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1 Larissa Maria Miranda Santana MEDICINA 8º período GASTROENTEROLOGIA INTRODUÇÃO À HEPATOLOGIA Lóbulos hepáticos são a unidade morfofuncional do fígado, sendo compostos por : parede dos hepatócitos, sinusóides, canalículo biliar, célula endotelial sinusóide e célula de Kupffer. Espaço portal formado pelo ramo da artéria hepática, ramo da veia porta (vem da circulação entérica) e ducto biliar. Os sinusóides vão para a veia centrolobular, sendo cercados pelos hepatócitos. A veia centrolobular contribui para formação das veias supra hepáticas. A circulação hepática possui fenestras. ➢ Circulação porta ➢ Funções hepáticas -Metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas (incluindo armazenamento e síntese) Albumina Lipoproteínas Fatores de coagulação Proteína C e proteína S (tem função anticoagulante) Ou seja pacientes com problemas hepáticos podem ter sangramentos até formação de trombose. -Armazenamento de vitaminas (K e D) e metais (Fe) -Degradação de hormônios -Inativação, ativação e excreção de drogas e toxinas Prednisona -----→ Prednisolona Amônia ------→ Ureia - Produção da bile (excreção de colesterol e bilirrubina) ➢ Exames laboratoriais 01. Enzimas hepáticas são transaminases-TGO, TGP, fosfatase e gama GT. Elas estão elevadas quando ocorrer lesão hepática, esta pode ser : - Lesão hepatocelular (transaminases >300U/L) ALT ou TGP: mais específica do fígado AST ou TGO: encontrada em outros locais (miocárdio, músculos, hemácias, rins e cérebro) Valor de referência: até 40U. - Colestase (fosfatase 4X o valor limite) Fosfatase alcalina aumentada em situações de colestase e infiltração hepática (TB, neoplasia e amiloidose), além de doenças ósseas. Gama GT : sempre solicitada em conjunto com a FA, pode estar aumentada no etilismo, DM e obesidade. 02. Função hepática - TAP e INR: medem coagulação sanguínea (via extrínseca- fatores III e VII (menor meia vida)) Marcador mais precoce de comprometimento de função hepática. Podendo estar alterado em coagulopatias. Valor de referência AE >70% INR<1,3 -Bilirrubina total e frações Elevação da bilirrubina direta em doenças hepatobiliares -Albumina Pode estar diminuída em outras condições; desnutrição proteica, processos inflamatórios e síndrome nefrótica. Valor de referência >3,5-4,0 Colúria? Acolia fecal? Sintomas associados ?Prurido? Coloração amarelada de pele e mucosa decorrente da elevação da bilirrubina no plasma e tecidos. ➢ Metabolismo da bilirrubina Oriunda da degradação das hemácias, grupamento heme, forma a bilirrubina indireta (livre), ao entrar no fígado a enzima glicuroniltransferase conjuga a bilirrubina (direta- hidrossolúvel). Quando ela se torna direta ela fica mais fácil de ser excretada pelos hepatócitos no intestino, onde sofre ação bacteriana formando o urobilinogênio. Este em parte é absorvido pelos rins onde transforma-se em urobilina e a outra parte é oxidada em estercobilinogênio e estercobilina. Principais locais de acometimento para icterícia: Hemácias -> Fígado -> Vias biliares ➢ Etiologia Quando o hepatócito recebe a bilirrubina, ele realiza 3 processos : captação, conjugação e excretar (gasta ATP). Isso justifica o motivo de lesões hepáticas serem devido a BD, pois o hepatócito mesmo lesado consegue captar e conjugar, mas devido o gasto de ATP na fase de excreção, ele não finaliza. Nas cirroses avançadas, o processo é interrompido completo. 2 Larissa Maria Miranda Santana MEDICINA 8º período GASTROENTEROLOGIA ➢ Abordagem diagnóstica 1. ANAMNESE - Caracterizar a queixa - Coloração da urina – colúria ou acolia fecal -> indicativo de aumento de BD. - Prurido: sugestão de colestase, quando ocorre uma obstrução biliar, o fígado não consegue excretar a bilirrubina pois ela refurgita pelos hepatócitos e cai na corrente sanguínea, além da Bilirrubina os sais biliares seguem o mesmo caminho. Os sais biliares impregnam na pele e causam o prurido. - Perda ponderal : pode pensar em neoplasia tb -Febre e dor abdominal : hepatite, colangite -Uso de medicações, comorbidades, cirurgias -Avaliar possibilidades de hepatites virais (B e C) ou por álcool 2. EXAME FÍSICO - Sinais de anemia, sangramentos, xantelasma e hepatopatia crônica -Tipo de icterícia : flavínica verdínica, rubínica ; grau de icterícia -Palpação de fígado e ponto cístico (hepatomegalia dolorosa, sinal de Courvoisier, Murphy) -Avaliar sempre a esclera, é a primeira mucosa a ser acometida! - Pesquisa de macicez móvel e piparote 01. Icterícia flavínica : pouco aparente, tonalidade mais amarelada. 02. Icterícia verdínica: típica das colestases, mais forte e de tom mais esverdeado. 03. Icterícia rubínica: cor mais alaranjada, associando-se com sufusão hemorrágica, típica da leptospirose. O USG avalia a via biliar, analisando se há obstrução como motivo de icterícia. HEPATITES AGUDAS É a inflamação e destruição de hepatócitos que dura menos de 6 meses ou com AST ou ALT>300UI. ➢ Causas Viral (A,B,C,D,E) Alcoólica Tóxica e medicamentosa (>8g de paracetamol) Isquêmica – fígado de choque , devido hipotensão severa Congestiva (IVD, pericardite constrictiva) Raras: autoimune, doença de Wilson ➢ Padrão de acometimento histológico Necrose periportal e em ponte: viral, por colestase Necrose centrolobular : alcoolica, isquêmica e congestiva ➢ Diagnóstico *Quadro clínico + aumento das transaminases (>300) + icterícia com predomínio de bilirrubina direta A presença de icterícia não é obrigatória, o que acontece é que a suspeita geralmente surge a partir dela. TAP e INR, Ur e Cr podem indicar internações se alterados, indicam diminuição da função hepática e síndrome hepatorrenal . *USG de abdome superior: descartar diagnósticos diferenciais (colestase extra-hepático e abscesso hepático). O fígado pode se mostrar aumentado e heterogêneo. *Avaliação da causa: Sorologias virais (Anti-HAV IgM, Hbs Ag, Anti-HBc IgM, Anti-HCV. Avaliar uso de medicações ou toxinas, insuficiência ventricular direita e choque. - Ceruloplasmina : doença autoimune e doença de Wilson - Biópsoa hepática As transaminases não são prognósticas ! Função hepática e renal sim ! Na coledocolitíase, ocorre regurgitação da bile, podendo levar a uma hepatite colestática. Aumento das transaminases 3 Larissa Maria Miranda Santana MEDICINA 8º período GASTROENTEROLOGIA nos primeiros dias, por mais que seja colestática. No decorrer do tempo, ocorre aumento da fosfatase e da gama GT. ----→ Hepatites virais: transaminases >1000 U/L , com predomínio do ALT>AST. -----→ Hepatite alcoólica : AST >2x ALT Valores baixos (até 400UI/L) ----→ Hepatite isquêmica : figado em choque Grandes elevações de transaminases (>3000 U/L) AST>ALT. HEPATITES VIRAIS ➢ Virologia DNA : Hepatite B | As demais são de RNA ➢ Epidemiologia Todos com queda da prevalência Região norte : Hep A, B, D Região Nordeste : Hep A Região Sul e Sudeste: Hep C Hepatite E os casos são isolados. A hepatite D precisa da hepatite B para ocorrer. ➢ Transmissão Fecal oral : Hepatite A e E Sexual, vertical e percutâneo: Hepatite B (mais transmissível), D e C (forma mais comum é a percutânea) ➢ Quadro clínico Pode haver 3 fases- o paciente pode pular a ictérica : 1. Prodrômica: sintomas inespecíficos e de tempo variável, hiporexia, astenia, febre, quadro gripal, náuseas, vômitos e desconforto em HCD. 2. Ictérica: Associado a colúria, acolia fecal e piora dos sintomas GI. Pode estar ausente em algumas causas Pode haver hepatomegalia dolorosa 3. Convalescência: melhora clínica lenta e progressiva Geralmente quando a causa é autolimitada ou o agente agressor é retirado/tratado. Nos casos de hepatite crônica não há fase de convalescência. ➢ Diagnóstico- Hepatite A: Anti-HAV IgM -Hepatite B: Anti-HBc IgM e HSsAG -Hepatite C: Anti-HCV - Hepatite D: Anti-HDV IgM + e HBsAg + - Hepatite E: Anti-HEV ➢ Tratamento Suporte nutricional: hipercalórica, pobre em gordura Sintomáticos (antieméticos, analgésicos, antitérmicos) Repouso relativo e evitar álcool/hepatotoxinas Deve tratar apenas Hepatite B fulminante e Hepatite C todos os pacientes devido a taxa de cronificação. TODAS AS HEPATITES VIRAIS SÃO DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA! PERGUNTINHAS : -Qual vírus mais causa hepatite colestática ? Hepatite A -Quais podem causar hepatite fulminante ? Hepatite B>A Hepatite D na superinfecção Hepatite E nas gestantes -Quais podem causar hepatite recorrente? Um paciente que não se cura, ele apresenta outro sintoma de hepatite antes de curar da outra (6m) Hepatite A, B e C -Quais podem cronificar? Todas menos a A, com a C na maioria. -Quais podem causar fenômenos autoimunes? Hepatite B: poliartrite, glomerulonefrite, urticária, PAN Hepatite C: crioglobulinemia, líquen plano, glomerulonefrite Hepatite B ➢ Marcadores sorológicos HBsAg: primeiro marcador a surgir. Alta sensibilidade Se + tem o vírus, se – pode ter ou não. Anti-HBc IgM E IgM e IgG: surgem no início dos sintomas Se +, teve ou está tendo contato com o vírus Se -, nunca teve contato com o vírus. Anti- HBs : contra o HBaAg Ele só + quando paciente foi curado ou vacinado. HBeAg e Anti-Hbe : marcadores de replicação/ausência de replicação, respectivamente. -Situações especiais: *HBsAg e Anti-HSB + : erro laboratorial, mutante por escape (vírus que sofrem alterações do HBsAg), infecção por diferentes tipos de HBsAg. *Mutações na região pré-core : falha na expressão do HBeAg, suspeitada quando ocorre exacerbações da hepatite B crônica ( HBsAG +, HBeAg- e Anti-HBe + com piora de transaminase). O risco de cronificação é maior quanto menor for a idade. Quanto maior for a sintomatologia do paciente, indica que maior foi a resposta imune do organismo. Tratamento específico: nas formas graves (forma fulminante) Uso de tenofovir e entecavir - Profilaxia: Pré exposição : vacina Pós exposição : vacina + imunoglobulina hiperimune - Prevenção de transmissão vertical -Acidente com material perfurocortante suspeito ou confirmado para Hepatite B 4 Larissa Maria Miranda Santana MEDICINA 8º período GASTROENTEROLOGIA - Comunicantes sexuais de casos agudos -Vítimas de abuso sexual -Imunodeprimidos (independente do status vacinal) Hepatite A Necessário isolamento por 14 dias após a icterícia Vacina aos 15 meses de idade e grupos de risco Profilaxia pós exposição: imunoglobulina humana em até 2 semanas. <1 ano : hepatopatas e imunodeprimidos com Anti- HAV IgG negativo Hepatite C Até 80% são assintomáticos, o tratamento objetiva prevenir a cronificação . Usa interferon convencional + ribavarina Hepatite D Pode ocorrer, tem que haver o HBV. Se o paciente tiver as duas simultaneamente chama-se de coinfecção, caso o paciente esteja com o vírus da hepatite B e só depois adquira o da hepatite D chama-se de superinfecção. HEPATITE ÁLCOOLICA Lesão imunomediada do fígado pelo consumo de álcool. O álcool desencadeia uma resposta inflamatória sistêmica, atingindo principalmente o fígado. Quando suspeitar ? ➢ Paciente etilista crônico, pós libação alcoólica ➢ Desenvolve pródromo que evoluem para icterícia ➢ Pode haver ascite, sangramento digestivo baixo por varizes de esôfago. ➢ AST>ALT com valores baixos (<400) ➢ Reação leucemóide (leucócitos >20000/mm), plaquetopenia. Prognóstico : índice de função discriminante de Maddrey - Calculada pelo TAP e BT - IFD>32 pior prognóstico (mortalidade de 50% em 6 meses) O tratamento baseia-se na abstinência alcóolica : - Tratar síndrome de abstinência (Diazepam) -Reposição de vitaminas do complexo B (tiamina) - Prednisolona 40mg/dia 4 semanas se o paciente tiver score >32, avaliar escore de Lille após 7 dias. Opção é a pentoxifilina. -Suporte hemodinâmico e ventilatório -Profilaxia úlcera de estresse (IBP) -Nutricional HEPATITE AUTOIMUNE ➢ Agressão autoimune crônica aos hepatócitos ➢ Formas clínicas : Hepatite aguda + artralgias+astenia+ autoimunidade Hepatite fulminante Hepatite crônica ➢ Condições autoimunes associadas em alguns casos ➢ Associada a hipergamaglobulinemia 01. TIPO 1/ CLÁSSICA Mais comum, picos de incidência: mulheres jovens e próximas a menopausa. Anticorpos positivos são: FAN e antimúsculo liso 02. TIPO 2 Mais grave Crianças do sexo feminino, com boa resposta aos corticoides (IIa); e homens mais velhos com hepatite C crônica, com boa resposta ao interferon. Anticorpo positivo : Anti-LKM ➢ Quando suspeitar? Mulheres com síndrome hepatocelular e sorologias virais negativas, sem consumo de álcool ou uso de medicações. ➢ Diagnóstico Baseado em critérios clínicos, bioquímicos, autoanticorpos e histopatológicos de exclusão de outros diagnósticos. Aspectos histológicos: hepatite de interface, formação de rosetas hepatocitárias e infiltração plasmocitária. Não há achados patognomônico ➢ Tratamento Corticoides, depois muda para azatriopina. Transplante hepático ➔ Hepatite fulminante Surgimento de sinais de insuficiência hepática grave, incluindo INR>1,5 e encefalopatia hepática em até 8 semanas a partir do início dos sintomas. Bilirrubinas em ascensão e transaminases em queda; sinal de mal prognóstico. Sinal de falha hepática : sangramentos, flapping, IRA Oligúrica e hipoglicemia. Causas : intoxicação por paracetamol, vírus, alcóolica, autoimune, doença de Wilson, envenenamento. Tratamento consiste em suporte intensivo e transplante hepático.
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