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Fármac� Sedativ�-Hipnótic� - Capacidade de produzir sedação (com alívio concomitante da ansiedade) ou de incentivar o sono. - Devido à considerável variação química observada nesse grupo de fármacos, essa classificação baseia-se mais nos usos clínicos do que em semelhanças na estrutura química. Farmacologia Básica: - Para ser efetivo, um fármaco sedativo (ansiolítico) deve reduzir a ansiedade e exercer um efeito calmante. O grau de depressão do sistema nervoso central (SNC) produzido por um sedativo deve ser o mínimo compatível com sua eficácia terapêutica. - Um fármaco hipnótico deve produzir sonolência e estimular o início e a manutenção de um estado de sono. Os efeitos hipnóticos envolvem uma depressão mais pronunciada do SNC do que a sedação, o que pode ser obtido com muitos fármacos pertencentes a essa classe, simplesmente pelo aumento da dose. OBS: Barbitúricos e Álcoois: Um aumento da dose acima do necessário para produzir hipnose pode levar a um estado de anestesia geral. Em doses ainda mais altas, esses sedativos-hipnóticos podem deprimir os centros respiratório e vasomotor no bulbo, levando ao coma e à morte. Classificação Química: - Os benzodiazepínicos são agentes sedativos-hipnóticos amplamente utilizados, a maioria contém um grupo carboxamida na estrutura em anel heterocíclica de sete membros. É necessário um substituinte na posição 7, como um halogênico ou grupo nitro, para a atividade sedativo-hipnótica. - Os mais antigos e de uso menos comum são os barbitúricos. - A glutetimida e o meprobamato possuem uma estrutura química distinta, porém são praticamente equivalentes aos barbitúricos nos seus efeitos farmacológicos. Raramente são usados. - A classe dos sedativos-hipnóticos também inclui compostos de estrutura química mais simples, incluindo o etanol e o hidrato de cloral. - Mais recentemente, foram introduzidos diversos fármacos com novas estruturas químicas para uso em distúrbios do sono. - O zolpidem, uma imidazopiridina, a zaleplona, uma pirazolopirimidina, e a eszopiclona, uma ciclopirrolona, apesar de não terem qualquer relação estrutural com os benzodiazepínicos, compartilham um mecanismo de ação semelhante. - A ramelteona e a tasimelteona, que são agonistas do receptor de melatonina, são fármacos hipnóticos mais recentes. Farmacocinética: Absorção e distribuição: - As taxas de absorção oral dos sedativos-hipnóticos diferem, dependendo de vários fatores, incluindo lipofilicidade. - Por exemplo, a absorção do triazolam é extremamente rápida, ao passo que a do diazepam e do metabólito ativo do clorazepato é mais rápida que a de outros benzodiazepínicos de uso comum. - Os barbitúricos e outros sedativos-hipnóticos mais antigos, bem como os hipnóticos mais recentes (eszopiclona, zaleplona, zolpidem), são, em sua maioria, absorvidos rapidamente no sangue após administração oral. - A lipossolubilidade desempenha uma importante função na determinação da taxa de penetração de determinado sedativo-hipnótico no SNC. - Todos os sedativos-hipnóticos atravessam a barreira placentária durante a gravidez. Se forem administrados durante o período pré-parto, podem contribuir para a depressão das funções vitais do recém-nascido. - Os agentes sedativos-hipnóticos também são detectáveis no leite materno e podem exercer efeitos depressores no lactente amamentado pela mãe. Biotransformação: - A transformação metabólica em metabólitos mais hidrossolúveis é necessária para a depuração dos sedativos-hipnóticos do corpo. - Os sistemas enzimáticos microssômicos de metabolismo dos fármacos no fígado são de suma importância nesse aspecto, de modo que a meia-vida de eliminação desses fármacos depende principalmente da taxa de sua transformação metabólica. Benzodiazepínicos: - O metabolismo hepático é responsável pela depuração de todos os benzodiazepínicos. - Os padrões e as taxas de metabolismo dependem de cada fármaco em particular. - A maioria dos benzodiazepínicos sofre oxidação microssômica (reações de fase I), incluindo N-desalquilação e hidroxilação alifática catalisada por isozimas do citocromo P450, especialmente a CYP3A4. - Subsequentemente, os metabólitos são conjugados (reações de fase II) para formar glicuronídeos, que são excretados na urina. - Todavia, muitos metabólitos de fase I dos benzodiazepínicos são farmacologicamente ativos, alguns com meias-vidas longas. - Os benzodiazepínicos cujo fármaco original ou cujos metabólitos ativos apresentam meias-vidas longas têm mais tendência a causar efeitos cumulativos com a administração de múltiplas doses. - Os efeitos cumulativos e residuais, como a sonolência excessiva, parecem constituir um problema menor com certos fármacos, como o estazolam, o oxazepam e o lorazepam, que apresentam meias-vidas relativamente curtas e que são metabolizados de forma direta a glicuronídeos inativos. - O metabolismo de vários benzodiazepínicos de uso comum, incluindo o diazepam, o midazolam e o triazolam, é afetado por inibidores e indutores das isozimas P450 hepáticas. Barbitúricos: - Com exceção do fenobarbital, apenas uma quantidade insignificante dos barbitúricos é excretada em sua forma inalterada. - As principais vias metabólicas envolvem a oxidação por enzimas hepáticas, formando álcoois, ácidos e cetonas, que aparecem na urina sob a forma de conjugados glicuronídeos. - Nos seres humanos, a taxa global de metabolismo hepático depende de cada fármaco em particular, porém costuma ser lenta (com exceção dos tiobarbitúricos). - A administração de múltiplas doses desses fármacos pode levar a efeitos cumulativos. Hipnóticos mais recentes: - Após a administração oral da formulação padrão, o zolpidem alcança níveis plasmáticos máximos em 1 a 3 horas. - Dispõe-se também de formulações do zolpidem em aerossol sublingual e oral. - O zolpidem é rapidamente metabolizado a metabólitos inativos por meio de oxidação e hidroxilação pela CYP3A4 hepática. - A meia-vida de eliminação do fármaco é maior nas mulheres e aumenta significativamente no idoso. - Uma formulação de liberação prolongada bifásica estende os níveis plasmáticos do fármaco em aproximadamente 2 horas. - A zaleplona é metabolizada a metabólitos inativos, principalmente pela aldeído-oxidase hepática e, em parte, pela isoforma CYP3A4 do citocromo P450. - Deve-se reduzir a dose em pacientes com comprometimento hepático, bem como nos indivíduos idosos. - A cimetidina, que inibe tanto a aldeído desidrogenase como a CYP3A4, aumenta acentuadamente o nível plasmático máximo da zaleplona. - A eszopiclona é metabolizada pelo citocromo P450 hepático (particularmente CYP3A4), formando o derivado N-óxido inativo e a desmetil-eszopiclona fracamente ativa. - A meia-vida de eliminação da eszopiclona é prolongada no idoso e na presença de inibidores da CYP3A4 (p. ex., cetoconazol). Excreção: - Os metabólitos hidrossolúveis dos sedativos-hipnóticos, que são formados, em sua maior parte, pela conjugação de metabólitos de fase II, são excretados principalmente pelo rim. - O fenobarbital é excretado até certo grau (20 a 30% nos seres humanos) de modo inalterado na urina, e a sua taxa de eliminação pode ser significativamente aumentada pela alcalinização da urina. - Isso se deve, em parte, a um aumento da ionização em pH alcalino, visto que o fenobarbital é um ácido fraco. Fatores que afetam a biodisposição: - A biodisposição dos agentes sedativos-hipnóticos pode ser influenciada por diversos fatores, particularmente alterações da função hepática em decorrência de doença ou aumentos ou reduções induzidas por fármacos na atividade das enzimas microssômicas. - Em pacientes muito idosos e naqueles com doença hepática grave, a meia-vida de eliminação desses fármacos com frequência está aumentada de modo significativo. Nesses casos, a administração de múltiplas doses normais desses sedativos- -hipnóticos pode resultar em efeitos excessivos sobre o SNC. OBS: O aumento da biotransformação de outros agentes farmacológicos em consequência da indução enzimática por barbitúricosconstitui um mecanismo potencial subjacente às interações medicamentosas. Por outro lado, os benzodiazepínicos e os hipnóticos mais recentes não alteram a atividade das enzimas hepáticas envolvidas no metabolismo de fármacos com uso contínuo. Farmacodinâmica dos benzodiazepínicos, barbitúricos e hipnóticos mais recentes: - Os benzodiazepínicos, os barbitúricos, o zolpidem, a zaleplona, a eszopiclona e muitos outros fármacos ligam-se a componentes moleculares do receptor GABAA presente nas membranas neuronais do SNC. Esse receptor, que atua como canal iônico de cloreto, é ativado pelo neurotransmissor inibitório GABA. - O receptor GABAA possui uma estrutura pentamérica organizada a partir de cinco subunidades. - A ligação dos benzodiazepínicos e dos fármacos hipnóticos mais recentes, como o zolpidem, ocorre em um único local, entre as subunidades alfa e gama, facilitando o processo de abertura dos canais iônicos de cloreto. - O antagonista dos benzodiazepínicos, o flumazenil, também se liga a esse sítio e pode reverter os efeitos hipnóticos do zolpidem. - Observe que esses sítios de ligação são distintos daqueles dos barbitúricos. Neurofarmacologia: - O GABA (ácido g-aminobutírico) é um importante neurotransmissor inibitório do SNC. - Estudos eletrofisiológicos mostraram que os benzodiazepínicos potencializam a inibição GABAérgica em todos os níveis do neuroeixo. - Os benzodiazepínicos parecem aumentar a eficiência da inibição sináptica GABAérgica. Eles não substituem o GABA, mas parecem potencializar seus efeitos de modo alostérico, sem ativar diretamente os receptores de GABA ou abrir os canais de cloreto associados. - Os barbitúricos também facilitam as ações do GABA em múltiplos locais do SNC; todavia, diferentemente dos benzodiazepínicos, parecem aumentar a duração de abertura dos canais de cloreto regulados pelo GABA. - Em altas concentrações, os barbitúricos também podem ser GABAmiméticos, ativando diretamente os canais de cloreto. - Os barbitúricos são menos seletivos do que os benzodiazepínicos nas suas ações, visto que também deprimem as ações do neurotransmissor excitatório, o ácido glutâmico, por meio de sua ligação ao receptor de AMPA. Efeitos em nível orgânico: - Sedação: Os benzodiazepínicos, os barbitúricos e a maioria dos fármacos sedativos-hipnóticos mais antigos exercem efeitos calmantes, com redução concomitante da ansiedade em doses relativamente baixas. Todavia, na maioria dos casos, as ações ansiolíticas dos sedativos-hipnóticos são acompanhadas de alguns efeitos depressores sobre as funções psicomotoras e cognitivas. - Hipnose: Por definição, todos os sedativos-hipnóticos induzem o sono quando administrados em doses altas o suficiente. Os efeitos dos sedativos-hipnóticos sobre os estágios do sono dependem de diversos fatores, incluindo o fármaco específico, a dose e a frequência de sua administração. - Anestesia: Alguns sedativos-hipnóticos, quando administrados em altas doses, deprimem o SNC até o ponto conhecido como estágio III de anestesia geral. Os benzodiazepínicos – incluindo o diazepam, o lorazepam e o midazolam – são usados por via intravenosa na anestesia. - Efeitos anticonvulsivantes: Vários benzodiazepínicos – incluindo o clonazepam, o nitrazepam, o lorazepam e o diazepam – são seletivos o suficiente para serem clinicamente úteis no tratamento das convulsões. - Relaxamento muscular: Alguns sedativos-hipnóticos, em particular membros dos grupos dos carbamatos (p. ex., meprobamato) e dos benzodiazepínicos, exercem efeitos inibitórios sobre os reflexos polissinápticos e sobre a transmissão internuncial e, em altas doses, também podem deprimir a transmissão na junção neuromuscular esquelética. - Efeitos sobre a respiração e a função cardiovascular: Mesmo em doses terapêuticas, os sedativos-hipnóticos podem produzir depressão respiratória significativa em pacientes com doença pulmonar. Nos estados de hipovolemia, na insuficiência cardíaca e em outras doenças que comprometem a função cardiovascular, os agentes sedativos-hipnóticos, quando administrados em doses normais, podem causar depressão cardiovascular, provavelmente em consequência de suas ações sobre os centros vasomotores medulares. Antagonista dos Benzodiazepínicos: Flumazenil - O flumazenil bloqueia muitas das ações dos benzodiazepínicos, do zolpidem, da zaleplona e da eszopiclona, porém não antagoniza os efeitos de outros sedativos-hipnóticos, do etanol, dos opioides ou dos anestésicos gerais sobre o SNC. - O flumazenil foi aprovado para uso na reversão dos efeitos depressores da superdosagem de benzodiazepínicos sobre o SNC, bem como para acelerar a recuperação após o uso desses fármacos em procedimentos anestésicos e diagnósticos. - Como todos os benzodiazepínicos têm uma duração de ação mais longa que a do flumazenil, é comum haver recidiva da sedação, exigindo a administração repetida do antagonista. - Os efeitos colaterais do flumazenil incluem agitação, confusão, tontura e náuseas. - O flumazenil pode causar síndrome de abstinência grave precipitada em pacientes que desenvolveram dependência fisiológica de benzodiazepínicos. Referência: KATZUNG B.G.;TREVOR A.J.; Farmacologia básica e clínica – 13. ed. – Porto Alegre: AMGH, 2017.
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