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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD Fundamentos da Educação Física Escolar – Prof.a Ms. Andreia Cristina Metzner Olá! Meu nome é Andreia Cristina Metzner. Sou graduada em Educação Física e Mestre em Educação na área de Metodologia de Ensino pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente, sou professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino da cidade de São Carlos e leciono nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física em uma Instituição privada de Ensino Superior. Coloco-me à disposição para contribuir com to- dos vocês alunos do EAD para uma aprendizagem significativa. e-mail: acmetzner@hotmail.com Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Caderno de Referência de Conteúdo Andreia Cristina Metzner Batatais Claretiano 2013 Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação © Ação Educacional Clare ana, 2010 – Batatais (SP) Versão: dez./2013 796 M556f Metzner, Andreia Cristina Fundamentos da educação física escolar / Andreia Cristina Metzner – Batatais, SP : Claretiano, 2013. 156 p. ISBN: 978-85-67425-32-0 1. Estudos das teorias metodológicas em Educação Física Escolar. 2. Análise dos aspectos voltados para o ensino da Educação Física no ambiente escolar, tomando como base as propostas curriculares oficiais e formas adequadas de trabalho didático. 3. Fundamentação teórica, princípios dos métodos e técnicas de ensino. 4. Elaboração de teorias pedagógicas. I. Fundamentos da educação física escolar. CDD 796 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didá co Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cá a Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Mar ns Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Luis Henrique de Souza Patrícia Alves Veronez Montera Rita Cristina Bartolomeu Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 11 UNIDADE 1 TEORIAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 29 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 29 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 29 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 33 5 AS PRINCIPAIS TEORIAS PEDAGÓGICAS ......................................................... 34 6 TEXTOS COMPLEMENTARES ............................................................................ 87 7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 88 8 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 89 9 E REFERÊNCIAS ................................................................................................ 89 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 90 UNIDADE 2 PROPOSTAS CURRICULARES OFICIAIS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 91 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 91 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 91 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 92 5 REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL RCN ................................................................................................. 94 6 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL PCNS ................................................................................... 100 7 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO MÉDIO PCNEM .............................................................................................. 107 8 TEXTOS COMPLEMENTARES ............................................................................ 110 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 119 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 119 11 E REFERÊNCIA .................................................................................................. 120 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 120 UNIDADE 3 PRINCÍPIOS DOS MÉTODOS E TÉCNICAS DE ENSINO 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 123 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 123 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 123 Claretiano - Centro Universitário 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 124 5 COMPONENTES DO PROCESSO DIDÁTICO: OBJETIVOS, CONTEÚDOS, PROCEDIMENTOS E AVALIAÇÃO ..................................................................... 125 6 OBJETIVOS ........................................................................................................ 127 7 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 129 8 PROCEDIMENTOS DE ENSINO ......................................................................... 131 9 AVALIAÇÃO ....................................................................................................... 147 10 TEXTOS COMPLEMENTARES ............................................................................ 152 11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 153 12 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 15413 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 155 CRC Caderno de Referência de Conteúdo Ementa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Estudos das teorias metodológicas em Educação Física Escolar. Análise dos as- pectos voltados para o ensino da Educação Física no ambiente escolar, tomando como base as propostas curriculares ofi ciais e formas adequadas de trabalho didático. Fundamentação teórica, princípios dos métodos e técnicas de ensino. Elaboração de teorias pedagógicas. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. INTRODUÇÃO Quais são as principais teorias metodológicas em Educação Física escolar? Qual a importância dessas teorias para a nossa área? De que forma as propostas curriculares oficiais contribuíram para a melhoria da prática pedagógica dos professores? A disciplina de Educação Física permite a utilização de metodologias variadas? Es- tes serão os desafios que teremos pela frente no desenvolvimento deste Caderno de Referência de Conteúdo. A Educação Física tem um campo vasto de reflexão, portan- to, discutir as principais teorias metodológicas e propostas curri- © Fundamentos da Educação Física Escolar8 culares que fundamentam o trabalho do professor de Educação Física no âmbito escolar é apenas o pontapé inicial para outras discussões referentes a esse componente curricular. Neste Caderno de referência de conteúdo (CRC), o objetivo será justamente esse: possibilitar uma reflexão criteriosa acerca dos fundamentos da Educação Física escolar, no sentido de conhe- cer, compreender e refletir sobre as diferentes abordagens e pro- postas que são, na atualidade, as bases teóricas da Educação Física escolar. Nas unidades que se seguirão você terá a possibilidade de compreender esse universo conceitual, além dos seus desafios para promover um viés sistematizado da prática educativa. Por se tratar de um campo amplo de análise, destacamos as principais teorias metodológicas, as propostas curriculares oficiais que fundamentam a Educação Física na Educação Básica e alguns métodos e técnicas de ensino, que comporão o objeto deste Ca- derno de referência de conteúdo. Na Unidade 1 trataremos da discussão sobre as principais abordagens pedagógicas em Educação Física; já na Unidade 2, abordaremos o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCN) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para os Ensinos Fundamental e Médio; e, finalmente, na Unidade 3, a discussão girará em torno dos métodos e técnicas de ensino. Para uma melhor reflexão sobre os temas tratados neste Ca- derno de referência de conteúdo, sugerimos a leitura do texto a se- guir, no qual o autor apresenta os principais momentos históricos que contribuíram para o surgimento de novas propostas pedagó- gicas para o ensino de Educação Física. Da origem médica e militar à esportivização –––––––––––––– A constituição da educação física, ou seja, a instalação dessa prática pedagó- gica na instituição escolar emergente dos séculos XVIII e XIX, foi fortemente infl uenciada pela instituição militar e pela medicina. A instituição militar tinha a prática — exercícios sistematizados que foram ressignifi cados (no plano civil) pelo conhecimento médico. Isso vai ser feito numa perspectiva terapêutica, mas principalmente pedagógica. Educar o corpo para a produção signifi ca promover 9 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo saúde e educação para a saúde (hábitos saudáveis, higiênicos). Essa saúde ou virilidade (força) também pode ser (e foi) ressignifi cada numa perspectiva nacio- nalista/patriótica. Há exemplos marcantes na história desse tipo de instrumenta- lização de formas culturais do movimentar-se, como, por exemplo, a ginástica: Jahn e Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália e Getúlio Vargas e seu Estado Novo no Brasil. Esses movimentos são signatários do entendimento de que a educação da vontade e do caráter pode ser conseguida de forma mais efi ciente com base em uma ação sobre o corpóreo do que com base no intelecto; lá, onde o controle do comportamento pela consciência falha, é preciso intervir no e pelo corpóreo (o exemplo mais recente é o movimento carismático da Igreja Católica no Brasil - a aeróbica do Senhor). Normas e valores são literalmente "incorpora- dos" pela sua vivência corporal concreta. A obediência aos superiores precisa ser vivenciada corporalmente para ser conseguida; é algo mais do plano do sensível do que do intelectual. O corpo é alvo de estudos nos séculos XVIII e XIX, fundamentalmente das ci- ências biológicas. O corpo aqui é igualado a uma estrutura mecânica - a visão mecanicista do mundo é aplicada ao corpo e a seu funcionamento. O corpo não pensa, é pensado, o que é igual a analisado (literalmente, "lise") pela racionalida- de científi ca. Ciência é controle da natureza e, portanto, da nossa natureza cor- poral. A ciência fornece os elementos que permitirão um controle efi ciente sobre o corpo e um aumento de sua efi ciência mecânica.2 Melhorar o funcionamento dessa máquina depende do conhecimento que se tem de seu funcionamento e das técnicas corporais que construo com base nesse conhecimento. Assim, o nascimento da EF se deu, por um lado, para cumprir a função de co- laborar na construção de corpos saudáveis e dóceis, ou melhor, com uma edu- cação estética (da sensibilidade) que permitisse uma adequada adaptação ao processo produtivo ou a uma perspectiva política nacionalista, e, por outro, foi também legitimado pelo conhecimento médico-científi co do corpo que referenda- va as possibilidades, a necessidade e as vantagens de tal intervenção sobre o corpo. Como lembra Le Breton (1995), a medicina representa, em nossas socie- dades, um saber em alguma medida ofi cial sobre o corpo. Mas novamente esse entendimento vai se alterar e mais uma vez em consonân- cia com alterações de ordem mais geral, ou seja, da forma como se produz e re- produz a vida, portanto, de mudanças históricas. Foucault (1985) identifi ca uma mudança importante da ação do poder ou do envolvimento do corpo pelos/nos micropoderes. Paulatinamente no século XX saímos de um controle do corpo via racionalização, repressão, com enfoque biológico, para um controle via estimula- ção, enaltecimento do prazer corporal, com enfoque psicológico. Muitos estudos citam a década de 1960 (Courtine 1996; Le Breton 1995) como o momento mais importante dessa infl exão. Voltaremos a isso mais adiante. Outro fenômeno muito importante para a política do corpo foi gestado e adqui- riu grande signifi cação social nesse período histórico (séculos XIX e XX). Essa prática corporal, a esportiva, está desde cedo muito fortemente orientada pelos princípios da concorrência e do rendimento (Rigauer, 1969). Este último aspecto ou esta última característica é comum a outra técnica corporal incentivada pelos fi lantropos e pela medicina na Europa continental que é a ginástica. Aumento do rendimento atlético-esportivo, com o registro de recordes, é alcançado com uma intervenção científi co-racional sobre o corpo que envolve tanto aspectos ime- diatamente biológicos, como aumento da resistência, da força etc., quanto com- portamentais, como hábitos regrados de vida, respeito às regras e normas das competições etc. Treinamento esportivo e ginástica promovem a aptidão física e © Fundamentos da Educação Física Escolar10 suas conseqüências: a saúde e a capacidade de trabalho/rendimento individual e social, objetivos da política do corpo. A ginástica é parte importante do movimen- to médico-social do higienismo, como mostrou Soares (1997). Interessante observar que Foucault (1985, p. 151), quando perguntado sobre quem coordena a ação dos agentes da política do corpo, afi rma que é "um con- junto extremamente complexo (...). Tomemos o exemplo da fi lantropia no início do século XIX: pessoas que vêm se ocupar da vida dos outros, de sua saúde, da alimentação, da moradia...Mais tarde, dessa função confusa saíram perso- nagens, instituições, saberes... uma higiene pública, inspetores, assistentes so- ciais, psicólogos. E hoje assistimos a uma proliferação de categorias de trabalha- dores sociais". Entre estes, seguramente podemos situar os professores de EF. Interessante observar que a adesão ao esporte na Inglaterra puritana, segundo Grieswelle (1978), deveu-se também ao fato de este ter incorporado o princípio do rendimento que o aproximou da ética do trabalho, propiciando inclusive a construção do conceito de "Cristandade Muscular". Courtine (1995) mostra de forma brilhante como o puritanismo absorve esse tipo de prática corporal nos Estados Unidos, conferindo-lhe um signifi cado coerente com a doutrina religiosa e com os valores culturais dominantes. "A emergência do esporte após a Guerra Civil ocorreu sobre o pano de fundo de um individualismo disciplinado, exigindo auto-sacrifício e devotamento a uma causa comum. A ética puritana do trabalho tinha se infi ltrado profundamente nas práticas esportivas, como se a utilidade social destas práticas devesse ser jul- gada apenas de acordo com seu critério. Entretanto, no fi nal do século XIX, esta lógica de organização racional e de ordem moral já estava em declínio. Durante as primeiras décadas deste século, ela foi sendo progressivamente substituída por uma concepção um tanto diferente das fi nalidades da cultura física. O espí- rito de competição, o desejo de vencer tinham, mais ainda que no passado, sido investidos pelo esporte, ao mesmo tempo em que invadiam o sentimento de que se podia legitimamente buscar no exercício muscular uma gratifi cação pessoal e um prazer do corpo. Um cuidado com o bem-estar individual aparece nas críticas da ética puritana formuladas desde então. Reprova-se essa ética por investir a totalidade da energia do indivíduo americano em fi ns puramente utilitaristas, por exprimir e mesmo reforçar um medo do prazer" (Courtine, 1995, p. 99). É claro que o esporte, assim como a ginástica, é um fenômeno polissêmico, ou seja, apresenta vários sentidos/signifi cados e ligações sociais. Por exemplo, o movimento olímpico permitiu conferir, pela categoria política da nação, um signifi - cado mais imediatamente político aos resultados esportivos, o qual é incorporado à política do corpo mais geral, com as repercussões que todos conhecemos na educação física. Chamo aqui a atenção para a combinação de dois fatores, e para o fato de que o esporte passa a substituir, com vantagens, a ginástica como técnica corporal que corporifi ca/condensa os princípios que precisam ser incor- porados (no duplo sentido) pelos indivíduos. A pedagogia da EF incorporou, sem necessidade de mudar seus princípios mais fundamentais, essa "nova" técnica corporal, o esporte, agregando agora, em vir- tude das intersecções sociais (principalmente políticas) desse fenômeno, novos sentidos/signifi cados, como, por exemplo, preparar as novas gerações para re- presentar o país no campo esportivo (internacional). Tal combinação de objetivos fi ca muito clara no conhecido Diagnóstico da Educação Física/Desportos, reali- zado pelo governo brasileiro e publicado em 1971 (COSTA, 1971). 11 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo Como os princípios eram os mesmos e o núcleo central era a intervenção no corpo (máquina) com vistas ao seu melhor funcionamento orgânico (para o de- sempenho atlético-esportivo ou desempenho produtivo), o conhecimento básico/ privilegiado que é incorporado pela EF para a realização de sua tarefa continua sendo o que provém das ciências naturais, mormente a biologia e suas mais diversas especialidades, auxiliadas pela medicina, como uma de suas aplica- ções práticas (Fonte: Trecho do artigo de: BRACHT, Valter. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos CEDES (online). 1999, vol.19, n.48, pp. 69-88. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101- 32621999000100005&script=sci_arttext>. Acesso em: 23 jun. 2010). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Neste estudo conheceremos as principais contribuições de cada abordagem pedagógica para a área de Educação Física, os avanços das propostas curriculares oficiais, no caso RCN e PCNs, e também as questões referentes aos objetivos, conteúdos, procedi- mentos e avaliação em Educação Física. Após este resumo histórico sobre a Educação Física, apre- sentamos a seguir, no Tópico Orientações para estudo, algumas orientações de caráter motivacional, dicas e estratégias de apren- dizagem que poderão facilitar o seu estudo. 2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO Abordagem Geral Este tópico apresenta uma visão geral do que será estudado. O aprofundamento dessas questões será tratado em cada uma das unidades deste material. No entanto, esta abordagem geral forne- ce o conhecimento básico necessário para que seu conhecimento seja construído em uma base sólida – científica e cultural – para que no futuro exercício de sua profissão você a exerça com ética e responsabilidade. Para essa nossa empreitada de reflexão e debate, apresen- taremos e discutiremos as principais Teorias Pedagógicas em Edu- cação Física Escolar. Também analisaremos as propostas curricula- res oficiais, especialmente o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o © Fundamentos da Educação Física Escolar12 Ensino Fundamental e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Discutiremos, ainda, a importância dos objetivos e dos demais componentes do processo didático na elaboração das aulas de Educação Física. Antes de adentrarmos ao conteúdo de nossa discussão, seria interessante, nesse momento, que fizéssemos um exercício de re- flexão. Para isso, serão lançadas algumas questões. A partir da década de 1980 surgiram diversas teorias peda- gógicas em Educação Física, dentre elas: Abordagem Desenvolvi- mentista, Abordagem Crítico-Superadora, Abordagem Antropoló- gica, Abordagem Crítico-Emancipatória, Abordagem Construtivista e Abordagem dos Jogos Cooperativos. • Você conhece alguma dessas teorias? Com qual delas você mais se identifica? Por quê? • Como a legislação brasileira trata a Educação Física esco- lar? Quais as principais contribuições que as propostas curriculares oficiais trouxeram para a área de Educação Física? • O professor de Educação Física, ao elaborar uma aula, deve se preocupar mais com os objetivos ou com os con- teúdos? Por quê? Enfim, são várias questões que podemos formular para que possamos refletir sobre os Fundamentos da Educação Física Escolar. Nos últimos anos, a Educação Física sofreu mudanças signi- ficativas. Podemos dizer que essas mudanças ocorreram devido à proposição de uma variedade de abordagens para o seu desenvol- vimento, como citadas anteriormente. As contribuições trazidas por cada uma dessas teorias fo- ram de grande importância para a compreensão de quais são as funções sociais e quais são as bases metodológicas do ensino de Educação Física. 13 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo Embora a prática pedagógica ainda resista a certas mudan- ças, ou seja, ainda hoje encontramos muitos professores de Educa- ção Física desenvolvendo atividades relacionadas à aptidão física e ao treinamento esportivo, essas teorias pedagógicas desenvolvi- das nas últimas décadas representam uma alternativa para a me- lhoria da qualidade do ensino de Educação Física nas escolas. Veja, a seguir, os pontos principais de cada uma dessas teorias. O pressuposto básico da Abordagem Desenvolvimentista pode ser representado pela seguinte afirmação: se existe uma se- quência normal nos processos de crescimento, de desenvolvimen- to e de aprendizagem, isto significa que as crianças necessitam ser orientadas considerando-se esses processos. Ou seja, para que as reais necessidades das crianças sejam alcançadas, é preciso levar em consideraçãoos processos de mudança do comportamento motor dessas crianças ao longo da sua vida. Os conteúdos principais dessa abordagem são as habilidades motoras básicas: andar, correr, saltar, equilibrar etc. A Abordagem Desenvolvimentista procura mostrar que para definir os objetivos, métodos e conteúdos de ensino, é importan- te considerar as necessidades que advém do próprio processo de mudanças no comportamento motor humano ao longo da vida. Isso significa que, para planejar uma aula, o professor deve con- siderar a sequência normal de desenvolvimento das crianças para que as atividades ministradas não estejam nem muito além e nem muito aquém das suas reais necessidades. Outro ponto fundamental dessa abordagem refere-se à di- versidade e à complexidade dos movimentos. Alguns autores acre- ditam que nas aulas de Educação Física deve haver a interação en- tre o aumento da diversidade e da complexidade dos movimentos visando proporcionar aos alunos condições para que seu compor- tamento motor seja desenvolvido. A Abordagem Crítico-Superadora foi idealizada, em 1992, por um grupo de autores: Soares, Taffarel, Varjal, Castellani Filho, © Fundamentos da Educação Física Escolar14 Escobar e Bracht. O objeto de estudo dessa abordagem é a Cultura Corporal de Movimento. Os conteúdos básicos envolvem os temas que, historicamente, compõem a cultura corporal dos brasileiros, como, por exemplo, o jogo, a ginástica, o esporte e a dança. A abordagem crítico-superadora trata de uma pedagogia emergente que busca realizar uma reflexão pedagógica sobre as diferentes formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história. Todas as atividades corporais (pular, arremessar, jogar, dançar, saltar, lutar, etc.) foram constru- ídas em determinadas épocas históricas com base nas necessida- des humanas, portanto, é fundamental que a prática pedagógica da Educação Física tenha como base a Cultura Corporal de Movi- mento. Nessa perspectiva, todos os temas envolvendo a cultura cor- poral devem ser tratados na escola de forma crítico-superadora, ou seja, além de trabalhar os elementos técnicos e táticos, deve-se evidenciar o sentido e o significado dos valores e das normas que regulamentam o nosso contexto sócio-histórico, na tentativa de buscar uma transformação que supere as desigualdades existen- tes em nossa sociedade. A obra Da Cultura do Corpo, de Daólio (1995), apresenta a Abordagem Antropológica da Educação Física. O referencial teóri- co desse trabalho é baseado na Antropologia Social. O autor propõe uma Educação Física plural, ou seja, que sai- ba respeitar as diferenças físicas e culturais dos alunos. De acordo com essa teoria, não podemos mais nos preocupar com o desen- volvimento e a eficiência do desempenho dos alunos, pois a socie- dade atual pede o reconhecimento das diferenças – não só físicas, mas também culturais – expressas pelos alunos, garantindo o di- reito de todos à sua prática. Essa abordagem acredita que se o homem é um ser social, vinculado às redes de sociabilidade, ele também o é na sua vida profissional. Isso significa que a Abordagem Antropológica olha para os professores de Educação Física como um grupo constituído 15 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo por seres sociais, buscando e fazendo de sua atuação profissional cotidiana o sentido para suas vidas. O professor de Educação Física está inserido em um contexto cultural, portanto, as suas representações sobre o mundo, o corpo e a escola precisam ser valorizadas. Além disso, o ponto de partida nas aulas de Educação Física deve ser o repertório cultural de cada aluno. Kunz (1994) foi o idealizador da Abordagem Crítico-Eman- cipatória. O objeto de estudo dessa teoria é o esporte e as suas transformações sociais. O autor fundamenta-se na ação comunica- tiva e problematizadora, visando uma interação humana respon- sável e produtiva, bem como a emancipação dos alunos. O ensino na concepção crítico-emancipatória deve basear-se em uma con- cepção crítica, ou seja, deve ser um ensino de libertação de falsas ilusões, de falsos interesses e desejos, criados e construídos nos alunos pela visão de mundo que apresentam com base no conhe- cimento. Kunz (1994) defende o ensino crítico visando à emanci- pação dos alunos. Hoje, podemos dizer que os jovens são mais livres e inde- pendentes. Porém, acreditamos que isso só acontece no plano físico, ou seja, os jovens vão morar fora de casa, entram no mer- cado de trabalho bem cedo etc. Mas, no plano intelectual, sofrem constantes influências externas dos modernos meios de produção e reprodução cultural, dos meios de comunicação, da própria edu- cação etc. Essa influência externa pode ser vista por meio dos cortes de cabelos iguais aos dos jogadores famosos, o consumo de produtos alimentícios recomendados por atletas, a compra de tênis de acor- do com as marcas que os atletas usam etc. É dessa emancipação que estamos falando. Os jovens preci- sam se libertar das condições que limitam o uso da razão crítica, do seu agir social, cultural e esportivo. © Fundamentos da Educação Física Escolar16 Ao comprar um tênis, o jovem precisa avaliar os motivos que os levaram a comprar esse tênis: estou comprando o tênis porque eu gostei realmente dele ou por que é o tênis que o Pelé usa? Esse tênis vale realmente o preço que está sendo cobrado? etc. Em uma concepção crítico-emancipatória, o ensino dos es- portes nas aulas de Educação Física deverá ter um caráter teórico- prático visando tornar o fenômeno esportivo transparente, per- mitindo aos alunos melhor organizar a sua realidade de esporte, movimentos e jogos de acordo com as suas possibilidades e ne- cessidades. A Abordagem Construtivista foi elaborada por Freire (1997). O referencial teórico encontrado em sua obra Educação de Corpo Inteiro tem como base os estudos de Piaget. Essa abordagem en- tende a motricidade humana como um conjunto de habilidades que permitem ao homem produzir conhecimento e se expressar. Os conteúdos básicos envolvem a cultura dos próprios alunos e todos participam do processo de construção do conhecimento. Na proposta construtivista, o jogo, enquanto conteúdo/es- tratégia, tem papel privilegiado. É considerado o principal modo de ensinar, é um instrumento pedagógico, um meio de ensino, pois, enquanto joga ou brinca, a criança aprende, sendo que este aprender deve ocorrer em um ambiente lúdico e prazeroso para a criança. Segundo a Abordagem Construtivista, a criança precisa de uma educação de corpo inteiro. Mas como isso pode ser feito? De acordo com Freire (1997), com o máximo de respeito, reuniria tudo o que a criança sabe sobre amarelinha, pegador, futebol, bolinha de gude, casinha, comidinha, e toda aquela infinidade de saltos, corridas, giros, gritos, risadas, cantos e danças, e levaria para den- tro da escola, sem discriminação, e aos poucos iria aumentando essas experiências tornando-as cada vez mais complexas. "A Abordagem dos Jogos Cooperativos surgiu da preocupa- ção com a excessiva valorização do individualismo e da competi- 17 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo ção na cultura ocidental". O idealizador dessa abordagem é Brotto (1995, s/n). O principal objetivo dessa teoria é promover, por meio dos jogos cooperativos, a autoestima e o desenvolvimento de ha- bilidades interpessoais positivas. O referencial teórico dessa teoria aponta que a vivência de situa- ções cooperativas pode contribuir para que os alunos aprendam a se relacionar de forma positiva e solidária nos jogos, na escola na sua vida social (BROTTO, 1995, s/n). A Abordagem dos Jogos Cooperativos acredita que a Edu- cação Física deve procurar desenvolver as destrezas de todos, e não somente dos melhores. Além disso, por meio dos jogos coo- perativos, é possível desenvolver muito mais do que as habilidades motoras, técnicas e táticas. Os jogos cooperativos também promo-vem o aperfeiçoamento das habilidades humanas essenciais, tais como: criatividade, confiança, respeito, aceitação, paciência, bom humor, autoestima etc. O foco central da Abordagem dos Jogos Cooperativos é aprender a jogar uns com os outros ao invés de uns contra os ou- tros. A partir da década de 1980 ocorreram mudanças significati- vas na área de Educação Física. Além de todas as teorias pedagó- gicas emergentes nessa época, também surgiram propostas cur- riculares visando subsidiar o trabalho do professor. Dentre essas propostas, encontramos: o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e os Parâmetros Curriculares Nacionais para os Ensinos Fundamental e Médio. A Educação Física, pouco a pouco, está sendo mais valori- zada dentro da escola e está conquistando a confiança de todos. Uma das grandes conquistas ocorreu em meados da década de 1990, com base na implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº. 9.394/96. Esse documento passou a considerar a Educação Física um componente curricular obrigató- rio da Educação Básica. © Fundamentos da Educação Física Escolar18 Portanto, atualmente, a Educação Física deve ser ministrada em todos os níveis de Ensino, ou seja, Educação infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Na Educação Infantil, o documento denominado Referencial Curricular Nacional (RCN) foi elaborado em 1998 com o objetivo de subsidiar o trabalho dos professores que atuam em creches e pré-escolas. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é composto por três documentos: 1) Introdução. 2) Formação Pessoal e Social. 3) Conhecimento de Mundo. O documento de introdução apresenta reflexões sobre creches e pré-escolas no Brasil, situando e fundamentando as concepções do que é ser criança, de educação, de professor e de instituição escolar. Com base nessas concepções, foram definidos os objetivos gerais da Educação Infantil. O volume sobre a Formação Pessoal e Social prioriza os processos de construção da identidade e autonomia das crianças. O volume relativo ao Conhecimento de Mundo é composto por seis documentos: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade, e Matemática, referentes à construção das diferentes linguagens pelas crianças e as relações que elas estabelecem com os objetos de conhecimento (BRASIL, 1988, s/n.). O eixo de trabalho denominado Movimento refere-se às atividades relacionadas à área de Educação Física. Por enquanto, ainda não é obrigatória a presença de um professor de Educação Física para ministrar essas atividades, por isso algumas instituições optam por não contratarem um profissional dessa área e deixam responsável pelas atividades de movimento os professores forma- dos em Pedagogia. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: 19 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo O movimento humano, portanto, é mais do que simples desloca- mento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. Assim, o trabalho com o movimento na Educação Infantil deve contemplar a multiplicidade das funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento dos aspectos espe- cíficos da motricidade infantil abrangendo atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal da criança, bem como, a reflexão acerca das posturas corporais presentes nas atividades cotidianas (BRASIL, 1988, p. 15). Já os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados pelo Ministério da Educação visando auxiliar o trabalho dos pro- fessores das diferentes disciplinas do Ensino Fundamental e Mé- dio. Esses Parâmetros foram produzidos no contexto das dis- cussões pedagógicas mais atuais, e o propósito do Ministério da Educação, ao consolidar os PCNs, é apontar metas de qualidade que ajudem a formação de um aluno participativo, reflexivo, autô- nomo e conhecedor de seus direitos e deveres. É importante res- saltar que esses documentos são abertos e flexíveis, podendo ser adaptado à realidade de cada região (BRASIL, 2001). Os Parâmetros Curriculares Nacionais representam um gran- de avanço para a área de Educação Física, pois ao contrário das outras disciplinas, a Educação Física nunca teve um livro didático para poder acompanhar e organizar os seus conteúdos. É claro que os PCNs não são e nem se parecem com apostilas ou livros didáti- cos. Mesmo assim, ter um documento para poder nos basearmos é muito importante para os professores de Educação Física. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental apontam que o trabalho de Educação Física, nesse nível de ensino é muito importante, pois possibilita aos alunos desenvolverem ha- bilidades corporais e de participar de atividades envolvendo, como por exemplo, jogos, esportes, lutas, ginástica e dança (BRASIL, 2001, p. s/n). © Fundamentos da Educação Física Escolar20 Os conteúdos apresentados nesse documento foram organi- zados em três eixos temáticos: 1) Conhecimento sobre o corpo. 2) Esportes, jogos, lutas e ginásticas. 3) Atividades Rítmicas e Expressivas. O primeiro bloco de conteúdos, "conhecimento sobre o cor- po", oferece ao aluno informações sobre o próprio corpo, sua es- trutura física, sua interação com o meio social etc. O bloco referente aos "esportes, jogos, lutas e ginásticas" envolve a transmissão de informações relacionadas à história, à origem, à importância e às principais características de cada uma dessas práticas. As "atividades rítmicas e expressivas", apresentadas no úl- timo bloco de conteúdos, referem-se às manifestações que com- binam expressões, sons, danças, rodas cantadas, mímicas etc. Por meio dessas atividades, os alunos caracterizam diferentes movi- mentos expressivos, sua intensidade e duração. No Ensino Médio, de acordo com os Parâmetros Curricula- res Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 1998b), o professor de Educação Física deverá dar continuidade ao que foi desenvolvido no Ensino Fundamental. O aluno do Ensino Médio após frequentar, ao menos, onze anos de escolarização deve possuir sólidos conhecimentos sobre a cultura corporal. Dessa forma, nesse nível de ensino, a Educação Física deve pautar-se em uma "melhor compreensão e utilização das formas de expressão utilizando gestos e movimentos, seus sig- nificados, suas técnicas e táticas" (BRASIL, 1998b, p. 57). Segundo os PCNEM, a Educação Física para o Ensino Médio tem como objetivo preparar o aluno como cidadão, aprimorar seus conhecimentos como pessoa humana, com formação ética, auto- nomia intelectual e crítica, tendo ampla visão dos conhecimentos tecnológicos e os processos teóricos e práticos. Além disso, esse 21 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo caderno deve fornecer aos alunos um parecer da importância das atividades físicas em seu cotidiano. A atividade física no Ensino Médio deve chegar ao aluno com um objetivo e significado, tornando-se assim uma prática interes- sante e com fundamentos, para que o aluno venha a tornar isso como hábito saudável, assimilando-o como parte de seu cotidiano. Apesar de todas essas contribuições, infelizmente, as aulas de Educação Física são pouco valorizadas no Ensino Médio. Os alu- nos participam das aulas com desdém e, muitas vezes, conseguem um atestado médico para serem dispensados das atividades. Portanto, é necessário que os professores dessa área modi- fiquem a mentalidade dos alunos, a fim de tornar as aulas de Edu- cação Física de extrema relevância para os adolescentes, visando efetivar os reais objetivos desse componente curricular. Para finalizar essa síntese, abordaremos a questão dos obje- tivos da Educação Física. Muitos professores acreditam que, ao elaborarem um plano de aula, o fundamental é selecionar conteúdos adequados. É claro que os conteúdos são importantes para o bomdesenvolvimento de qualquer atividade, porém, antes de qualquer coisa, é preciso saber definir os objetivos. O conteúdo trabalhado nas aulas de Educação Física nada mais é do que o instrumento utilizado pelo professor para atingir os objetivos. Ou seja, não adianta selecionar os mais interessantes e diversificados conteúdos se o professor não souber qual é o ob- jetivo daquelas atividades. Os objetivos traçados pelo professor precisam estar relacio- nados com o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. Portanto, antes de elaborarmos um plano de aula, é preciso conhecer e re- fletir sobre o perfil de aluno que está descrito no PPP da escola. © Fundamentos da Educação Física Escolar22 É importante esclarecer que o Projeto Político-pedagógico é construído e vivenciado por todos os envolvidos com o processo educativo da escola. É uma ação intencional e um compromisso definido, coletivamente, pela comunidade escolar (pais, professo- res, direção e funcionários). Podemos dizer que o Projeto Político-pedagógico de cada es- cola é definido pelas questões políticas e pelas ações educativas. Isso significa que o PPP articula o compromisso social e político aos interesses da comunidade, bem como define ações educativas visando efetivar a intenção escolar que é formar cidadãos. Por isso, o professor de Educação Física precisa definir seus objetivos com base no que está descrito no PPP, para que a sua prática pedagógica não se torne "vazia" e sem significado tanto para os alunos quanto para as metas presentes no contexto esco- lar. Após definir os objetivos, o professor deverá se preocupar com os demais componentes do processo didático: conteúdos, procedimentos e avaliação. Conteúdos de ensino: são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. Os conteúdos podem ser classificados de acordo com as seguintes dimensões: procedimental, atitudinal e conceitual. Procedimentos de ensino: são ações, processos ou com- portamentos planejados pelo professor, para colocar o aluno em contato direto com coisas, fatos ou fenômenos que lhes possibi- litem modificar sua conduta, em função dos objetivos previstos. Portanto, os procedimentos de ensino dizem respeito às formas de intervenção do professor, ou seja, os procedimentos englobam as ações a serem realizadas pelo professor e pelos alunos durante toda a aula. Ao escolher os seus procedimentos de ensino, o pro- fessor irá traçar o caminho para atingir os seus objetivos. 23 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo Avaliação: é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. A avaliação é uma reflexão sobre o ní- vel de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Portanto, a avaliação não se resume à realização de provas e atribuição de notas. Esperamos com essa síntese ampliar o conhecimento em re- lação aos fundamentos que envolvem a Educação Física escolar, bem como instigar a procura por outras questões relevantes para a melhoria da qualidade de ensino. O nosso estudo não termina aqui. Ele está só começando, especialmente, para aqueles que se colocam no papel de críticos. Espero que essa vontade do saber seja ferramenta essencial de seus estudos. Por maior que sejam as dificuldades encontradas pelo caminho do conhecimento, a vontade de estudar e de apren- der supera todas as barreiras da aprendizagem. Forte abraço a todos e bons estudos! Glossário de conceitos O Glossário permite a você uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Referência de Conteúdo Fun- damentos da Educação Física Escolar. Veja a seguir a definição dos principais conceitos: 1) Educação Básica: compreende a Educação Infantil (cre- che e pré-escola), Ensino Fundamental e Ensino Médio (INEP). 2) Educação Infantil: primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20/12/96) (INEP). © Fundamentos da Educação Física Escolar24 3) Ensino Fundamental: nível de ensino obrigatório (e gra- tuito na escola pública), com duração mínima de oito anos, podendo ser organizado em séries, ciclos ou dis- ciplinas. Tem por objetivo a formação básica do cida- dão, mediante: (1) o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita, e do cálculo; (2) a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tec- nologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; (3) o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conheci- mentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; (4) o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. O ensino fundamental é presen- cial, sendo o ensino à distância utilizado como comple- mentação da aprendizagem ou em situações emergen- ciais (Lei nº 9.394, de 20/12/96) (INEP). 4) Ensino Médio: nível de ensino com duração mínima de três anos. Trata-se da etapa final da educação básica. Tem por finalidades: (1) a consolidação e o aprofunda- mento dos conhecimentos adquiridos no ensino funda- mental, possibilitando o prosseguimento de estudos; (2) a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de adaptar-se com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; (3) o apri- moramento do educando como pessoa humana, incluin- do a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; (4) a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensi- no de cada disciplina (INEP). Esquema de conceitos-chave Além do cronograma que você deverá seguir para desenvol- ver suas atividades e interatividades propostas pelo professor-res- ponsável, você poderá valer-se de outros tipos de aprendizagem, 25 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo como Aprendizagem de conceitos, de princípios (uma cadeia de vários conceitos) que poderão levá-lo à resolução de problemas, quando, mediante a combinação desses princípios, é produzido um novo conhecimento. Daí a importância de um Esquema de conceitos-chave para se ter clareza das ideias e princípios que fun- damentam um saber científico. EDUCAÇÃO FÍSICA TEORIAS PEDAGÓGICAS DESENVOLVIMENTISTA JOGOS COOPERATIVOS PROPOSTAS CURRICULARES CRÍTICO- -SUPERADORA ANTROPOLÓGICA CRÍTICO- -EMANCIPATÓRIA CONSTRUTIVISTA OBJETIVOS RCN PCNs ENSINO MÉDIO CONTEÚDOS PROCEDIMENTOS AVALIAÇÃO ENSINO FUNDAMENTAL EDUCAÇÃO INFANTIL Figura 1 - Esquema de conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo: Fundamentos da Educação Física escolar. Como você pode observar, o esquema da Figura 1 lhe apre- senta uma visão geral dos conceitos mais importantes desse estu- do. Seguindo este esquema, você poderá transitar entre um e ou- tro conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo ensino-aprendizagem. Por exemplo, ao refletirmos sobre as teorias pedagógicas em Educação Física, será necessário você conhecer as abordagens Desenvolvimentista, Antropológica, Crítico-Emancipa- tória, Jogos Cooperativos, Crítico-Superadora e Construtivista, sem o domínio conceitual dessas abordagens explicitado pelo esque- ma, pode-se ter uma visão confusa do queessas teorias represen- tam para a qualidade de ensino em Educação Física Escolar. Observamos que o Esquema de conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem somar-se àqueles dispo- níveis no ambiente virtual com suas ferramentas interativas, bem © Fundamentos da Educação Física Escolar26 como às atividades didático-pedagógicas realizadas presencial- mente no polo. Lembre-se de que você, como aluno na modalida- de a distância, pode valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. Questões autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados. Responder, dis- cutir e comentar estas questões e relacioná-las com a prática do ensino de Fundamentos da Educação Física Escolar pode ser uma forma de você medir o seu conhecimento, ter contato com ques- tões pertinentes ao assunto tratado e de lhe ajudar na preparação para a prova final, que será dissertativa. Mais ainda: é uma ma- neira privilegiada de você adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. Bibliografia básica É fundamental que você use a bibliografia básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio- grafias complementares. Figuras (ilustrações, quadros...) As ilustrações neste material instrucional fazem parte inte- grante dos conteúdos; não são meramente ilustrativas. Elas esque- matizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos, pois rela- cionar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. Dicas (motivacionais) Este estudo convida você a um olhar mais apurado da educa- ção como processo de emancipação do ser humano. Procure ficar atento para as explicações teóricas, práticas (do senso comum) e 27 Claretiano - Centro Universitário © Caderno de Referência de Conteúdo científicas presentes nos meios de comunicação, e partilhe com seus colegas seus comentários. Ao compartilhar o que observamos com outras pessoas, temos a oportunidade de perceber o que nós e os outros ainda não sabemos, aprendendo a ver e notar o que não tínhamos percebido antes desenvolvendo discriminações. Ob- servar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você como aluno do curso de Graduação na modalidade EAD e futuro profissional da educação necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, principalmente, da intera- ção com seus colegas. Sugerimos que organize bem o seu tempo, realize as atividades nas datas estipuladas. É importante que você anote suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois no futuro poderá utilizá-las na ela- boração de sua monografia ou de produções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e se foram significativos para sua forma- ção. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, estes procedi- mentos serão importantes para o seu amadurecimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na mo- dalidade Educação a Distância é PARTICIPAR, ou seja, INTERAGIR, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tu- tores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. Claretiano - Centro Universitário 1 EA D Teorias Pedagógicas da Educação Física 1. OBJETIVOS • Compreender as principais teorias pedagógicas da Educa- ção Física. • Estabelecer paralelos entre as diferentes teorias. 2. CONTEÚDOS • Abordagens da Educação Física: Desenvolvimentista, Crí- tico-Superadora, Antropológica, Crítico-Emancipatória, Construtivista e Jogos Cooperativos. • Sugestões de Atividades Práticas. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli- citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de © Fundamentos da Educação Física Escolar30 conceitos-chave para o estudo de todas as unidades des- te Caderno de referência de conteúdo (CRC). Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. 2) Lembre-se de que apresentaremos apenas seis das principais abordagens pedagógicas da Educação Física. Pesquise em livros ou na internet as demais teorias e os seus respectivos autores e, se encontrar algo interes- sante, disponibilize tal informação para seus colegas na Lista. Lembre-se de que você é protagonista do processo educativo. 3) Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje com o material didático e discuta a unidade com seus colegas e com o tutor. 4) Antes de iniciar os estudos desta unidade pode ser in- teressante conhecer um pouco sobre as obras que nor- teiam nosso estudo. Para saber mais acesse os sites in- dicados. Obra: Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista (TANI et all, 2006) Autores: Go Tani; Edison de Jesus Manoel; Eduardo Kokubun, José Elias de Proença. O livro visa estabelecer uma fundamentação teórica para a Educação Física Escolar. Para tanto, parte de um pressuposto básico: se existe uma seqüência normal nos processos de crescimento, de desenvolvimento e de aprendizagem, isto signifi ca que as crianças necessitam ser orientadas considerando-se estes processos, pois só assim as suas reais necessidades e expectativas serão alcançadas. Em outras palavras, este trabalho procura mostrar que, para o estabelecimento de objetivos, métodos e conteúdos de en- sino apropriados, é importante considerar as necessidades que advêm do pró- prio processo de mudanças no comportamento motor humano ao longo da vida. Este livro destina-se a professores e estudantes de Educação Física que bus- cam fundamentos para elaboração, execução e avaliação de programas de Educação Física no âmbito escolar. Imagem disponível em: <http://www.re- lativa.com.br/livros_template.asp?codigo_produto=37945>. Acesso em: 30 jun. 2010. Texto disponível em: <http://www.relativa.com.br/DescricaoLivro. asp?CodigoLivro=37945>. Acesso em: 30 jun. 2010. 31 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física Autores: Carmem Lúcia Soares, Celi Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino Castellani Filho, Micheli Escobar e Valter Bra- cht Metodologia do Ensino de Educação Física (Coletivo de Autores). Este livro reporta-se a questões teórico-metodológicas da Educação Física escolar, tomando-a como matéria curricu- lar que trata dos jogos, da ginástica, do esporte, enquanto elementos constitutivos, dentre outros, do seu conteúdo. Carmen Lúcia Soares, Celi Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino Castellani Filho, Micheli Escobar e Valter Bracht, seus au- tores, preocuparam-se, na sua elaboração, em apresentar elementos básicos para a confi guração de uma teoria pedagógica da Educação Física materializada na sugestão de um programa específi co para cada um dos graus de ensino, na seleção e sistematização do conhecimento e na organiza- ção do trabalho escolar. Pretendem, assim, fornecer fundamentos teóricos para a apreensão do conhecimento por parte dos professores, de modo a auxiliá- los a pensar autonomamente. Imagem disponível em: <http://compare.buscape. com.br/metodologia-do-ensino-de-educacao-fi sica-soares-carmen-8524904593. html>. Acesso em: 30 jun. 2010. Texto disponível em: <http://www.livrariasolucao. com.br/livro/metodologia-do-ensino-de-educacao-fi sica-carmen-lucia-soares- 8524904593.html>. Acesso em: 30 jun. 2010. Autor: Jocimar Daólio Da Cultura do Corpo. Utilizando um referencial próprio da antropologiasocial, essa obra discute a construção cultural do corpo humano. É com base nessa perspectiva que o autor analisa o traba- lho do professor de Educação Física, reconstruindo o uni- verso de representações sobre o corpo que rege e orienta sua prática escolar. Jocimar Daólio discorre brilhantemen- te sobre o conceito de corpo nesse livro tomando empres- tado os conceitos da antropologia social, apontando para uma defi nição do corpo e seus signos sociais. Enquanto trabalha o conceito de alteridade, nos mostra a possibili- dade de uma aula de Educação Física voltada para o res- peito das diferenças. Imagem disponível em: <http://www.relativa.com.br/livros_ template.asp?Codigo_Produto=13789&Livro=Da%20Cultura%20do%20Corpo>. Acesso em: 30 jun. 2010. Texto disponível em: <http://afi liados.submarino.com. br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=2002 6&ST=SF1139#content>. Acesso em 30 jun. 2010. © Fundamentos da Educação Física Escolar32 Autores: Elenor Kunz Transformação Didático-Pedagógica do Esporte. Este livro é uma resposta ao desafi o de fazer do espor- te objeto de aprendizagem sistemática e formal inten- cionada pela escola, uma linguagem complementar às demais e por elas complementada no inteiro sistema das relações em que se empenham corpos capazes da linguagem da ação e da ação da linguagem. Imagem disponível em: <http://www.mundoeducacaofi sica.com/ livros/books/1448/ >. Acesso em: 30 jun. 2010. Texto dis- ponível em: <http://www.relativa.com.br/DescricaoLivro. asp?CodigoLivro=86905>. Acesso em: 30 jun. 2010. Autores: João Batista Freire Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação Física. A proposta desta obra é ressaltar que não só a cabeça do aluno deve ser matriculada na escola e receber educação, mas também seu corpo. Ela estabelece um elo entre o movimento e o desenvolvimento mental da criança. Imagem disponível em: <http://www.jacotei.com.br/educa- cao-de-corpo-inteiro-teoria-e-pratica-de-educacao-fi sica- joao-batista-freire-8526214780.html>. Acesso em: 30 jun. 2010. Texto disponível em: < http://www.scipione.com.br/ mostra_livro_paradidatico.asp?id_livro=695> Acesso em: 30 jun. 2010. Autores: Fábio Otuzi Brotto Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o funda- mental é cooperar. É o primeiro livro de autoria de Fábio Brotto. Neste primeiro livro do autor, Fábio expõe de uma maneira clara e concisa todo o embasamento teórico dos jogos cooperativos, tra- çando um paralelo com a competição. Inserindo o assunto em um contexto histó- rico, desde as origens dos jogos cooperativos em diversas etnias do mundo até o presente momento, o autor resgata os fatores históricos-sociais que permeiam a cultura mundial sobre o que é a competição e o que é cooperação. Fábio Otuzi Brotto constrói um texto em linguagem simples e direta onde procura atrelar as suas observações e estudos à aspectos cotidianos, seja ele, escolar, social ou organizacional. Mestre em Educação Física e Bacharel em Psicologia atua como Focalizador do Projeto Cooperação ® e Facilitador em Jogos Cooperativos e da Pedagogia da Cooperação. É Docente em cursos de Pós-Graduação em diver- sas Universidades e Institutos. Tendo sido adotado como livro-base: - Concurso Público para Professores de Educação Física do Estado de São Paulo, Paraná e diversos municípios. - Disciplina de Filosofi a e Ética na Universidade Metropoli- tana de Santos, Faculdade de Educação Física, desde 1996. - Programa esporte Educacional do INDESP-MEC, em 1995. Imagem disponível em: <http://www.jo- 33 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física goscooperativos.com.br/Livros.htm >. Acesso em: 30 jun. 2010. Texto disponível em: <http://200.194.222.32/produto/1/92253/jogos+cooperativos#A1>. Acesso em: 30 jun. 2010. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Antes de iniciarmos nossos estudos acerca das teorias peda- gógicas da Educação Física, será preciso tomar consciência de que não existe uma teoria melhor do que a outra. O que existe são for- mas diferentes de trabalhar a Educação Física escolar. O importan- te é conhecer cada uma delas para que a nossa prática pedagógica não seja embasada no "achismo". Se na prática existem dezenas de excelentes professores de Educação Física, o que é ótimo, no aspecto teórico, isso não acontece. Por isso, ao embasarmos nossa prática com base em uma ou várias teorias, certamente, estaremos à frente daqueles profissio- nais considerados exclusivamente "práticos". A teoria e a prática estão extremamente ligadas. Uma de- pende da outra. Portanto, a questão central desta unidade é: com qual teoria pedagógica eu mais me identifico? Esse é um questionamento crucial para o desenvolvimento de nosso estudo. E muito interessante. Qual teoria pedagógica irá embasar a minha prática? A resposta apontará o caminho que o levará a construir uma prática pedagógica consistente, intencional e de qualidade. Essa será uma das perguntas que procuraremos discutir nes- ta primeira unidade. É notável o engessamento dos professores em relação ao en- sino de Educação Física. Muitos dos profissionais, ainda hoje, são conhecidos como "rola-bola", ou seja, os profissionais da área não abordam os conteúdos de uma forma diversificada e sistematiza- da. É muito comum encontramos professores de Educação Física © Fundamentos da Educação Física Escolar34 sentados na arquibancada da quadra cronometrando uma partida de futebol, ou então ministrando a chamada "aula livre" (cada alu- no escolhe o material e faz aquilo que desejar durante a aula). Por isso, muitas vezes, os professores de Educação Física são tachados de "folgados" e são vítimas de certos comentários que mancham a sua imagem, como, por exemplo: "professor de Educa- ção Física só tem músculo", "eu deveria ter feito Educação Física, pois é só jogar bola", "professor de Educação Física não precisa preparar aula", "professor de Educação Física só serve para enfei- tar a escola e elaborar coreografias em datas comemorativas". Até que ponto tudo isso é verdade? Precisamos mudar esse conceito sobre a Educação Física escolar e os professores que tra- balham nos diferentes níveis de ensino. Então, qual seria a melhor forma de reverter esse quadro? Acredito que para "ganharmos um lugar ao sol" e sermos reco- nhecidos no meio escolar, precisamos, inicialmente, ter um forte embasamento teórico e saber relacioná-lo com a prática. Tal empreitada parece impossível, contudo as barreiras en- contradas no dia a dia ficarão menores a partir dos conhecimentos adquiridos nesta unidade. As possibilidades são muitas, portanto, é só arregaçar as mangas e ir ao trabalho! Vamos em frente?! 5. AS PRINCIPAIS TEORIAS PEDAGÓGICAS Nos últimos anos, a Educação Física sofreu mudanças signi- ficativas. Podemos dizer que essas mudanças ocorreram devido à proposição de uma variedade de abordagens para o seu desenvol- vimento. As abordagens mais conhecidas são: 35 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física 1) Psicomotricista (Le Bouch, 1982). 2) Desenvolvimentista (Tani, Manoel, Kokubun e Proença, 1988). 3) Construtivista (Freire, 1989). 4) Fenomenológica (Moreira, 1991). 5) Sociológica (Betti, 1991). 6) Crítico-Superadora (Soares, Taffarel, Varjal, Castellani Fi- lho, Escobar e Bracht, 1992). 7) Crítico-Emancipatória (Kunz, 1994). 8) Antropológica (Daólio, 1995). 9) Saúde Renovada (Guedes e Nahas, 1997). 10) Jogos Cooperativos (Brotto, 1995). Abordar todas essas teorias pedagógicas, em um único ca- derno, de uma forma não superficial, é praticamente impossível, por isso, selecionamos seis dessas abordagens para serem apre- sentadas e discutidas nesta unidade. As demais teorias serão abor- dadas no decorrer do curso. Abordagem Desenvolvimentista A Abordagem Desenvolvimentista foi elaborada por Go Tani, Edison de Jesus Manoel, Eduardo Kokubun e José Elias de Proença. O livro denominado Educação Física Escolar: fundamentosde uma abordagem desenvolvimentista foi publicado em 1988. Essa abordagem procura mostrar que para definir os obje- tivos, métodos e conteúdos de ensino, é importante considerar as necessidades que advém do próprio processo de mudanças no comportamento motor humano ao longo da vida (TANI et al, 1988). Isso significa que, para planejar uma aula, o professor deve considerar a sequência normal de desenvolvimento das crianças para que as atividades ministradas não estejam nem muito além e nem muito aquém das suas reais necessidades. © Fundamentos da Educação Física Escolar36 Outro ponto fundamental dessa abordagem refere-se à di- versidade e à complexidade dos movimentos. Os autores acredi- tam que nas aulas de Educação Física deve haver a interação entre o aumento da diversidade e da complexidade dos movimentos visando proporcionar aos alunos condições para que seu compor- tamento motor seja desenvolvido. Ou seja, os conteúdos devem obedecer a uma sequência e devem ser trabalhados do mais sim- ples ao mais complexo. A sequência adotada pela Abordagem Desenvolvimentista foi baseada no modelo de taxionomia do desenvolvimento motor proposta por Gallahue (1982). Fonte: GALLAHUE (1982) Figura 1 – Modelo de Gallahue. Ao observarmos a Figura 1, podemos classificar os movimen- tos humanos em cinco fases: 1) Movimentos Reflexos (vida intrauterina até 4 meses após o nascimento). 37 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física 2) Movimentos Rudimentares (dos 4 meses até 2 anos). 3) Movimentos Fundamentais (dos 2 aos 7 anos). 4) Combinação de Movimentos Fundamentais (dos 7 aos 12 anos). 5) Movimentos Determinados Culturalmente (a partir dos 12 anos). Essa classificação hierárquica permite programar conteúdos seguindo uma ordem de habilidades, até atingir os movimentos determinados culturalmente que envolvem movimentos especí- ficos, como, por exemplo, a prática dos esportes, da dança, dos jogos etc. A seguir, serão apresentados alguns conceitos importantes que são a base da Abordagem Desenvolvimentista: domínio do comportamento humano e habilidades básicas. Domínios do Comportamento Humano Todo o comportamento humano pode ser classificado como sendo pertencente a um dos três domínios: cognitivo, afetivo-so- cial e motor. Fazem parte do domínio cognitivo as operações mentais como a descoberta, o armazenamento e a geração de informações a partir de certos dados e a tomada de decisão (MAGILL, 1980). O domínio afetivo-social é composto pelos sentimentos e emoções e, do domínio motor, fazem parte os movimentos. Apesar de um determinado comportamento ser classifica- do em um desses três domínios, é importante esclarecer que, na maioria dos casos, existe a participação simultânea de todos eles. Ou seja, essa classificação é utilizada para destacar o domínio que é predominante em determinado comportamento motor. Por exemplo: o comportamento de um indivíduo no jogo de xadrez é predominantemente cognitivo, embora os domínios motor (movimentação das peças) e afetivo-social (alegria, tristeza, raiva etc.) também estejam presentes. © Fundamentos da Educação Física Escolar38 Mas você deve estar se perguntando: qual a utilidade de co- nhecer esses três domínios? Em termos práticos, ao conhecer os domínios do compor- tamento humano, teremos uma visão integrada e sistêmica desse comportamento. Assim, o trabalho na Educação Física passará a desenvolver não só as qualidades físicas, mas também a afetivida- de, a socialização e a cognição envolvidas em cada atividade mi- nistrada. Embora a Educação Física defenda a importância da inte- gração entre corpo e mente, na prática, é possível observar várias situações nas quais ainda predomina a preocupação com o desen- volvimento físico, dando pouco ou quase nenhuma atenção aos outros aspectos do desenvolvimento global das crianças. Por isso, ao ministrar qualquer atividade nas aulas de Edu- cação Física, o professor deve estar atento não só aos aspectos motores, mas também aos aspectos cognitivos e afetivo-sociais envolvidos durante o processo de ensino-aprendizagem. Aquisição dos padrões fundamentais do movimento (ou habilidades básicas) Tani et al (1988) afirmam que para entender os problemas que os indivíduos encontram para adquirir habilidades específicas é necessário retomar o processo pelo qual as habilidades básicas foram ou não adquiridas. Isso significa que se uma pessoa tem dificuldades em jogar, por exemplo, futebol, deve-se ao fato de que as habilidades bási- cas para a prática desse esporte (chutar, receber, saltar etc.) não foram adquiridas. Essa definição afirma, novamente, a importância da não es- pecialização precoce, ou seja, até os doze anos de idade, a criança deve se preocupar em desenvolver as habilidades básicas e não se especializar em um único esporte. 39 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física Segundo Wickstrom (1977 apud TANI et al, 1988, p. 87) "en- tende-se por habilidade básica uma atividade motora comum com uma meta geral, sendo ela a base para atividades motoras mais avançadas e altamente específicas". Isso enfatiza a necessidade de uma atuação mais eficiente da Educação Física para aquisição de habilidades básicas. Muitos pro- fessores se preocupam em ensinar as técnicas e táticas de várias modalidades esportivas e esquecem-se de desenvolver um traba- lho voltado ao desenvolvimento das habilidades básicas: correr, saltar, rolar, arremessar, chutar, rebater etc. Os padrões fundamentais de movimento (habilidades bási- cas) podem ser divididos em padrões de locomoção, de manipula- ção e de equilíbrio. Locomoção: os padrões de movimento que as crianças apre- sentam nesta categoria permitem a exploração do espaço. Fazem parte da locomoção: andar, saltar, correr, rolar, galopar e saltar no mesmo pé. Manipulação: essa categoria envolve o relacionamento do indivíduo com um objeto. São incluídos aqui o arremessar, rece- ber, rebater, chutar e quicar. Equilíbrio: permite à criança manter uma postura no espaço e em relação à força de gravidade. Fazem parte dessa categoria: estar em pé, estar sentado, girar os braços, flexionar o tronco, pa- rada de mão, rolamento, equilíbrio em um só pé e o caminhar so- bre uma superfície de pequena amplitude. Após a apresentação das habilidades básicas, é importante ressaltar que o desenvolvimento destas ocorre a partir de uma hierarquia. Qual é o primeiro padrão fundamental de movimento ou ha- bilidade básica a se desenvolver? A resposta para essa questão é o andar. © Fundamentos da Educação Física Escolar40 Com base no andar, outras habilidades básicas são desenvol- vidas. Estudos mostram que, aproximadamente, até os 7 anos de idade, o desenvolvimento motor das crianças é caracterizado pela aquisição, estabilização e diversificação dos padrões fundamentais do movimento. Após essa idade, até por volta dos doze anos, as habilidades são refinadas e ocorre uma combinação dessas habilidades em pa- drões sequenciais cada vez mais complexos. Por exemplo: a habili- dade básica correr interage com a habilidade de quicar uma bola, resultando em uma estrutura mais complexa denominada drible. Isso significa que as habilidades adquiridas nos primeiros anos de vida são a base para a aprendizagem de tarefas mais com- plexas. Não observar essa sequência de desenvolvimento pode levar a superestimulação das crianças, levando à especialização precoce que é muito prejudicial ao desenvolvimento infantil. Por isso, as crianças até os dez anos de idade devem desen- volver ao máximo as habilidades básicas sem preocupação com as habilidades específicas. Dessa forma, a Educação Física deve proporcionar às crian- ças o desenvolvimento hierárquico de suas habilidades. Para que isso aconteça, é necessário organizar atividadesdiversificadas e cada vez mais complexas. Por exemplo, o professor pode propor uma atividade na qual as crianças irão andar pela quadra, em seguida, ele diversificará os movimentos, pedindo para as crianças andarem de costas e de lado. Para tornar essa atividade mais complexa, o professor pedirá para as crianças andarem de olhos fechados e em ritmos diferen- tes. O professor de Educação Física, ao respeitar a sequência de desenvolvimento e estabelecer tarefas cada vez mais diversifica- das e complexas, estará favorecendo os desenvolvimentos das po- tencialidades máximas das crianças. 41 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física As atividades desenvolvidas com base na proposta dessa abordagem não precisam ser monótonas e repetitivas, pelo con- trário, o professor deve selecionar e organizar conteúdos e meto- dologias atraentes, diferenciadas e lúdicas. Veja uma sugestão de atividades: Sugestões de Atividades –––––––––––––––––––––––––––––– 1) Dividi-se a turma em duas colunas. Formam-se um percurso com cones e as crianças deverão andar entre estes quicando uma bola, indo e voltando e passando a bola para a próxima criança que estiver na fi la. 2) Nunca Três: a turma fi ca dividida em duplas (sentada uma atrás da outra). Duas crianças serão selecionadas, uma para ser o pegador e outra par ser o fugitivo. O pegador tentará pegar o fugitivo enquanto este deverá fugir e sen- tar atrás de uma das duplas. Quando sentar, o primeiro da fi la passará a ser o pegador e a criança que era o pegador passará a ser o fugitivo. 3) Dividi-se a turma em duas equipes. As equipes formarão duas colunas. A ati- vidade será feita em duplas. Cada dupla deverá segurar e equilibrar a latinha de refrigerante com a testa (juntos). À frente terão dois cones que formarão um gol. Próximo ao cone estará uma bola de handebol. O objetivo é pegar a bola e fazer o gol, sem deixar a latinha cair no chão. Feito o gol, a dupla volta equilibrando a latinha na testa e passa para a próxima dupla. Vence a equipe que terminar primeiro. 4) A turma se dividirá em duas equipes. Cada equipe formará uma coluna e terá a sua frente seis arcos formando um triângulo (três na base, e no meio e um na ponta). O aluno terá cinco chances de arremessar a bola de handebol em direção aos arcos. Se a bola cair dentro dos três primeiros arcos (base) o aluno marcará um ponto. Se cair nos dois arcos do meio marca dois pontos e se o aluno conseguir fazer com que a bola caia no arco da ponta, ele marcará três pontos. Vence a equipe que marcar mais pontos. 5) A turma se dividirá em duas equipes. Cada equipe formará uma coluna no fundo da quadra. Cada aluno terá que correr controlando a bexiga até o cone posicionado à frente da coluna. Assim que o aluno voltar, passar a bexiga para o próximo e assim, sucessivamente. 6) Atividade semelhante a anterior. Agora além do aluno correr controlando a bexiga, terá que equilibrar o copo plástico na testa. Vence a equipe que ter- minar primeiro. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Retomando Para seguirmos com nosso estudo sobre as abordagens, vale a pena recordar o que estudamos até agora, segundo Tani et al: A abordagem desenvolvimentista parte do posicionamento básico de que, se a Educação Física pretende atender às reais necessida- des e expectativas da criança, ela necessita, antes de mais nada, © Fundamentos da Educação Física Escolar42 compreender as suas características em termos de crescimento, desenvolvimento e aprendizagem, visto que a não observância destas características conduz frequentemente ao estabelecimento de objetivos, métodos e conteúdos de ensino inapropriados (TANI et al, 1988, p. 135). Um aspecto muito importante aqui abordado é que, se existe uma seqüência normal nos processos de crescimento, de desenvolvi- mento e de aprendizagem motora, isto nada mais significa que as crianças necessitam ser orientadas especificamente com relação a estas características, desde que, só assim, as suas reais necessida- des e expectativas serão alcançadas (TANI et al, 1988, p. 135). Em outras palavras, se existe uma seqüência normal de desenvol- vimento, isto quer dizer que as tarefas de aprendizagem a serem ensinadas nas aulas de Educação Física devem sempre manter cor- respondência com esta seqüência, para que não se estabeleçam conteúdos nem muito além e nem muito aquém das capacidades reais da criança (TANI et al, 1988, p. 136). A ausência de correspondência entre a tarefa a ser ensinada e o processo de desenvolvimento conduz, frequentemente, à subesti- mulação ou superestimulação, ambas prejudiciais ao desenvolvi- mento normal do ser humano (TANI et al, 1988, p. 136). Os conhecimentos de desenvolvimento fisiológico, cognitivo e afetivo-social tornam-se muito importantes na determinação da metodologia de ensino a ser adotada na Educação Física. Esses conhecimentos fornecem subsídios para elaborar uma estratégia mais adequada do professor na sua atuação com os alunos. Além disso, serve de critério ou referencial para que se possa avaliar a progressão das crianças e, por conseguinte, permite acompanhá- las melhor (TANI et al, 1988, p. 136). Acreditamos que a Educação Física, quando estruturada com base nos conhecimentos abordados nesse trabalho, possibilita a pre- paração de um ambiente de aprendizagem e de desenvolvimen- to que favoreça a todas as crianças desenvolverem ao máximo as suas potencialidades de movimento e os fatores que o influenciam, levando-se em consideração suas características e limitações (TANI et al, 1988, p. 137). Abordagem Crítico-Superadora A Abordagem Crítico-Superadora é apresentada na obra Me- todologia do Ensino de Educação Física, também conhecida, popu- larmente, como Coletivo de Autores. 43 Claretiano - Centro Universitário © U1 – Teorias Pedagógicas da Educação Física Esse livro foi publicado em 1992. Na sua elaboração, seus autores Carmem Lúcia Soares, Celi Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino Castellani Filho, Micheli Escobar e Valter Bracht preocuparam-se com as condições reais do dia a dia escolar visando auxiliar os pro- fessores no aprofundamento dos conhecimentos de Educação Fí- sica como área de estudo e campo de trabalho. A seguir, serão apresentados os principais conceitos aborda- dos nessa obra. A abordagem crítico-superadora trata de uma pedagogia emergente que busca refletir sobre a cultura corporal, ou seja, busca realizar uma reflexão pedagógica sobre as diferentes formas de representação do mundo que o homem tem produzido no de- correr da história, exteriorizadas pela expressão corporal, como, por exemplo, jogos, lutas, danças, ginásticas, atividades circenses, esportes etc. (DAÓLIO, 2007). Todas as atividades corporais (pular, arremessar, jogar, dan- çar, saltar, lutar etc.) foram construídas em determinadas épocas históricas com base nas necessidades humanas, portanto, é fun- damental que a prática pedagógica da Educação Física tenha como base a Cultura Corporal de Movimento. Nessa perspectiva, todos os temas envolvendo a cultura cor- poral devem ser tratados na escola de forma crítico-superadora, ou seja, além de trabalhar os elementos técnicos e táticos, deve-se evidenciar o sentido e o significado dos valores e das normas que regulamentam o nosso contexto sócio-histórico. Por exemplo, pode-se explicar ao aluno que um jogo de vo- leibol só ocorre porque existe a contradição erro/acerto. Imagine como seria monótono e sem graça uma partida de voleibol em que a bola não caísse no chão. O erro faz parte do jogo, por isso, o aluno não deve se sentir fracassado só porque cometeu um erro. © Fundamentos da Educação Física Escolar44 Esse tipo de reflexão faz que o aluno dê um "salto qualita- tivo" em todos os sentidos: nas habilidades, na coletividade, nos valores éticos e morais, no domínio da técnica, nas atividades cor- porais etc. Segundo Soares et al (1992, p. 41): Esse tratamento não se coloca na perspectiva
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