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ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTORIO PARTE 3 FIGADO O fígado é a maior glândula do corpo e, depois da pele, o maior órgão. Pesa cerca de 1.500 gramas e representa aproximadamente 2,5% do peso corporal do adulto. No feto maduro – no qual também atua como órgão hematopoético – é proporcionalmente duas vezes maior (sendo cerca de 5% do peso corporal). O fígado está situado principalmente no quadrante superior direito do abdome, onde é protegido pela caixa torácica e pelo diafragma. O fígado normal situa-se profundamente da sétima a decima costelas no lado direito e cruza a linha mediana em direção à papila mamária esquerda. O fígado ocupa a maior parte do hipocôndrio direito e do epigástrio superior e estende-se até o hipocôndrio esquerdo. O fígado move-se com as excursões do diafragma e na postura ereta sua posição é mais baixa devido à gravidade. Com exceção da gordura, todos os nutrientes absorvidos pelo sistema digestório são levados primeiro ao fígado pelo sistema venoso porta. Além de suas muitas atividades metabólicas, o fígado armazena glicogênio e secreta bile que ajuda na emulsificação das gorduras. A bile sai do fígado pelos ductos biliares – ductos hepáticos direito e esquerdo – que se unem para formar o ducto hepático comum, que se une ao ducto cístico para formar o ducto colédoco. A produção hepática de bile é contínua; mas entre as refeições ela se acumula e é armazenada na vesícula biliar, que também concentra a bile por meio da absorção de água e sais. Quando o alimento chega ao duodeno, a vesícula biliar envia a bile concentrada pelas vias biliares até o duodeno. O fígado tem uma face diafragmática convexa (anterior, superior e algo posterior) e uma face visceral que é relativamente plana, ou até mesmo côncava (póstero-inferior), que são separadas anteriormente por sua margem inferior aguda, que segue a margem costal direita, inferiormente ao diafragma A face diafragmática do fígado é lisa e tem forma de cúpula, onde se relaciona com a concavidade da face inferior do diafragma, que a separa das pleuras, pulmões, pericárdio e coração. Existem recessos subfrênicos – extensões superiores da cavidade peritoneal – entre o diafragma e as faces anterior e superior da face diafragmática do fígado. Os recessos subfrênicos são separados em recessos direito e esquerdo pelo ligamento falciforme, que se estende entre o fígado e a parede anterior do abdome. A parte do compartimento supracólico da cavidade peritoneal inferior ao fígado é o recesso sub-hepático. O recesso hepatorrenal (bolsa de Morison) é a extensão postero-superior do recesso sub-hepático, situada entre a parte direita da face visceral do fígado e o rim e a glândula suprarrenal direitos. O recesso hepatorrenal é uma parte da cavidade peritoneal dependente da gravidade em decúbito dorsal; o líquido que drena da bolsa omental flui para esse recesso. O recesso hepatorrenal comunica-se anteriormente com o recesso subfrênico direito. E esse recesso é apenas um espaço virtual, que tem apenas líquido peritoneal suficiente para lubrificar as membranas peritoneais adjacentes. A face diafragmática do fígado é coberta por peritônio visceral, exceto posteriormente na área nua do fígado, onde ele está em contato direto com o diafragma. A área nua é demarcada pela reflexão do peritônio do diafragma para o fígado, como as lâminas anterior (superior) e posterior (inferior) do ligamento coronário. Essas lâminas encontram-se à direita para formar o ligamento triangular direito e divergem para a esquerda a fim de envolver a área nua triangular. A lâmina anterior do ligamento coronário é contínua à esquerda com a lâmina direita do ligamento falciforme, e a lâmina posterior é contínua com a lâmina direita do omento menor. Próximo ao ápice (a extremidade esquerda) do fígado cuneiforme, as lâminas anterior e posterior da parte esquerda do ligamento coronário se encontram para formar o ligamento triangular esquerdo. A veia cava inferior atravessa um profundo sulco da veia cava na área nua do fígado A face visceral do fígado também é coberta por peritônio menos na fossa da vesícula biliar e na porta do fígado – que é uma fissura transversal por onde entram e saem os vasos (veia porta, artéria hepática e vasos linfáticos), o plexo nervoso hepático e os ductos hepáticos que suprem e drenam o fígado. Ao contrário da face diafragmática lisa, a face visceral tem muitas fissuras e impressões resultantes do contato com outros órgãos Duas fissuras sagitais, unidas centralmente pela porta do fígado transversal, formam a letra H na face visceral. A fissura sagital direita é o sulco contínuo formado anteriormente pela fossa da vesícula biliar e posteriormente pelo sulco da veia cava. A fissura umbilical (sagital esquerda) é o sulco contínuo formado anteriormente pela fissura do ligamento redondo e posteriormente pela fissura do ligamento venoso. O ligamento redondo do fígado é o remanescente fibroso da veia umbilical, que levava o sangue oxigenado e rico em nutrientes da placenta para o feto. O ligamento redondo e as pequenas veias para- umbilicais seguem na margem livre do ligamento falciforme. Já o ligamento venoso é o remanescente fibroso do ducto venoso fetal, que desviava sangue da veia umbilical para a veia cava inferior, passando ao largo do fígado. O omento menor, que encerra a tríade portal (ducto colédoco, artéria hepática e veia porta) segue do fígado até a curvatura menor do estômago e os primeiros 2 centímetros da parte superior do duodeno. A margem livre e espessa do omento menor estende-se entre a porta do fígado e o duodeno (o ligamento hepatoduodenal) e envolve as estruturas que atravessam a porta do fígado. E o restante do omento menor, que parece uma lâmina, é o ligamento hepatogástrico, estende-se entre o sulco para o ligamento venoso do fígado e a curvatura menor do estômago. Além das fissuras, as impressões na face visceral (em áreas dela) refletem a relação do fígado com: →Lado direito da face anterior do estômago (áreas gástrica e pilórica) →Parte superior do duodeno (área duodenal) →Omento menor (estende-se até a fissura do ligamento venoso) →Vesícula biliar (fossa da vesícula biliar) →Flexura direita do colo e colo transverso direito (área cólica) →Rim e glândula suprarrenal direitos (áreas renal e suprarrenal) LOBOS ANATÔMICOS DO FÍGADO Externamente, o fígado é dividido em dois lobos anatômicos e dois lobos acessórios pelas reflexões do peritônio a partir de sua superfície, as fissuras formadas em relação a essas reflexões e os vasos que servem ao fígado e à vesícula biliar. Esses “lobos” superficiais não são lobos verdadeiros porque esse termo geralmente é usado em relação às glândulas e têm apenas relação secundária com a arquitetura interna do fígado. O plano essencialmente mediano definido pela inserção do ligamento falciforme e a fissura sagital esquerda separa um lobo hepático direito grande de um lobo hepático esquerdo muito menor. Na face visceral inclinada, as fissuras sagitais direita e esquerda passam de cada lado dos – e a porta do fígado transversal separa – dois lobos acessórios (partes do lobo hepático direito anatômico): que é o lobo quadrado anterior e inferiormente, e o lobo caudado posterior e superiormente. O lobo caudado tem esse nome não por conta da sua posição caudal (não é), mas sim porque muitas vezes ele dá origem a uma “cauda” na forma de um processo papilar alongado. O processo caudado estende-se para a direita, entre a veia cava inferiore a porta do fígado, unindo os lobos caudado e hepático direito SUBDIVISÃO FUNCIONAL DO FÍGADO O fígado é dividido em quatro divisões portais pelos quatro ramos principais da veia porta. Tem-se então as divisões lateral direita, medial direita, medial esquerda e lateral esquerda. As três principais veias hepáticas passam entre essas divisões como as veias intersetoriais. Esses planos intersetoriais também são chamados de fissuras portais. Cada divisão está subdividida em segmentos (geralmente dois) com base no seu suprimento por divisões terciárias das bainhas vasculares biliares. FISSURAS DO FÍGADO O conhecimento das fissuras hepáticas é essencial para o entendimento da cirurgia do fígado. As três principais fissuras (fissura portal principal, fissura portal direita e fissura portal esquerda), que não são visíveis na superfície, seguem através do parênquima hepático e abrigam as três principais veias hepáticas. As três fissuras menores (fissura umbilical, fissura venosa e fissura de Gans) são visíveis como fendas naturais da superfície hepática. FISSURA PORTAL PRINCIPAL A fissura portal principal estende-se da ponta da vesícula biliar até o ponto médio da veia cava inferior e contém a veia hepática intermédia (principal). Divide o fígado em metades direita e esquerda. Os segmentos 5 (V) e 8 (VIII) estão à direita dessa fissura, e o segmento 4 (IV) está à sua esquerda. FISSURA PORTAL ESQUERDA A fissura portal esquerda divide a metade esquerda do fígado em divisões medial (anterior) e lateral (posterior). Estende-se do ponto médio da margem anterior do fígado, entre o ligamento falciforme e o ligamento triangular esquerdo, até o ponto que marca a confluência das veias hepáticas esquerda e intermédia. Contém a veia hepática esquerda e drena o segmento II Separa a divisão anterior esquerda da divisão posterior esquerda: o segmento 3 (III) está anteriormente, e o segmento 2 (II) está posteriormente. FISSURA PORTAL DIREITA A fissura portal direita divide a metade direita do fígado em divisões lateral (posterior) e medial (anterior). O plano da fissura direita é o mais variável entre as fissuras principais, e segue aproximadamente na diagonal através da massa do lobo hepático direito desde a extremidade lateral da margem anterior até a confluência das veias hepáticas esquerda e intermédia. Essa fissura separa a divisão anterior direita à sua esquerda (segmentos 5 (V) e 8 (VIII) da divisão posterior direita à sua direita (segmentos 6 (VI) e 7 (VII)) e contém a veia hepática direita. A fissura direita marca o ponto mais espesso do parênquima hepático, que é habitualmente transecionado durante a ressecção do fígado. FISSURA UMBILICAL A fissura umbilical separa o segmento 3 (III) do segmento 4 (IV) dentro da divisão anterior esquerda e contém o ramo principal da veia hepática esquerda (a veia da fissura umbilical). Ela está destacada pela fixação do ligamento falciforme e, às vezes, está coberta com uma crista de tecido hepático que se estende entre os segmentos: é com frequência avascular e pode ser secionada com segurança com diatermia durante uma cirurgia. Contém a parte umbilical do ramo esquerdo da veia porta, as divisões finais do ducto hepático esquerdo e os ramos da artéria hepática esquerda. A parte umbilical do ramo esquerdo da veia porta é um ponto de referência importante: o acesso a essa veia e a mobilização do ramo esquerdo da veia porta são etapas essenciais da cirurgia do colangio-carcinoma (hilar). O conhecimento da disposição da veia porta, da artéria hepática e do ducto biliar dentro da fissura umbilical também é fundamental na bipartição de um fígado destinado a um receptor adulto e outro infantil, e naquele destinado a um transplante de doador vivo para um receptor infantil. FISSURA VENOSA A fissura venosa é uma continuação da fissura umbilical sob a superfície do fígado e contém o ligamento venoso. Está entre o lobo caudado e o segmento 4 (IV). A continuação mais profunda desse plano corresponde à fissura dorsal. FISSURA DE GANS A fissura de Gans está na face inferior do lobo hepático direito, atrás da fossa da vesícula biliar. Com frequência contém o pedículo portal destinado à divisão posterior direita. Acredita-se que corresponda à fissura direita, já que se relaciona com as divisões do fígado. DIVISÕES E SEGMENTOS DO FÍGADO DIVISÕES As divisões do fígado são compostas de um a três segmentos: divisão lateral direita = segmentos 6 (VI) e 7 (VII); divisão medial direita = segmentos 5 (V) e 8 (VIII); divisão medial esquerda = segmentos 3 (III) e 4 (IV), e parte do 1 (I); divisão lateral esquerda = segmento 2 (II). Em uma visão inferior do fígado, a numeração dos segmentos segue uma espiral de sentido anti-horário com centro na veia porta. Essa numeração começa no segmento 1 (I) e segue até o segmento 6 (VI). Os segmentos 7 (VII) e 8 (VIII), mais craniais, são numerados no sentido horário. SEGMENTO 1 (I) O segmento 1 (I) corresponde ao lobo caudado anatômico e é posterior ao segmento 4 (IV). Sua metade esquerda é imediatamente posterior aos segmentos 2 (II) e 3 (III), e sua metade medial está cercada pelos principais ramos vasculares. As bainhas de Glisson destinadas ao segmento 1 (I) originam-se das bainhas principais direita e esquerda. Então, o segmento recebe independentemente vasos dos ramos direito e esquerdo da veia porta e da artéria hepática, e drena de modo independente para a veia cava inferior por vários ramos pequenos (conhecidos como o grupo inferior). Eles quase sempre têm origem no terço inferior e ocasionalmente no terço médio, mas nunca se originam do terço superior do segmento. Os ductos biliares responsáveis pela drenagem do segmento estão intimamente relacionados com a confluência dos ductos hepáticos direito e esquerdo, tanto que a excisão de tumores do ducto biliar central geralmente exige a remoção do segmento 4 (IV). SEGMENTO II O segmento 2 (II) é póstero-lateral à fissura esquerda. Com frequência, possui apenas uma bainha de Glisson e drena para a veia hepática esquerda. Raras vezes uma veia isolada drena diretamente para a veia cava inferior. SEGMENTO 3 (III) O segmento 3 (III) está entre a fissura umbilical e a fissura esquerda, e é com frequência suprido por uma a três bainhas de Glisson. Drena para a veia hepática esquerda. A veia do ligamento falciforme pode fornecer uma rota de drenagem alternativa para o segmento 3 (III). SEGMENTO 4 (IV) O segmento 4 (IV) está entre a fissura umbilical e a fissura principal, anterior à fissura dorsal e ao segmento 1(I) E é suprido por três a cinco bainhas de Glisson. A maioria das bainhas tem origem na fissura umbilical, e com frequência essas origens estão próximas das origens das bainhas que suprem os segmentos 2 (II) e 3 (III). Ocasionalmente, o segmento 4 (IV) é suprido por ramos do pedículo esquerdo principal. A principal drenagem venosa do segmento segue para a veia hepática intermédia. O segmento pode drenar também para a veia hepática esquerda por meio da veia do ligamento falciforme. SEGMENTO 5 (V) O segmento 5 (V) é o segmento inferior da divisão medial direita e está entre as veias hepáticas intermédia e direita. Seu tamanho é variável, assim como o número de bainhas de Glisson que o suprem. A drenagem venosa segue para as veias hepáticas direita e intermédia. SEGMENTO 6 (VI) O segmento 6 (VI) forma a parte inferior da divisão lateral direita, posterior à fissura portal direita. É com frequência suprido por dois a três ramosda bainha de Glisson posterior direita, mas ocasionalmente a bainha de Glisson associada ao segmento 6 (VI) pode se originar diretamente do pedículo direito. Normalmente, a drenagem venosa segue para a veia hepática direita, mas também pode seguir diretamente para a veia cava inferior através da veia hepática direita inferior. SEGMENTO 7 (VII) O segmento 7 (VII) forma a parte superior da divisão posterior e está atrás da veia hepática direita. As bainhas associadas ao segmento 7 (VII) são com frequência únicas. A drenagem venosa segue para a veia hepática direita. Ocasionalmente, o segmento pode drenar diretamente para a veia cava inferior através da veia hepática intermédia direita. SEGMENTO 8 (VIII) O segmento 8 (VIII) é a parte superior da divisão anterior direita. As bainhas da divisão anterior direita terminam no segmento 8 (VIII) e suprem-no após enviar ramos para o segmento 5 (V). A drenagem venosa segue para as veias hepáticas direita e intermédia. SEGMENTO IX O segmento 9 (IX) é uma subdivisão recente do segmento 1 (I) e corresponde à parte do segmento que é posterior ao segmento 8 (VIII). VASOS SANGUÍNEOS DO FÍGADO O fígado, como os pulmões, tem irrigação dupla (vasos aferentes): uma venosa dominante e uma arterial menor. A veia porta traz 75 a 80% do sangue para o fígado. O sangue portal, que contém aproximadamente 40% mais oxigênios do que o sangue que retorna ao coração pelo circuito sistêmico, sustenta o parênquima hepático (hepatócitos). A veia porta conduz praticamente todos os nutrientes absorvidos pelo sistema digestório para os sinusoides hepáticos. A exceção são os lipídios, que são absorvidos pelo sistema linfático e não passam pelo fígado. A veia porta do fígado, curta e larga, é formada pela união das veias mesentérica superior e esplênica, posteriormente ao colo do pâncreas. Ascende anteriormente à veia cava inferior como parte da tríade portal no ligamento hepatoduodenal. Entre as divisões estão as veias hepáticas direita, intermédia e esquerda, que são intersegmentares em sua distribuição e função, drenando partes dos segmentos adjacentes. As veias hepáticas, formadas pela união das veias coletoras que, por sua vez, drenam as veias centrais do parênquima hepático, abrem-se na veia cava inferior logo abaixo do diafragma. A ligação dessas veias à veia cava inferior ajuda a manter o fígado em posição. O sangue da artéria hepática, que representa apenas 20 a 25% do sangue recebido pelo fígado, é distribuído inicialmente para estruturas não parenquimatosas, sobretudo os ductos biliares intra-hepáticos A artéria hepática, um ramo do tronco celíaco, pode ser dividida em artéria hepática comum, do tronco celíaco até a origem da artéria gastroduodenal, e artéria hepática própria, da origem da artéria gastroduodenal até a bifurcação da artéria hepática própria. Na porta do fígado, ou perto dela, a artéria hepática própria e a veia porta terminam dividindo-se em ramos direito e esquerdo; esses ramos primários suprem as partes direita e esquerda do fígado, respectivamente. Nas partes direita e esquerda do fígado, as ramificações secundárias simultâneas da veia porta e da artéria hepática suprem as divisões medial e lateral das partes direita e esquerda do fígado, com três dos quatro ramos secundários sofrendo ramificações adicionais (terciárias) para suprirem independentemente sete dos oito segmentos hepáticos. VEIA PORTA DO FÍGADO E ANASTOMOSES PORTOSSISTÊMICAS A veia porta do fígado é o principal canal do sistema venoso porta. Forma-se anteriormente à veia cava inferior e posteriormente ao colo do pâncreas (perto do nível da primeira vértebra lombar e do plano transpilórico) pela união das veias mesentérica superior e esplênica. Em aproximadamente um terço dos indivíduos, a veia mesentérica inferior une-se à confluência das veias mesentérica superior e esplênica; portanto, as três veias formam a veia porta. Na maioria das pessoas, a veia mesentérica inferior entra na veia esplênica ou na veia mesentérica superior (40%). Embora seja um grande vaso, a veia porta do fígado segue um trajeto curto (7 a 8 cm), a maior parte do qual está contido no ligamento hepatoduodenal. À medida que se aproxima da porta do fígado, a veia porta divide-se em ramos direito e esquerdo. A veia porta recebe sangue com oxigenação reduzida, mas rico em nutrientes da parte abdominal do sistema digestório, inclusive vesícula biliar, pâncreas e baço, e o conduz ao fígado. Diz-se que há uma direção do fluxo sanguíneo na qual o sangue da veia esplênica, transportando os produtos da decomposição das hemácias no baço, segue principalmente para a parte esquerda do fígado. O sangue da VMS, rico em nutrientes absorvidos no intestino, segue principalmente para a parte direita do fígado. No fígado, seus ramos são distribuídos em um padrão segmentar e terminam em capilares expandidos, os sinusoides venosos do fígado As anastomoses portossistêmicas, nas quais o sistema venoso porta comunica-se com o sistema venoso sistêmico, formam-se na tela submucosa da parte inferior do esôfago, na tela submucosa do canal anal, na região periumbilical e nas faces posteriores (áreas nuas) de vísceras secundariamente retroperitoneais, ou no fígado. Quando a circulação porta através do fígado é reduzida ou obstruída por doença hepática ou compressão física por um tumor, por exemplo, o sangue do sistema digestório ainda pode chegar ao lado direito do coração pela veia cava inferior graças a essas vias colaterais. Essas vias alternativas estão disponíveis porque a veia porta e suas tributárias não têm válvulas; assim, o sangue pode fluir em sentido inverso para a veia cava inferior. No entanto, o volume de sangue forçado pelas vias colaterais pode ser excessivo, resultando em varizes (dilatação anormal das veias), potencialmente fatais, se a obstrução não for contornada cirurgicamente DRENAGEM LINFÁTICA DO FÍGADO O fígado é um importante órgão produtor de linfa, e 25% a 50% da linfa recebida pelo ducto torácico provém do fígado. Os vasos linfáticos do fígado ocorrem como linfáticos superficiais na cápsula fibrosa do fígado subperitoneal (cápsula de Glisson), que forma sua face externa, e como linfáticos profundos no tecido conjuntivo, que acompanham as ramificações da tríade portal e veias hepáticas. A maior parte da linfa é formada nos espaços perissinusoidais (de Disse) e drena para os linfáticos profundos nas tríades portais intralobulares adjacentes. Os vasos linfáticos superficiais das partes anteriores das faces diafragmática e visceral do fígado e os vasos linfáticos profundos que acompanham as tríades portais convergem em direção à porta do fígado. Os vasos linfáticos superficiais drenam para os linfonodos hepáticos dispersos ao longo dos vasos e ductos hepáticos no omento menor. Os vasos linfáticos eferentes dos linfonodos hepáticos drenam para os linfonodos celíacos que, por sua vez, drenam para a cisterna do quilo, um saco dilatado na extremidade inferior do ducto torácico. Os vasos linfáticos superficiais das partes posteriores das faces diafragmática e visceral do fígado drenam para a área nua do fígado. Aqui eles drenam para os linfonodos frênicos, ou unem-se aos vasos linfáticos profundos que acompanharam as veias hepáticas que convergem na veia cava inferior, e seguem com essa grande veia através do diafragma para drenar nos linfonodos mediastinais posteriores.Os vasos linfáticos eferentes desses linfonodos unem-se aos ductos linfático direito e torácico. Alguns vasos linfáticos seguem vias diferentes: →Da face posterior do lobo hepático esquerdo em direção ao hiato esofágico do diafragma para terminarem nos linfonodos gástricos esquerdos →Da face diafragmática central anterior ao longo do ligamento falciforme até os linfonodos paraesternais →Ao longo do ligamento redondo do fígado até o umbigo e linfáticos da parede anterior do abdome. INERVAÇÃO DO FÍGADO Os nervos do fígado são derivados do plexo hepático, que é o maior derivado do plexo celíaco. O plexo hepático acompanha os ramos da artéria hepática e da veia porta até o fígado. Esse plexo é formado por fibras simpáticas do plexo celíaco e fibras parassimpáticas dos troncos vagais anterior e posterior. As fibras nervosas acompanham os vasos e os ductos biliares da tríade portal. Além da vasoconstrição, sua função não é clara. DUCTOS BILIARES Os ductos biliares conduzem bile do fígado para o duodeno. A bile é produzida continuamente pelo fígado, armazenada e concentrada na vesícula biliar, que a libera de modo intermitente quando a gordura entra no duodeno. A bile emulsifica a gordura para que possa ser absorvida na parte distal do intestino. O tecido hepático normal, quando seccionado, é tradicionalmente descrito como um padrão de lóbulos hepáticos hexagonais, quando visto em pequeno aumento. Cada lóbulo tem uma veia central que atravessa seu centro, do qual se irradiam sinusoides (grandes capilares) e lâminas de hepatócitos em direção a um perímetro imaginário extrapolado das tríades portais interlobulares adjacentes (ramos terminais da veia porta e artéria hepática, e ramos iniciais dos ductos biliares). Mesmo que comumente sejam considerados as unidades anatômicas do fígado, os “lóbulos” hepáticos não são entidades estruturais; em vez disso, o padrão lobular é uma consequência fisiológica dos gradientes de pressão e é alterado por doença. Como o ducto biliar não é central, o lóbulo hepático não representa uma unidade funcional como ácinos de outras glândulas. Mas, o lóbulo hepático é um conceito firmemente estabelecido e é útil para fins descritivos. Os hepatócitos secretam bile para os canalículos biliares formados entre eles. Os canalículos drenam para os pequenos ductos biliares interlobulares e depois para os grandes ductos biliares coletores da tríade portal intrahepática, que se fundem para formar os ductos hepáticos direito e esquerdo. Os ductos hepáticos direito e esquerdo drenam as partes direita e esquerda do fígado, respectivamente. E depois de deixar a porta do fígado, esses ductos hepáticos unem-se para formar o ducto hepático comum, que recebe no lado direito o ducto cístico para formar o ducto colédoco (parte da tríade portal extra-hepática do omento menor), que conduz a bile para o duodeno. DUCTO COLÉDOCO O ducto colédoco (antes chamado de ducto biliar comum) forma-se na margem livre do omento menor pela união dos ductos cístico e hepático comum. O comprimento do ducto colédoco varia de 5 a 15 centímetros, dependendo do local onde o ducto cístico se une ao ducto hepático comum. O ducto colédoco desce posteriormente à parte superior do duodeno e situa-se em um sulco na face posterior da cabeça do pâncreas. No lado esquerdo da parte descendente do duodeno, o ducto colédoco entra em contato com o ducto pancreático. Esses ductos seguem obliquamente através da parede dessa parte do duodeno, onde se unem para formar uma dilatação, a ampola hepatopancreática. A extremidade distal da ampola abre-se no duodeno através da papila maior do duodeno. O músculo circular ao redor da extremidade distal do ducto colédoco é mais espesso para formar o músculo esfíncter do ducto colédoco. Quando esse esfíncter contrai, a bile não consegue entrar na ampola e no duodeno; portanto, reflui e segue pelo ducto cístico até a vesícula biliar, onde é concentrada e armazenada. IRRIGAÇÃO ARTERIAL A irrigação arterial do ducto colédoco provém de: →Artéria cística: que irriga a parte proximal do ducto →Artéria hepática direita: que irriga a parte média do ducto →Artéria pancreático-duodenal superior posterior e artéria gastroduodenal: que irrigam a parte retro-duodenal do ducto. DRENAGEM VENOSA A drenagem venosa da parte proximal do ducto colédoco e dos ductos hepáticos geralmente entra diretamente no fígado. A veia pancreático-duodenal superior posterior drena a parte distal do ducto colédoco e esvazia-se na veia porta ou em uma de suas tributárias. VASOS LINFÁTICOS Os vasos linfáticos do ducto colédoco seguem até os linfonodos císticos perto do colo da vesícula biliar, que é o linfonodo do forame omental e os linfonodos hepáticos. Os vasos linfáticos eferentes do ducto colédoco seguem até os linfonodos celíacos VESÍCULA BILIAR A vesícula biliar (7 a 10 cm de comprimento) fica na fossa da vesícula biliar na face visceral do fígado. Essa fossa rasa está situada na junção das partes direita e esquerda do fígado. A relação entre vesícula biliar e duodeno é tão íntima que a parte superior do duodeno no cadáver geralmente é tingida de bile. Como o fígado e a vesícula biliar devem ser rebatidos para cima para expor a vesícula biliar em um acesso cirúrgico anterior (e os atlas costumam representá-la nessa posição), é fácil esquecer que em sua posição natural o corpo da vesícula biliar fica anterior à parte superior do duodeno, e seu colo e o ducto cístico situam-se imediatamente superiores ao duodeno . A vesícula biliar piriforme consegue armazenar até 50 miçiçitros de bile. O peritônio circunda completamente o fundo da vesícula biliar e une seu corpo e colo ao fígado. A face hepática da vesícula biliar fixa-se ao fígado por tecido conjuntivo da cápsula fibrosa do fígado. A vesícula biliar tem três partes: →Fundo: a extremidade larga e arredondada do órgão que geralmente se projeta a partir da margem inferior do fígado na extremidade da nona cartilagem costal direita na linha médio-clavicular →Corpo: parte principal, que toca a face visceral do fígado, o colo transverso e a parte superior do duodeno →Colo: extremidade estreita e afilada, oposta ao fundo e voltada para a porta do fígado; normalmente faz uma curva em forma de S e se une ao ducto cístico. O ducto cístico (3 a 4 cm de comprimento) une o colo da vesícula biliar ao ducto hepático comum. A túnica mucosa do colo forma a prega espiral (válvula espiral). A prega espiral ajuda a manter o ducto cístico aberto; então, a bile pode ser facilmente desviada para a vesícula biliar quando a extremidade distal do ducto colédoco é fechada pelo músculo esfíncter do ducto colédoco ou pela músculo esfíncter da ampola hepato-pancreática, ou a bile pode passar para o duodeno quando a vesícula biliar se contrai. A prega espiral também oferece resistência adicional ao esvaziamento súbito de bile quando os esfíncteres estão fechados e há aumento súbito da pressão intra-abdominal, como ao espirrar ou tossir. O ducto cístico segue entre as lâminas do omento menor, geralmente paralelo ao ducto hepático comum, ao qual se une para formar o ducto colédoco. IRRIGAÇÃO ARTERIAL A irrigação arterial da vesícula biliar e do ducto cístico provém principalmente da artéria cística. A artéria cística frequentemente origina-se da artéria hepática direita no triângulo entre o ducto hepático comum, o ductocístico e a face visceral do fígado, o trígono cisto-hepático (triângulo de Calot). Há variações na origem e no trajeto da artéria cística DRENAGEM VENOSA A drenagem venosa do colo da vesícula biliar e do ducto cístico flui pelas veias císticas. Essas veias pequenas, em geral múltiplas, entram diretamente no fígado ou drenam através da veia porta para o fígado, depois de se unirem às veias que drenam os ductos hepáticos e a parte proximal do ducto colédoco. As veias do fundo e do corpo da vesícula biliar seguem diretamente até a face visceral do fígado e drenam para os sinusoides hepáticos. Como essa drenagem se faz de um leito capilar (sinusoidal) para outro, constitui um sistema porta adicional (paralelo). DRENAGEM LINFÁTICA A drenagem linfática da vesícula biliar se faz para os linfonodos hepáticos, frequentemente através dos linfonodos císticos localizados perto do colo da vesícula biliar. Os vasos linfáticos eferentes desses linfonodos seguem até os linfonodos celíacos. INERVAÇÃO Os nervos para a vesícula biliar e para o ducto cístico seguem ao longo da artéria cística a partir do plexo nervoso celíaco (fibras [de dor] aferentes viscerais e simpáticas) e do nervo vago (parassimpático). O nervo frênico direito (fibras aferentes somáticas) carreiam os impulsos de dor causados pela inflamação da vesícula biliar. A estimulação parassimpática causa contrações da vesícula biliar e relaxamento dos esfíncteres na ampola hepatopancreática. Mas, essas respostas geralmente são estimuladas pelo hormônio colecistocinina (CCK), produzido pelas paredes duodenais (em resposta à chegada de alimentos gordurosos) e que circula na corrente sanguínea. PÂNCREAS O pâncreas é uma glândula acessória da digestão, alongada, retroperitoneal, situada sobrejacente e transversalmente aos corpos da primeira e segunda vértebras lombar (no nível do plano transpilórico) na parede posterior do abdome. Ele fica atrás do estômago, entre o duodeno à direita e o baço à esquerda. O mesocolo transverso está fixado à sua margem anterior O pâncreas produz: →Secreção exócrina (suco pancreático produzido pelas células acinares) que é liberada no duodeno através do ducto pancreático e do ducto acessório →Secreções endócrinas (glucagon e insulina, produzidos pelas ilhotas pancreáticas [de Langerhans]) que passam para o sangue O pâncreas é dividido em quatro partes: cabeça, colo, corpo e cauda. A cabeça do pâncreas é a parte expandida da glândula que é circundada pela curvatura em forma de C do duodeno à direita dos vasos mesentéricos superiores logo abaixo do plano transpilórico. Está firmemente fixada à face medial das partes descendente e horizontal do duodeno. O processo uncinado, que é uma projeção da parte inferior da cabeça do pâncreas, estende-se medialmente para a esquerda, posteriormente à artéria mesentérica superior. A cabeça do pâncreas está apoiada posteriormente na veia cava inferior, artéria e veia renais direitas, e veia renal esquerda. O ducto colédoco em seu trajeto para se abrir na parte descendente do duodeno ele situa- se em um sulco na face póstero-superior da cabeça ou está inserido em sua substância O colo do pâncreas é curto (1,5 a 2 cm) e está situado sobre os vasos mesentéricos superiores, que deixam um sulco em sua face posterior. A face anterior do colo, coberta por peritônio, está situada adjacente ao piloro do estômago. A veia mesentérica superior une-se à veia esplênica posteriormente ao colo para formar a veia porta O corpo do pâncreas é o prosseguimento do colo e situa-se à esquerda dos vasos mesentéricos superiores, passando sobre a aorta e a segunda vértebra lombar, logo acima do plano transpilórico e posteriormente à bolsa omental. A face anterior do corpo do pâncreas é coberta por peritônio, e está situada no assoalho da bolsa omental e forma parte do leito do estômago. A face posterior do corpo do pâncreas não tem peritônio e está em contato com a aorta, artéria mesentérica superior, glândula suprarrenal esquerda, rim esquerdo e vasos renais esquerdos. A cauda do pâncreas situa-se anteriormente ao rim esquerdo, onde está intimamente relacionada ao hilo esplênico e à flexura esquerda do colo. A cauda é relativamente móvel e passa entre as camadas do ligamento esplenorrenal junto com os vasos esplênicos O ducto pancreático começa na cauda do pâncreas e atravessa o parênquima da glândula até a cabeça do pâncreas: aí ele se volta inferiormente e tem íntima relação com o ducto colédoco. O ducto pancreático e o ducto colédoco geralmente se unem para formar a ampola hepato-pancreática (de Vater), que se abre na parte descendente do duodeno, no cume da papila maior do duodeno. Em pelo menos 25% das pessoas, os ductos se abrem no duodeno separadamente. O músculo esfíncter do ducto pancreático (ao redor da parte terminal do ducto pancreático), o músculo esfíncter do ducto colédoco (esfíncter do colédoco – ao redor da extremidade do ducto colédoco) e o músculo esfíncter da ampola hepato-pancreática (de Oddi), ao redor da ampola hepato- pancreática, são esfíncteres de músculo liso que impedem o refluxo das secreções digestivas e do conteúdo duodenal. Desses apenas o músculo esfíncter do ducto colédoco tem participação significativa no controle do fluxo da bile para o duodeno. O ducto pancreático acessório abre-se no duodeno no cume da papila menor do duodeno. Em geral, o ducto pancreático acessório comunica com o ducto pancreático. E em alguns casos, o ducto pancreático é menor do que o ducto pancreático acessório e pode não haver conexão entre os dois. Nesses casos, o ducto pancreático acessório conduz a maior parte do suco pancreático IRRIGAÇÃO ARTERIAL A irrigação arterial do pâncreas provém principalmente dos ramos da artéria esplênica, que é muito tortuosa. Várias artérias pancreáticas formam diversos arcos com ramos pancreáticos das artérias gastroduodenal e mesentérica superior. Até 10 ramos da artéria esplênica irrigam o corpo e a cauda do pâncreas. As artérias pancreático-duodenais superiores anterior e posterior, ramos da artéria gastroduodenal, e as artérias pancreático-duodenais inferiores anterior e posterior, ramos da artéria mesentérica superior, formam arcos anteriores e posteriores que irrigam a cabeça do pâncreas. DRENAGEM VENOSA A drenagem venosa do pâncreas é feita por meio das veias pancreáticas correspondentes, tributárias das partes esplênica e mesentérica superior da veia porta; a maioria delas drena para a veia esplênica VASOS LINFÁTICOS Os vasos linfáticos pancreáticos acompanham os vasos sanguíneos. A maioria dos vasos termina nos linfonodos pancreático-esplênicos, situados ao longo da artéria esplênica. Alguns vasos terminam nos linfonodos pilóricos. Os vasos eferentes desses linfonodos drenam para os linfonodos mesentéricos superiores ou para os linfonodos celíacos através dos linfonodos hepáticos. NERVOS Os nervos do pâncreas são derivados dos nervos vago e esplâncnico abdominopélvico que atravessam o diafragma. As fibras parassimpáticas e simpáticas chegam ao pâncreas ao longo das artérias do plexo celíaco e do plexo mesentérico superior. Além das fibras simpáticas que seguem para os vasos sanguíneos, fibras simpáticas e parassimpáticas são distribuídas para as células acinares e ilhotas pancreáticas. As fibras parassimpáticas são secretomotoras, mas a secreção pancreática é mediada principalmente por secretina e colecistocinina, hormônios secretados pelas células epiteliais do duodeno e parte proximal da túnica mucosa intestinal sob o estímulo do conteúdo ácido do estômago.