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BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS
(EDUCAÇÃO FÍSICA)
Didatismo e Conhecimento 1
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
1. BETTI, MAURO. IMAGEM E AÇÃO: 
A TELEVISÃO E A EDUCAÇÃO FÍSICA 
ESCOLAR. IN: ______ (ORG.) EDUCAÇÃO 
FÍSICA E MÍDIA: NOVOS OLHARES, OUTRAS 
PRÁTICAS. SÃO PAULO: HUCITEC, 2003.
A presente obra é analisada em quatro capítulos, as implica-
ções e interfaces dos meios de comunicação e outras mídias para a 
Educação Física, em especial na formação de professores, na prática 
docente e na própria interação midiática. As pesquisas sobre mídia, 
educação física e pedagogia datam do início do século XX, acom-
panhando as transformações nas tecnologias de informação e comu-
nicação (TICs), o aprofundamento dos estudos sobre o corpo no ca-
pitalismo e a produção de subjetividades, interações sociais e novos 
conhecimentos, bem como os avanços das ciências pedagógicas. A 
partir de tais transformações sociais, o professor deve realizar uma 
reflexão sistemática sobre sua prática para compreender os impactos 
da mídia na educação física.
AUTOR
Mauro Betti - possui graduação em Licenciatura e Mestra-
do em Educação Física pela USP, Doutorado em Educação pela 
UNICAMP, Livre-Docência pela Universidade Estadual Paulista 
(UNESP) e Pós-Doutorado pela Universidade Federal de Santa Ca-
tarina. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Educa-
ção Física da Faculdade de Ciências da UNESP, campus de Bauru, e 
docente credenciado no Programa de Pós-Graduação em Educação 
(mestrado e doutorado) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da 
UNESP de Presidente Prudente. Lidera o Grupo de Estudos Socio-
culturais, Históricos e Pedagógicos da Educação Física (CNPq). 
Atua na área de Educação Física, nos seguintes temas: Educação 
Física escolar, concepções teórico-metodológicas no ensino da 
Educação Física, inovação curricular, mídias, saberes da Educação 
Física, experiências formativo-educacionais no esporte e metodolo-
gia das pesquisas qualitativas. É autor dos livros: Educação Física e 
Sociedade, A Janela de Vidro: esporte, televisão e educação física, e 
Educação Física Escolar: ensino e pesquisa-ação, além de inúmeros 
artigos em periódicos especializados. Foi assessor dos PCNs (5a a 
8a séries do Ensino Fundamental) e da Proposta Curricular do Es-
tado de São Paulo para a disciplina Educação Física. Entre 1980 e 
1985 foi professor de ensino de 1º grau da Prefeitura de São Paulo.
SINÓPSE
O objetivo da pesquisa é propiciar aos professores uma reflexão 
crítica sobre a prática, com vistas à utilização das mídias, em espe-
cial a televisão e seu discurso, nas aulas de educação física. Betti 
mostra que as imagens e sons midiáticos mobilizam os indivíduos e 
interagem com o imaginário socialmente construído, desenvolvendo 
uma cultura corporal do movimento: “a parcela da cultura geral que 
abrange algumas das formas culturais que se veem historicamente 
construindo, nos planos material e simbólico, mediante o exercício 
(em geral sistemático e intencionado) da motricidade humana - jogo, 
esporte, ginástica e práticas de aptidão física, atividades rítmicas/
expressivas etc.” (p. 93) Em outras palavras, cultura corporal do mo-
vimento é o exercício intencional e sistemático da motricidade hu-
mana, constituído historicamente e codificado culturalmente no que 
hoje definimos como esporte, ginásticas, danças, jogos, etc. e que 
compõem os meios e conteúdos da Educação Física, esta sendo um 
campo de saber articulado a outras intencionalidades pedagógicas.
As principais tendências da cultura corporal de movimento, 
apontadas por Betti são: 
1) Novas esportivizações, relacionando a cultura corporal à es-
petacularização; 
2) Distanciamento do esporte telespetáculo das outras manifes-
tações da cultura esportiva, devido à mídia e aos interesses econô-
micos; 
3) “Confundimento” ou “entrelaçamento” entre os modelos de 
estética corporal e do fitness (saúde/aptidão física).
Especificamente quanto ao uso da televisão e do vídeo na edu-
cação física, Betti ressalta as seguintes vantagens: 
1) motivação para o debate e a reflexão sobre temas atuais a 
partir do conhecimento prévio e cotidiano dos alunos; 
2) atratividade da linguagem jornalística, que é mais sintética 
e ilustrada; 
3) os audiovisuais dão destaque a informações e chamam a 
atenção, muitas vezes mais que o professor; 
4) substituem longas exposições e textos; 
5) as imagens televisivas atingem primeiramente as emoções e, 
em seguida, o professor deve trabalhar as interpretações racionali-
zadas e críticas.
Betti explica alguns objetivos da utilização dos audiovisuais 
nas aulas de educação física escolar: 
1) sensibilização, ao introduzir novo assunto e motivar os alu-
nos; 
2) ilustração, trazendo e compondo cenários desconhecidos; 
3) conteúdo de ensino, de forma direta, apresentando o tema 
específico ou de forma indireta, permitindo abordagens interdisci-
plinares.
A partir da pesquisa-ação desenvolvida por Betti, são apresen-
tadas algumas recomendações para o uso das mídias na educação 
física, em especial a TV e vídeo: 
1) partir de um tema e/ou situação atual e de interesse dos alu-
nos, porém, integrado ao tema trabalhado no currículo naquele pe-
ríodo;
2) utilizar matérias curtas, evitando matérias essencialmente 
narrativas;
3) preparar a utilização da matéria, verificando a veracidade das 
informações;
4) articular exibição do vídeo com vivências corporais;
5) favorecer a discussão sobre o vídeo, articulando-a à vivência 
dos alunos e à cultura corporal de movimento, em seu contexto his-
tórico (passado e presente) e com dados científicos;
Betti ressalta a dificuldade de obter materiais adequados para 
trabalhar nesta concepção pedagógica. Porém, faz-se necessário 
que o professor se aproprie das novas tecnologias de informação 
e comunicação que fazem parte do seu próprio cotidiano e de seus 
alunos.
Didatismo e Conhecimento 2
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
COMENTÁRIO
A sociedade contemporânea é marcada pelo consumo frenético 
das tecnologias entre os jovens, absorvem mensagens curtas numa 
velocidade típica de anúncios publicitários, característicos da per-
cepção mundializada. Comentários e dúvidas sobre novas práticas 
esportivas e corporais, surgem nas aulas de Educação Física. Tais 
dúvidas se dão, ao grande espaço ocupado pela mídia no cotidiano 
de jovens, adultos e crianças. Permitindo considerar o grande poder 
de influência crescente que a mídia exerce sobre a cultura corporal 
de movimento. Assim, a obra busca desenvolver reflexões teóricas 
e possibilidades na articulação entre a Educação Física escolar e a 
cultura midiática, analisando as principais interpretações e suas pro-
postas sobre a mídia no âmbito pedagógico, objetivando analisar e 
identificar objetos da cultura midiática, contextualizando como prá-
tica pedagógica no âmbito da Educação Física escolar.
RESUMO
Na obra de sua autoria, “Imagem e ação: a televisão e a educa-
ção física escolar”, Betti, valendo-se do método compreensivo, da 
abordagem fenomenológica e da técnica da Pesquisa-Ação, propõe 
uma investigação sobre o discurso televisivo e sua relação com a 
Educação Física. O autor parte do pressuposto de que a Educação 
Física constitui-se um fenômeno cultural, compreendido pelas suas 
características intrínsecas, lúdicas e agonísticas, presentes no espor-
te, no jogo, desenvolvidas no contexto da industrialização da Europa 
no século XIX e ampliadas mundialmente com a globalização.
A televisão é um elemento dinamizador da cultura corporal do 
movimento, com grande capacidade de produzir discursos audiovi-
suais, gerando uma lógica de espetacularização. Somos bombarde-
ados por informações televisivas e outras mídias, por meio de ima-
gens, palavras e sons. Alguns autores afirmam que vivemos imersos 
em uma cultura das mídias, que estão cada vez mais integradas ao 
cotidiano, formando nosso imaginário e visão de mundo. Entretanto, 
o conteúdo veiculado pelas diversas mídiasapresenta um caráter de 
espetáculo e entretenimento, e não há uma preocupação educativa, 
no sentido formal do termo. Diante do mosaico de informações, o 
indivíduo seleciona e estabelece as conexões de sentido que lhe in-
teressam e satisfazem.
Neste contexto, baseados na obra em comento, vamos discorrer 
sobre o tema.
A Mídia e o Esporte
Discorrer neste momento sobre as possibilidades do corpo é re-
fletir sobre o ser humano e sua condição de se comunicar por meio 
do movimento, da expressão, dos gestos, da fala, do olhar, do toque, 
enfim, é tratar de todas as posses que o corpo, como ser, oferece. Ser 
um corpo com tantas possibilidades é, sem dúvida, uma caracterís-
tica que diferencia os seres humanos dos demais seres que habitam 
este planeta. Pensar, sentir, agir, criar, dialogar, relacionar-se, entre 
tantas outras particulares, caracterizam esses seres complexos que, 
vivendo sua existencialidade, são capazes de substituir adaptando-se 
às mais diversas situações da vida. Existencialidade traduzida pela 
presença do ser humano em ações individuais e coletivas, desenvol-
vendo sua organização autônoma. Essa dinâmica conduz os seres 
humanos a se conhecerem e se complementarem na assimilação e 
na elaboração dos processos vitais.
O tema inclusão também é abordado, pois, falar de inclusão é 
recorrer aos acontecimentos que vêm marcando o olhar atento, críti-
co e preocupado de toda a sociedade sobre um grupo de pessoas que 
se apresentam fora do padrão de corpos impostos pela sociedade: 
os corpos deficientes. Grupo que grita atendimento solicita atenção 
e deseja ocupar espaços sociais e culturais que são dele por direito, 
como de qualquer outro humano. Debater o conceito de inclusão 
é retomar as questões postas pela Convenção Internacional para a 
eliminação de todas as formas de discriminação contra o portador 
de necessidades especiais.
Os corpos deficientes na escola estão vivendo uma modificação 
rigorosa quanto ao seu imaginário social, e isso, do ponto de vista 
da concretização, desencadeia uma identificação da sociedade com 
o tema em questão, que se manifesta na busca de ações coletivas 
e sua manutenção, bem como no estabelecimento de sistemas de 
organização, normas de convivência sociais e possíveis trocas para 
que se efetivem as novas aspirações. O autor aponta no texto alguns 
princípios de inclusão tais como:
- Mudanças e transformações nos conceitos e valores sociais do 
ser humano, da sociedade e do mundo como um todo;
- Entrelaçamento nas diferenças humanas deixando de lado os 
valores de padronização de desempenho e de desenvolvimento;
- Fundamental valorização da individualidade;
- Inserção social, tolerância e respeito para com o outro.
Dessa forma, pensar nos corpos em diálogo com as diferen-
ças em aulas de educação física é assumir radicalmente o mistério 
guardado dentro de cada corpo, enquanto ser capaz de aprender e 
ensinar, mistério esse constantemente renovado conforme forem re-
novados os desafios que os educadores consigam lançar sobre esses 
corpos. Em relação à educação física e treinamento esportivo, a indi-
vidualidade das pessoas na prática regular da atividade física voltada 
à saúde passa pela tríade tão bem descrita na literatura quando se 
fala em seres humanos, ou seja, a interação com os valores biológi-
cos, psicológicos e sociais.
Em relação aos aspectos biológicos situam-se intervenções de 
atividades físicas com forte influência dos parâmetros:
- De composição corporal, atuando no gasto energético e asse-
gurando equilíbrio entre ingestão alimentar e gasto calórico.
- Da força muscular no sentido de utilizar grupos musculares 
possíveis, podendo executar atividade com o peso do próprio corpo 
ou com aparelhos;
- Da prática de modalidades desportivas com estratégias dife-
rentes das regras oficiais, ou mesmo com as oficiais adaptadas para 
atingir todas as faixas etárias e gêneros, bem como pessoas com cui-
dados especiais.
- Do consumo de oxigênio para a melhoria do sistema cardio-
vascular;
- Da flexibilidade por meio de movimentos com grandes ampli-
tudes articulares.
Todos esses fatores são indicadores de atividades físicas ade-
quadas à saúde dos indivíduos. Assim, visando à formação de hábi-
tos saudáveis, como a prática de exercícios físicos, é necessário que 
a escola assuma a incumbência de promover, de forma educativa, os 
conhecimentos dos valores da atividade física e dos esportes para 
uma vida ativa. É de responsabilidade do processo educacional a 
transmissão dos conhecimentos científicos que são produzidos nas 
universidades e nos centros de pesquisas relativos á melhoria e su-
peração das condições sociais, biológicas e psicológicas das pessoas 
envolvidas com a sistematização de práticas de exercícios.
Didatismo e Conhecimento 3
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
O treinamento físico é considerado uma forma segura de inter-
venção, porém a avaliação dos praticantes de exercícios físicos é ne-
cessária para garantir, o máximo de segurança e uma prescrição de 
exercícios bem fundamentada e eficaz, tanto para indivíduos aparen-
temente saudáveis quanto para os portadores de doenças crônicas. 
Quanto ao lazer e educação física, o texto apresentado na obra fala 
sobre as questões que envolvem atividades físico-esportivas, e de 
lazer, e de modo geral, ainda mais quando aquelas são consideradas 
como conteúdos culturais do lazer, apesar dos avanços verificados 
nos últimos anos, encontra ainda hoje barreiras nos meios acadê-
micos e em faculdades de educação física, por mais que venham 
ganhando importância na nossa sociedade.
No ramo pedagógico, a educação física motora ou escolar, pos-
sui ligações com o duplo aspecto de lazer - educação para o lazer e 
pelo lazer. O ideal em termos de estratégia de ação seria o estabele-
cimento de políticas de intervenção, reunindo setor público, gover-
namental e não governamental, e privado na busca do enfrentamen-
to das questões que procuram assegurar o direito constitucional de 
acesso ao lazer a toda população. Já no quesito da educação física no 
aspecto da corporeidade e motricidade, a intenção maior não é fazer 
com que os alunos entendam esse fenômeno da corporeidade. Por se 
tratar de um fenômeno, não complicado, mas complexo, mas sim, 
proporcionar a oportunidade de, através da disciplina de Educação 
Física, discutir questões que envolvam e fazem parte desse fenô-
meno, questões essas relacionadas com o corpo em sua totalidade. 
Falar de corporeidade é falar do ser humano, da vida, falar do que 
sou e da minha relação com os outros e com o mundo. Essa é inten-
ção maior, trazer os alunos do Ensino Médio para essas reflexões 
sobre questões que tratam do corpo. Sendo a Educação Física uma 
disciplina que trabalha diretamente com o corpo cabe a ela através 
de seus profissionais trabalharem essas questões.
Cada corpo tem sua corporeidade que, no fundo, corresponde 
à sua arquitetura. A corporeidade é o que faz com que um corpo 
seja tal corpo. O organismo humano, como uma espécie viva, tem 
sua própria corporeidade. Mas cada indivíduo, segundo a engenha-
ria genética revela, possui uma corporeidade própria. Em relação à 
motricidade, a ação motora requer ensinamentos que capacitem o in-
divíduo no seu aprendizado e na prática do dia-a-dia. As dimensões 
sociais do ser corpóreo assumem funções essenciais para qualquer 
atividade ou trabalho. Entretanto faz-se necessário alocar aqui uma 
reflexão mais consistente daquilo que é a verdadeira substância da 
corporeidade, é preciso evidenciar a fala de Freire quando diz que 
“O corpo, inevitavelmente, não está morto; Nossa condição corporal 
e sempre presente”. Nessa colocação fica claro que somos e estamos 
no mundo. Fazendo parte dele, agindo e interagindo a todo instante, 
numa troca recíproca entre indivíduo e meio. O ser humano vive 
através de sua corporeidade. Não se pode misturar corpo e corpo-
reidade. O indivíduo interage e se comunica através do seu corpo, 
entretanto, tudo isso queestá marcado em seu corpo, tem a ver com 
a corporeidade que se refere e torna-se notório através de seu cor-
po, mas, tudo que emerge de seu corpo diz respeito à corporeidade. 
Uma corporeidade capaz de fazer a trajetória histórica do indivíduo, 
que, na maioria das vezes, nem percebe essa dimensão que o corpo 
assume a todo instante.
Entre os principais aspectos, cita-se traçar um panorama na re-
lação do ser humano e ecossistema, identificação da educação física 
como área do conhecimento em diálogo com a temática ambiental, 
estudos do lazer como uma das vertentes da área de educação física 
e como espaço para o debate das práticas de atividades e esportes em 
ambientes naturais e ainda projetar uma educação física e um lazer 
comprometidos com a sustentabilidade de todas as formas de vida 
no ecossistema. Algumas considerações sobre a educação física e 
saúde, desenvolvimento humano e cultura sociedade, são relatadas 
na obra com fundamental pertinência, proporcionando conhecimen-
tos consideráveis aos profissionais da área que buscam aprimora-
mento na atuação profissional. Procura ainda, ampliar o alcance e 
a repercussão das novas propostas, ideias e resultados divulgados, 
buscando assim desenvolver o pensamento crítico e a pesquisa no 
diversos segmentos da profissão.
Educação Física, Cultura e Sociedade
Quando se diz que a Educação Física é um fenômeno cultural, 
não se quer dizer que os dados biológicos não estão presentes ou 
não são importantes, mas que estes últimos não são suficientes para 
a compreensão, digamos, do esporte. 
Os europeus do Renascimento ou os indígenas brasileiros à 
mesma época não jogavam basquetebol ou futebol, embora do ponto 
de vista fisiológico-mecânico possuíssem o potencial para fazê-lo. É 
claro que jogos com bola, atendendo ao impulso lúdico que está na 
origem da própria cultura humana (Huizinga) são registros bastante 
antigos na história, mas apenas em contextos socioculturais especí-
ficos é que surgiram o basquetebol e o futebol tal como os conhece-
mos hoje. O surgimento e ascensão do esporte como um importante 
fenômeno sociocultural pode ser explicado pelos predicados intrín-
secos (lúdicos e agonísticos) presentes nas diversas modalidades 
esportivas, aliados ao contexto de liberalismo e industrialização da 
Europa no século XIX, daí espalhando-se para todo o mundo (Betti). 
Cultura e cultura corporal de movimento 
Mas o que é cultura? Temos dificuldade em compreender nossa 
própria cultura, porque estamos nela imersos, ela nos aparece como 
um dado evidente, sobre o qual não nos debruçamos a todo o mo-
mento para uma análise sistemática. Da Matta (1978) considera que, 
ao estudar uma dada cultura, um antropólogo deve realizar um duplo 
movimento: transformar o estranho em familiar, e, ao mesmo tem-
po, o familiar em estranho. O primeiro é o movimento original da 
Antropologia, ao final do século XIX, quando buscava compreender 
culturas nativas. O segundo corresponde ao momento presente da 
Antropologia, que se volta para a nossa própria sociedade, e então 
temos que estranhar o que nos é familiar. Lembra Dartigues que E. 
Husserl, considerado o “pai” da fenomenologia moderna, agradeceu 
aos antropólogos do seu tempo, já que concebia a descoberta da es-
sência dos fenômenos sociais e culturais como decorrentes de uma 
compreensão prévia, logo, de um conhecimento, pelo sociólogo/
historiador, de culturas diferentes da sua – e os antropólogos pe-
netraram em universos culturais inteiramente estranhos ao homem 
europeu, os quais não poderiam ter concebido, nem mesmo como 
pura possibilidade, se não tivessem ido investigar in loco. 
Uma boa e didática ilustração do que poderia ser esse processo 
de estranhamento, e que apresenta interesse para a Educação Física, 
é a matéria jornalística exibida na televisão sobre alguns aspectos 
da cultura da Mongólia, país encravado na Ásia, entre a Rússia e 
a China. Naquele país realiza-se anualmente, conforme a referida 
matéria há quase oito séculos, um “festival de esportes”, que inclui 
as modalidades: arco e flecha, corrida de cavalo e luta. 
Didatismo e Conhecimento 4
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
Na corrida, o percurso totaliza 56 quilômetros, tendo como ca-
valeiros meninos de 4 a 12 anos; exaustos, alguns cavalos morrem 
de cansaço, literalmente. É o animal vitorioso, e não o cavaleiro, 
quem recebe as honras. Na competição de luta, mais de 500 con-
correntes se enfrentam sucessivamente, sem divisão de categorias 
por peso e sem limite de tempo (algumas lutas chegam há durar 
duas horas), até que apenas um deles permaneça em pé – o ven-
cedor é aclamado como herói. Tais fatos podem chocar defensores 
dos direitos dos animais, médicos, pedagogos e/ou profissionais da 
Educação Física, porque confrontam valores estabelecidos (mesmo 
que provisoriamente) em nossa cultura – tanto a cultura no sentido 
mais amplo (a cultura ocidental, por exemplo), como em sentido 
mais específico (a cultura profissional-pedagógica da Educação Fí-
sica, por exemplo). Todavia, se tomarmos a corrida de cavalos como 
exemplo, é preciso considerar que saber cavalgar, num país em que 
a maioria da população possui hábitos nômades, e onde há mais 
equinos que seres humanos, são habilidades altamente valorizada, 
inclusive para crianças. 
O exemplo nos permite entender porque “cultura” pode ser de-
finida como “conjunto dos modos de vida de um grupo humano de-
terminado, sem referência ao sistema de valores para os quais estão 
orientados esses modos de vida” (Abbagnano). 
Tal definição aplica-se tanto a sociedades complexas, tecnoló-
gicas, como a sociedades simples e rústicas. Todavia, na sociedade 
ocidental contemporânea, em especial nas últimas décadas, um con-
ceito que destaque o caráter semiótico da cultura parece ser mais 
apropriado - qual seja considerar a cultura como uma dinâmica de 
produção e circulação de signos e sentidos. Para essa direção se 
volta o conhecido trabalho de Geertz, cuja importância foi desta-
cada por Thompson, por ter reorientado a análise da cultura para o 
estudo do significado e do simbolismo, adotando uma concepção 
simbólica de cultura, que Thompson caracteriza como: “padrões de 
significados incorporados nas formas simbólicas, que inclui ações, 
manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em 
virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham 
suas experiências, concepções e crenças” . Levando adiante tal 
entendimento, Thompson, propõe uma concepção estrutural da cul-
tura, que “dá ênfase tanto ao caráter simbólico dos fenômenos cul-
turais como ao fato de tais fenômenos estarem sempre inseridos em 
contextos sociais estruturados”, e a por “análise cultural” entende o 
“estudo das formas simbólicas”, que dizer “ações, objetos e expres-
sões significativas de vários tipos - em relação a contextos e proces-
sos historicamente específicos e socialmente estruturados dentro do 
quais, e por meio dos quais, essas formas simbólicas são produzidas, 
transmitidas e recebidas”. 
Destaca-se, nessa concepção, a dimensão semiótica e comuni-
cativa da cultura (cultura e comunicação são como duas faces da 
mesma moeda), e por outro lado, a crescente midiatização da cultura 
contemporânea, já que as mídias são atualmente as principais fontes 
de produção e transmissão de formas simbólicas e construção de 
sentidos no mundo de hoje. Santaella refere-se mesmo ao surgimen-
to de uma nova cultura, que redefine a cultura de massa e a cultu-
ra erudita: é a cultura das mídias, que cria sua própria linguagem. 
Então, quando a matéria televisiva fala em “esporte” na Mongólia, 
refere-se a uma forma simbólica que possui significados diferentes 
para os mongóis e para nós, e que se situa em um contexto histórico 
e social específico. 
Somos seres cuja relação original com o mundo e com os outros 
é corporal-motora (Merleau-Ponty). Possuímos uma infinita capaci-
dade de “movimento para...”, quer dizer, nossa motricidade é regida 
porintencionalidades. Santin destaca que os elementos fundantes 
da Educação Física são: o ser humano (uma totalidade indivisível) 
e o movimento, o qual possui componentes/elementos intencionais 
internos e externos. Dentre outros, são componentes intencionais in-
ternos do movimento humano: o prazer intrínseco à execução dos 
próprios movimentos, a superação de si próprio e a fruição estética; 
elementos externos seriam aqueles que provém de fora do campo 
do próprio movimento, como troféus, recompensas financeiras, bem 
como a busca de valores extrínsecos ao movimento em si, como a 
saúde. E tais componentes intencionais internos e externos podem 
ser articulados de diferentes modos, a partir de diferentes valores - 
entendendo valor como uma possibilidade de escolha (Abbagnano). 
Por exemplo, a saúde pode ser promovida ou prejudicada, depen-
dendo da articulação que se faz entre os componentes intencionais 
do movimento, já que ela não é, em si, um componente intencional 
interno do movimento humano. 
É a exercitação intencionada, e em geral sistemática, da motri-
cidade humana (que dizer nossa capacidade de movimento para...) 
que foi construindo, ao longo da história, as formas culturalmente 
codificadas que hoje conhecemos como esporte, ginásticas, dança 
etc., as quais constituem os meios e conteúdos que a Educação Fí-
sica (que não surgiu previamente a estas formas) articula a partir 
de diferentes intencionalidades pedagógicas. É a este processo e 
produto que denominamos “cultura corporal de movimento” (Bet-
ti), já que não existe movimento sem um corpo que se movimente 
(Dartigues). São estas também as formas culturais que interessam às 
mídias, aos empresários, aos políticos, cada qual buscando extrair 
delas diferentes valores, de acordo com suas intencionalidades. 
Contudo, é importante explicar que o termo “intencionalidade” 
não é usado aqui apenas com uma conotação utilitarista no sentido 
de obter, de modo consciente e previamente planejado, alguma van-
tagem de ordem “prática” com alguma ação. Vamos a um exemplo. 
Didi, um dos maiores jogadores de futebol que o Brasil já conheceu, 
atuante até início da década de 1960, descreveu, em entrevista à te-
levisão, a que eu tive a oportunidade de assistir, como inventou a 
“folha seca”, um chute de longa distância no qual a bola se elevava 
muito e, já próxima à meta adversária, descia rapidamente, enga-
nando o goleiro. Pois bem, tal modo de chutar a bola não foi fruto 
de um processo de “treino”, de experimentação controlada com o 
propósito de criar um novo tipo de chute mais eficiente para atingir o 
objetivo do futebol (“fazer gols”), mas decorreu do fato de estar com 
o calcanhar machucado, o que o obrigou a chutar apoiado na ponta 
dos pés, criando involuntariamente uma nova mecânica do chute. 
Quer dizer, ele não “pensou”, não refletiu antecipadamente sobre 
como chutar a bola nessa nova situação corporal que a contusão lhe 
impôs, mas o corpo organizou a ação motora espontaneamente, in-
tuitivamente – isto é exatamente o que se chama intencionalidade 
operante (Merleau-Ponty), conceito que também Sérgio emprestou 
à fenomenologia merleau-pontyana, para definir a motricidade hu-
mana como “intencionalidade operante”. 
É claro que a biomecânica poderá explicar a “folha seca” nos 
termos da Física, assim como professores de Educação Física e trei-
nadores esportivos poderão apropriar-se desse movimento e inseri-
-lo em uma pedagogia de ensino/treinamento do futebol – estaría-
mos aí, então, no âmbito da cultura. Mas tais procedimentos são pos-
teriores, assim como, a posteriori, o próprio Didi pode compreender 
racionalmente o que fez, e pode explicá-lo em palavras. 
Didatismo e Conhecimento 5
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
O depoimento de Didi, então, além de nos servir para exempli-
ficar o conceito de “intencionalidade operante”, também serve para 
nos mostrar de onde vem o novo, onde está a fonte na qual a cultura 
corporal de movimento “bebe” a matéria prima do seu dinamismo, 
pois, afinal, a cultura não é estática, ela não apenas reproduzem 
os jogos, os esportes, as danças, mas os produz, os transforma, os 
cria e recria. Observemos as crianças em suas brincadeiras; os jo-
vens pobres nas periferias e favelas improvisando jogos e danças; 
famílias nos parques públicos rebatendo uma bola por sobre uma 
corda amarrada entre duas árvores; nas praias, meninos e meninas 
fazendo malabarismos com uma bola nos pés, ou deslizando por 
dunas de areia com pedaços de tábua encerada. Aí encontraremos a 
exercitação mais original da motricidade humana, e original em dois 
sentidos: como origem das formas que adquirirão posteriormente 
codificação cultural, e original porque inovadoras, não codificadas, 
transgressoras em certa medida. “Brincar” de rebater uma bola de 
plástico por sobre uma corda amarrada entre duas árvores é, nesse 
sentido, mais original que o volibol regulamentado como esporte 
formal-federativo. Nessa mesma direção, Baitello Júnior evidenciou 
como, para os teóricos da semiótica da cultura, o jogo/brinquedo, na 
qualidade de atividade não direcionada a um fim utilitário, é um dos 
nascedouros da cultura humana. 
A televisão, as mídias e a cultura corporal de movimento. 
Mas nas últimas três décadas surgiram um novo elemento di-
namizador da cultura corporal de movimento: a televisão. Dotada 
de enorme capacidade técnica para produzir discursos audiovisu-
ais, cuja principal característica é a espetacularização das imagens, 
a televisão, aliada a interesses comerciais, encontrou no esporte a 
matéria-prima ideal, criando o esporte telespetáculo, o qual pode 
ser definido, conforme Betti como uma realidade textual relativa-
mente autônoma (face à prática “real” do esporte) que é construída 
pela codificação e mediação dos eventos esportivos efetuadas pelo 
enquadramento das câmaras televisivas, edição das imagens e co-
mentários, sons e efeitos gráfico-computacionais que se acrescen-
tam a elas. É regido pela lógica da espetacularização, por sua vez 
ligada aos interesses econômicos das grandes empresas midiáticas 
e às possibilidades tecnológicas de produção e emissão de imagens. 
É tal “texto” audiovisual (predominantemente imagético) que 
se tornou produto vendido pela televisão e por outras mídias (jor-
nais, revistas, sites da internet etc.) – o espetáculo esportivo em si 
e a “falação” (ECO, 1984) sobre ele. Além disso, a possibilidade 
da associação do esporte a uma infinidade de produtos, do açúcar 
(“energia”) aos serviços bancários (“velocidade”), passando pelos 
materiais esportivos propriamente ditos (bolas, vestimentas etc.) 
é amplamente explorada pela publicidade. Contudo, tal lógica da 
espetacularização - ao transformar o esporte em texto predominan-
temente imagético e relativamente autônomo face à prática “real” 
do esporte - traz uma importante consequência: a fragmentação/
descontextualização do fenômeno esportivo. As mídias fragmentam 
e descontextualizam a experiência global de praticar esporte. Os 
eventos e fatos são retirados do seu contexto histórico, sociológi-
co, antropológico; a experiência global do ser-atleta é fragmentada. 
Como tal descontextualização é sutil e compensada com informa-
ções suplementares (closes, câmaras dispostas em diversos ângulos, 
microfones captando sons no campo e na torcida etc.), o telespecta-
dor tem a falsa sensação de estar olhando por uma “janela de vidro”, 
quando na verdade aprecia uma interpretação da realidade, mediada 
pelas câmaras televisivas (Betti). 
De fato, há diferenças profundas na experiência de assistir ao 
esporte como testemunha corporalmente presente nos estádios e gi-
násios e na sala de estar, pela televisão. Por outro lado valorizam 
os aspectos parciais que mais lhes interessam para efeito de espeta-
cularização, e acabam por veicular uma concepção hegemônica do 
que é esporte: vitória a qualquer custo, esforço máximo, disciplina, 
recompensa financeira etc. Aspectos como o prazer, a sociabilidadee o conhecimento de si no confronto com outrem, por exemplo, são 
neglicenciados. 
É então importante compreender que o interesse das mídias no 
esporte não se fundamenta no interesse de estimular a prática espor-
tiva, mas de vender a si próprias, e, por sua vez, o esporte profis-
sional torna-se cada vez mais dependente das mídias, em especial 
da televisão. Atualmente, nenhum grande evento esportivo é pos-
sível sem o envolvimento das empresas televisivas, que divulgam 
os produtos e as marcas dos patrocinadores, por intermédio da pu-
blicidade. O esporte telespetáculo ensaiou seus primeiros passos 
na Copa do Mundo de 1996 – o primeiro evento esportivo inter-
nacional integralmente explorado pela televisão – e firmou-se nos 
Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, também os primeiros 
Jogos Olímpicos que auferiram lucros financeiros. O esporte nunca 
mais seria o mesmo após o surgimento da televisão ao vivo, o vídeo 
tape o close, os sistemas de satélite que fazem as imagens e sons do 
espetáculo esportivo trafegar por todo o planeta. 
Nos últimos anos, pode-se constatar que as mídias passaram a 
investir também em outras manifestações da cultura corporal de mo-
vimento, em especial as ginásticas (aeróbica, localizada, com pesos 
etc.), associando-as a um modelo de beleza corporal de magreza, 
para cujo alcance concorrem também as dietas alimentares e inter-
venções cirúrgicas (prótese, lipoaspiração etc.). 
Dessa associação resulta a possibilidade de vender inúmeros 
produtos: esteiras-rolantes, equipamentos domésticos de ginástica, 
remédios “emagrecedores”, além, é claro, de um sem número de pu-
blicações (em especial revistas de “banca”) dirigidas prioritariamen-
te ao público feminino, em cujas capas, observem, sempre apare-
cem “chamadas” para programas de exercício e ginástica que visam 
emagrecimento e/ou obtenção de fortalecimento muscular em de-
terminadas regiões do corpo (por exemplo, “levantar o bumbum”). 
É oportuno lembrar que as academias, destacado espaço de atuação 
dos profissionais da Educação Física, toma parte nesse mercado do 
corpo que, se não é novo, foi expandido e tomou novos rumos sob o 
patrocínio das mídias. 
Já havíamos apontado (Betti) a decisiva influência das mídias 
(em especial a televisão), no direcionamento de tendências da cul-
tura corporal de movimento, com importantes repercussões para a 
Educação Física, entendida esta tanto como área de conhecimento 
como de intervenção profissional. São essas tendências: 
- Novas esportivizações. Fenômeno que tende a assimilar diver-
sas formas da cultura corporal de movimento ao modelo do esporte 
espetáculo; 
- Progressivo distanciamento do esporte telespetáculo das de-
mais formas da cultura esportiva, afastamento este provocado pelas 
mídias e pelas grandes corporações econômicas, as quais, cada vez 
mais, assumem o gerenciamento do esporte como espetáculo televi-
sivo; essa tendência distancia, na sua forma (embora não no seu sim-
bolismo) o esporte telespetáculo do esporte praticado em contextos 
de lazer, educação e saúde;
Didatismo e Conhecimento 6
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
- “Confundimento” ou “entrelaçamento” entre os modelos de 
estética corporal e o modelo do fitness (saúde/aptidão física); a vin-
culação valorativa do exercício físico à saúde, que a tradição Edu-
cação Física conhece tão bem, foi deslocada para o valor da bele-
za, segundo um padrão imposto pelas mídias; em consequência, o 
exercício físico de modo geral, e em especial as ginásticas, passa a 
revestir-se de certos sentidos: emagrecimento, definição e hipertro-
fia muscular, sensualidade etc. 
Se as mídias exercem papel cada vez mais importante na cons-
trução de novos significados e modalidades de entretenimento e 
consumo no âmbito da cultura corporal, também constituem hoje 
a mais importante fonte de informações sobre a cultura corporal 
de movimento para o grande público não especializado. Jornais, 
revistas, sites da internet, vídeo games, rádio e televisão difundem 
ideias sobre a cultura corporal de movimento. Há muitas produções 
dirigidas ao público adolescente e infantil. Pela televisão, as crian-
ças tomam contato precocemente com as manifestações corporais e 
esportivas do mundo adulto. Hoje, somos todos consumidores po-
tenciais do esporte-espetáculo, senão como torcedores nos estádios 
e quadras, ao menos como espectadores pela televisão. Há aulas de 
ginástica aeróbica pela TV; médicos e profissionais da Educação Fí-
sica concedem entrevistas expondo os benefícios e riscos do exer-
cício físico, comentaristas nos informam sobre táticas e regras nas 
partidas de futebol, volibol ou basquete, revistas femininas e para 
adolescentes sugerem exercícios para emagrecer. Informações nem 
sempre corretas, nem sempre confiáveis, mas que se sobrepõem pela 
baixa capacidade crítica da maioria dos telespectadores e leitores. 
Tudo isso elevou o nível de informação publicamente partilhada na 
área de Educação Física a um patamar nunca antes atingido na His-
tória. Com isso, corremos o risco de, em algum momento, nos de-
pararmos, nas escolas ou nas academias, com alunos ou clientes que 
detém mais informações sobre um dado aspecto da cultura corporal 
de movimento do que seus professores/profissionais de Educação 
Física. 
Contudo, isso não é ruim, o que devemos fazer é examinar as 
possibilidades de usar as mídias a nosso favor, pela sua capacidade 
de sintetizar informações, de atrair a atenção, de seduzir pelas ima-
gens, e, ao mesmo tempo, investir na formação do leitor/telespec-
tador crítico, que compreenda os mecanismos de funcionamento e 
a linguagem das mídias, dotando-o de ferramentas para a interpre-
tação mais aprofundada e contextualizada do que vê, ouve e lê nas 
mídias. Na Educação Física escolar, por exemplo, já há suficiente 
fundamentação teórica e experiências concretas de uso de matérias 
televisivas como ferramenta metodológica no contexto de progra-
mas de Educação Física.
Inspirando-nos nas metáforas de Babin e Kouloumdjian já pro-
pusemos (Betti) um trabalho com “mixagem”, num primeiro mo-
mento, e depois, em “estéreo”. Trabalhar com mixagem é associar 
as produções da mídia às aulas “tradicionais”, fazendo referências às 
imagens e eventos esportivos transmitidos pela TV, utilizando pro-
gramas e trechos previamente gravados na TV convencional, vídeos 
produzidos para finalidades educacionais, matérias sobre a cultura 
corporal de movimento publicadas em jornais e revistas. Trata-se aí 
do que Ferrés denomina educação com o meio. Conteúdos ligados 
a técnicas, táticas, história, dimensões políticas e econômicas do es-
porte, bem como relacionados a aspectos fisiológicos, psicológicos e 
sociológicos das atividades corporais em geral seriam enriquecidos 
com o audiovisual, associados a textos jornalísticos, facilitando o 
desenvolvimento de conteúdos conceituais na Educação Física. 
Trabalhar em estéreo consiste em compreender a linguagem es-
pecífica da televisão, aprender a interpretar criticamente o discurso 
da televisão sobre a cultura corporal em busca de sentidos. Implica 
também em aprender a identificar os diversos modelos de práticas 
corporais e esportivas a partir do próprio discurso televisivo. É o 
que Ferrés denomina educação no meio. 
Se a televisão faz crianças tomarem contato precoce com as for-
mas codificadas do esporte, se para uma garota jogar voleibol é sacar 
“viagem” e “cortar” contra um bloqueio triplo, e se no imaginário 
de um garoto ele é o Ronaldinho quando chuta uma bola, mesmo 
que velha e esgarçada num chão de terra, o professor/profissional 
de Educação Física que os recebe deve considerar isso, e trabalhar 
a partir disso. Mas não pode confundir este ponto de partida com o 
ponto de chegada, assim como deve saber que este simbolismo pre-
sente na atividade esportiva de uma criança, para cuja constituição 
as mídias são decisivas, não pode confundir-se com a forma desta 
atividade; quer dizer, o professor/profissional deve adaptara forma 
de jogar futebol e volibol para que não haja discrepância entre o que 
a criança/aluno espera e o que lhes é oferecido. 
Como? Por exemplo, resgatando o que é originalmente o voli-
bol: um jogo de rebater a bola por sobre um obstáculo (que pode ser 
uma rede oficial ou uma corda), cuja dinâmica deve ser preservada. 
Ora, se não é possível a uma criança realizar o saque “por cima” 
com uma bola e altura das redes oficiais, talvez ela possa fazê-lo 
com a rede mais baixa, com uma bola maior e mais leve. Nada há 
de errado em que um garoto vista a camisa 9 da seleção brasileira e 
“sinta-se” o Ronaldinho (de fato, ele o “é” nesse momento), o que 
importa é que lhe seja dada a oportunidade de participar plena e 
ativamente do jogo de futebol, chutando, passando e fazendo gols, 
e não apenas fique correndo de um lado para outro, sem receber a 
bola, monopolizada pelos mais hábeis, como sempre se vê nas “es-
colinhas” de futebol por aí. 
Para isso, é necessário à Educação Física investir em uma peda-
gogia do esporte na qual o esporte não seja um fim em si mesmo, e 
que, sem ignorar suas influências, não se submeta, contudo aos inte-
resses das mídias e das grandes corporações econômicas. Da mesma 
forma, o profissional da Educação Física que atua nas academias 
deve considerar a busca pela beleza corporal como uma motivação 
aparente, por trás da qual se escondem desejos mais profundos desse 
ser (humano) tão complexo e contraditório. Mas deve, sem dúvida, 
partir desta motivação aparente (afinal, não há nada de errado com 
ela, pois não se trata de fazer um juízo de valor) para revelar ao 
cliente/aluno como o exercício físico (assim como o jogo, o esporte, 
a dança...) pelas suas propriedades intrínsecas, pode propiciar uma 
experiência gratificante do ponto de vista psicossocial, porque não 
há como exercitar apenas o físico. Lembremo-nos aqui de Santin: os 
componentes intencionais externos do movimento (no caso, obter 
emagrecimento, definição muscular etc.) não podem ser desarticu-
lados dos componentes intencionais internos (por exemplo, o prazer 
inerente ao próprio fato de movimentar-se). Só assim a Educação 
Física poderá atualizar sua tarefa educativa. Só assim a Educação 
Física tornar-se-á elemento dinâmico da cultura (Carmo Júnior) e 
não mera técnica de intervenção sobre o físico. Só assim ela será 
tanto educação como física.
Didatismo e Conhecimento 7
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
Significados/Sentidos predominantes no 
Discurso das Mídias sobre o Esporte 
Não deixa de ser um lugar comum afirmar que o jornalismo es-
portivo é um “discurso apaixonado” e, que, muitas vezes, narradores 
de futebol, cronistas especializados e até mesmo repórteres, deixam a 
emoção falar mais alto do que a razão, comprometendo a fatualidades 
de seus relatos. Contudo, uma aparente obrigação de fugir aos lugares 
comuns pode ser uma das razões de uma lacuna existente no que diz 
respeito a estudos que se voltem para uma melhor compreensão das 
paixões do mundo esportivo desde uma perspectiva discursiva. Mui-
tos são os trabalhos de Análise do Discurso (AD) sobre a propaganda 
política, sobre a argumentação nos editoriais de jornais de referência 
e sobre as imagens construídas para candidatos em jornais e revistas, 
mas acaba por existir um desprezo com a mídia esportiva, considerada 
menos séria, e com o próprio esporte (especialmente o futebol), ainda 
hoje tachado como “ópio do povo”, sendo, por isso, um interesse pou-
co apropriado para a intelectualidade.
Acreditamos, no entanto, que esse olhar tão restrito ao jornalis-
mo de referência faz com que grande parte do fenômeno midiático 
continue desconsiderada, precisando ainda de uma compreensão 
mais clara e sistemática. Dessa forma, esperamos nos inserir, com 
nossa pesquisa, num movimento mais recente que, buscando evi-
tar os preconceitos, preocupa-se em dar uma abordagem científica 
às outras modalidades jornalísticas (mídia esportiva, religiosa, de 
moda, popular...).
Certamente um olhar para esses “outros jornalismos” pode 
trazer alguns elementos que ampliem a compreensão do discurso 
midiático como um todo. Como é o caso, por exemplo, do estudo 
das paixões no jornalismo esportivo. Ora, por que não apostar que 
um melhor entendimento acerca da patemização na mídia esporti-
va pode contribuir para que trabalhos futuros sintam a necessidade 
de compreender melhor as paixões nas outras modalidades jorna-
lísticas? Se esse interesse não aparecer, será pelo menos possível 
retomar uma questão bastante recorrente (com toda essa paixão, o 
jornalismo esportivo é mesmo jornalismo), sem ter como ponto de 
partida um simples preconceito.
Sendo assim, propomo-nos, por meio de ferramentas da Análise 
do Discurso, a estudar os processos de patemização (comunicação 
de paixões) no discurso do jornalismo esportivo. Para isso, recor-
remos tanto à proposta de Charaudeau para o estudo dos pathé no 
discurso, quanto a informações obtidas durante o percurso de nossa 
pesquisa, que analisou manchetes de três jornais mineiros. E se, por 
um lado, a escassez de estudos no campo da AD sobre as paixões na 
mídia esportiva representou dificuldades, também nos serviu de es-
tímulo para que buscássemos informações sobre essa problemática 
em outras disciplinas, como a antropologia e a sociologia do esporte, 
que há algum tempo já consideram a relevância da questão. Nos 
próximos itens, esperamos, então, tecer alguns apontamentos acerca 
da problemática, tratando de desenvolver um exercício de análise 
que apresenta da forma mais clara possível sua metodologia e seus 
diálogos interdisciplinares.
Em sua análise da patemização no discurso televisivo, Charau-
deau mostra que a relação entre as chamadas visadas de informação 
e de captação não deve mais ser compreendida na superficialidade 
de uma simples oposição. De um lado a mídia informativa deve per-
seguir a visada de informação, que consiste em fazer saber ao cida-
dão o que aconteceu ou o que está acontecendo no mundo social; 
paralelamente, deve alcançar a visada de captação, que se orienta 
a seduzir o parceiro da troca comunicativa e sobreviver, assim, à 
concorrência midiática. Mas se, em momentos anteriores da teoria, 
as duas visadas parecem concorrer entre si (uma em busca da veros-
similhança e seriedade; a outra da espetacularização e dramatização 
do relato), ao propor um estudo sobre o páthos, Charaudeau com-
plexifica a relação entre elas, afirmando, por exemplo, que o efeito 
emotivo de alguns programas de televisão só será possível se houver 
por parte do interlocutor certa credibilidade em relação ao conteúdo 
relatado.
A partir daí, deixamos de considerar a emoção como contradi-
tória à seriedade e à credibilidade, mas como algo constituinte do 
discurso midiático, existindo de mãos dadas com a informação. No 
caso de uma reportagem sobre a corrupção de congressistas, por 
exemplo, a exploração de efeitos de autenticidade e verossimilhança 
(inicialmente ligados à visada de informação), só reforçará os sen-
timentos de frustração e indignação sugeridos ao leitor. E, no caso 
do jornalismo esportivo, que nos interessa particularmente, por mais 
sóbria que seja a cobertura da última derrota de um clube de fute-
bol, ela provavelmente levará tristeza ao fiel torcedor dessa equipe e 
alegria a quem é simpático ao time rival. Assim sendo, evitamos as 
dicotomias entre informação vs. captação e razão vs. emoção, para 
um trazer o páthos ao centro de uma análise do jornalismo esportivo 
e tratar de compreender o seu papel na interação proposta por esse 
tipo de cobertura midiática.
Poderíamos delimitar com relativa segurança o início do inte-
resse pelo estudo das paixões na filosofia e retórica antiga para che-
gar a um enquadramento atual em trabalhos de biologia, psicologia 
e sociologia. Nas últimas décadas, o assunto também vem atraindo 
a atenção de estudos de natureza discursiva como é o caso da Se-
miótica do Discurso e a Análise do Discurso de linha francesa,dos 
quais nossa pesquisa herda predominantemente sua fundamentação 
teórica. Sendo o estudo das paixões um interesse tão amplamente 
compartilhado, sentimos a necessidade de esclarecer certas questões 
fundamentais à delimitação de nosso problema: como deve se dar 
uma abordagem das paixões do ponto de vista da AD?
Como explica Charaudeau, pressupomos que o objeto de estudo 
da AD é a linguagem posta em uso e fazendo sentido numa situação 
de comunicação. Dessa forma, ao falarmos de paixões, afetos ou 
emoções no discurso, tratamos de signos que podem ser codifica-
dos, transmitidos e reconhecidos por quem se envolve numa troca 
comunicativa. A AD não se ocuparia, então, da paixão efetiva ou da 
paixão sentida, mas das formas como ela pode ser comunicada, visa-
da e causada por meio da linguagem. Uma vez delimitado nosso in-
teresse pelo processo linguageiro em que se comunicam as paixões 
e não pela forma como são vivenciadas pelo sujeito, acreditamos 
que não valeria a pena um esforço para a diferenciação entre as no-
ções de afeto, sentimento, emoção e paixão. Deixamos esse trabalho 
para os psicólogos e optamos pelo uso dos termos patemização e 
patêmico (do grego páthos), para tudo o que for relativo à geração 
de efeitos passionais pelo discurso, assim como fazem Charaudeau 
e Emediato.
Ao esboçar um esquema para situar e classificar as paixões, 
Charaudeau se inspira claramente numa semiótica narrativa, que 
relaciona as paixões às conjunções e disjunções de sujeitos com ob-
jetos de valor e às relações entre os atantes, que assumem papeis 
de sujeitos da narrativa, anti sujeitos e por aí em diante. A proposta 
desse autor, contudo, se diferenciaria da semiótica greimasiana por 
deslocar o foco da análise patêmica da dimensão narrativa do discur-
so para sua dimensão enunciativo-situacional. 
Didatismo e Conhecimento 8
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
Charaudeau não nega que as paixões estariam ligadas a um es-
quema de busca por algum valor investido num certo objeto, porém, 
ao invés de centrar sua atenção nos efeitos passionais vivenciados 
pelo sujeito da narrativa, demonstra um maior interesse por com-
preender a patemização que é colocada em jogo na relação entre 
enunciador e destinatário.
Segundo essa perspectiva, Charaudeau divide as emoções em 
quatro tópicos duplamente polarizados. Cada um deles com um lado 
positivo (eufórico) e outro negativo (disfórico), como são apresenta-
dos resumidamente a seguir:
1. Tristeza ↔ alegria: no polo negativo do tópico, a tristeza diz 
respeito a um estado de insatisfação do desejo do sujeito, engloban-
do emoções como humilhação, frustração e vergonha; enquanto o 
polo positivo relaciona-se com a satisfação desse desejo, incluindo 
sentimentos como satisfação, contentamento, felicidade e orgulho 
de si mesmo.
2. Angústia ↔ esperança: o polo disfórico, que engloba o 
medo, a desconfiança, o terror e o incômodo, é relacionado a um 
estado de espera por um actante ou objeto que representaria perigo 
para o sujeito, mobilizando crenças e representações relacionadas à 
causa de seu temor; enquanto o polo eufórico é relacionado à espera 
de um benefício e inclui sentimentos como a confiança, o desejo e 
a aspiração.
3. Antipatia ↔ simpatia: as paixões deste tópico seriam atitudes 
reativas duplas inseridas numa relação triangular entre 1) a vítima 
de um mal, 2) o responsável pelo mal e 3) o sujeito observador. 
No polo negativo, o sujeito observador experimentaria antipatia em 
relação ao “malfeitor”, assim como as paixões da raiva, da cólera e 
da indignação. No outro polo, teríamos a simpatia, acompanhada da 
compaixão e da piedade, orientadas para a vítima do mal. A tensão 
produzida por essa situação, seria capaz de produzir uma reação ati-
va do sujeito observador em relação ao malfeitor (um programa de 
vingança, como se costuma dizer na semiótica do discurso).
4. Repulsão ↔ atração: no lado disfórico, da repulsão, teríamos 
sentimentos como desgosto, aversão e desprezo, orientados a al-
guém que possui uma imagem negativa e/ou que já cometeu algum 
mal; enquanto no lado eufórico, da atração, teríamos a admiração, o 
maravilhamento e o encanto, voltados para o benfeitor. Os heróis e 
ídolos seriam exemplos de figuras inspiradoras dessas paixões.
Optamos por relacionar todas as paixões detectadas em nossa 
análise com algum desses tópicos, uma vez que o esforço de defi-
nir cada emoção uma a uma (tristeza, felicidade, raiva, ódio, cólera, 
inveja, medo, entre outros), poderia dificultar nosso trabalho. Sabe-
mos que descrições exaustivas das paixões costumam render contro-
vérsias e, com a simplificação proposta por Charaudeau, dispomos 
de uma ferramenta facilmente aplicável. Deixamos claro que, para 
aplicar os tópicos patêmicos listado acima à análise das manchetes 
retiradas de nosso corpus de pesquisa, consideramos a vitória como 
objeto de desejo mais evidente no mundo esportivo e a inclinação 
afetiva do torcedor em relação às equipes esportivas e aos atletas 
como elemento essencial para compreender os efeitos de patemi-
zação.
Os exemplos de enunciados que serão aqui analisados foram 
escolhidos dentre as 243 manchetes esportivas coletadas durante 
2008 em jornais impressos distribuídos para o público de Minas Ge-
rais: o diário de referência Estado de Minas, o jornal popular Super 
Notícia e o diário esportivo Lance! em sua versão mineira. Como 
já havíamos dito, acreditamos que a mídia esportiva é um terreno 
fértil para o estudo das paixões no discurso. E embora ainda sejam 
poucos os trabalhos que façam uma análise mais sistemática, já é 
possível encontrar algumas hipóteses na obra de repórteres da área 
que tratam do assunto a partir de sua experiência profissional. É o 
caso do jornalista Paulo Vinícius Coelho, que no livro Jornalismo 
Esportivo, constrói, com base em sua vivência de redação e na his-
tória dessa modalidade, a associação entre a cobertura esportiva e as 
paixões dos interessados no assunto – sejam leitores ou jornalistas. 
Estes últimos muitas vezes optariam por trabalhar na área graças a 
sua afinidade com o esporte.
Coelho relaciona a cobertura esportiva a relatos emocionados, 
citando desde casos de profissionais que abandonaram a profissão 
por não conseguirem “controlar” seu “lado torcedor” até as crônicas 
futebolísticas de Nelson Rodrigues, que tendiam mais para o roman-
ce do que para o jornalismo. Tendo em mãos o material de entrevis-
tas com profissionais da área e uma ampla pesquisa sobre a imprensa 
de outras épocas, o também jornalista Maurício Stycer apresenta um 
panorama histórico da modalidade, em a História do Lance. Nesse 
trabalho, chama nossa atenção a recuperação que ele faz da carrei-
ra do jornalista Mário Filho, que nos anos 1930, empreendeu uma 
reforma editorial no caderno esportivo do diário O Globo, abrin-
do “espaço para as opiniões, emoções e expectativas de atletas e 
torcedores, os detalhes cômicos ou trágicos dos treinos e jogos, os 
bastidores dos clubes e a vida privada dos atletas). O estilo de Mário 
Filho, embora muito criticado à época, acabaria por influenciar as 
futuras gerações de repórteres que viriam a trabalhar o tema.
Já de volta ao século XXI, já com base em sua experiência de 
redação e no projeto editorial do Lance. Stycer demonstra que a ten-
dência emotiva do jornalismo esportivo perdura até os dias atuais: 
Vou também mostrar como se construiu a ideia de um leitor imagi-
nário jovem, de classe média, apaixonado por futebol, e quais recur-
sos foram mobilizados na tentativa de conquistá-lo. Com ajuda de 
dados numéricos, vou tentar descrever quem, de fato, era o leitor do 
Lance! Por fim, vou analisar como este projeto editorial, calcado na 
emoção e num universo muito próximo ao da ficção, causou cons-
trangimentos à equipe de jornalistas mais experientes convidada a 
integrar o projeto e dificultou o papel do próprio jornal na defesa de 
interesses políticos que estavam na base de sua criação.
Numa outra vertente, denatureza linguística, analisa operações 
que conferem o tom apaixonado à cobertura esportiva; dentre elas, o 
uso de metáforas e a atribuição de apelidos para os jogadores (Pelé, 
Dadá...) ou para a própria bola (chamada carinhosamente de namo-
rada, redonda, etc). A imprensa procura traduzir de forma emocio-
nante não só o gol, mas todos os outros momentos de uma partida. 
Muitas vezes, inclusive, a carga emotiva do contexto em que se en-
contra um fato relatado é superior à da situação em que ocorreu. A 
utilização de uma linguagem predominante afetiva é, incontestavel-
mente, um fator de apelo: exploração do consciente ou inconsciente 
de associações que despertam estados de alma no receptor, permitin-
do, assim, que a mensagem o atinja com mais eficácia.
Apoiados nessas percepções do jornalismo de esportes como 
um discurso que explora as emoções tratamos de compreender me-
lhor como se dá esse processo. Munidos de ferramentas da AD, rea-
Didatismo e Conhecimento 9
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lizamos um esforço de análise com intenções de avançar nesse deba-
te e, se possível, de fornir os estudos sobre a cobertura esportiva de 
informações obtidas a partir de dados encontrados na materialidade 
do discurso objetivado em texto.
 Para isso, foi preciso considerar as duas pontas ligadas pela 
troca comunicativa. Numa delas, estão posicionados jornais com-
prometidos principalmente em: 
1) informar e comentar resultados esportivos; 
2) anunciar e fazer previsões sobre confrontos futuros; 
3) acompanhar os bastidores dos clubes para cobrir questões 
comerciais e político-administrativas. 
Na outra ponta, está o destinatário-torcedor que 
1) pode ser mais ou menos aficionado a uma equipe e que 
2) pode chegar até o jornal com mais ou menos informações 
prévias sobre o assunto, considerando que outras mídias como o rá-
dio, a internet e a televisão costumam ter uma cobertura mais ágil.
Mais adiante, voltaremos a tratar da construção das imagens de 
enunciador e destinatário em cada uma das três mídias. Por enquan-
to, apenas ressaltamos que os dados sobre a construção frástica das 
manchetes de nossa pesquisa revelaram que, pelo menos, o Estado 
de Minas e o Lance! - com grande ocorrência de títulos nominais - 
pressupõem um amplo conhecimento prévio do leitor em relação 
aos fatos do mundo esportivo, propondo-se mais a comentá-los do 
que simplesmente anunciá-los ou relatá-los. Tendo isso em vista, 
apresentaremos nos próximos itens alguns aspectos que merecem 
destaque a respeito da patemização engendrada pelos títulos do jor-
nalismo esportivo.
A economia de esforços proporcionada pela escolha de uma 
metodologia de análise relativamente consolidada como a de Cha-
raudeau , somada à falta de trabalhos de AD sobre a mídia esporti-
va, permitiu-nos fôlego suficiente para trazer, à nossa interpretação, 
contribuições dos campos da sociologia e antropologia do esporte. 
Esse diálogo interdisciplinar, por um lado, converge com uma das 
premissas da AD - que busca compreender a produção do sentido 
por meio do discurso inserido nas interações sociais – e, por outro, 
evita que façamos uma análise ingênua, quando poderíamos muito 
bem tirar proveito dos avanços que importantes autores de outras 
áreas têm alcançado ao tratar do esporte.
Dentre as contribuições das ciências sociais que podem nos 
interessar, destacamos a percepção de um forte sentimento de iden-
tidade entre grupo clubes esportivos e seus seguidores (os torcedo-
res). Como observa o antropólogo Roberto Da Matta, se por um lado 
o esporte exalta valores modernos como o rendimento e a superação, 
por outro, a adesão a um clube e a participação em uma torcida per-
mitem que o indivíduo retome os “elos que recriam num nível mo-
derno da escolha individual a ideia de uma coletividade imperativa 
e coercitiva”.
Da mesma maneira o historiador Hilário Franco Júnior aborda 
o tema e busca analogias entre o mundo do futebol e a noção de clã. 
O surgimento dos clubes esportivos e de suas legiões de seguidores 
permitiria que fosse vivenciada pelos torcedores “uma consciência 
de pertencer a determinada comunidade camponesa, ou família tra-
dicional e poderosa, ou confraria esmagada pelo conceito de cida-
dania que homogeneíza todos os indivíduos”. As cores de um time, 
portanto, simbolizariam esse sentimento de pertencimento que pa-
recia perdido e o mascote serviria como o animal-totem desse “clã 
esportivo”.
Arriscamo-nos a afirmar, contudo, que no mundo esportivo, 
onde a lealdade é um valor essencial, a mídia é o único ator a quem 
é permitido demonstrar igual simpatia por equipes rivais, perten-
cendo simultaneamente a mais de uma “nação”. O mesmo diário 
que hoje vibra com as glórias do Cruzeiro Esporte Clube, amanhã 
comemora uma vitória do Clube Atlético Mineiro; o mesmo locutor 
de rádio que hoje berra pelo Grêmio, amanhã será capaz de chorar 
pelo Internacional. Informações sobre a configuração enunciativa 
dos títulos analisados demonstram claramente os múltiplos pontos 
de vista adotados pelos diários mineiros com relação ao esporte, es-
pecialmente o futebol.
Referência
http://www.profdomingos.com.br/revista_apeoesp_educacao_
fisica.pdf
2. BORGES, CECILIA. A FORMAÇÃO 
DE DOCENTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
E SEUS SABERES PROFISSIONAIS. IN: 
BORGES, CECILIA; DESBIENS, JEAN 
FRANÇOIS (ORG.). SABER, FORMAR E 
INTERVIR PARA UMA EDUCAÇÃO FÍSICA 
EM MUDANÇA. CAMPINAS: AUTORES 
ASSOCIADOS, 2005. P. 157-190.
O tema dos saberes docentes encontra-se no centro das reformas 
atuais da formação de professores da Educação Básica. Fala-se em 
conhecimentos, competências ou saber-fazer, saberes que os profes-
sores devem adquirir e que se encontram na base de sua profissão. 
Além disso, com base na figura do prático reflexivo, diz-se que os 
professores produzem um saber e que eles próprios devem assumir 
a responsabilidade sobre os seus processos formativos, particular-
mente quanto ao desenvolvimento de capacidades que lhes permi-
tam refletir e deliberar, tanto sobre a sua prática quanto sobre as 
finalidades a ela relacionadas, e isso com base em princípios éticos 
e epistemológicos, a fim de agir de forma consciente e consistente.
Saber, formar e intervir: para uma educação física em mudan-
ça é composto por oito artigos formando três partes. 
A primeira parte trata dos programas de formação e as reformas 
atuais, sendo composta por quatro capítulos: 
1. Reflexões sobre o novo programa de educação física da Uni-
versidade de Montreal; 
2. Programas de formação para o ensino de educação física e 
esportiva na França: o exemplo do IUMFM de Reims; 
3. Programas de Ensino de Educação física e profissão docente: 
retrato da situação no França e 
4. Mutações dos contextos socioeducativo e socioprofissional 
e desenvolvimento dos saberes profissionais no ensino da educação 
física. 
A segunda aborda a questão dos saberes dos docentes referentes 
à realização do seu trabalho em fase interativa, isto é, em situações 
concretas de intervenção no ginásio de esportes e em piscina. Mais 
Didatismo e Conhecimento 10
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
especificamente, trata-se de resultados de pesquisas empíricas a res-
peito do trabalho dos docentes em um contexto real de intervenção, 
assim como sobre os saberes mobilizados em ação ou implantados 
para controle e regulagem da ação, consiste nos capítulos: 
5. Saberes e ação situados: uma análise das práticas de ensino 
de educação física e 
6. Como compreender os saberes que fundamentam o controle 
e a regulagem da supervisão ativa do ensino da educação física? 
Enfim, a terceira parte trata das relações complexas e problemáticas 
entre a formação profissional para educação física e os saberes pro-
fissionais dos professores.
No sétimo capítulo, “A formação dos docentes e educação físi-
ca e seus saberes profissionais”, que será abordado com mais deta-
lhes em seguida (pois é o capítulo da obra que será exigido no con-
curso), Cecília Borgesinteressa-se pela problemática dos saberes 
dos docente de educação física em relação aos modelos de formação 
profissional e o trabalho em contexto escolar público ou privado. 
Em um primeiro momento, a autora situa o contexto profissional da 
educação física no Brasil para, em seguida, tratar as questões maio-
res que estão no núcleo da formação atual dos docentes dessa área. 
Em um segundo instante, ela propõe uma reflexão sobre a problemá-
tica dos saberes dos docentes, colocando em evidência o contexto 
teórico que está na base das questões de pesquisa profissional dos 
professores de educação física. 
Enfim, Cecília Borges apresenta os resultados de trabalhos re-
centes, na forma de extratos de análises de dois estudos realizados 
com quatro professores de educação física brasileiros (da quinta à 
oitava série) e propõe pistas de reflexão. Embasada numa proposta 
abrangente, inspirada na sociologia do trabalho, ela enfatiza aspec-
tos ligados à trajetória dos docentes aos processos de socialização 
profissional. Em seguida, discute a proveniência e os modos de 
aquisição dos saberes que eles mobilizam no exercício da profissão 
de docente. Na conclusão, ela coloca em perspectiva os diferentes 
aspectos tratados no contexto atual dos debates sobre os saberes e 
sobre a formação de docentes de educação física. E, por fim, encer-
rando a obra temos o oitavo capítulo, “Da articulação entre a forma-
ção dos docentes de educação física e a formação dos profissionais 
de educação infantil para a ação-reflexão da prática”.
Resumindo, Cecília Borges e Jean-François Desbiens fazem 
emergir três temáticas importantes que se referem ao conjunto das 
contribuições deste livro, ou seja, a emergência de um novo modelo 
de formação em educação física, o estabelecimento de uma nova 
relação com os saberes entre os docentes dessa área e a identificação 
de características próprias da educação física como campo de co-
nhecimento, de educação e de formação profissional.
AUTORA
Cecília Maria Ferreira Borges - é licenciada em Educação 
Física pela Universidade Federal de Pelotas onde atuou durante 
dez anos como docente. É mestre em Educação pela Universida-
de Federal de Minas Gerais e doutora em Educação Brasileira pela 
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Atualmente é 
profissional de pesquisa no “Centre de Recherche Interuniversitaire 
sur la Formation et la Profession Enseignante” na Universidade de 
Montréal (CRIFPE - Montréal), Quebec, Canadá.
SINÓPSE
Nos capítulos do livro, o conceito de educação física envolve 
as ideias de domínio ou de campo de atividades profissionais e de 
disciplina escolar. Como campo de atividades profissionais, a edu-
cação física é subdividida em vários campos, referindo-se, portan-
to, ao uso das práticas corporais e dos conhecimentos necessários à 
compreensão das mesmas, visando ao desenvolvimento da pessoa, 
da sua saúde e da sua qualidade de vida em todos os meios e durante 
toda sua vida. A educação física reagrupa, hoje, os profissionais e 
interventores de treinamento esportivo, de cinesiologia, ao ar livre, 
de educação física adaptada, mas a maioria deles faz parte do corpo 
docente e prestam serviços a todas as clientelas escolares: da pré-
-escola até o colegial. O ensino da educação física é concebido neste 
livro como o trabalho por meio do qual um docente intervém junto 
aos alunos, levando em conta os objetivos escolares especificados 
anualmente ou por ciclos nos programas próprios dessa disciplina, 
para engajá-los e guia-los em um processo de transformação da sua 
pessoa e da sua atividade individual, consideradas nos planos mor-
fológico, energético, perceptivo, afetivo cognitivo e social.
Esta obra é resultante de um feliz encontro entre formadores e 
também pesquisadores engajados no desenvolvimento de uma edu-
cação física de qualidade e acessível a todos. A partir de seus países 
de origem, França, Canadá e Brasil, e levando em conta a especifici-
dade da educação física como um campo de conhecimento e de prá-
ticas, os autores debruçam-se sobre um tema comum, o dos saberes 
docentes, saberes prescritos (da formação inicial e dos programas 
de ensino) e saberes da ação (saberes práticos, da experiência, de 
intervenção etc.). No momento atual, de grandes mudanças no ce-
nário educativo, refletir sobre a problemática dos saberes docentes, 
confrontando diferentes experiências, teorias e formas abordar esse 
objeto, constitui uma contribuição não só para o desenvolvimento 
do campo de estudos dos saberes docentes no âmbito da educação 
física, mas, também, para a reflexão e implementação de políticas e 
de programas de formação e de ensino nesta área.
COMENTÁRIO
A pesquisa realizada por Cecília Borges, e posteriormente 
transformada em livro, responde diretamente à exortação de Donald 
Schön sobre a importância de se investigar o saber desenvolvido 
por profissionais em sua prática, revelando-os ao público, tornando-
-os acessíveis, disponíveis e mesmo desmistificados aos olhos dos 
próprios profissionais. Pelo ângulo do público, esse saber ganharia 
assim o respeito e a consideração que sempre mereceu, como decor-
rente do trabalho de um grupo profissional, na melhor acepção desse 
termo. Aos olhos dos próprios profissionais, a desocultação desse 
saber, pela pesquisa, desencadearia uma corrente mobilizadora de 
todo o grupo, em direção à posse do status que merece pelo serviço 
que presta à sociedade. No caso dos professores, esse saber esteve 
em geral oculto, embora sempre presente, informando e orientando 
as atividades desse grupo de trabalhadores, no cumprimento de suas 
indispensáveis funções na construção da sociedade. 
Em nosso país, fomos despertados para a importância e urgên-
cia do estudo sobre o saber docente há pouco mais de dez anos, pelo 
artigo de Tardif, Lessard e Lahaye, de 1991. A partir de então esse 
tema passou a ser assunto de debates frequentes na comunidade edu-
cacional, como um novo campo de estudos. Cecília foi atraída para 
ele já em seu trabalho de mestrado, quando investigou a construção 
Didatismo e Conhecimento 11
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
do saber próprio de professores de Educação Física. Em seu dou-
torado, ela partiu da bagagem acumulada com o estudo anterior e 
avançou para outro bem mais amplo. Com muito cuidado e proprie-
dade ela se propôs, então, investigar a composição desse saber, na 
visão de professores responsáveis pelo conjunto de disciplinas que 
integram o ensino fundamental, da 5ª à 8ª série, exatamente na fase 
em que ele se diversifica, para introduzir os alunos na variedade de 
saberes sobre os quais se construirá sua participação na sociedade, 
ou sua cidadania, se quisermos acenar para uma imagem de conota-
ção política mais explícita. 
Para responder devidamente a esse desafio, Cecília tratou de 
localizar fontes seguras e confiáveis, que pudessem dar testemunho 
vivo do processo de composição desses saberes. Encontrou-as em 
um grupo seleto de professores, que se tornaram verdadeiros par-
ceiros de seu estudo, na medida em que com ela pensaram, discuti-
ram, analisaram e, sobretudo, refletiram sobre o tema, tão próximo 
à sua realidade cotidiana, mas tão surpreendente para quase todos, 
que confessaram nunca ter atentado para ele. Eis aí um dos valo-
res supostos por Schön, ao recomendar a investigação sobre o saber 
de profissionais: o de revelá-lo aos seus próprios detentores. Outro 
aspecto qualifica esses professores quase como coautores da pes-
quisa, já que foram eles os responsáveis pela formação do grupo de 
informantes, ao irem sucessivamente indicando à pesquisadora os 
colegas que por certo dariam a contribuição necessária ao seu desen-
volvimento. Neste ponto é oportuno ressaltar o acerto de orientar a 
escolha do grupo de informantes a partir dessa estratégia. 
Ela assegurou a participação de professores que provavelmente 
teriam grande contribuição a oferecer, seja pela própria formação e 
experiência docente, seja pelo interessee disponibilidade de colabo-
rar no estudo. Com a garantia de terem sido indicados por conhece-
dores do campo e de seus profissionais, como também dos objetivos 
do estudo. Foi muito feliz essa decisão de Cecília, podendo servir 
de exemplo para outras pesquisas com abordagens qualitativas, que 
se debatem com problemas de amostragem. Ao pesquisar sobre o 
saber docente, com grande segurança nesse domínio, Cecília aten-
deu muito bem às exigências acadêmicas, mas, igualmente, ofereceu 
uma contribuição relevante à valorização do grupo de profissionais 
focalizados pelo estudo: os professores. 
Tanto os que estão exercendo o magistério, ao verem revelado 
esse importante aspecto da sua profissão, o seu saber, quanto os fu-
turos professores, que podem se beneficiar durante a sua formação 
dos esclarecimentos trazidos pelo estudo sobre os diferentes com-
ponentes desse saber. A pesquisa deixa bem clara a importância de 
oferecer ao professor em formação oportunidades de contato com 
todos os seus vários componentes, frequentemente deixados de lado 
em favor dos aspectos mais ligados aos conteúdos acadêmicos. A 
revisão exaustiva da literatura pertinente, as finas análises teóricas, 
a atenção aos aspectos metodológicos e, sobretudo, a opção por um 
tema central ao processo de valorização profissional dos profes-
sores, caracterizam a pesquisa de Cecília como exemplar. Estudos 
como esse justificam, valorizam e estimulam o empenho na forma-
ção de novos doutores.
RESUMO
A formação inicial de professores de educação física no Brasil 
deve ser analisada em relação aos saberes que constituem a base do 
seu trabalho. Embora as pesquisas nessa área existam há mais de 
10 anos, em meio a inúmeras polêmicas e tensões teóricas e meto-
dológicas, essa preocupação é recente no Brasil, onde predomina 
o modelo “aplicacionista”, disciplinar e técnico nos programas de 
formação dos educadores físicos. 
Essas tensões e polêmicas decorrem das concepções variadas 
sobre a educação física: 1) disciplina científica, com abordagem 
biomédica; 2) campo de conhecimento, influenciada pelos avanços 
das ciências biológicas, humanas e pedagógicas. De acordo com a 
ênfase em uma ou outra concepção, tais concepções influenciam o 
desenho e os resultados e as críticas dos próprios envolvidos nos 
programas de formação inicial dos educadores físicos.
A FORMAÇÃO INICIAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO 
BRASIL: ALGUNS PONTOS DE REFERÊNCIA SOBRE 
SUA EVOLUÇÃO RECENTE
Existe uma diversidade, complexidade e mobilidade quanto ao 
status profissional dos educadores físicos no Brasil: há profissionais 
em diversas instituições públicas e privadas (escolas, academias, 
clubes, etc), assumindo diferentes papéis profissionais (docente, 
treinador, terapeutas, técnicos etc.), submetidos a uma variação 
nas condições de trabalho e mobilidade ocupacional. Além disso, 
as concepções teóricas que inspiram seu trabalho e suas trajetórias 
profissionais são bastante diversificadas. Com as reformas escolares 
e dos currículos universitários recentes, foram abertos espaços para 
questionamentos de sua inserção profissional.
Há uma diferença importante na formação do profissional da 
educação física na universidade, em relação às opções de bacha-
relado, que forma os profissionais não escolares, ou licenciatura, 
que forma os professores. Estatísticas mostram que a maioria dos 
estudantes opta pelas duas habilitações que, em conformidade com 
as Diretrizes Curriculares Nacionais, deveriam buscar um equilíbrio 
entre a formação geral, com forte base teórica e profissional, voltada 
para a prática. Observa-se, entretanto, que essa formação inicial não 
corresponde à realidade do mercado de trabalho do profissional de 
educação física no Brasil. Essa realidade faz com que os profissio-
nais se decidam a ingressar no campo da educação física pelo local 
de trabalho que desejam (escola, centro esportivo, academia, clínica, 
etc.) e não para atender a uma demanda social. 
No que se refere à formação prática, ela é concebida como a úl-
tima etapa da formação profissional, na qual o estudante (ou estagi-
ário) deve usar e aplicar na prática pedagógica todas as técnicas e os 
conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação inicial: os pro-
blemas provenientes da prática profissional são, então, apreendidos 
como problemas técnicos, que podem ser solucionados pela técnica 
da resolução de problemas (problems solving). Entretanto, como de-
monstrado por alguns autores de análise do trabalho, é sabido que 
pode-se reduzir os problemas concretos da prática às questões técni-
cas, nem à resolução dos problemas já resolvidos (problems setting). 
Ao contrário, diante de um problema real, é necessário considerar o 
quadro em que surge esse problema e, em muitos casos, é necessário 
até mesmo construir esses quadro, para que os problemas significa-
tivos possam ser visualizados (problems framing). Portanto, antes 
de aplicar uma solução qualquer oriunda da teoria, o docente deve 
conhecer, em profundidade, o contexto, assim como o quadro inter-
pretativo do problema.
A autora se baseia nas pesquisas de Tardif e Lessard, que consi-
deram que o trabalho, no caso do educador físico constitui-se como 
atividade fundada nas interações entre seres humanos, não se limi-
tando a seu perfil profissional específico ou à natureza do trabalho 
Didatismo e Conhecimento 12
BIBLIOGRAFIA - LIVROS E ARTIGOS (Educação Física)
(técnico, médico, estético, educativo, etc.). Ao mesmo tempo, tais 
práticas profissionais são formativas e instrutivas, mediadas pelas 
interações sociais. Entretanto, há uma identificação social do profis-
sional da educação física com a função docente.
O modelo epistemológico que fundamenta atualmente a for-
mação universitária em educação física é o da racionalidade técni-
ca ou aplicacionista, postulando que o profissional primeiramente 
deve dominar as técnicas e teorias para depois aplicá-las no trabalho 
profissional, com ênfase na solução técnica de problemas, com os 
procedimentos instrumentais aprendidos. A principal consequência 
deste modelo é distanciar a formação inicial da realidade escolar 
e social, estabelecendo dicotomias entre teoria e prática, e entre a 
formação disciplinar teórica, formação pedagógica e prática, sendo 
esta, na forma de estágio, considerada a “última etapa”. Pesquisas, 
em especial na área de análise do trabalho, apontam que os proble-
mas da prática não podem ser reduzidos a questões técnicas nem a 
soluções pré-determinadas. A resolução de problemas deve ser feita 
a partir da construção de um quadro interpretativo de problemas sig-
nificativos vinculados ao contexto.
Porém identifica-se que as dicotomias e fragmentações aumen-
taram nos programas de formação inicial na área de educação física, 
principalmente as confusões sobre o papel da teoria na formação 
profissional. Essa situação gera críticas por parte dos profissionais 
de educação física (docentes e não docentes), principalmente após 
a inserção real no mundo do trabalho, o que gera em muitos a rejei-
ção à sua formação inicial, enquanto a maioria considera a forma-
ção universitária muito distante da prática e, de certa forma, inútil. 
Essa situação, entretanto, não é exclusiva da educação física, sendo 
constatada na formação para outras ocupações, tais como medicina, 
direito, serviço social, etc. 
As críticas à formação inicial se articulam com outra concepção 
de formação, que considera a prática pedagógica um local de pro-
dução de saberes docentes para a prática profissional, inspirando o 
modelo reformista e significando uma ruptura epistemológica com 
o modelo aplicacionista. Desse modo, os docentes detêm saberes 
específicos, distintos da formação inicial universitária a serem apli-
cados em diversas situações de sua prática profissional.
Até o final dos anos 1980 as pesquisas educacionais tinham 
um caráter normativo, versando sobre o comportamento docente. 
Com o movimento norte-americano de profissionalização do ensino, 
nesse período,

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