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Farmacologi� d� SNC O SNC é constituído pelo encéfalo e pela medula espinal e é responsável pela integração da informação sensorial e geração de saída motora e outros comportamentos necessários para interagir com sucesso com o ambiente e aprimorar a sobrevivência da espécie. As membranas dos neurônios contêm dois tipos de canais definidos com base nos mecanismos que controlam os seus portões (abertura e fechamento): os canais regulados por voltagem e os canais regulados por ligantes. Os neurotransmissores exercem seus efeitos sobre os neurônios por sua ligação a duas classes distintas de receptores. A primeira classe é designada como canais regulados por ligantes ou receptores ionotrópicos. Esses receptores consistem em múltiplas subunidades, e a ligação do neurotransmissor ligante abre diretamente o canal, que constitui uma parte integrante do complexo do receptor. Esses canais são insensíveis ou apenas fracamente sensíveis ao potencial de membrana. A ativação desses canais costuma resultar em uma breve abertura (de alguns milissegundos até dezenas de milissegundos) do canal. Os canais regulados por ligantes são responsáveis pela transmissão sináptica rápida típica das vias hierárquicas do SNC. A segunda classe de receptor de neurotransmissores é designada como receptores metabotrópicos. Trata-se de receptores acoplados à proteína G, que atravessam sete vezes a membrana. A ligação do neurotransmissor a esse tipo de receptor não resulta em regulação direta de um canal. Na verdade, a ligação ao receptor envolve uma proteína G, resultando na produção de segundos mensageiros que medeiam cascatas de sinalização intracelulares. Nos neurônios, a ativação dos receptores metabotrópicos de neurotransmissores frequentemente leva à modulação de canais regulados por voltagem. Essas interações podem ocorrer inteiramente dentro da membrana e são designadas como vias delimitadas pela membrana. Nesse caso, a proteína G (frequentemente a subunidade βγ) interage diretamente com o canal iônico regulado por voltagem. Em geral, dois tipos de canais iônicos regulados por voltagem constituem os alvos dessa forma de sinalização: os canais de cálcio e os canais de potássio. Quando as proteínas G interagem com os canais de cálcio, elas inibem a função do canal. Esse mecanismo é responsável pela inibição da liberação do neurotransmissor que ocorre quando os receptores metabotrópicos pré-sinápticos são ativados. Em contrapartida, quando esses receptores são pós-sinápticos, eles ativam os canais de potássio (causam sua abertura), resultando em inibição pós-sináptica lenta. Os receptores metabotrópicos também podem modular os canais regulados por voltagem de maneira menos direta, pela geração de segundos mensageiros difusíveis. Um exemplo clássico desse tipo de ação é fornecido pelo receptor β-adrenérgico, que gera AMP cíclico (AMPc) pela ativação da adenililciclase. OBS: Enquanto as ações delimitadas pela membrana ocorrem dentro de microdomínios na membrana, os efeitos mediados pelos segundos mensageiros podem ocorrer em distâncias consideráveis. Por fim, uma importante consequência da participação das proteínas G na sinalização do receptor é o fato de que, diferentemente do efeito breve dos receptores ionotrópicos, os efeitos da ativação dos receptores metabotrópicos podem durar dezenas de segundos até minutos. Os receptores metabotrópicos predominam nos sistemas neuronais difusos do SNC. A comunicação entre neurônios do SNC ocorre por meio de sinapses químicas na maioria dos casos. (Alguns exemplos de acoplamento elétrico entre neurônios foram documentados, e esse acoplamento pode desempenhar uma função na sincronização da descarga neuronal. Entretanto, é improvável que essas sinapses elétricas constituam um importante local de ação de fármacos.) Quando uma via excitatória é estimulada, registra-se uma pequena despolarização ou potencial excitatório pós-sináptico (PEPS). Esse potencial é causado pela ação do transmissor excitatório sobre um receptor ionotrópico, causando um aumento da permeabilidade a cátions. À medida que sinapses excitatórias adicionais são ativadas, há uma soma graduada dos PEPS para aumentar o tamanho da despolarização. Quando um número suficiente de fibras excitatórias é ativado, o PEPS despolariza a célula pós-sináptica até o limiar, ocorrendo a geração de um potencial de ação tudo ou nada. De modo alternativo, se houver disparo repetitivo de uma entrada excitatória, a soma temporal dos PEPS também pode alcançar o limiar do potencial de ação. Quando uma via inibitória é estimulada, a membrana pós-sináptica é hiperpolarizada, devido à abertura seletiva dos canais de cloreto, produzindo um potencial inibitório pós-sináptico (PIPS). Entretanto, tendo em vista que o potencial de equilíbrio para o cloreto é apenas ligeiramente mais negativo do que o potencial de repouso, a hiperpolarização é pequena e só contribui modestamente para a ação inibitória. A abertura do canal de cloreto durante o PIPS provoca “vazamento” no neurônio, de modo que é mais difícil alcançar mudanças no potencial de membrana. Esse efeito de desvio diminui a mudança no potencial de membrana durante o PEPS. Em consequência, um PEPS que evocou um potencial de ação em condições de repouso não consegue evocar um potencial de ação durante o PIPS. Um segundo tipo de inibição é a inibição pré-sináptica. Foi descrita pela primeira vez em fibras sensoriais que entram na medula espinal, onde os terminais sinápticos excitatórios recebem sinapses denominadas sinapses axoaxônicas. Quando ativadas, as sinapses axoaxônicas reduzem a quantidade de transmissor liberado dos terminais das fibras sensoriais. É interessante observar a presença de receptores inibitórios pré-sinápticos em quase todos os terminais pré-sinápticos no cérebro, embora as sinapses axoaxônicas pareçam estar restritas à medula espinal. No cérebro, o transmissor pode sair da sinapse e ativar receptores pré-sinápticos, seja na mesma sinapse (autorreceptor) ou em sinapses vizinhas. Locais de ação dos fármacos: Praticamente todos os fármacos que atuam no SNC produzem seus efeitos ao modificar alguma etapa da transmissão sináptica química. Os fármacos que atuam na síntese, no armazenamento, no metabolismo e na liberação de neurotransmissores estão incluídos na categoria pré-sináptica. A transmissão sináptica pode ser deprimida pelo bloqueio da síntese ou do armazenamento do transmissor. Por exemplo, a reserpina causa depleção das sinapses monoamínicas de transmissores ao interferir no armazenamento intracelular. O bloqueio do catabolismo do transmissor no interior do terminal nervoso pode aumentar as concentrações do transmissor, e foi relatado que aumenta a quantidade de transmissor liberada por impulso. Os fármacos também podem alterar a liberação dos transmissores. A anfetamina, um estimulante, induz a liberação de catecolaminas das sinapses adrenérgicas. Uma vez liberado na fenda sináptica, a ação do transmissor termina em decorrência de sua captação ou degradação. No caso da maioria dos neurotransmissores, existem mecanismos de captação no terminal sináptico, bem como na neuróglia circundante. Por exemplo, a cocaína bloqueia a captação das catecolaminas nas sinapses adrenérgicas e, portanto, potencializa a ação dessas aminas. Entretanto, a acetilcolina é inativada por meio de degradação enzimática, e não pela sua recaptação. As anticolinesterases bloqueiam a degradação da acetilcolina e, portanto, prolongam a sua ação. Na região pós-sináptica, o receptor do transmissor proporciona o principal local de ação dos fármacos. Os fármacos podem atuar como agonistas do neurotransmissor, como os opioides, que reproduzem a ação da encefalina, ou podem bloquear a função do receptor. O antagonismo dos receptores constitui um mecanismo de ação comum dos fármacos do SNC. Um exemplo é o bloqueio do receptor de glicina, um transmissor inibitório, pela estricnina. Esse bloqueio, que é subjacente à ação convulsivante da estricnina, ilustra como o bloqueio dos processosinibitórios resulta em excitação. Os fármacos também podem atuar diretamente sobre o canal iônico dos receptores ionotrópicos. Por exemplo, o anestésico cetamina bloqueia o subtipo NMDA de receptores ionotrópicos de glutamato por meio de sua ligação ao poro do canal iônico. No caso dos receptores metabotrópicos, os fármacos podem atuar em qualquer uma das etapas distais ao receptor. Talvez o melhor exemplo seja fornecido pelas metilxantinas, que são capazes de modificar as respostas do neurotransmissor mediadas pelo segundo mensageiro, o AMPc. Em altas concentrações, as metilxantinas produzem elevação dos níveis de AMPc ao bloquear o seu metabolismo, prolongando, assim, a sua ação. De acordo com o ponto de vista tradicional, a sinapse funciona como uma válvula, transmitindo a informação em uma única direção. Entretanto, sabe-se hoje que a sinapse pode gerar sinais que retroalimentam o terminal pré-sináptico, modificando a liberação do transmissor. Os endocanabinoides representam o melhor exemplo documentado dessa sinalização retrógrada. A atividade pós-sináptica leva à síntese e à liberação de endocanabinoides que, em seguida, ligam-se aos receptores no terminal pré-sináptico. ORGANIZAÇÃO CELULAR DO CÉREBRO: Sistemas hierárquicos: Os sistemas hierárquicos incluem todas as vias diretamente envolvidas na percepção sensorial e no controle motor. Em geral, essas vias são claramente delineadas, sendo compostas de grandes fibras mielinizadas, que frequentemente podem conduzir potenciais de ação em uma velocidade de mais de 50 m/s. A informação costuma ser fásica e ocorre em salvas de potenciais de ação. Nos sistemas sensoriais, a informação é processada de modo sequencial por integrações sucessivas em cada núcleo de relé em seu trajeto para o córtex. A ocorrência de uma lesão em qualquer ligação incapacita o sistema. Dentro de cada núcleo e no córtex, existem dois tipos de células: os neurônios de relé ou de projeção e os neurônios de circuito local. Os neurônios de projeção formam as vias de interconexão que transmitem sinais ao longo de grandes distâncias. Os corpos celulares desses neurônios são relativamente grandes e seus axônios podem se projetar por grandes distâncias, mas também emitem pequenos colaterais que fazem sinapse em interneurônios locais. Esses neurônios são excitatórios e suas influências sinápticas, que envolvem receptores ionotrópicos, são de duração muito curta. O transmissor excitatório liberado dessas células é, na maioria dos casos, o glutamato. Os neurônios de circuito local são em geral menores que os neurônios de projeção, e seus axônios ramificam-se na proximidade imediata do corpo celular. Esses neurônios são, em sua maioria, inibitórios, e liberam GABA ou glicina. Fazem sinapse principalmente no corpo celular dos neurônios de projeção, mas também podem fazer sinapse nos dendritos dos neurônios de projeção, bem como entre si. Os dois tipos comuns de vias para esses neurônios incluem as vias de retroalimentação recorrentes e as vias de anteroalimentação. Uma classe especial de neurônios de circuito local na medula espinal forma sinapses axoaxônicas nos terminais dos axônios sensitivos. Sistemas neuronais inespecíficos ou difusos: Os sistemas neuronais que contêm muitos dos outros neurotransmissores, incluindo as monoaminas e a acetilcolina, diferem de várias maneiras fundamentais dos sistemas hierárquicos. Esses neurotransmissores são produzidos apenas por um número limitado de neurônios, cujos corpos celulares estão localizados em pequenos núcleos distintos, frequentemente no tronco encefálico. Como os axônios desses neurônios de projeção difusa são finos e não mielinizados, a sua condução é muito lenta, de cerca de 0,5 m/s. Os axônios ramificam-se repetidamente e são muito divergentes. Ramificações do mesmo neurônio podem inervar várias partes funcionalmente diferente do SNC, fazendo sinapse em neurônios dentro dos sistemas hierárquicos e modulando-os. No neocórtex, essas fibras exibem uma organização tangencial e, portanto, podem influenciar grandes áreas do córtex. Além disso, os neurotransmissores utilizados por sistemas neuronais difusos, incluindo a norepinefrina, atuam, em sua maioria, predominantemente nos receptores metabotrópicos e, portanto, iniciam efeitos sinápticos de longa duração. Com base nessas observações, fica claro que os sistemas de monoaminas não podem transmitir tipos topograficamente específicos de informação; em vez disso, grandes áreas do SNC precisam ser afetadas simultaneamente e de maneira bastante uniforme. Por conseguinte, não é surpreendente que esses sistemas tenham sido implicados em funções globais, como iniciar o sono e despertar, assim como a atenção, o apetite e os estados emocionais. DEPRESSÃO: O diagnóstico de depressão depende principalmente de uma entrevista clínica. O transtorno depressivo maior (TDM) caracteriza-se por humor deprimido na maior parte do dia, durante pelo menos duas semanas, ou por perda de interesse ou prazer na maioria das atividades ou por ambos. Além disso, a depressão caracteriza-se por distúrbio do sono e do apetite e por déficits na cognição e perda de energia. Pensamentos de culpa, inutilidade e suicidas são comuns. Fisiopatologia: Além do conceito mais antigo, segundo o qual a ocorrência de um déficit na função ou na quantidade de monoaminas (a hipótese monoaminérgica) é fundamental na biologia da depressão, há evidências de que os fatores neurotróficos e endócrinos desempenham uma importante função (a hipótese neurotrófica). Há evidências substanciais sobre a importante função desempenhada por fatores de crescimento dos nervos, como o fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF, de brain-derived neurotrophic factor), na regulação da plasticidade neural, resiliência e neurogênese. Os dados sugerem que a depressão está associada a uma perda do suporte neurotrófico, e que as terapias antidepressivas efetivas aumentam a neurogênese e a conexão sináptica nas áreas corticais, como o hipocampo. Acredita-se que o BDNF exerça a sua influência sobre a sobrevida neuronal e efeitos de crescimento ao ativar a tirosina-cinase do receptor B tanto nos neurônios como na glia. A infusão direta de BDNF no mesencéfalo, no hipocampo e nos ventrículos laterais de roedores tem um efeito semelhante ao dos antidepressivos em modelos animais. Além disso, todas as classes conhecidas de antidepressivos estão associadas a um aumento dos níveis de BDNF em modelos animais com a administração crônica (mas não aguda). Esse aumento nos níveis de BDNF está consistentemente associado ao aumento da neurogênese no hipocampo nos modelos animais. Outras intervenções consideradas efetivas no tratamento da depressão maior, inclusive a eletroconvulsoterapia, também parecem estimular acentuadamente os níveis de BDNF e a neurogênese no hipocampo de modelos animais. A hipótese monoaminérgica da depressão sugere que a depressão está relacionada com uma deficiência quantidade ou na função da serotonina (5-HT), norepinefrina (NE) e dopamina (DA) corticais e límbicas. Os pacientes que respondem aos antidepressivos não adrenérgicos, como a desipramina, têm menos tendência a sofrer recidiva com uma dieta desprovida de triptofano. Além disso, a depleção das catecolaminas em pacientes deprimidos que anteriormente responderam a agentes não adrenérgicos também tende a estar associada à ocorrência de recidiva. A administração de um inibidor da síntese de norepinefrina também está associada a um rápido retorno dos sintomas depressivos em pacientes que respondem a antidepressivos noradrenérgicos, mas não necessariamente naqueles que respondem a antidepressivos serotoninérgicos. *Além das monoaminas, o neurotransmissor excitatório glutamato parece ser importante na fisiopatologia da depressão. Fatores neuroendócrinos na fisiopatologia da depressão: Sabe-se que a depressão está associada a diversas anormalidades hormonais. Entre os mais importantes desses achados, estão anormalidades do eixo HHSR em pacientes com TDM. Além disso, oTDM está associado a níveis elevados de cortisol, não supressão da liberação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) no teste de supressão com dexametasona e elevação crônica dos níveis do hormônio de liberação da corticotrofina. A importância dessas anormalidades do eixo HHSR não está bem esclarecida, porém acredita-se que indiquem uma desregulação do eixo dos hormônios do estresse. É mais comum que tipos mais graves de depressão, como a psicótica, associem-se a anormalidades do eixo HHSR do que formas mais leves. Sabe-se que tanto os glicocorticoides exógenos como a elevação do cortisol endógeno estão associados a sintomas de humor e déficits cognitivos semelhantes àqueles observados no TDM. Foi também relatada a ocorrência de desregulação da glândula tireoide em pacientes deprimidos. Essas anormalidades incluem redução da resposta da tireotrofina ao hormônio de liberação da tireotrofina e a elevações dos níveis circulantes de tiroxina durante estados deprimidos. Com frequência, o hipotireoidismo clínico ocorre com sintomas depressivos, que desaparecem com a suplementação com hormônio tireoidiano. Os hormônios tireoidianos também são usados em associação com antidepressivos convencionais para aumento dos efeitos terapêuticos desses últimos. Por fim, os esteroides sexuais também estão implicados na fisiopatologia da depressão. Acredita-se que os estados de deficiência de estrogênio, que ocorrem nos períodos pós-parto e pós-menopausa, desempenham uma função na etiologia da depressão em algumas mulheres. De forma semelhante, a deficiência grave de testosterona nos homens está algumas vezes associada a sintomas depressivos. A terapia de reposição hormonal em homens e mulheres com hipogonadismo pode estar associada à melhoria do humor e à diminuição dos sintomas depressivos. ESQUIZOFRENIA: A esquizofrenia é considerada um transtorno de neurodesenvolvimento. Isso significa a presença de alterações estruturais e funcionais do cérebro até mesmo in utero em alguns pacientes, ou o seu desenvolvimento na infância e adolescência, ou ambos. HIPÓTESE SEROTONINÉRGICA: Foi constatado que o bloqueio dos receptores 5-HT2A representa um fator-chave no mecanismo de ação da principal classe de agentes antipsicóticos atípicos, dos quais a clozapina é o protótipo, e que incluem, por ordem de introdução na prática médica mundial, a melperona, risperidona, zotepina, blonanseína, olanzapina, quetiapina, ziprasidona, aripiprazol, sertindol, paliperidona, iloperidona, asenapina e lurasidona. Esses fármacos são agonistas inversos do receptor 5-HT2A, isto é, bloqueiam a atividade constitutiva desses receptores. Esses receptores modulam a liberação de dopamina, norepinefrina, glutamato, GABA e acetilcolina, entre outros neurotransmissores, no córtex, na região límbica e no estriado. A estimulação dos receptores 5-HT2A leva à despolarização dos neurônios glutamatérgicos, mas também à estabilização dos receptores N-metil-d-aspartato (NMDA) nos neurônios pós-sinápticos. Recentemente, foi constatado que os alucinógenos são capazes de modular a estabilidade de um complexo constituído por receptores 5-HT2A e NMDA. A estimulação dos receptores 5-HT2C proporciona um meio adicional de modular a atividade dopaminérgica cortical e límbica. A estimulação dos receptores 5-HT2C leva à inibição da liberação cortical e límbica de dopamina. Muitos agentes antipsicóticos atípicos, por exemplo, a clozapina, a asenapina e a olanzapina, são agonistas inversos do 5-HT2C. HIPÓTESE DOPAMINÉRGICA: Continua muito relevante para a compreensão das principais dimensões da esquizofrenia, como sintomas positivos e negativos (embotamento emocional, isolamento social, falta de motivação), comprometimento cognitivo e, possivelmente, depressão. Várias evidências sugerem que a atividade dopaminérgica límbica excessiva desempenha uma função na psicose: (1) muitos fármacos antipsicóticos bloqueiam acentuadamente os receptores D2 pós-sinápticos no sistema nervoso central (SNC), sobretudo no sistema mesolímbico e no estriatal-frontal, o que inclui agonistas parciais da dopamina, como o aripiprazol e o bifeprunox; (2) os fármacos que aumentam a atividade dopaminérgica, como a levodopa, as anfetaminas e a bromocriptina e apomorfina, agravam a esquizofrenia ou produzem psicose de novo em alguns pacientes; (3) foi constatado que a densidade de receptores de dopamina post mortem está aumentada nos cérebros de esquizofrênicos que não foram tratados com fármacos antipsicóticos; (4) alguns estudos post mortem de indivíduos esquizofrênicos, mas nem todos, relataram um aumento dos níveis de dopamina e da densidade de receptores D2 no nucleus accumbens, caudado e putame; (5) os exames de imagem demonstraram uma liberação aumentada de dopamina estriatal induzida por anfetaminas, aumento da ocupação basal dos receptores D2 estriatais pela dopamina extracelular e outras medidas compatíveis com aumento da síntese e liberação de dopamina estriatal. HIPÓTESE GLUTAMATÉRGICA: O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório no cérebro. A fenciclidina (PCP) e a cetamina são inibidores não competitivos do receptor NMDA, que exacerbam tanto o comprometimento cognitivo como a psicose em pacientes com esquizofrenia. A PCP e uma substância relacionada, MK-801, aumentam a atividade locomotora e, de forma aguda ou crônica, uma variedade de prejuízos cognitivos em roedores e primatas. Esses efeitos foram amplamente utilizados como meio para desenvolver novos fármacos antipsicóticos capazes de aumentar a atividade cognitiva. Os antagonistas seletivos de 5-HT2A, bem como os fármacos antipsicóticos atípicos, são muito mais potentes do que os antagonistas D2 no bloqueio desses efeitos da PCP e MK-801. Esse foi o ponto inicial para a hipótese de que a hipofunção dos receptores NMDA, localizados nos interneurônios GABAérgicos, resultando em diminuição das influências inibitórias na função neuronal, contribui para a esquizofrenia. A diminuição da atividade GABAérgica pode induzir uma desinibição da atividade glutamatérgica distal, podendo levar a uma hiperestimulação dos neurônios corticais por meio de receptores não NMDA. Referência: KATZUNG B.G.;TREVOR A.J.; Farmacologia básica e clínica – 13. ed. – Porto Alegre: AMGH, 2017.
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