra é analisada em quatro capítulos, as implica- ções e interfaces dos meios de comunicação e outras mídias para a Educação Física, em especial na formação de professores, na prática docente e na própria interação midiática. As pesquisas sobre mídia, educação física e pedagogia datam do início do século XX, acom- panhando as transformações nas tecnologias de informação e comu- nicação (TICs), o aprofundamento dos estudos sobre o corpo no ca- pitalismo e a produção de subjetividades, interações sociais e novos conhecimentos, bem como os avanços das ciências pedagógicas. A partir de tais transformações sociais, o professor deve realizar uma reflexão sistemática sobre sua prática para compreender os impactos da mídia na educação física. AUTOR Mauro Betti - possui graduação em Licenciatura e Mestra- do em Educação Física pela USP, Doutorado em Educação pela UNICAMP, Livre-Docência pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Pós-Doutorado pela Universidade Federal de Santa Ca- tarina. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Educa- ção Física da Faculdade de Ciências da UNESP, campus de Bauru, e docente credenciado no Programa de Pós-Graduação em Educação (mestrado e doutorado) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP de Presidente Prudente. Lidera o Grupo de Estudos Socio- culturais, Históricos e Pedagógicos da Educação Física (CNPq). Atua na área de Educação Física, nos seguintes temas: Educação Física escolar, concepções teórico-metodológicas no ensino da Educação Física, inovação curricular, mídias, saberes da Educação Física, experiências formativo-educacionais no esporte e metodolo- gia das pesquisas qualitativas. É autor dos livros: Educação Física e Sociedade, A Janela de Vidro: esporte, televisão e educação física, e Educação Física Escolar: ensino e pesquisa-ação, além de inúmeros artigos em periódicos especializados. Foi assessor dos PCNs (5a a 8a séries do Ensino Fundamental) e da Proposta Curricular do Es- tado de São Paulo para a disciplina Educação Física. Entre 1980 e 1985 foi professor de ensino de 1º grau da Prefeitura de São Paulo. SINÓPSE O objetivo da pesquisa é propiciar aos professores uma reflexão crítica sobre a prática, com vistas à utilização das mídias, em espe- cial a televisão e seu discurso, nas aulas de educação física. Betti mostra que as imagens e sons midiáticos mobilizam os indivíduos e interagem com o imaginário socialmente construído, desenvolvendo uma cultura corporal do movimento: “a parcela da cultura geral que abrange algumas das formas culturais que se veem historicamente construindo, nos planos material e simbólico, mediante o exercício (em geral sistemático e intencionado) da motricidade humana - jogo, esporte, ginástica e práticas de aptidão física, atividades rítmicas/ expressivas etc.” (p. 93) Em outras palavras, cultura corporal do mo- vimento é o exercício intencional e sistemático da motricidade hu- mana, constituído historicamente e codificado culturalmente no que hoje definimos como esporte, ginásticas, danças, jogos, etc. e que compõem os meios e conteúdos da Educação Física, esta sendo um campo de saber articulado a outras intencionalidades pedagógicas. As principais tendências da cultura corporal de movimento, apontadas por Betti são: 1) Novas esportivizações, relacionando a cultura corporal à es- petacularização; 2) Distanciamento do esporte telespetáculo das outras manifes- tações da cultura esportiva, devido à mídia e aos interesses econô- micos; 3) “Confundimento” ou “entrelaçamento” entre os modelos de estética corporal e do fitness (saúde/aptidão física). Especificamente quanto ao uso da televisão e do vídeo na edu- cação física, Betti ressalta as seguintes vantagens: 1) motivação para o debate e a reflexão sobre temas atuais a partir do conhecimento prévio e cotidiano dos alunos; 2) atratividade da linguagem jornalística, que é mais sintética e ilustrada; 3) os audiovisuais dão destaque a informações e chamam a atenção, muitas vezes mais que o professor; 4) substituem longas exposições e textos; 5) as imagens televisivas atingem primeiramente as emoções e, em seguida, o professor deve trabalhar as interpretações racionali- zadas e críticas. Betti explica alguns objetivos da utilização dos audiovisuais nas aulas de educação física escolar: 1) sensibilização, ao introduzir novo assunto e motivar os alu- nos; 2) ilustração, trazendo e compondo cenários desconhecidos; 3) conteúdo de ensino, de forma direta, apresentando o tema específico ou de forma indireta, permitindo abordagens interdisci- plinares. A partir da pesquisa-ação desenvolvida por Betti, são apresen- tadas algumas recomendações para o uso das mídias na educação física, em especial a TV e vídeo: 1) partir de um tema e/ou situação atual e de interesse dos alu- nos, porém, integrado ao tema trabalhado no currículo naquele pe- ríodo; 2) utilizar matérias curtas, evitando matérias essencialmente narrativas; 3) preparar a utilização da matéria, verificando a veracidade das informações; 4) articular exibição do vídeo com vivências corporais; 5) favorecer a discussão sobre o vídeo, articulando-a à vivência dos alunos e à cultura corporal de movimento, em seu contexto his- tórico (passado e presente) e com dados científicos; Betti ressalta a dificuldade de obter materiais adequados para trabalhar nesta concepção pedagógica. Porém, faz-se necessário que o professor se aproprie das novas tecnologias de informação e comunicação que fazem parte do seu próprio cotidiano e de seus alunos. Didatismo e Conhecimento 2 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) COMENTÁRIO A sociedade contemporânea é marcada pelo consumo frenético das tecnologias entre os jovens, absorvem mensagens curtas numa velocidade típica de anúncios publicitários, característicos da per- cepção mundializada. Comentários e dúvidas sobre novas práticas esportivas e corporais, surgem nas aulas de Educação Física. Tais dúvidas se dão, ao grande espaço ocupado pela mídia no cotidiano de jovens, adultos e crianças. Permitindo considerar o grande poder de influência crescente que a mídia exerce sobre a cultura corporal de movimento. Assim, a obra busca desenvolver reflexões teóricas e possibilidades na articulação entre a Educação Física escolar e a cultura midiática, analisando as principais interpretações e suas pro- postas sobre a mídia no âmbito pedagógico, objetivando analisar e identificar objetos da cultura midiática, contextualizando como prá- tica pedagógica no âmbito da Educação Física escolar. RESUMO Na obra de sua autoria, “Imagem e ação: a televisão e a educa- ção física escolar”, Betti, valendo-se do método compreensivo, da abordagem fenomenológica e da técnica da Pesquisa-Ação, propõe uma investigação sobre o discurso televisivo e sua relação com a Educação Física. O autor parte do pressuposto de que a Educação Física constitui-se um fenômeno cultural, compreendido pelas suas características intrínsecas, lúdicas e agonísticas, presentes no espor- te, no jogo, desenvolvidas no contexto da industrialização da Europa no século XIX e ampliadas mundialmente com a globalização. A televisão é um elemento dinamizador da cultura corporal do movimento, com grande capacidade de produzir discursos audiovi- suais, gerando uma lógica de espetacularização. Somos bombarde- ados por informações televisivas e outras mídias, por meio de ima- gens, palavras e sons. Alguns autores afirmam que vivemos imersos em uma cultura das mídias, que estão cada vez mais integradas ao cotidiano, formando nosso imaginário e visão de mundo. Entretanto, o conteúdo veiculado pelas diversas mídiasapresenta um caráter de espetáculo e entretenimento, e não há uma preocupação educativa, no sentido formal do termo. Diante do mosaico de informações, o indivíduo seleciona e estabelece as conexões de sentido que lhe in- teressam e satisfazem. Neste contexto, baseados na obra em comento, vamos discorrer sobre o tema. A Mídia e o Esporte Discorrer neste momento sobre as possibilidades do corpo é re- fletir sobre o ser humano e sua condição de se comunicar por meio do movimento, da expressão, dos gestos, da fala, do olhar, do toque, enfim, é tratar de todas as posses que o corpo, como ser, oferece. Ser um corpo com tantas possibilidades é, sem dúvida, uma caracterís- tica que diferencia os seres humanos dos demais seres que habitam este planeta. Pensar, sentir, agir, criar, dialogar, relacionar-se, entre tantas outras particulares, caracterizam esses seres complexos que, vivendo sua existencialidade, são capazes de substituir adaptando-se às mais diversas situações da vida. Existencialidade traduzida pela presença do ser humano em ações individuais e coletivas, desenvol- vendo sua organização autônoma. Essa dinâmica conduz os seres humanos a se conhecerem e se complementarem na assimilação e na elaboração dos processos vitais. O tema inclusão também é abordado, pois, falar de inclusão é recorrer aos acontecimentos que vêm marcando o olhar atento, críti- co e preocupado de toda a sociedade sobre um grupo de pessoas que se apresentam fora do padrão de corpos impostos pela sociedade: os corpos deficientes. Grupo que grita atendimento solicita atenção e deseja ocupar espaços sociais e culturais que são dele por direito, como de qualquer outro humano. Debater o conceito de inclusão é retomar as questões postas pela Convenção Internacional para a eliminação de todas as formas de discriminação contra o portador de necessidades especiais. Os corpos deficientes na escola estão vivendo uma modificação rigorosa quanto ao seu imaginário social, e isso, do ponto de vista da concretização, desencadeia uma identificação da sociedade com o tema em questão, que se manifesta na busca de ações coletivas e sua manutenção, bem como no estabelecimento de sistemas de organização, normas de convivência sociais e possíveis trocas para que se efetivem as novas aspirações. O autor aponta no texto alguns princípios de inclusão tais como: - Mudanças e transformações nos conceitos e valores sociais do ser humano, da sociedade e do mundo como um todo; - Entrelaçamento nas diferenças humanas deixando de lado os valores de padronização de desempenho e de desenvolvimento; - Fundamental valorização da individualidade; - Inserção social, tolerância e respeito para com o outro. Dessa forma, pensar nos corpos em diálogo com as diferen- ças em aulas de educação física é assumir radicalmente o mistério guardado dentro de cada corpo, enquanto ser capaz de aprender e ensinar, mistério esse constantemente renovado conforme forem re- novados os desafios que os educadores consigam lançar sobre esses corpos. Em relação à educação física e treinamento esportivo, a indi- vidualidade das pessoas na prática regular da atividade física voltada à saúde passa pela tríade tão bem descrita na literatura quando se fala em seres humanos, ou seja, a interação com os valores biológi- cos, psicológicos e sociais. Em relação aos aspectos biológicos situam-se intervenções de atividades físicas com forte influência dos parâmetros: - De composição corporal, atuando no gasto energético e asse- gurando equilíbrio entre ingestão alimentar e gasto calórico. - Da força muscular no sentido de utilizar grupos musculares possíveis, podendo executar atividade com o peso do próprio corpo ou com aparelhos; - Da prática de modalidades desportivas com estratégias dife- rentes das regras oficiais, ou mesmo com as oficiais adaptadas para atingir todas as faixas etárias e gêneros, bem como pessoas com cui- dados especiais. - Do consumo de oxigênio para a melhoria do sistema cardio- vascular; - Da flexibilidade por meio de movimentos com grandes ampli- tudes articulares. Todos esses fatores são indicadores de atividades físicas ade- quadas à saúde dos indivíduos. Assim, visando à formação de hábi- tos saudáveis, como a prática de exercícios físicos, é necessário que a escola assuma a incumbência de promover, de forma educativa, os conhecimentos dos valores da atividade física e dos esportes para uma vida ativa. É de responsabilidade do processo educacional a transmissão dos conhecimentos científicos que são produzidos nas universidades e nos centros de pesquisas relativos á melhoria e su- peração das condições sociais, biológicas e psicológicas das pessoas envolvidas com a sistematização de práticas de exercícios. Didatismo e Conhecimento 3 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) O treinamento físico é considerado uma forma segura de inter- venção, porém a avaliação dos praticantes de exercícios físicos é ne- cessária para garantir, o máximo de segurança e uma prescrição de exercícios bem fundamentada e eficaz, tanto para indivíduos aparen- temente saudáveis quanto para os portadores de doenças crônicas. Quanto ao lazer e educação física, o texto apresentado na obra fala sobre as questões que envolvem atividades físico-esportivas, e de lazer, e de modo geral, ainda mais quando aquelas são consideradas como conteúdos culturais do lazer, apesar dos avanços verificados nos últimos anos, encontra ainda hoje barreiras nos meios acadê- micos e em faculdades de educação física, por mais que venham ganhando importância na nossa sociedade. No ramo pedagógico, a educação física motora ou escolar, pos- sui ligações com o duplo aspecto de lazer - educação para o lazer e pelo lazer. O ideal em termos de estratégia de ação seria o estabele- cimento de políticas de intervenção, reunindo setor público, gover- namental e não governamental, e privado na busca do enfrentamen- to das questões que procuram assegurar o direito constitucional de acesso ao lazer a toda população. Já no quesito da educação física no aspecto da corporeidade e motricidade, a intenção maior não é fazer com que os alunos entendam esse fenômeno da corporeidade. Por se tratar de um fenômeno, não complicado, mas complexo, mas sim, proporcionar a oportunidade de, através da disciplina de Educação Física, discutir questões que envolvam e fazem parte desse fenô- meno, questões essas relacionadas com o corpo em sua totalidade. Falar de corporeidade é falar do ser humano, da vida, falar do que sou e da minha relação com os outros e com o mundo. Essa é inten- ção maior, trazer os alunos do Ensino Médio para essas reflexões sobre questões que tratam do corpo. Sendo a Educação Física uma disciplina que trabalha diretamente com o corpo cabe a ela através de seus profissionais trabalharem essas questões. Cada corpo tem sua corporeidade que, no fundo, corresponde à sua arquitetura. A corporeidade é o que faz com que um corpo seja tal corpo. O organismo humano, como uma espécie viva, tem sua própria corporeidade. Mas cada indivíduo, segundo a engenha- ria genética revela, possui uma corporeidade própria. Em relação à motricidade, a ação motora requer ensinamentos que capacitem o in- divíduo no seu aprendizado e na prática do dia-a-dia. As dimensões sociais do ser corpóreo assumem funções essenciais para qualquer atividade ou trabalho. Entretanto faz-se necessário alocar aqui uma reflexão mais consistente daquilo que é a verdadeira substância da corporeidade, é preciso evidenciar a fala de Freire quando diz que “O corpo, inevitavelmente, não está morto; Nossa condição corporal e sempre presente”. Nessa colocação fica claro que somos e estamos no mundo. Fazendo parte dele, agindo e interagindo a todo instante, numa troca recíproca entre indivíduo e meio. O ser humano vive através de sua corporeidade. Não se pode misturar corpo e corpo- reidade. O indivíduo interage e se comunica através do seu corpo, entretanto, tudo isso queestá marcado em seu corpo, tem a ver com a corporeidade que se refere e torna-se notório através de seu cor- po, mas, tudo que emerge de seu corpo diz respeito à corporeidade. Uma corporeidade capaz de fazer a trajetória histórica do indivíduo, que, na maioria das vezes, nem percebe essa dimensão que o corpo assume a todo instante. Entre os principais aspectos, cita-se traçar um panorama na re- lação do ser humano e ecossistema, identificação da educação física como área do conhecimento em diálogo com a temática ambiental, estudos do lazer como uma das vertentes da área de educação física e como espaço para o debate das práticas de atividades e esportes em ambientes naturais e ainda projetar uma educação física e um lazer comprometidos com a sustentabilidade de todas as formas de vida no ecossistema. Algumas considerações sobre a educação física e saúde, desenvolvimento humano e cultura sociedade, são relatadas na obra com fundamental pertinência, proporcionando conhecimen- tos consideráveis aos profissionais da área que buscam aprimora- mento na atuação profissional. Procura ainda, ampliar o alcance e a repercussão das novas propostas, ideias e resultados divulgados, buscando assim desenvolver o pensamento crítico e a pesquisa no diversos segmentos da profissão. Educação Física, Cultura e Sociedade Quando se diz que a Educação Física é um fenômeno cultural, não se quer dizer que os dados biológicos não estão presentes ou não são importantes, mas que estes últimos não são suficientes para a compreensão, digamos, do esporte. Os europeus do Renascimento ou os indígenas brasileiros à mesma época não jogavam basquetebol ou futebol, embora do ponto de vista fisiológico-mecânico possuíssem o potencial para fazê-lo. É claro que jogos com bola, atendendo ao impulso lúdico que está na origem da própria cultura humana (Huizinga) são registros bastante antigos na história, mas apenas em contextos socioculturais especí- ficos é que surgiram o basquetebol e o futebol tal como os conhece- mos hoje. O surgimento e ascensão do esporte como um importante fenômeno sociocultural pode ser explicado pelos predicados intrín- secos (lúdicos e agonísticos) presentes nas diversas modalidades esportivas, aliados ao contexto de liberalismo e industrialização da Europa no século XIX, daí espalhando-se para todo o mundo (Betti). Cultura e cultura corporal de movimento Mas o que é cultura? Temos dificuldade em compreender nossa própria cultura, porque estamos nela imersos, ela nos aparece como um dado evidente, sobre o qual não nos debruçamos a todo o mo- mento para uma análise sistemática. Da Matta (1978) considera que, ao estudar uma dada cultura, um antropólogo deve realizar um duplo movimento: transformar o estranho em familiar, e, ao mesmo tem- po, o familiar em estranho. O primeiro é o movimento original da Antropologia, ao final do século XIX, quando buscava compreender culturas nativas. O segundo corresponde ao momento presente da Antropologia, que se volta para a nossa própria sociedade, e então temos que estranhar o que nos é familiar. Lembra Dartigues que E. Husserl, considerado o “pai” da fenomenologia moderna, agradeceu aos antropólogos do seu tempo, já que concebia a descoberta da es- sência dos fenômenos sociais e culturais como decorrentes de uma compreensão prévia, logo, de um conhecimento, pelo sociólogo/ historiador, de culturas diferentes da sua – e os antropólogos pe- netraram em universos culturais inteiramente estranhos ao homem europeu, os quais não poderiam ter concebido, nem mesmo como pura possibilidade, se não tivessem ido investigar in loco. Uma boa e didática ilustração do que poderia ser esse processo de estranhamento, e que apresenta interesse para a Educação Física, é a matéria jornalística exibida na televisão sobre alguns aspectos da cultura da Mongólia, país encravado na Ásia, entre a Rússia e a China. Naquele país realiza-se anualmente, conforme a referida matéria há quase oito séculos, um “festival de esportes”, que inclui as modalidades: arco e flecha, corrida de cavalo e luta. Didatismo e Conhecimento 4 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) Na corrida, o percurso totaliza 56 quilômetros, tendo como ca- valeiros meninos de 4 a 12 anos; exaustos, alguns cavalos morrem de cansaço, literalmente. É o animal vitorioso, e não o cavaleiro, quem recebe as honras. Na competição de luta, mais de 500 con- correntes se enfrentam sucessivamente, sem divisão de categorias por peso e sem limite de tempo (algumas lutas chegam há durar duas horas), até que apenas um deles permaneça em pé – o ven- cedor é aclamado como herói. Tais fatos podem chocar defensores dos direitos dos animais, médicos, pedagogos e/ou profissionais da Educação Física, porque confrontam valores estabelecidos (mesmo que provisoriamente) em nossa cultura – tanto a cultura no sentido mais amplo (a cultura ocidental, por exemplo), como em sentido mais específico (a cultura profissional-pedagógica da Educação Fí- sica, por exemplo). Todavia, se tomarmos a corrida de cavalos como exemplo, é preciso considerar que saber cavalgar, num país em que a maioria da população possui hábitos nômades, e onde há mais equinos que seres humanos, são habilidades altamente valorizada, inclusive para crianças. O exemplo nos permite entender porque “cultura” pode ser de- finida como “conjunto dos modos de vida de um grupo humano de- terminado, sem referência ao sistema de valores para os quais estão orientados esses modos de vida” (Abbagnano). Tal definição aplica-se tanto a sociedades complexas, tecnoló- gicas, como a sociedades simples e rústicas. Todavia, na sociedade ocidental contemporânea, em especial nas últimas décadas, um con- ceito que destaque o caráter semiótico da cultura parece ser mais apropriado - qual seja considerar a cultura como uma dinâmica de produção e circulação de signos e sentidos. Para essa direção se volta o conhecido trabalho de Geertz, cuja importância foi desta- cada por Thompson, por ter reorientado a análise da cultura para o estudo do significado e do simbolismo, adotando uma concepção simbólica de cultura, que Thompson caracteriza como: “padrões de significados incorporados nas formas simbólicas, que inclui ações, manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas experiências, concepções e crenças” . Levando adiante tal entendimento, Thompson, propõe uma concepção estrutural da cul- tura, que “dá ênfase tanto ao caráter simbólico dos fenômenos cul- turais como ao fato de tais fenômenos estarem sempre inseridos em contextos sociais estruturados”, e a por “análise cultural” entende o “estudo das formas simbólicas”, que dizer “ações, objetos e expres- sões significativas de vários tipos - em relação a contextos e proces- sos historicamente específicos e socialmente estruturados dentro do quais, e por meio dos quais, essas formas simbólicas são produzidas, transmitidas e recebidas”. Destaca-se, nessa concepção, a dimensão semiótica e comuni- cativa da cultura (cultura e comunicação são como duas faces da mesma moeda), e por outro lado, a crescente midiatização da cultura contemporânea, já que as mídias são atualmente as principais fontes de produção e transmissão de formas simbólicas e construção de sentidos no mundo de hoje. Santaella refere-se mesmo ao surgimen- to de uma nova cultura, que redefine a cultura de massa e a cultu- ra erudita: é a cultura das mídias, que cria sua própria linguagem. Então, quando a matéria televisiva fala em “esporte” na Mongólia, refere-se a uma forma simbólica que possui significados diferentes para os mongóis e para nós, e que se situa em um contexto histórico e social específico. Somos seres cuja relação original com o mundo e com os outros é corporal-motora (Merleau-Ponty). Possuímos uma infinita capaci- dade de “movimento para...”, quer dizer, nossa motricidade é regida porintencionalidades. Santin destaca que os elementos fundantes da Educação Física são: o ser humano (uma totalidade indivisível) e o movimento, o qual possui componentes/elementos intencionais internos e externos. Dentre outros, são componentes intencionais in- ternos do movimento humano: o prazer intrínseco à execução dos próprios movimentos, a superação de si próprio e a fruição estética; elementos externos seriam aqueles que provém de fora do campo do próprio movimento, como troféus, recompensas financeiras, bem como a busca de valores extrínsecos ao movimento em si, como a saúde. E tais componentes intencionais internos e externos podem ser articulados de diferentes modos, a partir de diferentes valores - entendendo valor como uma possibilidade de escolha (Abbagnano). Por exemplo, a saúde pode ser promovida ou prejudicada, depen- dendo da articulação que se faz entre os componentes intencionais do movimento, já que ela não é, em si, um componente intencional interno do movimento humano. É a exercitação intencionada, e em geral sistemática, da motri- cidade humana (que dizer nossa capacidade de movimento para...) que foi construindo, ao longo da história, as formas culturalmente codificadas que hoje conhecemos como esporte, ginásticas, dança etc., as quais constituem os meios e conteúdos que a Educação Fí- sica (que não surgiu previamente a estas formas) articula a partir de diferentes intencionalidades pedagógicas. É a este processo e produto que denominamos “cultura corporal de movimento” (Bet- ti), já que não existe movimento sem um corpo que se movimente (Dartigues). São estas também as formas culturais que interessam às mídias, aos empresários, aos políticos, cada qual buscando extrair delas diferentes valores, de acordo com suas intencionalidades. Contudo, é importante explicar que o termo “intencionalidade” não é usado aqui apenas com uma conotação utilitarista no sentido de obter, de modo consciente e previamente planejado, alguma van- tagem de ordem “prática” com alguma ação. Vamos a um exemplo. Didi, um dos maiores jogadores de futebol que o Brasil já conheceu, atuante até início da década de 1960, descreveu, em entrevista à te- levisão, a que eu tive a oportunidade de assistir, como inventou a “folha seca”, um chute de longa distância no qual a bola se elevava muito e, já próxima à meta adversária, descia rapidamente, enga- nando o goleiro. Pois bem, tal modo de chutar a bola não foi fruto de um processo de “treino”, de experimentação controlada com o propósito de criar um novo tipo de chute mais eficiente para atingir o objetivo do futebol (“fazer gols”), mas decorreu do fato de estar com o calcanhar machucado, o que o obrigou a chutar apoiado na ponta dos pés, criando involuntariamente uma nova mecânica do chute. Quer dizer, ele não “pensou”, não refletiu antecipadamente sobre como chutar a bola nessa nova situação corporal que a contusão lhe impôs, mas o corpo organizou a ação motora espontaneamente, in- tuitivamente – isto é exatamente o que se chama intencionalidade operante (Merleau-Ponty), conceito que também Sérgio emprestou à fenomenologia merleau-pontyana, para definir a motricidade hu- mana como “intencionalidade operante”. É claro que a biomecânica poderá explicar a “folha seca” nos termos da Física, assim como professores de Educação Física e trei- nadores esportivos poderão apropriar-se desse movimento e inseri- -lo em uma pedagogia de ensino/treinamento do futebol – estaría- mos aí, então, no âmbito da cultura. Mas tais procedimentos são pos- teriores, assim como, a posteriori, o próprio Didi pode compreender racionalmente o que fez, e pode explicá-lo em palavras. Didatismo e Conhecimento 5 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) O depoimento de Didi, então, além de nos servir para exempli- ficar o conceito de “intencionalidade operante”, também serve para nos mostrar de onde vem o novo, onde está a fonte na qual a cultura corporal de movimento “bebe” a matéria prima do seu dinamismo, pois, afinal, a cultura não é estática, ela não apenas reproduzem os jogos, os esportes, as danças, mas os produz, os transforma, os cria e recria. Observemos as crianças em suas brincadeiras; os jo- vens pobres nas periferias e favelas improvisando jogos e danças; famílias nos parques públicos rebatendo uma bola por sobre uma corda amarrada entre duas árvores; nas praias, meninos e meninas fazendo malabarismos com uma bola nos pés, ou deslizando por dunas de areia com pedaços de tábua encerada. Aí encontraremos a exercitação mais original da motricidade humana, e original em dois sentidos: como origem das formas que adquirirão posteriormente codificação cultural, e original porque inovadoras, não codificadas, transgressoras em certa medida. “Brincar” de rebater uma bola de plástico por sobre uma corda amarrada entre duas árvores é, nesse sentido, mais original que o volibol regulamentado como esporte formal-federativo. Nessa mesma direção, Baitello Júnior evidenciou como, para os teóricos da semiótica da cultura, o jogo/brinquedo, na qualidade de atividade não direcionada a um fim utilitário, é um dos nascedouros da cultura humana. A televisão, as mídias e a cultura corporal de movimento. Mas nas últimas três décadas surgiram um novo elemento di- namizador da cultura corporal de movimento: a televisão. Dotada de enorme capacidade técnica para produzir discursos audiovisu- ais, cuja principal característica é a espetacularização das imagens, a televisão, aliada a interesses comerciais, encontrou no esporte a matéria-prima ideal, criando o esporte telespetáculo, o qual pode ser definido, conforme Betti como uma realidade textual relativa- mente autônoma (face à prática “real” do esporte) que é construída pela codificação e mediação dos eventos esportivos efetuadas pelo enquadramento das câmaras televisivas, edição das imagens e co- mentários, sons e efeitos gráfico-computacionais que se acrescen- tam a elas. É regido pela lógica da espetacularização, por sua vez ligada aos interesses econômicos das grandes empresas midiáticas e às possibilidades tecnológicas de produção e emissão de imagens. É tal “texto” audiovisual (predominantemente imagético) que se tornou produto vendido pela televisão e por outras mídias (jor- nais, revistas, sites da internet etc.) – o espetáculo esportivo em si e a “falação” (ECO, 1984) sobre ele. Além disso, a possibilidade da associação do esporte a uma infinidade de produtos, do açúcar (“energia”) aos serviços bancários (“velocidade”), passando pelos materiais esportivos propriamente ditos (bolas, vestimentas etc.) é amplamente explorada pela publicidade. Contudo, tal lógica da espetacularização - ao transformar o esporte em texto predominan- temente imagético e relativamente autônomo face à prática “real” do esporte - traz uma importante consequência: a fragmentação/ descontextualização do fenômeno esportivo. As mídias fragmentam e descontextualizam a experiência global de praticar esporte. Os eventos e fatos são retirados do seu contexto histórico, sociológi- co, antropológico; a experiência global do ser-atleta é fragmentada. Como tal descontextualização é sutil e compensada com informa- ções suplementares (closes, câmaras dispostas em diversos ângulos, microfones captando sons no campo e na torcida etc.), o telespecta- dor tem a falsa sensação de estar olhando por uma “janela de vidro”, quando na verdade aprecia uma interpretação da realidade, mediada pelas câmaras televisivas (Betti). De fato, há diferenças profundas na experiência de assistir ao esporte como testemunha corporalmente presente nos estádios e gi- násios e na sala de estar, pela televisão. Por outro lado valorizam os aspectos parciais que mais lhes interessam para efeito de espeta- cularização, e acabam por veicular uma concepção hegemônica do que é esporte: vitória a qualquer custo, esforço máximo, disciplina, recompensa financeira etc. Aspectos como o prazer, a sociabilidadee o conhecimento de si no confronto com outrem, por exemplo, são neglicenciados. É então importante compreender que o interesse das mídias no esporte não se fundamenta no interesse de estimular a prática espor- tiva, mas de vender a si próprias, e, por sua vez, o esporte profis- sional torna-se cada vez mais dependente das mídias, em especial da televisão. Atualmente, nenhum grande evento esportivo é pos- sível sem o envolvimento das empresas televisivas, que divulgam os produtos e as marcas dos patrocinadores, por intermédio da pu- blicidade. O esporte telespetáculo ensaiou seus primeiros passos na Copa do Mundo de 1996 – o primeiro evento esportivo inter- nacional integralmente explorado pela televisão – e firmou-se nos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, também os primeiros Jogos Olímpicos que auferiram lucros financeiros. O esporte nunca mais seria o mesmo após o surgimento da televisão ao vivo, o vídeo tape o close, os sistemas de satélite que fazem as imagens e sons do espetáculo esportivo trafegar por todo o planeta. Nos últimos anos, pode-se constatar que as mídias passaram a investir também em outras manifestações da cultura corporal de mo- vimento, em especial as ginásticas (aeróbica, localizada, com pesos etc.), associando-as a um modelo de beleza corporal de magreza, para cujo alcance concorrem também as dietas alimentares e inter- venções cirúrgicas (prótese, lipoaspiração etc.). Dessa associação resulta a possibilidade de vender inúmeros produtos: esteiras-rolantes, equipamentos domésticos de ginástica, remédios “emagrecedores”, além, é claro, de um sem número de pu- blicações (em especial revistas de “banca”) dirigidas prioritariamen- te ao público feminino, em cujas capas, observem, sempre apare- cem “chamadas” para programas de exercício e ginástica que visam emagrecimento e/ou obtenção de fortalecimento muscular em de- terminadas regiões do corpo (por exemplo, “levantar o bumbum”). É oportuno lembrar que as academias, destacado espaço de atuação dos profissionais da Educação Física, toma parte nesse mercado do corpo que, se não é novo, foi expandido e tomou novos rumos sob o patrocínio das mídias. Já havíamos apontado (Betti) a decisiva influência das mídias (em especial a televisão), no direcionamento de tendências da cul- tura corporal de movimento, com importantes repercussões para a Educação Física, entendida esta tanto como área de conhecimento como de intervenção profissional. São essas tendências: - Novas esportivizações. Fenômeno que tende a assimilar diver- sas formas da cultura corporal de movimento ao modelo do esporte espetáculo; - Progressivo distanciamento do esporte telespetáculo das de- mais formas da cultura esportiva, afastamento este provocado pelas mídias e pelas grandes corporações econômicas, as quais, cada vez mais, assumem o gerenciamento do esporte como espetáculo televi- sivo; essa tendência distancia, na sua forma (embora não no seu sim- bolismo) o esporte telespetáculo do esporte praticado em contextos de lazer, educação e saúde; Didatismo e Conhecimento 6 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) - “Confundimento” ou “entrelaçamento” entre os modelos de estética corporal e o modelo do fitness (saúde/aptidão física); a vin- culação valorativa do exercício físico à saúde, que a tradição Edu- cação Física conhece tão bem, foi deslocada para o valor da bele- za, segundo um padrão imposto pelas mídias; em consequência, o exercício físico de modo geral, e em especial as ginásticas, passa a revestir-se de certos sentidos: emagrecimento, definição e hipertro- fia muscular, sensualidade etc. Se as mídias exercem papel cada vez mais importante na cons- trução de novos significados e modalidades de entretenimento e consumo no âmbito da cultura corporal, também constituem hoje a mais importante fonte de informações sobre a cultura corporal de movimento para o grande público não especializado. Jornais, revistas, sites da internet, vídeo games, rádio e televisão difundem ideias sobre a cultura corporal de movimento. Há muitas produções dirigidas ao público adolescente e infantil. Pela televisão, as crian- ças tomam contato precocemente com as manifestações corporais e esportivas do mundo adulto. Hoje, somos todos consumidores po- tenciais do esporte-espetáculo, senão como torcedores nos estádios e quadras, ao menos como espectadores pela televisão. Há aulas de ginástica aeróbica pela TV; médicos e profissionais da Educação Fí- sica concedem entrevistas expondo os benefícios e riscos do exer- cício físico, comentaristas nos informam sobre táticas e regras nas partidas de futebol, volibol ou basquete, revistas femininas e para adolescentes sugerem exercícios para emagrecer. Informações nem sempre corretas, nem sempre confiáveis, mas que se sobrepõem pela baixa capacidade crítica da maioria dos telespectadores e leitores. Tudo isso elevou o nível de informação publicamente partilhada na área de Educação Física a um patamar nunca antes atingido na His- tória. Com isso, corremos o risco de, em algum momento, nos de- pararmos, nas escolas ou nas academias, com alunos ou clientes que detém mais informações sobre um dado aspecto da cultura corporal de movimento do que seus professores/profissionais de Educação Física. Contudo, isso não é ruim, o que devemos fazer é examinar as possibilidades de usar as mídias a nosso favor, pela sua capacidade de sintetizar informações, de atrair a atenção, de seduzir pelas ima- gens, e, ao mesmo tempo, investir na formação do leitor/telespec- tador crítico, que compreenda os mecanismos de funcionamento e a linguagem das mídias, dotando-o de ferramentas para a interpre- tação mais aprofundada e contextualizada do que vê, ouve e lê nas mídias. Na Educação Física escolar, por exemplo, já há suficiente fundamentação teórica e experiências concretas de uso de matérias televisivas como ferramenta metodológica no contexto de progra- mas de Educação Física. Inspirando-nos nas metáforas de Babin e Kouloumdjian já pro- pusemos (Betti) um trabalho com “mixagem”, num primeiro mo- mento, e depois, em “estéreo”. Trabalhar com mixagem é associar as produções da mídia às aulas “tradicionais”, fazendo referências às imagens e eventos esportivos transmitidos pela TV, utilizando pro- gramas e trechos previamente gravados na TV convencional, vídeos produzidos para finalidades educacionais, matérias sobre a cultura corporal de movimento publicadas em jornais e revistas. Trata-se aí do que Ferrés denomina educação com o meio. Conteúdos ligados a técnicas, táticas, história, dimensões políticas e econômicas do es- porte, bem como relacionados a aspectos fisiológicos, psicológicos e sociológicos das atividades corporais em geral seriam enriquecidos com o audiovisual, associados a textos jornalísticos, facilitando o desenvolvimento de conteúdos conceituais na Educação Física. Trabalhar em estéreo consiste em compreender a linguagem es- pecífica da televisão, aprender a interpretar criticamente o discurso da televisão sobre a cultura corporal em busca de sentidos. Implica também em aprender a identificar os diversos modelos de práticas corporais e esportivas a partir do próprio discurso televisivo. É o que Ferrés denomina educação no meio. Se a televisão faz crianças tomarem contato precoce com as for- mas codificadas do esporte, se para uma garota jogar voleibol é sacar “viagem” e “cortar” contra um bloqueio triplo, e se no imaginário de um garoto ele é o Ronaldinho quando chuta uma bola, mesmo que velha e esgarçada num chão de terra, o professor/profissional de Educação Física que os recebe deve considerar isso, e trabalhar a partir disso. Mas não pode confundir este ponto de partida com o ponto de chegada, assim como deve saber que este simbolismo pre- sente na atividade esportiva de uma criança, para cuja constituição as mídias são decisivas, não pode confundir-se com a forma desta atividade; quer dizer, o professor/profissional deve adaptara forma de jogar futebol e volibol para que não haja discrepância entre o que a criança/aluno espera e o que lhes é oferecido. Como? Por exemplo, resgatando o que é originalmente o voli- bol: um jogo de rebater a bola por sobre um obstáculo (que pode ser uma rede oficial ou uma corda), cuja dinâmica deve ser preservada. Ora, se não é possível a uma criança realizar o saque “por cima” com uma bola e altura das redes oficiais, talvez ela possa fazê-lo com a rede mais baixa, com uma bola maior e mais leve. Nada há de errado em que um garoto vista a camisa 9 da seleção brasileira e “sinta-se” o Ronaldinho (de fato, ele o “é” nesse momento), o que importa é que lhe seja dada a oportunidade de participar plena e ativamente do jogo de futebol, chutando, passando e fazendo gols, e não apenas fique correndo de um lado para outro, sem receber a bola, monopolizada pelos mais hábeis, como sempre se vê nas “es- colinhas” de futebol por aí. Para isso, é necessário à Educação Física investir em uma peda- gogia do esporte na qual o esporte não seja um fim em si mesmo, e que, sem ignorar suas influências, não se submeta, contudo aos inte- resses das mídias e das grandes corporações econômicas. Da mesma forma, o profissional da Educação Física que atua nas academias deve considerar a busca pela beleza corporal como uma motivação aparente, por trás da qual se escondem desejos mais profundos desse ser (humano) tão complexo e contraditório. Mas deve, sem dúvida, partir desta motivação aparente (afinal, não há nada de errado com ela, pois não se trata de fazer um juízo de valor) para revelar ao cliente/aluno como o exercício físico (assim como o jogo, o esporte, a dança...) pelas suas propriedades intrínsecas, pode propiciar uma experiência gratificante do ponto de vista psicossocial, porque não há como exercitar apenas o físico. Lembremo-nos aqui de Santin: os componentes intencionais externos do movimento (no caso, obter emagrecimento, definição muscular etc.) não podem ser desarticu- lados dos componentes intencionais internos (por exemplo, o prazer inerente ao próprio fato de movimentar-se). Só assim a Educação Física poderá atualizar sua tarefa educativa. Só assim a Educação Física tornar-se-á elemento dinâmico da cultura (Carmo Júnior) e não mera técnica de intervenção sobre o físico. Só assim ela será tanto educação como física. Didatismo e Conhecimento 7 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) Significados/Sentidos predominantes no Discurso das Mídias sobre o Esporte Não deixa de ser um lugar comum afirmar que o jornalismo es- portivo é um “discurso apaixonado” e, que, muitas vezes, narradores de futebol, cronistas especializados e até mesmo repórteres, deixam a emoção falar mais alto do que a razão, comprometendo a fatualidades de seus relatos. Contudo, uma aparente obrigação de fugir aos lugares comuns pode ser uma das razões de uma lacuna existente no que diz respeito a estudos que se voltem para uma melhor compreensão das paixões do mundo esportivo desde uma perspectiva discursiva. Mui- tos são os trabalhos de Análise do Discurso (AD) sobre a propaganda política, sobre a argumentação nos editoriais de jornais de referência e sobre as imagens construídas para candidatos em jornais e revistas, mas acaba por existir um desprezo com a mídia esportiva, considerada menos séria, e com o próprio esporte (especialmente o futebol), ainda hoje tachado como “ópio do povo”, sendo, por isso, um interesse pou- co apropriado para a intelectualidade. Acreditamos, no entanto, que esse olhar tão restrito ao jornalis- mo de referência faz com que grande parte do fenômeno midiático continue desconsiderada, precisando ainda de uma compreensão mais clara e sistemática. Dessa forma, esperamos nos inserir, com nossa pesquisa, num movimento mais recente que, buscando evi- tar os preconceitos, preocupa-se em dar uma abordagem científica às outras modalidades jornalísticas (mídia esportiva, religiosa, de moda, popular...). Certamente um olhar para esses “outros jornalismos” pode trazer alguns elementos que ampliem a compreensão do discurso midiático como um todo. Como é o caso, por exemplo, do estudo das paixões no jornalismo esportivo. Ora, por que não apostar que um melhor entendimento acerca da patemização na mídia esporti- va pode contribuir para que trabalhos futuros sintam a necessidade de compreender melhor as paixões nas outras modalidades jorna- lísticas? Se esse interesse não aparecer, será pelo menos possível retomar uma questão bastante recorrente (com toda essa paixão, o jornalismo esportivo é mesmo jornalismo), sem ter como ponto de partida um simples preconceito. Sendo assim, propomo-nos, por meio de ferramentas da Análise do Discurso, a estudar os processos de patemização (comunicação de paixões) no discurso do jornalismo esportivo. Para isso, recor- remos tanto à proposta de Charaudeau para o estudo dos pathé no discurso, quanto a informações obtidas durante o percurso de nossa pesquisa, que analisou manchetes de três jornais mineiros. E se, por um lado, a escassez de estudos no campo da AD sobre as paixões na mídia esportiva representou dificuldades, também nos serviu de es- tímulo para que buscássemos informações sobre essa problemática em outras disciplinas, como a antropologia e a sociologia do esporte, que há algum tempo já consideram a relevância da questão. Nos próximos itens, esperamos, então, tecer alguns apontamentos acerca da problemática, tratando de desenvolver um exercício de análise que apresenta da forma mais clara possível sua metodologia e seus diálogos interdisciplinares. Em sua análise da patemização no discurso televisivo, Charau- deau mostra que a relação entre as chamadas visadas de informação e de captação não deve mais ser compreendida na superficialidade de uma simples oposição. De um lado a mídia informativa deve per- seguir a visada de informação, que consiste em fazer saber ao cida- dão o que aconteceu ou o que está acontecendo no mundo social; paralelamente, deve alcançar a visada de captação, que se orienta a seduzir o parceiro da troca comunicativa e sobreviver, assim, à concorrência midiática. Mas se, em momentos anteriores da teoria, as duas visadas parecem concorrer entre si (uma em busca da veros- similhança e seriedade; a outra da espetacularização e dramatização do relato), ao propor um estudo sobre o páthos, Charaudeau com- plexifica a relação entre elas, afirmando, por exemplo, que o efeito emotivo de alguns programas de televisão só será possível se houver por parte do interlocutor certa credibilidade em relação ao conteúdo relatado. A partir daí, deixamos de considerar a emoção como contradi- tória à seriedade e à credibilidade, mas como algo constituinte do discurso midiático, existindo de mãos dadas com a informação. No caso de uma reportagem sobre a corrupção de congressistas, por exemplo, a exploração de efeitos de autenticidade e verossimilhança (inicialmente ligados à visada de informação), só reforçará os sen- timentos de frustração e indignação sugeridos ao leitor. E, no caso do jornalismo esportivo, que nos interessa particularmente, por mais sóbria que seja a cobertura da última derrota de um clube de fute- bol, ela provavelmente levará tristeza ao fiel torcedor dessa equipe e alegria a quem é simpático ao time rival. Assim sendo, evitamos as dicotomias entre informação vs. captação e razão vs. emoção, para um trazer o páthos ao centro de uma análise do jornalismo esportivo e tratar de compreender o seu papel na interação proposta por esse tipo de cobertura midiática. Poderíamos delimitar com relativa segurança o início do inte- resse pelo estudo das paixões na filosofia e retórica antiga para che- gar a um enquadramento atual em trabalhos de biologia, psicologia e sociologia. Nas últimas décadas, o assunto também vem atraindo a atenção de estudos de natureza discursiva como é o caso da Se- miótica do Discurso e a Análise do Discurso de linha francesa,dos quais nossa pesquisa herda predominantemente sua fundamentação teórica. Sendo o estudo das paixões um interesse tão amplamente compartilhado, sentimos a necessidade de esclarecer certas questões fundamentais à delimitação de nosso problema: como deve se dar uma abordagem das paixões do ponto de vista da AD? Como explica Charaudeau, pressupomos que o objeto de estudo da AD é a linguagem posta em uso e fazendo sentido numa situação de comunicação. Dessa forma, ao falarmos de paixões, afetos ou emoções no discurso, tratamos de signos que podem ser codifica- dos, transmitidos e reconhecidos por quem se envolve numa troca comunicativa. A AD não se ocuparia, então, da paixão efetiva ou da paixão sentida, mas das formas como ela pode ser comunicada, visa- da e causada por meio da linguagem. Uma vez delimitado nosso in- teresse pelo processo linguageiro em que se comunicam as paixões e não pela forma como são vivenciadas pelo sujeito, acreditamos que não valeria a pena um esforço para a diferenciação entre as no- ções de afeto, sentimento, emoção e paixão. Deixamos esse trabalho para os psicólogos e optamos pelo uso dos termos patemização e patêmico (do grego páthos), para tudo o que for relativo à geração de efeitos passionais pelo discurso, assim como fazem Charaudeau e Emediato. Ao esboçar um esquema para situar e classificar as paixões, Charaudeau se inspira claramente numa semiótica narrativa, que relaciona as paixões às conjunções e disjunções de sujeitos com ob- jetos de valor e às relações entre os atantes, que assumem papeis de sujeitos da narrativa, anti sujeitos e por aí em diante. A proposta desse autor, contudo, se diferenciaria da semiótica greimasiana por deslocar o foco da análise patêmica da dimensão narrativa do discur- so para sua dimensão enunciativo-situacional. Didatismo e Conhecimento 8 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) Charaudeau não nega que as paixões estariam ligadas a um es- quema de busca por algum valor investido num certo objeto, porém, ao invés de centrar sua atenção nos efeitos passionais vivenciados pelo sujeito da narrativa, demonstra um maior interesse por com- preender a patemização que é colocada em jogo na relação entre enunciador e destinatário. Segundo essa perspectiva, Charaudeau divide as emoções em quatro tópicos duplamente polarizados. Cada um deles com um lado positivo (eufórico) e outro negativo (disfórico), como são apresenta- dos resumidamente a seguir: 1. Tristeza ↔ alegria: no polo negativo do tópico, a tristeza diz respeito a um estado de insatisfação do desejo do sujeito, engloban- do emoções como humilhação, frustração e vergonha; enquanto o polo positivo relaciona-se com a satisfação desse desejo, incluindo sentimentos como satisfação, contentamento, felicidade e orgulho de si mesmo. 2. Angústia ↔ esperança: o polo disfórico, que engloba o medo, a desconfiança, o terror e o incômodo, é relacionado a um estado de espera por um actante ou objeto que representaria perigo para o sujeito, mobilizando crenças e representações relacionadas à causa de seu temor; enquanto o polo eufórico é relacionado à espera de um benefício e inclui sentimentos como a confiança, o desejo e a aspiração. 3. Antipatia ↔ simpatia: as paixões deste tópico seriam atitudes reativas duplas inseridas numa relação triangular entre 1) a vítima de um mal, 2) o responsável pelo mal e 3) o sujeito observador. No polo negativo, o sujeito observador experimentaria antipatia em relação ao “malfeitor”, assim como as paixões da raiva, da cólera e da indignação. No outro polo, teríamos a simpatia, acompanhada da compaixão e da piedade, orientadas para a vítima do mal. A tensão produzida por essa situação, seria capaz de produzir uma reação ati- va do sujeito observador em relação ao malfeitor (um programa de vingança, como se costuma dizer na semiótica do discurso). 4. Repulsão ↔ atração: no lado disfórico, da repulsão, teríamos sentimentos como desgosto, aversão e desprezo, orientados a al- guém que possui uma imagem negativa e/ou que já cometeu algum mal; enquanto no lado eufórico, da atração, teríamos a admiração, o maravilhamento e o encanto, voltados para o benfeitor. Os heróis e ídolos seriam exemplos de figuras inspiradoras dessas paixões. Optamos por relacionar todas as paixões detectadas em nossa análise com algum desses tópicos, uma vez que o esforço de defi- nir cada emoção uma a uma (tristeza, felicidade, raiva, ódio, cólera, inveja, medo, entre outros), poderia dificultar nosso trabalho. Sabe- mos que descrições exaustivas das paixões costumam render contro- vérsias e, com a simplificação proposta por Charaudeau, dispomos de uma ferramenta facilmente aplicável. Deixamos claro que, para aplicar os tópicos patêmicos listado acima à análise das manchetes retiradas de nosso corpus de pesquisa, consideramos a vitória como objeto de desejo mais evidente no mundo esportivo e a inclinação afetiva do torcedor em relação às equipes esportivas e aos atletas como elemento essencial para compreender os efeitos de patemi- zação. Os exemplos de enunciados que serão aqui analisados foram escolhidos dentre as 243 manchetes esportivas coletadas durante 2008 em jornais impressos distribuídos para o público de Minas Ge- rais: o diário de referência Estado de Minas, o jornal popular Super Notícia e o diário esportivo Lance! em sua versão mineira. Como já havíamos dito, acreditamos que a mídia esportiva é um terreno fértil para o estudo das paixões no discurso. E embora ainda sejam poucos os trabalhos que façam uma análise mais sistemática, já é possível encontrar algumas hipóteses na obra de repórteres da área que tratam do assunto a partir de sua experiência profissional. É o caso do jornalista Paulo Vinícius Coelho, que no livro Jornalismo Esportivo, constrói, com base em sua vivência de redação e na his- tória dessa modalidade, a associação entre a cobertura esportiva e as paixões dos interessados no assunto – sejam leitores ou jornalistas. Estes últimos muitas vezes optariam por trabalhar na área graças a sua afinidade com o esporte. Coelho relaciona a cobertura esportiva a relatos emocionados, citando desde casos de profissionais que abandonaram a profissão por não conseguirem “controlar” seu “lado torcedor” até as crônicas futebolísticas de Nelson Rodrigues, que tendiam mais para o roman- ce do que para o jornalismo. Tendo em mãos o material de entrevis- tas com profissionais da área e uma ampla pesquisa sobre a imprensa de outras épocas, o também jornalista Maurício Stycer apresenta um panorama histórico da modalidade, em a História do Lance. Nesse trabalho, chama nossa atenção a recuperação que ele faz da carrei- ra do jornalista Mário Filho, que nos anos 1930, empreendeu uma reforma editorial no caderno esportivo do diário O Globo, abrin- do “espaço para as opiniões, emoções e expectativas de atletas e torcedores, os detalhes cômicos ou trágicos dos treinos e jogos, os bastidores dos clubes e a vida privada dos atletas). O estilo de Mário Filho, embora muito criticado à época, acabaria por influenciar as futuras gerações de repórteres que viriam a trabalhar o tema. Já de volta ao século XXI, já com base em sua experiência de redação e no projeto editorial do Lance. Stycer demonstra que a ten- dência emotiva do jornalismo esportivo perdura até os dias atuais: Vou também mostrar como se construiu a ideia de um leitor imagi- nário jovem, de classe média, apaixonado por futebol, e quais recur- sos foram mobilizados na tentativa de conquistá-lo. Com ajuda de dados numéricos, vou tentar descrever quem, de fato, era o leitor do Lance! Por fim, vou analisar como este projeto editorial, calcado na emoção e num universo muito próximo ao da ficção, causou cons- trangimentos à equipe de jornalistas mais experientes convidada a integrar o projeto e dificultou o papel do próprio jornal na defesa de interesses políticos que estavam na base de sua criação. Numa outra vertente, denatureza linguística, analisa operações que conferem o tom apaixonado à cobertura esportiva; dentre elas, o uso de metáforas e a atribuição de apelidos para os jogadores (Pelé, Dadá...) ou para a própria bola (chamada carinhosamente de namo- rada, redonda, etc). A imprensa procura traduzir de forma emocio- nante não só o gol, mas todos os outros momentos de uma partida. Muitas vezes, inclusive, a carga emotiva do contexto em que se en- contra um fato relatado é superior à da situação em que ocorreu. A utilização de uma linguagem predominante afetiva é, incontestavel- mente, um fator de apelo: exploração do consciente ou inconsciente de associações que despertam estados de alma no receptor, permitin- do, assim, que a mensagem o atinja com mais eficácia. Apoiados nessas percepções do jornalismo de esportes como um discurso que explora as emoções tratamos de compreender me- lhor como se dá esse processo. Munidos de ferramentas da AD, rea- Didatismo e Conhecimento 9 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) lizamos um esforço de análise com intenções de avançar nesse deba- te e, se possível, de fornir os estudos sobre a cobertura esportiva de informações obtidas a partir de dados encontrados na materialidade do discurso objetivado em texto. Para isso, foi preciso considerar as duas pontas ligadas pela troca comunicativa. Numa delas, estão posicionados jornais com- prometidos principalmente em: 1) informar e comentar resultados esportivos; 2) anunciar e fazer previsões sobre confrontos futuros; 3) acompanhar os bastidores dos clubes para cobrir questões comerciais e político-administrativas. Na outra ponta, está o destinatário-torcedor que 1) pode ser mais ou menos aficionado a uma equipe e que 2) pode chegar até o jornal com mais ou menos informações prévias sobre o assunto, considerando que outras mídias como o rá- dio, a internet e a televisão costumam ter uma cobertura mais ágil. Mais adiante, voltaremos a tratar da construção das imagens de enunciador e destinatário em cada uma das três mídias. Por enquan- to, apenas ressaltamos que os dados sobre a construção frástica das manchetes de nossa pesquisa revelaram que, pelo menos, o Estado de Minas e o Lance! - com grande ocorrência de títulos nominais - pressupõem um amplo conhecimento prévio do leitor em relação aos fatos do mundo esportivo, propondo-se mais a comentá-los do que simplesmente anunciá-los ou relatá-los. Tendo isso em vista, apresentaremos nos próximos itens alguns aspectos que merecem destaque a respeito da patemização engendrada pelos títulos do jor- nalismo esportivo. A economia de esforços proporcionada pela escolha de uma metodologia de análise relativamente consolidada como a de Cha- raudeau , somada à falta de trabalhos de AD sobre a mídia esporti- va, permitiu-nos fôlego suficiente para trazer, à nossa interpretação, contribuições dos campos da sociologia e antropologia do esporte. Esse diálogo interdisciplinar, por um lado, converge com uma das premissas da AD - que busca compreender a produção do sentido por meio do discurso inserido nas interações sociais – e, por outro, evita que façamos uma análise ingênua, quando poderíamos muito bem tirar proveito dos avanços que importantes autores de outras áreas têm alcançado ao tratar do esporte. Dentre as contribuições das ciências sociais que podem nos interessar, destacamos a percepção de um forte sentimento de iden- tidade entre grupo clubes esportivos e seus seguidores (os torcedo- res). Como observa o antropólogo Roberto Da Matta, se por um lado o esporte exalta valores modernos como o rendimento e a superação, por outro, a adesão a um clube e a participação em uma torcida per- mitem que o indivíduo retome os “elos que recriam num nível mo- derno da escolha individual a ideia de uma coletividade imperativa e coercitiva”. Da mesma maneira o historiador Hilário Franco Júnior aborda o tema e busca analogias entre o mundo do futebol e a noção de clã. O surgimento dos clubes esportivos e de suas legiões de seguidores permitiria que fosse vivenciada pelos torcedores “uma consciência de pertencer a determinada comunidade camponesa, ou família tra- dicional e poderosa, ou confraria esmagada pelo conceito de cida- dania que homogeneíza todos os indivíduos”. As cores de um time, portanto, simbolizariam esse sentimento de pertencimento que pa- recia perdido e o mascote serviria como o animal-totem desse “clã esportivo”. Arriscamo-nos a afirmar, contudo, que no mundo esportivo, onde a lealdade é um valor essencial, a mídia é o único ator a quem é permitido demonstrar igual simpatia por equipes rivais, perten- cendo simultaneamente a mais de uma “nação”. O mesmo diário que hoje vibra com as glórias do Cruzeiro Esporte Clube, amanhã comemora uma vitória do Clube Atlético Mineiro; o mesmo locutor de rádio que hoje berra pelo Grêmio, amanhã será capaz de chorar pelo Internacional. Informações sobre a configuração enunciativa dos títulos analisados demonstram claramente os múltiplos pontos de vista adotados pelos diários mineiros com relação ao esporte, es- pecialmente o futebol. Referência http://www.profdomingos.com.br/revista_apeoesp_educacao_ fisica.pdf 2. BORGES, CECILIA. A FORMAÇÃO DE DOCENTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SEUS SABERES PROFISSIONAIS. IN: BORGES, CECILIA; DESBIENS, JEAN FRANÇOIS (ORG.). SABER, FORMAR E INTERVIR PARA UMA EDUCAÇÃO FÍSICA EM MUDANÇA. CAMPINAS: AUTORES ASSOCIADOS, 2005. P. 157-190. O tema dos saberes docentes encontra-se no centro das reformas atuais da formação de professores da Educação Básica. Fala-se em conhecimentos, competências ou saber-fazer, saberes que os profes- sores devem adquirir e que se encontram na base de sua profissão. Além disso, com base na figura do prático reflexivo, diz-se que os professores produzem um saber e que eles próprios devem assumir a responsabilidade sobre os seus processos formativos, particular- mente quanto ao desenvolvimento de capacidades que lhes permi- tam refletir e deliberar, tanto sobre a sua prática quanto sobre as finalidades a ela relacionadas, e isso com base em princípios éticos e epistemológicos, a fim de agir de forma consciente e consistente. Saber, formar e intervir: para uma educação física em mudan- ça é composto por oito artigos formando três partes. A primeira parte trata dos programas de formação e as reformas atuais, sendo composta por quatro capítulos: 1. Reflexões sobre o novo programa de educação física da Uni- versidade de Montreal; 2. Programas de formação para o ensino de educação física e esportiva na França: o exemplo do IUMFM de Reims; 3. Programas de Ensino de Educação física e profissão docente: retrato da situação no França e 4. Mutações dos contextos socioeducativo e socioprofissional e desenvolvimento dos saberes profissionais no ensino da educação física. A segunda aborda a questão dos saberes dos docentes referentes à realização do seu trabalho em fase interativa, isto é, em situações concretas de intervenção no ginásio de esportes e em piscina. Mais Didatismo e Conhecimento 10 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) especificamente, trata-se de resultados de pesquisas empíricas a res- peito do trabalho dos docentes em um contexto real de intervenção, assim como sobre os saberes mobilizados em ação ou implantados para controle e regulagem da ação, consiste nos capítulos: 5. Saberes e ação situados: uma análise das práticas de ensino de educação física e 6. Como compreender os saberes que fundamentam o controle e a regulagem da supervisão ativa do ensino da educação física? Enfim, a terceira parte trata das relações complexas e problemáticas entre a formação profissional para educação física e os saberes pro- fissionais dos professores. No sétimo capítulo, “A formação dos docentes e educação físi- ca e seus saberes profissionais”, que será abordado com mais deta- lhes em seguida (pois é o capítulo da obra que será exigido no con- curso), Cecília Borgesinteressa-se pela problemática dos saberes dos docente de educação física em relação aos modelos de formação profissional e o trabalho em contexto escolar público ou privado. Em um primeiro momento, a autora situa o contexto profissional da educação física no Brasil para, em seguida, tratar as questões maio- res que estão no núcleo da formação atual dos docentes dessa área. Em um segundo instante, ela propõe uma reflexão sobre a problemá- tica dos saberes dos docentes, colocando em evidência o contexto teórico que está na base das questões de pesquisa profissional dos professores de educação física. Enfim, Cecília Borges apresenta os resultados de trabalhos re- centes, na forma de extratos de análises de dois estudos realizados com quatro professores de educação física brasileiros (da quinta à oitava série) e propõe pistas de reflexão. Embasada numa proposta abrangente, inspirada na sociologia do trabalho, ela enfatiza aspec- tos ligados à trajetória dos docentes aos processos de socialização profissional. Em seguida, discute a proveniência e os modos de aquisição dos saberes que eles mobilizam no exercício da profissão de docente. Na conclusão, ela coloca em perspectiva os diferentes aspectos tratados no contexto atual dos debates sobre os saberes e sobre a formação de docentes de educação física. E, por fim, encer- rando a obra temos o oitavo capítulo, “Da articulação entre a forma- ção dos docentes de educação física e a formação dos profissionais de educação infantil para a ação-reflexão da prática”. Resumindo, Cecília Borges e Jean-François Desbiens fazem emergir três temáticas importantes que se referem ao conjunto das contribuições deste livro, ou seja, a emergência de um novo modelo de formação em educação física, o estabelecimento de uma nova relação com os saberes entre os docentes dessa área e a identificação de características próprias da educação física como campo de co- nhecimento, de educação e de formação profissional. AUTORA Cecília Maria Ferreira Borges - é licenciada em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas onde atuou durante dez anos como docente. É mestre em Educação pela Universida- de Federal de Minas Gerais e doutora em Educação Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Atualmente é profissional de pesquisa no “Centre de Recherche Interuniversitaire sur la Formation et la Profession Enseignante” na Universidade de Montréal (CRIFPE - Montréal), Quebec, Canadá. SINÓPSE Nos capítulos do livro, o conceito de educação física envolve as ideias de domínio ou de campo de atividades profissionais e de disciplina escolar. Como campo de atividades profissionais, a edu- cação física é subdividida em vários campos, referindo-se, portan- to, ao uso das práticas corporais e dos conhecimentos necessários à compreensão das mesmas, visando ao desenvolvimento da pessoa, da sua saúde e da sua qualidade de vida em todos os meios e durante toda sua vida. A educação física reagrupa, hoje, os profissionais e interventores de treinamento esportivo, de cinesiologia, ao ar livre, de educação física adaptada, mas a maioria deles faz parte do corpo docente e prestam serviços a todas as clientelas escolares: da pré- -escola até o colegial. O ensino da educação física é concebido neste livro como o trabalho por meio do qual um docente intervém junto aos alunos, levando em conta os objetivos escolares especificados anualmente ou por ciclos nos programas próprios dessa disciplina, para engajá-los e guia-los em um processo de transformação da sua pessoa e da sua atividade individual, consideradas nos planos mor- fológico, energético, perceptivo, afetivo cognitivo e social. Esta obra é resultante de um feliz encontro entre formadores e também pesquisadores engajados no desenvolvimento de uma edu- cação física de qualidade e acessível a todos. A partir de seus países de origem, França, Canadá e Brasil, e levando em conta a especifici- dade da educação física como um campo de conhecimento e de prá- ticas, os autores debruçam-se sobre um tema comum, o dos saberes docentes, saberes prescritos (da formação inicial e dos programas de ensino) e saberes da ação (saberes práticos, da experiência, de intervenção etc.). No momento atual, de grandes mudanças no ce- nário educativo, refletir sobre a problemática dos saberes docentes, confrontando diferentes experiências, teorias e formas abordar esse objeto, constitui uma contribuição não só para o desenvolvimento do campo de estudos dos saberes docentes no âmbito da educação física, mas, também, para a reflexão e implementação de políticas e de programas de formação e de ensino nesta área. COMENTÁRIO A pesquisa realizada por Cecília Borges, e posteriormente transformada em livro, responde diretamente à exortação de Donald Schön sobre a importância de se investigar o saber desenvolvido por profissionais em sua prática, revelando-os ao público, tornando- -os acessíveis, disponíveis e mesmo desmistificados aos olhos dos próprios profissionais. Pelo ângulo do público, esse saber ganharia assim o respeito e a consideração que sempre mereceu, como decor- rente do trabalho de um grupo profissional, na melhor acepção desse termo. Aos olhos dos próprios profissionais, a desocultação desse saber, pela pesquisa, desencadearia uma corrente mobilizadora de todo o grupo, em direção à posse do status que merece pelo serviço que presta à sociedade. No caso dos professores, esse saber esteve em geral oculto, embora sempre presente, informando e orientando as atividades desse grupo de trabalhadores, no cumprimento de suas indispensáveis funções na construção da sociedade. Em nosso país, fomos despertados para a importância e urgên- cia do estudo sobre o saber docente há pouco mais de dez anos, pelo artigo de Tardif, Lessard e Lahaye, de 1991. A partir de então esse tema passou a ser assunto de debates frequentes na comunidade edu- cacional, como um novo campo de estudos. Cecília foi atraída para ele já em seu trabalho de mestrado, quando investigou a construção Didatismo e Conhecimento 11 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) do saber próprio de professores de Educação Física. Em seu dou- torado, ela partiu da bagagem acumulada com o estudo anterior e avançou para outro bem mais amplo. Com muito cuidado e proprie- dade ela se propôs, então, investigar a composição desse saber, na visão de professores responsáveis pelo conjunto de disciplinas que integram o ensino fundamental, da 5ª à 8ª série, exatamente na fase em que ele se diversifica, para introduzir os alunos na variedade de saberes sobre os quais se construirá sua participação na sociedade, ou sua cidadania, se quisermos acenar para uma imagem de conota- ção política mais explícita. Para responder devidamente a esse desafio, Cecília tratou de localizar fontes seguras e confiáveis, que pudessem dar testemunho vivo do processo de composição desses saberes. Encontrou-as em um grupo seleto de professores, que se tornaram verdadeiros par- ceiros de seu estudo, na medida em que com ela pensaram, discuti- ram, analisaram e, sobretudo, refletiram sobre o tema, tão próximo à sua realidade cotidiana, mas tão surpreendente para quase todos, que confessaram nunca ter atentado para ele. Eis aí um dos valo- res supostos por Schön, ao recomendar a investigação sobre o saber de profissionais: o de revelá-lo aos seus próprios detentores. Outro aspecto qualifica esses professores quase como coautores da pes- quisa, já que foram eles os responsáveis pela formação do grupo de informantes, ao irem sucessivamente indicando à pesquisadora os colegas que por certo dariam a contribuição necessária ao seu desen- volvimento. Neste ponto é oportuno ressaltar o acerto de orientar a escolha do grupo de informantes a partir dessa estratégia. Ela assegurou a participação de professores que provavelmente teriam grande contribuição a oferecer, seja pela própria formação e experiência docente, seja pelo interessee disponibilidade de colabo- rar no estudo. Com a garantia de terem sido indicados por conhece- dores do campo e de seus profissionais, como também dos objetivos do estudo. Foi muito feliz essa decisão de Cecília, podendo servir de exemplo para outras pesquisas com abordagens qualitativas, que se debatem com problemas de amostragem. Ao pesquisar sobre o saber docente, com grande segurança nesse domínio, Cecília aten- deu muito bem às exigências acadêmicas, mas, igualmente, ofereceu uma contribuição relevante à valorização do grupo de profissionais focalizados pelo estudo: os professores. Tanto os que estão exercendo o magistério, ao verem revelado esse importante aspecto da sua profissão, o seu saber, quanto os fu- turos professores, que podem se beneficiar durante a sua formação dos esclarecimentos trazidos pelo estudo sobre os diferentes com- ponentes desse saber. A pesquisa deixa bem clara a importância de oferecer ao professor em formação oportunidades de contato com todos os seus vários componentes, frequentemente deixados de lado em favor dos aspectos mais ligados aos conteúdos acadêmicos. A revisão exaustiva da literatura pertinente, as finas análises teóricas, a atenção aos aspectos metodológicos e, sobretudo, a opção por um tema central ao processo de valorização profissional dos profes- sores, caracterizam a pesquisa de Cecília como exemplar. Estudos como esse justificam, valorizam e estimulam o empenho na forma- ção de novos doutores. RESUMO A formação inicial de professores de educação física no Brasil deve ser analisada em relação aos saberes que constituem a base do seu trabalho. Embora as pesquisas nessa área existam há mais de 10 anos, em meio a inúmeras polêmicas e tensões teóricas e meto- dológicas, essa preocupação é recente no Brasil, onde predomina o modelo “aplicacionista”, disciplinar e técnico nos programas de formação dos educadores físicos. Essas tensões e polêmicas decorrem das concepções variadas sobre a educação física: 1) disciplina científica, com abordagem biomédica; 2) campo de conhecimento, influenciada pelos avanços das ciências biológicas, humanas e pedagógicas. De acordo com a ênfase em uma ou outra concepção, tais concepções influenciam o desenho e os resultados e as críticas dos próprios envolvidos nos programas de formação inicial dos educadores físicos. A FORMAÇÃO INICIAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: ALGUNS PONTOS DE REFERÊNCIA SOBRE SUA EVOLUÇÃO RECENTE Existe uma diversidade, complexidade e mobilidade quanto ao status profissional dos educadores físicos no Brasil: há profissionais em diversas instituições públicas e privadas (escolas, academias, clubes, etc), assumindo diferentes papéis profissionais (docente, treinador, terapeutas, técnicos etc.), submetidos a uma variação nas condições de trabalho e mobilidade ocupacional. Além disso, as concepções teóricas que inspiram seu trabalho e suas trajetórias profissionais são bastante diversificadas. Com as reformas escolares e dos currículos universitários recentes, foram abertos espaços para questionamentos de sua inserção profissional. Há uma diferença importante na formação do profissional da educação física na universidade, em relação às opções de bacha- relado, que forma os profissionais não escolares, ou licenciatura, que forma os professores. Estatísticas mostram que a maioria dos estudantes opta pelas duas habilitações que, em conformidade com as Diretrizes Curriculares Nacionais, deveriam buscar um equilíbrio entre a formação geral, com forte base teórica e profissional, voltada para a prática. Observa-se, entretanto, que essa formação inicial não corresponde à realidade do mercado de trabalho do profissional de educação física no Brasil. Essa realidade faz com que os profissio- nais se decidam a ingressar no campo da educação física pelo local de trabalho que desejam (escola, centro esportivo, academia, clínica, etc.) e não para atender a uma demanda social. No que se refere à formação prática, ela é concebida como a úl- tima etapa da formação profissional, na qual o estudante (ou estagi- ário) deve usar e aplicar na prática pedagógica todas as técnicas e os conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação inicial: os pro- blemas provenientes da prática profissional são, então, apreendidos como problemas técnicos, que podem ser solucionados pela técnica da resolução de problemas (problems solving). Entretanto, como de- monstrado por alguns autores de análise do trabalho, é sabido que pode-se reduzir os problemas concretos da prática às questões técni- cas, nem à resolução dos problemas já resolvidos (problems setting). Ao contrário, diante de um problema real, é necessário considerar o quadro em que surge esse problema e, em muitos casos, é necessário até mesmo construir esses quadro, para que os problemas significa- tivos possam ser visualizados (problems framing). Portanto, antes de aplicar uma solução qualquer oriunda da teoria, o docente deve conhecer, em profundidade, o contexto, assim como o quadro inter- pretativo do problema. A autora se baseia nas pesquisas de Tardif e Lessard, que consi- deram que o trabalho, no caso do educador físico constitui-se como atividade fundada nas interações entre seres humanos, não se limi- tando a seu perfil profissional específico ou à natureza do trabalho Didatismo e Conhecimento 12 BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física) (técnico, médico, estético, educativo, etc.). Ao mesmo tempo, tais práticas profissionais são formativas e instrutivas, mediadas pelas interações sociais. Entretanto, há uma identificação social do profis- sional da educação física com a função docente. O modelo epistemológico que fundamenta atualmente a for- mação universitária em educação física é o da racionalidade técni- ca ou aplicacionista, postulando que o profissional primeiramente deve dominar as técnicas e teorias para depois aplicá-las no trabalho profissional, com ênfase na solução técnica de problemas, com os procedimentos instrumentais aprendidos. A principal consequência deste modelo é distanciar a formação inicial da realidade escolar e social, estabelecendo dicotomias entre teoria e prática, e entre a formação disciplinar teórica, formação pedagógica e prática, sendo esta, na forma de estágio, considerada a “última etapa”. Pesquisas, em especial na área de análise do trabalho, apontam que os proble- mas da prática não podem ser reduzidos a questões técnicas nem a soluções pré-determinadas. A resolução de problemas deve ser feita a partir da construção de um quadro interpretativo de problemas sig- nificativos vinculados ao contexto. Porém identifica-se que as dicotomias e fragmentações aumen- taram nos programas de formação inicial na área de educação física, principalmente as confusões sobre o papel da teoria na formação profissional. Essa situação gera críticas por parte dos profissionais de educação física (docentes e não docentes), principalmente após a inserção real no mundo do trabalho, o que gera em muitos a rejei- ção à sua formação inicial, enquanto a maioria considera a forma- ção universitária muito distante da prática e, de certa forma, inútil. Essa situação, entretanto, não é exclusiva da educação física, sendo constatada na formação para outras ocupações, tais como medicina, direito, serviço social, etc. As críticas à formação inicial se articulam com outra concepção de formação, que considera a prática pedagógica um local de pro- dução de saberes docentes para a prática profissional, inspirando o modelo reformista e significando uma ruptura epistemológica com o modelo aplicacionista. Desse modo, os docentes detêm saberes específicos, distintos da formação inicial universitária a serem apli- cados em diversas situações de sua prática profissional. Até o final dos anos 1980 as pesquisas educacionais tinham um caráter normativo, versando sobre o comportamento docente. Com o movimento norte-americano de profissionalização do ensino, nesse período,
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